PRESSÃO ATMOSFÉRICA NA AERONAVE
FONTE ⬆️ >>>>> FAA AC 00-6B: https://www.faa.gov/documentlibrary/media/advisory_circular/ac_00-6b.pdf
ASPECTOS AEROMÉDICOS RELACIONADOS À PRESSÃO ATMOSFÉRICA NA AERONAVE
2.1 Atmosfera terrestre (revisão)
A atmosfera terrestre é uma massa de ar inodora e incolor que envolve a Terra e tem como principal função filtrar os raios solares.
2.1.1 Definição. Composição. Camadas. Relação pressão x altitude
No nível médio do mar (MSL), o ar é composto de:
78% de Nitrogênio
21% de Oxigênio
1% de outros gases
O vapor de água não é considerado na composição acima. Ele é forçado a fazer parte do ar atmosférico devido à evaporação da água na superfície. Sua porcentagem varia de 0% (seco) a 4% (saturado).
A atmosfera terrestre possui cerca de 100 km de extensão e é dividida em cinco camadas de acordo com a variação de temperatura, altura, processos fisioquímicos e composição. As camadas são as seguintes:
Troposfera: camada mais baixa e mais intranquila da atmosfera, onde acontecem quase todos os fenômenos meteorológicos. A temperatura diminui 2ºC a cada 1000 pés (gradiente térmico) na medida em que se sobe.
Tropopausa: é a segunda camada, entre a troposfera e a estratosfera. Sua principal característica é a Isotermia (temperatura constante de -56,5ºC mesmo com a variação de altitude).
Estratosfera: é a terceira camada. Suas principais características são a difusão da luz solar e concentração de Ozônio, que funciona como filtro seletivo.
Ionosfera: quarta camada, onde se inicia o processo de filtragem chamado Absorção. Absorve a radiação do sol composta de raios gama, raios X e raio7s ultravioleta penetrantes. É onde ficam os satélites.
Exosfera: quinta e última camada, se confunde gradualmente com o espaço sideral. Não exerce nenhum efeito direto no processo de filtragem.
Á medida que o homem subiu a altitudes cada vez maiores, na aviação, escalando montanhas e em veículos espaciais, tornou-se cada vez mais importante conhecer os efeitos da altitude e das baixas pressões de oxigênio sobre o corpo humano.
Pressões atmosféricas a diferentes altitudes:
Ao nível do mar a pressão atmosférica é de 760 mmHg.
A 10.000 pés, a pressão é de apenas 523 mmHg.
A 50.000 pés, a pressão atmosférica é de 87 mmHg.
Esse decréscimo de pressão atmosférica é a causa básica de todos os problemas da hipóxia na fisiologia de grandes altitudes, porque à medida que a pressão atmosférica cai, a pressão parcial de oxigênio diminui proporcionalmente, permanecendo sempre em 21% da pressão atmosférica total. Ou seja, em uma pressão de 760 mmHg no nível do mar, a pressão parcial de oxigênio será de 159 mmHg. Porém, a 50.000 pés, onde a pressão atmosférica é de apenas 87 mmHg, a pressão parcial de oxigênio será de somente 18 mmHg (incompatível com a vida).
2.2 Cabine pressurizada – Definição. Relação com a pressão atmosférica e a altitude
A quantidade de oxigênio diminui à medida que uma aeronave sobe, tornando mais difícil a respiração. Até a altitude de 10.000 pés, uma pessoa consegue respirar normalmente. Entre 10.000 e 12.000 pés o organismo ainda consegue se adaptar. Com o desenvolvimento da aviação, tornou-se necessário voar mais alto e mais rápido. Para tanto, foram desenvolvidas aeronaves com cabine pressurizada, ou seja, a pressão interna das cabines é mantida entre 6 e 8 mil pés, a fim de garantir a quantidade adequada de oxigênio, permitindo que as aeronaves voem acima de 12.000 pés.
2.3 Pressurização de cabine de aeronave – Finalidade. Processo
Em aeronaves com cabine pressurizada, o sistema de pressurização retira ar dos motores através de válvulas chamadas bleeds e injeta na cabine. Quanto mais ar for injetado, maior será a pressão e menor será a “altitude de cabine”. Porém deve haver uma válvula de saída de ar, pois uma injeção constante de ar poderia explodir a cabine. Por isso, existem as válvulas chamadas out flow, que eliminam parte do ar injetado na cabine.
