Universidade Sénior do Rotary Club de S. João da Madeira
Rota do Turismo Industrial
Terminou, no dia 15 de outubro, a Rota do Turismo Industrial, encetada três semanas antes, numa iniciativa conjunta do Departamento do Turismo Industrial de S. João da Madeira e da Universidade Sénior. Adesão e expectativa andam lado a lado e lá fomos nós em busca do que melhor se faz industrialmente, nesta terra de escassos quilómetros quadrados.Há cerca de três ou quatro anos, se a memória não me atraiçoa, já que a nossa relação com o tempo é estranha, apareceu, nos outdoors da cidade, propaganda ao turismo industrial. Gostei de ver e, sinceramente, comecei a pensar ser um terreno que precisava de desbravar, saber como funcionava, quando funcionava, quem organizava, mas entretanto o tempo passava e continuava sem deixar margens a prazeres extra. A ideia pareceu-me logo de génio.
Pois se não temos na cidade uma arquitetura gótica ou românica, também não oferecemos um roteiro de Arte Nova, embora esta exista com forte expressão no distrito, nem casas-museu, nem sejamos berço de grandes pedagogos, filósofos, escritores, artistas plásticos ou qualquer outra atividade artística, aproveitar o tecido industrial, a matéria-prima onde se edifica esta cidade, e transformar isto em turismo, é digno de mestre.
Neste périplo, fomos a duas fábricas de calçado, a uma fábrica de feltros para chapéus, a uma cortadoria de pelo, que alimenta a anteriormente referida e que são do mesmo investidor, a uma indústria têxtil e a uma que se dedica ao fabrico de lápis. Escusado será dizer que todas elas são únicas naquilo que fazem. Os artistas da cidade estão ali, desde o patrão, ao mais indiferenciado trabalhador.
E nós, os visitantes, não ficamos insensíveis e muito menos quando tomamos conhecimento de que, nestas unidades industriais, gente do panorama musical internacional manda fazer os seus modelos, que designers nacionais mandam ali elaborar as suas criações, que os feltros desta terra servem de suporte a chapéus usados pela polícia inglesa e pela aristocracia e realeza de todo o mundo em especial em casamentos, baptizados e famosos acontecimentos do tipo Ascot.
Ai não ficamos não!
As modas, as tendências, as escolhas, as marcas são terreno de todos conhecido, embora nós, as mulheres estejamos bem mais por dentro.
E O LÁPIS?
Que se pode fazer por um lápis? Como é que se pode fazer um lápis que não acabe por ser apenas e só um lápis? Pequeno objeto com forma inequívoca, que se prime e segura entre os dedos indicador, médio e polegar, que vai deixando num papel, um rasto de escrita ou um traço, consoante a força que exerço sobre ele ou a quantidade de carvão com que é feito.
Aparentemente, o lápis serve para o que serve e nada mais.
Talvez por isso, não se possa ver ali, no sítio do seu nascimento, uma pujança económica que se traduziria em maquinaria de ponta, boas instalações, muito boa produção no final.
Mas não! O material essencialmente utilizado, já de si pouco atrativo, quer pela cor, quer pelos resíduos que deixa nas instalações com ar gasto, que já o estavam pelo tempo, as máquinas também já sofreram os efeitos da erosão, mas as pessoas, poucas, têm um ar saudável e o lápis, esse que é a questão fulcral, está igual a si próprio.
Apenas uma gota de essência pode ter sido acrescentada.
Mais fino ou mais grosso, maior ou mais pequeno, com cor ou sem cor, de aguarela, para escrever ou pintar, lá está ele, apenas um lápis.
Buscam-se agora novas aventuras, carvão em pó, em caixinhas tipo pó de arroz, prensado ou com aparência de giz de alfaiate, um outro traduz-se num pedaço com cerca de vinte centímetros de comprimento, arredondado, e com os terminais mais afiados, envolto num dos lados, por um tecido que o protege das mãos do utilizador, e que também não deixará de ser um pormenor de marketing, tudo visando melhor servir o utilizador.
Carvão não é coisa de grande nobreza, embora com muitíssima utilidade, não o nego. Elevá-lo a esta categoria é inspiração divina.
Ver, já na fase final da produção, a maneira como se acomodam estes pequenos pedaços nas embalagens em que vão ser comercializados é pura poesia.
Parabéns pois a quem assim faz. Pode não ser muito lucrativo como negócio, mas é genuíno, humanizado e um apelo aos sentidos.
E, com as sobras, com as imperfeições, podem sempre vir a fazer-se: ramos com flores e lápis, abat-jours, coberturas para a tábua dos queijos, fruteiras, despeja bolsos, suportes para fotografias, e sei lá mais o quê…
Também não é preciso. Anda por lá quem saiba muito do ofício.
Anda por todas elas, aliás!
O Turismo Industrial resultou, pois, num privilégio para quem participou.
Obrigada pela oportunidade.
São João da Madeira, 16 de outubro de 2014
Maria Sequeira