Ressurreição. Símbolo mais patente da manifestação divina, porque o segredo da vida, segundo as tradições, só pode pertencer a Deus. Quando Asclépio, filho de Apolo, deus da medicina, instruído na arte de cuidar das doenças pelo Centauro Quíron (Quirão), fez progressos tais que se tornou capaz de ressuscitar os mortos, foi fulminado por Zeus, o deus supremo. É a proibição cerceando os domínios da ciência.
Uma estranha lenda indiana, que lembra um certo aspecto da cena da tentação no Paraíso terrestre, mostra-nos a serpente como detentora do segredo da vida e, por conseguinte, capaz de ressuscitar os mortos. Certo dia uma serpente mordeu Tylos, irmão de Moria, na face; ele morreu na mesma hora. Um gigante, Damasen, chamado por Moria, esmagou a serpente. A fêmea da serpente afastou-se precipitadamente para um bosque e trouxe de lá uma erva que colocou sob as narinas do monstro. Ele voltou à vida e fugiu com ela. Moria, testemunha da cena, utilizou a erva e ressuscitou o irmão. A lenda só nos interessa aqui por esta razão: mostra que o segredo da vida não está nas mãos dos homens. A erva da ressurreição só é conhecida pela serpente; do mesmo modo, no Paraíso terrestre foi uma serpente, enlaçada na árvore da vida, que tentou Eva para lhe comunicar sabe-se lá que segredo, pelo qual o primeiro casal foi punido com a perda da imortalidade.
As religiões de mistérios e, em particular, os mistérios de Elêusis, assim como as cerimônias fúnebres dos egípcios, testemunham a forte esperança humana da ressurreição. Os ritos de iniciação aos grandes mistérios eram símbolos da ressurreição esperada pelos iniciados. Mas todos eles colocam o princípio fora do alcance do homem. A ressurreição, mito, ideia ou fato, é um símbolo de transcendência e de uma onipotência sobre a vida que pertence a Deus. (Chevalier e Gheerbrant, 1998)
CHEVALIER, J. e GHEERBRANT, A. Dicionário de Símbolos (mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números). 12. ed., Rio de Janeiro, José Olympio, 1998.