EMPREGO E PRIVACIDADE

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EMPREGO E PRIVACIDADE

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Derneval R.R. Cunha

Quanto custa um conjunto de roupas para fazer uma boa impressão numa entrevista para emprego? Já parou para pensar? Pensa então. Primeiro emprego. Instituição séria. Escritório de advocacia. Jeans, nem pensar. Calça e camisa social. Sapato. Currículo perfeito. Ok. Então vem aquela surpresa: vc tem curso de inglês? Tenho. Calcula o preço de X meses ou aulas particulares. Já calculou? Ótimo. É necessário curso de informática, já calculou? Tudo bem. Calcula quanto custou seu computador mais o número de horas que vc gastou aprendendo sozinho. Melhor, calcular o preço de um curso de informática completo. Com tudo aquilo que está sendo pedido naquela boa vaga de emprego. Experiência anterior? Oops.. tá bom, vamos fazer de conta que vc aceitou um estágio mixuruca, deixou de fazer um monte de coisa com seu tempo para poder dizer que tinha alguma espécie de experiência anterior. Sim, vc tem alguma experiência anterior. Diploma? Lembra aquele sacrifício todo que foi fazer aquela faculdade, aguentar todos os problemas, toda a sua juventude estudando para entrar numa faculdade decente, família te cobrando, só para poder falar, sim, tenho diploma. (quanto vc contabilizou até agora, o preço da sua educação, meu).

Tudo isso passa pela sua cabeça enquanto fica esperando na recepção, mesmo vc tendo chegado na hora. A moça que te atende fala que é só um instante. O nervosismo cresce. Aí vém a parte onde a gente fica relembrando as dicas de jornais e revistas recomendando para entrevistas..

Será que o cabelo está legal?

Usa frases simples, não fica enrolando na hora de responder.

Postura corporal, corpo reto.

Tá barbeado, precisa perguntar primeiro e só depois responder

Não tem revista para ler nem lugar para olhar. Cada barulho faz pensar que a hora chegou. Mas quando finalmente parece que será sua vez, ainda não é, é só para avisar que vai demorar mais um pouco. Até que chega a grande hora.

Alguém te leva para uma sala, coloca uma folha de papel e pede para vc escrever uma redação, mínimo de 30 linhas. Escreve sobre o que espera trabalhando nesta empresa. Depois tem um exame escrito. Um exame de.. perguntas e respostas. Que vc não entende. Porquê querem saber tanta coisa sobre sua vida? Mas vc responde perguntas que talvez nunca tinha pensado em responder. Ou talvez até mesmo perguntas simples, sobre quanto tempo está sem trabalhar. Se fuma ou não. Etc..

Aí volta para casa, esperando que chamem. Porque falaram que irão chamar. Só que não chamam. O que deu errado?

TESTE DE SINCERIDADE

Por alguma razão, as empresas acreditam que ser possível testar e contratar alguém com base em testes. Diferente daquela coisa que vc deve ter visto em séries da TV, seja do Trump ou do Justus onde o sujeito tem que demonstrar capacidade para conseguir a vaga.

Para isso são usados os testes psicológicos. O que são eles? São formas de se avaliar a sua personalidade. Ou para descobrir se vc tem histórico de drogas, roubo, preguiça, desentendimentos, qualquer coisa do gênero, incluindo desonestidade. Não querem ninguém mentindo para conseguir um emprego. Senão seria muito fácil. Ou talvez, seja uma pessoa difícil de lidar. Vai saber. Quando o teste é bem sucedido, pode escolher funcionários por critérios mais interessantes para a empresa.

Daí a entrevista e/ou os testes escritos. O objetivo é te conhecer melhor. O que a empresa vai declarar tanto pode ser conhecer melhor sua capacidade como avaliar em que posição seus conhecimentos seriam mais úteis. Para isso se contratam empresas ou especialistas em recursos humanos. Eles é que vai tentar descobrir quem vc é. Ganham cada vez que apontam para um cara e avisam que este ou aquele sujeito tá fora do padrão de funcionário ideal. Não é legal? Existe uma crença bem grande nesses profissionais. Fico pensando que existem pessoas que se casam depois de um namoro que durou anos. Casam e seis meses depois de casados (ou até antes), pah! Divórcio.

