FAMOSO POR MAIS DE 16 MINUTOS (Versão curta)

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FAMOSO POR MAIS DE 16 MINUTOS (Versão curta)

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Derneval R.R. Cunha

(Nota: Embora eu tenha tido meus 16 minutos de fama, este texto foi baseado parte em pesquisa, parte em experiência pessoal mas alguns trechos estão em primeira pessoa e não foram experiência pessoal. Por outro lado, nem todo tipo de "fama" significa aparecer na TV ou em revista. Muita coisa foi deduzida de experiências simples do cotidiano.)

De acordo com Andy Warhol, um artista plástico americano (na falta de outra denominação), todo mundo um dia seria famoso por 16 minutos. Alguns podem se lembrar daquele filme com o Robert De Niro, no papel de policial que era detonado por um imigrante russo em busca de fama e fortuna. O imigrante russo simplesmente busca essa notoriedade matando um policial famoso. Está na cadeia mas agita contrato com advogado, montes de coisas. Vale a pena assistir, não vou contar mais.

Katilce Miranda Almeida é um exemplo interessante de fama instantânea. O que ela fez? Não muita coisa. Foi num show do grupo de rock U2 em fevereiro de 2006. Estava próxima do palco, foi "içada" para dançar um pouco durante a música "With or Without You" com o Bono Vox. Ainda teve um "selinho" com o artista. Foram centenas de telefonemas. Reportagens e entrevistas. O perfil dela no Orkut ficou lotado de recados. Umas cinqüenta comunidades no Orkut foram criadas em sua homenagem. Na época falaram até que ela ia virar artista da Globo. E mesmo passados alguns meses, provavelmente há fãs que invejam o seu feito.

Mas que melhor exemplo do que uma personalidade que foi praticamente "filha da Internet", a "Bruna Surfistinha"? Começou com um blog. Virou livro. Agora parece que estão aprovando o roteiro para um filme.

Os shows de TV como o Big Brother Brasil e a Casa dos Artistas geraram uma quantidade de "famosos" por mais de 16 minutos. Gente que foi muito mais que personalidade de TV, foram vigiados por câmeras em condições de privacidade zero. O que aconteceu com eles depois? Alguns chegaram lá, foram convidados para novelas, deslancharam uma carreira. Outros, ficam em casa. Esperando convites para alguma festa. Alguém se lembra do nome da primeira mulher a transar debaixo das cobertas durante um desses shows?

 

Outras pessoas sonham com uma participação em "Reality Shows", como o "Big Brother Brasil" ou "Casa dos Artistas". Ficam em exposição 24 horas por dia. Como se fossem animais numa jaula de um zoológico de "cinco estrelas". Há aqueles que atingem a notoriedade participando de competições, como Enduros ou aventuras variadas. Publicam livros e aparecem em programas de televisão. Dão palestras. Dão autógrafos, posam para fotografias. São entrevistados.

Claro que há problemas decorrentes da fama. Outro lado é que, como Tom Jobim comentou: "ser famoso no Brasil é uma ofensa pessoal". Ninguém mais te elogia depois que você chegou no topo. E todo mundo quer uma "lasquinha" do seu sucesso". Em vários casos, pessoas "do contra" ou falando mau daquele famoso começam a ter espaço na mídia. Qualquer briga a toa se transforma em manchete de jornal.

Há trocentos exemplos de homens e mulheres que não conseguiram equilibrar as diferenças de vida que ocorrem após a fama. Viraram alcóolatras ou se afundaram em outros problemas. Ainda assim, as pessoas sonham com isso. Sonham com o dinheiro, sonham com a notoriedade. Ou às vezes nem sonham. Fazem algo que os torna famosos na Internet ou em algum acontecimento qualquer. Por bem ou mal, tornam-se famosos. E daí?

O público do famoso

Cada tipo de fama acaba ficando restrita a um público. Salvo exceções, quando a pessoa consegue expandir sua fama para outros públicos. Por exemplo, sair na TV em jornal nacional te dá uma fama instantânea no Brasil todo. Mas não fica na memória das pessoas, a não ser que seja um evento ou obra que fique na memória.

 

A produção da fama

Claro que a relação famoso-público é um trabalho em grupo (nem sei se estou usando o termo correto). Existe uma demanda para que alguém incorpore uma personalidade qualquer e sirva de assunto para discussão, reprovação, dúvida, etc..

A moça que foi fotografada nua com dois caras (ou cujas fotos foram alteradas para parecer que estava nua com dois caras), esta moça ficou instantaneamente famosa porquê de uma certa forma, alguém produziu uma relação pessoa-público. Não interessa se ela queria ser apontada na rua como famosa. Como o público "comprou" a história (no sentido de que ficou curioso e foi atrás de mais detalhes), temos um trabalho em grupo (onde um tirou as fotos, outro posou, outro distribuiu, outro gostou e avisou o vizinho, etc..)

Embora muitos tenham a impressão que se produziram sozinhos por estarem na hora certa, no lugar certo, ainda assim tem a grande verdade que o sucesso de uma pessoa é um trabalho em grupo. O público escolhe "homenagear" este ou aquele e o torna famoso "por 16 minutos" (ou mais). Ninguém fica famoso só porquê acordou cedo e saiu de casa para tomar café. Houve um público, uma situação e alguém que divulgou. E um contexto. Pesquisando, pode-se achar muitos casos de garotas fotografadas fazendo coisas inimagináveis, Internet afora.

A diferença é a reação do público. A reação é o que torna a pessoa famosa. E pode ser positiva ou negativa. Leila Diniz ficou famosa por várias atitudes hoje consideradas normais. Falava palavrão direto. Transava com quem estava afim, sem compromisso. Aliás chegou a ter dois namorados/amantes ao mesmo tempo. Estava grávida, o médico recomendou banho de sol, ela foi na praia de biquíni tomar sol. Achou que podia e foi. Só que ninguém tinha feito isso antes. E ela era uma atriz. Num tempo em que em muitos lugares se acreditava em que a mulher tinha que casar virgem. Então a coisa ficou polêmica, o Brasil inteiro se posicionou. Hoje ninguém nem pensa nisso quando vê uma grávida na piscina ou na praia.

Então, algumas pessoas ficam famosas porquê são pioneiras em algo que ninguém pensou em fazer antes. Outras porquê finalmente alguém olhou para o trabalho excelente que elas estão fazendo, já tem uma trajetória. Algumas pessoas são apenas produtos de um trabalho de propaganda enorme, um jabá foi utilizado para que elas ocupem espaço no mídia. Ou são produto de algum escândalo qualquer. Há quem simplesmente fique famoso por conta do contato com outra pessoa.

O que interessa é apenas isso: foi criada uma relação com o público. Os meios de comunicação existem em função de um público que se utiliza deles. Então o "famoso" é peça.

A vida pessoal do "famoso"

Depende do tipo de fama. E depende de qual meio social a pessoa veio. O caso de uma pessoa que veio do "nada" e ficou famosa é diferente de alguém que já era alguma coisa antes. Bill Gates, por exemplo. Já era um cara de família rica, estudava em Harvard antes da Microsoft acontecer. Pelé já tinha entrado no futebol com toda uma idéia de como iria organizar sua vida profissional. Zico a mesma coisa, já estava "vacinado" com vários problemas antes de se tornar jogador de futebol famoso.

Uma pessoa famosa pode até ir na padaria ou no supermercado. Nada impede. O problema é encontrar os fãs. Também pode ir na praia. O problema é aquele fotógrafo que vai publicar a "barriguinha" aparecendo. Namorar então, tranqüilo. Principalmente se a menina não ficar grávida depois. Ir no hospital, nem se fala. Sair com os amigos: melhor nenhum deles estar com problemas na justiça ("famoso pego em flagrante junto com usuário de crack").

Ter personalidade X tornar-se uma personalidade

Todo mundo tem ou deveria ter alguma personalidade. A coisa que denominamos "personalidade" é algo meio complexo de entender. Só para início de história, Freud, o pai da psicanálise, dividiu o funcionamento da cabeça humana em três partes: a parte mais primitiva (só baixaria e emoção), a parte superior (aquela que racionaliza tudo) e o meio termo (aquilo que você parece ser quando está com alguém). Se não me engano, é isso aí. O Alter-ego. Este Alter-Ego ou meio-termo é o resultado da sua interação com a sociedade. Trata-se de uma construção artificial. No sentido em que a gente usa roupas não porquê só porquê está com frio mas para levantar o ego (a parte mais primitiva). Mas aí estou me desviando do assunto.

Em outras palavras, de certa forma, em muitas ocasiões "fingimos" um monte de coisas e atitudes. Ninguém nasce sabendo que é para levantar o assento da privada antes de fazer determinadas coisas. A família ensinou (portanto impôs) que tem que ser assim. No início, a pessoa aprende a pedir "por favor" porquê é obrigada. Depois "incorpora" (ou não) o hábito. Nem sempre é obrigado a fazer assim ou assado. A pessoa vai incorporando muita coisa no seu jeito de ser copiando atitudes e idéias de outras pessoas. Mas cada um aprende e copia de um jeito diferente. Por isso as pessoas são diferentes. O que vemos de diferente costumamos chamar de "personalidade da pessoa".

