Universidade Sénior do Rotary Club de S. João da Madeira
Por: Altino de Sousa Oliveira
Após uma pesquisa muitíssimo aturada, surgiu este tema para partilhar com todos, e que considero muito pertinente ...
A propósito da fotografia de um burro zebrado - que correu célere pelo mundo, pelo menos o mundo Ocidental - e foi coqueluche nas redes sociais, lembrei-me da velha história ocorrida há cerca de dois mil e trezentos anos:
Estando o grande Demóstenes a discursar sobre uma matéria de elevada gravidade, verificou que pouca atenção prestavam as suas palavras. Como eminente orador que era, logo introduziu uma historieta para acordar o adormecido auditório:
"Certo mercador, tendo pressa de se deslocar a determinada localidade, tratou de alugar, numa alquilaria, um burrito possante. Ao longo do caminho - estrada poeirenta, rasgada em terra quase deserta - o calor era abrasador e não havia muro, rocha, árvore ou arbusto, por mais pequeno que fosse, que oferecesse, uma, uma refrescante sombra.
O pobre homem, aflito, apeou-se, protegendo-se a sombra que o jumento projetava. O recoveiro, sufocado, transpirava por todos os poros e insurgiu-se indignado: que alugara o burro, mas não a sua sombra. Portanto, a sombra era dele".
De súbito, o orador calou-se. Curioso silêncio imperou. Ouviu-se, então, uma voz: "Como terminou o pleito, sr. Demóstenes?", seguida de outras, em uníssono, fazendo a mesma pergunta: "Como terminou o pleito?! ..."
Descendo do local onde estava, irado, Demóstenes disse em alta voz: "Vergonha das vergonhas! ...Tendes mais interesse na história de um burro e na contenda de dois néscios, do que nos negócios da nação! ..."
Como no tempo de Demóstenes, também nos continuamos a comportarmo-nos como os atenienses: damos mais importância ao Futebol do que a governação do país ...e ao bem estar do semelhante! ...
Basta haver um Campeonato do Mundo, um jogo entre equipas rivais, ou a transferência de tal famoso jogador, para os mass media tudo esquecerem! ...
Que mundo é este que regateia (muitas vezes) o vencimento de um político hábil, capaz de administrar com sabedoria a nação e oferece milhões a um jogador, que muitas vezes mal sabe ler?!...
Que mundo e este que corta verbas para investigação e "chora" um honorário de sábio, que passa dias e dias encerrado num laboratório e noites e noites em claro, a estudar, tentando descobrir a cura de doença maligna ou vacina que ponha cobro a epidemia galopante, e gasta milhões em armamento?! ...
Que mundo e este que assevera que a família e imprescindível para educar a criança e não facilita, aos pais, para estarem mais tempo com os filhos?! ...
Que mundo, é este em que tudo se conjuga para destruir a família e se iguala ao matrimónio, ao que não e nem nunca foi?! ...
Que mundo e este em que um político honesto e preterido ao populista, que promete o que não pode e mente sem pejo?!...
Que mundo e este que dá mais valor ao artista, que dizem ser ótimo, do que ao verdadeiro artista?! ...
Que mundo e este onde um pintor ou escultor apresenta uma obra que ninguém entende (verdadeira aberração) , mas que todos "apreciam" , para não serem apelidados de inépcia?!...
Que mundo é este que nega verbas para construir um hospital e equipá-lo com o material mais moderno e gasta milhões a erguer estádios de futebol?! ...
Como no tempo de Demóstenes, damos valor ao que não tem valor ...Será que ao Poder (esquerda, centro e direita) interessa-Ihe cidadãos marionetes que só pensem em sexo e "guerras" desportivas?! ...
Demóstenes queria acordar o auditório adormecido; agora, muitos (que são poucos) pretendem adormecer a populaça, tornando-a acéfala.
Não são novidades. Basta abrir um livro de História, para verificar -que, por mais que o povo faca, anda sempre de canga. Apenas consegue mudar de cangalhas.
Por: Altino Sousa Oliveira
Foi com toda a naturalidade que tomei conhecimento da desilusão que, nos termos do noticiado, grassa já no seio das vítimas de abusos diversos por parte de sacerdotes da Igreja Católica Romana.
Uma desilusão que rapidamente se instalou em face da consideração de que os temas colocados a discussão, que terminou no domingo,24 de Fevereiro, estão a anos-luz de garantirem um futuro com um mínimo de segurança, mas por igual não conduzirem a condenação dos reais culpados de quanto de podre possa ter tido lugar no seio da Igreja.
Nunca duvidei de que este movimento de protesto, contra esta vergonha que se vem passando — tem de manter-se sempre, com intensidade variável — só foi possível a partir de fora, embora por iniciativa de vítimas de dentro.
Pelo lado da estrutura da Igreja Católica nunca se poderia vir a dar o movimento que já chegou ao ponto que se conhece e continua a descobrir.
Por ser esta a realidade, também sempre referi que este problema é estrutural, derivado da própria forma como a Igreja se encontra organizada. O que significa que, com mui elevada probabilidade, o problema em discussão, podendo vir a ser minimizado, não tem solução. E foi isso mesmo que as vítimas dos abusos, mormente as presentes em Roma, por rápido perceberem. No fundo, era preciso mudar algumas coisas...
Ora, qual é a razão inerente ao fracasso destas novas medidas? Bom, o facto de não ser a Igreja Católica Romana um Estado de Direito, onde todos os seus, membros, e até os que não sejam, se vejam tratados por igual à luz da lei canónica, da lei civil de cada Estado e das correspondentes ordens penais.
Existem mil e um obstáculos a que se possa esperar justiça num ambiente desta natureza, até pelas diversas interfaces que o mesmo congrega em termos de jurisdições nacionais...
Por fim, e antes que nova vaga venha a chegar das diversas partes do Mundo, impõe-se que Francisco e os seus membros de confiança se determinem a levantar o que possa no designado Terceira Mundo, porque, se a realidade é a que se vê no Primeiro Mundo, percebe-se que no outro tudo pode ser muito pior e imensamente mais variado em matéria de ilicitude.
É essencial andar depressa e sem peias, embora a fé, que é inerente a cada um, nunca venha a ser posta em causa. E já agora: e por cá?
P.S. O autor deste texto não fala por falar. Fala com conhecimento de causa e só gosta de escrever, dando algum contributo à UNIVERSIDADE SÉNIOR - da qual faço parte. Porém, como exemplo de factos que lamentavelmente tive na família, exemplifico com o meu falecido irmão: José Sousa de Oliveira, nascido a 23 de Novembro de 1952,tendo falecido a 04 de Julho de 2007. Encontra-se sepultado aqui em São João da Madeira, Cemitério nº 3,pois aqui residia e trabalhou na zona Industrial para os "BULHOSAS". A esposa viúva ainda está no activo, dando aulas em Fundo de Vila desta Cidade.
Por Altino de Sousa Oliveira
1 de maio de 2018
Hoje, dia do trabalhador celebra-se, anualmente, no primeiro dia do mês de Maio, o”Dia do Trabalhador”. Apesar de este dia ser festejado em diversos países do mundo, não o é mundialmente.
Foi implantado, nos Estados Unidos da América, em 1886, para lembrar a data duma manifestação, pelas ruas de Chicago, que ultrapassou os 500 mil participantes, reivindicando a redução do horário de trabalho para as oito horas diárias. Da sequência dessa manifestação, sendo pacífica, resultaram dezenas de feridos e mortes pela Policia. No dia 05 desse mês e ano, uma nova manifestação acabou com mais feridos e participantes feitos prisioneiros.
O Congresso Operário Internacional, em 1889, reunido em Paris, França, decretou o Dia Internacional dos Trabalhadores no 1º de Maio. No ano seguinte (1890), nos EUA, os trabalhadores viram as suas lutas vitoriosas, com a redução do horário de trabalho para as 8 horas por dia.