A pressurização permite voos em grandes altitudes sem a necessidade do uso de equipamento auxiliar de oxigênio. Também permite controlar satisfatoriamente o aquecimento e a ventilação da cabine, reduzir a frequência de danos ao organismo e diminuir os efeitos de fenômenos meteorológicos, tornando o voo mais tranquilo e seguro. A pressurização tem como desvantagens o risco de despressurização rápida por falhas ou alterações na estrutura da aeronave, aumento do peso da aeronave e necessidade de equipamento de oxigênio complementar.
2.4 Despressurização de cabine – Definição. Causas. Tipos. Possíveis efeitos sobre o ambiente da cabine. Efeitos sobre o corpo humano durante o voo: hipóxia hipobárica, aerodilatação e aeroembolismo
A despressurização é o maior risco que passageiros e tripulação estão expostos em aeronaves que voam em elevadas altitudes. Pode ocorrer pela ruptura de uma janela, de uma porta, de alguma estrutura da fuselagem ou ainda pelo colapso do sistema de pressurização.
Fatores que interferem na velocidade de despressurização:
Tamanho da cabine: quanto menor for a cabine, mais rápido a pressão interna escapa.
Diferencial de pressão: quanto maior a diferença de pressão entre a pressão da cabine e a pressão atmosférica externa, mais rápidos serão os efeitos da despressurização.
Tamanho do orifício por onde o ar está escapando: quanto maior o orifício, maior será a velocidade da despressurização.
Dependendo da velocidade em que pressão interna e externa se tornem iguais na ocorrência da despressurização, esta pode ser classificada em:
Despressurização Explosiva: é aquela em que a perda total de pressão é instantânea, ocorrendo em menos de 1 segundo.
Despressurização Rápida: a perda total de pressão ocorre entre 1 e 10 segundos.
Despressurização Lenta: a perda total de pressão ocorre em tempo maior que 10 segundos.
No interior da aeronave, os efeitos observados são:
Violenta queda de temperatura e pressão.
Nevoeiro intenso devido a condensação provocada pela diferença de temperatura dentro e fora da aeronave.
Forte e violenta corrente de ar de dentro para fora, podendo expulsar objetos e pessoas de dentro da aeronave (em caso de despressurização explosiva).
No corpo humano, os principais efeitos de uma despressurização são a Hipóxia Hipobárica, as Aerodilatações e o Aeroembolismo.
2.4.1 Hipóxia Hipobárica
A Hipóxia Hipobárica, também chamada de Mal da altitude ou ainda de Hipóxia Hipóxica é a queda da pressão parcial de oxigênio no corpo que pode acometer os passageiros e tripulantes de uma após uma despressurização de aeronave em altitudes elevadas. Sua ocorrência pode ser explicada pela lei de Dalton.
2.4.1.1 Definição. Lei de Dalton
Segundo a lei de Dalton, a pressão total de uma mistura de gases é igual à soma das pressões parciais de cada gás, ou seja:
PT = P1 + P2 + … Pn
PT: pressão total
P1: pressão do gás 1
P2: pressão do gás 2
Pn: pressão do número de gases dessa mistura
Exemplo: na pressão atmosférica, a pressão total ao nível do mar é de 760mmHg.
Sendo assim, proporcionalmente temos:
PT atmosférica= P1 nitrogênio (78%) + P2oxigênio (21%) + Pn outros gases (1%)
PT (760 mmHg) = 593 mmHg + 159 mmHg + 8 mmHg
Entretanto, em uma altitude de 50.000 pés, a pressão atmosférica será de apenas 87 mmHg e a proporção de gases diminuirá drasticamente:
PT atmosférica= P1nitrogênio (78%) + P2oxigênio (21%) + Pn outros gases (1%)
PT (87 mmHg) = 68 mmHg + 18 mmHg + 1 mmHg
2.4.1.2 Sinais e sintomas
Os sinais e sintomas da Hipóxia Hipobárica irão variar de acordo com os seguintes fatores:
Altitude de voo.
Tempo de exposição a baixa pressão.
Temperatura ambiental e corporal.
Fatores individuais: tolerância, aptidão física e aclimatação.
