Roda. Participa da perfeição sugerida pelo círculo, mas com uma certa valência de imperfeição, porque ela se refere ao mundo do vir a ser, da criação contínua, portanto da contingência e do perecível. Simboliza os ciclos, os reinícios, as renovações. O mundo é como uma roda numa roda, como uma esfera numa esfera, segundo o pensamento de Nicolau de Cusa.
Como a asa, a roda é um símbolo privilegiado do deslocamento, da libertação das condições de lugar e do estado espiritual que lhes é correlativo.
O simbolismo muito difundido da roda provém, ao mesmo tempo, de sua estrutura radial e de seu movimento. (Chevalier e Gheerbrant, 1998)
Roda. Um elemento importante na história da civilização. No Novo Mundo, na era pré-colombiana, não se usava a roda para fins práticos, talvez porque essa fosse sujeita a um tabu, pois o princípio do movimento circular não era desconhecido por aquela civilização, como testemunham figuras de jogos em argila encontradas no golfo do México, montadas sobre rodas maciças que se moviam. No mundo antigo a roda tornou possível a construção do carro, que tinha funções práticas e religiosas. -- Em um sentido amplo, a roda pode ser interpretada como o símbolo de todo o Universo e de seu movimento cíclico, referindo-se por vezes ao próprio Criador, imaginado como um "Perpetuum mobile". -- Nas culturas asiáticas, a roda indica o movimento cíclico do renascimento: no budismo ela comparece com a "Roda da Lei", que libera a existência dos sofrimentos terrenos. -- Na arte medieval é representada frequentemente a "Roda da Vida", que eleva os homens para depois deixá-los cair de novo, ou a "Roda da Fortuna", que nunca permanece parada, mas está sempre sujeita a mudanças. A deusa da Fortuna é representada muitas vezes sobre uma esfera, mas ocasionalmente também sobre uma roda. (Biedermann, 1993)
BIEDERMANN, Hans. Dicionário Ilustrado de Símbolos. Tradução de Glória Paschoal de Camargo. São Paulo: Melhoramentos, 1993.
CHEVALIER, J. e GHEERBRANT, A. Dicionário de Símbolos (mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números). 12. ed., Rio de Janeiro, José Olympio, 1998.
Roda da Fortuna, A. Décimo arcano do Taro. Esta alegoria repousa sobre o simbolismo geral da roda. Baseia-se no dois e expressa equilíbrio das forças contrárias de compressão e de expansão, o princípio de polaridade. Uma manivela dá movimento a essa roda, fatídica por ser irreversível, que flutua sobre a figuração do caos, sustentada pelos mastros de duas barcas unidas, em cada uma das quais há uma serpente, que simbolizam os dois princípios, ativo e passivo. Na parte ascendente, a lâmina do Taro mostra a efígie de Hermanubis com seu caduceu e na descendente um monstro tifônico com seu tridente, símbolos das forças construtivas e destrutivas da existência. A primeira das aludidas personagens relaciona-se com a constelação de Canis, a segunda com Capricórnio, princípio da dissolução que termina em Piscis, no simbolismo zodiacal. Em cima da roda, a alegoria mostra a esfinge imóvel, alusão ao mistério de todas as coisas e à interpretação do que é diferente. (Cirlot, 2005)
BIEDERMANN, Hans. Dicionário Ilustrado de Símbolos. Tradução de Glória Paschoal de Camargo. São Paulo: Melhoramentos, 1993.