Eduardo Galeano (1940–2015) foi um renomado escritor e jornalista uruguaio, conhecido por sua prosa poética e obras que exploram temas de história, política, e cultura na América Latina.
Descendente de antepassados galeses, italianos, alemães e espanhóis, adotou o sobrenome materno, Galeano, como nome literário. Aos 14 anos, abandonou os estudos secundários e iniciou a sua vida profissional em diversas ocupações, incluindo mensageiro e cobrador de bilhetes. A sua carreira jornalística começou no semanário socialista uruguaio "El Sol", onde inicialmente publicou caricaturas sob o pseudónimo "Gius".
Durante a década de 1960, Galeano destacou-se no jornalismo de esquerda, tornando-se editor da influente revista semanal "Marcha", que contava com colaboradores como Mario Vargas Llosa e Mario Benedetti. Posteriormente, editou o diário "Época" e atuou como editor-chefe da Imprensa Universitária. Em 1959, casou-se pela primeira vez com Silvia Brando; após o divórcio, casou-se novamente em 1962 com Graciela Berro.
Em 1973, após um golpe militar no Uruguai, Galeano foi preso e posteriormente exilado na Argentina, onde fundou a revista "Crisis". O seu livro "As Veias Abertas da América Latina" (1971) foi proibido pelos regimes militares do Uruguai, Chile e Argentina devido às suas críticas contundentes ao colonialismo e imperialismo na região. Em 1976, casou-se pela terceira vez com Helena Villagra. Com a ascensão da ditadura de Videla na Argentina, o seu nome foi incluído na lista de condenados pelos esquadrões da morte, levando-o a exilar-se em Espanha. Durante este período, escreveu a trilogia "Memória do Fogo", considerada uma poderosa denúncia literária do colonialismo nas Américas.
Em 1985, com a redemocratização, Galeano regressou a Montevidéu. Continuou a sua produção literária e jornalística, abordando temas como a liberdade, a escravidão, as democracias e as ditaduras. Em 2007, foi submetido a uma operação bem-sucedida para tratar um câncer de pulmão. Faleceu em Montevidéu a 13 de abril de 2015, aos 74 anos.
A obra de Galeano é marcada pela fusão de géneros literários e pela profunda análise da história e cultura latino-americanas. Entre os seus trabalhos mais destacados estão "As Veias Abertas da América Latina", a trilogia "Memória do Fogo" e "Espelhos: Uma História Quase Universal". A sua escrita, comprometida com a realidade latino-americana, continua a influenciar leitores e escritores em todo o mundo.
As Veias Abertas da América (1971)
Dias e Noites de Amor e Guerra (1978)
Os Nascimentos (1982)
As Caras e as Máscaras (1984)
O Livro dos Abraços (1989)
Espelhos (2008)
Caçador de Histórias (2016)
AUTOBIOGRAFIA
“Nasci no dia 3 de setembro de 1940, enquanto Hitler devorava meia Europa e o mundo não esperava nada de bom. Desde muito pequeno, tive uma grande facilidade para cometer erros. De tanto errar, terminei demonstrando que ia deixar uma profunda marca da minha passagem pelo mundo. Com a sã intenção de aprofundá-la, tornei-me escritor, ou tentei sê-lo. Meus trabalhos de maior sucesso são três artigos que circulam com meu nome na Internet. Na rua as pessoas me param, para me parabenizar, e cada vez que isso acontece começo a desfolhar a margarida: – Me mato, não me mato, me mato... Nenhum desses artigos foi escrito por mim”.
Um trecho de O caçador de histórias.
Trecho do livro: Futebol ao Sol e à Sombra:
Confissão do autor
Como todos os meninos uruguaios, eu também quis ser jogador de futebol. Jogava muito bem, era uma maravilha, mas só de noite, enquanto dormia: de dia era o pior perna de pau que já passou pelos campos do meu país. Como torcedor, também deixava muito a desejar. Juan Alberto Schiaffino e Julio César Abbadie jogavam no Peñarol, o time inimigo. Como bom torcedor do Nacional, eu fazia o possível para odiá-los. Mas Pepe Schiaffino, com suas jogadas magistrais, armava o jogo do seu time como se estivesse lá na torre mais alta do estádio, vendo o campo inteiro, e Pardo Abbadie deslizava a bola sobre a linha branca da lateral e corria com botas de sete léguas, gingando, sem tocar na bola nem nos rivais: eu não tinha saída a não ser admirá-los. Chegava até a sentir vontade de aplaudi-los. Os anos se passaram, e com o tempo acabei assumindo minha identidade: não passo de um mendigo do bom futebol. Ando pelo mundo de chapéu na mão, e nos estádios suplico: - Uma linda jogada, pelo amor de Deus! E quando acontece o bom futebol, agradeço o milagre - sem me importar com o clube ou o país que o oferece.