São sinais e sintomas que podem ser apresentados em Altitude de até 12 mil pés (Zona de Compensação Orgânica ou Zona Fisiológica:
Aumento da frequência respiratória (taquipneia), compensando com êxito a Hipóxia.
Dor de cabeça, náuseas e enjoo em caso de longa permanência nessa altitude.
São sinais e sintomas que podem ser apresentados em Altitudes entre 12.000 e 24.000 pés (Zona de Descompensação Orgânica ou Zona de Deficiência Fisiológica):
Bocejo, inquietação, cefaleia, vertigem.
Fadiga mental e muscular, com tremores nas extremidades e falta de coordenação motora.
Diminuição da acuidade visual e da sensibilidade tátil.
Lassidão e alteração na capacidade de avaliação e julgamento.
De acordo com a personalidade, pode surgir euforia ou depressão, irritabilidade, inquietude, agressividade ou hilaridade.
Redução ou perda da coordenação dos movimentos, sendo impossível ao piloto realizar movimentos de alta precisão.
Alterações na audição, desmaio.
Cianose (unhas e lábios arroxeados).
Escurecimento da periferia do campo visual até um ponto onde só permanece a visão central (visão de túnel).
São sinais e sintomas que podem ser apresentados em Altitudes superiores a 24.000 pés (Zona de Equivalência Espacial):
Intensificação dos sintomas já apresentados.
Alterações no olfato e no paladar.
Convulsão e coma caso a quantidade de oxigênio não seja suprida.
Morte dependendo do tempo de exposição à Hipóxia hipobárica.
2.4.1.3 Tempo Útil de Consciência (TUC) – Definição. Individualidade do Tempo Útil de Consciência
O Tempo Útil de Consciência (TUC) também chamado de Tempo de tempo Útil de Lucidez (TUL) é o tempo em que uma pessoa, sob o efeito de uma despressurização, consegue manter sua capacidade de raciocínio e sua coordenação motora para realizar tarefas e tomar altitudes. Os comissários serão os primeiros a sentir os efeitos da despressurização por estarem realizando atividade física (maior consumo de oxigênio).
A tabela abaixo mostra o TUC de acordo com a altitude. Para tripulantes, os tempos registrados deverão ser diminuídos em 50% devido atividade física.
ALTITUDE TEMPO ÚTIL DE CONSCIÊNCIA
18.000 pés 20 a 30 minutos
22.000 pés 10 minutos
25.000 pés 3 a 5 minutos
28.000 pés 2,5 a 3 minutos
30.000 pés 1 a 2 minutos
35.000 pés 30 segundos a 1 minuto
40.000 pés 15 a 20 segundos
45.000 pés 9 a 15 segundos
O TUC varia de muito de pessoa para pessoa, como condicionamento físico, tabagismo e uso de álcool. Em fumantes, a existência de monóxido de carbono nos pulmões reduz significativamente o oxigênio disponível para os tecidos do corpo. O consumo de álcool, mesmo com antecedência de 18 horas, também reduz o TUC.
O TUC também será menor para os comissários de voo quando estiverem atendendo uma emergência, pois estarão sob intenso esforço físico.
2.4.1.4 Procedimentos preventivos apropriados
A pressão interna da cabine é regulada entre 6 e 8 mil pés. Se essa pressão subir e atingir 10 mil pés, o aviso sonoro de despressurização será acionado. Se a pressão atingir 14 mil pés, máscaras de oxigênio cairão automaticamente.
Orientações que devem ser dadas pelos Comissários:
Acompanhantes de crianças ou de portadores de necessidades especiais deverão fixar primeiro suas máscaras.
Passageiros de colo (bebês) deverão ser alocados somente onde existam máscaras do sistema fixo de oxigênio de emergência em quantidade superior ao número de poltronas.
Não permitir que nenhum passageiro permaneça deitado junto ao piso da aeronave uma vez que as máscaras não alcançam o chão.
Não permitir que nenhum passageiro permaneça nas galleys, uma vez que não existe número de máscaras suficientes.
Inibir a permanência de passageiros fora do seu assento.
Caso algum passageiro se encontre no lavatório, duas máscaras cairão, possibilitando atendimento de até 2 pessoas. Nesse caso, deverão permanecer no lavatório e com as máscaras até o nivelamento da aeronave.
