ENGENHARIA SOCIAL A LA DITADURA

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ENGENHARIA SOCIAL A LA DITADURA

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Derneval R.R. Cunha

              Como já comentei num Barata Elétrica anterior, Engenharia Social é um jargão para a extração de informação de outra pessoa que, sem essa determinada malandragem, não revelaria nada. Muita gente acha e até me fala, que eu me preocupo demais com esse tipo de paranóia, sobre privacidade. Que razão existe para que se preocupar com detalhes íntimos? Pra que se esconder ou tentar ocultar dados que no fundo, podem não significar nada? Não era coisa de procurar um psicólogo? Poderia até ser. No Brasil que aparece na TV, só vai pra cadeia quem realmente é culpado de alguma coisa. Se é culpado, merece ser submetido a um julgamento e etc, etc.. Então não existiria razão pra se temer que as pessoas ou o Sistema saiba mais sobre nós e o nosso passado. Tudo isso seria uma beleza, se vivessemos no mundo da TV. Na vida real, se você age ou interage, está arriscado a errar. Quem não vive, não erra. Um amigo meu achava que não devia nada a ninguém, até que inventaram que ele era da situação, embora militasse na oposição. Pessoalmente, já tive várias experiências que comprovaram a necessidade da pessoa resguardar informação sobre si própria.

              A mais fácil de entender, pra explicar como pode fazer diferença, conservar alguns segredos, foi quando tive uma namorada mutante. Pra quem não sabe, mutante (pelo menos pra mim) é aquela mulher que quando você conhece, acha que é uma verdadeira pantera. Depois, na cama, percebe que é uma tigresa. E assim vai, até você enxergar uma víbora (passando por vários animais). Pra simplificar, já passei por situação semelhante a retratada naquele filme Addicted to Love. Não vou falar de qual lado eu estava. Vamos dizer apenas que se ela soubesse de um lance X sobre mim, teria conseguido postergar o fim do namoro, talvez pra mais um ano, pela chantagem. Sei que ela deve estar falando um monte de mentiras sobre mim, pra quem quer que se ponha a ouvir. Dá pra perceber que não basta ser honesto, é preciso que ninguém queira estragar com sua vida. No filme Au Revoir Les Enfants, me contaram que existe uma coisa que atormenta até hoje, os franceses, o fato de que muito francês, durante a 2a Guerra Mundial, lucrou com a invasão alemã. Lacombe Lucien, outro filme francês, também põe o dedo na ferida. Os alemães recebiam de 2 a 3 mil delações por dia, do tipo "meu patrão é judeu", "minha vizinha é judia", etc, etc..  E era bem fácil ir pro campo de concentração, naquele tempo..                  Mas vamos pensar em termos de Brasil. Me falaram, não sei se é verdade, que.. uma grande parte dos crimes no Brasil são resolvidos porque alguém vai lá e deda. Desde escândalo financeiro até sequestro e sei mais lá o que. Tudo depende do crime prinicipalmente ter alguma repercussão, óbvio. Alguém acaba indo no telefone e avisa. Mas as vezes, esse aviso é falso. E um inocente nunca mais consegue explicar que focinho de porco não é tomada. Porque todo mundo quer ouvir a confissão de um criminoso. Coisa ruim tém ibope. Mas defender a verdade, nem sempre. Não é mais fácil acreditar que o funcionário dedicado é puxa-saco do patrão do que pensar que simplesmente ele tem amor ao trabalho? Pois é, mas uma vez que a mentira foi lançada, que diferença faz?

            Então vamos comentar que o Brasil já passou por situações onde a palavra de uma pessoa podia botar a outra no xilindró e .. com uma torturazinha incluída. Durante a época do Vargas e durante o AI-5. Como é que funcionava o esquema? Existia um troço chamado DOPS, Departamento da Ordem e Paz Social(?). Então, se havia uma denúncia, mandavam gente pra ver se tinha ou não fundamento, a coisa. Engraçado que o arquivo de informantes desapareceu, mas se sabe que haviam "estudantes" encarregados de vigiar professores universitários e outras coisas do gênero. Tinha gente que engordava o orçamento, trabalhando pro governo. E o possível suspeito tinha uma ficha para onde iam todos os dados coletados. Só por alguns casos famosos, pode-se ver como "focinho de porco não é tomada". Gilberto Gil "integrava um grupo de cantores e compositores de orientação filo-comunista, em franca atividade nos meios culturais". A atriz Cacilda Becker tinha na ficha dela "autora de peças de teatro". O Gabeira teria, se não me falha a memória, mencionado numa entrevista que o advogado dele já tinha sido torturado antes dele entrar na clandestinidade.

