Luz. Em numerosos casos, as fronteiras ficam indecisas entre a luz-símbolo e a luz-metáfora. Por exemplo, pode-se perguntar se a luz, aspecto final da matéria que se desloca com uma velocidade limitada, e a luz de que falam os místicos têm alguma coisa em comum, a não ser o fato de serem um limite ideal de um resultado (VIRI, 259). Vai-se na direção do símbolo, por outro lado, quando se considera a luz como um primeiro aspecto do mundo informe. Embrenhando-se na sua direção, entra-se num caminho que parece poder levar além da luz, isto é, além de toda forma, mas, igualmente, além de toda a sensação e de todo conceito (VIRI, 265 s.: a saída do Imaginário e a experiência da luz).
A luz é relacionada com a obscuridade para simbolizar os valores complementares ou alternantes de uma evolução. Essa lei se verifica nas imagens da China arcaica, bem como nas de numerosas civilizações. Sua significação é que, assim como acontece na vida humana em todos os seus níveis, uma época sombria é seguida, em todos os planos cósmicos, de uma época luminosa, pura, regenerada.
Expressões como luz divina ou luz espiritual deixam transparecer o conteúdo de um simbolismo muito rico no Extremo Oriente. A luz é o conhecimento: a dupla acepção existe igualmente na China para o caráter ming, que sintetiza as luzes do Sol e da Lua; ele tem, para os budistas chineses, o sentido de iluminação; no Islão, En-Nur, a Luz, é essencialmente o mesmo que Er-Ruh, o Espírito.
A luz simboliza constantemente a vida, a salvação, a felicidade dadas por Deus (Salmos 4, 7: 36, 10; 97, 11; Isaías 9, 1) que é ele próprio a luz (Salmos 27, 1; Isaías 60, 19-20). A lei de Deus é uma luz sobre o caminho dos homens (Salmos, 119, 105); assim também sua palavra (Isaías 2, 3-5). O Messias também traz a luz (Isaías 42, 6, Lucas 2, 32).
As trevas são por corolário, símbolo do mal, da infelicidade, do castigo, da perdição e da morte (Jó 18, 6, 18; Amos 5, 18).
Os símbolos cristãos não fazem mais do que prolongar essas linhas. Jesus é a luz do mundo (João 8, 12; 9, 5); os crentes devem ser assim também (Mateus 5, 14), tornando-se os reflexos da luz de Cristo (II Coríntios 4, 6) e agindo de acordo com ela (Mateus 5, 16). (Chevalier e Gheerbrant, 1998)
Luz. Símbolo universal da divindade, do elemento espiritual que, depois do caos originário da escuridão, atravessou o Todo e mostrou às trevas os seus limites. Luz e trevas são o sistema dualístico mais importante de forças polares, onde a luz vem simbolizada também pelo mais potente difusor de luz, o Sol. A luz solar é conhecimento imediato, enquanto a luz da Lua é obtida através do reflexo, de especulações. Todavia, a escuridão nem sempre é experimentada como princípio hostil, mas por vezes como princípio originário complementar (cf. Yin-yang). As culturas patriarcais concebem a lua como "masculina", e a escuridão como "feminina". A religião da antiga Pérsia coloca em primeiro plano a luta da luz (Ormuzd) contra as trevas (Ahriman), onde o reino da luz possui características divinas, e o da escuridão, demoníacas. A ideia imediatamente "iluminadora" da ascensão à luz através das trevas é objeto da maior parte das doutrinas iniciáticas. (Biedermann, 1993)
Luz. É um fenômeno onipresente que possui efeitos familiares mas cuja essência não se consegue apreender. Por essa razão, é o símbolo preferido da imaterialidade, do espírito, de Deus, mas também da vida ou da felicidade. Muitas vezes encontra-se ainda uma distinção precisa entre luz do Sol, que simboliza a inspiração e a visão espiritual, e a luz da Lua que, por sua vez refletida, simboliza a forma de conhecimento mediada do pensamento racional e discursivo. A luz demarca com frequência os limites das trevas, que são por sua vez quase sempre um símbolo do não-conhecimento, do embotamento espiritual, das esferas e estados moralmente subdesenvolvidos ou inferiores, da morte, da desgraça ou então do "mistério". A concepção espacial dos lados de "cima" e de "baixo" (alturas, profundezas) corresponde, no pensamento simbólico, à relação entre a luz e a escuridão. Quase todos os princípios fundamentais baseados em uma bipartição do mundo referem-se à separação entre a luz e as trevas como, por exemplo, Ormuzd e Arimã, yin e yang, anjos e demônios, espírito e matéria, masculino e feminino etc. A concepção de uma ascensão da escuridão para a luz desempenha para muitos povos um importante papel também no que se refere à evolução da humanidade, e à evolução individual; por isso, também inúmeros ritos de iniciação se apoiam nessa dualidade. Nos primórdios, a separação da luz e das trevas introduzindo a primeira ordem no mundo é encontrada nas concepções cosmogônicas de muitos povos. Os místicos costumam falar de uma escuridão localizada "além" da luz do conhecimento (em oposição a "aquém"), que simboliza o princípio da incognoscibilidade de Deus. Nas artes plásticas, a iluminação espiritual de um indivíduo é simbolizada frequentemente por uma auréola, um nimbo ou uma aura. (Lexikon, 1997)
Nimbo. Trata-se de uma superfície ou coroa de raios circulares, que aparecem ao redor da cabeça de um deus, de um herói, de um santo etc. (Lexikon, 1997)
BIEDERMANN, Hans. Dicionário Ilustrado de Símbolos. Tradução de Glória Paschoal de Camargo. São Paulo: Melhoramentos, 1993.
CHEVALIER, J. e GHEERBRANT, A. Dicionário de Símbolos (mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números). 12. ed., Rio de Janeiro, José Olympio, 1998.
LEXIKON, Herder. Dicionário de Símbolos. Trad. Erlon José Paschoal. São Paulo: Cultrix, 1997.