Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico (desde menino).
Nelson Rodrigues teve uma vida pessoal marcada por tragédias e escândalos. Perdeu um irmão assassinado ainda jovem e viveu sob constante pressão financeira. Casou-se com Elza Bretanha de Andrade, com quem teve quatro filhos. A sua vida familiar e pessoal frequentemente inspirava os seus trabalhos, e muitos dos seus dramas refletem as dificuldades que enfrentou.
Nelson Rodrigues_e Elza Bretanha
Casamento_1940
Nelson Rodrigues (1912 – 1980) foi um dos mais importantes dramaturgos, escritores e jornalistas brasileiros. Conhecido por suas obras polêmicas e inovadoras, ele revolucionou o teatro brasileiro ao introduzir elementos do realismo psicológico e ao abordar temas considerados tabus para a época, como adultério, incesto, morte e hipocrisia social.
Nelson Falcão Rodrigues nasceu no Recife, Pernambuco, em 23 de agosto de 1912, sendo o quinto dos catorze filhos de Mário Rodrigues e Maria Esther Falcão. Aos cinco anos, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, onde cresceu e passou a maior parte da sua vida. O pai, jornalista e fundador do jornal A Manhã, influenciou Nelson desde cedo a seguir o caminho do jornalismo.
Aos treze anos, Nelson começou a trabalhar como repórter policial no jornal A Manhã. Ele desenvolveu um estilo de escrita direto e envolvente, conquistando espaço na imprensa carioca. Trabalhou em diversos jornais, incluindo O Globo e Última Hora, e é conhecido por suas crônicas desportivas, nas quais retratava o futebol com grande paixão e dramatismo.
Nelson Rodrigues estreou como dramaturgo em 1941 com a peça "A Mulher Sem Pecado", mas foi com "Vestido de Noiva" (1943) que ele se tornou um marco na dramaturgia brasileira. Dirigida por Ziembinski, a peça inovou ao usar flashbacks, monólogos interiores e cenas simultâneas, rompendo com as convenções teatrais da época.
Ao longo da sua carreira, escreveu mais de 17 peças, divididas em três categorias: "Peças Psicológicas" (como "Álbum de Família" e "Anjo Negro"), "Peças Míticas" (como "Perdoa-me por Me Traíres") e "Tragédias Cariocas" (como "Bonitinha, mas Ordinária"). As suas obras frequentemente retratavam o lado sombrio e hipócrita da classe média brasileira, utilizando o melodrama e o grotesco para criticar os valores morais da sociedade.
Rodrigues é conhecido por abordar temas como sexualidade, morte, traição e a complexidade das relações familiares. O seu estilo é marcado pelo uso de diálogos impactantes, personagens complexos e tramas que frequentemente exploram o subconsciente humano. Ele é frequentemente descrito como um "pessimista trágico", expondo as contradições e a decadência da moralidade humana.
Nelson Rodrigues faleceu em 21 de dezembro de 1980, no Rio de Janeiro. A sua obra continua a ser amplamente estudada e encenada, sendo vista como um retrato brutal e honesto da sociedade brasileira. Ele é considerado o "Anjo Pornográfico" da literatura nacional, uma referência a sua capacidade de revelar as verdades inconvenientes e ocultas da vida humana através da sua escrita.
Rodrigues deixou um legado duradouro, influenciando gerações de escritores, dramaturgos e cineastas. As suas peças continuam a provocar e desafiar o público, confirmando-o como um dos maiores nomes do teatro brasileiro e um crítico perspicaz da condição humana.
“A vida como ela é” era o título de uma coluna do jornal Última Hora, em que Nelson Rodrigues publicou contos entre 1951 e 1961.
As histórias se passavam no subúrbio carioca e traziam temáticas relacionadas ao casamento, ao adultério e a outros temas morais ou obscenos. Mais tarde, esses textos foram publicados em forma de livro.