Cabala

Cabala (hebr. "tradição"). No contexto da religião judaica ela se apresenta desde o século XII, como mística (em seu conteúdo) e doutrina oculta (em sua forma). Dentro do judaísmo rabínico, os cabalistas criaram um sistema de símbolos místicos para os mistérios de Deus e do universo. Pelo esforço de esclarecimento desses símbolos a cabala deve sua forte influência sobre o Judaísmo. Os cabalistas se tornaram, entre outras coisas, os dominadores do saber; isto lembra (e não por acaso) a Gnose/gnosticismo. -- As razões da cabala encontram-se por um lado, na Palestina, nas seitas dos essênios e dos monges de Qumran, e por outro lado, no judaísmo extrapalestino, na mitologia iraniana, no sincretismo religioso do helenismo tardio e no gnosticismo. -- Segundo a simbologia biológica do Sohar a semente primordial brota no corpo da mãe divina (Binah, que corresponde provavelmente à "Sophia" gnóstica), que no céu e na terra simboliza a "comunidade Israel" ("Knesset Israel"). -- Da abundância dos símbolos cabalísticos é preciso mencionar especialmente: a carruagem (merkabah), que se reflete no nome dos "yordei merkabah" ("daqueles que descem à carruagem") e na doutrina mística do "ma asseh merkabah" ("obra da carruagem"). A cabalística merkabah está especialmente próxima do gnosticismo. - O trono divino (Ez 1,26): numa ligação com a carruagem os anjos enaltecem num hino dos rolos do Mar Morto "a imagem da carruagem do trono". - A sefirot: "misericórdia, força, luxo e dominação" são partes do carro divino e ao mesmo tempo os quatro pés do trono divino. - O rapaz: o arcanjo Miguel como mensageiro de Deus. - As vinte e duas letras do alfabeto hebraico: suas junções tornaram possível a obra da criação do mundo. Um enorme significado é atribuído a dez outras letras (sefirot): Deus, éter, água, fogo e seis elementos do espaço. No misticismo mágico dos cabalistas alemães resultou disso a lenda do Golem. - A árvore da vida (tuia) (Ez Hachajim, ilan), frequentemente vista como símbolo da doutrina divina (Thorah). - A mão: com ela os sacerdotes (Kohanim) dão sua bênção; a cada dedo são atribuídas determinadas letras mágicas, e aos dois corpos juntos o nome divino YHWH. - A coroa (Keter) como a mais elevada causa do universo, às vezes significando o mesmo que o infinito. (Lurker, 2003) 

LURKER, Manfred. Dicionário de Simbologia. Tradução Mário Krauss e Vera Barkow. 2. ed., São Paulo: Martins Fontes, 2003.