No nosso país, já há seis décadas algumas profissões eram privilegiadas, ao não trabalhar nesse Dia. Mas era perigoso, dado que a PIDE estava atenta às movimentações das pessoas. Com a revolução do 25 de Abril de 1974,o 1º de Maio foi alargado a todos os sectores laborais e comemorado livremente. Em todo o território, fizeram-se comícios, manifestações e reivindicações, de vária ordem, para melhores condições de trabalho e de vida. Passou, também, a ser feriado nacional.
Que seja um dia de festa, de confraternização e de muita união.
Atenciosamente,
Altino Sousa de Oliveira.
Por Altino de Sousa Oliveira
Há muito que não dou o meu contributo - na área que e o que mais gosto de fazer. Assim, depois de maduramente pensar, eis-me com mais um tema actual no nosso mundo globalizado:
Se o leitor Amigo acompanha, regularmente e com atenção, os nossos noticiários televisivos, sabe ja que teve lugar um terrível acidente numa discoteca romena de Bucareste. Um acidente que se saldou em muitas dezenas de mortos e imensamente mais feridos. E se tem boa memória, recordara casos deste tipo em Portugal. E até de outros tipos. Infelizmente, não faltam casos ao longo dos anos.
Pois, caro leitor e Amigo, o Primeiro-Ministro da Roménia, Victor Ponta, renunciou, há dias, ao seu cargo, perante uma manifestação de cerca de vinte mil romenos, que na véspera haviam exigido a sua demissão. Leu bem? Apenas vinte mil pessoas... E recorda-se daquelas celebres manifestações contra o Governo de Pedro Passos Coelho, que deixaram esta da Roménia como o encontro dos nossos preparadores de manifestações? E o que fizeram os nossos detentores de soberania? Ah, continuaram, e sempre cantando e rindo. Chegou mesmo, ao menos uma vez, a reunir o Conselho de Estado!
Victor Ponta, perante a manifestação dessa terca-feira, foi claro e politicamente honesto: "estou a renunciar ao cargo de primeiro-Ministro, esperando que a minha renúncia satisfaça as pessoas que vieram para as ruas". Imagina o leitor e Amigo uma tal atitude em Portugal, mais de quatro décadas depois do triunfo do Movimento das Forcas Armadas?
O que este trágico acontecimento da Roménia vem mostrar e o modo como Portugal foi completamente ultrapassado, em matéria de sentido de responsabilidade politica, por um pais do antigo bloco comunista.
Uma tragedia que me trouxe ao pensamento aquela explicação do romeno que, há uns meses, foi ajudado por-um casal que estava no café em que também me encontrava, e me explicou que hoje esta tudo pior na Roménia que no tempo de Ceausescu e que verdadeiramente mal formada e má era a mulher deste.
Até a Roménia, neste domínio já nos ultrapassou! Sim, porque Albufeira, felizmente, também já lá vai, sendo que o nosso Ministério Publico ainda não se determinou a mandar averiguar se, por acaso, terá existido alguma negligencia que tenha maximizado os efeitos da tal zona divina. Mas, enfim, temos a democracia!
Voltando a Portugal, sinceramente, cheguei ao limite. A língua portuguesa, embora riquíssima, começa a ficar manifestamente falha de adjectivos, capazes de classificar a inanidade em que transformamos este lugar. Para onde quer que se olhe, apenas se entreveem formas de vida, mais ou menos rastejantes.
Um presidente que não "presidenta", um governo que não "governa", um parlamento que não "parlamenta", uma oposição que não "oposiciona" e mais tudo o resto que o é, mas não o faz. Em redor de tudo isto, um povo que mais parece um amontoado de inertes, atirado para um qualquer aterro da vida.
Apresto-me a entrar na oitava década de vida. Já fiz, portanto, algum caminho. Já me cruzei com muitas coisas boas. Da mesma forma que já tropecei em muito lixo.
Já gargalhei, já sorri, já chorei, já lamentei, já amei, já desamei, já senti, já aceitei, já repeli, ja olhei sem ver, já vi sem olhar, já fui, já vim. Numa palavra, já vivi. E depressa, porque havia para ver e para fazer.
Provavelmente, foi necessário chegar a esta idade para perceber aquela pressa, em toda a sua plenitude. Se calhar já intuía que pelo cair da folha, me iria tocar "viver" um período desta natureza. Há muito que deixei de ter pena da minha geração, daquela que vem atrás de mim e da que me precedeu. A dura realidade encarrega-se de responder ao porque.
Urna geração que aos vinte anos e ensurdecida pelas "trombetas de Abril", só podia produzir o lixo que produziu. Quem tiver menos de 50 anos, muito dificilmente captará o sentido profundo desta asserção.
E mesmo assim. Vicente Jorge Silva, um dia referiu-se a urna qualquer geração rasca. Tinha razão. Mas estava desfasado no tempo. As gerações rascas foram a dele, a minha e a que se segue. Três gerações desprezíveis, que se dedicaram denodadamente a criar as condições, para que uma interminável fila de crianças se vá acumulando a porta das margens gregas e italianas.
E o manto da vergonha a cair sobre o que resta das nossas existências.
Serafina tinha sido uma mulher de mão cheia.
Estudara alguma coisa quando jovem, não muito é verdade, pois que, naqueles tempos as escolas eram poucas e vocacionadas para os que usufruíam de maiores capacidades intelectuais, melhores condições económicas e melhor estavam geograficamente em relação a elas. À parte estas, restavam os conventos às meninas e os seminários aos rapazes. Mesmo assim, com muitas dificuldades e não muita vocação, conseguira fazer um curso industrial, que frequentemente chamava com ternura de “cursinho”, aquele que acabaria por a dotar, percebeu bem mais tarde, de capacidade para a ajudar na constituição e manutenção da sua família.
Depois do seu fim, uniu a sua alma a um colega e, cerca de dois anos depois, os trapos e os sonhos. Não muito tempo passou para que, como era normal na época, lhes nascesse o primeiro rebento, atestando firmemente o amor de ambos e o seu contributo procriador.
Outros momentos do género se repetiram, sucessivamente, sensivelmente à razão de um a cada dois anos, por sete vezes.
Hoje, quando sentada, vezes de mais para o seu gosto, mas, infelizmente, por imposição da artrite reumatoide e de outras e muitas mazelas, remastigando nos seus pensamentos, aprontam-se-lhe à memória aquelas dificuldades do passado e, simultaneamente, do fundo do seu âmago, sente ressurgir de novo um sorriso interior que quase lhe invade o rosto e que prontamente tenta evitar, não pensem que começa a perder o juízo.
Não, o juízo ainda o tem. Ainda tem a posse, embora já diminuída, da razão. O mesmo não pode dizer, mau grado o seu, duma surdez que cada vez mais se instala em si.
Criar oito filhos exigira-lhe um forte poder criativo. À conta disso e por ser já sua tendência natural, sempre adorou falar e ouvir, contar estórias, umas que inventava e outras que mais não eram do que a forma de reanimar o seu passado, dando-o a conhecer à sua extensa prole, no duplo propósito de educar e de se dar a conhecer.
Aflige-a a surdez. Agora que tem dificuldades auditivas sente-se mais desenquadrada. Mas a vontade de estar presente, de participar, de dialogar, de ouvir, mantém-se igual ao que sempre fora em si. Tinha que se ajustar, ainda mais agora que a neta lhe tinha chamado a atenção para uma ocorrência recente:
- Avó, tem que deixar as pessoas em paz. Pare de contar as suas estórias.
A avó, nos seus relatos inebriantes, não se apercebe dos esgares à sua volta e muito menos ouve os suspiros, as mexidas subtis que se dão nos assentos, os comentários que se tecem em surdina para o companheiro do lado, do frete…é isso mesmo avó, do frete que fazem a fazer que a ouvem.