Quando a pessoa então vira "personalidade", se torna importante, ela vira um mito. De certa forma, não é mais aquilo que sempre achou que era. Ou que os amigos acreditam que é. Continua sendo o mesmo indivíduo. Mas virou conversa de outros, fofoca. Então são duas pessoas diferentes, vivendo no mesmo corpo. Aquilo que a pessoa é, no dia a dia. E aquilo que falam que a pessoa é.

Para quem está passando por isso, é complexo. Ninguém é igual o tempo todo. Basta pensar em si mesmo antes de tomar café, depois de ver o time perder de goleada, quando estão com dinheiro no banco, quando estão "pagando mico". São faces diferentes da pessoa. Mas não com gente famosa. Gente famosa é conhecida pelo que falam que é. Pela fantasia que falam comentam sobre dela.

A fase dos recortes de jornal

Como no início, tudo é lindo e maravilhoso, a pessoa fica colecionando os jornais onde apareceu. Até hoje quando vou em sebos eu compro a Super-Interessante onde apareci pela primeira vez. Algumas pessoas podem ser mais detalhistas e fazer um álbum contendo cada coisa significativa desse período, com fotos ou até mesmo entulhar o quarto com recordações.

Rose de Primo, a inventora do primeiro biquíni de lacinho, grande musa do início dos anos 70 (muito fotografada, atriz de vários filmes, também foi a primeira a fazer nu frontal em revista brasileira – esgotou antes da censura mandar recolher), tinha uma coleção de revistas onde aparecia sua foto na capa. Uma coleção que, empilhada, tinha a altura dela.

Para alguns a entrada no mundo dos famosos é algo tão gradual que quando a pessoa se dá conta, muita coisa já se perdeu.

Problemas de "personalidade"

Entrando num exemplo bem conhecido: Suzana Alves, também conhecida como "Tiazinha". Era apenas um personagem criado para um programa de televisão. Usava máscara e fazia depilação em várias pessoas que não respondiam as perguntas de forma correta. Foi crescendo a fama, fazendo shows. Montes de fãs em todo o país. As meninas queriam ser a "Tiazinha". Mas a personagem Tiazinha não tinha nada a ver com ela, Suzana Alves. "Tiazinha" era um personagem de show, não podia existir.

Outro exemplo melhor (mundialmente famoso). Marilyn Monroe. Na vida real se chamava Norma Jean Baker. Usando o personagem "Marilyn Monroe" era a mulher mais desejada dos EUA e talvez do mundo, na sua época. Chegou a ser amante do presidente americano John Kennedy.

Só que tinha um problema: na vida real era uma frustrada. A mulher de carne e osso por trás daquele rosto provocante não conseguia encontrar amante ou namorado decente. Quando conseguia encontrar alguém legal, o cara "brochava" naquele momento mais íntimo (era muita responsabilidade). A cabeça dela andava tão ruim que uUsava calmantes para dormir. Antes de morrer, tinha até dificuldade de arrumar papéis em filmes, não conseguia decorar as falas.

Outra atriz famosa, Jean Harlow, outro símbolo sexual na sua época pelo seu papel no filme "Gilda", onde era o protótipo da "Femme Fatale". Ela definiu o problema de encontrar namorados em poucas palavras: "As pessoas dormem com a Gilda, mas acordam comigo". Linda Lovelace (atriz do filme "Garganta Profunda", um dos primeiros filmes pornô a "cair na boca do povo"), depois que a poeira baixou, nunca mais conseguiu segurar um emprego durante muito tempo, bastava alguém se lembrar do rosto dela. Sofria mania de perseguição. Acabou virando evangélica.

Falando do ponto de vista masculino, há vários casos, como o do jogador Maradona, que se afundou nas drogas e teve que se internar em Cuba para desintoxicação. James Dean, Elvis Presley, exemplos de gente que subiu ao estrelato e depois caiu, não faltam. A fama pode "matar" a personalidade daquele que virou "personalidade".

Virando mito: a parte prática

Não é tão difícil. No orkut, isso acontece muito fácil. Em famílias numerosas (de 4 a 7 pessoas), algumas vezes acontece de um ou outro irmão adquirir uma determinada notoriedade. No colégio, um cara faz algo que todo mundo admira, vira mito também. Agora, com fã-clube e tudo, aí já começa a ficar complicado, pode virar um problema. Porquê as pessoas tem necessidade de consumir atitude. Tipo alguns músicos: a música é horrível. Mas a atitude dos caras, agressiva, melancólica, tosca, etc, segura o sucesso.

A pessoa famosa precisa acreditar que em menor ou menor grau, ela pode servir de exemplo para muita gente. Basta chegar no chamado "bom senso". Ninguém sabe o que é "bom senso". Ou melhor, todos sabem, mas não são todos os que usam. Uma pessoa que saiba usar o bom senso e cria reputação por isso automaticamente já começa a ficar conhecida. Uma espécie de prisão porquê há momentos em que o "bom senso" não interessa.

 

"Redoma"

"Redoma" é uma forma de denominar aquilo que o "famoso" cria em torno de si para garantir um mínimo de privacidade. Criar uma rotina cheia de hábitos que protegem de problemas. Pode ser algo simples como um condomínio fechado. Mas dependendo da fama, implica em evitar que a correspondência seja manuseada ou lida por outras pessoas. Conseguir que telefonemas não sejam ouvidos. Que novos ou velhos amigos não sejam fontes de problemas. Conhecer lugares onde a pessoa possa ter suas manias e fraquezas sem ver isso aparecer no jornal.

"Redoma" é uma forma de denominar aquilo que o "famoso" cria em torno de si para garantir um mínimo de privacidade. Pode ser algo simples como um condomínio fechado. Mas dependendo da fama, implica em evitar que a correspondência seja manuseada ou lida por outras pessoas. Conseguir que telefonemas não sejam ouvidos. Que novos ou velhos amigos não sejam fontes de problemas. Conhecer lugares onde a pessoa possa ter suas manias e fraquezas sem ver isso aparecer no jornal.

Para esses, sair significa despesa com lugares "fechados" ou "privés". E torna-se necessário quase uma operação militar: carro alugado ou de amigos (já que usar o próprio carro é um convite a seqüestro ou ser fotografado por "paparazzi"), roupa e maquiagem adequadas (para não dar origem a boatos de pobreza ou pão-durismo). E até mesmo companhia adequada (não pode levar uma pessoa sem currículo). Guarda-costas também pode ser uma boa, tanto para diminuir as chances de seqüestro como para evitar provocações. Dependendo da pessoa, a única forma de se preservar é ficar em casa.

Também significa, dependendo do grau de perseguição, controlar ou vigiar a vida de pessoas íntimas. Não é fácil viver numa redoma. Talvez por isso seja que tantos artistas usem drogas ou álcool. Bom, há muita gente que não é famoso e também usa. Mas aí é outra história.

Questão de dinheiro

A "droga" que mais altera a cabeça de alguém, em todo mundo. Basta falar que a pessoa vai ganhar dinheiro fácil e ela vira outra pessoa. Perde a sensibilidade. As pessoas se vendem por causa do dinheiro. E não percebem o que estão fazendo até muito tarde. Dito esse óbvio, o cidadão famoso pode ficar impressionado com as possibilidades de se ganhar dinheiro através da fama. O que é possível.

Mas o primeiro problema é a pessoa que irá colocar as mãos nesse dinheiro. Como é essa pessoa, que já está altamente tonta (achando tudo lindo só porquê a fama chegou), como essa pessoa administra o dinheiro que entra. Em alguns casos, pode ser uma promessa de muito dinheiro. Mas e o depois?

No caso mais comum e fácil de entender, uma mulher que aceita posar nua para uma revista masculina (hoje homem também pode posar para uma revista gay). Existe dinheiro, mas existe também um contexto. Como por exemplo, um contrato de exclusividade (não pode posar para outra revista masculina num prazo X). Então é um dinheiro bom mas que vai acabar. E aí depois? Depois a pessoa está "marcada", deixou de ser interessante. Ninguém vai pagar para ver a mesma mulher nua de novo (salvo alguns casos excepcionais).

Mas não é o caso, disso falo mais adiante. O problema imediato de quem pode conseguir dinheiro fácil com a fama é manejar esse dinheiro. Vamos supor alguns casos: uma menina ou cara desempregado. De repente se vê com uma quantidade absurda de dinheiro entrando regularmente. Ele pode entupir a casa com coisas que não vai ter tempo de usar. Depois descobre que o dinheiro acabou e que está na mesma situação de antes. Só que gastando mais porquê agora anda de taxi, deu entrada num apartamento, montes de coisas.

