A ARTE DA SEPARAÇÃO

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A ARTE DA SEPARAÇÃO

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Derneval R.R. Cunha

Introdução: O assunto dispensa introdução. Mas como cedo ou tarde algum chato aparece para perguntar do que estou falando, ai vai. Trata-se de um apanhado de idéias, teorias, besteiras e histórias sobre aquele negócio muito famoso no qual onde uma parte entra com o traseiro e a sua outra entra com o pé. Bastante engraçado, quando não é com a gente. A pessoa atingida fica algum tempo se perguntando:

- Porquê eu, o que foi que eu fiz para merecer isto?

Tá meio esotérico, né? Vamos a uma história mais fácil de entender. Baseada em fatos reais. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas pode ou não ter nada a ver.

Início: Romeu era um cara extremamente simples, estudante de graduação de uma universidade pública qualquer. Sem família, morava numa república estudantil. Estava no final do curso de História (ou era Física, sei lá, imagina um curso desses aí). E ainda não tinha arrumado namorada. Apenas um ou outro caso amoroso. Não que fosse horrível, lembrava vagamente um astro da MPB, de longe. Olhos claros. Mas a verdade é que não era lá bom conquistador. Testemunhas afirmam: ele tentou usar a carteirinha da faculdade para impressionar/conquistar meninas num baile da periferia (tá pensando o quê, tô me formando, sou inteligente). Tentou correio elegante, tentou festas, amigos tentaram apresentar pessoas que estivessem sozinhas. Claro que não era alguém inexperiente. Mas estava só. Triste. E quase fechando as últimas matérias no curso.

Alguém chamou ele na portaria do prédio e foi aí que tudo começou. Aquela mulher estava começando o curso em São Paulo e precisava de um lugar para morar. Ele não ficou sabendo isso porquê ambos se conheciam. Ele ouviu o papo dela com outra pessoa e resolveu entrar no assunto. Convidou-a para o ir no apartamento. Sentiu um clima. Os colegas chegaram. Ninguém gostou dela. De imediato. Foi chato. Foi difícil. Mas era um socialista convicto e conseguiu fazer (a custa de ameaças e alguns acordos) que os companheiros se solidarizassem com a companheira que vinha estudar na universidade, sem recursos, sozinha e abandonada na cidade grande (na verdade, ela tava é querendo economizar o dinheiro que os pais mandavam pra fazer um curso de inglês).

Conto os detalhes? Já comecei mesmo e serve de (mau) exemplo..

RELEMBRANDO UM PASSADO (de outra pessoa)

O sujeito vivia então nas nuvens. Já bastante vivida, uma devoradora de homens que se arrependeu das baladas e agora ele a razão da vida dela. Para ele, a mulher era um anjo. O cara até lavava as calcinhas dela. E com orgulho. Acabou terminando o curso, entrou no mestrado (ela ajudou ele a estudar inglês pra prova de proficiência em língua estrangeira). Só um probleminha, ela reclamava muito de morar na república. Tudo bem. Beijinho aqui, beijinho ali, foram morar num apartamento alugado. Que não satisfez a menina. Tá bom, montaram uma república com um gay. O sujeito odiava gays mas tudo pela menina. A grana da bolsa financiava o estilo de vida.

Só que a menina começou a mudar. Resolveu gastar. Pior, começou a querer sair nas baladas e arrumar amigos gays. Nesta hora, talvez o cara devesse ter dado um basta. Mas não conseguia. Iam para boites gays e ele ficava do lado de fora, esperando. Até que a bolsa acabou não dando conta das despesas. A pesquisa ficou atrasada. Eles se mudaram de cidade, para ver se a coisa melhorava. Até melhorou as finanças. Mas não o relacionamento. A vida virou um tédio. A mulher continuava saindo com amigos gays, ele ficava em casa. Já não transavam. A família da mulher ficava tirando sarro da cara dele direto. Ele firme. Até o dia em que o pé na bunda veio.

Consumindo tranquilizantes ele já estava. Só que estava com a pós-graduação atrasada (sem ela não sabia nem mexer em computador) e sem dinheiro nem para mudar de volta para São Paulo. Cheio de dívidas que a esposa (esqueci de dizer, tinham se casado) tinha feito. Pior de tudo, o lugar onde estava agora era um porre de se morar e.. tinha família, tinha nada. Perdido. Abandonado. E com os credores começando a aparecer.

Hoje o cara está por aí, reclamando da vida. Tudo porquê não soube escolher. Que que a história dele tem a ver com a separação? Bom, quando vc se separa, vc conta a história pra todo mundo. Até pra mim ele contou. Alguns sentem pena. Outros sei lá.