Ficou num sufoco e entarameladamente disse: A sério Ritinha? Ai meu Deus!…
À noite, sozinha, no seu cogitar concluiu que a vida é assim, o tempo escasseia e…talvez seja melhor assim, não se aperceber, alhear-se naturalmente, desapegar-se…
***
Em casa, às 22:41 horas, do dia 12 de Novembro de 2014.
Maria Sequeira
Por: Altino Sousa de Oliveira
São João da Madeira,25 de Outubro de 2.014
UNIVERSIDADE SENIOR DO ROTARY CLUB DE S.JOAO DA MADEIRA
HORARIO - 2014/2015
TEMAS/
Dando mais uma vez o meu contributo, hoje vou abordar um tema algo de uma grande responsabilidade, não pretendendo, com isto, substitui-me ao nosso Professor e Grande Amigo, Dr. Celestino Pinheiro.
Assim se chama:
A Língua Portuguesa é extraordinariamente rica. Contrasta com a pobreza do pais ou, quem sabe, se para rivalizar com a pobreza de muitos portugueses. Quanto mais procuro o aperfeiçoamento na procura de obter o rigor na forma de me expressar, mais me dá vontade de continuar a aprender." O PODER SÓ É DADO ÀQUELES QUE SE ATREVEM A BAIXAR-SE PARA O AGARRAR” Fyodor Dostoievsky (1821-1881) escritor russo.
Considero que sei pouco face às minhas exigências pessoais. Gosto do rigor e esforço-me por praticá-lo. Temos uma Gramática que, sem ser complicada…é complicadíssima! Corro o risco de afirmar que nela encontramos mais excepções à regra do que a regra, propriamente dita. E, se falamos de verbos, a coisa piora consideravelmente. Não sei quantos verbos temos, mas há muito tempo ouvi a afirmação que temos mais de quatro mil verbos irregulares. Possivelmente teremos mais verbos irregulares do que regulares. Nada que me surpreenda, mas que "chateia" muita gente.
E, sempre que afirmo, a quem quer que seja, que defendo a lecionação do Latim no Ensino Secundário (há quem queira leccionar o inglês no terceiro ano de escolaridade!... ),sou logo rotulado de bota-de-elástico ou mesmo de maluco. E, se é verdade que "de filósofo e de louco todos nos temos um pouco", sinto que tenho o direito de ser um pouco para me integrar na regra geral. E, se tal maluqueira se prende com a Língua, sinto-me duplamente satisfeito.
Não é por acaso que abomino o último acordo (?) ortográfico, que já apelidei, várias vezes, de "porcográfico ou de pornográfico". Há um adágio que sentencia: "o seu a seu dono". Acabei agora mesmo de validar aquela verdade popular. O certo é que nunca praticarei aquela coisa.
Entre outros, tenho o direito de ser teimoso. Por vezes sou mais que muito teimoso. Assumo. Aceito poder abdicar mais facilmente de ler e escrever a praticar aquela bárbara enormidade. Referi-me a Gramática (Portuguesa editada em Portugal) que consulto várias vezes, mas editada num passado que respeito e que pratico. por vezes apetece-me consultar uma editada no Brasil. Posso assegurar que não conseguiria folheá-Ia mais de um a dois minutos. Tempo suficiente para entrar em pânico. Suponho eu!
Passemos para algumas curiosidades. Há palavras que têm feminino e masculino duvidoso. Se nos dois géneros é comum e corrente uma falsidade aparente, é exactamente isso que desperta a minha atenção e curiosidade. Isto porque só do ponto de vista gráfico são feminino e masculino, quando, na verdade não o são.
A expressão "puto" manifesta urna certa ternura. O seu feminino tem muito que se lhe diga, por ser um impropério que pode ser muito ofensivo. Assim é seguro afirmar que "puto", do ponto de vista sinónimo, e de género único; a expressão "muito ano" é um falso plural porque e um singular a expressar um plural; o sufixo "ão" usa-se para indicar um aumentativo. Mesmo não sendo sufixo, na palavra "anão" não é aumentativo, mas sim diminutivo (via tamanho).Para referir qualquer caso que tenha ocorrido há muito tempo, já usei várias vezes "muitos anões". Uma brincadeira inofensiva pode ser agradável e não ofensiva à Língua, que não quero ver ofendida.
Vou apresentar alguns exemplos de palavras de género único no significado, mas graficamente com dois géneros. Considero que estou a desafiar o leitor a algum exercício mental e a convidá-lo a apreciar algumas "ratoeiras" gramaticais. Vou dar o pontapé de saída a favor dos géneros falsos: Armada/armado; cana/cano; capa/capo; casa/caso; cola/colo; copa/copo; morra/morro; pira/piro; rama/ramo; rasa/raso; rota/roto; tira/tiro e tola/tolo. Há muitas mais a não nomear para não ser enfadonho. Não se esqueça que, na explanação, considerei algumas palavras homógrafas.
Mas há mais curiosidades. Adjectivos e nomes ou substantivos quando terminados em "e" são, normalmente, de género único: ausente; distante; doente, elefante; elegante, indecente; meliante; presidente e outros que, de novo, me dispenso referir. Mas tenho que apresentar excepcões: Filipe/Filipa e Henrique/Henriqueta, o que não acontece com Edite ou Eunice e certamente que o mesmo se passará em outros nomes que não conheço. Já os nomes próprios terminados em "erre" sao sempre (ou talvez quase) de género único seja no feminino ou no masculino, tal como Hélder ou Nair.
Claro que em alguns dialectos derivados de línguas predominantemente latinas podem acontecer excepções que não conheço. E que, pelo dialecto brasileiro, fiquei a saber que "presidente" para o feminino é uma expressao machista! Devem andar à procura de "presidenta e presidento"! E, pela mesma origem, perdi a noção do que são substantivos comuns e próprios. A minha teimosia obriga-me a usar a maiúscula nos doze meses do ano. E só não o faco no décimo terceiro mês porque ainda não lhe conheço outra nominação para além da referida. Mas que considero ser impróprio escrever os nomes dos meses com minúscula, ninguém duvide. Possivelmente a minha gramática está mais caduca do que eu. Para mal da Língua Portuguesa.
É triste, mas e o texto que me pareceu oportuno para hoje. Continuo a escrever com a ortografia que aprendi há mais de sessenta anos.
Altino de Sousa Oliveira
Por: Jorge Rui Oliveira
João da Silva Correia, escritor e jornalista sanjoanense do século XX , autor de algumas obras literárias sendo o livro “Unhas Negras” a mais emblemática. Também deu o nome a uma das ruas da cidade e à Escola Secundária de S. João da Madeira, agora com magníficas instalações ali no Parrinho. Era mais ou menos isto que eu sabia sobre este autor.Entretanto o Prof. Celestino Pinheiro responsável pela disciplina de” Português e Jornalismo” da Universidades Sénior sugeriu para o ano lectivo de 2013/14 a leitura e interpretação do livro “Unhas Negras” como forma de homenagearmos um escritor conterrâneo. Em boa hora o fez, pois foi assim que uma vez por semana ao longo de nove meses e sob a orientação daquele Professor, a turma teve o privilégio de conhecer esta obra e através dela poder acompanhar as lutas dos chapeleiros por melhores condições de vida, mas também imaginar o que era a vida em S. João da Madeira nas primeiras décadas do século XX.
Muito embora o autor tenha como fio condutor do livro as lutas dos chapeleiros pelas 8 horas de trabalho, as melhores condições de segurança e higiene no trabalho, a protecção na velhice – à época não havia reformas – e as preocupações com o desemprego, pela introdução de maquinaria mais moderna na Fábrica Nova, João da Silva Correia à medida que vai desenvolvendo aqueles temas vai-nos dando umas pinceladas sobre a cidade, as suas gentes e os seus quotidianos, quer através dos diálogos e expressões usadas nessa época, quer com a narração de lugares, ruas e praças ainda hoje perfeitamente identificáveis.
