FÓRUM SOCIAL MUNDIAL: EU FUI

mundo se conhecia de longe por conta da sacola.

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FÓRUM SOCIAL MUNDIAL: EU FUI

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Derneval R.R. Cunha

Não é a primeira vez que vou a Porto Alegre. Que nem Kleiton e Kledir: "Baixo Astral? Vou a Porto Alegre e tchau!". Desde minha primeira viagem para lá, durante o SBPC, (1990?) não preciso mais de motivos para estar em Porto Alegre. Preciso de tempo e dinheiro sobrando. Dessa vez nem meu tempo nem meu dinheiro estavam exatamente sobrando, mas havia algo mais, como diz o título. Só a USP enviou uns 18 ônibus cheio de estudantes ou interessados para assistir palestras, discutir os rumos da humanidade e também conhecer outras grupos sociais. Um monte foi simplesmente fazer turismo ou curtir o acampamento da juventude, instalado no parque no centro da cidade, a beira do rio Guaíba.

Pra mim, aquele acampamento seria o mais próximo de algo que vi acontecer num filme, "Woodstock". Claro que não seria um woodstock, longe disso. Mas porquê não curtir a viagem e as discussões e palestras?

A Viagem

Sorte que a companhia foi agradável. O pessoal não ficou fazendo barulho e bebendo a noite toda. Dessa vez consegui dormir. (Também, 20 horas de viagem sem livro nem televisão). Legal foi quando o ônibus quebrou. Era uma caravana de 13. Os outros ônibus tinham que esperar quando acontecia. Mais de uma vez, teve até ônibus que teve que ser substituído. Numa das paradas em que houve defeito, escutei os dois motoristas conversando:

- Faz o seguinte: tira a mola da roda e coloca ela no motor, que lá tá fazendo mais falta.

Já entendeu, né?

Chegada em Porto Alegre

O problema não foi o frio. Muito pelo contrário. Os jornais falavam em "buraco na camada de ozônio". Bem perto da cidade. Temperatura? 40 graus centígrados. A cidade era um forno. O acampamento da juventude também. Com poeira. Qualquer ventinho e.. pó. Pelo menos não havia falta de água. Em toda a cidade havia gente vendendo. E lá no acampamento, torneiras e chuveiros. Até hoje acredito que aquela água das torneiras era potável. Na volta pra casa, era impossível beber o que sobrou no cantil. Mas naquela hora, debaixo daquele sol, puxa, como era bom. A organização colocou uns toldos para diminuir e fazer algo parecido com sombra mas só alguns conseguiam ficar na barraca durante o dia.

Primeiro antes de entrar  o credenciamento (encarar uma fila para se inscrever). Para usar o acampamento a pessoa pagava uma grana (contribuía na verdade, era barato) e recebia uma sacola.. Contendo manual do acampamento, crachá com o nome e um sabonete natureba (sem conservantes ou produtos químicos que agridam a natureza), para usar nos chuveiros públicos. Todo 

Depois disso, a procura por um local para montar a barraca. Preferência lembrando que.. num ano anterior, choveu. Um dia só que aconteceu a tal chuva mas inundou parte do parque e isso ficou na memória, tanto que muitos decidiram nesse ano procurar um lugar mais alto.

Achado o local, montada a barraca, quem quisesse poderia colocar as coisas de valor num guarda volumes. Deixar na barraca, só louco. Eu carregava minha mochila com quase todo o guarda-roupa. Sabia que iria na casa de amigos mais tarde e precisaria estar com roupa nova para usar. Então já levava tudo e deixava só o que não ia usar. Nem punha cadeado. No 2o dia estava quase rifando meus ombros por conta do peso da mochila. Mas valeu a pena. Um dia voltei e encontrei a barraca aberta e remexida. Mas não havia nada que valesse a pena levar então tava tudo lá.

Condições

Os banheiros não estavam muito bons. No ônibus foi trash, usava lanterna para poder urinar. Aqui (lá no acampamento), eram umas 2 alternativas:

1- Sanitários ecológicos. Sem descarga, cabines de plástico com sanitário simples, latrina mesmo. Algumas era meio nojo de entrar mas tinha equipes limpando de vez em quando (observei um cara esperar uns 20 minutos até uma mulher terminar de limpar para ele usar o vaso). Tinham muitas e ninguém ficava fazendo hora. Debaixo daquele sol, era algo meio chato ler jornal lá dentro.