Há quem discorde de que as profissionais acertem quando fazem tais testes. Aliás um monte deles foram declarados ilegais por associações de medicina. Um exemplo? Vou pegar o de um teste do qual já falei antes, o do detetor de mentiras. Em filme, funciona que é uma beleza. Na vida real, funciona em 95% dos casos, quando aplicados a pessoas normais sabem distinguir quem está mentindo ou não. A propaganda diz isso. Sobre pessoas normais americanas, o teste foi desenvolvido lá nos EUA. Um país onde o sujeito pode planejar o pagamento da hipoteca da casa dele em 20 anos pode se dar ao luxo de arrumar cem ou duzentas pessoas normais. Será que um teste desenvolvido em outro país vai entender da sutil diferença entre um corintiano normal e um palmeirense normal, em final de campeonato ou no dia seguinte da derrota?

Por outro lado, muito dessa coisa de teste é baseado na crença (crença não é algo comprovado, é algo crível) de que todos os corintianos ou palmeirenses ou flamenguistas estão sintonizados, quer dizer, seres humanos que pensam igual agem igual e por aí vai. Daí ser mais fácil a menina confiar num palmeirense para namorar do que num corintiano (reza outra lenda). Mesmo que um teste consiga determinar características semelhantes em torcedores de um determinado time, o que acontece com os torcedores de outros times de futebol? Sempre existe o ex-flamenguista, o ex-botafoguense ou o ex-corintiano. E pra que adianta determinar que isso ou aquilo bate? Um ambiente de trabalho é exatamente isso, não é uma partida de futebol.

O português (ou polonês ou alentejano) foi numa conferência e um cara veio tentar lhe vender um livro sobre lógica:

- Ora, pois, o que é isso?

- Vou te fazer uma pergunta: vc tem aquário em casa?

- Tenho.

- Logo, vc tem crianças em casa?

- Sim, é verdade.

- Por consequência, vc é casado.

- correto..

- Portanto, deduzo que vc não é homossexual.

- Puxa, que legal, vou comprar este livro.

Aí ele compra, vai para casa, aparece o amigo dele (Joaquim) e e lhe pergunta:

- Que livro é este?

- É um livro de lógica, acabei de comprar.

- E o que é isso?

- Seguinte, Joaquim, vc tem aquário em casa?

- Não.

- Puxa, pelas minhas deduções vc é homossexual.

FUNCIONÁRIO IDEAL

Todo mundo conhece alguém que parece ser o ideal de funcionário. Da mesma forma que se conhece o aluno CDF, o mais comportadinho da sala. Que que se pode dizer de um caras bem comportados (além dele serem péssima companhia depois do expediente)?

Em todo lugar pode-se encontrar pessoas assim. Nos anos 60 esse era o modelo de comportamento que os pais tentavam incutir nos filhos.

NÃO SE PODE CONTRATAR

Pessoas com hábitos diferentes, que não sugerem bom comportamento podem ser desclassificadas logo de cara. Por exemplo, uma pergunta do tipo “vc já mentiu alguma vez na vida” pode ter várias respostas. Se vc pensar que responder “sim” é uma resposta honesta para uma pergunta vaga, tem que ter certeza que a pessoa que irá ler a resposta concorda em contratar alguém que admite ser mentiroso. Se está certo ou errado deixar de contratar alguém por conta dessa pessoa acreditar ou não que uma mentirinha de vez em quando não tem problema, isso não é problema. O problema é que essa pessoa teve coragem (ou cara de pau) de admitir isso.

VERDADE OU MENTIRA: COMO FUNCIONAM AS PERGUNTAS

Se é uma entrevista (um psicólogo ou estagiário te perguntando), talvez vc esteja até mesmo sendo filmado sem o seu consentimento. Então, mentir não é opção. A pessoa tem que acreditar naquilo que está dizendo. Pode até ser que consiga mentir e fazer acreditar na mentira. Só que existem vários tipos de perguntas. 3 ou 4 tipos na verdade.

