SOCIEDADES SECRETAS, CONSPIRAÇÕES, REVOLUÇÕES e outros lances..

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SOCIEDADES SECRETAS, CONSPIRAÇÕES, REVOLUÇÕES

e outros lances..

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Derneval R.R. Cunha

Acabei de ler "The Invisibles", história em quadrinhos do Grant Morrison. Uma história em quadrinhos que aborda esse e outros temas. Depois da avalanche de filmes comentando os "Illuminati", dá para se ver que é um tema que pelo menos, fascinante. Então vou usar para encher lingüiça, ao contrário do que normalmente faço.. Começando:

O que é uma sociedade secreta?

Uma sociedade secreta é uma sociedade como qualquer outra, apenas que seus membros estão sob um juramento que os impede de revelar detalhes sobre suas atividades. Um grupo de pessoas pode se organizar publicamente e ter atividades secretas. Mas aí é outro tipo de coisa. Claro que "sociedade secreta" pode ser usado em vários contextos. E para definir vários tipos de grupos. Dos quais simplesmente não se sabe muita coisa.

Apelando para Wikipedia, temos:

Alan Axelrod, autor do the International Encyclopedia of Secret Societies and Fraternal Orders, definiu uma sociedade secreta como possuidora de 3 características: a organização é exclusiva, diz que tem segredos especiais e favorece a si própria:

David V. Barrett, autor de Secret Societies: From the Ancient and Arcane to the Modern and Clandestine, usa outros termos para definir o que é e o que não é uma sociedade secreta, como se o grupo por exemplo "tem conhecimentos específicos disponíveis apenas para determinados indivíduos", conhecimentos estes que estão disponíveis apenas para "indivíduos selecionados" e que "trazem benefícios além do alcance daqueles que não estão iniciados". Barret também fala de rituais que os não membros não podem participar ou mesmo conhecer a existência.

A tendência hoje é só se falar de sociedades secretas enquanto movimentos conspiratórios (há sociedades secretas que não são conspiratórias). O próprio cristianismo começou assim, vide "O código da Vinci" (só assisti o filme, não li o livro). Pode-se ter uma sociedade secreta pelo simples fato de não se divulgar tal sociedade. Ou não se deixar transparentes os motivos de existência de tal sociedade.

Sociedade secreta traz aquela idéia de um código de atividades. Um ritual de iniação para ser aceito. Talvez alguma noção de hierarquia, leis ou costumes internos. Pode ser entendida como uma evolução de um simples conjunto de amigos ou "panelinha". Se você assistiu ao filme "Sociedade dos poetas mortos", aquilo já dá uma noção de como a coisa começa. A medida que o número de pessoas aumenta, aí criam-se estatutos, normas, formas de se organizar. Talvez até mesmo reuniões redigidas em pautas. E se as atividades envolvidas forem de alguma forma subversivas, aí então temos o uso de códigos, de linguagem cifradas, esconderijos.

Por fim, existe a quesão de um livro ou manifesto em torno do qual se cria a tal sociedade. Em vários casos, um livro é a raiz de tudo.

Conceitos Básicos

Para esclarecer:

Uma coisa é revolta. Outra coisa é golpe de estado, outra é movimento subversivo e outra é revolução. São termos que aparecem juntos, geram uma certa expectativa. E não são sinônimos. O pior é que alguns só aparecem em textos de história. Que poucos estudam. Alguns pensam que entendem. O termo revolução é um deles. Se fala mais em revolução nos costumes, nos meios de comunicação, mas fala-se muito pouco sobre o que é uma revolução em si.

Usando analogias: Pode-se por exemplo ficar revoltado contra as injustiças da sociedade. Ou para facilitar o entendimento, injustiças no trabalho. E daí? Ficar revoltado é uma atitude individual. A revolta de um indivíduo não significa muito. A revolta existe apenas na cabeça. Quando a a cabeça decide fazer alguma coisa a respeito é que temos uma diferença. "Induzir a revolta" ainda é um termo pouco significativo. "Difundir" o descontentamento com alguma coisa? Há pessoas que ficam revoltadas com alguma coisa mas não fazem absolutamente nada. Muitas pessoas descontentes tomando uma atitude contra algo revoltante, aí sim, temos uma revolta.

Presume-se que muitas pessoas juntas tomam uma atitude e fazem alguma coisa. Muito comum as pessoas se sentirem revoltadas com alguma coisa e amanhã o dia está igual. Mas se elas (ou algumas dessas pessoas) planejarem mudar alguma coisa, temos uma "conspiração" ou "movimento conspiratório". Se um grupo se recusar a trabalhar para ver se algo muda, temos um tipo de revolta ou desobediência. Normalmente se fala em greve.

Por exemplo, os colegas de trabalho ficarem revoltados com algumas atitudes da gerência e resolverem fazer alguma coisa para mudar o sistema de trabalho (de forma a melhorar a eficiência, valorizar o que merece ser valorizado, diminuir problemas, aumentar a eficiência) aí temos já temos uma tentativa de subverter a ordem ou "subversão". Subversão é um termo mais usado por quem está do outro lado da situação. Tipo a expressão "virar o jogo" como na frase "eles viraram o nosso jogo". A "subversão subverte". Claro, tanto no local de trabalho como em qualquer lugar, sempre existe a turma que gosta das coisas como estão. A turma da "situação". A "situação" então pode criar uma "repressão". Aí ficam dois times: a "repressão", do lado da situação e a "subversão", do lado da .. sei lá, "revolução". Quando tudo, todas as coisas realmente mudaram, aí temos uma "revolução".

Se as pessoas simplesmente se contentam em mudar o chefe (de forma pouco normal) para que outro chefe mude o sistema, aí temos um "golpe de estado". Se o novo chefe que assumiu a gerência após o "golpe de estado", se ele não foi aceito pelos "revoltosos" nem se preocupou em fazer qualquer espécie de consulta popular para conseguir sua legitimidade e continuar mandando aí temos uma  "ditadura".

Claro que há formas melhores de definir tudo isso. Basta procurar no dicionário.

História dos Primeiros Manifestos Populares e Grupos Conspiratórios

O Iluminismo (ahn.. isso daí foi depois da Idade Média) trouxe consigo uma valorização do homem. Fácil falar mas contar isso para o pessoal agnóstico de hoje é o mesmo que dizer que discutir a raiz quadrada de PI. Bem antes da Internet, bem antes dos Beatles, bem no passado, no tempo em que achavam que a terra não era redonda, o pessoal só acreditava em Deus. Era tudo religião. E isso significava que Deus abrangia tudo. O homem não valia tanto. A igreja (católica) falava que Deus é Deus e a Bíblia é a palavra de Deus. Se a Igreja falava que o rei estava certo então o rei estava certo. Se era o rei que estava mandando não era ilegal.

