Projeto "Ler maior"

Ler Maior é um projeto lançado pelo Plano Nacional de Leitura 2017-2027 dirigido à população adulta que frequenta as Universidades Seniores, com o objetivo de fomentar a leitura e a escrita e estimular a troca de experiências e saberes entre a população Maior e entre esta e a população em geral, num diálogo intergeracional.

Os dois temas principais são 

“Histórias de Vida”.

“O que ainda gostaria de fazer”.

Além desses dois temas, publicaremos, nesta página, textos de outras tipologias, resultantes de experiências de leitura nas aulas ou fora delas.

Português e Jornalismo 2023/24

                     

Uma aula a falar de Padre António Vieira

Por: Jorge Rui Oliveira

Dando continuidade ao guião estabelecido no ano transato para as aulas de Português e Jornalismo, iniciamos o ano letivo de 2023/2024 com a abordagem ao escritor Padre António Vieira, conhecido por ser um grande orador, filósofo e missionário da Companhia de Jesus, que dividiu a sua vida entre Portugal e o Brasil e que se tornou uma das personagens mais influentes do século XVII, quer em termos políticos, quer em oratória religiosa.    (Para ler todo o texto, clique na seta à direita)

O Prof. Celestino Pinheiro dividiu a aula do dia 12 deste mês, dedicada ao Padre António Vieira, em duas partes. Na primeira parte foi exibido um vídeo sobre o percurso do escritor, desde o seu nascimento na Freguesia da Sé, em Lisboa, no ano de 1608, o embarque para o Brasil em 1614, na companhia da Família, onde o seu Pai foi trabalhar como escrivão na Baía e a maior da sua vida passada naquela colónia, onde morreu.

Durante a exibição do vídeo, tivemos a oportunidade de perceber melhor o que foi a longa vida do Padre António Vieira que se tornou famoso pelos brilhantes sermões, de que se destacam o Sermão de Santo António aos Peixes, o Sermão da Sexagésima ou o Sermão do Bom Ladrão. Podemos também constatar que a sua vida no Brasil  não foi pacífica, pois  a posição assumida  como defensor dos direitos dos povos indígenas não agradava aos colonos, o que levou à sua expulsão do Maranhão. Foi também um crítico em relação aos métodos usados pela Inquisição, pagando esta sua ousadia com a prisão e privado de pregar por algum tempo.

Fez várias deslocações a Portugal, pois manteve sempre uma relação muito próxima com os reis D. João IV e D. Afonsa VI.  Numa dessas viagens, em 1642, quando viajou para Portugal para prestar fidelidade ao novo Rei D. João IV, após a revolução de 1640 que restaurou a nossa   independência e tendo desembarcado em Peniche, foi preso pela população acusado de defender a causa castelhana, mas foi libertado logo que desfeito o engano.

A segunda parte da aula,  foi preenchida com a leitura por parte dos alunos de um resumo dos factos mais significativas e respetivas datas que marcaram a vida do Padre António Vieira, desde o seu nascimento em 1608 até à sua morte em 1697, com a idade de 89 anos. Terminada a aula concluímos   que estivemos a falar duma personagem ímpar no século XVII, o qual deixou uma vasta obra que inclui cartas, sermões, obras proféticas, poesia, teatro e até escritos políticos sobre os judeus e índios.

A obra completa do Padre António está reunida em 30 volumes editada e publicada em 2013, quatro séculos após o seu nascimento.

 Jorge R. Oliveira

14 de Outubro de 2023


TRABALHOS REALIZADOS NO ANO LETIVO DE 2022/2023

 

Histórias de vida

Fim de dia

Fim de tarde, com o céu límpido azul, sol no ocaso…

Por: MG

Mais uma vez vou regar o meu quintal: as plantas aromáticas já se fazem sentir. Há quanto tempo ando eu para te “cantar”, jardim? Medo, talvez da incapacidade de o conseguir ao que por ti sinto…. Mas aí vai.

Começo pela saída da cozinha. Rente ao pátio há a rampa das ervas aromáticas para temperar cozinhados.: tomilho, hortelã, alecrim, manjericão, sálvia…

(Para ler todo o texto, clique na seta à direita.)

Subo e tenho aroma das rosas, glicínias, as gardénias, coroas-de-rei, cravos… continuando a regar, embora sem aroma, lá estão as costelas-de-adão, fetos aos montes, páscoas amarelas, jarros, macieira em flor, as belas hortências, abacateiro gigante, as queridas azáleas, as perfumadíssimos orégãos, o loureiro, , o pé-de-araçá, carregadinho de flores, a laranjeira idem, o monstruoso abrunheiro, as framboesas, o mirtilo, a perfumada dourada, enfim… o “meu pequeno reino privado e adorado

O centro, relvado e com o respetivo passeio em S, de retângulos, a conduzir-me do pátio ao final do quintal.

