Cristo. Sem pretender atacar a tese da realidade histórica do Cristo, nem tampouco a da realidade dogmática do Verbo encarnado, porém, ao contrário, baseando-se nessas realidades, muitos autores viram no Cristo a síntese dos símbolos fundamentais do universo: o céu e a terra, por suas duas naturezas - divina e humana; o ar e o fogo, por sua ascensão e descida as infernos; o túmulo e a ressurreição; a Cruz, o Livro da mensagem evangélico, o eixo e o centro do mundo, o Cordeiro do sacrifício, o Rei pantocrátor senhor do universo, a montanha do mundo no Gólgota, a Escada da salvação; todos os símbolos da verticalidade, da luz, do centro, do eixo, etc. A arquitetura das igrejas - sendo a igreja a imagem e o lugar do Cristo, bem como do mundo religioso - reproduz também uma síntese de símbolos. Eu sou o caminho, a verdade e a vida. O Cristo goza desse privilégio único: o de identificar ao mesmo tempo o mediador e os dois termos a serem unidos. Ao dar ao símbolo toda a sua força histórica, toda a sua realidade a um só tempo ontológica e significante, pode-se dizer que o Cristo é para a Cristandade o rei dos símbolos.
Ao inverso, quando se considera a face noturna do símbolo, por seu calvário, sua agonia e sua crucificação, ele representa as consequências do pecado, das paixões, da perversão da natureza humana. E para as consciências que não admitem essas noções de pecado, de piedade ou de sacrifício, ele encarna o desprezo pela natureza e por seus arrebatamentos. Ele é o anti-Dionísio. Volta contra si mesmo todos os valores humanos. O que ele se tornou, na interpretação da Igreja, escreve Nietzsche no Anticristo, opõe-se a tudo o que há de bom na vida: Tudo o que exalta no homem o sentimento de poder, a vontade de poder, e o próprio poder. (Chevalier e Gheerbrant, 1998)
CHEVALIER, J. e GHEERBRANT, A. Dicionário de Símbolos (mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números). 12. ed., Rio de Janeiro, José Olympio, 1998.
Monograma do Cristo. É um importante símbolo da Igreja primitiva que se apresenta sob duas formas: a primeira, constituída pelas letras I e X (iniciais gregas de Jesous Xristos); a segunda, denominada monograma do Cristo constantiniano, e ainda usada em nossos dias, constituídas pelas letras X e P (no alfabeto grego, o P corresponde ao R) que são, em grego, as duas primeiras letras da palavra Xristos (v. cruz).
A primeira figura, a menos que esteja inscrita num círculo, como é frequente, é uma roda de seis raios (algumas vezes de oito, pela adjunção de um diâmetro horizontal). Essa figura (v. roda) é um símbolo cósmico e um símbolo solar: lembremo-nos de que, segundo a liturgia, o Cristo é sol invictus (o sol invicto).
A segunda figura diferencia-se da primeira apenas pela adjunção da argola do P; e sobre ela Guénon observou que representava o sol elevado ao topo do eixo do mundo, ou ainda o orifício da agulha, a porta estreita, e, finalmente, também poderia representar a porta do sol por onde se efetua a saída do cosmo, fruto da redenção pelo Cristo.
Deve-se fazer a aproximação entre esse símbolo e a antiga marca corporativa do quatro de cifra, na qual o P é simplesmente substituído por um 4, aliás aparentado à cruz. (Chevalier e Gheerbrant, 1998)
CHEVALIER, J. e GHEERBRANT, A. Dicionário de Símbolos (mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números). 12. ed., Rio de Janeiro, José Olympio, 1998.
Cristo, Parábolas de. Algumas partes das prédicas de Jesus nos Evangelhos recebem o nome de parabolé em grego, latim similitudo, "comparação". Aparentadas de modo formal aos complicados símiles rabínicos, não têm análogo verdadeiro na literatura de aforismos e de relatos históricos gregos, nem em Fílon ou na literatura apocalíptica. Desde Jülicher, distingue-se, entre símiles, parábolas e narrativas exemplares.
Os símiles possuem uma estruturação mais detalhada diante das simples comparações e são geralmente óbvios: a evidência da parte figurada (relato no presente) explica o assunto, o contexto a ser esclarecido. O grão de mostarda é a menor de todas as sementes, torna-se maior do que todas as outras hortaliças quando germina. Assim é com o reino de Deus (Mc 4, 30-32); também 4, 26-29, a terra assegura a colheita.
Ao contrário, as Parábolas não oferecem algo óbvio e sempre esclarecedor, mas sim relatos (no pretérito) de uma ação única: um semeador saiu a semear, salário igual para todos, a figueira estéril...
As Narrativas Exemplares exibem o espelho ao ouvinte. É o caso do Bom Samaritano. (Lurker, 2003)
LURKER, Manfred. Dicionário de Simbologia. Tradução Mário Krauss e Vera Barkow. 2. ed., São Paulo: Martins Fontes, 2003.