O Filme "The Conversation" e a realidade dos grampos

O Filme "The Conversation" e a realidade dos grampos

https://goo.gl/nHMzMa

Derneval R.R. da Cunha

https://sites.google.com/site/barataeletricafanzine/ Email drrcunha@yahoo.com.br Índice barata21.html

O filme talvez sirva de exemplo para muita gente. Poderia falar de maridos ou esposas que tiveram sua vida vasculhadas por conta de ciúme. Ou empregados que também foram objeto de desconfiança por parte dos seus patrões, como acontece no caso de líderes sindicais, gente que resolve reclamar de alguma coisa a qual tem direito, etc, etc..

O filme, disponível em vídeo seria um bom manual para aqueles que nunca pensaram em coisas como privacidade. Começa com uma simples conversa no parque, que é monitorada por uma equipe de gravação. O local de encontro, um parque já apresenta uma dificuldade para qualquer araponga. Andando em círculos, já se evita alguém que esteja seguindo. Sendo o itinerário aleatório, o uso de microfones escondidos em lugares estratégicos é impensável. Sobra uma equipe composta tanto de gente com super-microfones de longo alcance, colocado no topo de prédios, como se fossem franco atiradores. Tais equipamentos conseguem captar a voz humana até 200 metros de distãncia num dia claro e sem ruído de tráfego. O problema é que quando o casal passa por um arbusto, tal trecho da conversa se perde. Para ter um quadro completo é necessário ter pessoas, vestidas como gente comum, com gravadores poderosos dentro de embrulhos ou outros disfarces. Um fone de ouvido especial garante que o araponga seja avisado para não causar suspeitas grudando demais. Todo o pessoal coordenado de dentro de uma kombi com vidros espelhados.

De acordo com o filme, esse tipo de operação é a mais cara, a mais difícil e problemática. É o ponto de partida para uma galeria de situações envolvendo invasão de privacidade na vida cotidiana. Para americano, privacidade é um must. Aqui no Brasil não. O cara que pensa em privacidade se vê logo de cara com a pergunta:

- O quê, você tem alguma coisa a esconder?

Aí você vai ter que falar tudo e até mais, porque a pessoa agora quer que você prove que não é um meliante. E pior, nada impede de ser um meliante, a pessoa que te pergunta.

Voltando ao filme.

A história é de um sujeito que ganha a vida fazendo escuta eletrônica para empresas e pessoas físicas. Casos difíceis. Nada a ver com o governo, mas isso só fica claro mais tarde durante a história. O personagem, Caul, interpretado por Gene Hackman, fica com um drama de consciência por não saber o fim para o qual sua escuta será usada. Principalmente porque o contratante resolve não receber pessoalmente a encomenda, regra básica para esse prestador de serviços. Isso gera discussão. E ele acaba tendo sua vida espionada por outras pessoas a quem desconhece.  Meio chato falar de um filme que provavelmente não será encontrado na locadora. Melhor seria falar de "Inimigo do Estado" que versa sobre o mesmo tema, mas com outra história. Mas prefiro usar o filme como esqueleto para comentar o assunto da escuta eletrônica.

A paranóia do personagem aumenta quando, ao sair do escritório do contratante, ele vê no corredor, as pessoas cuja conversa gravou. Chega em casa, outra paranóia. Uma garrafa de vinho de presente, dentro do seu apartamento cheio de trancas e alarmes. Colocada pelo síndico, que tem chave mestra e sabe seu nome, data de nascimento e outros detalhes pessoais, a partir de sua correspondência. Bronqueado, vai visitar a namorada, que faz questão de aproveitar a comemoração dele e perguntar intimidades que ele nunca revelou como local de trabalho, etc.. ou seja, o cineasta vai colocando os repositórios mais comuns de informação sobre a pessoa, o porteiro ou síndico e a namorada do cara.

