Batalha pela Mente: Lavagem Cerebral

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Batalha pela Mente: Lavagem Cerebral

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Derneval R.R. da Cunha

As pessoas que foram assistir o filme "Teoria da Conspiração", entrando em cartaz recentemente, podem pensar algumas das seguintes idéias:

É, a coisa pode ser engraçada. Para quem não viu o filme, vou resumir um pouco. O personagem interpretado por Mel Gibson é um cidadão comum ou coisa do gênero que tem como hobby ler jornais em busca das "entrelinhas" de cada coisa e procura editar essas entrelinhas num "fanzine" ou "pasquim" que leva o nome de "Teoria da Conspiração". O grande amor da vida dele é uma funcionária do governo e por aí vai. A vida do sujeito é dirigir o taxi dele, editar o fanzine, distribui-lo e ficar de olho no "grande amor da vida dele". Literalmente de olho. Ou como diria alguém, praticando a "substituição do sexo pela contemplação passiva da folha da alcachofra"(Luiz F.Veríssimo?). Até acontecer uma série de coisas estranhas na vida do cara. Ele está sendo perseguido. Ninguém acredita na história dele, porque ele vive inventando histórias. Coisa mais ou menos nessa linha abaixo:

É um filme movimentado. O motivo central para se acreditar, para se entender a coisa toda, é um lance que parece realmente história de cinema e no entanto, já foi comprovada na vida, chamada lavagem cerebral.

O termo foi criado mais ou menos na época da Guerra da Coréia, quando se constatou vários casos de militares norte-americanos que colaboraram com o inimigo, chegando mesmo ao ponto de virarem a casaca e não quererem mais voltar para casa, quando a guerra acabou. Uma coisa meio assustadora, quando se pensa nisso. Há quem duvide. A coisa ficou meio no esquecimento, até que vieram os 60 e 70. Houve o caso Patricia Hearst, que até já virou filme, a história de uma estudante (filha de um super-empresário da imprensa americana, o Chatô de lá, que também foi retratado no filme "Cidadão Kane" altamente recomendável). Essa menina estava noiva, ia se casar, foi sequetrada por um grupo de guerrilha urbana, chamado Exército Simbionês de Libertação. Alguns meses depois, a "patricinha" apareceu em todos os jornais, não mais como vítima, mas como nova integrante do tal "exército". Como se explica tal metamorfose, de "loira burra" a guerrilheira urbana?  Ou como seu pai disse, na época:

"Nós a tivemos durante vinte anos. Eles a têm há apenas 60 dias. Não acredito que possa ter mudado sua filosofia tão rapidamente - e muito menos para sempre". .

Aqueles que assistiram o filme "Nascido para Matar" tem uma idéia do que o processo de pegar um indivíduo qualquer e transforma-lo numa máquina de guerra. Não basta colocar uma arma na mão de um sujeito. Como é que você pode pegar um sujeito qualquer, força-lo a deixar a convivência da sua família, ir morar num local junto com sei lá quantos, acabar com a liberdade dele, etc, e ainda esperar que esse cara vá arriscar a própria vida para que você fique seguro em sua casa, seu trabalho, etc.. Pior ainda, como esperar que ele não se revolte e mate o superior dele? Elementar, você cria um programa de treinamento chamado Serviço Militar. Quem participa constata que, depois de alguns meses, até se acostuma e depois inclusive acha graça na vida de militar. Já vi muitos terem orgulho de ter participado, mesmo lembrando que antes não queriam coisa alguma lá dentro. Coisa estranha, a pessoa mudar assim da água pro vinho.. acontece.

Mas não é só o Exército que consegue transformar a pessoa. Alguns cultos religiosos também são acusados de tais práticas, de reduzir seus seguidores a meros robôs, capazes inclusive de matar, como mostra o caso de Lynete (vide mais adiante) que tentou anos atrás matar o então presidente Gerald Ford ou o caso doa seita Ensino da Verdade Suprema, criada pelo guru Shoko Asahara e que causou um atentado terrorista com gás Sarin, no metrô de Tóquio, em março de 95.

