Prosa e Poesia
Outono
Ameno e sorrateiro chegou o outono .
Ficará por aí três meses , sem dizer ao que vem ...
mas nós suspeitamos .
As andorinhas partiram , os pardalitos deixaram-se ficar.
As árvores vão-se despindo com elegância deixando caír as folhas ,
já envelhecidas e tingidas de outras novas cores .
Dos jardins , as flores sumiram ,
cedendo lugar às belas camélias.
E os castanheiros abriram os seus ouriços
oferecendo-nos agora saborosas castanhas .
Faremos magustos divertidos e beberemos jeropiga .
Por instantes , a melancolia dos dias desvaneceu-se ,
mas foi só ilusão
O Inverno já se anuncia , e ,
não tarda !
chegará por aí .
Mª José Pinho
Outono
A chuva começa a insinuar-se
e o frio também.
Num frenesim , as folhas esvoaçam
desprendendo-se , uma a uma ,
dos ramos inseguros .
Tombam no chão ,
agora , amarelecido
O Outono aconchega-se
no coração dos homens .
E estes acolhem-no
do mesmo jeito.
Maria Sequeira
Natal
O PRESÉPIO DE LEIZA NO EMBONDEIRO
Correra da escola à frente dos colegas.
A sacola numa das mãos , na outra as chinelas
Sacudida por uma ideia , uma vontade ,
Por uma espécie de saudade .
Desta vez não buscaria só água naquele Baobá(1)
em oraria à alma dos idos sobas
Não procuraria apenas a suculenta Múcua(2)
Somente queria um presépio sob as suas folhas
Explicou qual a sua intenção
À Mama,(3)à Tata (4) que lhe disseram ser árvore sagrada.
Mas Leiza , contrariando os seus , em ebulição ,
Insistentemente afirmava querê-lo na anhara(5)
Aquele tronco gigantesco e frondoso do embondeiro
Seria desta vez o presépio de Leiza.(6)
Nele colocaria o menino Jesus de palhinhas feito.
Junto , José e Maria , os bichos e a sombra na clareira .
Maria Sequeira
(1) - Embondeiro - árvore africana
(2) - fruto do embondeiro
(3) - Mãe em quimbundo
(4) - Pai em quimbundo
(5) - Savana em quimbundo
(6) - Nome de origem africana que significa "consagrada a Deus"
PEREGRINAÇÃO POÉTICA - 2014
Na noite do passado dia 21 de março, um venturoso grupo de alunos da Universidade Sénior, comandados pela nossa diretora, lançou-se na tradicional Peregrinação Poética, que anualmente se realiza em S. João da Madeira. Como a noite estava fria, o peregrinar retirou-se para um dos enormes pavilhões da Oliva, cheios de espaço, de fornos e de calor humano. Dessa aventura, aqui ficam as fotos e o poema mais aplaudido da noite.
O meu pai
O meu pai já me levou
a voar num avião!
O meu pai já foi à lua
num enorme foguetão!
O meu pai é muito alto,
muda as lâmpadas do tecto!
O meu pai é corajoso,
nem tem medo de um insecto!
O meu pai lê o jornal
com os óculos no nariz.
E o meu faz rir toda a gente,
com as piadas que diz!
Quando vamos ao café,
o meu pai explica-me tudo:
porque é que o sol nos aquece,
porque é que eu sou cabeludo!...
O meu pai conta-me histórias
quando é hora de ir para a cama.
manda-me lavar os dentes
e vestir o meu pijama.
O meu pai não está cá hoje
e eu já sei que é mesmo assim:
mesmo quando ele está longe
nunca se esquece de mim!
O meu pai já foi à China,
e ficou de olhos em bico.
e o meu pai foi aos Açores
e subiu lá mesmo ao Pico!
O meu pai é cientista,
ele é muito inteligente.
O meu pai quis ser bombeiro
e assim salva muita gente!
O meu pai é astronauta!
O meu pai é ciclista!
E o meu é engenheiro
e às vezes electricista!
Pais há muitos, e ainda bem
pois cada um tem o seu.
A verdade é sempre a mesma:
O MELHOR PAI É O MEU!