2 - Sanitários do parque. Mais parecidos com o que se tem em casa, só que com fila, gente conversando e batendo na porta. Sem falar nas "poças assassinas" - água que escorreu dos chuveiros e sabe-se lá de que origem, cheia sabe-se lá quais líquidos, misturados com N cheiros diferentes. Melhor evitar o tênis molhado nessas poças.

Os chuveiros também eram de 2 tipos, o público e o coberto. Tanto um quanto o outro tinham filas, dependendo da hora, mas o chuveiro público era bem legal. Super legal. Haviam vários, enfileirados um ao lado do outro em 3 lugares do parque. De longe se podia ver a multidão tomando banho. Era legal porquê se podia ficar tomando banho de cueca, calção, maiô ou biquini. Até pelado, se a pessoa tivesse coragem ou vontade. Era tanta gente tohttp://curupira.webng.com/minhabarraca2_t.jpgmando banho.. se é que se podia chamar de chuveiro, era um jato d'água minúsculo, tipo 1 ou 2 litros por minuto, água fria, óbvio e sem lugar para pendurar a roupa, vc equilibrava nos canos e torcia para não cair. Podia ficar conversando com seu vizinho enquanto isso.

Quem quisesse poderia ir no outro chuveiro coberto mas quase sempre com fila. E com "poças assassinas" também.

Pessoas

De tudo quanto é lugar. Já na fila para o credenciamento estava trocando idéias com gente do Canadá, da Alemanha, até do Amazonas. Chineses, etíopes, árabes, argentinos, era um mundo de gente. A grande maioria falava alguma coisa de espanhol, tinha que entender pelo menos. O acampamento tinha um sistema de som que dava dicas, notícias e avisos umas 3 ou 4 vêzes por dia, com gente falando em 2 ou 3 idiomas. Aliás o sistema de voluntariado era legal. Eles pediam ajuda para cortar lenha, fazer a comida ou mesmo traduzir os avisos em outro idioma, como inglês ou francês. Quem ajudava recebia um papelzinho e podia comer junto com o pessoal da organização.

Haviam tipos de todo os tipos. Desde gente que estava afim de fazer o seu protesto até os que realmente queriam incomodar. Um que ficou na história foi um cara de MG que acordava todo mundo por volta da 9 horas. Vestido com máscara e chapéu de soldador, cotava música tema do filme Titanic num megafone e depois vinha a cantilena:

- Acorda Maria bonita, acorda pra fazer café.. que o dia está chegando e a polícia está te esperando.. (aí mudava o tom)

- Babaca! O que é mais importante para você, a vitória do seu time ou o futuro da nação?

O pessoal odiava ele por conta da musiquinha. Da primeira vez não dava para ter certeza que não era a repressão.

Haviam os punks e deles nem vou comentar. Skinheads também apareceram. Houve boatos de que armaram brigas. Na verdade, havia gente de todos os tipos, muitos nem entendiam muito bem as idéias do acampamento. A questão do respeito ao próximo, a liberdade de um termina onde começa a liberdade do outro. O que no início era algo altamente ideológico virou festa e perdeu muita coisa. De qualquer forma, não seria próprio excluir ninguém por conta da opinião ou do estilo. Direitos Humanos. Todo homem tem direito a liberdade de opinião e expressão. Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é, já dizia Gal (ou foi Bethânia?).

A Segurança

Nessas horas chateava muito o pessoal que não entendeu o espírito da coisa. Houve casos de assédio, estupro e brigas. Como os argentinos que insultaram mulheres que não estavam afim deles, achavam que mulatas eram mais fáceis. Ou de gente que ficou chavecando as mulheres do acampamento. Uma menina que andava de topless simplesmente tacou o maior soco num sujeito que confundiu liberdade com libertinagem. Um cara foi salvo do linchamento por conta de tentativa de estupro. E várias situações de assédio tanto nos chuveiros quanto no geral.

