A mentira e suas várias faces

Página Inicialhttps://sites.google.com/site/barataeletricafanzine/Home Email drrcunha@yahoo.com.br Índice barata25.html

A MENTIRA E SUAS VÁRIAS FACES

http://goo.gl/OLhi9Z

Derneval R.R. Cunha

 "Não cometerás falso testemunho ".

Bíblia, 9o Mandamento

"A verdade transforma as palavras em facas" - EURÍPEDES - Iphigenia

"Não importam os fatos e sim as versões" - Getúlio Vargas

É difícil dizer quem consegue viver sem ter faltado com a verdade, pelo menos uma vez na vida. Pode ser até por erro. Por exemplo, quem descreve alguma coisa para alguém está passando algo que viu ou presenciou. Mas está passando uma visão própria. Tente interrogar uma pessoa logo após uma experiência dramática. Tente a mesma coisa, horas depois. Ou algum tempo, uns meses. Trata-se de outra visão da mesma situação.

Falso testemunho ou engano? Se colocarmos o assunto na boca de um advogado criminalista (o tipo de advogado com menor duração de vida aqui no Brasil) ou qualquer pessoa bastante escolada na retórica, o que para alguns passa como mentira adquire outro significado. Na Bíblia, a mentira é um dos dez pecados capitais (vale lembrar que não existe uma gradação de qual pecado é o maior, matar alguém ou invejar a mulher do próximo é tão pecado quanto mentir, aos olhos de Deus).

Clinton cometeu o perjúrio ao dizer que manteve relações incompletas com Mônica Lewinski? Ele não podia negar o exame de DNA no vestido da estagiária (que cuspiu do lado esquerdo, parece que fez questão de guardar o vestido).

Isso leva a outra questão: Será possível pegar um mentiroso e demonstrar que ele está mentindo? Depende muito.

A mentira pode ser descrita como uma verdade que deixou de acontecer. Em se tratando de falso testemunho, a falha está no fato de que o sistema de comunicação é algo imperfeito. Por exemplo, nós brasileiros falamos a língua portuguesa ou a língua brasileira? Depende de quem esteja perguntando. Será que dois brasileiros falam a mesma língua? Alguém conhece aquela piada do engenheiro e caipira numa aposta de rinha de galo?

Vou lembrar:

O sujeito foi com toda aquela panca fazer uma obra numa cidadezinha do interior. De acordo com o capataz da obra, não havia nenhuma diversão no local, exceto briga de galo (coisa proibida, inclusive). E o cara foi lá, ver como é que era a coisa. Chegou e viu um monte de gente apostando dinheiro. Perguntou para o capataz, qual galo que era o bom:

- O bom é aquele galo amarelo, ali.

O engenheiro apostou firme no tal galo. Que perdeu, levou uma surra bonita do oponente. O engenheiro foi reclamar com o capataz:

- Você não me disse que aquele galo é que era o bom?

- E num tava certo? O ruinzão é o outro, você viu como que bateu sem dó?

Pois é, no caso acima, não houve mentira, houve uma falha de comunicação. Claro que se pode também falar em Desinformação, que é a possibilidade de se apresentar a verdade de tal forma que pareça mentira. A Retórica, tão querida do pessoal que faz advocacia, já é outro esquema: consiste em aumentar ou diminuir para atingir o efeito de influenciar o resultado de uma discussão.

A comunicação é um ato social. A mentira, por mais imoral ou danosa que possa parecer, é um ato social. Vide a novela Roque Santeiro, uma novela de enorme sucesso baseada nessa questão: uma cidade havia se desenvolvido em torno do mito de um herói. Esse mito era mentira, mas era justo acabar com o desenvolvimento da cidade só para esclarecer a verdade? A Rede Globo (e mais um montão de gente) acabou por votar pela manutenção do mito. Ariano Suassuna, em entrevista com Jô Soares (sexta, 23/03/01), falou sobre o personagem Chicó do  "Auto da Compadecida". Foi baseado numa pessoa (que já faleceu) que era o maior mentiroso da paróquia. Em determinada ocasião, estava esse "recontando" um evento e um dos que tinham participado, estado lá na ocasião, teve a audácia de falar que o Chicó não estava falando a verdade. Ao que este respondeu, contrariado e constrangido:

- Tá certo. O senhor é testemunha, estava lá, eu concordo. Mas todo mundo sabe quem sou eu. Está todo mundo reunido para me ver contar um caso. Vocês todos aqui, o que vocês preferem? Aquilo que estou contando ou a verdade desse besta aqui?