Perguntas neutras – do tipo “está um lindo dia” ou “qual sua opinião sobre usar gravata”. Só pra ver sua cara enquanto responde.

Perguntas de controle – Ou pegadinhas. Estas são maliciosas e interessantes. São usadas para saber se vc está tentando fraudar o teste. O melhor exemplo (e talvez o mais delicioso na minha opinião é aquele filme do Stanley Kubrick, De olhos bem fechados. Assistiu? Não? Tá, então dá uma olhada na cena logo após a festa. O filme começa com o casal indo numa festa e a mulher (Nicole Kidman) fica sendo assediada por um cara, um don juan. Fica um tempão com ele mas não acontece nada. Só que o personagem interpretado pelo Tom Cruise desaparece com 2 garotas maravilhosas. A esposa viu e ele viu que a esposa viu mas estavam apenas conversando. O problema é que ele desaparece por conta de outro motivo que é segredo (o filme é cheio deles, por falar nisso). Tudo bem. Ele volta para a festa, vê que a esposa continua com o cara assediando ela. Beleza. Bom, aí volta pra casa, ela meio tonta de bebida e ele começa a reclamar que ela tava dando atenção demais para o conquistador de meia-tigela. Porquê tanto ciúme, era só conversa. Aí ele retruca que tanto ele quanto ela sabe que no fundo, cara que conversa com mulher bonita só quer é ir para cama com ela. Não é simples conversa. Aí a Nicole Kidman (o personagem q ela interpreta) joga na cara dele:

- Por conta desse raciocínio, vc estava armando para ir pra cama com aquelas duas garotas, então. Me explica onde vc ficou na festa aquele tempo todo.

Tomou? Sentiu a pegadinha? Na verdade, o exemplo acima serve para ilustrar o conceito. Mas vamos pegar outro exemplo. diferente. Para entrar em filme proibido ou mesmo numa boite. Lembra do tempo em que vc era de menor e vivia querendo entrar em filmes proibidos ou numa boite? Ok. Supondo que conseguisse de alguma forma adulterar ou mesmo emprestar uma carteira de identidade de alguém semelhante. Um primo ou amigo que se parece com vc mas tem 18 anos. Vc se arruma, faz uma cara séria e tenta entrar. Mas o bilheteiro resolve olhar bem sua carteirinha. Aí pergunta sua data de aniversário. Vc está preparado para isso. E responde a data de aniversário que está na carteira. Aí ele pergunta: quer dizer que seu signo é aquário? A pergunta de controle portanto é um truque para testar a veracidade de determinada informação.

Perguntas realmente importantes - Estas são as perguntas que vão determinar o caráter da pessoa. Por exemplo, estas perguntas do Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM) de 2001.

Como funciona a avaliação

Importante observar que as perguntas acima são chavões da sociedade. São repetidos de forma subliminar em programas humorísticos, propagandas, discursos, conversas. Talvez com um vocabulário diferente mas com certeza vc já viu estas mesmas frases em algum lugar. O objetivo é exatamente facilitar uma resposta rápida. Praticamente ninguém vai se furtar a responder tais perguntas com um concordo ou discordo. E não acha que está se compromentendo com isso.

Analisando então algumas questões dentro de um contexto:

Para se conseguir alguma coisa na vida é preciso ter sorte. Se vc responder que concorda com essa questão, pode dar a entender que para vc as coisas caem do céu ou não adianta lutar, não vai conseguir nada na vida. Não adianta colocar que concorda com a questão É a competência de cada um que leva ao sucesso profissional. Em outras palavras, como vc acredita em competência, se acredita que para conseguir algo na vida precisa de sorte? O Justus ou o Trump jamais contratariam alguém que acreditasse em sorte.