Em seguida, ele vai para o ambiente de trabalho. O funcionário dele tá curioso para saber qualé a da fita que ele não para de escutar. Ele briga com o cara (que acaba pedindo as contas) mas não fala. Vai para uma convenção de equipamentos de escuta. Lá recebe uma caneta de presente, vê varias demonstrações de aparelhagens (todas agora quase obsoletas) e convida uma moçada (seus concorrentes) para fazer a festa no escritório. É paquerado por uma mulher, é inquerido pelo maior concorrente e é paparicado de forma geral. Mais uma lição:

O ex-funcionário dele resolve expor, no meio da bebedeira, o último trabalho dele. Mostra tanto o perigo do funcionário insatisfeito, quanto o problema de uma festa, onde as pessoas acabam revelando mais do que deveriam por conta da bebida. Outra é o perigo do elogio, a pessoa ficando super feliz com as babaquices que falam dela, abre a guarda. O presente, outro perigo, pois a caneta que ele recebeu de brinde e colocaram na lapela era na verdade um microfone que captou várias conversas íntimas durante o evento. A última lição é o uso de uma mulher, que atiça o cara (afinal, mulher gera maior confiança para várias conversas) e depois da caminha, vai embora com a fita do caso, enquanto ele dorme (outro perigo, falar dormindo, mais uma lição).

O filme tem várias ferramentas de escuta que hoje estão obsoletas porém utilizáveis do mesmo jeito. Um é o microfone acionado a partir de outro telefone. O sujeito telefona para a casa dele, usa uma gaita para produzir um som antes de discar o último número e escuta tudo o que o ricardão e a esposa dele estão falando na sua ausência, sem que o fone da casa nem saia do gancho. Fala alguma coisa de Phone Scramblers, que criptografam a voz, em suma, serve um pouco para ilustrar o assunto. Termina com o sujeito detonando a casa inteira, desmontando móveis e objetos pessoais apenas para se certificar que ninguém está com um microfone escondido na residência. Belo final. O preço da liberdade é a eterna vigilãncia.

A revista VEJA colocou algumas informações interessantes na edição de 5/5/99.  5.000 detetives ou coisa do gênero ou operam no país, fazendo gravações ou escutas para maridos ou esposas com suspeitas de traição, de filhos envolvidos com tóxicos, roubos variados, funcionários disputando um mesmo cargo, advogados querendo saber o que os colegas rivais estão fazendo, etc...  Impressionante a quantidade de sujeito que paga uma grana só pra saber se aquela coceira na testa é impressão.

De acordo com outro texto:

Conjugues se grampeam  direto

Pais grampeiam filhos

Homens de negócios grampeiam sua concorrência

Cientistas grampeiam outros cientistas

Advogados grampeiam outrosa advogados ou clientes

Companias de seguro grampeiam suas vítimas

Vendedores grampeiam clientes

Cobradores grampeiam os caloteiros

Policiais grampeiam suspeitos

Recursos Humanos grampeiam diretores de pessoal

etc, etc..

Situações de alto risco são:

Estar  envolvido em algum escândalo financeiro ou litígio

Foi questionado, preso ou averiguado pela polícia

Está se separando, divorciando ou casando

É alguma autoridade religiosa (padre, pastor, rabino, etc)

Concorre a algum cargo público

É cientista ou executivo de grande empresa

Entrou com algum pedido de benefício da agência de seguro

Se envolveu em passeatas ou atividades políticas

Tá cheio da nota, tá muito influente ou em posição vantajosa..

etc..

Algumas profissões correm mais risco do que outras, mas uma lista que é válida nos EUA não seria válida no Brasil.

De acordo com  a fonte  Vicente Greco Filho para a reportagem da VEJA, qualquer pessoa que gravar a conversa entre duas outras está cometendo um crime, pena de 2 a 4 anos, valendo para gravações não autorizadas.  Se a conversa for gravada por uma das duas pessoas, deixa de ser crime, assim como a gravação policial autorizada pelo juiz e aquela feita dentro de empresas, desde que o funcionário esteja a par (melhor não usar o fone no trabalho). Se a conversa é íntima pode ser crime, mesmo que feita por uma das duas pessoas.

No livro "Diário da CIA", uma leitura antológica naqueles anos de Watergate, guerra fria, espionagem industrial, etc, o autor, ex-espião a serviço do governo americano, retrata seu treinamento e em duas páginas, coloca algo sobre escutas e grampos, violação de correspondência e outras formas de invasão de privacidade. Naquela época, 1960, ainda não haviam os telefones celulares. A escuta era feita principalmente através de troncos de linha telefônica ou microfones ligados por fio até um amplificador e gravador. Fala-se no texto de perfuratrizes especiais, capazes de colocar escutas sem deixar rastros. A abertura de envelopes, usando chapa quente, vapor d'água e outros truques era empregada.