Claro que alguns podem colocar o fato de que existe alguma diferença cultural entre o Suassuna comentou (que o Chicó teria falado em determinada ocasião) durante o  "Talk-Show" do Jô e o que se pratica na maioria dos lugares. Porém, com relação a contar histórias, o cinema faz isso, o tempo todo. Só que chama esse ato de "linguagem cinematográfica". É preciso alterar a história para que possa ser filmada (o que são outros quinhentos, mas rendeu um belo de um processo para os realizadores do filme  "O que é isso, companheiro").

Há então a questão daquilo em que a pessoa quer acreditar. É preciso ler nas entrelinhas. O problema da verdade é o  "business" de lidar com o que ela acarreta. Como naquela piada do português:

O detetive chega para o português, depois de passar dias e dias disfarçado, seguindo a Maria, suspeita de estar traindo o Manuel:

- Segui ela ontem o Motel  "Vamunessaqueébão". Me disfarcei de empregado, vi os dois sorridentes entrando na suíte presidencial, que tem cama redonda, espelhos e outros equipamentos. Aí, quando cheguei perto da fechadura, olhei pelo buraco, sua esposa estava tirando a roupa e aí..

- Fala, gajo, o que aconteceu?

- O cara tirou a cueca e pendurou na maçaneta, não vi mais nada.

- Ora, raios, esta dúvida é que me mata!

Isso é uma piada, eu sei. Mas e o caso dos médicos, por exemplo? O que que interessa para a família ouvir, quando o parente está a beira da morte (supondo-se que o parente seja mesmo um ente querido)? Até um tempo atrás, um amigo meu foi fazer uma entrevista num hospital e pediu para o médico residente para ver alguns desenganados (doentes sem chance de recuperação). A resposta que recebeu é que todos tinham chance de recuperação, não havia essa coisa de desenganado. Uma auxiliar de instrumentadora (sei lá o nome do cargo, a pessoa que entrega os bisturis para o cirurgião) me contou que o apelido da UTI (entre os médicos e enfermeiros) é "ante-câmara do inferno". De acordo com ela, a internação na UTI, na maioria dos casos, é só uma forma que o hospital usa para arrancar um dinheiro absurdo das famílias que ainda acreditam numa última chance. Vai saber.. milagres acontecem. Será que a pessoa que recebe a notícia de que vai morrer não desiste também de lutar até o fim?

As várias formas de se mentir para alguém:

Existem livros sobre o assunto. Mas de acordo com um tratado muito bom,  "Telling Lies - Clues to Deceit ", alguns (dos muitos exemplos) podem ser alinhados:

Ocultar a verdade

Bem mais fácil. A pessoa não tem que se preocupar em memorizar nada ou inventar, já que nada aconteceu.

Exemplo:

(situação baseada em fatos reais que presenciei, numa república estudantil.. ):

- Mano, você está viu as minhas cuecas?

- Olha, não me venha com essa, você achou alguma entre as minhas coisas? Então pare de me acusar.

- Pô, cara, foi mal..

- Ah, tudo bem.. mas relaxa, cara..

Outros exemplos: Tentar ocultar a vitória do seu time de futebol ou falar pro seu dentista que não tem medo de injeção.

Falsificar

Falsificar implica um bom conhecimento de como as emoções funcionam. Por exemplo, mentir que já tem experiência anterior implica em:

Exemplo:

- Mano, você está usando uma das minhas cuecas.

- Você está louco, esta é minha! Você fica esquecendo as coisas na lavanderia e coloca a culpa em mim.. tenho que sair fora.

Dizer a verdade como se fosse mentira - Dizer a verdade como se fosse mentira, é coisa para ator, por que implica em fazer de modo que a pessoa duvide da verdade.

Exemplo:

- Mano, você pegou minhas cuecas?

- Peguei elas e tô usando para lustrar sapato.

Evitar a resposta - É bastante comum, quando o mentiroso é apanhado  "em flagrante"

Exemplo:

- Você está usando uma das minhas cuecas?

- Eu estou ocupado agora, não está vendo? Tenho que sair correndo antes que o banco feche.