RELEMBRAR NÃO É VIVER

Para mim a história dele é educativa. Todo mundo avisou que a mulher em questão não prestava. O melhor aviso foi quando o malandro do apartamento (o que mais atrasava o aluguel) olhou para ela e ela olhou para ele. Pintou clima negativo de cara. Se odiaram sem trocar um pio. O cara foi na cartomante, a cartomante não conhecia os dois mas falou que o relacionamento ia pro saco. Por último, ele próprio sabia que era uma caçadora de homens, ela falou. Mas ele teimava em acreditar que era o ponto final na vida dela. Bom, deixa pra lá o cara. Nem precisava gastar tempo escrevendo, bastava o leitor deixar nome, email ou telefone (aceitando chamada a cobrar, claro) e poderia ouvir essa história da boca dele, com muito mais detalhes. Haja ouvido.

Essa parte de explicar para todo mundo, colecionar histórias de separação de outras pessoas, vira uma fixação. Se fosse só contar que é um coitado, tudo bem, mas normalmente ainda tem outras coisas.

Humilhação e dor de cotovelo

Até no Kama Sutra tem info sobre largar outra pessoa. Incrível como o homem já desceu na lua, enviou sondas para Marte mas um livrinho desses não perde a atualidade. De acordo com Vatsyayana, a cortesã pode primeiro tornar-se insuportável (reclama de tudo), depois torna-se difícil de administrar (tipo incontrolável), dispendiosa (gasta tudo) e por aí vai. Então, só para dar uma idéia do que pode ser uma mulher te mandando embora:

O último passo é dizer claramente que acabou (fazer o quê, o cara não se toca, né). Só que.. existe o problema da outra parte entender a mensagem (mesmo quando tá escrito num cartaz com letras em neon piscando). Fica sempre a idéia de que tudo é passageiro e vai voltar a ser o que era. E a pessoa, por não arcar com a idéia do fim da relação, arca com um monte de torturas achando que está lutando pela relação. Mas são humilhações que tornarão a separação ainda mais difícil. No caso da outra parte ser muher, é dose porquê detona a auto-estima dela não tomar a decisão da separação.

Fetiches

Há vários. Desde a música da primeira vez que estão juntos, a coisa de lembrar aquele momento, aqueles sucessos, aquele olhar. Tem uns loucos que até tatuaram o nome da pessoa. Até o sutiã da menina vira algo importante. O ideal é jogar fora tudo o que lembra alguma coisa, porquê fica mais difícil administrar tanta coisa. Ficar como tudo começou e se desenvolveu é muito legal quando se vai escrever um livro. Mas não ajuda a encarar a realidade. A pior parte é planejar uma última vez juntos, como se fosse realmente importante. Claro que há a questão de lembrar o que se investiu, que fez isso ou fez aquilo. Mas no fundo, pensar nessas coisas é só uma forma de voltar à mesma faixa do disco, repetindo como se é coitado.

Ódio contra amigos novos da outra parte

A pessoa fica pensando em termos de uma ligação até mental com a ex-parceira. Então fantasia que a outra metade dele está nas baladas, fazendo coisas que ele até imagina, principalmente com quem ele não gosta. No que está até certa, já que não dá pra ficar pensando em termos de algo que já foi.

Chega de falar nisso. O importante é o próximo tópico:

TENTANDO SE PREVENIR

Complicado. Algumas pessoas precisam de um tempo para se acostumar com a idéia de que o relacionamento está descendo ladeira abaixo. Uma questão de hábito. Depois de um tempo, não há necessidade de conversar. Ou melhor, sempre existe mas tudo o que poderia ser falado já foi falado. Vira rotina. A pessoa não gosta daquilo mas também não quer alterar. A verdade é que se acostumou com aquilo que consegue em termos de atenção. A outra pessoa parece estar satisfeita. Why worry?

Já ouviu falar de uma dupla chamada Master & Johnson? Mais de 25 anos de casados. Foram responsáveis por um tratado sobre sexualidade americana que marcou época (até que surgiu o Relatório Hite). Sabiam tudo sobre sexo e bom, se separaram. Ela queria viajar, ele achava legal ficar em casa, curtindo televisão. Pessoalmente já conheci uma mulher com uns 40 anos de casado que também estava pensando em largar o marido e ir atrás do “príncipe encantado”. Pois é, não existe hora certa para se decidir que o negócio é se separar. Existe oportunidade e influências.