Claro que com a evolução, apareceu essa "coisa" chamada legislação, voltou-se a falar de democracia e apareceu (ou reapareceu) a grande peça jurídica básica que é a constituição. Lá estão os direitos fundamentais. Tem que estar na constituição.

Antes não havia esse tipo de idéia. Antes o sujeito era rico ou pobre, patrão, empregado ou escravo. O rei decidia tudo. Aqueles que quiserem uma idéia melhor do que era o sistema antigo podem até dar uma olhada nos livros de história. Vão descobrir que antigamente só os padres e alguns sábios é que sabiam ler e escrever. Portanto não havia muito essa coisa de colocar tudo no papel e chamar isso de "direitos do homem" ou "Constituição".

A Igreja dava um aspecto divino a coisa toda de realeza. Responsável por boa parte do pessoal mais "letrado" da época (tipo: taxa de analfabetismo alta, poucas escolas, os padres muitas vezes faziam o papel de juizes, contadores e até mesmo médicos) a opinião da Igreja ajudava o rei ou imperador a se manter no cargo. A imprensa mínima que existia, a mesma coisa. Então não existia muito essa coisa de valorização da pessoa humana. O rei (desde que tivesse um exército forte, a Igreja do lado e uma coleta de impostos eficiente) podia fazer praticamente o que quisesse.

A coisa começou a mudar quando se começou a questionar coisas como a existência de Deus. No caso, o que hoje chamamos de ciência foi o que produziu os primeiros grandes subversivos da história atual. Galileu, por exemplo: ao investigar os astros com uma luneta, chegou à conclusão de que a não era o sol que girava em torno da terra mas a terra que girava em torno do sol. Quase foi para a fogueira, teve que se retratar. Naquela época tudo girava em torno da Igreja. Espalhar o conhecimento de que a Igreja estava errada sobre alguma coisa era motivo para a acusação de heresia.

A Revolução Americana (1779?), ao produzir sua Constituição coloca bem claro os ideais iluministas ao decretar que "todos os homens são iguais perante a lei".. Também está lá e na declaração de direitos humanos "todo homem tem direito à vida, a liberdade e a busca da felicidade". Então essa coisa do rei mandar já não é o suficiente.

Claro que colocar no papel não significa que a população realmente tivesse muita coisa a seu favor (os que sabiam ler, lógico). Imagina por exemplo uma legislação onde o imperador podia pedir a um súdito que ele cometesse um crime e assumisse a culpa e os problemas desse ato como se não tivesse recebido a ordem. Ou então que o direito de voto só existisse para aqueles que tivessem um certo capital, digamos, que fossem latifundiários. Quando o Brasil ficou independente havia esse tipo de "regrinhas" na legislação.

Eram tempos em que a psicologia ou psiquiatria não poderia tirar um cara de um órgão público. O cara podia perfeitamente ser louco e continuar no poder, ser rei. O máximo que poderia acontecer era alguém da família real conseguir depor o sujeito e assumir a coroa real. Tem que falar também que alguns tipos de loucos não eram burros. Acrescente isso ao fato de que algumas doenças podem induzir a loucura, como sífilis. E ainda não existia penicilina.

Então as descobertas científicas e também a descoberta da América alterou um bocado essas crenças, o pessoal começou a aceitar que a terra era redonda e com o passar do tempo, o poder da Igreja diminui. Igualmente, começou a valorização do homem. Deus não era mais o centro de tudo e os reis já não tinham direito "divino" para governar como bem entendesse. Aliás houve a separação entre poder e direito.

Qual a diferença entre poder e direito? Bom saber. Um assaltante com uma arma tem poder sobre sua vida. Ele pode te matar. Tem a capacidade, que é o revólver na mão. Mas ele não tem o direito de te matar. A arma não lhe dá o direito de ficar com seus pertences. O que acontece é que a pessoa com medo, aterrorizada, não opõe resistência. E também a legislação não dá o direito a uma pessoa de tirar a vida de outra pessoa. Mesmo em caso de guerra, o soldado não tem o direito de sair matando pessoas só porquê não gostou da cara de alguém, como nos filmes do Rambo ou outro filme qualquer. Parece óbvio. Mas houve tempos em que não era.

O caso dos índios brasileiros, por exemplo. Não eram batizados. Então os colonizadores chegaram à conclusão de que os índios, por não serem cristãos, não tinham alma. Podiam ser mortos ou escravizados sem nenhuma pena ou constrangimento. Eram como animais de carga, não tinham direitos. A Igreja começou a ficar chateada porquê isso atrapalhava o trabalho de conversão então surgiram leis (chamadas de bulas) alterando esse tipo de pensamento. Afinal de contas, os padres também usavam índios como mão de obra.

Voltando ao ponto, claro que a mudança não foi assim do dia para a noite. Na Inglaterra por exemplo, existe a instituição do rei até hoje. Não manda, quem manda é o parlamento. Em boa parte do mundo, a democracia virou moda. O representante do povo, eleito pelo voto.

A independência americana inspirou vários movimentos conspiratórios e revoluções, mundo afora. Na França, a revolução tirou o caráter divino do rei e o colocou na mesma condição que um cidadão comum, capaz de ser julgado e condenado a guilhotina por seus atos.

Babeuf e a Conspiração dos Iguais:

"Graccus" Babeuf (1760-97), formou uma sociedade secreta, a"Sociedade do Panteão". Ficou conhecida como "Conspiração dos Iguais", quando foi descoberta. Seu objetivo, derrubar o governo moderado republicano que sucedeu a Robespierre, durante a Revolução Francesa. Quando essa conspiração foi descoberta, pensou-se que era apenas mais uma das várias que tentaram depor o regime republicano. O grupo tinha seu documento político, o chamado de "Manifesto dos Iguais":

Alguns dos pontos da conspiração, analisados pelos integrantes do próprio grupo:

O líder do grupo decidiu usar o julgamento como forma de divulgar suas idéias e criticar os rumos que a revolução estava tomando. Foi condenado a morte. A maior parte do grupo acabou recebendo pequenas sentenças. Philippe Buonarroti, italiano descendente de Miguelângelo, escreveu suas memórias da conspiração "Conspiration pour l'égalité, dite de Babeuf"(1828), relato esse que a tornou uma verdadeira lenda, que inspirou vários grupos revolucionários, como os Carbonários.

Os Carbonários

Membros de uma sociedade secreta que se desenvolveu e teve ramificações na Itália, Espanha e França, durante o século XIX. Dividida em lojas, como na Maçonaria, seus membros vinham de todas as camadas da sociedade. O nome vêm da fachada de cobertura, relativo a fabricação e comércio de carvão de madeira. Várias associações e sociedades foram criadas para dar cobertura às atividades secretas. Os carbonários foram parcialmente responsáveis por vários complôs e revoltas, na Itália e na Espanha em 1820, e em Piedmont, França (1821). O movimento foi desaparecendo aos poucos, exceto na Itália, onde foram gradualmente absorvidos pelo movimento "Risorgimento" (Resurgimento) .