Assim, lá temos referência aos lugares do Pedaço, Fundões, Quintã, Feira dos quatro em Arrifana, Casaldelo, congosta do Urreiro, o vale que vai do Parrinho a extremas de Vila Chã, as Larangeiras, A Praça, O Largo da Estação, “o muro do Passal” a “Fonte de Santo António” com a Capela acima, “o mercado” etc.
Expressões usadas nesta região e que ainda hoje se vão ouvindo, como: “ hora de arrear ” “vai haver sarrabulhada”,” tira boi tira vaca”,” água do cú lavado” “ganapada” “rapariga de servir” “ganhar para côdea” “vai haver sermão e missa cantada” e muitas outras .
Também não falta a taberna onde os chapeleiros se encontram para tomar uns cálices de aguardente para se aquecerem nas noites frias de inverno, antes de entrar para o turno da madrugada e onde discutem os seus problemas, a referência ao jogo do pincho e do montinho e ao homem da vermelhinha que procurava ganhar a vida na feira dos quatro.
Há também nomes de personagens e que eventualmente ainda hoje existem apelidos aqui na região como, Fernando Papão, Aniceto Cartolas, Gonçalo Pimpão, Albano Freixeda, o Frágua de Ossela, o António Marreco, o Zé do Aido.
João da Silva Correia descreve também de forma notável e com um grande realismo a posição dos chapeleiros mais radicais que ameaçam com a greve e aqueles mais moderados que preferem a via do diálogo, havendo mesmo personalidades da terra como seja o farmacêutico Camilo Palmeira que se revela um admirador da lutas dos chapeleiros. Também aqui o autor mostra-nos um dos sócios da Fábrica Nova - Paulo Cerqueira - que tenta a conciliação com os operários, mesmo contra a vontade de outro sócio, de forma a evitar extremismos por parte do operariado. De referir também a solidariedade dos chapeleiros do Porto, de Braga e da Trofa que se deslocam a S. João da Madeira de comboio para participar nas reuniões dos chapeleiros que vão discutir as medidas a exigir junto dos patrões e o relato da intervenção dos militares da GNR de Ovar para repor a ordem na Fábrica Nova.
Podemos também apercebermo-nos da rivalidade entre os chapeleiros, os unhas negras, e os sapateiros que se intitulavam os ourives da sola.
Mas também dentro dos chapeleiros o autor destaca a diferenças entre as várias categorias de trabalhadores: os” apropriagistas” - a fidalguia da classe - e “os do grosso”, “os da lã”, “ os do fino” e o “carrejão”.
Terminada a leitura deste livro o que posso afirmar é que foi uma surpresa muito agradável pois estava longe de imaginar o conteúdo e a riqueza desta obra.
E já agora ouso perguntar. Quantos sanjoanenses ainda não leram este livro? Parece-me que muitos. É verdade que quase todos sabem que João da Silva Correia foi um autor sanjoanense que escreveu “Unhas Negras”. Mas quando se pergunta se já leram a obra a percentagem não é muito elevada.
Por isso uma sugestão: e se este ano elegêssemos o livro “Unhas Negras” para férias? Aqui fica o repto.
São João da Madeira, 02 de Novembro de 2013
UNIVERSIDADE SENIOR D0 ROTARY CLUB DE S. JOÃO DA MADEIRA
Português e Jornalismo - Novembro de 2013
TEMAS/OPINIÃO
Por: Altino Sousa de Oliveira
Ultimamente tenho andado cismado com as palavras. Não é uma cisma à toa, é uma questão de coerência, que me interpela e me exige uma resposta: Que uso fazes tu das palavras, tendo em mente o facto de eu ser um "FURIOSO" da escrita e da leitura?… E ainda: as tuas palavras são o espelho dos teus actos ou apenas teoria? Servem para alguma coisa?Estas últimas semanas fiz uma greve pública de palavras e resolvi deixar descansar quem, por vezes, tem a paciência de partilhar os meus TESTAMENTOS escritos. Parei e tentei reflectir. Olho Para a minha vida, com tantas palavras e sei que as uso melhor do que as pratico. Por exemplo, sei falar de tolerância, de perdão, de acolhimento aos outros, mas sou um automobilista sem um pingo de paciência; sou como MELGA quando alguém me contraria ou me aborrece; respingo com facilidade e só não tenho o nariz mais EMPINADO, porque a minha consciência me morde com frequência e me faz engolir metade do meu mau génio (infelizmente a outra metade ainda se nota demasiado e vai levar muito tempo a ser dominada).
Provavelmente ninguém se vai espantar com estas confissões, porque todos nos sabemos como é difícil praticar sempre aquilo em que acreditamos e tão bem teorizamos. Esta questão tem-me incomodado bastante, devo admiti-lo, talvez porque ande bastante cansado e a minha pouca paciência me obrigue a colocar-lhe uma rédea muito curta, antes que saia desmandado por ai.
Hoje, porem, não sei se por um acaso, tropecei. numa frase, num livro que ando a ler e que pareceu responder-me, em parte, a esta dúvida da utilidade das palavras que escrevo. Diz assim: "AS PAIAVRAS VOAM, O QUE ESTÁ ESCRITO FICA", acrescentando o autor que "NAO DEVEMOS TER MEDO DE NOS DIZER". Para mim, de facto, escrever é uma forma de compromisso: é o meu recado ao mundo, e o meu testemunho. Resta saber se as minhas palavras bem intencionadas conseguem acordar no coração dos que me leem as mesmas interrogações, as mesmas esperanças ou as mesmas dores que nos tornam a todos iguais no essencial. Não sei, mas gostaria de o saber. Devo dizer-vos que as palavras dos outros, a mim, têm-me ajudado muito. Alguns dos melhores amigos, não tem rosto. Conheço as suas almas, mas nunca encontrei os seus corpos. Aprendi a amá-Ios, a rir e a chorar com eles, por meio das palavras que deixaram escritas e me tem ajudado a encontrar algumas respostas e por vezes um grande consolo na vida. É precisamente isto que eu gostaria de poder fazer: ser útil a alguém, consolar ou dar força aos que ainda não descobriram um caminho de luz para as suas angústias, partilhar o que me vai na alma e semear optimismo e coragem de viver.
Não há muito tempo, fiz algumas descobertas complicadas: ninguém muda ninguém; a verdade não se compra inteira, porque não há donos da verdade; a vida só tem sentido se cada um for escolhendo o caminho que o aproxima dos outros, não para os mudar, mas para os amar. É por isso que os jogos políticos, o dogmatismo, o fundamentalismo religioso e tantas outras formas que os homens inventaram para se apoderarem da verdade à força, parecem-me tão pobres e descabidas. AS PALAVRAS SÓ FAZEM SENTIDO SE SERVIREM PARA NOS MUDAR A NÓS MESMOS E CONTRIBUIREM PARA FAZER OS OUTROS REFLECTIREM. É por isso que as seguintes palavras de Bernard Haring me fizeram pensar muito: "É MAIS GRAVE CALAR-SE D0 QUE ARRISCAR ENGANAR-SE, FALANDO", as quais completo com outra afirmação, de Henri Le Bóursicaud, um homem que usa as palavras como uma arma de amor e com as quais termino, concluindo que, apesar de tudo, cada um deve contribuir como pode e sabe, para tornar o mundo um pouco mais positivo. Afinal, as palavras não passam de uma forma de usar, com responsabilidade, os dons que Deus nos deu, independentemente dos nossos defeitos:
" Todo o ser humano, sem se armar, sem se impor, tem o direito e o dever de falar, certo de que, se disser com sinceridade, aquilo que pensa, dirá necessariamente algo de extraordinário."
Altino de Sousa Oliveira
26 de Junho de 2014
Jorge Rui Oliveira
UNIVERSIDADE SÉNIOR DO ROTARY CLUB DE S. JOAO DA MADEIRA - ANO LECTIVO 2013/2014
São João da Madeira, 19. de Outubro de 2013
TEMAS/REFLETINDO
Por: Altino de Sousa Oliveira
O respeito pela vida abrange o sentimento de alta consideração por tudo quanto existe.