Hoje, existem produtos que podem gravar uma conversa capturando a vibração das vozes contra o vidro das janelas, usando raio laser. Um artigo da 2600 (acho que de apenas 4 ou 5 anos atrás) listava todos os tipos de microfone em andamento, mas não estava com saco de reescrever o material muito menos traduzir.

Existe realmente um grande números desses aparelhos, que são denominados gadgets. Alguns são conectados a linha telefônica, outros são escondidos em aparelhos de tomada, coisa que facilita a fonte de energia, grande problema quando uma escuta é prolongada. O tamanho diminuiu muito. De um abajur a um lâmpada, qualquer objeto pode ter um microfone escondido. Tudo depende da utilidade: um microfone em forma de caneta é ótimo por estar mais próximo da fonte do som, a boca do sujeito. No livro Jogo do Fugitivo, existe a menção de  microfone instalado no ombro, para captar o sujeito que cochicha no ouvido do outro. A utilidade neste caso é usar a gravação como prova. Nos EUA os caras necessariamente não precisam usar escuta, também usam leitura labial nos tribunais.

Eu tenho a teoria que alguns jornalistas de hoje (aqueles que tem o dinheiro para tanto), usam estes tipos de microfone. Em vários casos em que fui entrevistado, nenhuma ou muito pouca anotação  foi  feita. Truman Capote usou o truque de aprender a memorizar longos trechos de conversa e datilografa-los depois, evitando assim dois impecilhos:  o constrangimento que um gravador coloca e o problema de anotar o que o entrevistado fala.

 É bom porém frisar que existem microfones sem fio e os com fio, para complicar um pouco. Os de fio não podem ser detectados por aparelhos especiais.  Em compensação, são vulneráveis a uma busca manual, simples. Melhor dizendo, vamos categorizar:

A espionagem e os arapongas americanos dividem esta m(*) em 4 categorias:

Hard - Quando existe acesso físico a linha de sinal (a linha do telefone). Faz se uma extensão em cima. Bem fácil de descobrir.

Soft - Via software. O tipo que o FBI está fazendo nos EUA e ACHO, estão fazendo no Peru e TALVEZ no resto do mundo. Feito a partir da Central Telefônica. Fácil de achar num PBX.

OBs: Nos tempos da antiga Telesp tinha rolado uma espécie de escândalo, parece que os funcionários encarregados da fiação tavam (naquela época) recebendo uma nota de detetives caça-ricardão para fazer escuta direto na fiação que corre por debaixo da rua. A coisa chegou a ser bem séria porque uma vez teve uma mulher que teve a conversa dela com o noivo (bem íntima, demaiiiiiis) transmitida por rádio FM. Infelizmente não tenho o jornal nem a data em que aconteceu este escândalo. Juro que li. Por alguma razão a mulher não aceitou uma troca de linha. O defeito nunca foi explicado.

Escuta de gravador -  apenas um cassete ligado ao tronco ou ramal, fácil de achar e depende de trocas regulares de fitas.

Escuta de transmissor - igual a anterior mas com um transmissor de ondas curtas conectado ao fio. Na verdade tem gente que usa fone sem fio (cordless phone) e nem desconfia que o vizinho pode ouvir toda sua conversa.

 

Quando desconfiar que tem "boi na linha"?

1- Tem gente que conhece seus segredos e acaba mostrando de forma sutil

2- Encontros secretos não parecem tão secretos

3- As pessoas parecem saber suas atividades quando não deveriam

4- Estranhos ruídos no telefone tipo aumento ou diminuição do volume, sem razão.

5- Estática ou interferência nas linhas telefônicas.

6- Escuta de sons do seu telefone quando está fora do gancho.

7- Seu fone sempre toca e ninguém está lá, ou um tom estranho ou bip

8- Seu rádio toca uma interferência estranha

9- Sua TV ou rádio pega interferência estranha no UHF.