"Resurgimento"

Basicamente um movimento constituído por elementos da classe média e a nobreza, não visava transformações sociais radicais . Era dividido em vários grupos, sendo que a ala conservadora queria tinha um programa a favor de uma federação de estados italianos sob a presidência do Papa e a ala moderada tinham como objetivo a unificação da Itália sob a regência de um príncipe da casa de Savoy, Victor Emmanuel II da Sardenha. A ala radical tinha um programa anticlerical e republicano, com algumas reformas sociais, liderado por .Giuseppe Mazzini e sua sociedade secreta, Giovine Italia (Jovem Itália).

Garibaldi e os Carbonários na América do Sul

Ex-carbonários trabalhavam na América do Sul, em atividades comerciais ou de navegação à época da Revolução Farroupilha. Tentativa de transformar o Rio Grande do Sul uma nação independente, os farroupilhas contaram com a participação de cerca de 50 italianos, vários deles ex-Carbonários e alguns integrantes do : Ressurgimento:.. Talvez seduzidos pela idéia de mais tarde colocar em prática idéias de transforamções sociais, alguns chegaram a posições de destaque, como o Conde Tito Lívio Zambiccari, que era ajudante de campo e secretário do presidente farroupilha. Garibaldi estava no Brasil, fugindo da perseguição por conta de um atentado realizado em Piedmont. e decidiu vir lutar no Rio Grande do Sul, onde chegou a capitão da marinha. Lá casou-se com Ana Maria Ribeiro da Silva, mais tarde conhecida como Anita Garibaldi, que foi sua companheira de luta. Morreu em 1849, na Itália, já heroína do movimento pela unificação da Itália. Garibaldi ainda participou de várias lutas em Montevideo antes de voltar para a Itália, em 1848 .

Os primeiros escritos sobre conspiração visando a luta armada.

Se levarmos em consideração uma visão socialista da tomada do poder através das armas, temos os Blanquistas, famosos revolucionários liderados por Louis Auguste Blanqui (1805-1881). Sua crença era que pequenos grupos revolucionários poderiam trazer o Socialismo, através da luta armada. Blanqui passou cerca de metade dos seus 76 anos de vida na prisão e deixou uma autobiografia, cujo o título de "Ni Dieu, ni Maître" (Nem Deus, nem Patrão) dá uma boa idéia de sua inclinação libertária. Considerava-se discípulo de Babeuf.

Seu "Manual de Guerrilha Urbana", ou "Instructions pour une prise d'armes" (Instruções sobre uma luta armada), foi datado pelo historiador e arquivista Georges Bourgin como sendo de 1869. Dá instruções pormenorizadas do ato de se fazer barricadas e enfrentar o exército, teorizando sobre a experiência de Junho de 1848.

O texto versa, de forma genérica, sobre os tipos de problemas e soluções que envolvem a luta e resistência nas barricadas, mas não detalha nenhuma forma de ofensiva:

O "Blanquismo"

A luta praticada por esses grupos terroristas foi durante muito tempo uma espécie de degenerativo nos textos marxistas, denominado Blanquismo e usado para denominar qualquer pessoa ou grupo que se lançasse a luta armada sem preparação adequada e/ou sem levar o povo em consideração ou como Lenin escreveu "esperam que a humanidade será emancipada da escravidão do salário, não pela luta de classes do proletariado, mas através de uma conspiração armada por uma minoria de intelectuais" (V. I. Lenin, Collected Works, Vol. 10, p.392). p.5, c.

"Vontade do Povo"

O grupo "Vontade do Povo" (Narodnaia Volia), formado por Narodniks (tradução "indo para o povo", sinônimo para revolucionário na Rússia, durante os anos de 1860 e 1870) foi a primeira organização, com um programa baseado na subversão através de atos terroristas. Os Narodniks não acreditavam que o campesinato sozinho conseguiria atingir a revolução. Os heróis ou grandes personagens liderariam a massa que assistiria passivamente o processo. A polícia Tsarista reprimiu o movimento com brutalidade, sendo seus integrantes e simpatizantes presos, torturados e/ou exilados.

Sua teoria, chamada de "Luta Direta", pregava o terrorismo como forma de atingir o sistema:

Outros grupos e organizações que sucederam, como os Revolucionários Socialistas, os Socialistas Populares e os Trudoviks usaram as mesmas idéias, táticas e práticas.

As "gramáticas" da revolução

"Gramáticas da Revolução" é o termo usado por DEBRAY, em seu livro "Revolução na Revolução", para se referir a livros que detalham a luta armada. Livros detalhando métodos para a tomada do poder através da força não são de forma alguma, novidade. O mais conhecido, "O Príncipe", de Maquiavel, um tratado político, dedicado a Lorenzo de Médicis, detalha várias formas pelas quais o soberano pode conseguir, aumentar ou perder seu poder. Poucos movimentos produziram algum tipo de "manual de instrução", a grande maioria só mesmo manifestos ou plano de metas a serem realizadas.

Nechaev e o Catecismo do Revolucionário

Sergey Genadievich Nechayev (1847, 1882) Filho de servos russos, envolveu-se em atividades políticas radicais quando fazia seus estudos em São Petesburgo. De lá mudou-se para Genebra, onde conheceu Bakunin, o primeiro teórico anarquista a propor a revolução. Juntos, fizeram um texto que se tornaria famoso no meio estudantil radical da Europa daquele período (1869), o "Catecismo do Revolucionário", uma espécie de guia de luta para aqueles envolvidos com a revolução. A parte mais famosa (talvez tenha influenciado o texto de Guerra de Guerrilhas):

Bakunin renegou, em outro documento, os pontos de vista de Nechaev no "Catecismo":

Nechaev argumentava que, da mesma forma que as monarquias européias usavam as idéias de Maquiavel e os Jesuítas praticavam verdadeiras imoralidades para atingir seus fins, não havia ação que não pudesse ser também usada pelo bem da revolução popular. Voltou para a Rússia em 1869, onde criou uma organização terrorista secreta, Retribuição do Povo (Narodnaya rasprava) ou também "Sociedade do Machado". Dizia agir em nome de um comitê central inexistente. Devido ao justiçamento de um estudante (Ivan Ivanovich Ivanov), a organização foi proibida e seus membros perseguidos. Nechaev voltou a viver em Genebra, mas foi traído e depois extraditado. Seu comportamento durante o julgamento foi exemplar, não respondeu a nenhuma pergunta e foi condenado a 20 anos de prisão e trabalhos forçados. Por ordem do Tsar Alexandre II (que mais tarde pedia informes semanais sobre o prisioneiro), essa pena secretamente alterada para prisão perpétua.

