YSTS - UM EVENTO

https://sites.google.com/site/barataeletricafanzine Email drrcunha@yahoo.com.br Índice barata32

YSTS - UM EVENTO

http://migre.me/oGfYj

Derneval R R da Cunha

Quando leio as coisas que escrevi no passado parece que remexo num baú, muitas coisas nem reconheço mais. Quanta coisa mudou.. De um tempo em que a idéia era fazer um encontro nacional de ratos de computador (prefiro não usar o termo "hacker") até agora. Mas o que foi o passado e qual é a situação hoje? Quando o fanzine começou, as pessoas que poderiam se encaixar naquele conceito de "hacker". Mas agora, falar em termos de "hacker", é quase passado, é coisa de dinossauro. Na época em que o fanzine começou, "hacker" significava alguma coisa. E englobava falar de privacidade, de formas de se sobrepujar a segurança de equipamentos e softwares. Havia todo um lado alternativo na história. Cada pessoa poderia fazer sua parte para conseguir sair da prisão que as grandes corporações pareciam querer impor.

Hoje em dia, a coisa está mudando cada vez mais. E de certa forma, o próprio fanzine fez parte dessa mudança. Bom, qual mudança? Qual mudança? Seria preciso ler algumas obras. E participar de bate-papos. Qualquer um pode fazer um movimento contra o sistema. Se o movimento tem sucesso, aí entra a segunda fase: a transformação daquele movimento de rebeldia em grife. Ou seja, aquilo que chamamos de sistema e contra o qual o indivíduo precisaria se revoltar para ter aquilo que poderíamos entender como liberdade de acesso, poder de decisão, etc.. Pirataria era propagada como um crime contra os direitos autorais do indivíduo. Sério? Só que o filme "Tropa de Elite" foi campeão de bilheteria. Você assiste um filme como "Good Copy, Bad Copy" e fica sabendo que os caras tão execrados pelo pessoal de direitos autorais, eles são a nova forma de divulgação.

Então, ser contra o sistema acaba ajudando o sistema.

Aliás, o sistema, uma metáfora para os governos, mídia, corporações, todo esse pessoal que decide sua vida e do qual você nem se dá conta, o sistema recruta gente. Ou seja, você que é capaz de ser mais esperto do que os caras que eles contrataram da última vez.

Então eles querem você. Para ensinar a eles como serem mais espertos do que você.

Paranóia, né? Bom, mas é uma forma de encarar o futuro. O que é o futuro? Tudo o que ainda não explicaram para você no jornal das 8.

(Gostou da frase? Eu textos como esse porquê eu quero o direito autoral de ter falado essa frase primeiro, pode se tornar uma boa frase para se colocar numa camiseta. Sabe aquela bolinha amarela com um sorriso? As pessoas sabem quem foi o primeiro sujeito a pensar aquilo. Mas ele não registrou então não ganhou nada com aquilo. Pois é, aquela frase numa mesa de bar pode se tornar a idéia que vai gerar um movimento que vai mudar o mundo).

De novo. Onde é que eu estava? Ah, sim, quando comecei falava das mudanças no uso do termo "hacker", o leitmotif da criação do fanzine Barata Elétrica. Com as mudanças fica bem mais complicado falar em "evento hacker" ou qualquer coisa do gênero. Já que todo mundo tem capacidade de acesso a Internet a níveis inimagináveis, tempos atrás. Não há mais necessidade de se saber aquilo que o computer underground sabe. Tem gente oferecendo "Internet grátis" para todos para ver se consegue se eleger em São Paulo. O rótulo "computer underground" só existe mesmo como rótulo. Aquele evento de colocar gente em barracas acessando a Internet, como aconteceu na Holanda (vide barata3.html#HEU), virou um evento multi-nacional, vide http://www.campus-party.com.br/ patrocinado pela Telefônica, exatamente uma multinacional de telefonia, odiadíssima na Espanha por conta das tarifas, seu apelido virou nome do primeiro vírus de computador voltado para fones celulares (http://www.kaspersky.com/news?id=68).