É importante ser honesto(a) e trabalhador(a) mas com isto não se consegue nada na vida. Se vc concorda com isso, não tem nada demais também concordar com a afirmativa “É bom ter amigos influentes, pois está cada vez mais difícil se conseguir o que se quer”. Nesse caso, a pessoa está sendo coerente. Mas será que é verdade? O que alguém que está contratando uma secretária vai pensar com isso? Uma moça bonita? Pode achar muita coisa, inclusive que é alguém que vai arrumar um “protetor” dentro da empresa e trabalhar o mínimo possível pois só com honestidade e trabalho não se consegue nada na vida.

Quando se é perseverante se consegue tudo. Esta parece semelhante a outra proposta: É preciso ter fé para conseguir as coisas. A primeira vez que eu li pensei que estava diante da mesma frase, dita de forma diferente mas no caso, fé pode ser entendido como fé em Deus. Provavelmente, porquê quem fez esse exame não brincou no serviço. Mas é interessante para a empresa alguém que tenha fé ou perseverança? Com certeza. Significa que não vai desanimar depois de anos e anos sem promoção e pular para outra. Significa esforço porque acredita, não porque o chefe está amedrontando com ameaça de desemprego.

Existe pobreza e miséria no país porque não há vontade de trabalhar. Acreditar nisso ou não acreditar nisso?

Vale tudo para conseguir meus objetivos. Ou os fins justificam os meios. Quer dizer muita coisa. Quais são os objetivos da pessoa? Se dar bem na vida sem fazer força ou chegar a presidente do Brasil.

Não tem nada demais fumar maconha. Jura? Vc tem coragem de falar isso quando está sendo considerado para uma posição de destaque dentro da IBM? Que tal um policial te perguntar isso na rua?

PENSANDO COMO EMPRESA

Veja bem, o que interessa para uma empresa é o cara que quer trabalhar ou aquele que quer apenas sair do desemprego? Não parece mas há diferença. Quando se prepara um plano de negócios, os cálculos de salários são parte de outros cálculos. A pessoa não é apenas alguém que arrumou um emprego. Trata-se de alguém que irá executar um serviço durante 8 horas por dia. Se o serviço é algo como embalar presentes (só para facilitar), o trabalho da pessoa não é que vale, é calculado da mesma forma que o de uma máquina que faria o trabalho. Então, há necessidade de alguém que embale por exemplo, 10 presentes por hora durante 8 horas. Esta pessoa está recebendo um salário mínimo de R$ 260,00 (dezembro 2004). Só que vamos contar os benefícios e isso para empresa custa digamos quase o dobro (junto com o salário tem seguro-desemprego, assistência médica, vale refeição, vale transporte, contribuição pro sindicato, etc) vamos chutar o dobro porque estou sem os cálculos aqui.

R$ 520,00 por mês. Se a pessoa embalar 80 presentes por dia durante 20 dias, são 1600 presentes. Dividindo 1600 por 520,00 temos mais ou menos o gasto de R$ 3.07 por presente. Então, o empregado não está sendo pago R$ 3.07 por presente. Ele vale dentro da empresa essa quantia presumindo que ele faça o número planejado de embalagens para presente. Então não interessa para a empresa contratar alguém que acredita que só com sorte se consegue alguma coisa. A empresa quer alguém que vai ficar fazendo o número planejado de embalagens de presentes por mês (ou mais, de preferência). Também não interessa contratar alguém que acredita que não tem nada demais fumar maconha. A não ser que o lugar onde vc vai trabalhar concorde com isso, é meio perigoso responder que é a favor de algo que é contravenção (qualquer coisa falar com a Soninha da MTV, que foi despedida da TVE por conta de aparecer na revista Época como alguém que fuma maconha).

LADO NEGRO DA CONTRATAÇÃO

Bom, imagina que a empresa não curte muito essa coisa de direitos trabalhistas. A empresa prefere funcionários que não reclamem de condições de trabalho ou da falta de pagamento de horas extras. Ou funcionários que não mudem de emprego quando descobrirem que estão numa canoa furada. Quem sabe então um funcionário não só seja brilhante e substitua várias pessoas mas também que não peça aumento. Imagina um teste de personalidade que vai avaliar a capacidade da pessoa de botar a boca no trombone, se descobrir que a empresa tá fraudando o imposto?