Havia seguranças e policiamento. Mas era insuficiente. Muita gente despreparada, sem experiência, contratada na hora. No caso das barracas e pertences do pessoal, haviam cercas separando os acampamentos e cada um zelava do que é seu. Mas houve trechos em que o pessoal se cotizou uns trocados e contratou gente para ficar olhando as barracas. Era fácil pular as cercas. Difícil ficar olhando todo mundo.

Protestos

Logo no primeiro dia do Fórum houve uma passeata que andou pelas avenidas da cidade, marcando o início dos eventos. Até participei mas estava muito cansado.

O pessoal chegou a fazer várias passeatas. Dentro e fora do acampamento. No dia seguinte ao discurso do Chavez, houve uma passeata gigante. Também houve protesto contra a violência e discriminação por parte de alguns argentinos (que insultaram as mulatas que não queriam nada com eles). Uns brasileiros foram defender e os argentinos partiram pra briga. Muito chato. Também houve protestos contra vários assédios que estavam acontecendo aqui e ali.

Passeata dos pelados

Foi um show para a imprensa. Dava trabalho, tomar banho nos chuveiros públicos. Porquê precisava estar já de calção. Para isso precisava trocar. Como? Dentro da barraca antes de ir para o chuveiro? Ou naqueles sanitários ecológicos? Um jeito era ter uma toalha. A pessoa ficava só de cueca. Cobria com a toalha em volta do corpo e ia meio que rebolando para a cueca cair. Depois vestia o calção. Até aí tudo bem, só que não era fácil fazer isso toda vez na entrada e na saída do chuveiro (se acostuma, mas é complicado). E ninguém aguentava sem pelo menos uns 2 ou 3 banhos por dia.

Um casal resolveu tomar banho pelado. A menina lindíssima e o cara foram lá, no chuveiro público. Não vi a cena, mas posso imaginar. Juntou gente em volta, a maioria marmanjo, óbvio, para ver a menina nua. Se tivessem ficado calados, tudo bem. Mas aí a multidão começou, em coro, todo mundo junto, que nem torcida de futebol:

- Gos-to-sa! Gos-to-sa!

Direto. O namorado (ou marido) da menina começou a ficar meio chateado com tanta atenção. Aí colocou uma toalha na frente pra cobrir um pouco a menina. Aí a multidão:

- Vi-a-do! Vi-a-do!

Apesar disso de vez em quando havia gente tomando banho como se estivesse em casa, mesmo com televisão por perto. Mulher pelada não digo, mas de topless tomando, haviam várias, gente olhando ou não (os que olhavam normalmente ficavam calados).

Já meu amigo, por volta das 9 da noite de sábado, foi tomar banho. E me contou depois:

- Estava revoltado com o falso moralismo (qual a diferença entre uma mulher tomando banho de fio dental e nua, em termos de exposição das partes íntimas, porquê o homem pode e a mulher não).

Resolveu fazer seu protesto e tomar banho sem nada. Tirou o calção. Outros também. Acabaram fazendo uma passeata (que como já disse, todo ano tem essa passeata, virou evento dentro do acampamento), todo mundo que quis aderiu. Tirou a roupa e foi do jeito que veio ao mundo gritar em alto e bom som as palavras de ordem "você aí parado, também nasceu pelado". A imprensa fez um verdadeiro "pelotão de fuzilamento" na hora de tirar as fotos e "cobrir" o protesto quando meu amigo resolveu fazer discurso. As mulheres se acotovelavam para tirar fotos do grupo de pelados, a maioria homens, agrupados perto da praça de alimentação. Eu prestava atenção na platéia, as mulheres escondendo o sorriso e olhando com vontade de não perder nenhum detalhe. Mais tarde, uma amiga minha se juntou (junto com muitas outras), quando o protesto voltou a correr pelo acampamento.

Os Contatos

Encontrei gente que não via há anos. E pude conversar frente a frente com personalidades as mais variadas. Tudo bem que poderia fazer isso via Orkut. Mas estar lá te dá outras perspectivas. Sem falar que acabei sendo entrevistado mas isso é outra história.