No Campus Party eu nem participei. Número um, não me convidaram para palestra alguma (também não sei se ia topar ser filmado). Número dois, fiz a besteira de achar que meu nome valia ainda alguma coisa (muito contraditório da minha parte reclamar que a imprensa não se lembra de mim, já que minha intenção era exatamente não ser lembrado por jornalistas e sim por fãs bem específicos, sempre tive medo de ir numa entrevista para emprego e me perguntarem sobre ter um feito um fanzine hacker). Sempre em eventos "hacker related" dificilmente sou chamado. Mesmo porquê o fanzine está meio parado faz anos. Então meu nome está esquecido, dançou me chamarem. Mesmo porquê eles tinham opção para cadastrar imprensa (e eu deixei passar por besteira).

O que fazer? As pessoas que conheci em outros tempos, estão em outra. Muitos renegam aquele passado dos encontros de ratos de computador. Não querem ser confundidos com gente do mau. Ou vândalos eletrônicos. Tempos difíceis. Naqueles tempos, sabíamos que éramos únicos. Sabíamos quem éramos. Hoje, tudo depende de onde você trabalha, o que você faz da vida. O fanzine Barata Elétrica mudou a vida de muita gente. Mas muita gente também mudou de vida.

Chega de memória. Então, tempos atrás, num evento Linuxchix, conheci o William Okuhara, do naopod. Um pod de segurança legal. De vez em quando baixo as reportagens, fico fascinado em ver que ainda entendo os temas (fiz quase 2 anos de faculdade de informática, pô, baixei coisa pra caramba sobre insegurança informática sem falar em ter instalado Linux Slackware em 1997) e pelo menos sei do que os caras estão falando.

Ele e os amigos dele fizeram um evento chamado You Shot The Sherif (http://www.ysts.org/v10/ola.html). E o cara me convidou. Primeira pergunta:

"vai ser filmado?"

"Não por rede de televisão."

Ok. Era meu grande medo. Na época do evento H2HC, eu estava trabalhando num lugar onde não era lá muito legal que eles soubessem sobre o fanzine (nem conto porquê aí escrevo outro artigo). E se entrasse lá no H2HC, mesmo que fosse para assistir, ia aparecer gente com câmera querendo me entrevistar. Conversei com gente que foi e me confirmaram. Bom, ainda conversei com os caras numa festinha que teve depois, foi muito legal.

Agora esta conferência, seria algo menor. Em que sentido? Ninguém sabia onde ia ser. Ia ser num dia só. E só gente com convite. Como? A conferência seria patrocinada por empresas e só elas é que receberiam convites para o evento. Quem quer que quisesse participar teria que ter contato com os patrocinadores. Não adiantava oferecer dinheiro. Tem que ter QI (quem indica). Coisa diferente. Tentei jogar conversa para conseguir convite para alguns amigos como o Marcos Pereira (me doou um super micro Pentium 4 c monitor, cara legal, quem sabe eu fazia ele vir aqui em SP...). Nada feito, sem resultado. Super restrito, esses convites. Ok, acho que vou. Me mandaram endereço e detalhes. O Emanuel Goldstein ia estar lá. O editor da 2600 - Hacker Quaterly.

Uau! Eu já conhecia ele, quem conhece o fanzine sabe disso. Buenos Aires, outubro de 1994. Foi exatamente o início do fanzine. Então não tem jeito. Vou.

Chegando no dia, ainda tinha alguma dúvida. Será que era interessante fazer camisetas do fanzine para vender? Levei uma só, de presente. E a outra que eu estava vestindo.