10- Foi vítima de assalto, mas nada foi levado

11- O "espelho" do interruptor de luz foi mudado ligeiramente ou estragado (lugar bom pra bugs).

12- Cor estranha, do tamanho de uma moeda ou menor aparece na parede (câmera)

13- Kombi da empresa telefônica ficando direto na vizinhança.

14- Técnicos da telefônica aparecem sem serem chamados

15- Caminhões estranhos ficam estacionados perto de casa sem ninguém dentro

16- "Estranhamento" quanto ao funcionamento de fechaduras

17- Movimento dos móveis para fora do lugar sem ninguém saber o porquê

18- Coisas aparecendo do nada no seu escritório ou casa, sem ninguém saber como chegaram lá..

19- Presentinho tipo caneta, despertador, TV, (15% deles são batizados com alguma coisa dentro).

O que fazer se você descobrir que foi grampeado?

A primeira coisa é se perguntar antes de sair procurando.

 SE você resolver tomar uma atitude a respeito e pegar em flagrante o araponga, vai ter que bancar um ator profissional e não é fácil. Conseguir fazer isso é ser mais safado do que as pessoas que te colocaram o lance.

SE não tomar nenhuma, faça pelo menos um escândalo,  por um tempo ficará seguro. Depois quem sabe..

De resto:

Não pergunte aos outros, eles podem avisar ao cara que colocou. Não discuta isso com ninguém que possa estar conectado ao assunto. Se o dono da escuta ficar sabendo, pode tirar o aparelho e recolocar quando a poeira abaixar. Maneira o que vai dizer no local suspeito ou perto dele (de fato, qualquer lugar de uso cotidiano passa a ser suspeito) onde haja chance de ser escutado. Nunca use o telefone próprio do local e menos ainda pense num celular.  Usar o fone de casa também é bobagem. Principalmente se vai chamar algum perito no assunto.

Pra finalizar, uma daquelas lendas árabes (ou indianas):

Um dia, o rico mercador foi chamado pelo seu empregado mais antigo que queria conversar "em particular", imediatamente. Dito e feito, contou que acabara de surpreender a esposa deste com um amante e que esta, ao ve-lo escondera o rapaz dentro de um baú enorme e forte do qual só ela tinha a chave. Colocados os três numa sala, a esposa negou tanto ter a chave quanto o fato de que havia traído. Que fazer, pensou o mercador?  De um lado, o empregado que durante tantos anos era fiel e obediente. Do outro, a esposa, dona do lar, patroa, mãe dos filhos dele. Será que a palavra de um servo fiel vale mais do que a do conjuge? Pensando bem.

Duvidar da palavra do empregado e não abrir o baú  seria  perder sua confiança. Se o patrão não confia nele porque haveria de preveni-lo no futuro em outro assunto de importãncia?

Abrir o baú seria duvidar da palavra da esposa e também perder uma ótima conjuge, dona de casa, etc tanto no caso de haver um ricardão lá dentro como no caso contrário.

Se o empregado não estiver mentindo, beleza, o empregado pode servir fielmente ainda muitos anos.  Mas se separar da mulher vai dar um trabalho enorme, os filhos não vão aplaudir a decisão e a futura esposa terá mais medo do empregado do que do marido.

O mercador ficou um dia inteiro olhando para o baú, se iria ou não abri-lo. Depois chamou homens fortes e com a ajuda deles carregou a peça para uma trilha dentro da floresta. Chegando numa clareira, ordenou que abrissem um buraco profundo, no qual enterrou o baú. Sem o abrir. Encerrou o problema.

 

Bibliografia:

AGEE, Philip; Diário da CIA

Revista VEJA  5/5/99

http://www.tscm.com/behavior.html

http://www.tscm.com/typebug.html

http://www.tscm.com/outsideplant.html

http://www.dark-secrets.com/anarchy/files/riflemic.html

http://www.textfiles.com/anarchy/sanbug1san.ana

http://hem2.passagen.se/sm0vpo/tx/bug.htm

http://anansi.panix.com/clay/scanning/frequencies/band-plans.shtml

http://www2.micro-net.com/~toady/hackman/conversation.html http://hem2.passagen.se/sm0vpo/tx/bug.htm

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