2.4.2 Aerodilatação ou Aerobarotrauma
Aerodilatações ou Aerobarotraumas são as compressões dos gases presentes no trato gastrointestinal, nos seios da face, no ouvido médio ou na cavidade dentária, podendo causar a lesão dos tecidos mais próximos.
Os efeitos de uma aerodilatação irão cessar quando a aeronave atingir níveis de altitude onde a pressão seja tolerável.
As aerodilatações são explicadas pela Lei de Boyle-Mariotte.
2.4.2.1 Definição. Lei de Boyle-Mariotte
Em temperatura constante, o volume de um gás é inversamente proporcional à sua pressão.
P1.V1 = P2.V2
P = pressão
V = volume
Exemplo: no nível do mar a pressão do Nitrogênio é de 593 mmHg. Supondo que o volume do nitrogênio ao nível do mar seja de 10 cm3
A 50.000 pés, a pressão do Nitrogênio é de 68 mmHg
Então: P1.V1 = P2.V2
593.10 = 68.V2
5930 = 68.V2
V2 = 5930/68
V2 = 87 cm3
Ou seja, vemos que se ocorrer uma despressurização a 50.000 pés, o volume da bolha de nitrogênio será quase 9 vezes maior (87 cm3) do que no nível do mar (10 cm3).
2.4.2.2 Aerodilatação no sistema digestivo, aerodilatação nos seios da face, aerodilatação no ouvido médio e aerodilatação na cavidade dentária – Sinais. Sintomas. Procedimentos preventivos apropriados
Aerodilatações no Sistema Digestivo (Aerofagias) - É o acumulo de gases provenientes dos processos de deglutição e digestão dos alimentos, da fala, da inalação de fumaça e da fermentação com liberação de gás carbônico no sistema digestório.
Com o aumento da altitude e menor pressão atmosférica, o volume desses gases aumenta, causando cólicas e desconfortos abdominais, geralmente de pouca importância e que cessam rapidamente com a expulsão dos gases.
A expulsão dos gases pode ocorrer através da boca pela eructação (arrotos) ou pelo ânus (flatos). Não são graves.
São sintomas de Aerodilatação no Sistema Digestório:
Aerocolia (cólicas intensas).
Aerogastria (dor na região gástrica).
Maior acúmulo de gases.
Arrotos.
Flatulência.
Desconforto respiratório (dispneia).
São medidas preventivas da Aerofagia:
Evitar o consumo de bebidas alcoólicas e bebidas gasosas.
Evitar alimentos que formam gases: feijão, cebola, repolho, abóbora, couve, pepino, salsicha, melão, banana, ovo, etc.
Evite refeições pesadas ou comer muito antes do voo.
Tratar alterações da flora intestinal.
São medidas para tratamento das Aerodilatações no Sistema Digestório: Prevenção.
Caminhar ou movimentar-se no interior da aeronave, a fim de expulsar os gases.
Pode ser utilizada medicação pertinente (simeticona ou luftal)
Aerodilatação nos Seios da Face (Aerosinusites) - Aerosinusite é a obstrução de um ou mais seios da face, impedindo o equilíbrio das pressões interna e externa. Essas pressões devem estar equalizadas durante a subida e descida da aeronave.
Os seios da face são cavidades ventiladas, situadas ao lado das fossas nasais, tendo comunicação com estas através de orifícios. Possuem revestimento de uma mucosa. São quatro: frontais, maxilares, esfenoidal e etmoidal.
As aerosinusites podem ser divididas em:
Obstrutiva: causada pela presença de carne esponjosa ou desvio de septo. A correção é apensa cirúrgica.
Não obstrutiva: causadas por infecções ou inflamações das vias aéreas superiores, como gripes, resfriados, nasofaringites e rinites, que acumulam secreções nas cavidades nasais.
São sintomas das Aerosinusites:
Os seios frontais são os mais comumente atingidos, causando dor sobre os olhos, cefaleia,
Seios maxilares: dor abaixo dos olhos (semelhante a uma dor de dente).
Pequena sensação de pressão durante a descida da aeronave.
Deslocamento do tecido da mucosa, causando grande perda de sangue (em casos extremos).
São medidas preventivas das Aerosinusites:
Não voar gripado nem resfriado.