O melhor porém é pegar um texto que explica um pouco mais, como funciona nossa cabeça, nesses casos. Com a palavra, Timothy Leary:

(...) Entre sua detenção por apontar uma arma contra Gerald Ford, em setembro, de 1975, e sua condenação, em novembro deste ano , Lynette "Squeaky" Fromme não fez nada para ajudar sua defesa e fez de tudo para divulgar a filosofia de Charles Mason - o cabeça do grupo que em agosto de 1969 chacinou a atriz Sharon Tate e mais três pessoas com requintes de extrema crueldade. Lynette se orgulhava de ter sido a primeira mulher a ser admitida na "família" Mason, de quem recebera uma intensa lavagem cerebral. E , durante o julgamento, não houve palavra do juiz ou mesmo do seu próprio advogado que a fizesse se dar conta de sua situação legal. O que lhr interessava era tão somente o fato de ter atraído a atenção dos meios de divulgação para propagar a ideologia de Mason

* * * * *

Não nada que indique nenhuma fraqueza especial por parte de Patty, Rusty ou Squeaky. Os três eram americanos bastante normais até que penetraram nos ambientes do Exército Simbionês de Libertação, do Exército americano e da família Mason, respectivamente. E é essa a primeira lição que temos que aprender: a lavagem cerebral, como a malária, é uma doença que se pega por contágio.

Claro, o conceito de "lavagem cerebral", nada tem de científico. Afinal, o cérebro não é uma coisa suja, que possa ser lavada, mas sim um computador bio-elétrico, com mais de trinta bilhões de células nervosas capazes de realizar 102 783 000 interconexões, número esse superior ao total de estrede estrelas do universo.

Tanto quanto o sistema nervoso é o resto do nosso corpo , o cérebro é projetado e programado pelo código genético : somos formados por DNA para produzir mais DNA. Em outras palavras, por mais que isso choque os teólogos e os humanistas, somos todos robos neurogênicos, uma condição da qual não poderemos escapar enquanto não aprendermos a dominar o nosso sistema nervoso de forma a reprogramar nossos destinos.

Um exemplo da progrmação cerebral foi levantado a partir de uma girafa récem-nascida cuja mãe foi abatida por um caçador. A girafinha -de acordo com sua programação genética - se fixou no primeiro objeto que se movia ao seu redor, o jipe do caçador, seguindo-o, tentando mamar nele - isto é, identificando-o com a sua mãe.

Essa mesma fixação - ou imprint - a um objeto externo também acontece com seres humanos. No caso em quatro etapas.

1. O circuito de bio-sobrevivência infantil, ou consciência, que lida com os sinais de perigo-e-segurança.

2. O circuito da criança mais velha, ou ego, ligado ao movimento e a emoção.

3. O circuito simbólico-verbal do estudante, ou mente relacionado com a linguagem e o conhecimento.

4. O circuito sócio-sexual do adulto, ou personalidade, ligado, ou personalidade, ligado ao comportamento.

Esses quatro circuitos são os quatro "cérebros" cujos os conteúdos são progressivamente apagados e reimpressos durante o processo mecanicamente simples da lavagem cerebral.

O primeiro circuito, ou cérebro da bio-sobrevivência, é ativado assim que se nasce. Sua função é a de buscar alimento, ar, calor e conforto, rejeitando o que quer que signifique perigo, impureza, ameaça. Esse trabalho é centrado em torno da presença da mãe - ou de qualquer coisa que venha a substituí-la., como o caso da girafinha.

Durante toda a vida, quando o cérebro da bio-sobrevivência detecta perigo, todas as demais atividades mentais cessam. Esse conceito é fundamental para a programação cerebral. Para que se crie um novo imprint, é preciso, inicialmente, reduzir-se o paciente a um estado infantil, isto é, vulnerável em seu primeiro cérebro. Nesse processo, o paso incial consiste no isolamento da vítima, de preferência num ambiente pequeno onde não atuem as técnicas mentais que originalmente cuidavam da sobrevivência do recluso. Na verdade bastam poucas horas até que a ansiedade se manifeste no detido, e só alguns dias para que surjam as alucinações, um sinal claro de que a vítima está pronta para receber o imprint de um novo objeto maternal. Para um prisioneiro humano. Qualquer bípede que lhe trouxer comida será aceito como uma nova mãe.