Não apenas se detém na pessoa, mas sim em todas as expressões da natureza.
Quando não existe essa manifestação, os valores éticos enfraquecem e todos os anelos superiores perdem o significado.
A criatura humana, impulsionada por ilusões de conquista do sucesso aparente, tem-se esquecido disso, sem se dar conta da gravidade de tal atitude.
O egoísmo avassalador tem controlado os sentimentos, impondo o seu interesse, em detrimento de todos os valores mais dignos.
Os membros da sociedade têm sido separados lamentavelmente, dividindo-se em classes medidas pelos recursos sociais, económicos, porém nunca morais. Surge, então, um inevitável abismo entre os seres.
Relações de animosidade convertem-se em ódios insanos, abrindo campo Para as batalhas da violência doméstica e urbana. Mais adiante, apresemtam-se como atos de terrorismo e como guerras nefandas.
Alguns acreditam que, possuindo dinheiro e desfrutando de projeção política ou social, serão capazes de conseguir afeição e companheirismo.
Amargo engano!
Afeto e amizade não se compram, nem tao pouco se impõem. Alguns deixam-se seduzir por esses recursos transitórios. Iludem-se pensando que a criatura pode ser confundida pelo que possui e não pelo que realmente é.
Essas fantasias, porém, são passageiras, porque as riquezas trocam de mãos rapidamente.
A beleza e o poder não adornam por longos anos as mesmas frontes. Tocadas pela Brisa do tempo, elas desaparecem a olhos vistos, e cedem lugar a verdadeira essência dos seres. Ninguém consegue ser feliz individualmente no deserto onde perambula.
Tentando ignorar essa verdade, muitos valem-se de subterfúgios infelizes. Buscam no álcool, nas drogas químicas, na baixeza emocional e sexual, a fuga da solidão e do desconforto em que vivem.
Eis aí outro equívoco que leva as pessoas a tragédias ainda mais dolorosas.
A vida só se faz digna e próspera, quando se estrutura na pedra fundamental do respeito.
O respeito pela vida eleva o padrão de conduta, dignificando aqueles a quem é direcionado e elevando moralmente quem o observa.
A honestidade, por sua vez, indispensável no sucesso dos relacionamentos humanos, proporciona confiança e bem-estar aos mesmos.
Respeitando a vida, passaremos a ser respeitados e estimados por todas as expressões dela própria.
Notaremos em nós próprios a indescritível satisfação de estar em paz com a própria consciência.
PENSAMENTO DA SEMANA
"A vida é sublime concessão de Deus e jamais poderá ser desconsiderada, por quem quer que seja".
Altino de Sousa Oliveira
São João da Madeira, 05 de Maio de 2013
TEMAS PARA A UNIVERSIDADE SENIOR
POR: Altino Sousa de Oliveira
Miguel Relvas saiu mal do Governo, de supetão, sem aprumo nem dignidade, sem reconhecer erros cometidos, soltando sibilinas ameaças de quem se sente imaculado, sem o mais leve respeito pelo povo que lhe paga. Fez mesmo o inacreditável no seu discurso atabalhoado: declarou, perante o país inteiro, que gastou cinco anos com o seu amigo Pedro Passos Coelho - três a levá-lo à presidência do PSD e dois a servir-lhe de bengala no Governo.
Foi a mais absoluta grosseria, mesmo sendo verdade. É que se diz lavar a cara com o favor àquele que o recebeu. Penso que, politicamente, está arrumado. Vai andar por aí, entre Portugal, Brasil e Angola, a vender influências e cunhas até essa vaca secar. E sobre tudo isto, ridículo de fazer doer. A fazer lembrar aqueles "calcinhas" da Luanda onde viveu em criança, cheios de artimanhas e golpes, que estabeleciam como "advogados de sanzala".
Pedro Passos Coelho ficou muito mal neste retrato da licenciatura a martelo, fornecida a Relvas pela Universidade Lusófona, onde quem manda é Manuel Damásio, que eu conheço dos tempos da UCIDT (União Católica dos Industriais e Dirigentes do Trabalho), de que era assistente religioso Monsenhor João Evangelista, da Sé Velha de Coimbra.
Nesse tempo, Damásio era de missa, agora é de Maçonaria. Irmão de Relvas, portanto. Passos Coelho, consumada a saída do habilidoso sócio, teve ainda um gesto de total falta de respeito pelo povo que o sustenta, disse, em pleno Parlamento, que Relvas não tinha cometido abuso nenhum. Tal e qual. Ficou depois pior com o seu discurso de mau perdedor, perante o veto do Tribunal Constitucional.
Impressionante a sua mascara de ódio e raiva. Como um garoto acossado que, em vez de reconhecer os seus erros e responsabilidades, tentasse atribuir ao Tribunal Constitucional a culpa do estado a que Portugal chegou: desemprego, miséria, fome, desespero, que é relatado no estrangeiro com consternação.
Estado de degradação que só não é o buraco definitivo, graças à Igreja católica e às outras Igrejas em presença, assim como as associações de bem fazer e ao espirito de partilhado povo. Que remédio alternativo sugere Coelho? Mais do mesmo, mais de austeridade que tão bons resultados tem dado. Chamar a responsabilidade social os grandes capitalistas, nem pensar. Fazer voz grossa, endireitar a espinha e bater com os punhos na mesa de Bruxelas, não e capaz. Dar o lugar a quem sabe e é competente, nem morto, que a vaidade não deixa.
Miguel e Pedro, ambos produtos das Jotas, ali se fizeram homens a custa de intrigas, golpadas, cálculos mentiras e outros aleijões de carácter, já que, afastados por morte ou impossibilidade os mais velhos dos partidos, as Jotas são o triste espelho da completa decadência e mediocridade.
Cavaco Silva continua igual a si próprio: lava as mãos e vai levando a vidinha. Faz-me lembrar uma piada do tempo da Guerra Colonial. Um barco cheio de tropas de regresso a Portugal e, na amurada, o general dizia: "adeus amigos, levo Angola no coração, barras de ouro no porão e diamantes no beliche. E quem cá ficar que se lixe". Em boa verdade, quem nesta hora dramática levanta a voz em defesa dos velhos, das crianças, dos reformados e dos desempregados, e justamente o Tribunal Constitucional e o Provedor de Justiça. E as Igrejas.
Nestes dias de lama salvou-se o ministro Nuno Crato: exigiu contas à Universidade Lusófona, recebeu os relatórios, estudou-os no maior sigilo, isto é, sem o habitual badalo mediático de certos ministros e deputados, e por fim, enviou o processo para a Procuradoria-Geral da Republica, com indicação de lhe parecer que tal licenciatura do Relvas deve ser anulada. Com este procedimento, Crato veio demonstrar que quem e criado e educado com princípios, deles não o afastaram ideologias ou religiões.
Bem diz o povo: se queres conhecer o vilão, mete-lhe a vara na mão. E, dito isto, recomendo outro ditado: não há bem que sempre dure, nem mal que se não acabe. Portanto, olhos abertos, coragem e calma.
SEGUIDAMENTE, PARAR E PENSAR
As datas que marcam a pátria obrigam a que meditemos sobre elas e respeitemos o seu significado. Só tratam deste assunto com leviandade, incluindo o apagamento e minimização das datas, os irresponsáveis, os ignorantes ou os que, comendo o dinheiro da Nação, servem interesses estrangeiros.
Nos 39 anos do 25 de Abril, é de pensar no que foi, no que podia ter sido e não foi, no que ainda é. O 25 de Abril tinha de acontecer, e pena foi não ter sido uns anos mais cedo, porque, nenhum povo deve ser obrigado a viver em ditadura, entregue a uma classe política que se arvora em detentora da verdade, escravizando por leis atentatórias dos Direitos do Homem, menorizado por diferenças sociais gritantes.