Embora preso na fortaleza de São Pedro e São Paulo em São Petesburgo, conseguiu convencer os guardas a ler material revolucionário e a contrabandear instruções codificadas para o grupo "Vontade do Povo", que conseguiu assassinar o Tsar em 1881. Tal sucesso gerou maus tratos como represália e Nechaev, com a saúde abalada, morreu em 1882. Fyodor Dostoyevsky se baseou na sua história para compor o personagem Pyotr Verkhovenski, no livro "Os Possuídos".

De acordo com Peter Marshall, no seu livro "Demanding the impossible: A History of Anarchism":

"O Catecismo refletia uma porção significativa do pensamento revolucionário russo. O líder bolchevique V.I. Lenin admirava o Catecismo [e baseou um bocado do seu trabalho 'O que deve ser feito nisto'], enquanto o escritor Dostoievsky parcialmente modelou o personagem Verkhovensy no livro 'Os Possuídos' em Nechaev." [..]

Após a Revolução Bolchevique [Comunista], vários livros e poemas foram escritos na URSS nos quais Nechaev é apresentado como um herói épico russo.[..]

"A importância do pensamento Sergei Nechaev's está na sua transvalorização de valores e desafio aberto a moralidade da época. Na superfície, as palavras dele parecem nocivas e repugnantes, mas lá permanece um significado mais profundo capaz de inspirar a luta revolucionária. Nechaev externava uma coragem mística e uma paixão religiosa para mudar a realidade. Nisto ele não estava muito longe dos místicos da idade média, que permaneceram em oposição a todas as religiões organizadas e leis sociais". [..]

"Sua aparente imoralidade (mais uma imoralidade) derivava do compreensão fria que tanto a Igreja como o Estado são implacavelmente imorais em sua busca de controle total. A luta contra tais poderes deve então ser mantida por quaisquer meios necessários".

Victor Serge e "O que todo revolucionário deve saber sobre a revolução"

Esse livro, resultado de uma pesquisa nos arquivos da Policia Política do Tzar, a Okrana, faz um relato dos métodos utilizados para o combate da subversão. O livro é dividido em quatro partes:

· Descrição da Okrana · O Problema da Clandestinidade -Generalidades e precauções · Conselhos ao Militante · O Problema da Repressão Revolucionária

Bastante explícito quanto aos métodos da Polícia Política, faz uma descrição elaborada sobre como era feita a vigilância dos revolucionários, o mecanismo da delação, o recrutamento de informantes, a proteção do Tsar contra atentados e a filosofia da polícia, que era de conhecer mais do que reprimir. "A segurança política deve procurar destruir os centros revolucionários nos pontos de sua maior atividade e não esbanjar os seus esforços em tarefas menores" .. O último capítulo conclui que, com toda essa capacidade de vigilância, de conhecimento, ainda assim não foi possível impedir a revolução da mesma forma que não se pode curar uma doença suprimindo os sintomas.

Teoria Politica

Uma coisa é aquela velha história que a gente cansou de ver, desde criança, nos filmes de conspiração, ficção científica e outros tipos de ficção ou mesmo desenho animado. O sujeito se acha um tremendo cara e quer dominar o mundo. Deu vontade, o cara se torna cientista, general ou o que seja, e começa a planejar seu mundo ideal, onde todas as pessoas são felizes. Deve ser o desejo da maioria das pessoas.

A questão é que as pessoas vivem em sociedade. E ninguém é advinho para saber como é a forma de vida ideal de outra pessoa. A pessoa precisa informar a outra. Então existe a necessidade de um papel detalhando esse "mundo melhor". E esse mundo melhor precisa ter uma motivação. Quer abolir a instituição do casamento? Porquê? "Porquê exige testemunhas". Isso explica? Não. Mas já é uma motivação.

E se o cara quer dominar o mundo? Se tornar um ditador? Tudo depende se o pessoal vai concordar ou não. Até hoje não se sabe muito bem o que falar de Getúlio Vargas.. Existe um livro muito bom chamado "Contrato Social", do Rosseau. Não é fácil de ler mas explica muito bem porquê um governo precisa de algo mais do que "se eu fosse rei, faria isso".

O Anarquismo e as mudanças sociais:

Subproduto do pensamento iluminista e da Declaração dos Direitos do Homem, a filosofia Anarquista foi bastante mal interpretada ao longo de sua história. Como entender um governo sem hierarquia, onde ninguém está acima de ninguém e a liberdade de um termina onde começa a do outro. Nenhum dogma. Sem leis pelo simples fato de que não há necessidade. A palavra Anarchia acabou tão associada a caos ou baderna que atualmente se usa o termo libertário em seu lugar. O anarquismo em si não tem como norma valorizar este ou aquele pensador em detrimento dos demais, mas alguns merecem destaque. Claro que sempre acusam os anarquistas (ou libertários, sinônimo) de serem utópicos, de viverem na fantasia. Mas será que não foi utopia votar num ex-metalúrgico achando que as condições da classe trabalhadora iriam melhorar?

Proudhon:

Pierre Jousephe Proudhon (1809-1865), foi o primeiro a se intitular como "anarquista". Definiu as bases da ideologia. Escreveu seu famoso livro "O que é a propriedade?", no qual defende que "a propriedade é um roubo". Entre outras, pregava o fim das fronteiras, o livre uso da terra, da herança, etc. Para a época, foi considerado extremamente subversivo.

Thoureau e a Desobediência Civil:

Henry David Thoureau (1817-1862), é responsável pelo texto "Desobediência Civil", importante peça da litetura americana. Escrito após um ato de rebeldia do escritor, preso por faltar com o pagamento dos impostos, que não foram pagos justamente como forma de protesto contra a guerra dos EUA contra o México (1846-1848). Outro trabalho seu foi "Walden ou Vida nos campos"(1854).

Gândhi (vide filme) foi bastante influenciado por Thoureau, quando desenvolveu sua estratégia de resistência ao domínio inglês.

Bakunin

Primeiro filósofo anarquista a defender a reforma social através da luta armada, Mikhail Bakunin (1814-1876) participou de várias revoltas populares em vários países. Escreveu grande parte de sua obra na prisão. Um de seus artigos, "Reação na Alemanha" (1842), foi de grande popularidade em vários movimentos subterrâneos de libertação, com sua frase (debatendo Hegel e sua ênfase do positivo no processo dialético):. "O desejo pela destruição é também, ao mesmo tempo, um desejo criativo".