Não havia nada de crachá na entrada. Montes de gente engravatada. Executivos ou gente da área de Tecnologia de Informação? Provavelmente as duas coisas. Na platéia só vi uma mulher. Fui conversar com ela, era repórter.. argh! Bom, poucos pareciam se lembrar de mim, fui prestar atenção nas palestras e conversar com os palestrantes e os organizadores. Todo mundo ocupado.

Tinha o Nick Farr, o tesoureiro e co-fundador da Hacker Foundation (http://www.hackerfoundation.org/). Ele estava com uma banquinha vendendo coisas. Nada de errado, eu também tinha pensado em fazer uma vendinha com uns livros "antológicos" que estavam sobrando em casa. Claro que o material que ele trouxe dos EUA impressionava. Identidade federal falsa, chave mestra, pensa numas coisas que te levariam a prisão e o cara tinha ali. Mas óbvio, nos EUA eram material "comprometedor". Aqui no Brasil, qualquer um pode costurar um distintivo do FBI no casaco e não acontece nada. Aliás mesmo lá, dependendo do ambiente, também não acontece nada (só uns tempos respondendo interrogatórios).

A proposta do cara é algo interessante: "proporcionar serviços de suporte e organização para projetos tecnológicos que beneficiam pessoas - proporcionar ferramentas administrativas, financeiras e jurídicas para permitir que projetos atinjam seus objetivos, etc.." Não assisti a palestra, infelizmente. Mas pela resenha do que ele ia falar na conferência do CCC em 2006 (http://events.ccc.de/congress/2006/Fahrplan/events/1373.en.html), parece interessante. Uma ONG hacker.

Perguntei para o pessoal sobre o Goldstein, ainda não tinha chegado, devia estar descansando, aquela coisa do Jet Lag, a diferença de horário entre os EUA e o Brazil. Estava meio preocupado. Puxa, tanta água passou por debaixo da ponte.. na época em que o conheci até agora, Mitnick havia sido preso, depois toda uma campanha aqui no Brasil foi organizada e.. ele não comentou nada da gente quando a mesma campanha foi feita nos EUA. O próprio Kevin Mitnick deve ter recebido montes de correspondência de brasileiros (bom, talvez só tenha recebido algumas, não sei) e não falou quase nada. Mas vários textos e idéias da campanha "Support Kevin Mitnick" reapareceram na campanha "Free Kevin Mitnick". Era bom cobrar isso dele? Sei lá.. Como eu reagiria se chegasse de avião num evento e um cara que nem eu viesse me cobrar uma referência duma coisa que aconteceu anos e anos atrás? E se ele respondesse "tá, e daí?".

Bom, como disse, estava lá eu no evento e.. o que eu ia fazer da vida.. a palestra que rolava quando cheguei não estava muito interessante .. Aí começou a palestra do Eduardo Neves, "Sobrevivendo no Mercado: As Carreiras em Segurança da Informação". Isso aí foi 10. Muito boa. Como assim? A palestra foi basicamente "sou hacker, quero faturar protegendo uma empresa, como fazer". O sujeito explicava os problemas e cuidados que alguém que se mete a melhorar a segurança de uma empresa. Todo mundo que eu encontro por aí e falo no assunto "hacker" me fala que as empresas pagam uma fortuna para pessoas que sejam capazes de fazer isso. Claro que pagam. Mas não é automático. E conseguir fazer isso não implica necessariamente em saber código de informática.

O sujeito tem formação em administração de empresas, o que implica em conhecer o ambiente corporativo por dentro. Diferente da grande maioria de adolescentes e adultos de todos os tipos que querem ser "hacker" para aprender e arrumar um emprego. Ele contou o lado positivo da coisa somente. Não contou casos e nem precisava. Comentou que para começar, o sujeito não pode chegar e querer mudar tudo. Porquê mudanças dentro de uma empresa implicam em mudanças orçamentárias. Resumindo, um invasor pode render a uma empresa prejuízos enormes. Mas se a despesa com o cara da segurança ferrar com o orçamento, dançou. Não adianta o Kevin Mitnick ou o super-homem, a mulher-maravilha, seja lá quem for aparecer, se a empresa não tiver verba no orçamento, dança.