Inês Pupo e Gonçalo Pratas
Manifesto
Como é possível a celebração da hipocrisia com tamanha dimensão?
Celebrar o quê?
Abaixo as festas de passagem de ano! !
Celebrar o quê?
O que inspira a meia noite?
Exibições de vaidade?
Grandes libações?
Luxúria imbecilidade rídiculo das luzes intermitentes?
Abaixo os festejos permissivos e alarves!
Abaixo os gritinhos, guizos, apitos, gargalhadas avinhadas e aplausos!
Abaixo os foguetes sirenes pandeiretas e o barulho cheio de mosto !
Abaixo a mesa do banquete onde até mesmo os frutos são travestidos !
Aaaah , mas as passas são imprescindíveis ! São Imprescindíveis, Imprescindíveis !!!
E a estupidez também.
Então abaixo as passas que não passam coisa nenhuma!
E continua a festa ... E a vida de cada um é o prazer do outro .
Sentimentos? Nem lembram !
Abaixo as músicas que só abanam corpos de sentidos embotados!
Morra o perturbador histerismo!
Acabe-se com a solene celebração do dito dia da paz no 10 de janeiro.
Dia de ressaca é o que é ",
Fora com os eventos estéreis!
Abaixo o fogo de artificio neste mundo de loucos!
Irradique-se o desvario do consumo desbragado!
Abaixo as festas de ano novo sem mensagem, sem sentido
Abaixo! Proíba-se!!
Maria Armanda Bastos
Natal
Noite gelada
neve a cair,
ceia sagrada,
Natal a sorrir...
Casa aquecida,
mesa recheada
família reunida,
ceia sagrada.
Árvore engalanada,
ramos de amizade,
numa só rabanada,
o amor e a sinceridade....
Pequenas lembranças,
montanhas de sorrisos,
revoadas de esperanças,
pequenos paraísos...
E o Menino abandonado
por lá, numas palhinhas,
tem um sorriso deliciado
pois lê nas entrelinhas.....
Na noite gelada
a neve a cair,
a ceia acabada,
o Natal a fugir!
Amílcar Bastos NOV 2013
DE SE TIRAR O CHAPÉU!...
Em tempos que já lá vão
À rua não ia ninguém
Sem um chapéu na cabeça.
E em S. João da Madeira,
Digníssima capital,
(isto é bom que se não esqueça!)
Mora o Museu do Chapéu,
Que é único em Portugal.
De cabeça quase ao léu,
(são modas que o tempo dita!)
Esta cidade altaneira
Laboriosa e bonita
Ergue seus olhos ao Céu
Em jeito de gratidão.
Se um chapeuzinho bem posto
A qualquer um fica bem,
Para emoldurar o rosto
De Museu tão importante…,
Só mesmo um chapéu gigante.
Dia mundial dos Museus16/05/2013
Carminda Tavares de Oliveira
Poesia à mesa
POESIA À MESA – PEREGRINAÇÃO POÉTICA
22 de março de 2013
Porque a chuva que caía
não deixava andar na rua,
era noite e no mercado
chovia a poesia.
Alguns pregões ecoaram
para lembrar o passado
e ali estavam,
no mercado,
povo, poetas, atores.
Cheirava a fruta e a flores
mas era o cheiro das rimas,
o odor dos sentimentos,
e o aroma das vozes
que inebriavam o ar.
Houve tão belos momentos!...
Brotava a poesia
das bocas de quem a dizia
e os corações aqueciam
naquela noite tão fria.
Bela peregrinação!...
E se a chama estava acesa,
está agora a crepitar,
a brilhar doutra maneira,
e com fulgor a gritar:
-Viva a “Poesia à mesa”
Em S. João da Madeira.
Carminda Tavares de Oliveira
Ensaio
Ora cómico,
ora dramático,
teatro é emoção,
teatro é amor e paixão,
teatro é puro sentimento
do que vives no momento.
Ora arrancas gargalhadas,
ora risos de crianças,
ora lágrimas que caem,
ora críticas que são lanças…
No teatro tudo cabe,
Tudo fica à vista
logo que o pano se abre.
