É Proibido Vacilar!!!

Desde a entrada em operação dos primeiros jatos comerciais, na década de 50, até o ano de 1990, ocorreram aproximadamente 230 milhões de decolagens, 76 mil abortivas e 74 acidentes ou incidentes decorrentes da rejeição. As estatísticas apontam uma RTO (rejected takeoff) para cada três mil decolagens. Dentro dessa estimativa, uma empresa aérea pode experimentar uma rejeição a cada ano/anv. Se você for o “escolhido”, saberá agir corretamente, ou poderá “engrossar” as estatísticas?

Uma aeronave corria a 154 nós, quatro nós acima da V1, quando a janela lateral direita da cabine se abriu e a decolagem foi interrompida. O avião saiu da pista, colidiu com uma cerca, teve sua asa esquerda rasgada e terminou incendiando-se. Em outro caso, um Boeing 747 iniciou a corrida e, momentos antes da V1, experimentou uma falha. O comandante não interrompeu a decolagem, e a aeronave não conseguiu sair do chão no comprimento restante da pista. Houve a colisão do trem de pouso com um muro, na cabeceira oposta, seguida do impacto contra o solo.

Estatisticamente, até o ano de 1990, 58% dos acidentes ou incidentes de RTO ocorreram quando a aeronave já desenvolvia velocidade superior à V1. Um terço destes acidentes ocorreu em pistas molhadas ou contaminadas por gelo ou neve. A decisão de decolar ou não deve ser tomada antes da V1. Não tente interromper uma decolagem se houver ultrapassado essa velocidade – a menos que você tenha razões suficientes para concluir que a aeronave não será capaz de voar.

A análise dos acidentes e incidentes de RTO ocorridos entre 1950 e 1990 sugere que pelo menos 80% deles poderiam ter sido evitados através de práticas operacionais apropriadas. Em torno de 16% dos acidentes podem ser atribuídos a técnicas erradas ou falhas nos esforços em parar o avião. Demora na aplicação dos freios, não utilização dos speedbrakes e falha na manutenção da freagem máxima até o final da manobra estão entre os procedimentos incorretos listados.

O emprego de técnicas corretas implica em um aumento das margens de segurança no caso de uma RTO. Na freagem, a maneira certa é aplicar-se a força máxima nos pedais (“montar” nos freios), mantendo a pressão até que a aeronave esteja completamente parada. Além dos freios, manetes em idle, speedbrake e reversores em potência máxima. Em uma RTO, lembre-se que o objetivo não é o conforto, mas a segurança dos passageiros.

Os registros mostram que ações lentas ou incompletas foram as causas diretas ou contribuíram para a ocorrência de acidentes. As falhas que levarão o piloto a interromper uma decolagem devem ser perfeitamente definidas no "Brifim de Decolagem". Ah, lembre-se de aproveitar ao máximo a grande oportunidade que você tem nesta fase – não há melhor maneira de treinar todas as hipóteses de falhas antes e após a V1 que em um simulador de vôo.

Mais recentemente, diversas palestras, aulas e textos no âmbito da Força Aérea buscaram enfatizar que tentativas de interromper decolagens após a V1 quase sempre resultaram em acidentes. Isto é absolutamente verdadeiro!!!

É claro que se estiver decolando do Galeão ou Guarulhos as perspectivas de RTO após a V1 são possíveis (dependendo do tipo de aeronave). Então avalie bem todos os parâmetros disponíveis antes da decolagem para se preparar mentalmente para uma possível RTO.

O mais importante é, sem sombra de dúvida, estar preparado para toda e qualquer situação anormal – principalmente em um momento crítico como uma decolagem...

Valeu Cel Av Beal pela contribuição!!!

SERGIO KOCH - TCel Av R1