PRA SE PENSAR

O caso da maconha e de outras drogas é tão específico que o ENEM daquele ano (2001) tinha várias perguntas sobre o assunto (me parece que o governo quer um relatório detalhando a opinião de cada estudante do 2o grau).

Legal que se a pessoa respondeu que “não tem nada demais fumar maconha” e que “eu não faria nada se soubesse que outra pessoa usa drogas, pois cada um sabe o que faz”, está assumindo uma atitude de indiferença ou conivência. No caso da droga maconha, responder qualquer coisa assim significa cumplicidade com um crime, já que o consumo é proibido por lei. Outra pergunta que trata-se da intimidade da pessoa e achei difícil de engolir no ENEM foi:

Imagina um economista apontado como responsável pela futura política econômica de uma empresa de meio bilhão de dólares de orçamento (sonhando alto). Uma empresa pode contratar alguém que admite que vai na cartomante?

SUA PRIVACIDADE

Parece simples responder um teste desses. Mas a pessoa normalmente vai completamente despreparada para este tipo de questionamento, quando vai atender a um pedido desses. Alguma vez vc se viu atolado de emails ou correspondência de propaganda indesejada na sua casa? Como esse pessoal conseguiu os seus dados. Onde vc preencheu o endereço e eles fizeram sua inclusão na lista? Aonde vão parar essas informações depois que vc preenche.

O grande problema é que pode existir um intercâmbio entre os lugares que fazem exames. Se vc faz exame em algum esse questionário pode ou não ser enviado para outro lugar, por um preço módico. Significando que se vc respondeu em algum lugar que já teve um problema, em outro lugar podem se recusar a te contratar alegando (ou pior não explicando) que vc já respondeu em outro lugar que tinha determinado problema. Cigarro, por exemplo. Vc nunca fumou. Mas antes disso, viajou de avião e pediu poltrona de fumante (para ficar do lado de uma gata gostosa que estava paquerando). A empresa onde você voou resolveu vender a lista de fumantes para uma empresa de recursos humanos e hoje, quando vc fala que é não fumante, o cara que está te contratando te recusa porque acha que vc está mentindo. Não sei se é um exemplo válido (não conheço caso do gênero no Brasil e seria difícil de provar) mas é por aí.

OUTRAS FORMAS DE AVALIAÇÃO PROFISSIONAL

GRAFOLOGIA

O mais simples de ser praticado. Há gente que ganha a vida aplicando estes testes. Não vou detalhar porquê existem livros e sites na Internet. Mas a idéia é que a personalidade da pessoa está na forma de escrever. Gente de bem escreve como gente de bem. Impressionante, a idéia dos caras. Porquê existem correntes de pensamento na arte de desvendar a escrita das pessoas e a forma que vc escreve o til por exemplo, pode te classificar como psicopata em potencial. O tipo de ponto ou a forma que a pessoa desenha a vírgula, outra questão. Se inclina a letra pro lado ou pro outro, sei lá. Boiolice ou vontade de fazer cirurgia plástica. Gente que pratica caligrafia regularmente pode se sair bem num teste deste. Desde que.. não fique nervoso na hora, porquê o nervosismo também aparece. Acho que é uma das razões pelas quais fazem o cara esperar, para ver se o nervosismo afeta.

ENTREVISTA

A entrevista é uma extensão do exame escrito. Na verdade, talvez seja mais importante, porquê qualquer coisa pode ser utilizada como razão pra se eliminar alguém usando entrevista. Concurso público que tem entrevista como forma de avaliação tem uma ótima ferramenta para justificar a eliminação do candidato que tirou maior número de pontos mas que não é parente de ninguém na empresa. A pior parte é que a forma que se responde a pergunta (se demora ou responde com nervosismo) já indica alguma coisa. Trata-se de algo difícil, responder sobre a própria vida sem emitir sinais que corroboram ou não o que se fala.