A possibilidade de ter muita fama de imediato também ilude a pessoa que não está acostumada. Ela simplesmente gasta o dinheiro que recebe sem imaginar novas formas de ganhar dinheiro. Em alguns casos, está até mesmo desperdiçando oportunidades. Fazer a fama e deitar na cama só vale para prostitutas. O primeiro sujeito a ganhar na loteria esportiva no Brasil voltou a condição de pobreza em pouco tempo. E não foi o único caso.

A pior parte é que quando se fica famoso, as pessoas começam a cobrar mais caro por tudo, seja para consertar o carro ou para alugar apartamento. Todo mundo quer tirar sua parte.

A capacidade de fazer dívidas, uma vez famoso, decuplica. Porquê tudo muda, tem que sair de taxi e não de ônibus (todo mundo quer autógrafo). Vai numa festa, tem que ir produzido(a) para não ser fotografado e se arrepender depois. Amigos, tem que ser gente da alta, então o estilo de vida tem que ser da alta sociedade. Claro que há vários tipos de fama.

Nem todo mundo precisa alterar muito o padrão de gastos. Mas quando entra muito dinheiro na jogada, altera. E perde-se o referencial de como gastar. Porquê gastar. Quando gastar. Os amigos então só são amigos se botar dinheiro na jogada. Se convidar para ir num boteco, ninguém aparece. De propósito. Mas se for num lugar chique e caro, vão todos.

 

Evolução do estrelato (visto por quem estava fora da "redoma")

Conheço gente que já foi Miss. Aconteceu com uma menina (hum.. já era um mulheraço) que conheci durante muito tempo. Pais separados (numa época em que ainda não era moda), a família em condição financeira não muito boa. Havia épocas em que semestralmente trocavam de apartamento, nunca entendi direito o esquema. Foi quem primeiro me deu uma idéia de que a fama pode acontecer com qualquer um. Meio que sem acreditar, sem sonhar muito, a menina se inscreveu e venceu o concurso.

Primeira coisa que notou: o comportamento da mãe mudou da água para o vinho. Estava irreconhecível. A mãe virou "puxa-saco" da filha. Alguém mais cínico poderia dizer que foi para poder viajar e assumir o papel de "mãe de miss". Todo mundo ficou feliz com a vitória. E durante o período de um ano em que foi Miss, ela falava com todo mundo. Os conhecidos em São Paulo eram como se fossem grandes amigos, gente que dava apoio. Quando passava o dia inteiro de salto alto em algum evento em São Paulo, era eu quem fazia massagem nas pernas dela.

Passou o ano, passou adiante o cetro de Miss. Virou Top Model. Mudou para São Paulo. Posou nua, até arrumou um programa de televisão. Mudou tudo, tudo. Desapareceu a mulher que eu conhecia desde pequeno e que ficou hospedada na casa da minha família. Nunca fui convidado a visita-la no novo apartamento dela, em SP. A secretária eletrônica atendia meus telefonemas. Devolver ligações, jamais. Convite para festas, baladas, nada.

Casou com um empresário. Subiu socialmente. Com certeza. A família, mudaram todos para o eixo Rio-São Paulo. Perdi o contato. Coisa de uns anos depois, num dia qualquer, reencontrei a "ex-miss". Conversa vai, conversa vem ... Porquê nunca ninguém ia visita-la naquele condomínio fechado onde morava? Reclamava da falta de amigos, ficava sozinha em casa (reclamação aliás comum de todos os paulistanos ou de gente que se muda para essa metrópole, na cidade de São Paulo é ótimo para se sair a noite mas horrível para se fazer amizades, precisa ter "turma" não tem, fica em casa).

Convite feito, combinei e um dia fui lá. Mais de hora e meia para chegar. Lugar totalmente fora de mão e longe para burro. Boa parte do percurso feito a pé. Não passava ônibus perto daquele endereço (coisa de rico, quer morar longe para não ver pobre). Como não era entrevista para emprego mas alguém pra lá de conhecido, me vestia normal. O meu normal. Estava chegando na portaria do condomínio fechado, cansado da caminhada, chamei pelo interfone. O porteiro me perguntou se eu era o "rapaz da padaria", (estava com um saco plástico na mão, com o guia da cidade). Não, não tinha sido avisado da minha chegada.

Já comecei a ficar mal humorado. Chegando no apartamento, parecia coisa da revista "Caras". Cumprimetei o casal. Percebi uma certa frieza. A "ex-miss" não parecia mais a mesma pessoa que eu tinha conhecido. Claro, era uma mulher casada, agora. E parece que absorveu o meio social onde se casou, onde R$ 80,00 por pessoa num restaurante qualquer não está caro. Ia no litoral, no final de semana. Mas de helicóptero, para viajar no iate da família do marido. Eu, a "visita" era o "pobre" da casa, indo lá de tênis. Até me ofereceu coca-cola (não uísque).

Quando percebeu que não saía nenhuma conversa interessante, isso nos primeiros 30 minutos, começaram a acontecer frases do tipo "já está ficando meio tarde", "você não quer mais uma coca-cola", "achava que meu programa de TV só mulher desocupada é que via". Coisas para a outra pessoa "puxar o carro". Talvez fosse o maridão ali do lado. Parecia estar de saco cheio. Eu ainda estava cansado da caminhada até lá. Mas fui embora. E passei a evitar até mesmo visitar a família dela no RJ (onde até mesmo a faxineira estava ficando "esnobe").

Entendi melhor a cabeça dela anos depois. Mas numa situação diferente e em outro lugar. Graças a algumas coisas que fiz por aí, fiz amigos em vários lugares do Brasil. Numa viagem fui a Porto Alegre, num evento chamado SBPC. E hospedado na casa de um amigo, fui convidado para uma festa de aniversário. Numa pista de dança bem famosa na cidade. Coisa de filme. Só uma dúzia de pessoas, a mesa no centro da pista. Cheia de comes e bebes. Não conhecia ninguém, acabei conversando com uma mulher que podia ser poster da Playboy americana. Tinha peito, altura e cabelos loiros e era ex-namorada do aniversariante.

Comentei que estava voltando para São Paulo no dia seguinte. Ela ficou toda alegre e me perguntou, excitada:

- Jura? Qual companhia você vai, TAM, VARIG ou VASP? Eu sou louca pelo serviço de bordo daquela companhia X, eles tem um não sei o quê no atendimento e nunca me deixam esperando.. sempre me encaixam na classe executiva.

Foi tão inesperado que "murchei" na hora. Fiquei meio sem jeito de conversar com ela que estava em Porto Alegre por conta de um evento acadêmico, num ônibus lotado de estudantes da Pós-graduação da USP (tão barata a viagem que por sinal na vinda furou o pneu e o ônibus quase capotou - na volta teve uma mulher fazendo escândalo a viagem inteira, só porquê tinha esquecido de tomar os anti-depressivos). Na minha cabeça, a tradução da pergunta seria: "você tem dinheiro o suficiente para ter assunto comigo?".

Não é qualquer pessoa que sobe socialmente e ainda trata todo mundo da mesma forma, com naturalidade. Cada estrato social tem seu "código de assuntos". Não dá para conversar sem ter assunto em comum. Me lembro que quando voltei da Europa, mesmo tendo viajado de carona e trabalhado lavando pratos, era um custo me segurar, achar um jeito de conversar com as pessoas sem parecer esnobe: "Onde você conseguiu essa caneta legal?" "Catei na calçada em frente da embaixada brasileira, em Londres". Precisava pegar leve nos assuntos. Ou ia ter que contar mil vezes a mesma história e neca de ouvir os outros.

Voltando ao assunto, há casos de pessoas ricas, famosas ou simplesmente de um estrato social mais elevado que praticamente "adotam" um completo estranho. Pode ser beleza física, pode ser o jeito, o humor. Qualquer razão. Talvez até mesmo a época do ano (tipo: durante o carnaval, sambista aparece em casa de madame, no RJ). Nos livros "O homem que sabia javanês" e no livro "Dom Casmurro", há alguns exemplos. Se você nunca morou longe dos pais nem ficou sozinho em terra estranha, fica difícil de explicar ou de entender esse tipo de coisa.

 

Andando na rua: Fãs, admiradores e , curiosos e malas

Uma conseqüência da fama ou do prestígio. O sonho de todo fã é chegar perto do seu ídolo. Alguns não são fãs, são apenas admiradores. Outros são curiosos. Ver alguém famoso na sua frente desperta várias emoções. Alguns ficam "congelados", entram em pânico. Outros fazem umas caretas estranhas, como se estivessem ganhado na loteria esportiva sem jogar. Alguns conversam. Mas comigo pelo menos, a maioria quer conversar mas não tem assunto. Não sabem o que falar. Necessário inventar um assunto "neutro" (no caso de "fã rato de computador", mais fácil) para haver conversa. Ou isso ou um silêncio constrangedor.