Dicas para tentar diferenciar mentira e verdade:

Claro que uma coisa é ver a verdade vazando, outra é o mentiroso admitir. Lembrando a piada do cego e do cachorrinho:

Juca Chaves: Estava eu pela rua, de noite, quando vi um ceguinho passeando com um cão-guia, pastor alemão. De repente, o cão parou e deu uma senhora mijada no pé do dono. Que, aparentemente, não demonstrou raiva. Só enfiou a mão no bolso e tirou um biscoito. Estando eu do lado, não pude deixar de exclamar:

- Que mostra de paciência, o cachorro lhe dá um "banho" e tudo o que o senhor faz é enfiar a mão no bolso para dar-lhe um biscoito.. que generosidade..

- Estou só procurando a cabecinha dele para meter a bengala!

Presumindo que se queira duvidar da pessoa com quem falamos, há vários métodos. Se algum curso, livro ou método lhe prometer 100% de acerto nesse assunto, está faltando com a verdade. Não existe nenhum método perfeito para pegar mentirosos. E muito menos um método perfeito para faze-los admitir que mentiram. Existe uma teoria que mentirosos falam devagar (por que estão pensando a resposta). Tudo bem, só que vários caras que conheço passam o dia inteiro na frente do computador, realmente falam aos pedaços.

O mentiroso que realmente é escolado consegue acreditar na mentira que está contando. Quer um exemplo? O cara fala que não houve nenhum contato íntimo com outra mulher. Tranquilo. Ele usou camisinha, não houve contato íntimo. Para uma mulher, a traição só ocorre se ela se apaixona por outro cara. Não apaixonou, pode sair transando com todo mundo, as amigas chamarem ela de vagaba e tudo. Na cabeça dela, o que aconteceu foi algo sem importãncia.Esse campo amoroso dá uma grana preta para "detetives".

Além de métodos alternativos, existem as seguintes dicas:

É preciso pensar que o corpo, numa interação social (vulgo "conversa") emite uns 2000 sinais diferentes (a nível consciente e inconsciente) que se complementam. É informação redundante. A pessoa está emocionada, faz voz de quem está emocionada. Agita as mãos. Arregala os olhos. Ou não. Atores, Políticos, jogadores de Truco e de Poker sabem muito bem a necessidade de controlar esses sinais. Eles constroem um  "muro de credibilidade".

Vazamento:

Há casos em que é possível ver a verdade "vazando". Por exemplo, a gesticulação das mãos não combina com o que o rosto diz. A voz muda o tom, a fala gagueja. Seria o caso em que a pessoa diz "NÃO", mas o corpo diz "SIM". Que nem o sujeito falando com a esposa ciumenta no campo de nudismo. Piadas aparte, existe um livro bom nesse assunto, chamado  "O Corpo Fala". É bem didático. Na verdade existe toda uma ciência em torno do assunto, chamada de "Kne???-não-sei-o-quê " (odeio dar informação incompleta, mas esqueci). Dentro dessa ciência, o conteúdo das ações do indivíduo compõem um quadro de falsidade ou sinceridade, que pode ser interpretado.

Inconsistências ou Dicas de que há algo errado no ar

Essa daí é o que mais pega o sujeito  "em flagrante". A mulher observa que de um dia para o outro, o marido começa a se vestir melhor, sorri todo dia, não se incomoda com nada. Começa a praticar esportes, fazer dieta. Alguma coisa aconteceu com ele. O contexto não bate com o que está sendo dito.

A cabeça de quem mente:

Excetuando-se a mentira social (você encontra alguém que te pergunta: "tudo bem?" e responde "tudo bem", afasta pessoas que podem emprestar dinheiro), ninguém tenta enganar alguém sem levar em consideração alguns dados, como:

O fato da pessoa mentir de vez em quando não implica que ela seja vil. Por exemplo, uma loira pode se fingir de burra para facilitar as coisas na hora de arrumar namorado. É uma estratégia. Ou um perigo.

Ex:

Os 2 surfistas conversando na praia..

- Pô, meu, ontem estava na minha encarando as ondas, rolou um lance q nem te conto, cara..

- Contaí..

- Veio um coroa tentando puxar papo.. jeito de baitola

- E vc?

- Vc sabe, né? Surfista, 20 ano de praia, fiquei na minha.. Aí o cara chamou o vendedor de sorvete e deu uma nota de cinquentinha pro cara trazer um mé com gelo. Pleno sábado de sol, o cara tava tomando Vodka na praia. E ainda deu uma gruja pro moleque.

- E vc?

- Eu, vc sabe como é, né? 20 ano de praia, comecei a bater papo com o cara e aproveitar a vodka dele.