O Marxismo e os movimentos de libertação:

Tanto Marx como Engels, Lenin e Trotsky, dedicaram sua obra ao estudo do Socialismo Científico. Dentro desse estudo, a revoluçãode libertação nacional surge "como resultado dos conflitos do regime explorador e manifesta-se como a luta aguda de tendências sócio políticas contrárias, na qual se recorre a certas formas de violência política, de coerção revolucionária ". Parte significativa dos textos marxistas visavam à avaliação de movimentos operários, dentro do contexto histórico de cada época, as falhas que por esta ou aquela razão, não se concretizaram. A tomada do poder através das armas está presente apenas em alguns textos. A revolução seria muito mais uma conseqüência de determinadas situação do que um objetivo a ser alcançado pelas força das armas. Provavelmente, os autores queriam desencorajar atos terroristas como os que aparecem em filmes como "A rider named death" (Vsadnik pó imeni smert, Rússia 2004).

A obra de Karl Marx gerou uma quantidade de escritos bastante importantes para se compreender vários aspectos da economia, da política e da sociedade. Na verdade, vários conceitos marxistas são estudo obrigatório para o vestibular e fazem parte do cotidiano das pessoas. Só que entrar na literatura marxista no que se refere a tomar o poder e instituir a chamada "ditadura do proletariado", isso é coisa para um livro inteiro ou uma enciclopédia.

Chê Guevara e a América Latina

O autor mais lido e de memória mais venerada seria Chê Guevara, grande fã e inspirador de movimentos de luta armada em toda a américa latina e no mundo afora. A maioria das pessoas conhece o rosto mas jamais leu seus livros, como "Guerra de Guerrilhas" ou "Diário da Guerrilha Boliviana". Foi um médico que virou mochileiro, depois virou mito e é considerado mártir pela grande maioria. Em Cuba, seu exemplo é venerado até hoje. Sua literatura (escreveu muitos livros e artigos) tem uma influência enorme na política sul americana.

O livro "Guerra de Guerrilhas", documento básico para entender aquele período, pode ser lido de várias formas: aparenta ser manual de guerrilhas e também relato resumido da luta armada. Mas não aprofunda vários detalhes importantes e que foram vitais. A "teoria do foco" da qual o livro fala (explicando como um grupo de revolucionários chegaram ao poder) na verdade pode ser entendida melhor como um discurso político justificando o método pelo qual o socialismo foi implantado em Cuba. Na maioria dos países onde o livro foi usado como base de luta armada, o resultado foi fracasso quase total.

Não quero dizer com isso que sou contra ou a favor da revolução cubana, apenas que o livro de "Guerra de Guerrilhas", de leitura fácil, porém é muito mal compreendido. Uma idéia na cabeça e um fuzil na mão não são o início de um processo revolucionário. Não basta uma situação de luta armada para iniciar um processo de deposição a um regime político qualquer. Isso fica bastante claro no apêndice do livro.

Precisa conhecer o conceito ou termo Hegemonia Cultural (veja wikipedia ou um dicionário de mídia qualquer) para entender a razão de ser da literatura produzida por Chê Guevara. Mais ou menos significa que uma cultura heterogênea pode ser dominada através de um sistema de conceitos e crenças difundida por alguma classe (que aí se torna dominante). Diz o ditado: O hábito não faz o monge. Mas se você vê alguém de hábito, você acredita que vê o monge. Quando o dedo aponta para o céu, as pessoas olham primeiro o dedo. O discurso político funciona da mesma forma.

O livro "Guerra de Guerrilhas" é apenas uma forma de enxergar a luta armada em Cuba, uma idéia de teoria política. O que não impediu de servir de inspiração para outros livros como o brasileiro "Manual do guerrilheiro urbano", (MARIGHELA) e o uruguaio "Actas Tupamaras".

Guerra de Guerrilhas no Brasil: O livro e o movimento estudantil

A luta pela deposição do ditador Batista (ou revolução cubana) também foi um evento de mídia. Na época foi bastante popular com o público americano (que inclusive contribuiu financeiramente). Para os EUA, até se descobrir que havia uma ideologia socialista na revolução, era apenas mais um caso de deposição do governo por armas, um ditador substituindo outro. Mas pode-se ver referências em vários filmes da época. No Brasil também. O livro "Guerra de guerrilhas" foi publicado em português e lido até em cópias mimeografadas pelos estudantes.

Quase todos os grupos políticos envolvidos com a resistência contra a ditadura tinham como idéia iniciar uma luta no campo (seguindo o exemplo do livro) para depois dominar as cidades. Para conseguir fundos para iniciar a luta armada no meio rural, assaltavam bancos. Virou epidemia, todos os grupos políticos armados faziam isso. Ficou tão comum a cena de grupo armado assaltando banco que o Renato Aragão (no tempo bem antes do programa "Os trapalhões") chegou a fazer um quadro humorístico sobre o assunto. A chamada "Guerrilha no Araguaia" foi uma exceção. Começou no campo e foi até o fim no ambiente rural, não foi luta urbana.

A verdade histórica é que os estudantes fazendo passeata incomodavam muito mais a ditadura do que os mais de 50% de estudantes que participaram dos grupos que assaltavam bancos em nome da luta contra a ditadura. Talvez por inspiração na "teoria do foco" (um grupo armado tentando lutar contra a ditadura), quando se faz filme ou livro sobre a ditadura não se aborda tanto as multidões de estudantes que paravam as ruas de São Paulo e Rio de janeiro com protestos. Não era pouca coisa. Houve até caso de situação de revolta popular no centro do Rio de janeiro, outra consequência criada pela repressão a estudantes (vide livro do Zuenir Ventura - 1968).

De certa forma, quando se conta a história desse período, essa versão é a mais usada no cinema brasileiro atual. Analisando com cuidado pode-se encontrar os mesmos elementos: um pequeno grupo de pessoas com armas na mão pode desencadear um processo de tomada do poder. Ah, e os estudantes que pararam o Brasil com os protestos, apanharam e também foram torturados (além de ser maioria nos grupos armados)? O AI-5 foi decretado em conseqüência a um protesto estudantil ocorrido na Universidade de Brasília. Eram os estudantes que paravam o país e não o pessoal que assaltava bancos ou fazia ações armadas. Só na série da Globo, "Anos dourados" teve algo mais significativo sobre a participação dos estudantes.

No Brasil, o movimento estudantil foi o maior foco de revolta contra a ditadura até todo mundo ser preso no famoso congresso em Ibiúna. Depois da prisão dos líderes estudantis, lentamente o movimento estudantil foi desaparecendo (os estudantes que não foram presos, estavam fichados na polícia) e a luta armada urbana, decaindo. O livro "O que é isso, companheiro", apesar de todo o clima de conspiração que o livro transmite, abordando temas como sociedade secreta, ideologia, luta contra a ditadura também é um livro parcial em vários aspectos. Tem qualidades mas é muito parcial (como todo depoimento). Minimiza ou desvaloriza a participação dos estudantes nos protestos. No entanto, está lá no livro: ação de seqüestro do embaixador americano nasceu de uma idéia para libertar dois estudantes líderes do movimento estudantil: Vladimir Palmeira e José Dirceu (há algo irônico nisso).