Precisa ter tato.

O ideal é já ter um "script", um conjunto de procedimentos, um jeito já armado para cada situação onde um desconhecido completo resolve apareceraparece. Necessário inventar um assunto "neutro" (no caso de "fã rato de computador", mais fácil) para haver conversa. Ou isso ou um silêncio constrangedor.

Super normal. Aqui no eixo São Paulo - Rio de Janeiro, já encontrei o Pelé, o Nélson Rodrigues (quando estava vivo), o Jaguar, o Angeli, Nélson Gonçalves, Moacir FrancoAdriana Ferrari, Kelly Key, a Cristiane Tricerri, a Marisa Orth, o Paulo Ricardo, o Lourenço Mutareli, o Kubrusli, Manabu Mabe, Tomi Othake, montes de gente que via na TV ou no teatro. Com alguns, foi absoluta cara de pau, mesmo. E deixo bem claro, com nenhum deles desenvolvi amizade do tipo "vai lá em casa". Mas sei como o fã, o curioso ou admirador se sente (*), já senti na pele. Sempre é bom, se por na pele do fã antes de conversar.

Fãs e admiradores (assim como "malas") são parte do business de ser famoso. Através deles pode se ter uma idéia de como está sendo visto (ou não) o seu trabalho. No meu caso específico, os fãs são tudo. Simplesmente continuo escrevendo por causa deles. Não recebo nenhum dinheiro para fazer minha publicação na Internet. Conheço a maior parte das reações dos meus fãs. No mínimo, é gente que curte ler ao invés de assistir televisão. Então já sei que a maioria serão do sexo masculino, conhecedores de informática, nível universitário, humor sofisticado e raciocínio lógico desenvolvido. E nem são muitos porquê prefiro divulgar pouco meu trabalho. Quem digita "Barata Elétrica" ou "Derneval" me encontra no Google mas é só.

Diferente de quando há super-exposição. Exemplo: a pessoa sai na televisão, no jornal ou numa revista de grande circulação. Da mesma forma que aparece gente elogiando, também aparece idiota falando asneira ou até mesmo querendo provocar uma briga. A Marisa Orth comentou em palestra na ECA que várias vezes tinha que alterar o entonação da voz para a pessoa do outro lado se tocar, se colocar no lugar dela. As pessoas nem sempre percebem o que estão fazendo. O pior é quando sabem o que está fazendo (quer levar uns tabefes e depois pedir indenização por danos morais).

Renato Aragão, mencionou, numa entrevista qualquer, que prefere conversar com as crianças em separado (Os pais querendo participar da conversa não é tão bom. Algumas vezes mandam a criança fazer brincadeiras horríveis, tipo beliscar o ator para ver se ele geme da mesma forma que na TV). Paulo Ricardo e vários outros já comentaram que com fãs em grupo, existe a chance da coisa ficar fora de controle. A pessoa sozinha ainda é "conversável". Em grupo já fica complicado.

Voltando então, tudo depende do tipo de fama. E do momento da carreira (no início de carreira, a celebridade dá autógrafo para todo mundo, no meio ela finge que é um engano, no final de carreia quase dá pulinhos de alegria quando alguém reconhece). Existe primeiro a abordagem do fã, que pode ser passiva ou ativa (ex: Na passiva, a pessoa fica só olhando sem falar nada, na ativa, já vem até você perguntando se "você não é .."). Quando é passiva, pode-se até ignorar, para ver se a pessoa passa para a fase ativa. A face da pessoa muda então, começa a comentar de onde conhece, que gosta do seu trabalho, etc..

Uma boa idéia é fazer as perguntas primeiro. Quem a pessoa é, o que faz da vida, o que acha da minha publicação. Dependendo das respostas, conduzo ou não um diálogo fácil ou difícil de entender. Alguns dos fãs ou conhecedores da minha publicação eletrônica "falam a minha língua". O nível de interação é bem alto. Em alguns assuntos. Em outros, frases e conteúdos prontos. Dependendo da pessoa e da ocasião, fico olhando o tempo no relógio (ou outros lances), tanto para não perder compromisso como para não esquecer que estou falando com um estranho. Vale a pena ter algumas dicas profissionais "prontas e óbvias" para trocar por outras dicas profissionais mas isso depende muito da outra pessoa que você encontra.

Porquê alguns ficam numa posição de "você me ensina". Outros te provocam para ver se você é mais burro ou mais inteligente.

O que faz lembrar de uma categoria de fãs, a dos "descartáveis". A melhor forma de expor isso é comentar o filme "Cantando na chuva". Quem assistiu vai se lembrar da cena em que o ator (filme dentro de filme - o personagem é astro de cinema mudo) foge das fãs. E cai num carro. A menina que está dirigindo tem um choque mas leva ele pra longe. Os dois começam a conversar, a conversa fica boa. Ele pensa que encontrou alguém diferente. Que não é fã de cinema.

E ela começa a falar tudo quanto é tipo de defeito da profissão de ator do cinema mudo. Acaba com o sujeito. No final ele descobre que ela é aspirante a atriz. Mais falsa do que as fãs que perseguem ele. Claro que tem outras qualidades, afinal isso é Hollywood. Mas "conseguir" ele é uma forma de chegar a ser atriz de cinema.

Não há nada errado em ter fãs como amigos. Aliás o ideal é ter um milhão deles. Mas é bom se prevenir.

Fotos, jamais. Evito tirar fotos. Tanto com gente que conheço como com gente que não conheço. Sempre que possível, evitar, principalmente foto em grupo. Tudo para evitar super-exposição.

Fotos

Sugestão pessoal: fundamental Tento carregar um par de óculos escuros na mochila. Assim, se alguém pedir para bater foto junto, pelo menos já esconde um pouco. E previne a pessoa sair por aí falando que é seu amigo, namorado chefe ou colega de sala.

Virando mito

A popularidade pode crescer ao ponto da pessoa se tornar um mito, com fã-clube e tudo. No orkut, isso acontece muito fácil. Mas na vida real, pode virar um problema. A pessoa precisa se preocupar em ser um bom ou mau exemplo para a juventude. Mais ou menos como a Sandy do Sandy & Júnior (que revelou ser virgem). Ou mesmo a Xuxa. O Roger do Ultraje a rigor ou o Evandro Mesquita tinha até gente que imitava o modo de falar e agir.

Relacionamento com outros notáveis

O segredo é tratar de igual para igual. Se não conseguir manter naturalidade e uma dose de respeito, melhor nem conversar. Claro que precisa ter assunto dos dois lados. Não há meio termo. Ou existe ou não existe. Um encontro é bastante fácil. Conseguir assunto durante dois, três encontros e a pessoa não ficar olhando para o relógio antes de responder, isso aí já é quase fazer parte de uma turma. A primeira vez que consegui isso foi numa conferência em Buenos Aires. Éramos três brasileiros na conferência mas só eu fiquei direto junto com os outros gringos, convidados especiais.

Há gente que te faz pensar estar entrando para uma "panelinha". Cuidado. Não é porquê se conhece alguém da Globo que pode se conseguir um papel na próxima novela. Outro lance, o sujeito pode ser da sua cidade e não ter o menor interesse em fazer contato. Por exemplo descobri que um cara atualmente famoso por conta dessa licença Creative Commons, é da região do triângulo mineiro, parece que foi ex-aluno de inglês da minha mãe além de ter se formado na USP. Até essa edição, não respondeu a um pedido de entrevista e foi difícil descobrir o email. Bom, o cara tem as prioridades dele.

Dando visibilidade a movimentos sociais e políticos

Movimentos sociais são importantes e merecem apoio. A questão é qual o movimento social e o quanto de apoio. Por exemplo, os protestos e revoltas que estão acontecendo nas prisões brasileiras. Trata-se de um movimento social. Várias reinvidicações são justas. Só que o PCC não é uma ONG (Organização Não Governamental). Pelo menos não é no sentido mais comum.

Há vários artistas que emprestam alguma forma de apoio ao PCC. Pode ter a ver ou não ter a ver. Vão ficar visadas pela polícia. O "notável" que empresta seu apoio hoje a qualquer tipo de movimento social precisa estar a par que amanhã irá enfrentar oposição de pessoas que estão contra esse tipo de apoio. Seja que movimento for. Precisa espírito de luta.

Com políticos, a mesma coisa. A pessoa fica marcada. Houve vários artistas que apoiaram o Collor no início de seu mandato. Todo mundo apoiava o Lula quando ele se elegeu. Com os escândalos, a coisa mudou um pouco.