Tinha conseguido crachá de imprensa para usar uma super sala de computadores no Gasômetro. Tô lá digitando e acabo batendo papo com um jornalista responsável por um espaço de opinião de jornalistas, no sábado, AM 1080, coisa da federal do Rio Grande do Sul. Levando em conta que eram dez anos de fanzine na Internet, dei a entrevista e mais tarde vou disponibilizar online.

Os papos de gente de outros países

Era muito fácil, contatar o pessoal. Bastava achar um gancho e pronto, iniciava-se uma conversa. Cada história..Tipo (não lembro se foi no fórum que tive esse papo) Uma das mais interessantes foi com uma futura dekassegui (brasileiro(a) que vai trabalhar no Japão) contando da prima que foi pra lá bem pequena. Claro que as "nossas japonesas" são diferentes das de lá. Por exemplo, no Japão, me contava a menina que estava planejando ir embora pra lá, as pessoas são extremamente sérias, muito difícil ter algum jogo de cintura. Aí vai uma nissei nossa estudar lá no Japão. Falava japonês, já morava bastante tempo com os pais que estavam dekassegui lá. Bom, menina vira mulher, aí entrou na fase de querer chamar atenção. Pintou o cabelo de outra cor. Cor-de-rosa. Nem consigo imaginar o que é alguém com cabelo assim mas lá não é incomum. O professor dela, quando viu aquilo (lembre-se professor de escola japonesa dentro do Japão), o cara queria matar a menina. Cabelo rosa NON. Mas só começou por inquerir polidamente:

- Porquê o seu cabelo está cor-de-rosa?

- Ah, sabe, professor, é que usei um Xampu transgênico no cabelo, por isso ficou assim.. Te juro que vou reclamar na fábrica

Parece que o cara tentou reclamar mas não havia nada no regulamento contra isso. Tiveram que engolir. Depois ela botou um piercing no nariz. Novamente houve reação, o professor chegou a ir com ela no banheiro pra tentar obrigar a tirar aquele adereço que ia contra as normas de bom comportamento de uma conservadora escola japonesa. Quer dizer, o babaca achou que podia fazer isso. Entrar no banheiro feminino e obrigar ela a alguma coisas. Ela lhe tacou um processo por tentativa de assédio. Acabou com o sujeito. As nossas japonesas são melhores do que as de lá.

Palestras e Eventos

A razão de ser do Fórum. Haviam as palestras de vários tipos, divididas em temas, pelos armazens do cais do porto, em salas montadas ao ar livre, em vários lugares. A lista de palestras do Fórum era tão grande quanto o jornal de domingo de São Paulo ou do Rio de Janeiro. Vários tipos, desde "Estados Alterados de Consciência e Ativismo" (tô xingando até hoje ter perdido tempo, entendi nada do espanhol do cara) até "Expedição Vagalume". Essa última foi interessante, merecia um artigo.

A expedição Vagalume visa montar bibliotecas comunitárias no interior da Amazônia. Meio complicado, né? Mas o governo federal havia enviado livros para todas as escolas do país, faz algum tempo. Enviou livros sem explicação de como usar para tudo quanto é escola. As moças descobriram que em várias comunidades, os livros haviam sido recebidos sim, mas estavam guardados e os alunos impedidos de usa-los.

Estranho, né? Chegaram a conclusão que o objeto livro não é exatamente bem propagandeado. Todo mundo elogia a cultura. Mas nem todo mundo realmente gosta de ler. E quem gosta, normalmente tem alguém, alguma pessoa que foi influência para começar a ler. Pessoas que não gostam de ler normalmente desenvolveram desgosto por conta de algum evento como obrigação de estudar. Foi aí que desenvolveram a idéia de criar cursos de "mediação de leitura" para as comunidades. Chegavam numa comunidade (avisavam antes) e explicavam tudo.

O mediador de leitura é simplesmente uma pessoa que irá ler o livro de forma a interessar os ouvintes pelo prazer da leitura. Diferente do contador de histórias (que não precisa do livro depois que sabe a história). Diferente do professor de português (que vai querer analisar os tempos verbais ou o enredo de uma romance da literatura nacional). Não. O mediador de leitura vai trazer a leitura de forma a que o leitor sinta prazer com a história, da mesma forma que se assiste televisão ou melhor que isso. O grande problema é que a maioria das pessoas não sabe como fazer isso.