Nesse tempo, por desejo de liberdade, por haver grandes carências económicas e a Guerra Colonial, houve um verdadeiro êxodo dos seus cidadãos rumo à emigração. Tantos anos passados, tanto mar pelo meio, e não diminui a revolta contra esse regime por parte dos portugueses que tiveram de sair. Revolta essa que foi transmitida aos filhos e netos.
A herança deixada pelo anterior regime ao que lhe sucedeu foi pesada: descolonizar, acabar com o analfabetismo e os estudos para elites, dar ao povo educação cívica e política, preparar os servidores do estado (desde governantes a autarcas) completamente desprovidos de preparação política, racionalizar e modernizar a agricultura e pescas, promover uma indústria, um comércio e uma banca que não vivessem parasitariamente do estado e assumissem o risco dos seus negócios, dar asas à investigação científica, as artes e letras, garantir a manutenção de um estado social justo e equitativo. Era sobretudo isto e era muito.
O actual regime resolveu mal algumas destas questões, menos mal outras, negligenciou várias e nem tocou numas quantas, porque perdeu a passada depois da confusão enorme dos primeiros tempos revolucionários, confusão para a qual contribuíram os Partidos e, em especial, o Partido Comunista, devidamente respaldado pela comunicação social da sua cor.
Sendo o único partido com (longa) experiência de organização, embora na clandestinidade, e contando no seu palmarés com um substancial número de vítimas da Pide, o Partido Comunista acrescentou à sua vocação totalitária, um sentimento de auto-direito ao poder, a desforra.
E agiu nesse sentido metendo-se em todos os sectores, fazendo de vários sindicatos as correias de transmissão da sua ideologia, promovendo a maior (e a mais estúpida) onda de saneamentos selvagens, baseados em denúncias criminosas, ocupando empresas e expulsando os empresários (assim abrindo o caminho ao declínio económico do país), invadindo e ocupando habitações (muitas delas de emigrantes), paralisando serviços públicos, incluindo hospitais, com comissões de trabalhadores sem qualificação que mais não faziam do que realizar plenários de dias inteiros, fazendo agressões asquerosas em público (como a que fizeram ao Arcebispo de Braga, no aeroporto de Lisboa), exigindo pôr em prática uma reforma agrária em meia dúzia de meses (quando uma reforma honesta pode levar anos a concretizar) e, com isso, implantando abusos e roubos que levaram a ruína ao sector no sul do pais, deitando a mão a jornais (e não só) que passaram a tentar intoxicar a opinião pública, sempre se ufanando do apoio privilegiado que recebia da União Soviética, o PCP deu origem a intensa actividade anticorpos do tecido social.
Em termos claros, devido à violência atrevida de que deu provas, o PCP causou um desvio à revolução que se saldou por uma enorme perda de tempo e uma massiva revolta popular contra os seus métodos antidemocráticos.
Foi nessa altura que o PS teve um papel determinante ao mobilizar grandes multidões em fúria contra a tentativa comunista de impor nova ditadura ao país.
O PSD, com Francisco Sá Carneiro gravemente doente, caiu nas mãos de dirigentes pouco sérios que viriam a ser afastados energicamente quando o líder regressou e, portanto, em todo esse tumulto andou um pouco a reboque dos acontecimentos. Ao mesmo tempo, para surpresa e desgosto do povo, os grandes responsáveis pelo regime anterior não foram julgados, apenas o tendo sido os seus mandaretes da Pide, Henrique Tenreiro que fugiu para o Brasil e Ramiro Valadão, presidente da RTP, por ter oferecido uns ramos de flores a umas senhoras com dinheiro público.
Ninguém chamou a contas os juízes dos Tribunais Plenários e os médicos da Pide, de tão negra memória. Foi assim que se foi criando um sentimento de impunidade, de ausência de justiça, de relaxamento e abuso, de descrédito. O povo não queria sangue, mas queria justiça e não a teve.
Tudo isto somado às dificuldades que surgiam no dia-a-dia, a partidocracia que se instalava folgadamente, cortou o passo às reformas estruturais que era preciso fazer, resvalando pouco a pouco para o mar de lama em que o país está mergulhado.
O Governo actual, ao espezinhar a educação, a saúde, os direitos dos trabalhadores, a independência nacional, a cultura no que ela tem de alma da Pátria, fez o resto. E o resto foi a tirania financeira com que Bruxelas, o FMI e a Alemanha, estão a empobrecer o país e a escravizar os portugueses, graças à atitude servil dos seus criados de quarto em terra lusa.
Pode este regime cair? Pode, se os que amam a liberdade e Portugal não mexerem uma palha. Mas não deve - porque ainda vamos a tempo de por tudo no são. E só necessário pensar que o 25 de Abril, em si mesmo, não foi uma coisa má. Foi, sim, um movimento desvirtuado que é preciso regenerar na sua vertente SALGUEIRO MAIA, a do despojamento e da nobreza de caracter.
Não temos de ficar parados a chorar pelo que podia ter sido e não foi: temos, sim, que tomar o destino em nossas mãos, sem medo, e dar à pátria o que ela ainda não recebeu.
É a hora.
Atenciosamente,
Altino Sousa de Oliveira
São João da Madeira,18 de Novembro de 2012
OUVIR DA TERRA - AO "JORNAL PORTUGUÊS"
SEMANÁRIO QUE SE PUBLICA SEMANALMENTE NA (AUSTRÁLIA) SYDNEY.
Por: Altino Sousa de Oliveira
Os portugueses expatriados não são melhores nem piores do que os que não precisaram de emigrar. São apenas portugueses e e o que basta para os identificar. Embora vivam longe, alguns ate muito longe, "no peito vai-lhes um país", no certeiro resumo de Pedro Barroso. Mesmo que, por razoes práticas, tenham outra nacionalidade alem da portuguesa. Porque mãe há só uma e ninguém a esquece nem lhe e indiferente. E por isso o que de Portugal se conta nas televisões e radios, nos telefonemas e E-MAILS da família e dos amigos.
Nestes dias de incerteza e angústia, que nos fazem saber que há 10.385 crianças que vão para a escola com fome, que há idosos a não poderem comprar medicamentos, porque as pensões de reforma mal dão para comer, que essas pensões sofrem cortes para cobrir as derrapagens da governamental incompetência, que os trabalhadores públicos e privados sofrem cortes brutais nos salários e subsídios, são empurrados, não para a pobreza virtuosa que algumas pessoas bacorejam, mas para a miséria que reduz a sua humana condição a indignidade, que mais de um milhão de pessoas anseiam por trabalho e não o encontram, que nos ricos e perdulários os cobardes poderes públicos não tocam, que a soberania nacional está em concreto perigo, nestes dias sofridos a atenção dos portugueses emigrados ainda é maior.
E o que veem e ouvem? Por todo o país, mesmo nos lugares mais pequenos, o povo regressa à lavoura, à floresta, à pastorícia, com especial sublinhado para os jovens.Com a maior criatividade põem a rolar projectos artísticos, comerciais, industriais, gastronómicos, turísticos. Organizam grupos de cantares e danças, de música e de História contada aos mais novos, de teatro e de poesia. E tudo isto e feito com a paixão ansiosa de quem quer salvar o país, de quem não se rende aos agiotas, de quem tem a nobre coragem de dizer NÃO aos que servem de capacho a estrangeiros que tudo encaram corno mercadoria em saldo. Todos eles são o som que vai do Portugal Real, do Portugal sério e profundo e que circulam em muitíssimos canais televisivos. São a verdadeira voz da terra portuguesa. Que la ouvem em terras distantes, que nos ouvimos, com esperança, porque com a terra não se brinca. É ela que nos sustenta e a ela voltamos na morte, é por ela que morremos e matamos se for caso disso.
