Trindade. A concepção de um Deus como unidade trina ou de três pessoas divinas que, juntas, constituem uma unidade não se restringe ao domínio da fé cristã mas é encontrada em quase todas as religiões. O mundo simbólico trinitário é patrimônio comum da humanidade. Para a ilustração simbólica utilizavam-se, muitas vezes, figuras tripartites ou três símbolos isolados reunidos numa unidade. No hinduísmo, existe como trindade divina, a Trimúrti. Brahma, Vishnu e Shiva constituem uma unidade trina na qualidade de criador, mantenedor e destruidor do mundo e da vida (representadas como imagem divina, com três cabeças). Os egípcios conheciam uma série de tríades divinas, compreendidas sobretudo a partir do Novo Império como unidade no trino, se bem que mais como trindade dos deuses do que trindade de Deus. As tríades possuíam, geralmente, um local principal de culto. Em Tebas, cultuava-se o deus Amon; sua esposa Mut e o seu filho Chons, o deus da lua. Também Ísis, Osíris e Hórus constituem uma família, simbolizada, segundo relato de Plutarco, pelos três lados do triângulo retângulo.
O dogma cristão da Trindade somente foi representado simbolicamente nos sécs. IV e V sobre túmulos paleocristãos em associação com o monograma de Cristo. O monograma de Cristo pode encontrar-se, aí, no vértice superior do triângulo ou nele estar inscrito. É possível que o triângulo tenha sido utilizado apenas como ornamento. Agostinho opõe-se à simbolização da Trindade através do triângulo entre os Maniqueus e impediu assim por séculos afora a introdução do triângulo no mundo da simbologia e da arte cristãs. Entretanto, não conseguiu impedir este desenvolvimento por muito tempo. Do século XI provém miniatura do evangeliário de Uta, de Regensburg, com um triângulo dourado.
Outro motivo simbólico bastante diversificado de Trindade é o anel ou círculo tríplice. Dante comparou a Trindade a três círculos de igual diâmetro e de cores diferentes. Os dois primeiros, Pai e Filho, refletem-se um no outro, o terceiro, o Espírito Santo, aparece como fogo ativado pelo Pai e pelo Filho (Paradiso, 33, cantos 115 ss). O círculo ou anel, nos quais começo e fim não são reconhecíveis ou confluem, simboliza a divindade eterna. Além de outras variantes, existem representações em que os três círculos se cortam ou em que três círculos se encontram inscritos num círculo maior, ou três círculos concêntricos. (Lurker, 2003)
LURKER, Manfred. Dicionário de Simbologia. Tradução Mário Krauss e Vera Barkow. 2. ed., São Paulo: Martins Fontes, 2003.