Por outro lado, mesmo a empresa tendo verba no orçamento, também não adianta. O sujeito precisa ter a capacidade de interagir com o pessoal que vai treinar. Não é muito fácil. Primeiro porquê em princípio a única mudança que todo mundo que trabalha quer é tipo promoção. E isso a empresa não quer. Então, a implantação de medidas de segurança significa alterar o ritmo de trabalho de muita gente. Que vai responder não simplesmente para não ter que mexer em time que está ganhando ou para não atrapalhar o ritmo das coisas. Não precisei anotar nada, já imaginava que seria esse tipo de coisa, já trabalhei em ambiente corporativo e conheço a cabeça. Até ia escrever artigo sobre isso. Fica ruim porém porquê não tenho experiência de segurança informática a nível de empresa que possa colocar no meu currículo. Ou seja, tudo aquilo que pensei sobre a dor de cabeça de trabalhar com segurança de informática para ganhar a vida, tudo isso era bem o que eu pensava. Para mim, era apenas um palpite. Agora posso "documentar" com provas (para quem, não sei) o porquê não é tão simples ganhar dinheiro com segurança informática. Pode até ser simples ganhar esse dinheiro.. mas não é virar "hacker" e depois chegar com o curriculo nas empresas, dizendo: "me contrata".

A medida em que ouvia as palestras comecei a ficar com dúvida. Algumas delas, o sujeito parecia estar falando com o mesmo estilo de escolha de palavras que utilizo. Estranho, como se alguém imitasse meu jeito de falar. Parecia que era impressão, coisa de paranóia, de maluco. Mas no intervalo conheci gente que me conhecia, por conta do fanzine. E aí enquanto conversava com um grupo, um dos palestrantes veio exatamente me falar que me já havia me entrevistado para um vaga, mas eu não lembrava dele (provavelmente isso foi há mais de dez anos). Aí no meio da conversa, dentro da minha cabeça, lembrei de um cara que curtia tanto o fanzine que preferia ficar relendo meus artigos do que ver televisão sábado a noite. Será que haviam mais desses caras no meio dessa turma? Tão fissurados no jeito que eu escrevia que na hora de fazer palestra davam a impressão de falar parecido? Com um dos organizadores do YSTS parecia a mesma coisa. Ele não me falou mas alguém deixou escapar depois de algumas cervejas (a bebida era liberada para aqueles que estavam lá, boca livre portanto) que também era influenciado pelos meus escritos. As pessoas me contavam essas histórias daquele tempo. Eu só lembrava de como era sortudo. Nunca usei linha discada para acessar. Traz tanta memória..

Conversei um pouco com o Nick Farr, mais ocupado em vender o material dele, um camelô do underground (no meu caso, expus uns livros que não queria mais - um grande fã me comprou o Applied Criptography, com direito a dedicatória). O pessoal organizou um leilão de peças que ele ainda tinha vendido, tipo a chave mestra, chave de abrir algemas, os distintivos do FBI, etc.. o pessoal comprava. O Goldstein chegou mais ou menos naquela hora e ficou esperando a vez dele de palestrar. Cheguei até comentar alguma coisa do Support Free Kevin mas nem entrei muito no assunto que o Mitnick não tinha dado nenhuma referência sobre a campanha nos livros dele. Não era a hora.

Conversa vai, conversa vem, fazia muito tempo que eu já tinha desistido do pessoal da 2600 - Hacker Quaterly publicar meus artigos. Treze anos do fanzine Barata Elétrica, perguntei se a história interessaria para a 2600. Claro. Só que não é assim tão simples. Tem que mandar, aguardar a resposta. Nada de novo. Rascunhei um texto em inglês (que acabou servindo de uma espécie de introdução, uma apresentação da minha pessoa para os outros palestrantes internacionais) e pedi para o Goldstein dar uma analisada depois da palestra dele. O Nick Farr já queria me ajudar a publicar livro lá nos EUA, conhece algumas pessoas. A história estava boa mas acabei tendo que refazer o texto depois.

