Cruz. É um dos símbolos cuja presença é atestada desde a mais alta Antigüidade: no Egito, na China, em Cnossos, Creta, onde se encontrou uma cruz de mármore do séc. XV a. C. A cruz é o terceiro dos quatro símbolos fundamentais (segundo CHAS), juntamente com o centro e o círculo e o quadrado. Ela estabelece uma relação entre os três outros: pela interseção de suas duas linhas retas que coincide com o centro, ela abre o centro para o exterior; inscreve-se no círculo, que divide em quatro segmentos; engendra o quadrado e o triângulo, quando suas extremidades são ligadas por quatro linhas retas. A simbologia mais complexa deriva dessas singelas observações: foram elas que deram origem à linguagem mais rica e mais universal. Como o quadrado, a cruz simboliza a terra; mas exprime dela aspectos intermediários, dinâmicos e sutis. A simbólica do quatro está ligada, em grande parte, à da cruz, principalmente ao fato de que ela designa um certo jogo de relações no interior do quatro e do quadrado. A cruz é o mais totalizante dos símbolos (CHAS, 365)
Apontando para os quatro pontos cardeais, a cruz é, em primeiro lugar, a base de todos os símbolos de orientação, nos diversos níveis de existência do homem. A orientação total do homem exige ... um triplo acordo: a orientação do sujeito animal com relação a ele mesmo; a orientação espacial, com relação aos pontos cardeais terrestres; e, finalmente, a orientação temporal com relação aos pontos cardeais celestes. A orientação espacial se articula sobre o eixo Este-Oeste, definido pelo nascer e por-do-sol. A orientação temporal se articula sobre o eixo de rotação da Terra, ao mesmo tempo Sul-Norte e Embaixco-Em cima. O cruzamento desses dois eixos maiores realiza a cruz de orientação total. A concordância, no homem, das duas orientações, animal e espacial, põe o homem em ressonância com o mundo terrestre imanente; a das três orientações, animal, espacial e temporal, com o mundo supratemporal transcendente pelo meio terrestre e através dele (CHAS, 27)
A cruz tem, em conseqüência, uma função de síntese e de medida. Nela se juntam o céu e a terra ... Nela se confundem o tempo e o espaço... Ela é o cordão umbilical, jamais cortado, do cosmo ligado ao centro original. de todos os símbolos, ela é o mais universal, o mais totalizante.
A tradição cristã enriqueceu prodigiosamente o simbolismo da cruz, condensando nessa imagem a história da salvação e a paixão do Salvador. A cruz simboliza o Crucificado, o Cristo, o Salvador, o Verbo, a segunda pessoa da Santíssima Trindade. Ela é mais do que uma figura de Jesus, ela se identifica com sua história humana, com a sua pessoa. (Chevalier e Gheerbrant, 1998 )
Cruz - a crucifixão era uma forma de pena oriental que foi introduzida no Ocidente pelos persas. Ela foi pouco usada pelos gregos, mas muito utilizada pelos cartagineses e romanos. Na literatura romana, a crucifixão é descrita como punição cruel e temida, não sendo aplicada aos cidadãos romanos, mas apenas aos escravos e aos não-romanos que houvessem cometido crimes atrozes, como assassínio, furto grave, traição e rebelião. A cruz não é mencionada no Antigo Testamento.
Os romanos crucificavam os criminosos inteiramente nus e não motivo para se pensar que tenha sido feita alguma exceção para Jesus. As vestes do crucificado eram entregues aos soldados (Mt 27, 35). Uma inscrição com o nome do criminoso e a natureza do seu crime era feita sobre uma tabuinha, que o condenado levava pendurada no pescoço até o local da execução; essa tabuinha com a inscrição foi depois afixada acima da cabeça de Jesus na cruz. Por ironia de Pilatos, a inscrição de Jesus não indicava um crime, mas registrava simplesmente a expressão "rei dos judeus" (Mt 27, 37; Mc 15, 26; Lc 23, 38; Jo 19, 19-22).
No Novo Testamento, o simbolismo teológico da cruz só aparece em uma afirmação do próprio Jesus e nos escritos de Paulo. Jesus disse que aqueles que o seguem deve tomar a sua própria cruz, perdendo assim a vida para conquistá-la (Mt ao, 38; 16,24; Mc 8, 34; Lc 9,23; 14,27). Não se trata apenas uma alusão à sua própria morte, mas também da afirmação de que seu seguimento exige a "negação de si mesmo" (Mc 8,34), o total desprezo pela própria vida, pelo bem estar, pelas posses pessoais, a tudo aquilo a que se deve renunciar para seguir a Jesus. Paulo pregava Cristo e — Cristo crucificado —, embora isso fosse escândalo para os hebreus e loucura para os gentios (1Cor1, 23; 2,2) ... Se Paulo pregasse a circuncisão, não haveria o escândalo da cruz (Gl 5, 11): com isso, ele quer dizer que a cruz, um escândalo para os hebreus, perderia o seu valor redentor se a circuncisão ainda fosse necessária ... Aqueles que pertencem a Cristo "crucificaram a carne", ou seja, dominaram eficazmente as paixões sensuais da natureza e aceitaram a renúncia cristã. (Mackenzie, 1984)
CHEVALIER, J. e GHEERBRANT, A. Dicionário de Símbolos (mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números). 12. ed., Rio de Janeiro, José Olympio, 1998.
MACKENZIE, J. L. (S. J.) Dicionário Bíblico. São Paulo, Edições Paulinas, 1984.