Usando ou servindo de "escada" para alguém subir na vida

Há amigos que a gente quer esconder. Ninguém pode saber que a gente conhece gente como aquele cara específico. Pois é. O sujeito que eu falo morou comigo, fazia cinema. Começou a reparar que na maioria dos filmes em que assistia, sempre tem um cara chamado "Miguel", "Michael" ou mesmo "Mike". E é sempre o primeiro a morrer, o primeiro a causar problemas, fica "miguelando". Exemplo seria o índio mexicano no filme "Meu ódio será tua herança" (Wild Bunch) do diretor Sam Peckinpah (aliás, ô filme monótono :-).

Num aspecto, tirando de lado o nome "miguel" (podia ser Joaquim, Murphy, etc – se nome influisse, Michael Douglas não seria bom ator) até que existe alguma coisa de verdade. Algumas pessoas trazem embutidas no corpo, uma paixão pela mediocridade. São pessoas que tem cultura, inteligência, em alguns casos até dinheiro. O ruim é que essas pessoas sempre conseguem achar um caminho até o fracasso naquilo que fazem. Nunca vão além de um determinado ponto (tipo: 4.5 em 10). E sempre encontram quem as ajude. Ajudem em vão. Conseguem atrapalhar qualquer tentativa de serem ajudados.

Tudo isso para contar que há aqueles que podem ser ajudados e há aqueles que a melhor ajuda é deixar eles seguirem o próprio caminho. Porquê não é fácil (**). Aí tem a questão do que é que a pessoa está querendo, quando escolhe um cara conhecido para obter ajuda. Qual ajuda a pessoa quer? Há vários níveis de ajuda. A pior coisa que o cara pode fazer é chegar num sujeito famoso que é amigo dele e pedir "umas dicas".

Pode ser "ensinar a pessoa a andar". Andar a gente aprende quando nasce. Mas vai tentar fazer malabarismo numa perna de pau, num circo. Ou tentar fazer malabarismos num skate. Me faz lembrar o filme "Miss Simpatia", em que a Sandra Bullock faz o papel de uma policial que tem que aprender a se equilibrar em cima de salto alto.

Outro tipo de ajuda é conseguir contatos, ser "apresentado" aos "experts". Aqueles que "ensinam a andar". Ou que podem ajudar o sujeito a não se espatifar no solo, depois do primeiro vôo. As "pessoas certas", por assim dizer.

E por aí vai. Muito complicado explicar isso para uma pessoa que acredita mesmo que será a próxima revelação do mundo. Ficam pensando que é questão de ser um cavaleiro "Jedi" é chegar num mestre Jedi. O pensamento comum de todos eles:

"Basta eu chegar perto do cara e ele vai perceber que sou diferente, que é só me dar uma ajuda e eu estou lá."

Quem chegou a posição de notoriedade pode avaliar (quando não está "bebâdo" com o que conseguiu) em que ponto o "aspirante a discípulo" está. O quanto falta lapidar a gema até virar jóia. Mas por qual motivo? Se o sucesso ou notoriedade é parte da vida da pessoa, porquê ele vai criar um concorrente? Se não é, a pessoa já deixou para trás o período de glória, para que vai se dar ao trabalho? Amizade? Chance de voltar ao estrelato através de outra pessoa? Ouvi falar que um famoso ex-campeão brasileiro de automobilismo dá uma "help" para "deslanchar" brasileiros em equipes. Mas há boatos que não é gratuito.

Há dois tipos de pessoas que podem ser ajudadas:

- Os que estão próximos da gente (não estou falando dos que se aproximam).

- Os que tem capacidade de aprender por osmose.

Os que estão próximos são mais fáceis de convencer a só aprender aquilo que realmente podem usar. Os que aprendem quase que por osmose, não pode ensinar muito que atrapalha.

Cada pessoa tem uma velocidade de aprendizado e um ritmo de evolução. Se já aprendeu a fazer gol de cabeçada, pode não estar pronto ainda para fazer gol de bicicleta. Ou no caso de mulher, pode saber andar de salto alto mas não sabe rebolar "num doce balanço" enquanto caminha sorrindo. Não é fácil. Muito raro a pessoa próxima agüentar o que realmente precisa aprender e agir de acordo.

Todas as vezes em que vieram atrás de mim com propostas de ser "discípulo", jamais me falaram em dinheiro (na minha área também não adianta muito, emprego é mais importante). Só um empresário de banda de Rock ou um fotógrafo procura alguém desconhecido para virar "estrela". E fazem isso porquê é parte do trabalho deles, de onde tiram seu dinheiro. Pegam um desconhecido qualquer porquê as pessoas conhecidas cobram caro e não dão lucro. É por isso que toda garota bonita pode sonhar em ser famosa por algum tempo. Há um revezamento no cargo de "garota do ano".

Muitos lucram pesado com esse desejo de estrelato. Numa revista Trip havia o caso de uma "agência" que prepara crianças para serem atores, atrizes, para desfilar, para sei lá o quê. Os pais, ávidos com a promessa de ver seus filhos virando astros de cinema ou de passarela, pagam uma pequena fortuna para fazer um "book" (ou sei lá como chama o Currículo de fotos de um artista). Pagam pela organização de um desfile onde todos serão avaliados. E depois ficam esperando um resultado, uma contratação para trabalhar numa novela da Rede Globo.

Há versões desse truque para todas as idades. Inclusive na Internet. Aquele "cavalo de tróia" que oferece uma chance de participar do "Big Brother Brazil" ou do "Casa dos Artistas" funciona bastante. Um e-mail fala de uma inscrição para o famoso programa. As pessoas querem acreditar que são especiais. Que são aspirantes ao sucesso. Basta se inscrever para ser entrevistado. "Baixam" o programinha "cavalo-de-tróia". Acionam, respondem ao questionário com todos os seus dados, só falta dar a senha da sua conta bancária. O programa manda as informações. Pronto. Uma semana depois, nada de convite para entrevista. Mas o saldo na conta do "aspirante a Big Brother" está zerado ou negativo.

Funciona também com empresas. Li numa biografia que uma multinacional de software de vez em quando via um concorrente aparecer com um produto bom. Qual era a estratégia da empresa? Entrava em negociação com esse concorrente. Para tornar a empresa parte dela. Para ficar mais claro, o exemplo: supomos que a "Microsoft" resolve comprar a sua empresa. Oferece um cargo de diretor vitalício, com alto salário. Ou seja, o dono terá a empresa comprada e ainda vai ter cargo de decisão com salário alto.

Só que para ter certeza de que sua empresa vale a pena, a "Microsoft" quer avaliar a documentação, fazer o balanço, checar o produto final, tudo. Então o dono da empresa "abre o cofre". Deixa a equipe da "Microsoft" avaliar tudo, entrar em todos os lugares, conhecer as pessoas chave. Beleza. O dono sabe que está tudo em ordem, mal pode esperar ser incorporado à gigantesca multinacional. Então deixa tudo aberto.

Um belo dia, a equipe vai embora. Depois manda uma carta informando que a fusão não vai acontecer. Até aí tudo bem. Depois fica estranho.. Algumas pessoas chave para a empresa (essenciais para a administração e criação de produtos lucrativos) começam a pedir demissão. Vão trabalhar na "Microsoft". Que lança um produto similar ao da empresa no mercado. Funciona até com mais eficiência. Percebe o que aconteceu? Foi uma forma "aberta" de espionagem. A "Microsoft" (isso é só um exemplo, não sei se ela faz esse jogo) pode perfeitamente iludir uma empresa com promessa de compra só para fazer ela "mostrar o ouro e as jóias da casa". O dono da casa "abriu as portas", a "Microsoft" copia (desculpa: recria) o produto. Pronto. Vai comprar a empresa e dar um cargo vitalício para o dono para quê? Não precisa. O Mouse que todo mundo usa não foi idéia da Microsoft.

Voltando à falar de pessoas comuns e o estrelato. Um filme muito legal para se assistir sobre usar alguém como "escada" é "All about Eve". A menina entra como fã na vida da atriz, vira uma mistura de amiga, empregada, irmã, administradora e.. praticamente faz a atriz famosa a treina-la. De super-fã, passa a ser atriz substituta. E no final .. Não vou contar o filme, mas é uma boa história. Quase um manual.

Amigos e parentes

Não estou falando de fãs que viraram amigos e sim de amigos a serem feitos independente da fama. Ou que já existiam antes da fama.

A verdadeira amizade é algo difícil. As pessoas são amigas durante um tempo. Tem um assunto em comum, o emprego, a idade, o mesmo tipo de situação familiar. Há amigos e "amigos". Gente que se chama de "amigo" porquê não são inimigos. As pessoas se tornam amigas porquê tem pontos de contato com outras pessoas. Se identificam como iguais. Quem fica famoso já vai perdendo essa capacidade. Aquele que em terra de cego, tem olho, vira rei. E como é que se lida com um rei?