Mas há vários livros que precisam de outros livros (explicando) para serem entendidos.

A Contra-Cultura Americana e Mundial (anos 60 e 70):

Necessário apresentar um pouco do contexto em que aconteceram aquelas lutas.

As pessoas que viveram aquele período da ditadura militar brasileira tem uma visão bastante saudosista. Uma boa razão é que a imprensa, para demonstrar de alguma forma que não aprovava o regime militar, a imprensa dava espaço para outras manifestações de cultura. A censura impedia a publicação de muita notícia. E um jornal depende da veiculação de notícias.Então a notícia era algo polarizada: ou era a favor do regime militar ou comentava aquilo que a censura deixava passar. Por consequência, um artigo de revista questionando os costumes eram destaque. Idéias viravam notícias de jornal. Protestos eram motivo para manchetes. Talvez, se o país não estivesse sob censura (tudo era "proibido para menores de 18"), matérias sobre sexo livre, feminismo, religiões esotéricas, talvez não tivessem tanta repercussão ou espaço na imprensa. Pornografia era quase cultura. Chico Buarque era censurado. Mas Raul Seixas nem tanto. Viva a sociedade alternativa!

Talvez sejam esses os resultados a grande obra de "revolução cultural" que todos nós conhecemos de ouvir falar mas da qual não muita gente tem idéia. A maioria das pessoas que nasceram nos últimos anos, pelo menos. Antes dos anos 60 e 70 (até mesmo recentemente), mulheres não podiam por exemplo, se separar dos maridos. Tinha que se casar virgem e muitas vezes, com quem a família permitisse. Beijo de língua era escândalo, assim como aborto. Gay tinha que esconder que era gay. Sexo livre era escondido de todo mundo, a pessoa sofria ostracismo. A igreja condenava (aliás ainda condena mas hoje ninguém está ligando mais para isso). Claro, quando podia trabalhar, mulher ganhava muito menos do que homem.

Só pessoas mais velhas tinham autoridade, opinião sobre alguma coisa. Ser conservador era algo chique. Não se podia falar palavrão. Aliás, só se podia falar aquilo que todo mundo considerava exemplo de "boa moral" e aos "bons costumes". Um tipo de hegemonia cultural. Quem não seguisse um comportamento digno era objeto de fofocas e ostracismo. Era apontado na rua como se fosse um marginal. Claro que em algumas cidades do interior e talvez em outros países (islâmicos, por exemplo) ou mesmo em cidades bem no interior do Brasil talvez a coisa ainda continue assim.

Mas alguma coisa mudou. Não se precisa mais por exemplo, casar para se conhecer melhor outra pessoa (as igrejas perdem um dinheiro incrível com isso). O conceito de cultura hoje é diferente. Mas isso só aconteceu porquê muitos protestaram. E desenvolveram uma contra-cultura (que hoje é cultura). Na verdade, a sociedade atual está desenvolvendo contra-contra-culturas a todo instante. Mas aí é outra história.

Houve movimentos de contra-cultura no mundo inteiro, não só nos EUA. Na França, os estudantes quase tomaram o poder em 1968 (vide o filme "Os sonhadores" do Bertolucci) e tudo começou com um proibição de visitas masculinas no dormitório feminino da universidade Soubonne (entre outros motivos e desdobramentos).

Abbie Hoffman e Jerry Rubin

Dentre o grande número de autores, Abbie Hoffman foi o responsável por um clássico libertário da contra-cultura (que atuou contra o esforço de guerra no Vietnã), o livro "Steal this book" (Roube este livro), que basicamente ensinava desde organizar uma passeata até roubar no supermercado.

Jerry Rubin foi um repórter de notícias esportivas, até que viajou para Cuba e tornou-se agitador contra a Guerra do Vietnã. Inspirado em "Guerra de Guerrilhas", seu livro, "DO IT - Scenarios for the Revolution" foi um documento político da agitação daquele período onde se cogitava a revolução nos EUA.

Algumas conspirações reais ou só teoria

Conspiração: de acordo com o Aurélio, ato de conspirar - maquinar, tramar, projetar em comum coisa contrária aos interesses de alguém. Pode tanto ser um plano por parte de um grupo de realizar alguma coisa ilegal ou danosa para alguém ou para alguma instituição ou não. Se um grupo de pessoas planeja algo contra alguém, isso já é uma forma de conspiração, ainda que seja apenas fofoca. Mas se é o planejamento secreto de uma festa de aniversário, o termo também se aplica.

O mais interessante sempre são as teorias de conspiração. Claro que "teoria de conspiração" é um termo abrangente, virou popular. Quando se quer destruir alguém socialmente, é só apontar alguma característica da pessoa e associar a algo negativo.Por exemplo, você está numa roda popular aí vem aquela história: "Aquele cara está bem de vida porquê tem ligação com o narcotráfico", "aquele sujeito conseguiu aquilo porquê dormiu com não-sei-quem", "a empresa do sujeito é fachada para lavagem de dinheiro", "o sujeito é informante da polícia", "a menina está magra porquê está com AIDS" etc, etc.. não é exatamente conspiração. Mas existe uma "coisa", um não-sei-oquê de conspiração por trás disso ou daquilo.

Todo mundo é paranóico. Alguém aí não está preocupado que o fim do CPMF não vá trazer a volta da inflação? Tudo depende do tema. Depende do que se teme ou em que ou quem se quer acreditar. A imprensa lucra muito com desinformação sobre tudo. Basta tentar entender a política brasileira lendo os jornais. "Não importam os fatos e sim as versões" (frase atribuída ao Getúlio Vargas). Alguém se lembra da morte do Tancredo Neves?

Alguns exemplos (mais ou) menos polêmicos para se entender questões de "teorias de conspiração". Para entender porquê do ponto de vista histórico, há listas de conspirações (e teorias de conspirações) bem mais completas. Não estou colocando em ordem histórica muito menos por ordem de importância.

Getúlio Vargas e o Plano Cohen

Coisa para quem estudou pro vestibular (se você não estudou pro vestibular, talvez nem entenda de história o bastante). Era um plano para um golpe de estado contra Getúlio Vargas, no seu primeiro governo (entre as décadas de 30-40). O país estava sendo governado em algo chamado "estado de guerra" (algo pior do que "estado de calamidade pública", o presidente tem justificativa para fazer muita coisa que a constituição não aprova, como proibir partidos politicos, protestos, etc) desde a Intentona comunista. Estava chegando o momento em que o "Estado de Guerra" não se justificava mais. Aí é que surgiu o chamado "Plano Cohen", um plano de tomada do poder através da luta armada. Totalmente ficção.