O antes da separação é importante. Dependendo da forma em que o namoro começou, o final é previsível. Eu colocaria algumas perguntas (tô no piloto automático, já li sobre o livro de um tal de Giusti mas não fiz pesquisa) para definir a possibilidade de separação e/ou sua capacidade de sobreviver a ela:

A GRANDE BRIGA

Sempre acontece uma. Mesmo que não seja grande, os efeitos são os mesmos. Conhece aquela do chefe chegar até vc e falar “vamos conversar”? Bom, se vc chega na menina e ela começa a negar beijos, alguma coisa está acontecendo.

Quando a coisa começa ninguém realmente sabe.

A primeira fase do relacionamento costuma se caracterizar por um período de euforia que pode durar dias, semanas, meses, anos. Existe uma coisa que parece cumplicidade entre os dois. Digo parece porquê há parece. Ambos pelo menos tentam ficar em sintonia com o outro, perdoar os defeitos e ressaltar as qualidades. Tudo é maravilha.

A segunda fase já depende das pessoas, a convivência. Que destrói muita coisa. Diria que a convivência gera a rotina.

A terceira fase pode ser a das brigas ou da total indiferença. As brigas podem ser simples ou elaboradas, com cobranças ou sem.

Aí pra frente vc inventa:

Sei lá.

EGOÍSMO GRUPAL X EGOÍSMO INDIVIDUAL : O DILEMA DO PRISIONEIRO

Uma das coisas que mais agrada a ambos os sexos no início é que tudo precisa ser conquistado e nada é certo. Gera muito trabalho, muita expectativa e incompatível com qualquer trabalho sério, tipo estudar para concurso público ou desenvolver projetos. Claro que todo mundo vive a fase inicial do romance na expectativa de que aquela maravilha até dure pra sempre (algumas vezes dura).

Mas o mais comum são os dois viverem o dilema do prisioneiro. Não vou dar curso em cima disso, ia mudar de assunto. Mas para os dois irem assistir um programa de índio, os dois precisam estar dispostos a ir. Se um achar que está indo para um programa de índio e mesmo assim resolver ir, então resolveu colaborar para que o outro tivesse um bom programa. Caso a mulher resolva ir por exemplo no futebol sem reclamar nem entender nada, outro exemplo. Um dos dois resolveu abdicar da própria vontade para que os dois ficassem juntos num evento. O problema do dilema do prisioneiro virar um dilema é qual dos dois vai abdicar do seu interesse próprio em nome do do casal?

BRIGAS POR PODER

Todos gostariam que o bom senso decidisse tudo. O problema é decidir o que é bom senso, já que cada um tem uma opinião diferente.

Sem falar que homens e mulheres gostam de coisas diferentes. Aí também rola a 2a parte do dilema. A hora em que o outro acreditar que o interesse dele é o interesse do casal. Porquê há aqueles que sutilmente vão se impondo, num lento trabalho de formiguinha, todas as suas vontades. Quando a pessoa vê, pode até ter outra pessoa na cama.

Só lendo Maquiavel para entender o que está acontecendo. Porquê quando se começa a pensar em termos de estratégias de dominação, temos situação de conflito e não de usufruto.

TERCEIRA PESSOA

Fato é que a maioria das mulheres discute temas afetivos com maior intensidade e interesse do que homens. Há aquelas que não entendem disso, mas ficam na crença de que entendem ou pedem opinião para outra mulher que entenda. Então mulher discute mais questão afetiva do que homem e encerrou. O que não quer dizer que seja a pessoa indicada para tomar decisões dentro do relacionamento. Porquê a ótica feminina é apenas metade de um casal.

Só que existe uma coisa chamada filhos. Que é algo complicado. Boa parte das mulheres querem passar pela experiência de ter filhos. E isso aparece num relacionamento. Pode ser obra do acaso (estourou a camisinha) ou vontade (ambos decidiram). O fato é que tudo muda depois. Trata-se de um elemento de tensão, pelo menos até completar uns 2 anos de idade, quando a coisa alivia um pouco.

Durante o período de gravidez (não, ainda não passei por isto mas já vi tanta gente passar..) a mulher lentamente vai ficando diferente. O corpo (nas palavras delas) fica menos atraente, depressões e crises existenciais, dúvidas. No parto então é um sufoco. Depois que nasce (tá reparando que pulei os custos financeiros de uma gestação), tudo gira em torno da criação. Vida sexual e afetiva, pode esquecer aquela maravilha que foi antes. Vida intelectual, é sorte se só a mulher emburrecer no período pós-parto (isso eu ouvi de uma menina que teve 2 filhos em seqüência). Aliás, tudo muda para sempre (de acordo com depoimentos). Tem mulher que não recupera o corpo e tem mulher que nem tenta recuperar o corpo.