Corrigir estados inflamatórios e alérgicos antes do voo.
São medidas para tratamento das Aerosinusites:
Antialérgicos, descongestionantes nasais, analgésicos e antigripais (podem causar sonolência).
Aerodilatações no Ouvido Médio (Aerotites) - Aerotites são variações de pressão que atingem especificamente o ouvido médio, quando a pressão interna do ouvido não consegue se igualar à pressão da cabine da aeronave.
O ouvido é dividido em três partes:
Ouvido externo: localizado na orelha, capta o som através da membrana do tímpano e o direciona para o ouvido médio.
Ouvido médio: transmite as vibrações captadas pelo tímpano ao ouvido interno. O ar existente dentro dele se comunica com o exterior (faringe) através da Trompa de Eustáquio.
Ouvido Interno: tem duas funções: auditiva e vestibular (relacionada com a nossa orientação no espaço e equilíbrio).
A Trompa de Eustáquio faz a comunicação entre o ouvido externo e o ouvido médio. Sua função é equalizar a pressão no tímpano (equalização das superfícies timpânicas). Devido a sua característica anatômica, o ar sai do ouvido médio para o exterior com muito mais facilidade do que entra.
Por isso, a Aerotite é maior na descida, quando deveria haver uma reentrada de ar no ouvido interno para reequilibrar a pressão interna. Essa dificuldade de equalização das pressões nas descidas aumenta possibilidade de irritação crônica e infecções no tímpano.
Na subida da aeronave, quando a cabine começa a ser pressurizada, o ar contido no ouvido médio se dilata (diminuição da pressão e consequente aumento do volume do gás), podendo provocar ensurdecimento.
Irritação nasal, da faringe, da garganta, resfriados, amidalites, infecções de ouvido podem obstruir a Trompa de Eustáquio e dificultar ou até impedir a ventilação do ouvido médio, causando dor.
São sinais e sintomas de Aerotite:
Diminuição da acuidade uditiva.
Dor de ouvido.
Náuseas.
Vômitos.
Ruptura do tímpano: presença de liquido serossanguinolento, aliviando a pressão. Pessoa sente alívio dos sintomas, mas perde audição.
São medidas preventivas para evitar Aerotites:
Não voar gripado ou resfriado.
Mascar chicletes.
Engolir a saliva e deglutir seguidamente.
Efetuar a Manobra de Valsalva: fechar a boca, tampar o nariz e ao mesmo tempo tentar soprar o ar para fora do nariz para recuperar a ventilação do ouvido médio.
o OBS: a Manobra de Valsalva não é recomendada em caso de gripe ou resfriado. Com a Trompa de Eustáquio obstruída, o aumento da pressão dentro do ouvido médio forçará o tímpano (parte mais frágil), que corre risco de ruptura.
São medidas para tratamento das Aerotites: Medidas preventivas.
Não voar gripado nem resfriado.
Descongestionante nasal ou soro fisiológico nas narinas.
Manobra de Valsalva: equalização das superfícies timpânicas.
Aerodilatações na Cavidade Dentária (Aerodontalgias)
Os dentes também podem produzir fenômenos dolorosos em locais de elevada altitude. Porém, não tem gravidade. O principal sintoma é a dor intensa, que se torna mais severa com o aumento da altitude. Alivia com a redução da altitude. São causas de Aerodontalgias:
Cáries profundas atingindo a polpa dentária.
Degeneração da polpa dentária.
Obturações mal feitas.
Próteses dentárias.
Infecções gengivais.
São medidas de prevenção a boa higienização e manutenção da saúde bucal através de visitas periódicas ao dentista. Medidas para alívio da dor produzem pouco efeito e irão cessar apenas após o pouso da aeronave.
2.4.3 Aeroembolismo
Aeroembolismo é quando o nitrogênio dissolvido no sangue e nos tecidos é liberado formando bolhas gasosas (aeroembolias), que tentarão encontrar saídas.
O aeroembolismo poderá ocorrer na despressurização, que leva a queda da pressão da cabine em altitudes elevadas. O procedimento imediato dos pilotos deve ser o de descer para o nível de segurança.
A gravidade do aeroembolismo está diretamente relacionada a:
Idade
Quantidade de tecido gorduroso.
Condições circulatórias e respiratórias.
Doenças e fatores psicológicos da vítima.