- Isso aí, boa.. e como é que rolou então?

- Aí fui bebendo uns lances.. o cara convidou para ir jantar na casa dele

- Vc recusou, né?

- Queisso.. comida de graça? Sabe como é, né? Eu, 20 ano de praia.. fui na minha, nem preocupei.

- E como terminou a história, bem ou mal?

- Merda, O CARA TINHA 40 ANO DE PRAIA!

Métodos de Avaliação (o cara mente ou não):

Há métodos que pretendem fazer a avaliação da pessoa usando vários recursos:

Grafologia - avalia a escrita da pessoa. Virou ciência e é empregada por departamento de Recursos Humanos de empresas para avaliar funcionários. Trata-se da análise do texto da pessoa com o fim de descobrir o caráter, já que a forma da letra, a pressão, o uso da página podem dar pistas sobre a personalidade. O problema é que a pessoa pode caprichar na caligrafia e "fraudar" o teste com um pouco de prática. Mesmo que profissionais mais gabaritados sejam capazes de enxergar pistas por cima disso, são uma minoria. Existe a análise do conteúdo do texto, que é uma outra história, mas que ainda assim, exige prática.

Polígrafo ou Detetor de Mentiras - Ainda é usado nos EUA, como se fosse uma panacéia. Quem assistiu o filme "Instinto Básico" (aquele da Sharon Stone mostrando que está sem calcinha) já tem alguma dúvida sobre se funciona mesmo. Os resultados não são conclusivos. O que acontece é que um monte de fios são ligados a várias partes do corpo da pessoa e presume-se que a mentira gera uma diferença na resposta. A idéia tem alguma coisa boa, exceto que: existem muitos profissionais incompetentes aplicando (lá, aqui não sei se é aplicado). Se os filmes de Holywood estão sendo feitos com personagens enganando esse tipo de coisa, é sinal que está caindo de moda por aquelas bandas, por que americano não mexe em time que está ganhando. Mas a melhor avaliação do polígrafo que fala em 92% de acertos com pessoas "normais". Falta definir o que são pessoas  "normais". Seria muito fácil usar isso como prova, mas a justiça brasileira não aceita desde a Constituição de 1988.

Stress da Voz - Outro tipo de detetor de mentiras, baseado no fato de que a voz da pessoa se altera de acordo com o que diz. Existe um artigo bom sobre isso, no http://www.loompanics.com/Articles/MikeKempSnitch.htm . Há vários softwares do gênero, disponíveis na internet, alguns até tem depoimentos do Clinton falando sobre Mônica Lewinski. Seria gravar a voz da pessoa enquanto diz a verdade ou mentira e depois rodar no computador para ver se os gráficos. Como o próprio artigo coloca, demora pra caramba para se treinar alguém no assunto.

"Paulígrafo" ou Tortura - Método muito usado pelas polícias de vários países. O grande problema é que tanto os inocentes quanto os culpados confessam. Em caso noticiado pela revista VEJA, um cidadão comum relatou a morte de um policial pelo disque-denúncia e foi barbaramente torturado (membro da corporação acreditou que o cara sabia quem fez). Dependendo da pessoa, funciona ou não. Um cara que trabalha(va) na polícia me contou que há casos em que o sujeito confessa na boa, mas precisa ter uns hematomas para poder justificar. O interessante é que a confissão sob tortura não é aceita como prova final em nenhum julgamento que preste (o que não impede da pessoa carregar sequelas).

Ameaça - Tudo depende da experiência de vida da pessoa. Há quem confesse sob ameaça e há quem não o faça.

Roscharch - O método tem história. Baseia-se na análise do que a pessoa fala quando vê determinados desenhos. Claro que presume-se a sinceridade nas respostas. Muito usado em entrevistas de emprego. Há cursos caríssimos sobre o assunto.

Soro da verdade - Se fosse bom, a polícia usava. Precisa de médico do lado para prevenir overdose.

Bebida - "In vino veritas" (a verdade está no vinho). Cada caso é um caso. O maior problema é determinar a dosagem. Alguém de estômago cheio leva mais tempo para se embriagar do que quando passa fome.  E quem é que aguenta papo de bêbado?

Livre associação - O entrevistador fala uma coisa e o entrevistado vém com a primeira palavra que aparece na mente dele.