No caso do filme "Teoria da Conspiração", do qual falamos no início do artigo, a coisa vai um pouco mais além, que é onde começa a ficar realmente inacreditável, principalmente por quem não teve acesso ao tipo de informações que a imprensa trouxe ao público, durante o tempo em que nosso país se encontrava sob censura. Por outro lado, com tanta informação disponível, não é um assunto em voga hoje, como já foi em outras épocas. Um livro que ajuda a entender melhor o filme (não vou contar, óbvio) é "A Programação de Candy Jones" de Donald Bain. Nele, a coisa é um pouco mais assustadora. A CIA teria criado um programa de estudos com drogras alteradoras da mente, com o intuito de verificar seu potencial para manipular pessoas. Isso é um fato, não é ficção. Quando um sujeito, que recebeu LSD sem ser avisado, pulou do alto de um prédio, a coisa veio a público e em 1973, todo o material que tinha sido produzido foi destruído.

Mas veja como a coisa pode ser complexa: todo mundo que já saiu pelos "bares da vida" tem alguma história de bêbado pra contar. Quer um exemplo maior, pensem na história da finada Rê Bordosa, personagem do Angeli. Basicamente uma mulher que bebia alguns copos de bebida e acordava no dia seguinte na banheira, sem saber o que tinha feito. Na vida real, há pessoas sob ação do álcool que funcionam desse jeito. Bebem, sofrem uma metamorfose total e depois quando acordam, não se lembram mais. Amnésia (e ressaca).  Só pra se ter uma idéia, no código penal (ou processo penal, eu li, tá num desses dois) tá lá uma legislação qualquer que "exime de culpa o crime cometido sob influência do álcool". Não sei até que ponto funciona, é bom procurar um advogado pra checar isso, faz algum tempo que li e não sou expert no assunto. Pelo menos o que li seria que assim como "razão de insanidade", "embriaguês" poderia em casos bem específicos, inocentar a pessoa.

Claro que a idéia da CIA não era de embebedar o cara e mandar bancar o James Bond por aí. Não. No livro que mencionei acima, a idéia era pegar um cidadão específico, no caso foi usada como cobaia uma radialista americana, uma Leila Cordeiro  ou Bruna Lombardi, sei lá (traduzindo aquela época pra hoje) que era bastante suscetível a hipnotismo e que tinha tido episódios de mudança de personalidade na infãncia. Através do uso de drogas específicas, uma sub-seção da CIA trabalhou com essa mulher e .. conseguiu fazer aparecer as personalidades "adormecidas" no fundo da cabeça dela. No final de cada sessão de "terapia", mandavam ela se esquecer de tudo. Olha a vantagem da coisa: já foi super explorado no cinema a história de pessoas com múltiplas personalidades. Agora imagina uma pessoa que alterna uma personalidade completamente inocente do mundo, tipo loira burra, com a de uma agente secreto treinado para desempenhar missões. Pois é, cada sessão, dopavam a mulher de forma a aparecer aquela personalidade que era mais agressiva, menos carinhosa, mais desumana, bem tipo mãe de namorada quando vira "sogra".

É, isso parece coisa de história em quadrinhos. Até hoje não tenho muita certeza se acredito, mesmo o livro mostrando fotos e documentos sobre como a coisa aconteceu. (Tem até uma bibliografia na rede, como por exemplo: Martin A.Lee, Bruce Shlain ACID DREAMS -- The Complete Social History of LSD: The CIA, the Sixties, and Beyond) .  Aí outro dia li uns papéis na rede sobre cultos que praticam a lavagem cerebral e o fato é que a grande maioria dos jovens que passam por uma coisa dessas, também não acreditam que o que aconteceu com eles foi uma coisa maléfica ou que era uma experiência pela qual eles não queriam passar. Na verdade, existe um trabalho científico, feito com estudantes e gente comum, lá nos EUA, foi até publicado no Brasil, sobre essa questão de como é fácil convencer alguém a seguir ordens inclusive ordens que signifiquem a morte de outra pessoa, se um "motivo correto" for apresentado.

Chamaram duas equipes de estudantes, uma, que sabia o que estava sendo feito, era composta de gente de arte dramática. A outra, gente escolhida mais ou menos aleatoriamente. O cara entrava numa sala e via um interruptor que dava choques em uma pessoa do outro lado de uma parede de vidro espelhado, tipo óculos ray-ban. O estudante recebia a ordem de dar choques na "vítima", de acordo com as ordens do "professor". A idéia era ver até ponto o estudante aceitava continuar eletrocutando a "vítima" (que era estudante de arte dramática e não sofria porcaria nenhuma, só fingia e implorava pra não continuarem os choques). Se o estudante protestava, o "professor" insistia que era necessário aumentar a dose do choque. Vários continuaram com a experiência até "matarem"  a vítima. Poucos, bem poucos, se revoltaram e decidiram não continuar e por assim dizer, fizeram algo próximo de mandar o "professor"  à merda.