Esta e a gente portuguesa que interessa e merece respeito. Governantes, partidocratas BOYS e GIRLS dos tachos, invertebrados que se vendem a tanto por cabeça, prostitutos do comentário bem pago que faz o jogo desta miséria moral em que se tornou a coisa pública, salazares de MASSAMÁ ou relvas daninhas, jornalistas que estão a trair, venerandos que sugam o pais sem servirem para nada, todos estes não valem um minuto de atenção por parte daqueles que, de facto, não deixam Portugal cair. E manda-los todos A MERKEL, ela que os ature.
E mais do que tempo de reconstruir o país, o nosso PORTUGAL. De dizer basta. Tenho dito e por hoje fico-me por aqui.
Agradeço a publicação e daqui envio os meus efusivos cumprimentos a toda a COMUNIDADE portuguesa.
Atenciosamente,
Altino de Sousa Oliveira
Engenho e arte
Por: Amílcar Bastos
Há dias fiz uma deslocação a Fátima satisfazendo os desejos de minha mulher que, todos os anos, não dispensa uma visita a este local de culto.
Por norma procuro datas fora de celebrações oficiais para maior sossego e calma na visita.......assim foi há dias.
A comodidade dos meus cabelos brancos levou-me a conduzir o automóvel para o centro e a estacioná-lo em zona de parqueamento pago.
As cerimónias religiosas prolongavam-se até às 13,30 h da tarde e como o limite do parqueamento atingia o vermelho pelas 12 h lá voltei junto do automóvel para renovar a autorização de estacionamento.
É aqui que reparo num pedinte, amputado de ambas as pernas bem acima do joelho, que tinha o seu poiso do outro lado da rua encostado a um hotel.
Resolvo interpelá-lo sobre o rigor da fiscalização: lá me respondeu que não era nem PSP nem GNR mas sim uma empresa municipal quem procedia à fiscalização e que havia uma sensibilidade larga em relação ao horário indicado no ticket.
Agradeci a informação e como o homem estava a ser uma agradável surpresa na sustentação da conversa e na franqueza da colaboração, resolvi questionar a ua vivência naquele lugar.
- Então amigo hoje o dia não está lá muito lucrativo? anda tão pouca gente!
- De facto é dia de pouco movimento mas não tem sido mau; hoje pararam muitos cruzeiros no Tejo e já por cá passaram algumas excursões de americanos que me deixaram uns dollarzitos.....
- Então o senhor é aqui de Fátima?
- Não senhor! eu sou do norte....
- Não me diga! então tem família cá para o acolher?
- Não tenho ninguém!
- Não me diga! Então quem o acolhe?
O homem estava deliciado com a minha curiosidade e com um sorriso largo a encher-lhe as faces, fixou-me un olhar brilhante de alegria e disse:
- Eu conto-lhe: sou lá do norte; fazia as feiras todas e lá me ia governando......há uns anos a esta parte comecei a não ganhar para pagar a viagem.....a crise está de tal forma que o pessoal não dá esmola a ninguém. Foi então que me consegui encaixar aqui em Fátima e agora só vou ao norte fazer a festa das cruzes a Barcelos.....é a única que ainda vai dando para ganhar algum...
A minha cara crescia de espanto: mas então a estadia em Fátima?
- Eu conto-lhe: tenho reservado um quarto com banho privativo no Colégio das Irmãs....
E logo questiono: e quanto lhe custa?
-O preço da dormida é de 20 € mas a mim a Madre só me leva 5 € e, muitas vezes, não me leva nada....
- Então e onde vai almoçar? É uma da tarde e está na hora do almoço...
- Ah vou ao restaurante aqui atrás: o prato do dia com um copo de vinho são 8 € mas a mim só me levam 4 €......se o senhor lá quiser ir almoçar verá que a comida é caseira, muito boa, e o prato do dia hoje é bacalhau com grão...
Foi uma conversa deliciosa. Lá contribui com o meu agradecimento pela meia hora tão bem passada em amena cavaqueira e lá voltei às cerimónias.
No final, ao encetar o regresso, quase quatro da tarde, reparei que o pedinte não se encontrava no seu "local de trabalho" e imaginei-o, já com o dia ganho, a dormir uma sesta ou então sentado no restaurante a ver um pouco de TV pois, com o avançar da tarde, os peregrinos escasseiam e o rendimento do trabalho deve ser quase nulo.
Ao colocar o carro em andamento imaginei que se fosse repórter este caso daria um óptimo artigo de reportagem....mas como para tudo na vida é preciso "ENGENHO E ARTE"!
Abril de 2013
Opinião
Altino de Sousa Oliveira
Com a lentidão meditativa a que obrigam as informações importantes, acabo de ler uma obra de Marc ROCHE que, nestes tempos incertos de pátria e Europa, todos devíamos ler: "O Banco - Como o Goldman sachs Dirige o Mundo". Ficamos a saber que, de forma secreta, praticamente de seita, laboriosamente, persistentemente, ao longo dos anos, o Banco Goldman Sachs adquiriu a configuração de um polvo monstruoso, cujos tentáculos, sob a forma de homens de mão, está infiltrado em toda a parte. Objectivo: empobrecer países mal governados e passar o seu património para o capital selvagem e sem patria. Tudo isto, o autor denuncia com grande pormenor e acervo de provas.
Na União Europeia, os homens principais do Goldman Sachs são Mario Draghi (presidente do BCE)e Mário Monti (primeiro ministro de Itália). O autor descreve, ao pormenor, as golpadas do banco sobre a Grécia, com a colaboração de governos da direita e da esquerda, para grande proveito e regozijo dos banqueiros alemães.
Em Portugal, segundo Marc Roche, os tentáculos do Goldman Sachs são António Borges, Carlos Moedas e, de forma sonsa, Victor Gaspar. Todos os figurantes da coisa pública, que com eles colaboram servilmente, sao a repetição gananciosa e sem escrúpulos dos que, em l580, entregaram Portugal a Espanha, a troco de fortunas e títulos. Toda uma elite negativa e traidora que, ontem como hoje, cabe no grito desesperado de Almada-Negreiros: "maquereaux da Pátria que vos pariu ingénuos/e vos amortalha infames" •
Percebem-se, agora, claramente as privatizações ao desbarato, em que o actual Governo se tem empenhado, com o precioso serviço dos nunca por demais louvados Mexias, Catrogas, Montezes e quejandos. E é agora claro o porque das declarações de António Borges, primeiro a preconizar a descida dos salários, depois a anunciar o desmantelamento da RTP e a sua entrega a capitais privados que, para alem de passarem a viver (à grande) com subvenções milionárias pagas pelos contribuintes, teriam inteira liberdade para despedir quantos funcionários quisessem. Ainda por cima, com o conforto de uma empresa que passou, com a administração actual, a dar lucro.
A ausência de Relvas, grande mainato do capital obsceno, tem uma leitura: percebeu que ninguém o quer ver, nem pintado. A atrapalhada explicação de Aguiar Branco, como se um ministro da Defesa fosse chamado para este assunto, quando o que lhe incumbe são submarinos, imersos ou submersos num mar de cobardia, tem uma leitura: toda esta gentinha tem vivido na maior impunidade, com a Justiça em cadeira de rodas, de boca fechada e venda nos olhos. Fica de pernas bambas, essa gentinha, quando percebe que o país não esta completamente adormecido. Ainda reage ao desaforo, para grande surpresa de um primeiro-ministro a quem sobra em pesporrência o que lhe falta em idoneidade. Todos os países do primeiro mundo têm a sua televisão e rádio estatal que, pelo facto de garantir o pluralismo informativo e o património cultural colectivo, tem de ser subsidiada, para não ficar sujeita a chantagem do capital via publicidade. São meios de comunicação prestigiados e respeitados. Todos os países do primeiro mundo têm por garantido que chefe de estado e obrigado a defender o país dos maus governos. E em Portugal como é? Como tem sido? Um PR que se cala quando deve estar a falar, que fala quando deve estar calado ,que ,na maior parte dos casos, diz banalidades ou defende o que nunca deveria defender.