             E falando de tortura, sente só o drama:

"Uma agência de contra-investigação não é um tribunal de justiça. Ela existe para obter informação sobre as possibilidades, métodos e intenções de grupos hostis ou subversivos, a fim de proteger o Estado contra seus ataques. Disso se conclui que o objetivo de um interrogatório não é fornecer dados para que a Justiça Criminal processa-los; seu objetivo real é obter o máximo possível de informações. Para conseguir isso, será necessário, frequentemente, recorrer a métodos de interrogatório, que, legalmente, constituem violência. É assaz importante que isto seja muito bem entendido por todos aqueles que lidam com o problema, para que o interrogador não venha a ser inquietado para observar as regras estritas do direito".

"Para saber quem falará mais rápido, é conveniente observar qualquer fraqueza de caráter, como medo, hábitos nervosos ou excesso de confiança. Informações sobre o passado dos prisioneiros podem ser usadas paa jogar um contra o outro, utilizando-se de ardis, como a leitura correta ou incorreta de depoimentos, obetendo-se a cooperação de um ou de outro".

Depois vem as formas de aproximação para com o prisioneiro:

Inicialmente o interrogador aparece como uma máquina, fria e bem regulada. Insensível e eficiente. Voz monótona e sem emoção. Ou pode surgir que nem o Rambo, ameaçando ir na jugular, forçando a barra e insultando. Se houver suspeita de que o preso mente, o interrogador se finge de tolo.  Se a vítima já apanhou e acha que ainda vai apanhar, o interrogador vira gentil como um psicólogo. Quer dizer, bem naquele estilo de vendedor: "com calma e com jeito, a gente engana o sujeito".

            Claro que nem sempre a coisa envolvia tortura física. O interrogador poderia chegar na casa do sujeito, com um papo do tipo: "pintou um probleminha lá na delegacia, precisamos de sua colaboração, é só cinco minutos, vamos lá?". No caminho para o Distrito Policial, vinha os comentários:

"sabe como é, uns terrorista foram presos e seu nome foi mencionado, como temos certeza da sua inocência, afinal de contas, família de posse, seu pai é isso e aquilo, sua mãe deu aula lá no colégio dos meus filhos, você não tem cara de quem teria associações tão horríveis. Só que precisamos ver que história é essa e pensar alguma coisa pra livrar sua cara, senão você vai pro pau-de-arara. Você sabe algo que possa ajudar a gente?"

Sutil, né? Uma história contada por um infeliz correspondente de guerra brasileiro (acho que saiu na antiga revista Realidade) contava que o exército vietnamita conseguia de vez em quando que os Vietcongs capturados soltassem o serviço, apelando pra moral do cara. O sujeito chegava preparado pra sofrer e o policial falava qualquer coisa assim:

"tô te sacando. Você não é uma pessoal qualquer. Os outros ali na cela, são todos uns bunda-mole, mas você tem jeito de quem nasceu pra comandar. Não te levam a sério, mas eu e você sabemos que somos líderes. Eu de um lado, você do outro".

O cara ficava com o ego lá em cima. Aí o policial completava:

"Só que eu preciso achar essa explosivo que você ou seus colegas armaram. O tempo é escasso. Depois que a bomba explodir, sua vida não vale nada. Acho que vou te dar uma meia hora pra pensar. Se eu não souber pela sua boca dessa troço, antes daquele cara ali (aponta pra alguém), amanhã você vai aparecer nos jornais. Morto. Acidente de motocicleta. Eu mesmo vou preparar a cena. Você vai estar sem documentos, sua família nem vai saber que é você.  Ninguém vai saber que você morreu pela glória da revolução comunista. Vai ser enterrado como indigente".

Parece que funcionou horrores, lá. No Oriente, o culto aos antepassados é quase uma religião. O pessoal valoriza muito mais do que atualmente se faz aqui, no dia de Finados. Será que isso foi usado aqui no Brasil, durante a ditadura? Não sei. Sei que muita gente morria atropelada, naquele tempo. A tal ponto que um "interrogador" confessou que esse método deixou de ser usado, pois até os repórteres já estavam ficando bons em descobrir a diferença entre os verdadeiros e falsos atropelamentos. Tudo isso é um tempo que já foi, mas é legal sempre tomar cuidado. Afinal de contas, como é que foi aquele caso lá de Diadema e o da Favela Naval? Será que aquilo nunca mais vai se repetir?  Por outro lado, o Brasil já teve cerca de 8 Constituições. Será que a atual vai durar até 2.100? E será que seu amigo vai continuar sempre seu amigo? Sua esposa ou namorada nunca vai te trair?