No palco da vida,
tu sabes, mas tremes.
Encontras espinhos
nesses teus caminhos;
Porém colhes flores,
recebes louvores;
Tens medo…e não temes.
Todos nós somos atores
neste palco que é a vida.
O pano vai-se abrindo
e tu lá vais assumindo
o papel que te aparece
nas cenas que a vida tece.
Fazes bem o teu papel
mas a vida é cruel
e por vezes não te poupa.
Vais então ao guarda roupa,
és personagem “mistério”
e o caso torna-se sério.
Improvisas,
Representas,
não te queixas,
pedes deixas,
lá vais mudando o cenário
e levando à cena
todo o teu fadário.
De obstáculo em obstáculo
lá vais construindo
todo o teu espetáculo.
A peça é longa, tem atos sem fim, a vida prossegue e o ensaio segue… também para mim. Carminda Tavares de Oliveira | 27 de março de 2011 | Dia mundial do teatro
Colaborações... de férias
Enquanto passeava no Parque do Rio Ul, o amigo Jorge Oliveira teve um "encontro imediato de primeiro grau" com o Grupo de Teatro, de seu nome "Animar-te". Desse encontro aqui fica um breve registo em verso. Falta o registo fotográfico que publicaremos logo que chegue à nossa redação.
Procurava eu o Amigo Raul
Oiço ao longe uma voz que me chama
No frondoso parque do rio Úl
Olho e vejo a Drª Susana
Estão em redor duma mesa de pedra
E as suas caras com boas cores
Que significado isto encerra?
É o teatro, com os seus atores
Convidam-me para me sentar
Agradeci muito a camaradagem
Lamentei não os acompanhar
Mas Raúl m`espera ali na margem
Entretanto na minha mente
Elogiava esta fraternidade
Que continuará eternamente
É o ADN da Universidade
Jorge Oliveira
2
Respondendo ao nosso apelo, o amigo Jorge Oliveira enviou-nos o soneto que abaixo publicamos. Segundo ele, o poema pode ter "problemas de métrica" mas como, neste lugar, se valoriza sobretudo a boa vontade e a criatividade, limitamo-nos a publicá-lo com um agradecimento ao seu autor.
CONVITE
São férias! O ano terminou
Muitas coisas cá aprendi
Para quem não frequentou
Espero que venham para aqui
Pessoal da nossa idade
Não fiques para aí num canto
Anda, vem para a Universidade
Os dias terão outro encanto
Desenvolvi o meu Português
A Informática e a História
Outros, a pintura e o Inglês
Enriqueci a minha memória
E estou cá com uma avidez
Que já não paro a trajetória
Jorge Oliveira
PEREGRINAÇÃO POÉTICA - 23 de março de 20012
A poesia saiu à rua numa noite assim…
e de Camões aos nossos dias
houve poemas sem fim!...
S. João ficou alerta
e tudo começou
em frente à biblioteca,
com Matilde Rosa Araújo
e a Universidade Aberta.
Dissecando esta rosa
suas pétalas desfolhou
na Natureza presente
e a poesia encantou,
não só crianças,
mas toda a gente.
Um pouco mais adiante,
frente aos Paços da Cultura,
um grupo de gente madura,
não velhos
nem do Restelo
disseram Luís Vaz de Camões,
e como foi bom dizê-lo!...
Tal qual como gente nova
a Universidade Sénior
ali esteve p’ra lembrar
a sempre grande riqueza:
Camões e a sua obra
símbolos da Nação Portuguesa.
E a multidão que lá estava
queria ouvir mais poesia,
dali ninguém arredava
e feliz aplaudia.
E lá fomos caminhando
pela zona pedonal
p’ra mais abaixo parar
na terceira estação
e Yvette Centeno escutar.
Escola Serafim Leite
fez a sua atuação
e provocou tal deleite
que nem o frio se sentia
em tão bela romaria!...
Ecos Urbanos e Toj,
uma estação mais à frente,
de uma forma trabalhada,
de uma forma inteligente
Valter Hugo Mãe disseram.
Tão bom espetáculo deram
que o vento que fazia
mais parecia ignição
p’ra sentir mais poesia.