Engenharia Social - Já comentei em diversas edições do Barata Eletrica. Só acessar http://barataeletrica.tk e procurar na máquina de busca. Um exemplo simples é o do  "hacker" que se recusa a comentar a vida pessoal, principalmente se o sujeito trabalhar para o governo. Já para um caçador de talentos (vulgo vou-te-dar-emprego), repórter ou pseudo-pesquisador, ele se abre todo, conta tudinho, mesmo o que incrimina. Nos EUA, quando a polícia começou a prender, sempre se impressionaram com os caras que foram pegos em flagrante, faziam questão de confessar tudo, sem se lembrar que estavam se incriminando.

Experiência de Vida - Algumas vêzes funciona bem. Querendo saber se a pessoa fuma, é bem melhor pedir um cigarro a ela do que perguntar:  "você fuma?".

Algumas conclusões:

Todos os métodos acima pretendem passar por cima do fato de que o mentiroso "profissional" (para não usar outra palavra) não irá conseguir "ensaiar" sua mentira. No caso de entrevistas de emprego, sempre há margem de erro. Em interrogatórios, também. No livro  "Telling Lies", um verdadeiro tratado sobre o assunto, chegou-se a várias conclusões, entre as quais que bons "pega-mentirosos" não aprendem isso através de treinamento. A pessoa também pode ser boa para enxergar determinados tipos de mentira, mas não outros. Métodos para avaliar, nenhum merece confiança. Num determinado caso, uma paciente de manicômio conseguiu enganar todos os médicos. Era o caso de uma suicida em potencial. Como tinham filmado a cena dela mentindo, ficaram horas e hora até enxergarem momentos nos quais, por frações de segundo, a mentira aparecia. Todo mundo assinou a alta para a mulher. A mentira foi descoberta por que ela revelou.

Mentiras Sociais (no cinema, para dar alguns exemplos):

É difícil pensar ou acreditar que as pessoas próximas são capazes de mentir. Mas .. "o diabo existe" (.. e é casado, por que têm chifres). O filme do Stanley Kubrick (De olhos bem fechados) mostra bem vários aspectos interessantes. O casal Nicole Kidman (Alice) e Tom Cruise (Bill) estão numa festa, mas se separam. Quando um volta a encontrar o outro, o Cruise está com 2 garotas e a Nicole dançando com um cara. Apesar da bebida, nenhum dos dois faz nada demais. Mas, chegando em casa, conversa vai, conversa vem, coisa de casal, aparece a pergunta:

Alice: Quem eram aquelas garotas com quem você estava na festa?

Bill: Apenas modelos

Alice:  Você transou com elas?

Bill: Não, o Ziegler me chamou, blá, blá, blá, etc..

E começa a mentir por conta de um pedido do anfitrião (para quem quebrou um galho). Acaba falando que não transaria outra mulher por amar a esposa que tem e depois pergunta sobre o cara (Szandor, o personagem) que estava dançando com ela, o que ele queria com ela? Os dois começam um papo. Ela sabe que o cara estava a fim de sexo e o Bill também. Só que quando fala que acha isso compreensível, a coisa muda. Alice começa a pressionar:

Alice: Quer dizer que a única razão para aquele cara (Szandor) conversar comigo seria sexo?

Bill: Nós sabemos como são os homens.

Alice: Então, pela lógica, você queria transar com aquelas modelos? (aí começa tudo)

Etc, etc.. (ver http://www.geocities.com/Hollywood/Movie/7488/ewslinks.html )

O filme fala muito sobre mentiras de vários tipos. Claro que se for comentar, poderia colocar (algumas d)a(s) esplêndida(s) obra(s) de Nélson Rodrigues (como),  "O casamento". O filme (assisti no cinema, apesar de ser teatro) começa com o médico da família contando pro pai da noiva que o futuro genro é gay. Não dá para resumir o suficiente para comentar, acontece muita coisa. É o que considero algo leve, em termos da obra desse cara. "Bonitinha mas Ordinária" é também excelente. Os outros filmes, considero muito pesados.