A palestra do Goldstein foi ótima, gravei tudo embora já conhecesse (acho que era a 3a ou 4a palestra dele que assistia). Terminando, peguei o email de algumas pessoas, tava com idéia de montar um bate-papo, um 2600 meeting (ou Barata Elétrica meeting). Para quem não conhece, uma das grandes características do 2600 - Hacker Quaterly eram, são os encontros 2600, que acontecem no mundo todo. Precisam ser cadastrados para aparecer na revista. No início do fanzine Barata Elétrica também haviam esses bate-papos em vários lugares da cidade. Com o tempo parei de ir, outras pessoas também e a coisa parou. Seria legal voltar com eles. Fiz uma lista de pessoas (depois até cheguei a mandar email) mas não fui adiante com a idéia, quem sabe ano que vem.

Quando o dia terminou, o William Okuhara me convidou para a festa VIP, só a cúpula dos palestrantes e alguns convidados, numa casa de eventos na av. Faria Lima. Beleza, não tinha nada melhor para fazer, vamos nessa. E realmente tinha gente lá. Encontrei várias pessoas com quem não tinha ainda visto durante o evento. Alguns deles eram realmente fãs sérios do fanzine. Até deram dicas interessantes ("putz, você chora demais quando descreve uma vida que na verdade foi cheia de oportunidades"). Aí pintou uma nóia. Complicado, isso. Precisa ter feito um curso no SEBRAE (recomendo) para entender. Dá uma olhada no meu artigo montandonegocio30.html. São pessoas que trabalham com planejamento de um ano ou de anos. eu tinha que me lembrar que todo mundo ali estava mais ou menos ligado em business. Então qualquer coisa de inteligente que for pronunciada vira uma idéia de negócio. E óbvio, tem coisas que é melhor nunca comentar, independente da bebida. Sempre é bom lembrar o início do filme Takedown (o filme "fede" mas algumas cenas são boas porquê foram "chupadas" do livro do John Littman sobre a captura do Mitnick). Tudo começa por conta de uma palavra. O peixe morre pela boca, resumindo. Mas há situações em que falo umas coisas sem pé nem cabeça só para ver o que sai ...

Complicado conversar com pessoas em eventos. Com algumas, o assunto aparece naturalmente. Com outras, as pessoas ficam sorrindo e tentando "puxar assunto", acabam sempre tentando fazer com que você fale e elas fiquem ouvindo. E claro, esse tipo de coisa acontece várias vezes. Não sei. Muitas vezes me vejo com dificuldade, tenho que ficar perguntando coisas até encontrar alguma coisa em comum com a pessoa, senão só eu é que falo. Tenho que lembrar daquele novo software ou hardware, aquela notícia de que a Microsoft vai lançar não sei o quê. E ainda assim dá problema, a pessoa já conversou sobre isso e quer é ouvir falar alguma coisa mais interessante. Complicado, complicado.. boa razão para estudar o Goldstein e os outros convidados. Sorte ou azar dele, ficavam meio isolados por causa da língua da questão assunto. Ninguém falava com eles, mesmo sabendo inglês. Bater um papo com alguém numa festa implica uma capacidade meio fora de mão para quem fica muito tempo no computador.

