Tesouros. Desempenham um papel muito importante na antiga literatura mágica e esconjuratória; superficialmente são interpretações como "refúgios" ou "esconderijos" onde, em épocas anteriores, num momento de perigo foram enterrados bens preciosos, que depois não foram mais encontrados. Quem pretendesse se tornar rico sem muito esforço, mesmo que correndo perigos de natureza mágica para o corpo e para a alma, tentava encontrar tesouros com a ajuda de fórmulas de esconjuro. Muitas sagas contam a respeito desses tesouros, que quase eram alcançados, mas depois tornavam a se aprofundar na terra. O fundamento da irracional busca do ouro soterrado poderia encontrar-se na simbologia tardio-antiga, segundo a qual os "tesouros" representam determinada capacidade espiritual, que quem procura sabedoria e conhecimento adquire pouco a pouco, como indicam também as doutrinas de mistérios gnósticos. Em tais texto está escrito que os guardiães desses tesouros interiores do conhecimento podem ser impelidos a revelá-los através de fórmulas secretas e signos geométricos, que poderiam eventualmente ser comparáveis às sílabas meditativas que produzem auto-sugestão e aos diagramas iantra. Um interpretação simbólica dessas doutrinas secretas poderia constituir o fundamento para explicar a magia mais recente referente à procura de tesouros, na qual as fórmulas de esconjuro e o "pentáculo" mágico desempenham um papel importante. (Biedermann, 1993)
Tesouro. Neste símbolo sublima-se o sentido do ouro cor, atributo solar, em contraposição ao ouro moeda, que simboliza a exaltação dos desejos terrenos e sua perversão. Com frequência, em mitos, lendas e contos, o tesouro encontra-se numa caverna. Esse duplo símbolo significa que a cova (imagem materna ou do inconsciente) contém o "tesouro difícil de alcançar". Com tal expressão alude-se a um dos segredos fundamentais da vida. Este segredo não é outro senão o do "centro" místico, que no próprio espírito do homem Jung define como "Selbst", em oposição ao mero "eu". As penalidades e trabalhos sofridos na procura do tesouro podem ser equiparados, até certo ponto, às operações dos alquimistas em busca da transmutação. O tesouro que o herói conquista com sua dor e seu esforço é ele mesmo renascido na caverna em que o haviam encerrado a introversão ou a regressão, afirma Jung. O herói como pertencente à mãe é o dragão. Como renascido da mãe é o vencedor do dragão. Em realidade, todo trabalho, todo sofrimento, é caminho de progresso moral. E cabe equiparar ambas as atividades, pois consideramos certa a asseveração de Eliphas Lévi: "Sofrer é trabalhar", corroborada de outro lado por Rorschach, ao descobrir que dor e movimento, como expressões de sentimento e atividade manifestam magnitudes análogas e contrárias, como os dois pratos da balança psíquica. Porém só o trabalho e o sofrimento intencionais e conscientes ajudam o profundo progresso na aquisição da consciência, da virtude e da superioridade. O dragão representa também a sétupla inimizade do aspecto negativo dos sete planetas (como vícios), enquanto que as armas são os poderes concedidos pela divindade para possibilitar a vitória. O ouro moeda e qualquer expressão derivada do mesmo - como, por exemplo, uma carteira repleta - simbolizam o "tesouro fácil de alcançar" (os desejos terrenos, os prazeres, o amor considerado como vitória do egoísmo) e que por isto é igualmente "fácil de perder". (Cirlot, 2005)
BIEDERMANN, Hans. Dicionário Ilustrado de Símbolos. Tradução de Glória Paschoal de Camargo. São Paulo: Melhoramentos, 1993.
CIRLOT, Juan-Eduardo. Dicionário de Símbolos. Tradução de Rubens Eduardo Ferreira Frias. São Paulo: Centauro, 2005.