Algo mais pé no chão (os filmes acima tratam mais de gente "high-society" com mais de 30 anos) seriam os filmes  "Garotos não choram" (Boys don't cry) e o filme peruano  "No se lo digas a nadie" ou  "Não diga a ninguém". Os dois tratam de pessoas que curtem gente do mesmo sexo. O "Garotos não choram" fala de uma menina que fazia todo mundo acreditar que ela era homem, caso verídico. "No se lo digas a Nadie" é o tipo de filme que  "queima o filme" (uma menina me levou para assistir). Podendo editar algumas cenas de sexo (ou fechar os olhos), a enredo é interessante. Aborda um  "maricon" tentando esconder que é gay. Tem as passagens hilárias, como a primeira relação dele com uma mulher, as formas de esconder, o momento que descobre que ser gay não tem cura, o casamento para salvar as aparências, etc.. Só recomendo por conhecer várias histórias similares à do filme. Quando você conhece alguém que a vida inteira faz pose de machão e depois vê essa mesma pessoa rodando a bolsinha, leva dias procurando o queixo que caiu no chão. É que nem levar chifre (aqui em São Paulo, isso NÃO é raro).

Mentiras Sociais II:

As pessoas, algumas vezes, curtem muito tecer ilusões sobre a vida de modo geral. Quando se trata de vida afetiva então, nem se fala. Todo mundo (ou quase todos) já inventou uma história daquela "menina incrível" que conheceu numa festa e das coisas que aconteceram depois. O que se pode fazer? Falar que conheceu a menina e que acabou não rolando nada? As vezes o fato não aconteceu, mas quase, então é contado como se tivesse acontecido. Melhor para animar uma conversa do que falar que foi encontrar uma puta bem barata no centro da cidade. Aliás, falando nisso, a revista da Folha num domingo desses comentou que as prostitutas estão se vestindo como "patricinhas" e encarando discotecas. O sujeito vai paquerar a menina, recebe a oferta "programa por X Reais". Pois é, me contaram uma história: o sujeito foi no hotel, pagou adiantado, tirou a roupa, aí depois de tirar a roupa a menina pediu mais dinheiro, se fingindo de coitada. O cara não tinha, mas perdeu a vontade de fazer. Pediu o dinheiro de volta, a menina começou a chamar o segurança do lugar, alegando que o cara estava tentando agredi-la.  

Interrogatórios

Praticamente qualquer conversa pode ser um interrogatório, vide aqueles que entendem de  "Engenharia Social". Mas existem aqueles que são assustadores, como dar depoimentos (especialmente quando se tem alguma "culpa no cartório"). Como na polícia, por exemplo. Numa conversa sobre a ALCA (pintou umas manifestações em sampa, vide http://www.midiaindependente.org , quem estiver interessado), foi comentada a questão do procedimento dos policiais em caso de prisão de manifestantes.

Para quem vai preso, há duas formas de se entrar na cela, chorando e morrendo de medo ou de cabeça erguida. De cabeça erguida, é mais fácil obter respeito (de outros presos) e sofrer menos. Mas óbvio que o objetivo é amedrontar o "elemento" ao máximo. Se brincar, falam que o amigo dele já falou tudo, só precisam de confirmação. Podem até colocar alguém "deles" junto na cela, só para ouvir histórias. O cara com ódio, medo ou dúvida, revela mais do que devia. E pode até dar pista para se incriminar em outra coisa que não tem nada a ver com o motivo pelo qual o interrogatório começou. Então, todo mundo tinha sido avisado que não era para conversar com os policiais, só na presença do advogado. O problema é que os três tinham estavam na viatura e nunca chegávamos na delegacia. Só trocavamos de viatura. A cabeça estava a mil. Uma hora, um dos policiais, curioso, começou a puxar papo:

- O que que vocês estão fazendo aqui? Não parecem ladrões.

- Ah, (todo emocionado) somos da passeata contra a ALCA.

- Que é isso?

A gente deu um beliscão no cara para ele se calar. Por quê para a polícia, o primeiro passo é fazer você abrir a boca. O problema era tal que não se podia avisar para o imbecil que aquilo era interrogatório. Isso seria chamar a atenção do guarda para quem estava mais a par da coisa ou quem era o "cabeça" do grupo.

Se a pessoa pode mentir para a polícia, a legislação brasileira não é muito severa em relação ao assunto. Confissão não serve como prova. Ninguém é obrigado a falar contra si próprio ou se incriminar. Como legislação é algo que muda muito (um novo código penal está chegando) consulte um advogado. Na dúvida, fique calado até ele chegar.

Mentiras na Internet:

Aí é demais. Precisaria de um enciclopédia. Existem desde Hoax, os embustes, (como o aviso de que o ICQ se tornará pago), até os que se fingem de mulher para poder conversar com alguém. Um que merece destaque é o caso da Carla Coelho, uma