Tinha um sujeito que era hispano-americano, um cara da Microsoft dos EUA, o Nick, o Goldstein e mais os organizadores da festa, turma do pod de segurança "naopod", um deles não consigo nunca lembrar o nome (forgive me) que está dando suporte na China, deus do céu! O cara vai na China direto. China? Puxa vida! A China virou o tema. Vale a pena? Parece ser o céu, fazer trampos fora do Brasil. Mas não é, já me falaram que estrangeiro é tão mal tratado na China.. Tanto o Goldstein quanto outras pessoas que foram lá já me confirmaram isso. No bar, em outra ocasião, ele reclamava em relação ao aeroporto de Benjing, onde foi dar uma palestra: "O pessoal do aeroporto não sabem tratar muito bem as pessoas" "Fala sério, alguém sabia tratar bem os turistas?", ele parou para pensar um pouco e considerou a coisa. As pessoas ficam com a idéia de aprender chinês mas trabalhar com chinês não é a melhor coisa do mundo. Bom, talvez com as olimpíadas, tenham pelo menos ensinado a tratar melhor o turista.

Apareceu um palestrante que havia conhecido na outra conferência, H2HC, o Rodrigo Rubira, ficamos conversando um pouco sobre o pessoal de Porto Alegre. Ainda converso com alguns mas não tenho mais contato. O lance do Free Kevin (na verdade Support Kevin Mitnick) já aconteceu e simplesmente aconteceram umas divergências com aquela jornalista, não falo mais com ela (máximo menciono a campanha dela em textos). Muita gente que eu conhecia daquele lugar já se casou, se mudou para São Paulo ou sei lá. Havia o boato de que um participante meu "concorrente" do fanzine AXUR 05 virou cinza num acidente da TAM, não sei.

Lá pelas dez da noite, acabava o patrocínio da Microsoft para aquela festa VIP, o pessoal resolveu ir para outros lugares. Os palestrantes internacionais ainda iam ficar até uma outra conferência de segurança dias depois (esqueci o nome). Então os organizadores levaram a turma para um night club de música caribenha.

Chocante. Jamais entraria num lugar desses se outra pessoa não pagasse a conta. Ficamos a madrugada inteira na balada. Conversei com outro dos organizadores, Luiz Eduardo, o cara me contou os mil e um problemas e entraves para conseguir o visto para os convidados estrangeiros. Que que eu podia falar? Uma situação horrível, de pastar, tudo organizado e os caras não vem só por conta da reciprocidade. Fiquei lembrando a dificuldade que é para brasileiro conseguir visto para os EUA mas mantive a boca calada. Deve ter sido difícil para o cara.

De resto, a noite foi boa. No dia seguinte, pintou convite de novo para sair com a moçada, chamei um amigo meu dos tempos dos encontros de ratos de computador aqui em São Paulo. Apresentei o cara pro Goldstein, fomos com a turma para uma casa noturna com visual londrino, nem lembro o nome. Muito legal. Ainda bem que não filmaram os efeitos daquela bebida. A casa estava meio vazia mas ficamos conversamos com os gringos sobre o visual da mulher brasileira. O cara da Microsoft era do tipo que só come mato e mulher mas fazia sucesso. Mais uns dois ou três dias e eu conseguia convencer o sujeito a vir para o Brasil, aprender português e torcer para o Palmeiras.

O grupo musical arrasou. Todo mundo gostou do repertório. Imagina só: uísque, gelo, pouca gente na pista de dança, um conjunto começando o repertório com Rolling Stones e depois a cantora arrasando com "Summertime".

Na saída fiz questão de pedir autográfo para ela, na maior cara de pau. Na verdade meu colega, todo mundo queria pedir o autógrafo, eu só fui na onda. Acho que ela nem ia aparecer mas bati um papo todo animado e as meninas da produção foram busca-la. Pedi o autógrafo, peguei o email, só não peguei o telefone de trouxa. Bem de trouxa, mesmo. Ganhei abraço, meio de olho no possível namorado, mulheres assim já tem fila aguardando. Os gringos estavam babando. Todo mundo queria ter alguma coisa com a menina mas nem chegar perto. Eu não, fui lá, pedi tudo e ainda cheguei a trocar uma idéia, coisa rápida. Dia seguinte em casa olhei o autógrafo, não acreditei. Fui checar o website da casa noturna. Era ela mesma, a Babi Reis da MTV. A própria. E eu não reconheci. Aquela mesma que saiu na Playboy, só que estava de peruca loira, foi tão simpática... Queria morrer. Porquê eu não tinha uma máquina fotográfica na hora, porquê não fotografei? Bom, um dia eu sei lá, tento de novo. Quem sabe?

