Espada

Espada. Em primeiro lugar, a espada é o símbolo do estado militar e de sua virtude, a bravura, bem como de sua função, o poderio. O poderio tem um duplo aspecto: o destruidor (embora essa destruição possa aplicar-se contra a injustiça, a maleficência e a ignorância e, por causa disso, tornar-se positiva); e o construtor, pois estabelece e mantém a paz e a justiça. Todos esses símbolos convêm literalmente à espada, quando ela é o emblema do rei (espada sagrada dos japoneses, dos antigos povos kampucheanos (cambojanos), dos khmers e dos chans, estes últimos conservando ainda o Sadet do Fogo da tribo jaraí). Quando associada à balança, ela se relaciona mais especialmente à justiça: separa o bem do mal, golpeia o culpado.

Símbolo guerreiro, a espada é também o símbolo da guerra santa (e não o das conquistas arianas, tal como pretendem alguns, a propósito da iconografia hindu, a menos que se trate de conquistas espirituais). Antes de mais nada, a guerra santa é uma guerra interior, e esta pode ser igualmente a significação da espada trazida pelo Cristo (Mt 10, 34). Além do mais — sob seu duplo aspecto destruidor e criador —, ela é um símbolo do verbo, da palavra.

A espada é também a luz e o relâmpago: a lâmina brilha; ela é, diziam os Cruzados, um fragmento da Cruz de Luz. A espada sagrada japonesa deriva do relâmpago. A espada do sacrificador védico é o raio de Indra (o que identifica ao vajra). Ela é, portanto, o fogo: os anjos que expulsaram Adão do Paraíso tinham espadas de fogo. Em termo de alquimia, a espada dos filósofos é o fogo do cadinho ... Do mesmo modo, a espada do Vixenu, que é uma espada chamejante, é o símbolo do conhecimento puro e da destruição da ignorância. (Chevalier e Gheerbrant, 1998)

No AT "alguém que desembainha a espada" é um homem na idade militar. Matar "ao fio da espada" significa matar à maneira da espada, isto é, sem quartel. A espada fazia do equipamento normal do guerreiro. Um grito de guerra de Israel numa certa ocasião foi "a espada de Iahweh e de Gedeão". Metaforicamente a língua caluniosa é uma espada (Sl 55,21; 57,5; 59,8; Pr 12,18; 30,14). A espada é frequentemente representada como um monstro que devora (Dt 32, 42; 2Sm 2, 26; Is 1, 20; Jr 2,30; 12,2; 46,10 +). "A espada" metaforicamente significa guerra, e é muitas vezes mandada ou tirada por Iahweh (Lv 26,6,25;

2Sm 11, 25; Jr 5, 12; 46, 16).

O emprego da espada em defesa de Jesus na sua detenção (Mt 26,51; Mc 14,47; Lc 22, 49s; Jo 18, 10s) é a ocasião de um dito, citado somente em Mt 26,52: "todos os que pegam a espada pela espada perecerão". Jesus disse que não veio trazer a paz, mas a espada (Mt 10,34), onde o contexto indica claramente que a espada significa a hostilidade provocada pela fé nele. Mt 26, 52 explicita o que implícito nos outros evangelhos a respeito da atitude de Jesus para com o uso da violência em sua defesa; ele a rejeita decisivamente. A generalização vai, porém, além de um fato particular e pode ser interpretada como nada menos do que a total recusa do uso de armas e da violência. Um apelo à violência, em último caso, não produz nada senão a destruição daquele que a ela apela. Cumpre não entender isso como um repúdio moral, mas simplesmente como uma declaração da inutilidade da violência; e os cristãos que acreditam numa violência legítima devem examinar a si mesmos para ver como poderiam conciliar sua fé com o juízo de Jesus sobre a violência. Parece que um mínimo de respeito pelas palavras do evangelho deva impedir a quem quer que seja de julgar legítimo o uso da violência para levar adiante a obra de Jesus Cristo.

É possível que Lc 22, 35-38 conserve a mesma afirmação numa forma diferente. O convite de Jesus de procurar espadas é evidentemente metafórico, uma advertência a preparar-se para a luta; e a interpretação superficial literal das palavras pelos discípulos é deixada em Lucas sem comentários. No contexto imediatamente anterior que esta não era o momento para um exercício de esgrima. (Mackenzie, 1984)

CHEVALIER, J. e GHEERBRANT, A. Dicionário de Símbolos (mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números). 12. ed., Rio de Janeiro, José Olympio, 1998.

MACKENZIE,  J. L. (S. J.) Dicionário  Bíblico.  São  Paulo, Edições Paulinas, 1984.