Criança por exemplo, pode estar gostando da história e ainda assim não ficar quieta (o que normalmente se espera). Ou pode ficar agitada exatamente por estar gostando. Tem outros truques, como usar livros de gravuras e mostrar as gravuras para as crianças. Dificuldades a parte (e foram muitas mas elas insistem em não escrever sobre isso) as meninas da Expedição Vagalume desenvolveram um projeto próprio e agora colocam escolas de São Paulo em contato com escolas no interior da Amazônia. As escolas doam livros para as escolas e até enviam professores (das escolas de SP) que vão visitar os locais da expedição e depois voltam para contar para seus alunos como é aquele local onde tem jacaré, onça, cipó, etc.. Por outro lado, as crianças da escola no meio da selva se correspondem com as da cidade. Nada de Internet, carta mesmo. Uma forma legal de unir 2 Brasis diferentes. Dá vontade de se juntar a expedição mas.. sem chance. Elas enviam uma apostila pra quem quiser aprender o lance de ser mediador de leitura, vide o site http://www.expedicaovagalume.org.br .

Outra até interessante foi dos cursinhos pré-vestibular para população carente poder tentar universidades públicas. Mesmos problemas em todo Brasil:

Não fiquei até o final. Parece uma história que eu já sei de cor.

Podia falar de varias outras palestras que assisti e anotei. Eram muitas acontecendo ao mesmo tempo. Difícil decidir. Um título as vezes era toda a informação. Várias vezes cheguei e já tinha acontecido tudo ou remarcado para outro lugar.

Filmes

Legal também foram alguns filmes que não vão entrar em circuito comercial aqui no Brasil. Coisas como o documentário "DINERO HECHO EN CASA", dirigido por Alejo Hoijman, Argentina. Saca só a tradução (minha) resenha em espanhol:

"O que é exatamento o que chamamos 'dinheiro'? Qual é seu valor real? Três homens de um simples bairro de Buenos Aires decidem questionar o inquestionável: o valor do dinheiro e o caráter quase sagrado que a nossa sociedade dá a ele. Fundaram um clube de troca que imediatamente se transformou em uma gigantesca economia em paralelo e emitiram moeda própria. Em apenas 7 anos, quase 5 milhões de pessoas passaram a utilizar esta moeda como último recurso de sobrevivência ante a grave crise que a Argentina vem sofrendo., donde o desemprego e a fome tem crescido a níveis inéditos e donde os bancos decidiram sumir com as contas de seus clientes. Mas as grandes idéias geram grandes problemas .. e inimigos".

11 de Setembro

Estava assistindo um vídeo sobre a fraude do 11 de setembro. Alguns americanos estão levantando a hipótese de que o atentado foi encenação da boa. Não, não é só o Michael Moore que acha isso. Começando pela guerra com a Espanha, que começou com a explosão de um navio de guerra norte-americano, o Maine. A imprensa da época botou a culpa na Espanha. Os EUA venceram a guerra e anexaram possessões do império espanhol. Pra quem não sabe, Cuba ficou ocupada por soldados americanos um bom tempo, por conta disso. Também mencionaram haver existido algo chamado operação Northwoods, um plano de 1962, idéia interessante: armar ataques dentro dos EUA para colocar a culpa em Cuba. O incidente do Golfo de Tonkin (deu início à guerra do Vietnam) ainda é objeto de livros de teoria da conspiração porquê tá mal explicado.

Até aí tudo é teoria. Mas na hora em que cheguei para assistir o filme, estavam colocando a questão dos procedimentos da Força Aérea dos EUA, capaz de colocar um jatinho com mísseis ar-ar em uns 3 minutos, a uma altura de 21000 pés. No ano anterior esses jatos F-15 e F-16 foram enviados para interceptar 67 aviões fora de rumo. E várias características daqueles aviões do 11 de setembro já autorizavam abrir fogo. Coincidência ou não, no mesmo dia havia uns 20 exercícios de simulação de sequestro de avião. Mesmo dia, 20 exercícios. Pra quem tá participando desses exercícios, no caso os pilotos de avião, não dá pra saber a diferença. Não iam saber qual avião derrubar.