Mas com base nisso, Getúlio fez o chamado "auto-golpe". Ao invés de chamar as eleições, tomou o poder (que já estava nas mãos dele). O resto é o de sempre. Ditadura, prisões, tortura, censura, perseguição, nova constituição (apelidada de "polaca"). Tudo por causa de uma ameaça fictícia (comprovada tempos mais tarde).

Houve uma grande quantidade de coisas positivas no governo dele, como a campanha pela nacionalização do petróleo e melhorias na legislação trabalhista. Complicado falar do Getúlio Vargas. Estudar o governo dele é questionar o tempo todo se "os fins justificam os meios".

Pearl Harbour

Nome do ataque japonês ao porto norte-americano no Havaí. O Japão estava em guerra contra a China há vários anos. Os EUA, pelo menos a opinião popular, estava na dúvida. Havia muitos que eram contra o envolvimento americano na guerra européia. Mas o Japão se aliou a Alemanha e os EUA boicotou a venda de aço para a indústria japonesa. A história oficial é que o Japão preparou um ataque surpresa no principal porto americano na Ásia. E desencadeou o ataque sem avisar, antes da declaração de guerra. Portanto, um ato vil, traiçoeiro. Todos os EUA se revoltaram contra essa atitude. Todo mundo passou a apoiar a guerra contra o Japão e a Alemanha.

Hoje porém, você lê um livro como o "The Codebreakers" e descobre que os EUA já tinham "quebrado" o código de mensagens da embaixada japonesa. Já se tinha uma vaga idéia de que as coisas iam chegar aonde chegaram. Na verdade, não fossem alguns atrasos na tradução (coisa de umas duas horas) talvez a declaração de guerra tivesse chegado às mãos do presidente americano pouco antes ou no momento exato em que o ataque japonês começou. O ataque japonês não foi exatamente uma surpresa no alto comando.

Protocolo dos sábios do Sião

Esse talvez seja o documento mãe de muitas teorias de conspiração. Se você simplesmente ler o livro "O protocolo dos sábios do Sião" vai facilmente chegar à conclusão de que os judeus querem dominar o mundo (quem não quer?). O livro é de leitura fácil. Mas verídico? A história "oficial" é que se trata de um manual feito para ensinar um sábio judeu como é que ocorrerá a tal dominação mundial feita pelos judeus. Há bastante gente que aposta que o livro é verdadeiro.

Henry Ford bancou a impressão de 500.000 cópias do livro (depois se retratou de ter feito isso, botou a culpa nos assessores). Em países islâmicos, é estudado em ensino básico. O Hammas, o Hezbollah, OLP, vários países já endorsarm o livro. Mas aí também não sei se um cara com arma na mão é autoridade.

A verdade (histórica) é que é se trata de um documento falso. Baseado em duas obras: "Biarritz", de Hermann Goedsche e "Dialogue aux enfers entre Machiavel et Montesquieu", de Maurice Joly. Porquê foi feito? Will Eisner fez uns quadrinhos explicando a história do tal protocolo e a explicação é a Okhrana, o serviço secreto russo, encomendou a obra para um escritor. Para colocar o Czar Nicolau II contra os judeus, lá por 1902, início do século XX. A modernização da Rússia podia significar o fim da monarquia e o Czar estava morrendo de medo disso. Era necessário justificar a repressão de alguma forma.

Para mim é tão óbvio, não pode ser real. Opinião pessoal: se fosse o documento oficial de um sábio judeu explicando para outro sábio, ele não seria fácil de ler. Segundo lugar, seria um livro tão grosso quanto a bíblia, o Talmud ou o Alcorão. Terceiro lugar, quem seria louco de escrever, colocar isso no papel?

Nazistas gays

Quem quiser se "aprofundar" no assunto pode checar um livro, o "Pink Swastika". Estava até na Internet. Ainda não consegui ler inteiro. Existe filme documentário sobre o tema (assisti mas não guardei o nome). Aparentemente, nem a comunidade gay nem os nazistas querem mexer no assunto. Se o Hitler era gay? Existe comprovação de que ele teria tido relações carnais de alguma espécie com pelo menos 3 mulheres (que se mataram tempos depois). É histórico que muita gente da elite que organizou o início do partido nazista alemão não era heterossexual. Foram em sua grande maioria mortos num episódio também histórico. Então é assunto complicado.

MK Ultra

Esta é ótima. O LSD foi descoberto por Hoffman por volta da 2a Guerra Mundial. Os alemães experimetaram usar drogas "alteradoras da realidade" em prisioneiros de campos de concentração. Quando os americanos venceram a guerra, levaram todo o tipo de resultados científicos ou pesquisas para casa. (Aliás levaram batalhões de cientistas e até mesmo militares alemães para trabalhar nos EUA mas isto é outra história). A idéia de usar a química como forma de controlar as pessoas parecia uma boa idéia. Havia uma coisa chamada "Guerra Fria".

Qualquer tipo de coisa que desse vantagem militar aos EUA eram considerada e experimentada. Desde hipnose até lobotomia, poderes paranormais chegando no LSD e outras drogas. Na verdade, Timothy Leary, o papa do LSD foi apenas uma das pessoas que investigou o produto (e ele tinha saudade da qualidade do LSD fornecido pelo exército americano). A CIA distribuiu verba para vários outros pesquisadores testarem vários tipos de drogas em várias pessoas. Quem procurar na Internet vai achar um filminho de um bando de soldados tentando fazer manobras sob o efeito de drogas.

A documentação (nada disso acima é teoria, tem documento bancando e se brincar, disponível via Internet) sobre o tema MK-ultra é inacreditável. Existe um documento encomendando 30 milhões de doses de LSD para a firma Sandoz (que se recusou a fornecer tal quantidade). A Sandoz se recusou a fornecer. Aí então a CIA procurou uma companhia chamada Eli Lilly Co, para sintetizar o LSD e de acordo com um texto, assegurava que poderia fornecer "Tonnage quantities" (Uma tonelada = 2.5 BILHÕES de doses). Interessante saber que Bush (pai do atual Bush) foi diretor da Eli Lilly de 1977 a 1979 e a família dele tem uma parte das ações da empresa (não quer dizer absolutamente nada, o sujeito também foi diretor de um força-tarefa anti-drogas).

250 microgramas de LSD são o suficiente para uma dose. Pouco maior ou igual a um grão de areia. Tipo, não precisa muito. Na forma pura, a pessoa pode inalar poeira de LSD sem enxergar. A substância fica diluída em líquido ou sólido exatamente para não apresentar esse risco (em líquido, não precisa ingerir, basta molhar a ponta do dedo para ficar "ligado").

Drogas como LSD eram dadas a pessoas em várias condições. Em muitos casos, clandestinamente, sem o conhecimento delas, como em festas ou . O governo americano admitiu cerca de pelo menos 1000 pessoas, entre 1955 e 1958. Uma parte delas gritou "Shazam" e pulou pela janela (ou mesmo cometeu suicídio), então milhões de dólares de indenização foram pagos as famílias (anos mais tarde, quando finalmente o governo admitiu).

