Flecha. A arma que perfura de longe, segundo a interpretação psicanalítica, é a expressão do "sadismo fálico". A flecha atirada de um arco não era, curiosamente, uma arma difundida em todas as antigas culturas: em seu lugar, por exemplo nas antigas civilizações pré-colombianas, usava-se como arma de guerra um dardo lançado por uma funda ("Atlatl"). Muitas vezes as flechas foram associadas aos raios de Sol e à caça. As divindades gregas Apolo e Ártemis (Diana) matavam com flechas. O deus hindu da tempestade, Rudra, em sua encarnação maligna, atirava flechas que causavam doenças enquanto a sua encarnação boa, Shankara, lançava tépidos raios benéficos. A deusa do antigo Egito Secmet, representada com a cabeça de leão e associada aos quentes ventos do deserto, enviava "flechas, com as quais trespassa corações". Também a deusa Neith tinha como atributo flechas cruzadas. A prazerosa "ferida do amor" é causada pelos deuses do amor (em grego "Eros", em latim Amor, em hindu "Kama"), mas existem também as flechas que simbolizam o amor de Deus e atingem o coração humano (Teresa de Ávila, Santo Agostinho). - Arco e flecha colocados nas mãos de esqueletos tornam-se por sua vez símbolos da morte, como se lê no Apocalipse de João (6,8), com referência ao cavaleiro montado em um cavalo pálido. Jó, o homem provado em sua paciência, sente-se atingido por Deus: "Porque as setas do Senhor estão cravadas em mim, e o veneno delas devora o meu espírito" (6,4). As epidemias, como a peste, eram personificadas como anjos da vingança que atiravam flechas mortíferas. - Na escultura medieval os arqueiros são frequentemente representados ao lado de animais que simbolizam a sensualidade (Bode, Galo), uma derivação conceitual evidente das "flechas do Amor".
A lenda da flecha, que sozinha pode ser facilmente quebrada, mas que num feixe se torna invulnerável, simboliza, não apenas no Ocidente, mas também na China, a força da união. Tanto na China quanto entre os indígenas norte-americanos, muitos pactos eram assinalados com o ato de quebrar uma flecha ao meio, expressão do anseio pela paz. No imaginário moderno, o flecha assumiu o significado quase unívoco de um sinal direcional, e ninguém, ao ver uma flecha sinalizando uma estrada, pensa nela como uma arma. Um coração atravessado por uma flecha traçado num tronco ou na parede de uma casa indica usualmente uma ligação amorosa. - Na linguagem popular a flecha ainda desempenha um papel relevante ("rápido como uma flecha", "ter ainda uma flecha no arco", "ter lançado todas as flechas"); por vezes ela também é utilizada para designar meios velozes de locomoção (como o carro de corrida da Mercedes, chamado de "flecha de prata", ou trem expresso sueco, denominado de "flecha do Norte"). (Biedermann, 1993)
BIEDERMANN, Hans. Dicionário Ilustrado de Símbolos. Tradução de Glória Paschoal de Camargo. São Paulo: Melhoramentos, 1993.