Restamos nós, o povo. E somos muitos. E tempo de reflectir, numa afirmação recente do jornalista Joaquim Letria: "Há mais do que motivos para a insurreição popular e intelectual".
Altino Sousa de Oliveira
António Luís Costa
Quem percorre o país e contacta diretamente com as pessoas das diversas terras ou regiões facilmente se apercebe das singularidades com que a nossa língua é falada nos vários pontos do mesmo. Diferentes pronúncias ou cambiantes são-nos apresentadas por esse país fora sendo facilmente distinguíveis a pronúncia do Norte, do Alentejo ou Algarve, dos Açores ou Madeira e outras.
Para um ouvido mais treinado nestas questões, mesmo dentro duma região como a nossa, encontramos particularidades nos naturais de São João da Madeira, Oliveira de Azeméis, Santa Maria da Feira, Vale da Cambra ou Arouca, principalmente em pessoas mais idosas.
Vem tudo isto a propósito de um episódio ocorrido comigo e que passo a descrever:
No passado domingo, numa caminhada organizada pela Câmara Municipal de Arouca e pela Junta de Freguesia de Mansores e por caminhos desta freguesia, cerca de meio milhar de pessoas percorreram os caminhos propostos pela organização. Com o final já muito próximo, apanhei uma conversa dos meus ocasionais companheiros na extensa fila indiana do percurso que versava mais ou menos assim:
- …sabes, quando ouvi falar aquela enfermeira no Hospital Santos Silva, com aquele sotaque, disse logo para comigo: - esta enfermeira é de Arouca! … e não me enganei, confirmei com a própria!
Não resisti… e, pedindo desculpa por interromper aquela conversa, informei que tinha tido um episódio similar onde o sotaque, também de Arouca, tinha sido o elemento identificativo. Reparando na expressão e ouvidos expetantes dos circunstantes parceiros, passei a narrar:
Há cerca de 15 anos, quando visitava o Mosteiro de Alcobaça com a minha família, deparei com uma outra família (casal e duas crianças) numa das salas do mosteiro. O mais crescido dos miúdos, 7/8 anos, irrequieto, corria de um lado para o outro, falando para os pais e irmão. Chamou-me a atenção o sotaque do miúdo e comentei para os meus familiares:
- Estas pessoas são de Arouca!
Duvidaram da minha certeza, mas, quando o miúdo se aproximou, perguntei-lhe:
- Olá, és de Arouca?!
o miúdo hesitou e disse:
- Sou do Porto!
Fiquei intrigado, mas logo acorreu o pai que tendo ouvido a minha pergunta e a resposta do filho disse, sorrindo:
- Ele é do Porto, mas é no futebol… sim, somos do concelho de Arouca, da freguesia de Chave
Quando acabei de pronunciar a última palavra um senhor (*foto abaixo), terceira pessoa à minha frente, virou-se para trás e comentou:
- O amigo, nessa estória, só tem que alterar o número de anos da ocorrência; em vez de 15 ponha 20 anos; …é que o meu filho já fez 28 e, na época, devia ter uns 8 anitos… quanto ao resto está tudo certo… foi com a minha família que isso se passou.
Imaginem o meu espanto e de todos aqueles que ouviram aquela declaração. Numa caminhada com centenas de participantes, distante do local dos factos, o acaso voltou a juntar pessoas que, certo dia, visitaram o Mosteiro de Alcobaça.
- Vejam bem, se eu era menos rigoroso na estória tendo o próprio interveniente, ali ao lado, a ouvir…
Legenda da foto: * Passados 20 anos, o senhor Rui e esposa, de Moldes-Arouca,posando comigo no final da caminhada.
António Luís Costa
Era um sábado, ainda nos primórdios dos anos sessenta, que Gabriel fazia o seu último dia de trabalho naquela fábrica de louça de alumínio. Já há cerca de seis anos que todos os dias da semana ele fazia mais de uma légua para ir trabalhar; mais que o trabalho, aquelas viagens diárias na sua velha bicicleta começavam a pesar no seu ânimo… Por isso, quando recebeu a proposta para trabalhar na fábrica que ficava a uma centena de metros de sua casa, sentiu uma enorme alegria.
Gabriel era analfabeto mas, também, um repuxador competente com provas dadas naquela fábrica, onde era respeitado pelos patrões e pelos colegas. Não foi pelo salário, mas sim pelas deslocações que, atempadamente, falou com o encarregado e depois com o patrão Alfredo, informando-os da sua intenção de abandonar aquela casa e acertar o dia de saída; e esse dia era aquele sábado.
Lavadas as mãos, embrulhado o fato-macaco e as despedidas dos colegas, Gabriel dirigiu-se ao patrão para saber se este lhe podia passar uma carta de recomendação: foram seis anos que ali trabalhara e nunca ouvira quaisquer reparos ao seu comportamento, como homem ou como profissional. O patrão mostrou algum embaraço com este pedido, não por ser inusitado numa situação destas, mas porque, naquele momento, nem o sócio nem o empregado de escritório se encontravam na fábrica e ele - que não chegou a gastar o fundo das calças nos bancos da escola - era tão analfabeto como o Gabriel. Sabia - após muito treino - rabiscar o seu nome de uma forma mais ou menos perceptível, o que lhe permitia assinar os papéis necessários para os bancos ou outros, em vez da humilhante impressão digital. No entanto, perante a insistência do operário, o patrão lembrou-se de pedir ao Arnaldo, fiel de armazém e embalador - rapaz esperto e sempre pronto a pregar partidas aos colegas - que fosse ao escritório e fizesse o que o Gabriel lhe pedia:
Uma carta de recomendação
O Arnaldo não se fez rogado e dirigiu-se, de imediato, para o escritório. Puxou de uma cadeira e sentou-se à secretária, abriu a gaveta onde se guardava o papel de carta, tirou uma folha e pousou-a na sua frente. De seguida, pegou numa caneta e o seu rosto parece que se iluminou à luz do seu pensamento:
“…o patrão e o Gabriel não sabem ler, logo…”
Com a mão firme, faz uma dúzia de linhas com rabiscos a parecer texto, pega no carimbo da firma e, depois de o humedecer na almofada da tinta, bate-o com força no fundo da rabiscada carta.
“Está pronta!” - disse, entregando a carta ao Gabriel…
“Leve ao patrão, para ele assinar” - ordenou o Arnaldo
Quando lhe é apresentada, o patrão pega na folha, vê a localização do carimbo e, mesmo por cima deste, esmera-se na sua ‘assinatura’ e devolve-a ao seu operário. Este, despediu-se com mil agradecimentos pelos anos que passara naquela fábrica…
Feliz e ainda com a carta na mão, entrou na taberna onde, quase todos os dias, bebia o seu copito antes de regressar a casa e, sem mais, pediu ao taberneiro que lhe lesse aquela tão almejada carta. Este, olhou a folha de alto a baixo e, não apanhando uma palavra que fosse, disse:
“ó Gabriel, sinceramente, eu só percebo o nome do teu patrão aqui no fundo” - apontava, intrigado, o taberneiro…
“o melhor é passares na farmácia, que só o sr. Orlando, habituado a ler a letra esquisita dos médicos, será capaz de ler isto” - rematara o dono da venda.
Gabriel não ia desistir: queria saber o que a carta dizia, antes de a mostrar à mulher e aos filhos. E lá se dirigiu para a farmácia. O boticário, que fazia questão de dizer - com alguma vaidade - que nenhum cliente saía do seu estabelecimento sem levar o seu remédio, após passar os olhos pela carta e sem se perturbar, informa e questiona:
“o que pede aqui é tintura de iodo… traz frasco?…”
Gabriel, entre o aturdido e o embatucado, ficou sem palavras…