Lótus

Lótus. Flor que, no sudeste da região do Mediterrâneo e na Ásia, tem a mesma importância que a rosa e o lírio na Europa. Sob este nome são agrupados diversas espécies de planta; no Egito designa o lótus-branco ("Nymphaea lotus") e o lótus-azul ("Nymphaea coerulea"), na Índia a planta aquática de flores brancas e vermelhas ("Nelumbium nelumbo" e "Nelumbium nucifera"), e também a rosa lacustre branca da América Central, a "Nymphaea ampla", vem designada como lótus em vários livros. No antigo Egito, a flor de lótus é mencionada no mito da criação do mundo (cf. Ogdóade); ela nasceu do lodo original, e o divino criador do mundo surgiu "como belo jovem" de seu cálice. Suas flores, que se abrem com o nascer do Sol e se fecham à noite, foram associadas ao deus do Sol e ao desdobramento da luz do lodo da era original mítica. (Biedermann, 1993)

Flor que se poderia dizer a primeira e que desabrocha sobre as águas geralmente estagnadas e turvas com uma perfeição tão sensual e soberana que é fácil imaginá-la, in illo tempore, como a primeira aparição da vida sobre a imensidade neutra das águas primordiais. Assim aparece na iconografia egípcia - como a primeiríssima; depois disso o demiurgo e o Sol brotam de seu coração aberto. A flor do lótus é pois, antes de tudo, o sexo, a vulva arquetípica, garantia da perpetuação dos nascimentos e dos renascimentos. Do Mediterrâneo à Índia e à China, sua importância simbólica, de manifestações tão variadas, se deriva, tanto no plano profano como no sagrado, desta imagem fundamental. O lótus azul, que era considerado como o mais sagrado no país dos Faraós, oferecia um perfume de vida divina: sobre os muros dos hipogeus tebanos, ver-se-á a assembleia familiar dos vivos e dos mortos aspirar gravemente a flor violácea, num gesto em que se misturam o deleite e a magia do renascimento. (Chevalier e Gheerbrant, 1998)

BIEDERMANN, Hans. Dicionário Ilustrado de Símbolos. Tradução de Glória Paschoal de Camargo. São Paulo: Melhoramentos, 1993.

CHEVALIER, J. e GHEERBRANT, A. Dicionário de Símbolos (mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números). 12. ed., Rio de Janeiro, José Olympio, 1998.