Alqueire. O alqueire europeu, medida destinada à pesagem dos grãos, correspondia, pouco mais ou menos, a treze litros (no Brasil, essa antiga medida de capacidade para secos e líquidos era variável de região para região). Na China, encontra-se medida de utilização análoga, embora atualmente contenha apenas 10 a 31 litros: é o teú (em vietnamita, dau). De uso muito antigo, o teú teve normalizada sua capacidade desde a época dos Han (dinastia fundada por Liu Pang, por volta do ano 202 ou 206 a. C.). E como as organizações taoístas dessa época cobravam, a título de imposto celeste, cinco alqueires de arroz, os alqueires representaram, durante longo tempo, para o profano, um emblema do próprio taoísmo.
O uso simbólico do alqueire deve-se essencialmente a seu emprego pelas sociedades secretas relacionadas com a T'ien-ti-huei, ou Sociedade do Céu e da Terra. No centro da loja, num espaço denominado Cidade dos Salgueiros, encontra-se um alqueire cheio de arroz vermelho. E como essa Cidade dos Salgueiros resume a loja inteira, o teúrepresenta e substitui a cidade: os caracteres um-yang tcheng (cidade dos salgueiros) estão, além do mais, desenhados na medida do alqueire. Aliás, quando soerguem o teú, os novos iniciados dizem explicitamente: nós soerguemos a Cidade dos Salgueiros a fim de destruir Ts'ing, e restaurar Ming. Ora, Ming não é apenas uma dinastia, é sobretudo a luz. Restaurar a luz ao soreguer o teúcorresponde, estranhamente, a um simbolismo que nos é familiar: essa luz, embora não esteja oculta debaixo, está contida, pelo menos, no interior.
Signo de reunião, arca da aliança, sede dos símbolos essenciais, o teú contém arroz, que é o alimento da imortalidade. E se contém esse alimento, é por causa da potência de Ming, i.é, ainda em virtude da luz, ou do conhecimento.
Além disso, o teú é o nome dado à Ursa Maior que, situada no meio do céu tal como o soberano no coração do Império, regulamenta as divisões do tempo e a marcha do mundo. Se o teú é a Ursa Maior, em torno dele as quatro portas cardeais da loja correspondem às quatro estações. Na vertical do polo celeste, o alqueire é o ponto de aplicação da atividade do Céu. Na Cidade dos Salgueiros, representa o mesmo que linga na cella do tempolo hindu, sede da luz na caverna do coração (FAVS, GUET, GRIL, MAST, SCHL, WARH).
Um dos filhos do deus irlandês, Diancecht (Apolo, em seu aspecto de deus-médico) é chamado de Miach (alqueire). Miach é morto pelo pai, por ter enxertado em Nuada, o rei maneta, um braço vivo, em vez do braço de prata cuja prótese fora feito pelo próprio Diancechet. A filha de Diancecht, Airmed, classificou as plantas, em número de trezentas e sessenta e cinco, que cresceram sobre o túmulo de seu irmão, Miach. Diancecht, entretanto, colocou-as novamente em desordem, a fim de que ninguém pudesse utilizá-las. Miach (alqueire) simboliza a medida de equilíbrio cósmico, e Diancecht mata o próprio filho porque o conhecimento das plantas não deve ser divulgado. Ele põe esse conhecimento “debaixo do alqueire” (fr. mettre sous le boisseau: manter oculto, escondido). (OGAC, 16, 223, nota 4; ETUC n.º 398, 1996, p. 272-279). (Chevalier e Gheerbrant, 1998)
CHEVALIER, J. e GHEERBRANT, A. Dicionário de Símbolos (mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números). 12. ed., Rio de Janeiro, José Olympio, 1998.