Inferno (Hades). Sobre esse tema, as crenças antigas — egípcias, gregas, romanas — variavam muito; e mesmo na Antigüidade já eram numerosas; por isso, aqui mencionaremos apenas o que julgamos essencial.
Entre os gregos, Hades, o Invisível — segundo etimologia duvidosa — é o deus dos mortos. Como ninguém ousasse pronunciar-lhe o nome, por temor de lhe excitar a cólera, ele recebeu o apodo de Plutão (o Rico), nome que implica um terrível sarcasmo, mais do que um eufemismo, para designar as riquezas subterrâneas da terra, entre as quais se encontra o império dos mortos. E esse sarcasmo torna-se macabro quando se coloca uma cornucópia entre os braços de Plutão. Na simbologia, entretanto, o subterrâneo é o local das ricas jazidas, o lugar das metamorfoses, das passagens da morte à vida, da germinação.
Após a vitória do Olimpo sobre os Titãs, foi feita a partilha do universo entre os três irmãos, filhos de Cronos e de Réia: a Zeus coube o Céu; a Poseidon (Netuno), o Mar; a Hades, o mundo subterrâneo, os Infernos ou o Tártaro. Senhor impiedoso, tão cruel quanto Perséfona, sua sobrinha e esposa, ele não dá trégua a nenhum de seus súditos (ou vítimas). Seu nome foi dado ao lugar por ele dominado; Hades tornou-se símbolo dos Infernos. E, ainda nesse caso, as características são as mesmas por toda parte: lugar invisível, eternamente sem saída (salvo para os que acreditavam nas reencarnações), perdido nas trevas e no frio, assombrado por monstros e demônios, que atormentam os defuntos (GRID).
Na tradição cristã, a conjunção luz-trevas simbolizaria os dois opostos: o céu e o inferno. Plutarco já descrevia o Tártaro como privado de sol. se a luz se identifica com a vida e com Deus, o inferno significa a privação de Deus e da vida.
A essência íntima do inferno é o próprio pecado mortal, em que os danados morreram (ENCF, 470). É a perda da presença de Deus; e, como já nenhum outro bem poderá jamais iludir a alma do defunto, separada do corpo e das realidades sensíveis, o inferno é a desventura absoluta, a privação radical, tormento misterioso e insondável de uma existência humana. A conversão do danado já não é mais possível; empedernido em seu pecado, ele está para sempre cravado na sua dor. (Chevalier e Gheerbrant, 1998)
CHEVALIER, J. e GHEERBRANT, A. Dicionário de Símbolos (mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números). 12. ed., Rio de Janeiro, José Olympio, 1998.