Amigo não pode ser nem puxa-saco nem aproveitador. Talvez a pior parte é quando se conversa o dia-a-dia. Como é que a pessoa vai ouvir histórias de sucesso sendo que está numa miséria total? Um exemplo: O cara (meu "amigo") já ficou me devendo dinheiro em algumas ocasiões. Foi meu colega de moradia (até o dia em que "roubei" uma mulher que era o grande afeto dele pintou mulher no meio da amizade e eu ganhei, aí ele me expulsou do apartamento). O tempo passa, voltamos às boas. Mais um tempo se passou, o cara mudou de cidade. E de vida, tudo. Estudou, passou num concurso para fiscal da receita. Enricou, portanto. Salário alto. Montou apartamento. Eu ia telefonar para ele, o cara já abria a conversa mais ou menos assim:

"Derneval, não sei o que eu vou fazer da vida.. estou ferrado! Ferrado! O imposto de renda retido na fonte esse mês foi mais de R$ 2.000,00. Não sei como vou pagar a prestação do meu Home-Theater, este mês".

Bela maneira de dizer que não está bancando Papai Noel.

O cara realmente tem problemas. Os parentes ligavam tanto para pedir dinheiro que o sujeito usava secretária eletrônica direto. Longe de agradecerem e prestigiarem o sucesso do filho, enchem a paciência. Reclamam dos presentes que ganham. Arrumam sempre um motivo para não serem agradáveis.

Outra coisa: amigo "indiscreto" é uma das piores coisa que podem acontecer na sua vida. Bom lembrar. Há casos como o de uma biografia não autorizada do Frank Sinatra totalmente baseada em informes colhidos com amigos e conhecidos do astro (já tá morto? Nem sei, detestava as músicas dele).

Na verdade, aí começa o desenvolvimento de uma dupla personalidade (ou tripla). Porquê como manter a boca dos amigos fechada? Se o seu amigo responde para um repórter que você é o maior garanhão e para por aí, o repórter sabe que um boato qualquer sobre você estar traindo uma menina tem fundamento. Aí basta o sujeito falar que você é gay, o amigo para te defender vai dar mais informações (não, não é o cara tem uma mulher em cada lugar). E essas informações serão usadas como "isca" para mais informações "tenebrosas", durante uma entrevista. Que talvez seja furo de reportagem publicada logo na época em que você está de casamento marcado (que graça teria publicar que uma personalidade era "garanhão" antes do casamento).

Se você tem algum amigo gay, cedo ou tarde vão tentar usar isso para insinuar alguma coisa.

Entrevistas

Entrevista é publicidade gratuita. Pode ser boa publicidade ou má publicidade. Ajuda ou atrapalha. Parece fácil. Mas não é. Há livros inteiros já escritos sobre entrevistas. Mas para resumir, as entrevistas podem ser classificadas de várias formas:

Quanto ao conteúdo, há as entrevistas abertas – Quando as perguntas são feitas na hora, não há ensaio ou planejamento. A pessoa sendo entrevistada (no caso você) talvez nem seja informada de que é uma entrevista. As entrevistas fechadas, nelas o repórter ou pessoa que vai te entrevistar te manda por email ou correio comum as perguntas que serão feitas e quais assuntos serão abordados.

Quanto à forma, podem ser feitas de forma livre e informal como numa conversa de bar. Ou ordenada e preparada, como num interrogatório policial. Também podem superficiais, abordando temas simples como podem também ser profundas, pedindo montes de detalhes. Os assuntos abordados podem tanto ser inofensivos como polêmicos. E também podem enfocar temas do presente como do passado.

Há entrevistas que não são aquilo que parecem. O que o jornalista quer é ajuda para escrever um "perfil" psicológico. Nem quer saber nada da pessoa, quer saber o que a pessoa sabe sobre o assunto que ele está pesquisando. E pro diabo vá a aspiração do entrevistado, que fica fantasiando como se estivesse respondendo para o Jô Soares. Podem ser feitas numa única sessão. Ou em várias (no caso aí, as perguntas "perigosas" vão ficando para as últimas sessões). O ambiente ideal é aquele em que o entrevistado não seja perturbado.

Em qualquer hipótese, desaconselho qualquer entrevista sem estar com um gravador ligado (o seu, para você guardar). Guardar tudo, desde o momento em que vê a cara do entrevistador até o momento em que ele diz "tchau". Quando o tema é polêmico, alguns entrevistadores dizem que enviam o artigo final antes de ser publicado. Mentira. Eu, pelo menos, duvido muito. Na minha humilde opinião, acreditar em repórter ou editor de revista não é legal. "Sorrindo se chega mais fácil até o meio do inferno", esse era o lema da rádio "Se segura, malandro" – filme estrelado por Hugo Carvana.

Muito legal gostar deste ou daquele jornalista que aparece na TV ou mesmo quando o herói de um filme (tipo Clark Kent ou Peter Parker) é jornalista. Sem falar no grande livro e filme "Todos os homens do presidente". Mas uma coisa é gostar de jornalistas de forma abstrata (imaginária ou lendo reportagens) e outra coisa é gostar de forma concreta (quando você é notícia). Falando de forma abstrata, pode-se muito bem gostar de determinados jornalistas embalados em concreto, repousando no fundo de um rio como o Tietê. Não recomendo essa idéia nem de brincadeira porquê é crime ambiental. Só escrevo aqui para lembrar ao leitor que existiu um escândalo chamado "escola base".

Aprendi (da pior forma) com dois caras: Carlos Graieb e Sérgio Charlab (tem um terceiro cara, J-russo – não é crime nem difamação detestar jornalista). O primeiro publicou uma reportagem com a minha foto enorme do lado da foto de um cara algemado. Na mesma página. Coisa meio tendenciosa (já conheci idiota que leu rápido e achou que eu tinha sido preso). O outro me pediu um artigo gratuito para uma revista de Internet (a Internet World não existe mais). Era para ser com pseudônimo e gratuito, só reportagem é que pagava. Recebeu o artigo, achou bom e alterou o texto, transformou em reportagem. Não vi a cor do dinheiro. Acho que guardei os emails. Agradeço a esses dois (três, tem mais gente) pela lição "negativa" que me deram. Nunca mais facilitei a coisa para ninguém da área de jornalismo. Até evito paquerar estudante de jornalismo.

Porquê quando você está sentado com um amigo jornalista, nem sempre o mesmo jornalista está sentado com o amigo dele (releia a frase e pense). O jornalista é valorizado pelas fontes de reportagem que tem. Então é normal ele cultivar amizades as mais variadas, durante anos a fio. Um dia, esse cara ou aquele cara vai render uma boa história para ele. Aí o sujeito deixa de ser amizade e vira "fonte". Pode acontecer com você.

Aí existem truques que os caras tentam usar. A primeira entrevista pode ser excelente. Mas na segunda vez, ele te arranca a pele. Ou então, querem conversar com você sobre a hipótese de uma entrevista (já sabem que você não é fácil). Mandam o telefone. Que está sempre ocupado. Você telefona e alguém fala que "ele não se encontra na sala no momento, quer deixar seu telefone". Não, eu nunca deixo meu telefone. Uso telefone público ainda por cima. Qual a idéia? Você tem que procurar a pessoa. Então, dá tanto trabalho para encontrar a pessoa que cria uma expectativa. Quem procura, quer alguma coisa. Não dá para ficar tentando cinqüenta vezes um número de telefone e depois falar "não sei".

No meu caso, ou o cara está no telefone e pode conversar comigo naquele exato momento ou então é "armação". Tipo "meter a mão em cumbuca". Desisto. Na "armação", o sujeito está na sala mas quer um tempo para "ensaiar" uma conversa que pareça "informal". A conversa "informal" parece mas não é. Na verdade, pode ser uma sondagem para uma entrevista. Que é quase uma entrevista. Pode ser a própria entrevista. Depois de uns cinco ou dez minutos de elogios, comentários variados, perguntas inocentes, idéias de boas reportagens, o sujeito confessa o que realmente quer de você. Pode não ser coisa boa.

Televisão nunca é realmente entrevista. A manipulação do conteúdo existe. O sujeito pode ir lá para aparecer. Mas para explicar alguma coisa, só se o entrevistador deixar. O entrevistador pode provocar a vontade, até chegar no limite da difamação. O entrevistado dificilmente vai ter capacidade de resposta. Depende muito. Se tiver, as respostas "inteligentes" podem ser retiradas na edição final. O mais chato é que uma gravação de entrevista pode e leva várias horas. Então o inexperiente dificilmente escapa de ser gato e sapato do entrevistador.

Outras dicas, no caso de conversa "informal" com jornalista. Nunca consumir álcool e sempre escolher tudo. Tanto o local de entrevista como o lugar onde o cara senta. Não se apresenta amigo para jornalista muito menos se encontra com ele em lugares onde você passeia direto. Tanto para evitar vê-lo atrás de você escutando alguma conversa como fazer amizade com alguém que ele enviou. Nunca conversar andando. O ápice da "neurose" é foi a história de um empresário que convidou outro para conversar dentro dágua do mar. E trocaram de calção na frente um do outro, na praia.