Velocidade de ascensão em cabine não pressurizada.
Em um mergulho com cilindro de oxigênio, a quantidade de nitrogênio no organismo aumenta. Para que isso não ocasione uma emergência em voo, um piloto ou passageiro que pretenda voar após um mergulho autônomo no mar deverá aguardar:
12 horas no nível do mar: após um mergulho que não exija subida controlada (parada descompressiva) para voltar à superfície.
24 horas no nível do mar: após um mergulho que requer subida controlada (parada descompressiva) para voltar à superfície.
2.4.3.1 Definição. Lei de Henry
O aeroembolismo pode ser explicado pela Lei de Henry, que diz que a quantidade de um gás dissolvido em uma solução é diretamente proporcional à pressão parcial desse gás na solução.
P1.A1 = P2.A2
P = pressão
A = quantidade do gás
Podemos comparar esse fenômeno com “abrir uma garrafa de refrigerante”. Fechada, o gás dissolvido no refrigerante está concentrado, em uma pressão maior dentro da garrafa.
Ao abrir a garrafa, o gás “escapa” pela saída. Situação semelhante ocorre no aeroembolismo. O nitrogênio encontrará saídas e pode se alojar em alguns órgãos ou tecidos.
2.4.3.2 Aeroembolismo na forma cutânea, aeroembolismo na forma articular, aeroembolismo na forma pulmonar e aeroembolismo na forma nervosa – Sinais. Sintomas. Procedimentos preventivos apropriados
Aeroembolismo na Forma Cutânea.
Também chamado de ITCH (do inglês “coceira”), é a manifestação do aeroembolismo na pele.
São sinais e sintomas do ITCH:
Coceiras na pele e calafrios.
Reação alérgica com irritação nas terminações nervosas.
Vasodilatação com liberação de histamina
Formigamento.
Prurido intenso.
Placas róseas (urticária).
Sensação de calor ou frio.
São incômodas, mas não são perigosas.
Aeroembolismo na Forma Articular
Também chamado de BENDS (do inglês “curvatura”), é a manifestação do aeroembolismo no aparelho locomotor (músculos e articulações).
São sinais e sintomas de BENDS:
Movimentos tornam-se muito dolorosos.
Também podem causar coceiras
Aeroembolismo na Forma Pulmonar
Também chamado de CHOCKES (“dor em facada”), é a manifestação do aeroembolismo na região torácica (pulmões, coração e grandes vasos).
São sintomas de CHOCKES:
Sensação de queimação ou dor lancinante no peito, com tosse e dificuldade para respirar (dispnéia).
Tosse seca (sem catarro) ou hemoptise (tosse com raios de sangue).
Hiperpneia (respiração rápida e profunda.
Perda da consciência devido a hipóxia e hipocapnia, podendo levar a óbito.
Aeroembolismo na Forma Nervosa
Também chamado de STAGGERS, é a manifestação do aeroembolismo no sistema nervoso central.
São sintomas de STAGGERS:
Cefaleia intensa.
Distúrbios visuais.
Parestesia (dormência ou formigamento, sensação de calor ou frio)
Paresias (perda da sensibilidade de determinada parte do corpo).
Paralisias (perda da motricidade de determinada parte do corpo).
Perda da coordenação motora.
Coma e morte.
Muitos desses sintomas são irreversíveis.
2.5 Sistemas de oxigênio utilizados em caso de despressurização
Devido ao risco de despressurização, as aeronaves devem possuir um Sistema de Oxigênio, que se divide em Sistema de Emergência e Terapêutico.
O Sistema de Oxigênio de Emergência pode ser fixo ou portátil e o Sistema de Oxigênio Terapêutico é exclusivamente portátil (cilindros de oxigênio). O Sistema de Oxigênio de Emergência fixo está disponível na cabine de comando e na cabine de passageiros.
2.5.1 Sistema fixo para cabine de comando – Finalidade. Componentes. Procedimentos para utilização
No sistema fixo de Oxigênio na cabine de comando, o oxigênio sai de um cilindro independente localizado no porão dianteiro ou no porão da aviônica e alimenta as máscaras oronasais ou full-face. As máscaras possuem dois seletores:
Seletor de Fluxo: Libera o oxigênio em fluxo contínuo ou sob demanda (apenas quando o piloto inspirar).