Voltando ao Timothy Leary:

"O trabalho de lavagem cerebral é relativamente simples, consistindo basicamente na troca de alguns circuitos robóticos por outros. Assim que a vítima passa a encarar o reprogramador como a criança encara seus pais - fornecedores de segurança vital e de apoio para o ego - qualquer nova ideologia pode ser inculcada no cérebro."

"Durante o estágio de vulnerabilidade, qualquer pessoa pode ser convertida a qualquer sistema de valores. Facilmente podemos ser induzidos a entoar "Hare Krishna, Hare Krishna" como "Jesus morreu por nós", ou a bradar "abaixo o Vaticano", aceitando plenamente as ideologias que estão por trás desses temas. O passo seguinte, na lavagem cerebral, consistirá em nos convencer de que qualquer pessoa que não partilhe dos nossos novos valores será sempre débil, estúpida ou louca".

"Para reforçar os valores da nova realidade recém-incorporada, é preciso que haja uma realimentação das novas coordenadas que nos estão sendo impostas. A grande ironia é que o nosso conceito de realidade é tão frágil que pode se desfazer em apenas alguns dias, caso não tenhamos constantes mensagens que nos reafirmem quem somos e que a nossa realidade continua existindo".

"Bem a propósito, o Exército constrói uma "ilha" totalmente militarizada para os seus efetivos. E ilhas similares são erigidas por qualquer outro movimento que implique numa lavagem cerebral, seja ele político, místico ou esotérico."

No exército, a preocupação, ao contrário do que possa parecer num filme de Rambo, não é ensinar a matar, nem a sobreviver na selva, muito menos lavar as latrinas. Isso é consequência. A preocupação básica, razão de ser do militar é defender a pátria e os cidadãos. Para isso, ele precisa aprender a cumprir ordens. Aí é que mora o perigo. Tudo é feito para que o "reco" (soldado é só depois do treinamento básico) não precise pensar, só obedecer. Tem muito filme por aí, alguns até folclóricos (o diretor contando a maravilha do serviço militar no tempo dele) sobre esse lance então nem vou comentar muito.  Hoje em dia, o exército brasileiro não representa o mesmo perigo que representava na minha juventude, quando tinha pais que chegavam no dia do exame médico do filho e insistiam para que ele fosse escolhido para servir. Só quem faz medicina é que tá obrigado a fazer sem chance de escapar com facilidade.

Mais fácil de acontecer é cair numa seita mística. São muitas as razões para isso. O sujeito vai estudar ou trabalhar fora, longe da cidade dele. Não conhece ninguém. Uma seita mística é uma forma de se enturmar, conhecer gente interessante. De repente, é um universo diferente, onde tudo parece ser mais fácil. Ninguém fala em morte, assalto, falta de dinheiro. Fala-se apenas em fé e falta de fé. E o mais incrível, são pessoas que escutam quando você tem um problema, ajudam ou tentam te ajudar quando você está sem grana. Claro, têm alguns princípios que você tem que aceitar. Dormir, por exemplo, não pode. Fechou os olhos um pouquinho, tem que escutar "até quando, dorminhoco, vais continuar dormindo, isso está aqui na Bíblia, vai negar a palavra de Deus, está perdendo a fé?". Também não pode conversar em outra coisa que não seja a palavra de Deus, a salvação, a possibilidade de um dia ser elevado a condição de chefe de grupo (coisa que nunca acontece) e .. arrumar algumas contribuições para engrandecer o trabalho de Deus aqui na Terra, trabalhando tanto para mostrar a devoção como para preparar o espírito para o apocalípse, onde só os dignos serão salvos. Claro, masturbação é pecado. A própria pessoa fica com vergonha de tocar o próprio corpo. Homens só conversam com homens e mulheres só conversam com mulheres. Conversei com ex-convertidos. Um pessoal legal. Um deles me entregou um livro chamado: "Os guerreiros da virgem" de José Antônio Pedriali.  Conta toda essa trajetória de um rapaz que achava que sua missão na Terra era salvar o mundo do diabo. Deve ser algo irresistível, ir atrás da salvação do mundo. Tem um outro livro que está proibido, mas volta e meia recebo notícia dele existindo na internet, escrito por um pastor de uma igreja aí: "Os Bastidores do Reino". No  http://www.clark.net/pub/times9/brainwsh.html tem algumas das técnicas usadas. O resultado pode ser devastador.(ver também  http://www.inlink.com/~dhchase/books2.htm).