Havia a intenção de criarem robôs manipuláveis através de hipnotismo, drogas, etc e houve casos inexplicáveis de indivíduos cometendo assassinatos com motivação inexplicável (Checar Sirha Sirhan). Soa estranho é que os anos 60 foram marcados pelo início do uso de drogas pela juventude. E por outro lado, toda essa documentação (a que sobreviveu porquê muita papelada foi eliminada bem antes de cair numa CPI do congresso americano) documentando influência da CIA na pesquisa e distribuição de drogas. Soa como coisa dos livros "Admirável Mundo Novo", "1984" ou melhor ainda "Volta ao admirável mundo novo".

Parece. Mas existe um livro "A programação de Candy Jones" documentando como uma radialista americana que foi iludida a participar de um experimento com várias drogas. A idéia era inteligente. Todo mundo tem outra pessoa dentro de si. Que nem aquela pessoa que quando bebe vira outra pessoa (veja o que é um torcedor de futebol antes e durante um jogo). Então, sob influência de uma química qualquer, a pessoa vira outra.Usavam uma pessoa qualquer (que tenha potencial para ser hipnotizada) e através de drogas e hipnotismo, faziam aparecer outra personalidade (adormecida). Essa pessoa pode ser treinada como agente secreto e desempenhar uma missão. Com a grande vantagem que, se for capturada, não vai revelar nada, nem sob tortura.

Como a radialista descobriu que tinha outra pessoa dentro dela? Ela se casou. O marido começou a estranhar as mudanças de humor repentinas que ela tinha. Numa noite, o marido "brincou" de hipnotizador com ela. Aí descobriu outra pessoa no corpo da mulher dele, chamada "Arlene". Se o livro é verdadeiro? Bom, foi escrito com base em testemunhos. Centenas de horas de testemunhos, usando hipnotismo. E a CIA realmente fez esse tipo de experiências e que em determinada época, treinou gente para esse tipo de tarefa de pombo correio. Não dá para ter mais certeza do que isso.

Quer ficar impressionado com o assunto, basta saber que duas estações (ou bases) americanas no exterior foram palco de experimentos da CIA com LSD. Uma delas, Atsugi, no Japão em 1957 justamente foi onde um cara chamado Lee Harvey Oswald estava fazendo serviço militar. Se Oswald matou Kennedy, isso é outra história mas a coincidência existe.

Hashishins

Este é um experimento de controle de mentes usando lavagem cerebral, drogas e bebidas que realmente funcionou. Detalhe: funcionou no tempo das cruzadas. Quer dizer, aí tem uma lenda, uma história em cima do assunto. Conjectura-se que a palavra "assassino" veio da palavra "hashishin". Significaria consumidor de haxixe. Que era como chamavam um grupo de assassinos criado no antigo Islã. Por volta de 1090. Um grupo islâmico teve que dar o fora do Egito, aquela coisa de richa de árabe. Sob a liderança de Hasan I Sabah, começaram assassinando gente de clãs rivais e outros até a invasão mongol, em 1272.

Dessa seita, muita coisa é lenda. O ritual de iniciação ou recrutamento. O sujeito (futuro recruta) era convencido ou induzido a acreditar que seus dias no mundo estavam para acabar. Cemitério a vista. Aí ficava naquele estado mental "feliz", aguardando a hora. Que realmente chegava, só que ele acordava da morte (induzida por droga) e estava num jardim maravilhoso, algo paradisíaco. Então é que era apresentado ao Hasan, o líder. Naquele tempo não havia TV nem Internet, donde o cara acreditava que sim, tinha morrido, estava no céu e aquele cara Hasan era representante de Deus.

Quando estava se acostumando com aquilo tudo, já estava tecnicamente iniciado, vinha a parte ruim, paravam de dar droga para o cara. Colocavam num buraco ou cela e .. para voltar para aquela versão de paraíso, só seguindo as ordens da seita. Até a morte, se necessário. E os caras obedeciam, acreditavam. Se Hasan é o representante de Deus e manda fazer aquilo então..

Diferente dos homens-bomba que existem hoje, quando os hashishins eram mandados em missões de assassinato, não tinham o lance de causar mortes desnecessárias. Na verdade, nem se matavam para evitar a captura.

E podiam gastar anos se infiltrando até conseguir chega perto do alvo. Poderiam até mesmo, por exemplo, se converter a religião católica, freqüentar cultos até atingir o grau de sacerdócio até (lembrando que alguns agiram no tempo das cruzadas, junto dos cruzados). E passado um tempo adequado, conseguiram chegar perto da vítima, pronto. Se fossem mortos durante a ação, iam (em teoria) para aquele paraíso que tinham conhecido durante o treinamento a base de drogas.

Não eram moralistas."Fazemos qualquer negócio". De acordo com os relatos, poderiam tanto aceitar fazer serviços para o pessoal das cruzadas como fazer serviços contra o pessoal das cruzadas.

Conclusão? Bert é mau.

Alguns vão se lembrar desse site, o "Bert is evil". Bert é um personagem daquele programa infantil, um boneco do Vila Sésamo. Alguém, no início da Internet, teve a idéia de criar uma teoria de conspiração em cima desse personagem. Como se estivessem revelando um "lado oculto". E o site era recheado de fotos mostrando Bert ao lado de Adolf Hitler, Bert fotografado ao lado de Al Capone, uma foto do Michael Jackson criança ao lado dele.. tudo no esquema "uma foto não quer dizer nada mas é suspeito". Havia até uma foto do Bert perto do carro do John Kennedy quando ele foi assassinado em Dalas. Sim, também havia foto do Bert posando ao lado do Bin Laden.

Num filme americano, Capricórnio Um, a NASA estava sem dinheiro para enviar gente para descer em Marte, então montam um operação de cinema para fazer o povo acreditar que o foguete com os astronautas subiu e que os americanos realmente desceram em Marte.

Hoje existe o Photoshop, os efeitos especiais, é bastante fácil criar evidência fotográfica. Só basta um pouco de paciência. Como os nazistas descobriram, uma mentira repetida muitas vezes, pode virar verdade. Então não dá para dizer com facilidade quem é o quê. Tudo pode ter motivação oculta. E se não tiver, pode ser entendido como tendo. Depende de quem conta, a história aumenta ou diminui.

Como saber o que é conspiração, o que é clandestino, como entender o que realmente está acontecendo? Difícil. A pessoa precisa se esforçar para tentar desenvolver um senso crítico. Precisa ler jornal. Aprender a duvidar das notícias. Talvez até aprender a apreciar mídia independente. A mentira é uma verdade que deixou de acontecer. A televisão pode num dia te convencer que tudo está no certo. E no outro, que tudo está errado.