A Teia dos Sentidos
disse-nos Malangatana.
Nossos olhos e ouvidos
ficaram deliciados
com o rufar dos tambores
e a arte moçambicana.
Era a quinta estação
e o fim já espreitava.
O povo não se cansava,
seguia a peregrinação.
Sexta e última estação.
A poesia consola,
mas se alguém rompeu o sapato
na poética peregrinação,
o sapateiro lá estava,
martelo e cola na mão
pronto a pôr meia sola
e a Aproj com emoção
Pedro Tamen recitava.
Ninguém queria arredar,
ninguém estava cansado
daquela bela maneira
de celebrar poesia,
e aquele fim bem parecia
feito pr’ homenagear
a capital do calçado
que é S. João da Madeira.
Durante a peregrinação
jovens vozes se ouviam.
O Coro Musical Stars,
vocalizos afinados,
cuspidores de fogo,
percussão,
poetas homenageados
e em passos cadenciados
lá seguia a procissão.
Seis estações,
seis autores,
e as associações culturais
contaram com dois Senhores,
José Fanha
e Carriço
brilhantes declamadores.
Ajudaram a arrancar
d’alguns livros, para a rua,
palavras que divulgaram
grandes obras e poetas
e eu nem sei se havia lua
naquela noite a espreitar,
porque só a poesia
estava ali a brilhar.
Fechou da melhor maneira
a bela peregrinação
em S. João da Madeira.
Tinha chegado à meta
(se assim se pode chamar)
e com alma e coração
ouve-se o coro cantar
o poema “Ser poeta”.
Nasceu mais sede e fome de infinito
e todas as vozes se uniram num só grito.
Carminda Tavares de Oliveira
25/03/2012
Rotary
Rotary é roda que roda,
é roda que gira e entrelaça,
Rotary é mão que aperta
é braço que abraça!
Roda que gira
com dentes que rodam
encastoados noutros
que nunca se acomodam.....
- x -
Em cadeia entrelaçada,
minha mão na tua mão
é a voz anunciada
duma linda alvorada
que aquece o coração....
Ah roda benfazeja
que rodas na solidariedade,
movimento que não fraqueja
nunca, até para que não seja
parco no amor e na amizade.
- x -
No entrelaçar dos braços
nidifica o bem querer,
com desinteressados passos
fazem-se pontes, criam-se laços
na busca única do bem fazer!....
- x -
Roda que roda,
gira e entrelaça,
mão que aperta,
braço que abraça!!!...
Autor: Amílcar Bastos, Setembro de 2009
Sarau de Natal
Poema de Amílcar Bastos, dito por Carminda Oliveira, Serafim Almeida e Fernanda Fidalgo, que seguidamente transcrevemos:
ÁRVORE DE NATAL
Bolas douradas,
luzes psicadélicas,
estrelas prateadas,
figuras angélicas;
flocos de neve,
farrapos de algodão,
muito branca, muito leve,
todo um céu de ilusão!
Tronco castanho,
rancas esverdeadas,
sonho do tamanho
de todas as madrugadas...
Bilhetes pequeninos
com pedidos especiais,
sonhos de meninos
repletos de ideais...
Meia noite e tanto,
não prego o olho,
noite de espanto,
ah ouço um restolho!
Vem dos lados da chaminé,
ai que me sinto mal,
acorda lá ó Zé
vamos ver a árvore de Natal.
Embrulhos pequenos,
embrulhos grandes,
papeis coloridos,
lindos, brilhantes!
Em gestos frenéticos
rasgamos os papeis,
parecemos patéticos
desatando os cordeis.
Alegria a rodos
vai e vem nun frenesim
há prendas p'ra todos
não vejo nada p'ra mim!!!.....
Meu coração estremece
num frio de desilusão,
é Natal e só me apetece
passá-lo em solidão!!!
E eu queria tão só
o mais belo que a vida tem,
num halo sem fita nem nó
um beijo teu minha MÂE!!!!!......
AMÍLCAR BASTOS
Três momentos de poesia no Sarau de Natal_ Dº Conceição Duarte, Dª Albertina de Jesus e Dª Emília Correia