Um amigo me contou, num email, muito tempo atrás, sob o trabalho de um culto místico na cidade dele. Primeiro, apareceram uns caras com idéias de bate-papos religiosos e esotéricos, andando vestidos de forma bem austera e não ficavam nem bebendo nem jogando. Os pais de família não falam nada contra, nem tem porquê, no início. A mudança parece até boa, não parece que o garoto está mexendo com drogas, parou de ouvir música alta, não pede mais o carro emprestado. Fica só curtindo religião. Aí o comodismo começa a se transformar em dúvida. "Será que meu filho vai virar padre?" Só quando finalmente toma coragem e chama o filho para a conversa, descobre que é ouvido. E não tem problema. Acha que o culto tá amadurecendo o cara. A mãe nem reconhece mais. Aí chega o ponto em que o culto começa a avisar o novo membro que a família está influenciada pelo demônio e é necessário morar um tempo fora, mais perto da fé que ele está abraçando, para aprender a se defender. Afinal de contas, muitas cabeças juntas oram pela salvação bem melhor do que uma. Lá na sede, batalharão por um mundo livre de más influências. Os caras que saem da cidade desse jeito, disse meu amigo, nenhum volta. Um, porque é uma aventura sair da cidade onde se morou a vida e toda. Outra, porque voltar é sempre mais difícil. Lendo pela rede vi uns papers assustadores.

A pessoa demora a se acostumar com a idéia de que dedicou tanto sentimento e louvor á toa.. Existem alguns cultos que contam com grupos de auto-ajuda, semelhantes a Alcóolicos Anônimos, para dar apoio moral aos que estão dando o difícil passo de cair fora de uma coisa que já deu o que tinha que dar. Tem que ter ajuda senão o cara volta, porque o vazio emocional é muito grande. Aí já não é mais de querer ter fé, é de não saber ter vida fora do culto. A vítima precisa passar por um processo de de programação em que TUDO na vida tem que ser revisto. Nem todo mundo consegue se libertar da idéia de que o mundo não é cor-de-rosa. Vi um filme na TV em que a família teve que contratar  um cara pra sequestrar e iniciar o processo de "abrir a cabeça do garoto".  Na vida real, o que normalmente acontece nesses grupos de ajuda é que a família consegue convencer o sujeito a ir em um território neutro e um ex-praticante do culto fica horas e horas revelando os podres que o outro ainda não consegue ver. Acredito que esse tipo de coisa até funcione. Já vi um crente conversar horas com um bêbado defendendo seu culto. Se pudesse conversar com alguém que já passou por todo o processo e pulou a cerca pra fora, talvez tenha efeito. O mais incrível é que as pessoas não fazem propaganda disso. Medo de represálias.

O mundo moderno está ficando muito assustador, impessoal. No Japão, onde aconteceu aquele caso da tal seita, esses cultos novos representam uma forma de vida alternativa. Todo ano, 1400 cultos aparecem. E 1400 cultos também desaparecem. Gente que sai de uma seita que oferece a salvação e vai para outra seita de salvação. Salvação, no caso, é porque a maioria delas prega que o mundo vai acabar e que só os "escolhidos" daquela seita específica, serão salvos. A coisa lá (e talvez não só lá, na Califórnia, EUA, tem seita pregando até que o mundo foi feito por computadores) está chegando talvez nesse ponto da historinha abaixo:

Joe Existencial tava experimentando outras de suas crises intelectuais:

- Puxa, eu simplesmente não sei em que acreditar..

Aí chega o cara pra ele, cheio de livros:

- Pô, Joe! Sem grilo. Todas essas confusões e dúvidas ínternas estão magicamente resolvidas graças a minha empresa "Crença Comigo". YEEEEeeeees! Praque gastar anos e anos pastando pelo processo de pesquisa e pensamento dos tópicos por você mesmo. Simplesmente escolha qualquer um dos nossos sistemas pré-racionalizados de crença e então conforme-se a ele para o resto da vida!!

- E mais! Sem custo adicional, nós mostramos a você como evitar deixar que novos "fatos" entrem na sua cabeça, assegurando então que nada atrapalhe sua recém-descoberta ilusão de segurança mental.