No dia seguinte me encontrei de novo com os caras. Dessa vez fui com uma camiseta que o próprio Goldstein me deu em outubro de 1994, do HOPE. Ele não acreditou que a camiseta não ficou branca de tanta lavagem. Levei uma cópia pirata do vídeo dele e pedi para ele autografar com o cdmarker. Tiete? Não. Sei lá. E uns CDs de música brasileira, quem sabe eles curtem. Todo os palestrantes estrangeiros (e equipe brasileira) estavam cansados, depois de vários dias de balada. Encontrei até gente que só estava chegando naquele dia e que ia participar das outras palestras na outra conferência. Não estava aquela conversa animada mas ainda foi legal.

Convenções e encontros de Ratos de computador são algo meio estranho, depois de um tempo. As palestras dificilmente ensinam realmente tudo o que a pessoa gostaria de aprender sobre esse ou aquele assunto. São no máximo introdutórias. Desde a primeira vez que fui numa, em 1994, meu foco sempre foi fazer contatos. Os contatos, se você for uma pessoa capaz de se conectar, são tudo. São aqueles caras que vão te perguntar "puxa, vc está desempregado, o que eu posso fazer por você", "tem aquele cara que trabalha com isso que é genial" ou até mesmo são capazes de ter dar uma idéia com poucas palavras. Claro, a pessoa precisa saber fazer seu networking, ter seu cartão, não bancar o idiota. Isso necessita um pouco de visão, de tato e não são todos os caras que lidam com programação que usam o pouco de inteligência emocional que possuem. Poderia até dar aulas particulares sobre isso. Programador muitas vezes odeia encontrar gente e perde muito com isso. E várias vezes, uma pessoa que você encontra, muda sua vida. Senão, ir numa convenção desse tipo, dependendo da capacidade técnica da pessoa, é apenas dinheiro para deduzir do imposto de renda.

Fim?

Addendum (06-08-2012)

Enquanto não lanço o novo número do fanzine, achei melhor acrescentar sobre o evento. Após esse artigo, participei mais vezes, sempre como convidado. E mesmo na primeira vez que apareci, me fotografaram. Para não fazer escândalo (aí seria uma foto fazendo escândalo), simplesmente avisei depois que não queria fotos publicadas. Mas parece que os realizadores do evento não são de verificar o que colocam online. Três vezes encontrei fotos minhas online, em FlickRs diferentes, em datas diferentes. Ou foram mais de 3 vezes. E são fotos que eu detestei. Mas a pior parte é que houve uma quebra de confiança. Falaram uma coisa para mim e fizeram diferente. Mais de uma vez. As fotos foram retiradas de visualização assim que enviei email. Mas isso não muda o fato de que elas estavam lá disponíveis até eu descobrir. Então, já não enxergo mais o William e Luiz Eduardo da mesma forma que enxergava antes. Quanto ao evento em si, fui selecionado para uma palestra, no dia 7-05-12. Não foi agradável. Parece que um amigo/colega de trabalho/parceiro de negócios/whatever se excedeu e.. simplesmente não vou voltar mais lá. Nem fui na festa Pós-conferência.

Bibliografia:

Site do filme Good Copy Bad Copy - http://www.goodcopybadcopy.net/ http://video.google.com/videoplay?docid=4167507426251202806 copia com legendas em portugues no http://thepiratebay.org/torrent/3720299/Good_Copy_Bad_Copy_(Legendas_PTBR)

http://tecnologia.terra.com.br/interna/0,,OI3277534-EI4802,00-Internet+desafio+e+transformar+audiencia+em+lucro.html