Ah, ia esquecendo da sogra e alguns parentes que passam a ser pessoas importantes para o casal. Depois vem o advogado, que é a pessoa que vai administrar a separação propriamente dita.

VOLTANDO A SEPARAÇÃO

Bom, se vc não passou pela experiência de colocar mais alguém no mundo, ainda existe a questão de se avaliar se o processo de separação já não ocorreu. Quer dizer, a pessoa com quem vc vive não é a sua metade. E vc não é a metade faltante dela. Mas os dois tem uma quantidade de experiências juntos. Que legal. Um patrimônio afetivo que desaparece assim que um dos dois vai embora.

Incômodo, pensar que tudo acaba. Incomoda também pensar que é preciso manter outra pessoa ali, do seu lado, mofando, só para ter essas memórias tão queridas na cabeça. Falo mofando porquê há situações (deve haver, acredito) em que isso acontece. Então acontece a:

CHANTAGEM SENTIMENTAL

Significa manter o outro por conta de algum sentimento que a pessoa ainda nutre por você. Porquê se no início existia reciprocidade, ainda deve haver algo porquê lutar. Então, volta-se ao dilema do prisioneiro. Sacrificar-se para que algo que não funciona continue. Pode dar certo.

DILEMA FINANCEIRO

Separação é algo caro e trabalhoso, mesmo quando não há advogado envolvido. Porquê implica em reordenar os hábitos. Levar pé na bunda gera efeitos colaterais. Não dói só na hora, tá pensando o quê? A ressaca das bebidas que vc vai tomar para esquecer gera problemas variados. Atrapalha o trabalho.

ADEUS AMIZADES

Todo mundo que não era seu amigo mas amigo da outra tende a ir embora. Há a possibilidade de paquerar as meninas que eram amigas da sua amiga mas isso não sei se é uma boa. Quando isso acontece dentro de uma república, tipo aquele negócio do seriado Friends (moram próximos mas ficam num vai e volta), dá o fora. Tem gente que topa ver a mulher que amou uma vez transando outra pessoa. Minha experiência pessoal é que ela vai tentar te expulsar do perímetro. Vale a pena ficar longe.

REORDENANDO O LADO AFETIVO

Quem sobra no lado afetivo quando vc se separa? Aqueles amigos que vc conhecia antes. E a garrafa de uísque (o amigo engarrafado). Sugestão: fica longe dos seus amigos. Pelo menos tenta. Se vc tentar ficar longe deles pelo menos não vai alugar tanto a paciência. E eles não vão te evitar quando a coisa ficar realmente ruim e difícil de aguentar.

Família, se vc tiver mãe, irmãos, pode ser uma alternativa. Mas isso vai de cada um.

O lado chato da questão afetiva é que mulheres são algo possessivas no início da relação e a medida em que a relação se aprofunda vão expulsando todos os elos afetivos que vc porventura tenha. Eu disse TODOS. Porquê na melhor das hipóteses, vai sobrar mais espaço para ela e na pior das hipóteses, fica mais fácil ela chegar e falar: 'bem, estou me sentindo sozinha, que tal termos um filho'? Esse é o plano, antes da separação. Depois da separação, o plano é 'toma que o filho é teu'.

Claro, não existe só uma mulher no mundo. Aí é que vc se engana. Até vc aprender a não ficar falando das suas histórias para outra pessoa, sim, só existe aquela mulher no mundo. Aquela mulher e uma mulher pirada que vc pode ou não encontrar por aí. Pirada porquê só uma mulher muito, mas muito afim de vc vai aguentar ficar escutando histórias da separação ou do que não deu certo. Exceções existem: se vc for um cara de muito dinheiro no banco, pode haver um monte delas para falar 'tadinho do meu garoto, vem cá'. Mas não garanto muito que dure algum tempo e resolva seus problemas afetivos.

DEPRESSÕES

Claro que pode durar pouco tempo, mas vai pintar. Lembre-se que vc acabou de amputar uma parte de sua afetividade na separação. Depressão é algo que valoriza o relacionamento que vc teve. Chore porquê foi bom enquanto durou.

VINGANÇA

Putz, torça para que ela não faça nenhuma. Por isso é que é ótimo levar pé na bunda de mulher. Dar pé na bunda de mulher é algo sujeito a efeitos colaterais. Algumas mulheres acreditam que não deram, investiram muito mais no relacionamento do que vc. E querem cobrar. Um alívio quando se consegue uma separação onde vc só chora que nem o cara do filme 'Alta Fidelidade'.