Se você tiver neurose, melhor dar entrevista por email, perguntas primeiro, respostas depois (entrevista fechada). Nem assim está garantido. Lembrar que o delegado Mauro Marcelo perdeu o cargo dele na ABIN por conta de um email. Há situações em que "boca fechada não entra mosquito". E há situações em que podem noticiar tranqüilamente que "um mosquito conseguiu entrar na boca fechada".

Há montes de dicas. Ainda nem comecei a desenvolver o tema. Por exemplo, jornalista "troca figurinha" com outro jornalista "olha, no início, você pega leve, depois faz ele falar desse assunto, aí tranqüilo que ele já baixou a guarda, pergunta o que quiser". Jornalista velho é pior do que novo. Mas jornalistas novos também surpreendem.

Aliás, falando nisso, bom saber que alguns jornalistas podem ser extremamente canalhas, quando se trata de salvar a pele. Um cara que eu conheci me deu uma lição ótima: famoso, dava aulas na Pedagogia da USP. Não sei se era tempo integral. A matéria era obrigatória para licenciatura de alemão. O sujeito faltou a metade das aulas do semestre. Ninguém encontrava o cara, tinha ido para o México, numa conferência. Não houve reposição das aulas. Era para fazer um TCC. Entreguei o trabalho pessoalmente. Quando o encontrei no mês seguinte, na lanchonete da faculdade, o cara falou que eu tinha sido reprovado por falta de entrega de trabalho final.

Claro que meus olhos ficaram vermelhos de ódio. Bem vermelhos. Todo mundo (menos eu) na lanchonete percebeu, professores e alunos. Naquele semestre eu estava saindo de um relacionamento fracassado. Morando num lugar horrível. Sono atrasado.

Eu só falei que ele não podia fazer isso porquê ele tinha faltado muito. Fui embora para não falar besteira (o peixe morre pela boca). O sujeito esperou eu sair. Se levantou e falou para todos, como que dando uma explicação: "senhores, eu acabo de ser ameaçado de morte pelo rapaz, peço desculpas". Me contaram depois. Jornalista famoso, o cara. Dando aula na USP. Entendeu?

Não se pode colocar todo mundo no mesmo saco. Uns poucos jornalistas eu ainda mantenho conversa (desconfiando). Claro que há ocasiões em que a cobertura desses caras é importante. Mesmo negativa, publicidade continua sendo publicidade.

Assunto da entrevista

Melhor combinar antes, que nem faz a Gisele Bündchen – o jornalista não pode perguntar sobre a vida pessoal dela. Paula Lavigne, mulher do Caetano Veloso (hoje ex?) entrevistada por Ivan Marsiglia, deveria ter pensado nisso. Não sei porquê topou as 20 perguntas que estão lá, na revista Playboy. Deve ser vaidade, com certeza. Algumas estão também na revista Caros Amigos (Março 2000).

Sem esforço, o repórter conseguiu a confissão espontânea de que.. ela perdeu a virgindade com o grande cantor e compositor aos 13 anos de idade (foi presente de seu quadragésimo aniversário). Outra que ela falou.. oops! "Aos 7 anos de idade pedia a irmã mais velha para levantar a saia, cobrando ingresso por isso". Ela não pediu para ouvir aquilo que tinha acabado de ser gravado pelo repórter em fita K-7. Haviam feito um acordo de fazer isso. Ela podia mudar de idéia e levar embora as gravações. Mas deixou passar. A repercussão na imprensa foi grande. E negativa.

E quanto a perguntas delicadas, a resposta tem que estar na ponta da língua. Porquê pensou, existe uma brecha. Existe uma brecha, vem mais perguntas. Tipo: família. Ninguém fala da família. Se fala, é para comentar o que pode virar comentário de qualquer jeito. É muito mais fácil a pessoa falar que o "pai era uma pessoa de temperamento forte e que estimulou desde cedo a sair pelo mundo e se arrumar sozinho". Um clichê, todo mundo entende. Melhor do que falar algo como "meu pai vivia repetindo que eu era um babaca que não servia para nada; se eu estava muito triste, ele falava que eu não deveria nem ter nascido". Mesmo porquê algum pai cabeça de girico vai achar a idéia boa. Mesmo que valesse a pena, algum dia você cai do pedestal e as pessoas vão falar que ele tinha razão. E isso é apenas um exemplo fictício para que o leitor entenda o problema.

Vale a lição: é necessário saber que tipo de entrevista a pessoa faz. Para qual veículo. Cair numa entrevista "de paraquedas", sem saber nada sobre quem está entrevistando, é se arriscar ao ridículo. Quem pode usa o serviços de um profissional, um assessor de imprensa. Que também não é a solução final. Não interessa muito para o entrevistador uma entrevista "certinha". Interessa perguntar e conseguir resposta para questões "desconfortáveis". Deixar a pessoa nua, ao vivo e em cores. Se estiver rebolando então, melhor ainda.

Desconstrução de figura famosa

Ou "monstering" como já vi numa história em quadrinhos americana. Literalmente, fazer alguém de monstro. A Cleo Pires, atriz de cinema, que o diga. Parece que inventaram uma história de relacionamento (não vou repetir), a imprensa só parou com a fofoca quando ela saiu do pais durante um tempo. No Japão, um cineasta famoso se suicidou para calar os boatos.

Da mesma forma que alguém pode ser elevado a uma condição de fama e prestígio, o contrário também pode suceder. A revista VEJA parece que se dedica a isso, de tempos em tempos. Escolhe alguém para Cristo e desce o pau. Pode ser questionar a fama da Fernanda Montenegro como atriz ou pode ser um novo escritor qualquer. Não é a única. Aliás, por mais que o crítico elogie alguém que está no auge, sempre guarda uma ferroada para "mostrar" para o leitor que é "inteligente".

Só que há casos em que "destrói" a pessoa. Vide o que aconteceu no caso Escola Base. Um garoto acusou o colégio inteiro de pedofilia e a imprensa, a polícia, todos embarcaram na história. Destruíram a vida (e uma turba destruiu o colégio, alguns nem conseguiram indenização por maus tratos e prisão indevida). Nesse tipo de coisa, é como se o diabo em pessoa reunisse dados para todo mundo mandar sua alma ao inferno. Não precisa ser coisa de revista. Pode ser uma fofoca negativa no seu bairro. Alguém junta um monte de informações, constrói uma imagem negativa. E divulga. Como você combate? Aí depende do que estão falando e da capacidade do público de acreditar nos fatos. Depende também se você foi famoso por acidente ou realmente era alguma coisa.

Problema com fã, mulher abandonada ou outros "detalhes"

Subiu na vida, acabou a inocência. O inferno está te esperando em algum lugar.

Tentaram usar a estagiária Mônica Lewinski para tirar o Bill Clinton do poder. A campanha contra o presidente americano desceu tanto o nível que o promotor que estava lutando pelo "impeachment" do Clinton recebeu uma proposta para trabalhar na redação da revista "Hustler" (a revista pornô mais conhecida dos EUA).

Há vários casos de pastores americanos famosos que foram pegos transando com prostitutas. Outro caso foi o Hugh Grant, pego com uma prostituta. Ninguém mais fala nisso. Tim Maia alegou em entrevista ter vários casos de menina chegando grávida alegando que ele era o pai.

Perseguição ou "Stalking"

Estamos num país onde se seqüestra até professor. Só isso já bastaria para explicar o problema. Mas pode rolar vários tipos de perseguição. Desde fãs que estão na merda e resolvem sacanear com alguém famoso até profissionais de extorsão.

Trotes

Só para entender como é que a vida muda: quando você é um zé ninguém, se alguém fala que é da Rede Globo e que tem uma proposta, a reação comum é duvidar. Mas se você fica famoso, fica fácil acreditar que alguém famoso se interessa por você. Em outras palavras, a pessoa fica vulnerável a trotes dos mais variados tipos. A pior parte são aqueles caras que se dizem amigo(a) e que vão te ajudar. Com emprego, com dinheiro, com dicas incríveis. Funciona? Funciona. Pode ter certeza que aquele contrato de US$ 5.000,00 dólares está na mão de alguém. E também um treinamento para ser o segundo astronauta brasileiro. Ou um terreno na lua. A Gisele Bündchen vai ser sua vizinha.

Como se precaver? Abre o olho. Por mais que se queira um emprego na Globo, não fica acreditando que Papai Noel existe. Muito complicado essa coisa de trote porquê alguns deles são bem elaborados. Emprego, por exemplo, eu já caí em dois ou três deles. O cara vem com um papo de emprego e depois vai te enrolando até você desistir.