Seletor de Teor de Oxigênio: libera oxigênio 100% puro (quando houver fumaça ou gases tóxicos) ou misturado com o ar da cabine (somente em caso de despressurização).
2.5.2 Sistema fixo para cabine de passageiros – Finalidade. Componentes. Funcionamento
Na cabine de passageiros não haverá disponibilidade de oxigênio 100% puro. Este sistema só pode ser usado em caso de despressurização, para evitar hipóxia hipobárica.
As máscaras de oxigênio estão disponíveis em módulos geradores, dentro das unidades:
PSU: passenger service units: sobre as poltronas.
LSU: lavatory service units: no teto dos lavatórios.
ASU: attendant service units: no teto das galleys.
Os compartimentos com máscaras de oxigênio podem ser abertos de três formas diferentes:
Automática: uma válvula aneróide (que detecta a pressão) fará a abertura automática dos compartimentos se a pressão interna da cabine de passageiros aumentar e chegar na pressão de 14 mil pés.
Elétrica: acionada a qualquer momento na cabine de comando pelos pilotos.
Manual: os módulos podem ser acionados individualmente inserindo no orifício existente em cada unidade um objeto fino, comprido e rígido (clipe, grampo ou o MOT)
2.6 Uso das máscaras de oxigênio em caso de despressurização
Logo após a ocorrência de uma despressurização, a aeronave deverá descer para o nível de segurança (10 mil pés) onde será possível respirar sem o uso do sistema de oxigênio de emergência.
Enquanto isso não acontecer, os comissários e passageiros deverão efetuar o uso das máscaras de oxigênio:
Sentar-se na estação ou local mais próximo.
Puxar e colocar a máscara mais próxima.
Com a abertura das tampas, quatro máscaras caem, ligadas a mangueiras e cordéis. Ao puxar uma das máscaras, o cordel é puxado e libera o pino que inicia o fornecimento ininterrupto de oxigênio por aproximadamente 15 minutos a todas as máscaras ligadas a ele.
Aguardar a comunicação da cabine de comando quando no nivelamento no nível de segurança.
Ao chegar a esse nível de segurança, os comissários deverão checar a cabine, verificar a integridade dos passageiros e a necessidade de realizar os primeiros socorros.
2.7 Walk Around Procedure (WAP)
Em alguns casos, a descida imediata para a altitude de segurança não será possível. Nessa situação, após notificação da cabine de comando que a aeronave foi nivelada fora do nível de segurança (acima de 10 mil pés) e sobre o tempo em que ficarão nessa altitude, os comissários deverão realizar um cheque visual de suas estações e verificar se todos os compartimentos (PSU) se abriram e se todos os passageiros estão recebendo oxigênio.
Caso a resposta seja negativa e tendo tempo disponível, os comissários devem pegar o cilindro de oxigênio terapêutico e fazer o Walk Around Procedure (WAP), que consiste em:
Munir-se do Oxigênio Terapêutico.
Deslocar-se pela cabine e liberar as máscaras da PSU que não se abriram e liberar Oxigênio para os passageiros sem ele.
Com o nivelamento no nível de segurança, o comissário deve verificar se todos os passageiros estão bem e se alguém necessita de primeiros socorros.
2.8 Vazamento de pressão – Definição. Procedimentos a serem executados pelo comissário de voo
O vazamento de pressão, que pode ser chamado também de vazamento contínuo, é a situação na qual a aeronave não consegue atingir a pressão necessária. Pode ocorrer devido má vedação das portas e compartimentos de carga ou defeito na válvula out flow.
Os comissários de voo devem realizar os seguintes procedimentos:
Avisar imediatamente a cabine de comando.
Não tentar cobrir ou vedar o vazamento.
Realocar os passageiros dentro de uma área de 12 m2 caso constate o perigo.
Se não houver poltronas disponíveis, realoque os passageiros para frente do ponto de vazamento, usando apenas um assento por fileira nas posições mais próximas ao vazamento e sentando dois passageiros numa mesma poltrona.
Faça o uso de extensores se necessário.
Fonte de pesquisa: https://nascidosparavoar.wordpress.com/2016/07/17/cms-bloco-3-aspectos-aeromedicos-relacionados-a-pressao-atmosferica-na-aeronave/