Encruzilhada. A importância simbólica da encruzilhada é universal. Liga-se à situação de cruzamento de caminhos que a converte numa espécie de centro do mundo. Pois, para quem se encontra numa encruzilhada, ela é, nesse momento, o verdadeiro centro do mundo. Lugares epifânicos (isto é, aqueles onde ocorrem aparições e revelações) por excelência, as encruzilhadas costumam ser assombradas por gênios (ou espíritos), geralmente temíveis, com os quais o homem tem interesse em reconciliar. Nas tradições de todos os povos, a encruzilhada é o lugar onde se erigiram obeliscos, altares, pedras, capelas, inscrições: lugar que leva à pausa e à reflexão. É, igualmente, um lugar de passagem de um mundo a outro, de uma vida a outra - passagem da vida à morte.
A encruzilhada, embora seja um lugar de passagem por excelência, é também o local propício para que as pessoas (devidamente protegidas pelo anonimato) se desembaracem das forças residuais, negativas, inaproveitáveis, nocivas para a comunidade: os bambaras, por exemplo, depositam nas encruzilhadas as imundícies da cidade, carregadas de uma força impura, que só os espíritos conseguem neutralizar ou transmutar em força positiva. (Chevalier e Gheerbrant, 1998)
Encruzilhada. Relaciona-se com a luz. Entre os antigos as encruzilhadas tinham um caráter teofânico, ainda que ambivalente, já que a reunião de três elementos sempre pressupõe a existência dos três princípios: ativo (ou benéfico), neutro (resultante ou condutor) e passivo (ou maléfico). Por isto eram consagradas a Hecate triforme. (Cirlot, 2005)
Encruzilhada. Bifurcação, cruzamento; na maioria das culturas, é um lugar significativo de encontros, dotado de poderes transcendentais (deuses, espíritos, almas) e associado com frequência ao conteúdo simbólico da porta, visto que a encruzilhada pode simbolizar também a passagem necessária para algo novo (de uma fase da vida para outra, da vida para a morte). Para agradar aos deuses ou aos espíritos das encruzilhadas, erigiram-se obeliscos, altares, pedras ou gravaram-se inscrições. Em quase todos os lugares da Europa consideram-se a encruzilhada um ponto de encontro de bruxas e demônios terríveis. Possivelmente o cristianismo, não apenas por isso, erigiu cruzes, estátuas de Nossa Senhora, de santos e capelas nas encruzilhadas. Para muitas tribos africanas, o simbolismo da encruzilhada desempenha um papel significativo nas práticas rituais. Na mitologia grega, Édipo mata o pai em uma encruzilhada. Os gregos ofereciam sacrifícios à deusa das bifurcações triplas, com o corpo e o rosto tríplices: Hécate, senhora das magias e dos encantamentos, que era além disso associada ao Reino dos Mortos. A estátua de Hermes, o guia das almas, também vigiava as encruzilhadas e as bifurcações. Os romanos conheciam um culto aos deuses Lares das encruzilhadas, a fim de obter as boas graças do destino. Segundo o antigo direito germânico, realizavam-se os processos jurídicos nas encruzilhadas. (Lexikon, 1997)
CHEVALIER, J. e GHEERBRANT, A. Dicionário de Símbolos (mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números). 12. ed., Rio de Janeiro, José Olympio, 1998.
CIRLOT, Juan-Eduardo. Dicionário de Símbolos. Tradução de Rubens Eduardo Ferreira Frias. São Paulo: Centauro, 2005.
LEXIKON, Herder. Dicionário de Símbolos. Trad. Erlon José Paschoal. São Paulo: Cultrix, 1997.