DINÂMICA DE GRUPO

São ainda mais complicados do que as entrevistas mas tem a vantagem de darem menos chance ao candidato de entender o que está sendo avaliado. A pessoa tem que fazer uma tarefa individual ou em grupo. O desempenho define se conseguiu ou não a vaga. Fui monitor de uma dinâmica de grupo onde o escolhido já estava decidido antes. O cara tinha ido de shorts para a inscrição e a moça gostou das pernas cabeludas do cara. Ela me falou que já tinha decidido o escolhido para a vaga. Como já se tinha decidido fazer a dinâmica de grupo, a coisa foi adiante, todo mundo pagou aquele mico. A toa, mas fazer o quê? Pernas cabeludas ou não, o sujeito demonstrou ser excelente funcionário.

DETETOR DE MENTIRAS

O jornal Folha de São Paulo, (Detetor de mentira seleciona trabalhador, 8/9/2002, pg B4) publicou uma matéria interessante sobre como algumas empresas estão usando detetores de mentira para decidir se o funcionário pode assumir determinada vaga ou permanecer no emprego. O fato de que esse tipo de procedimento ter falhas (existem muitos grupos na Internet defendendo não só a inutilidade como a possibilidade de se enganar o detetor). No caso, foi usado o exemplo da American Airlines, que justifica o uso por conta do atentado de 11/9. Algumas das perguntas que os funcionários foram obrigados a responder.

EXAME DE URINA, SANGUE e CABELO

Exames de urina e de sangue são procedimentos bastante comuns quando se contrata alguém em algumas empresas de vários níveis. Quando fiz isso num concurso, me assustaram com a hipótese de que qualquer tipo de medicamento que não fosse relatado no momento de entregar a urina seria detetado, não adiantava mentir. Claro que pela urina e pelo sangue se detectam montes de substâncias, incluindo coisas que a empresa não gostaria que seus empregos consumissem no momento de lazer (imagina um motorista viciado em crack, por exemplo). Por outro lado, há vários casos em que o consumo de determinado medicamento não atrapalha o desempenho de quaisquer funções. O problema é que tal consumo pode dar positivo em testes e a pessoa tá excluída de cara.

De acordo com textos, exames de cabelo são raros e custosos (exatamente por esse motivo).

OBS: Fica de olho em qualquer médico que te aconselhe o uso de medicamentos pesados para controlar distúrbios emocionais (tipo problemas para dormir, stress ou separação conjugal). São medicamentos caros, não dá para ter certeza se o médico não recebe uma percentagem para receitar esses troços. Além disso o consumo desses medicamentos tipo Prozac e etc, aparece na exame de urina. Provavelmente vão te perguntar em entrevista o porquê do consumo, fica esperto.

Há na Internet textos falando sobre os "bladder cops", os tiras do exame de urina. São textos interessantes, avisando que o consumo de determinados vegetais pode em casos específicos, dar positivo para testes de consumo de determinadas drogas. Na Internet (tente Erowid mas não busca essa info acessando Internet do seu local de trabalho) há muito texto sobre o assunto, é só procurar. Acha-se até tabela determinando o tempo que leva cada tipo de substância para sair da sua corrente sanguínea.

INTERNET

Não aconselho a entrar em nenhuma lista de discussão sobre o assunto com seu email ou nome verdadeiro ou de uso mais comum, por motivos óbvios. Vamos supor que um parente seu tem doença terminal. Ai, como bom garoto, vc resolve procurar info sobre o assunto na Internet. E tambem procurar emprego, outra coisa comum. Excelente. Ai' alguem resolve te contratar ou pelo menos dar uma 2a olhada no seu curriculo, antes de deletar. Ai o cara vai no Orkut e descobre que vc faz parte de um grupo de auto-ajuda de cancer no testiculo. Entendeu? Quem vai contratar alguem que desconfie ter cancer e que quando fizer quimioterapia talvez tenha que faltar ao trabalho? Ate' ia deixar de fora este lance. Simplesmente porque muita gente esta colocando toda sua vida no Orkut. Entrando em grupos como "Eu odeio segunda-feira". Queima o filme. No caso do Orkut, eh tao simples fazer outra identidade..