O desejo de vingança por conta de um pé na bunda é algo bastante comum. Don't worry. Vc é membro do clube. Só que efetuar a vingança significa que o relacionamento não acabou. Dá trabalho as vezes até jurídico. Cedo ou tarde a separação já se completou na sua cabeça mas por conta de algo que vc fez não dá para deixar de ir no tribunal.

PARTILHA

Se vcs moram juntos, separação implica em devolver pro outro montes de coisas. Algumas vezes tem coisa que não pode ser devolvida. E coisas que vc usou que não quer devolver. Dinheiro então é problema. Já ouvi falar de casos em que a mulher vai embora e leva tudo. E tem cara que deixa. Porquê não?

MEMÓRIAS

Uh, esse daí vc deveria assistir 'brilho eterno de uma mente sem lembranças'. Apaga tudo o que for possível. Algumas coisas são impossíveis, como aquela transa dentro do carro num estacionamento da faculdade. Mas joga fora tudo que a outra pessoa lhe deu para não captar lembranças.

COMEÇAR DE NOVO

Ah, é legal. Em uns dois anos vc acha que valeu a pena. Só precisa deixar o tempo passar que tudo acaba se arrumando. Chato é quando acontece de vc não absorver determinadas tarefas das quais a outra parte ficava encarregada, tipo lavar roupa, escolher filmes, decidir a vida, arrumar o quarto, etc.. Mas é um reaprendizado. Tem gente que leva pau nesse aprendizado e refaz a vida com outra pessoa, cometendo os mesmos erros. Há quem diga que o segundo casamento é a prova genuína da superidade da razão sobre a emoção (a gente sabe que pode acabar não dando certo mas prefere acreditar). Diz o censo que a segunda vez acontece quase sempre com mulheres mais jovens (no caso de homens).

REINCIDÊNCIA

Há várias razões para se tentar de novo depois de um tempo. A melhor delas é que a memória suprime o que é ruim, só fica coisas boas. Não sei se aconselho. Varia muito de pessoa para pessoa. Há aqueles que conseguem da segunda vez o que não conseguiram da primeira.

CONSELHOS

Quase ia esquecendo: poucas pessoas podem te dar conselhos que valham a pena. Muitos vão tentar tirar vantagem da sua situação. Porquê vc fica vulnerável e nem se dá conta do quanto. Um relacionamento de X anos um tempo Y para acabar na sua cabeça e nesse meio tempo vc fica meio infantil na hora de tomar decisões. Mesmo que vc tome decisões acertadas, as decisões erradas vão pesar bem mais. Porquê existe o período de tempo em que pinta a depressão e nesse período a vontade é que tudo pegue fogo mesmo. Que tudo vá pro inferno. Fica mais difícil ainda se recuperar.

CONCLUSÃO

Sei lá. O mais importante é que a relação amorosa é parte do processo de amadurecimento da pessoa. A separação também faz parte. A dor que acompanha pode destruir a pessoa como ser fonte de auto-aprendizado. Acho que cada pessoa pode escrever sua própria história, nesse sentido. Não superar a separação também não é exatamente ruim, é preservar um lado afetivo. Cada qual com sua crença.

Sabe aquela coisa da criança ser o pai do homem? Pensa nisso. Para sermos adultos, deixamos de ser crianças. Para superarmos a dor da separação, precisamos aprender a nos tornarmos outra pessoa. Uma nova forma de ser. Gostando ou não, é o que fazemos todo santo dia. Nos tornarmos alguém diferente do que fomos ontem.

Estamos todos caminhando numa só direção. Claro que o negócio é atrasar um pouco no bar da esquina para tomar um drink de saideira antes de chegar no cemitério mas vamos chegar lá.

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

O filme Alta Fidelidade (High Fidelity) é um must para qualquer um com dor de cotovelo. Outro muito bom é Brilho Eterno de uma mente sem lembranças. O Jim Carrey está irreconhecível. Aliás, filme sobre o assunto não falta. No teatro também acontecem umas peças que valem a pena, como Gota d'água do Chico Buarque. Dá uma boa idéia de como os caras são detonados por uma separação. Livros, achei alguma coisa no Kama Sutra mas é pouco.

Carrey está irreconhecível. Aliás, filme sobre o assunto não falta. No teatro também acontecem umas peças que valem a pena, como Gota d'água do Chico Buarque. Dá uma boa idéia de como os caras são detonados por uma separação. Livros, achei alguma coisa no Kama Sutra mas é pouco.

(Adendum 26/01/2015) Alguns textos que tem a ver com esse texto e que apareceram no fanzine