guerra16.html

Homepage Blog do Fanzine Índice No 16 Índice Números Anteriores Contato

http://barataeletrica.cjb.net http://www.inf.ufsc.br/

Versão Txt http://www.barataeletrica.rg3.net

GUERRA PSICOLÓGICA: A GUERRA SEM SANGUE

(mais 1 texto sobre a batalha pela mente)

Derneval R. R. da Cunha

Uma cena meio pitoresca. Fulano vai numa biblioteca para ler um jornal. Só que tem outro cara na frente. Que parece ler uma linha por hora. E volta a reler. E não vira a página, fica só lá, como se fosse uma estátua, fingindo que está lendo. A pessoa se desespera e resolve perguntar se pode ler só uma coisinha de nada e já devolve. Recebe uma resposta ríspida. Aguarda mais um pouco. Volta a esperar. Uma hora e o sujeito não largou ainda do jornal. Começa uma tentativa de discussão educada e de novo resposta ríspida, seguindo que finalmente, quando percebe que o cara está com o ânimo exaltado, o sujeito do jornal se levanta e pede ajuda para um funcionário da Biblioteca falando que "este sujeito está me ameaçando se eu não entregar o jornal para ele, não está respeitando meu direito de ler o jornal". E começa um discurso. O cara que antes só queria economizar uns trocados está passando pelo constrangimento de ter que se explicar e pior, sem conseguir, que não foi ele que começou a coisa. Como tem uma cara que transpira ódio, todo o crédito vai para a pessoa que reclamou, que é baixinho e tem cara de CDF, a primeira vista incapaz de fazer uma sacanagem qualquer com outra pessoa.

Outra cena pitoresca. O aluno discorda do professor numa sala. O aluno resolve levar isso as últimas consequências. Entra com um processo qualquer contra o professor, por discriminação ou coisa do gênero. A turma, chocada, resolve fazer um abaixo-assinado a favor do professor, em aula posterior, para acrescentar a defesa. O aluno descobre. E resolve perseguir (sem ameaçar) cada um que assinou o abaixo-assinado. Num caso, até ameaça, noutro, arma o maior escândalo no lugar de trabalho, na frente de um monte de gente. O Centro Acadêmico resolve tentar fazer alguma coisa. Recebe ameaças anônimas de morte. Logo, nenhum professor tem coragem de reprovar o aluno. O clima do medo ronda o ambiente.

Cena de discussão comum. Um sujeito xinga o outro, que está com a namorada. Por sua vez, acontece uma briga. Na frente de testemunhas. A coisa vai para a polícia. O cara, que não conseguiu segurar seu ódio pela agressão verbal corre o risco de perder sua primariedade por agressão corporal. Significando que não poderá fazer uma série de coisas, como empréstimo no banco, ter cargo público, etc.. Quem não conversa com um advogado (um bom) não tem idéia do quanto isso atrapalha. Por conta de uma briga que ele não tinha nenhuma razão para começar e aliás, não foi ele que começou.

Tudo isso não saiu da minha imaginação. Por incrível que pareça, existe gente capaz de provocar brigas. O motivo não interessa muito para as vítimas, mas é sempre provocar a reação do oponente. Essa é a guerra psicológica. Como dizia Victor Hugo "Se você perdeu dinheiro, perdeu pouco, se perdeu a honra, perdeu muito, se perdeu a coragem, perdeu tudo". O objetivo desta guerra é destruir por dentro. Achando que tem que reagir ou coisa do gênero, cai numa armadilha.

Existem vários níveis de confronto e vários tipos de emboscadas, ataques e defesas neste tipo de coisa. Infelizmente, não é coisa que se aprenda bem em livro. Está mais para experiência de vida. Por exemplo: um tempo atrás, tinha um cara tecendo altas críticas ao meu estilo de fazer esse fanzine. Se eu tivesse publicado qualquer coisa acerca dele no Barata Elétrica teria dito ao mundo que tal pessoa existe e que conseguiu fazer com que eu saísse do sério. É que nem aquele cara que te chama de covarde porque quer ver você brigando com ele. Trata-se de uma forma velada de falar "tô te mandando você me atacar". Eu volta e meia escuto alguem me falar que foi desafiado a mostrar que podia entrar em qualquer computador (como se hacker vivesse para invadir computadores, minha opinião é que o hacker respira para aprender com computadores).

Não percebe que:

1) Deu uma aula de como penetrar as defesas de um computador (já que o cara não precisa ser muito esperto para "capturar" todos os comandos utilizados).

2) Mostrou que é bobo o bastante para cair em uma armadilha.

3) Se provou que consegue, acabou de contar para alguém que é potencialmente perigoso. Um histérico pode até avisar para todo mundo que você existe, te prejudicando de várias formas.

4) Não aprendeu nada.

5) Gastou um tempo a toa, mesmo que tenha sido divertido.

Existem várias formas de se acabar com alguém através do uso de psicologia. Outra forma é a "fritura", muito comum em determinados ambientes de trabalho. A pessoa vai sendo maltratada de várias formas sutis, até que decide pedir demissão ou consegue reverter a situação. É uma forma que não prejudica fisicamente, mas as "cicatrizes" podem indiretamente causar úlceras, mal-estar e afetar de tal forma que a pessoa tem dificuldade para conseguir levar a vida adiante. E algumas vezes, o objetivo dos que praticam é simplesmente "espantar o tédio".

O que a vítima comum não percebe é que ataques desse tipo são estudados. A pessoa pode inventar uma brincadeira para depois fazer a coisa ficar séria. Se você não reage, está errado, se reage está também errado, porque não era a sério. Uma amiga minha foi estimulada a contar tudo de ruim que achava da chefe, numa conversa íntima com outra amiga. Que delatou tudinho. O truque é sempre fazer parecer que o culpado é exatamente quem reclama. Como aquelas centrais de reclamações, que costumam falar sempre que "nós NUNCA recebemos esse tipo de reclamação", "você não está exagerando", "sei, você não gostaria de consultar um fulano que conheço, psicólogo"?