PERFIL SOCIOLÓGICO

Vide bibliografia, há uma estatística feita com relação a fraudadores nos EUA (aquele lugar onde o cara planeja a vida em termos de 10 a 20 anos e o jeitinho brasileiro não existe e acredita-se em pessoas normais). Nesta estatística referente a fraudadores (provavelmente fraudadores que foram pegos porquê se não foram pegos, óbvio que não entraram na estatística):

67.7% dos fraudadores agem sozinhos

56,6% só fizeram colegial, 10,4% a pós-graduação e 32,7% só fizeram graduação.

E por aí vai. No Brasil,

84.1% são do sexo masculino

51.6% dos casos de fraude são causados por gerentes ou diretores de empresas.

Claro que no Brasil o sujeito que é pego pode ser demitido na surdina para evitar má fama para a empresa (vide reportagem Brasileiros fraudam mais que americanos).

Outro tipo de avaliação é se o sujeito é casado ou não, se tem filhos, se tem dívidas. Teoricamente são pessoas menos capazes de cair fora por coisa a toa.

LISTAS NEGRAS

Infelizmente, há boatos de que empresas ou indivíduos coletam dados sobre pessoas que já entraram na justiça trabalhista para obter seus direitos. O objetivo dessa coleta é fazer lista negra de pessoas que podem fazer isso de novo. Saiu no jornal, esse tipo de coisa, vide bibliografia. Então o sujeito que tem sorte e vence um processo, conseguindo indenização trabalhista pode ficar com a ficha manchada e impedido de conseguir nova colocaçã no mercado de trabalho. Claro que ser amigo de pessoa que já entrou na justiça pode ser algo que depõe contra você. Os tribunais regionais do trabalho já estão alertados para não divulgarem nomes de trabalhadores que entram com processos contra empresas. Sim, você pode estar certo, pode comprovar na Justiça, ganhar a batalha contra a empresa e ainda assim perder a guerra na hora de encontrar uma nova colocação..

COMO CONVIVER COM ESSE CONTROLE SOCIAL

As pessoas já se esqueceram como era a vida em outros tempos, quando as pessoas eram divididas em "de boa família" e "de má conduta". Se você ficava mal falado, a sua família poderia se mudar de lugar mas mais nada poderia fazer. No caso de uma menina que perdesse a virgindade, até a amiga dela poderia levar fama de "vagabunda" ou "perdida". Ser amigo de gay implicava (em vários lugares ainda implica) em ser considerado ou levar a fama de gay também. Os pais vigiavam cada passo dos filhos para se assegurar que estavam no bom caminho. Se o filho crescesse um imbecil por conta da falta de exposição à vida, isso é outra história. O cara simplesmente não tinha autonomia para ser diferente ou experimentar qualquer coisa. Até completar 21 anos de idade. Ou até se casar, trabalhar e sair da casa dos pais. Sem falar que algumas pessoas (enquanto pais e mães) se tornam especialmente autoritárias a medida em que a idade avança, vide filmes como "Com licença eu vou a luta" ou "Beleza Americana".

A maioria das pessoas aceita essas intrusões na vida íntima como se fosse uma visita no médico para fazer exame de próstata ou papanicolau. Mas uma coisa é que o médico tem um diploma, tem uma posição. A privacidade da pessoa deve ser respeitada. Mesmo assim o programa “Fantástico” da TV Globo já mostrou casos em que o médico abusa do paciente ou de informações sobre o paciente. Hoje, estamos uma democracia. Mas está cada vez mais barato armazenar informação no computador. O antigo SNI da ditadura ficaria feliz da vida se pudesse ter em mãos tais exames (cada examinado do ENEM tinha que preencher obrigatoriamente o questionário sociológico para fazer a prova do ENEM – os fiscais da prova tentam fazer os estudantes acreditarem que é obrigatório e que não tem nada demais preencher a folha).