Joe então pensa um pouco:

- Mas, mas, e se minhas crenças estiverem erradas??

O carinha responde:

- Esta é a beleza da coisa, homem. Você seria o último a saber. Mesmo, MESMO, se estivessem erradas ...

Moral da historinha: "Ah, o cérebro humano funciona que é uma beleeeeza".

(Historinha retirada de uma tira chamada Twisted Image - Ace Backwords)

Lavagem Cerebral não é apenas um conceito usado para definir tais extremas mudanças de comportamento. O próprio processo de evolução de uma pessoa ao longo da vida é uma lavagem cerebral. Quando se torna adolescente, tem brincadeiras que se abandona, porque "são coisas de criança". Quando se vira adulto, se abandona "coisas de adolescente rebelde". Quando se casa, se abandona "hábitos de solteiro irresponsável". Ninguém sabe porque, mas para você participar de um novo grupo, classe social ou mesmo viver com gente de outro estado que não o seu tem que adotar novos códigos de conduta que não são os nossos. Um exemplo muito bom está ilustrado no filme "o homem que virou suco", relatando a história de um nordestino que foi engolido pela cidade grande, na verdade um crônica social comentando o fato de que o sujeito que emigra para São Paulo, tem que esvaziar a bagagem de toda uma cultura riquíssima de comportamento e absorver outra, completamente estranha e diferente, onde valentia e solidariedade, por exemplo, contam menos. Recentemente saiu uma matéria na TV comentando que tem agência de empregos que só contrata empregada doméstica se for de Minas Gerais ou interior de São Paulo. Nordeste, só se for de determinada religião.

As pessoas não param  pra pensar nisso, mas cada revolução é uma nova "lavagem cerebral". Quando houve a tal revolução sexual que não foi nada mais nada menos de se poder falar em namorar uma mulher sem intenção de casar, isso foi difícil para muita gente. Quando aconteceu a Aids, foi bem mais difícil ainda. Muito adolescente não queria acreditar que na vez dele, o sexo estava de novo, proibido. Ou restrito. Para as mulheres, foi legal, porque antes da revolução sexual não podiam transar a não ser com os maridos. Por outro lado, depois o difícil era casar. Com a Aids, elas puderam voltar a pensar em casamento e não sustentar a coisa só com sexo. É algo a se pensar. Atualmente a pessoa é obrigada a administrar essa "lavagem cerebral", que é acompanhar o mundo a sua volta. Antes que uma nova revolução ocorra, a pessoa já tem que se preparar para uma futura adaptação e já não estou falando mais de sexo ou de novo tipo de computador. Só que o nome virou "reciclagem". A pessoa precisa ter um tempo para parar e absorver todos os hábitos novos que estão rolando. A parte mais chata é que é difícil resistir a esse tipo de coisa. Tem gente que só conversa realmente quando está na frente de um computador, através do CHAT ou TALK. Há alguns anos atrás, quem comprou videogame pros filhos ficou condenado a não entender uma parte do universo deles. Se você não tem um assunto em comum, não tem diálogo. Fica difícil até fazer parte de um grupo. O pior é que novos grupos surgem, com novas opções de diálogo. É difícil, mas cada um precisa parar e pensar da mesma forma que assume um personagem no universo virtual, qual personagem no  universo real  ela consegue viver.

 (1) General Belfort Bethlem, comandante (na época) do 3o Exército, depois Ministro do Exército - Jornal O Estado de São Paulo, 3.7.1977 p.35 (2) General Mílton Tavares de Souza, Jornal do Brasil 3.10.1976 p.30 (3) Tenente-Coronel Carlos de Oliveira, Jornal do Brasil, 19.11.1975 (4) Deputado José Bonifácio, líder do governo jornal Folha de São Paulo, 22.5.1977 (4) General Borges Fortes na época chefe do Estado Maior do Exército brasileiro, Jornal O Estado de São Paulo, 9.9.1973 p.18

a, Jornal do Brasil 3.10.1976 p.30 (3) Tenente-Coronel Carlos de Oliveira, Jornal do Brasil, 19.11.1975 (4) Deputado José Bonifácio, líder do governo jornal Folha de São Paulo, 22.5.1977 (4) General Borges Fortes na época chefe do Estado Maior do Exército brasileiro, Jornal O Estado de São Paulo, 9.9.1973 p.18