Psicodélica. Do grego delosis, revelação. Denominação do estudo da capacidade aumentada de percepção e de vivenciamento, provocada por alucinógenos (psicodélicos), num sentido mais amplo também pela meditação. Estados psicodélicos podem estar associados a alucinações da visão, da audição, do tato e do paladar, também com a sensação da falta de gravidade e da perda da noção de tempo. Não se pode afirmar de modo inequívoco que uma verdadeira ampliação da consciência possa ser atingida; a passagem às visões, tão ricas em imagens e símbolos, não pode ser delimitada com clareza.
Além de entorpecentes (vinho, pulque, leite de égua fermentado, etc.), os alucinógenos (como cogumelos venenosos, ópio, haxixe) eram usados em várias religiões para se atingir um estado de êxtase e uma visão de Deus; é discutível se isto também se aplica aos mistérios da Antiguidade. Entre os astecas e algumas tribos indígenas, o peiote, que contém mescalina, ocupava um lugar central nas cerimônias religiosas; em algumas tribos possui sentido simbólico e é associado ao veado (animal solar) ou ao deus solar. No xamanismo de regiões subárticas, o agárico serve de narcótico para possibilitar o voo do xamã ao país celeste. Como alucinógeno de ação percutânea pode-se citar a "pomada das bruxas" - extratos, e.o., de figueira-do-inferno (estramônio), meimendro, beladona. As imagens de conteúdo simbólico que ocorrem nos estados psicodélicos também se manifestam na ingestão de LSD, obtido sinteticamente: no estado inicial, figuras diabólicas amedrontadas que se transformam, aos poucos, em seres claros, tranquilizadores, em associação com cores vivas, sensação de voar, percepção de flores nunca vistas, etc.
Em fins do século XVIII o escritor inglês S. T. Coleridge utilizou o ópio (desconhecendo o risco de ficar viciado), que desperta a fantasia e leva ao mundo das imagens. As correntes de repugnância pela vida e de sofrimento universal, bem como a consciência da decadência (v. Decadentes), acentuadas desde o Romantismo, levaram vários escritores, como Baudelaire e Aldoux Huxley, ao uso de drogas provocadoras de visões e de imagens simbólicas. Desde 1960 existem tendências na pintura e na escultura, nos filmes e nos "happenings" orientadas a efeitos psicodélicos e de ampliação da consciência e que possuem pontos de contato com o Surrealismo. (Lurker, 2003)
LURKER, Manfred. Dicionário de Simbologia. Tradução Mário Krauss e Vera Barkow. 2. ed., São Paulo: Martins Fontes, 2003.