Ganhando dinheiro com a fama

Você pode ter fama. E não ganhar dinheiro. A questão é que fama por si só não traz dinheiro. O que traz dinheiro é essa fama ser agregada a alguma forma de produção de capital. Quer um exemplo? Acho que foi com a Naná Gouveia (provavelmente aconteceu com ela também ou com qualquer gostosa). Havia uma academia com montes de horários vagos a tarde. Como encher esses horários? Convidaram a Naná Gouveia para se exercitar de graça na academia. Foi tanta gente se inscrevendo para fazer ginástica a tarde que começaram a recusar inscrições. O 2o passo seria ela cobrar para fazer ginástica a tarde.

Então como entra dinheiro na equação "fama" (veja bem, o assunto é fama – prestígio e sucesso não são a mesma coisa)? A fama entra como componente de venda de algum produto. O dinheiro é percentagem da venda desse produto. Pode não funcionar. E justamente, pode estragar a carreira do artista de várias formas. Por exemplo? A pessoa vira um rosto conhecido. Então não pode ser usado em nenhum produto, até o público se esquecer daquele rosto. Alguém já imaginou o cara da Bombril fazendo comercial de Coca-Cola?

Alguém recebe o trabalho de temporário de ser o famoso do momento. A pessoa é empregada de uma construção abstrata chamada fama. Trabalho temporário, sem vínculo empregatício. Mas óbvio, estando lá, acredita que é o empregador, que é a pessoa que manda. Mas quando existe muita demanda, quem faz tudo mesmo é o empresário.

Seria muito legal se um empresário fosse sempre alguém legal de se confiar. O Popó, campeão mundial de boxe, só recebia 25% do dinheiro das lutas. Os empresários ficavam com o dinheiro das transmissões (uma coisa é o dinheiro da luta outra coisa é o dinheiro que a emissora paga aos participantes para poder transmitir a luta). O dia em que foi ler o contrato que tinha assinado, descobriu que não tinha seguro de vida, de saúde, se os empresários quisessem poderia rescindir sem pagar nada (mas ele teria que pagar uma nota preta). Se sofresse um acidente qualquer, estaria por conta própria. O cara foi enganado por gente que estava junto com ele desde que foi "descoberto" aos 14 anos e só lá pelos 25 anos de idade começou a perceber o roubo.

Outra parte de tudo isso a questão de imposto de renda. Para você receber de alguém, tem que dar recibo. Para dar recibo, tem que abrir uma empresa. Para abrir uma empresa, tem que contratar contador e advogado. Pagar um X por mês ou por ano. E detalhe: fechar empresa não é fácil. Começou a pagar imposto de renda um único ano, vai ter que declarar todos os anos posteriores. Pode estar pobre, pobre mas vai ter que declarar isso para o governo. Pelo resto da vida.

Tornar-se famoso não é tão difícil quanto administrar o business da fama. Muito calote acontece, é bom saber. Para não falar de roubo ou gente te iludindo ou ameaçando para conseguir coisa de graça.

Ganhar dinheiro fácil, não existe. Para ganhar dinheiro com a fama, o sujeito precisa ter mais vontade de ganhar dinheiro do que de aparecer. Quem tem ambição consegue dinheiro independente da fama. O que interessa é se é só isso que você quer da vida.

Saindo do mapa

Nos anos 60 e 70 não se podia nem haver palavrão em livro ou revista. Então quando se liberou a censura, ator de sexo explícito virou celebridade, por um tempo. Nomes como Oasis Minitti e Osvaldo Cirilo eram famosos porquê faziam espetáculos de sexo explícito em teatro (e chegaram até a fazer uma escola para atores de sexo explícito – como transar com gente assistindo, etc..). Aquele tempo, a época da chegada da AIDS, o assunto sexo explícito era objeto de discussão. Vendia. Hoje nem na Internet se acha informação sobre esses caras. E eram como deuses naquele tempo pré-viagra.

As décadas de 80 e 90 estão cheias de exemplos de gente que ficou famosa pelos motivos mais esdrúxulos e depois desapareceu do mapa. Por exemplo, o pessoal que durante os anos 60 e 70 que lutou contra a ditadura (e que agora estão no cenário político). Os jornais abriam espaço de divulgação (na falta de outra expressão) para esse pessoal porquê era uma forma de passar para o público que eles não eram a favor do regime militar. Jornais considerados de direita comentavam temas que pararam de ser comentados depois do fim da repressão.

Mesmo nos dias de hoje, o que não falta é exemplos (relutei em usar muitos porquê ia gastar muito espaço). Alexandre Frota, por exemplo. Já foi ator de várias novelas, estrela do programa Casa dos Artistas. A última notícia que tive dele foi que pegou pneumonia fazendo show em casa noturna gay durante a época do dia internacional de orgulho gay, li num jornal. Se o cara está ganhando muito dinheiro com isso, não sei.

A questão é que algumas pessoas ficam famosas por conta de um personagem específico. Ou um papel. Mais ou menos como a Marisa Orth no programa "Sai de baixo", a Suzana Alves no personagem "Tiazinha" ou outros como o ator Petter Sellers, que nunca conseguiu fazer sucesso maior do que o personagem "Inspetor Closeau". Paulo Ricardo do RPM. A lista é enorme. A pessoa fica "engessada" naquele primeiro personagem que fez sucesso.

Alguns não deixaram isso acontecer. José Wilker, quando fez "Dona Flor e seus dois maridos" brigou muito por conta disso. Os diretores queriam que ele continuasse interpretando algo parecido com o personagem "Vadinho". Angeli matou o seu personagem de maior sucesso, a "Rê Bordosa" (marcou época nos anos 80 e 90). Não queria repetir o desenhista do "amigo da onça" (que desenhou este personagem até se matar). Mas não é qualquer um que tem coragem de fazer isso. E principalmente, que faz isso de se reinventar e dá certo. Para muitos, a atriz Marisa Orth sempre vai ser aquela atriz do extingo programa "Sai de baixo".

Escrevendo um livro

Quando se tem história para contar ou principalmente quando se sabe contar uma história, é algo interessante. A ex-ministra Zélia escalou um excelente escritor para contar sua história de amor durante o período em que foi do Ministério da Economia, no governo Collor. Por isso é bom manter um diário e cópias dele, se for possível (vide o filme Luz del Fuego, com a Lucélia Santos). Um livro que eu ainda quero ler é o da Rose di Primo, parece que ela escreveu suas memórias. O dia em que escrever as minhas, conto como é o problema.

Considerações finais

Este texto que você está lendo está longe de esgotar o assunto. Na verdade, existe uma versão mais trabalhada e com mais detalhes, explicando minúcias (está bem difícil parar de acrescentar). Megalomania, hoje, é achar que vai conseguir um emprego que pague bem. O mundo corporativo e globalizado pede uma dedicação voltada para um sucesso que anos atrás seria considerado exagero. Os pais adoram exigir dos filhos o impossível (pessoas famosas tem que "estudar muito" - enchem menos o saco). Há assuntos dessa coisa de famoso que precisa ter cabeça, precisa viver para entender.

Ah, sim. Se o leitor não conhece a história do meu fanzine, recomendo visita à página http://barataeletrica.tk ou http://www1.webng.com/curupira O texto foi escrito a partir de muita leitura e algumas situações vividas. Mas muita coisa escrita como se eu tivesse feito, eu não vivi, foi apenas para realçar a descrição, me baseei em experiências coletadas em revistas. Como disse no título, tive bem mais do que meus "16 minutos de fama". E prefiro ser anônimo na multidão. Quem quiser, mande comentários.

Bibliografia:

(*) Pro Pelé já pedi autógrafo umas duas vezes (em ocasiões diferentes) e nas duas ele errou meu nome. Com o Paulo Ricardo, consegui ainda bater um papo e pegar o email, além do autógrafo. O Angeli já peguei autógrafo algumas vezes (antes ele até batia um papo, agora mudou um pouco). A Marisa Orth, foi um papo tão descontraído que eu quase pedi o telefone (ela estava se separando). Com a Kelly Key (ou um clone dela, numa piscina onde o Genuíno também aparecia de vez em quando) e a Pietra Ferrari (indo fazer compras num supermercado), essas duas já nem tive muita coragem.

O mesmo não aconteceu quando fui na Argentina ou na Inglaterra (conferências de segurança informática e cultura "underground"). Conheci alguns nomes da cultura "Hacker". A conversa fluiu de igual para igual. Na Argentina porquê eu representava o Brasil e falava inglês. Na Inglaterra também, só que o pessoal já tinha lido a meu respeito na 2600. Eu era "o cara".

(**) Na área em que fiquei famoso (que é bem específica, segurança informática), existe o mito de que não se exige muito estudo. Mas na verdade, exige. Sem falar numa certa malícia (para não ser ludibriado depois de contratado). Quer dizer: muito mais fácil estudar para um concurso qualquer.

(***)Houve épocas em que eu tinha um email pronto, com uma bronca escrita, detonando com os sonhos do cara. Depois vi gente ganhando grana com livros que não ensinavam como chegar lá mas que os idiotas compravam. Melhor: pararam de me escrever pedindo esse tipo de ajuda.