Porta. Simboliza o local de passagem entre dois estados, entre dois mundos, entre o conhecido e o desconhecido, a luz e as trevas, o tesouro e a pobreza extrema. A porta se abre sobre um mistério. Mas ela tem um valor dinâmico, psicológico; pois não somente indica uma passagem, mas convida a atravessá-la. É o convite à viagem rumo a um além...
A passagem à qual ela convida é, na maioria das vezes, na acepção simbólica, do domínio profano ao domínio sagrado. Assim são os portais das catedrais, os torana hindus, as portas dos templos ou das cidades khmers, os torii japoneses etc.
Nas tradições judaicas e cristãs, a importância da porta é imensa, porquanto é ela que dá acesso à revelação; sobre ela vêm se refletir as harmonias do universo. As portas do Antigo Testamento e do Apocalipse, ou seja, o Cristo em sua majestade e o último Julgamento, acolhem o peregrino e os fiéis. Suger dizia aos visitantes de Saint-Denis que convinha admirar a beleza da obra realizada, e não a matéria de que havia sido feita a porta.
Ele acrescentava que a beleza que ilumina as almas deve dirigi-las no sentido da luz, cuja porta verdadeira é Cristo.
Se Cristo em glória é representado no alto dos frontispícios das catedrais, é porque ele próprio é, de acordo com o mistério da redenção, a porta pela qual se chega ao Reino dos Céus: Eu sou a porta, quem entrar por Mim, será salvo (João 10,9). (Chevalier e Gheerbrant, 1998)
Porta. Símbolo da determinação e da passagem entre dois campos diferentes. Segundo antiga concepção oriental, o céu e o mundo subterrâneo possuem portões. Nas pirâmides encontra-se, frequentemente, a denominação "portão de Nut" para a passagem da antecâmara à câmara funerária, isto é, portão celeste. A assim chamada porta aparente nos túmulos egípcios e templos dos mortos é símbolo da comunicação dos vivos com os mortos; comparem-se, também, as representações das portas nos túmulos etruscos. Os romanos possuíam um deus próprio de travessia e de passagem: Juno.
O sentido escatológico de porta e portal torna-se evidente, principalmente, no NT; Jesus diz de si mesmo: "Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, será salvo" (João 10, 7 e ss.). Enquanto as virgens tolas permanecem atrás de portas fechadas, permite-se o ingresso das virgens prudentes com os seus esposos ao matrimônio (celeste) (Mateus 25, 1-12). Na arquitetura das igrejas o portal simboliza entrada para o Céu.
A frequente representação de Maria em portas refere-se à sua interpretação como porta coeli, pela qual o Filho de Deus ingressou no mundo. Tocar a porta ou a entrega de sua - Chave é o ato simbólico de tomada de posse. (Lurker, 2003)
Porta. Como a ponte, a porta simboliza a passagem de uma esfera para outra - por exemplo, deste mundo para o além, do domínio profano para o sagrado etc. Há uma concepção muito difundida de uma porta do Céu ou porta do Sol que marca a passagem para a esfera extraterrena e divina. Também o Mundo Subterrâneo ou o Reino dos Mortos localiza-se, segundo a concepção de muitos povos, do outro lado do grande portão. A porta fechada indica frequentemente segredo oculto, mas também proibição ou inutilidade; a porta aberta representa um convite para sua travessia ou significa um segredo revelado. As representações de Cristo nas portas medievais (por exemplo, no tímpano) referem-se às conhecidas palavras de Cristo: "Eu sou a porta"; ao contrário, tomam como referência o fato de ela ser chamada quase sempre de a Porta do Céu, pela qual o Filho de Deus veio ao mundo. (Lexikon, 1997)
CHEVALIER, J. e GHEERBRANT, A. Dicionário de Símbolos (mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números). 12. ed., Rio de Janeiro, José Olympio, 1998.
LEXIKON, Herder. Dicionário de Símbolos. Trad. Erlon José Paschoal. São Paulo: Cultrix, 1997.
LURKER, Manfred. Dicionário de Simbologia. Tradução Mário Krauss e Vera Barkow. 2. ed., São Paulo: Martins Fontes, 2003.