Só para terminar o resumo do filme, no caso do avião que atingiu o Pentágono, não havia destroços como em grandes acidentes aéreos. Por sinal, quem estava lá fala de um jatinho desses de executivo. Batendo contra uma seção do prédio do Pentágono que estava sendo reformada. O próprio pedido para que se iniciasse a investigação dos sequestros levou 411 dias. Para se ter uma idéia, o pedido de investigação do naufrágio do Titanic foi em 7 dias, o de Pearl Harbour, 8 dias e por aí vai. A investigação por sinal teve bastante problemas para ir adiante. Tava em plena época do Anthrax a mídia nem prestou muita atenção nisso.

Um carioca que faz pós em história aqui em SP tava organizando a tradução, se brincar o filme vai ter um esquema alternativo de distribuição parecido com o "Além do Cidadão Kane".

Mídia Independente

Já que estou falando de notícias que não chegaram à Mídia, seria legal comentar o trabalho do Mídia Independente.  "Eles" (trata-se de um coletivo) são um banco de dados da imprensa de forma a ter uma cobertura cooperativa alternativa. O próprio Fórum Social Mundial começou como uma resposta ao grupo das nações que estavam discutindo o futuro da economia e comércio mundial em Seattle, certo? Estavam os ricos lá discutindo grana e o FSM em Porto Alegre seria a contrapartida, certo, a resposta. Bom, houve também os protestos contra esse negócio dos ricos decidirem por todo mundo, em Seattle, EUA.

Tem uma longa história. Mas o fato é que pessoas além de jornalistas que participaram dos protestos de Seattle (se eu entendi a história) começaram a publicar. Então o site Mídia Independente (ou indymedia) nasceu, como forma de comunicação aberta. O CMI, Centro de Mídia Independente, uma CNN para os excluídos (comparação horrível) e para todos os que não tem acesso a grande mídia, controlada por interesses econômicos, faz coberturas independentes. Um site de comunicação direta. Os voluntários se reunem para discutir os programas, qualquer um pode participar. Não há hierarquia. Cada participante participa com o tempo que pode doar. Funciona a base de doações e as notícias são veiculadas no esquema de copyleft.

Em São Paulo, o CMI está dividido em vários coletivos:

Há o CMI mundial, mas trata-se de um conjunto de coletivos. No Brasil, começou em São Paulo, depois RJ, Porto Alegre, BH, e se espalhando pelo interior de vários estados. Trata-se de algo bem sério e importante, quando se pensa que estamos num país onde os canais de TV e rádio estão em controle de políticos e empresários (aliás já vi notícia que até a maioria das rádios piratas são de controle de políticos).

Hugo Chavez

A palestra do Hugo Chavez foi um marco. No estádio "Gigantinho". Uma amiga minha consegui entrar. Ficou aguardando desde as 13hs uma palestra marcada para as 19hs. Quem chegou mais tarde teve que ficar vendo no telão. Eu nem tentei preferi pegar depois na Internet. Não que eu torça pelo que ele está fazendo pelo povo venezuelano. O cara foi eleito e um plebiscito falou que ele merece continuar no poder. Ponto final. Acabou. Mas um cara desses vem no Brasil e tentam transformar o evento em tudo quanto é coisa. Sei lá.

Palestras no acampamento

Lá também houve várias oficinas e vídeos. O pessoal do Mídia Independente deu vários cursos de informática e software livre. Era só se inscrever. No espaço Caracol Intergaláctica, tinha desde "Estratégia Política do MST" até "Clandestine Insurgent Rebel Clown Army". Havia um espaço onde as pessoas podiam receber massagens, medicina alternativa ou Reiki de graça, ministrada por voluntários. Uma oficina interessante seria a da Somaterapia, que trabalha as couraças da personalidade de cada um através de exercícios. Basta dizer que havia bastante interação entre os membros e 90 % de mulheres. Mas não é pra qualquer um, vários desistiram no início.