Por outro lado, a sociedade muda a cada minuto. Empregos deixam de existir. Empregos são criados. Mas cada vez mais parece que o importante é passar em concurso. Um concurso qualquer hoje pode atingir mais de 90 mil inscritos, mesmo para uma posição cujo salário seja inferior a R$1.000,00 por mês. Alguém se lembra do concurso para coveiro no Paraná? Até prefeituras inventam “concursos” que não tem nenhuma necessidade, a não ser equilibrar o orçamento (a pessoa já trabalha lá, mas com a abertura de concurso, a prefeitura ganha com a cobrança da taxa para participar do “concurso”). É fato que as pessoas aceitam ganhar menos desde que haja estabilidade. Com estabilidade pode-se planejar a vida pessoal, casamento, carreira, futuro. Todos querem entrar na sociedade de consumo. Camelô de feira não tem status social. Talvez estejamos chegando ao ponto em que as pessoas vão nascer e morrer sem nunca chegar a ter um emprego.

Ou vão se modificar para entrar num padrão de conduta chatíssimo só para conseguir uma chance mínima (lembre-se, pode acontecer de um amigo seu sair da linha) de conseguir esta ou aquela vaga em algum emprego.

Será outro tipo de controle social. As pessoas não serão mais subversivas de direita ou de esquerda. Serão desempregados ou subempregados. Com pouca ou nenhuma chance de melhorarem sua condição de vida. Ou de darem para os filhos uma condição de vida melhor. Talvez o mundo acabe adotando um sistema de castas, semelhante ao da Índia. O sujeito vai ter sua árvore genealógica e falar “vc sabe com quem está falando? Meu pai tem emprego, o seu não tem”.

Quem sabe? A melhor maneira de escapar desse controle é aquela frase famosa: “O preço da liberdade é a eterna vigilância”.As pessoas precisam pensar mais antes de colocar suas informações disponíveis para qualquer um, em qualquer lugar. Mentir não é a melhor política. É preciso questionar a necessidade de responder perguntas que não tem nada a ver. Ter a coragem de não responder a determinados questionários só para receber um brinde qualquer. É obrigatório preencher esse questionário? Quem está perguntando o quê? Porquê o meu nome aparece no questionário? Quais as garantias de que esta informação não vai passar adiante? Alguém se lembra que as declarações de imposto de renda de todos os brasileiros já ficaram a disposição de quem quisesse comprar, na mão de camelôs aqui no bairro de eletro-eletrônicos da Santa Ifigênia, em SP? Seriam 36 Cds, os caras pediam uma quantia alta. Do tipo R$ 300,00. Não soube nunca de alguém que tivesse sido preso ou culpado dessa quebra de privacidade. Talvez no futuro tenham os Cds do ENEM. Quem sabe?

BIBLIOGRAFIA

Questionário distribuído pelo correio para o Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM) de 2001.

FERNANDES, F & ROLLI, C. Empresas criam 'cartel antitrabalhador'. Jornal Folha de São Paulo. 8/9/2002 pp. B1

Parente de quem vai à Justiça também fica sem emprego. Jornal Folha de São Paulo. 8/9/2002 pp. B3

Detector de mentira seleciona trabalhador. Jornal Folha de São Paulo. 8/9/2002 pp. B4

Trabalhador deficiente também é discriminado. Jornal Folha de São Paulo. 8/9/2002 pp. B4

Brasileiros fraudam mais do que americanos. Jornal Folha de São Paulo. 8/9/2002 pp. B4

ORWELL, George. 1984

ORWELL, George. Fazenda dos animais

FILHO, F.A. Proibição à vista - procuradoria pede a suspenção da venda e do uso de testes psicológicos no Brasil. Revista Istoé. 1830-3/11/2004. p.43

Qualquer uma das alternativas. Revista Istoé. setembro de 2002.

Nota Zero. Revista Istoé. novembro de 2002.

A revista VEJA fez uma reportagem sobre um kit de exame de urina que estava começando a ser usado no pais mas perdi o papel.

testes psicológicos no Brasil. Revista Istoé. 1830-3/11/2004. p.43

Qualquer uma das alternativas. Revista Istoé. setembro de 2002.

Nota Zero. Revista Istoé. novembro de 2002.

A revista VEJA fez uma reportagem sobre um kit de exame de urina que estava começando a ser usado no pais mas perdi o papel.