O pessoal do Calendário Maia

Outro evento dentro Fórum foi o acampamento do pessoal que acredita que grande parte dos problemas latino-americanos tem a ver com a colonização e a adoção de um calendário que não tem a ver. O calendário maia é bem mais preciso do que o calendário gregoriano atualmente usado. Que não observa detalhes, como a vontade de trabalhar ou de descansar das pessoas. Você é obrigado a trabalhar de segunda a sexta e descansar no sábado e domingo (ou só domingo se for o caso). Para explicar melhor o problema, um exemplo tirado de filme: a pessoa se apaixona numa terça-feira e sai pra ir no cinema, acabam na cama. Vai trabalhar na quarta? Fala sério. Pode até conseguir mas não vai ser legal. Da mesma forma, na sexta-feira vamos supor que vc está super envolvido com o trabalho. Mas tem que ir embora pra casa e recomeçar na segunda-feira.

No calendário maia ou calendário da paz, a coisa muda um pouco. Ao usar o calendário maia, a pessoa "estará mudando sua frequência e participando da campanha para um novo Tempo, o Tempo Real da Harmonia e da Paz!" (de acordo com o livrinho que recebi). Explicado a idéia, o acampamento deles era dez. Tinham um esquema de auto-gestão bem melhor (vamos e convenhamos - era bem menos gente). Palestras também. As barracas eram vigiadas pela comunidade. A cozinha era aberta e refeições eram feitas, quem quisesse contribuía com quanto pudesse, quem não pudesse dar muito pela comida, não passava fome. Um esquema bem feito.

Não são seita. O pessoal tem página na Internet e dá palestras sobre seus objetivos e idéias, num lugar em São Paulo.

Cidadania: Porquê discutir um novo mundo?

Parto do princípio que é melhor discutir do que ficar assistindo televisão em casa. Melhor discutir do ficar numa fila quilométrica, esperando a vez de ser chamado para algum emprego ou concurso público. Melhor discutir do que ficar amargando o remorso de recusar ajuda a uma criança que vende balas num semáforo. Talvez não saia nada de uma discussão.

Mas algo sempre muda na nossa cabeça. Pode ser por um dia, uma hora ou um minuto. Ou toda a nossa vida.

Já se tocou? Alguém, em lugar desse mundo, nesse exato momento, está sofrendo os efeitos da fome, da discriminação, injustiça ou outro problema social. Porquê as pessoas não deveriam se reunir para discutir sobre isso? Já que os representantes da riqueza mundial discutem seus problemas e como facilitar o mundo para o comércio e a economia, alguns dos representantes da maior parte da humanidade que não está disposta a simplesmente a discutir dinheiro.

É preciso discutir as pessoas. Daí alguns representantes de várias grupos (não todos, seria impossível) que estão preocupados com o presente e o futuro da humanidade se juntarem e trocar idéias. Se um grupo luta pelo meio-ambiente aqui em SP, talvez a experiência sirva para um grupo que luta pela preservação da mata amazônica. Um movimento por melhores condições de trabalho pode aprender com outro grupo preocupado com os direitos humanos.

Não é uma questão de ser de direita ou de esquerda. Trata-se de uma possibilidade de conscientizar pessoas para o fato de que elas podem se antecipar aos políticos para resolver problemas em sua área. Ao invés de esperar um ano de eleição para apoiar um candidato que prometa alguma coisa, a própria população pode deixar tudo preparado. Tudo depende das pessoas. Aquelas pessoas que ficam na sala de jantar reclamando da crise e que nada é possível agora, só amanhã, quem sabe?

O Fórum Social Mundial deixa na memória aquele aquele clima típico dos anos 60, quandos as pessoas queriam mudar o mundo, mas para melhor. Qualquer um pode entender os objetivos se entender os sentimentos da música "Imagine", do finado John Lennon.

Imagine there's no countries

I wonder if you can

Nothing to kill or die for

(..)

Imagine all the people..

Sharing all the world

You can say i'm a dreamer

But i'm not the only one

I hope someday you'll join us

And the world will be as one

Imagine que não existem países

Eu imagino se vc pode

Nenhum razão para matar ou causa p. sem matar

(..)

Imagine todas as pessoas do mundo

Partilhando todo o mundo

Você pode dizer que sou um sonhador

Mas não estou sozinho

Eu espero que vc algum dia irá se juntar a nós

E o mundo será um só.