Isto é o meu mundo…

Querido reino…

PS Esqueci-me do meu grandalhão azevinho que agora está em flor e da acácia, para as alergias…

2/5/2023



Histórias de vida

O VENTO MUDOU 

Por: 1º Cabo Pinho Costa


 Foi no mês de abril de 1967, estava eu a cumprir o serviço militar no Regimento de Transmissões do Porto que se registaram os factos que a seguir descrevo. Como em tantos outros fins de semana, e porque eu tinha dispensa de recolher, quando acontecia estar de serviço era o meu camarada e amigo Félix Lourenço, alentejano de Lavre, Montemor-o-Novo que - por ser de longe e raramente ir à terra - tratava de me substituir nessa função, mediante uma pequena recompensa. 

(Para ler todo o texto, clique na seta à direita.)

Chamávamos “matar” o serviço e do qual também outro camarada de Amarante se aproveitava. Muitos fins de semana se passaram sem o mínimo problema, mas aquele dia 8 de abril de 1967 ia ficar na memória. Era a noite do Festival Eurovisão da Canção, em Viena, e Portugal foi representado pelo cantor de origem angolana Eduardo Nascimento, com a canção O VENTO MUDOU.

Era sábado, estava eu descansado na minha terrinha chamada Bustelo, quando uma prima minha - cujo telefone eu indicara em caso de necessidade – irrompe lá em casa anunciando que o Félix Lourenço telefonou dizendo que eu tinha de estar no quartel na formatura das 21 horas. As explicações seriam dadas quando eu lá chegasse. Bronca pela certa, pensei. Foi o tempo de me fardar e procurar o meu amigo João para com o seu Morris Minor me levar ao Regimento de Transmissões. Aqui chegados disse ao meu “taxista” para esperar e, mal passei a Porta d’Armas, lá estava o Félix à minha espera para me explicar o que de anormal ocorreu: ele esteve de serviço no dia anterior e não podia fazer a minha substituição na Ordem de Serviço do dia seguinte. Como tal, na formatura das 19 horas quando chamaram pelo 1º. cabo Pinho Costa respondeu o 1º. cabo Félix Lourenço em meu nome. O Oficial Dia era o alferes Marques Camelo, natural de Seia, que nos conhecia a ambos e, alto lá, vamos la ver como é!... levou o rigor aos restantes membros de serviço e encontrou mais dois na mesma situação. Para não participar da nossa irregularidade a solução encontrada pelo alferes Marques Camelo foi a de todos os militares que constam na Ordem do Dia estarem presentes na formatura das 21 horas. E eles lá estavam! Sermão da praxe do alferes, irritadíssimo, seguiu-se o escalonamento do horário de cada equipa nas rondas ao interior do quartel. À minha equipa coube a ronda das 2 às 3 horas da madrugada. Fui falar com o Félix para saber se ele se dispunha a fazê-la em meu nome. Compreensivelmente aceitei a sua recusa porque corria riscos. Ora, eu tinha o “motorista” à minha espera no exterior da Porta d’Armas. Como vou fazer? Como também estava de serviço o 1º. cabo Norberto Linda, meu camarada na secretaria onde ambos exercíamos funções, e a sua ronda era da 1 às 2 horas, lembrei-me de o abordar para a missão de fazer as duas rondas seguidas o que ele aceitou. Assim, garanti o meu ‘desenfianço’ com alguma garantia de sucesso.

Noite fria, o Morris Minor lá fora à minha espera, fui-me aproximando do muro que delimita o quartel e, num local já de muitos conhecido, saltei o mesmo, correndo para o automóvel que me esperava alguns metros à frente. Ainda hoje, quando me lembro do episódio, me espanto com a ousadia do meu ato.

Já dentro do carro e respirando de alívio foi normalizando as pulsações cardíacas. O resto do sábado e o domingo foi vivido com muita preocupação e dúvidas: que surpresa me aguardará na segunda-feira quando me apresentar ao serviço?

Segunda-feira, antes das 9 horas, entro na Porta d’Armas e dirijo-me à secretaria onde prestava serviço. Mal avistei o 1º. cabo Norberto Linda fui no seu encalço para saber se houve algum problema. Que não, disse-me ele: - para além da minha e da tua ronda ainda fiz a ronda do Furriel Pereira que ficou na caserna a jogar à lerpa.

Os 37 meses de vida militar que vivi, quase todos na cidade do Porto, deixaram marcas para sempre, a maioria delas agradáveis. Ficou para sempre a amizade com três camaradas que aquela vivência nos juntou. O alentejano Félix Lourenço, na altura professor primário, foi um deles. Já nos encontrámos algumas vezes com as famílias para um almocinho e, de vez em quando, um telefonema para saber das “tropas”.



António Luís Pinho Costa

Nota: Naquela noite não deu para ver o Festival da Canção, mas, para que fique registado, ganhou a Sandie Shaw, do Reino Unido, que se apresentou descalça. Eduardo Nascimento teve uma pontuação modesta, obtendo 3 pontos.


Histórias de vida

Uma bomba relógio que não chegou a explodir

Por: Jorge Rui Oliveira


 Decorria o ano de 1975 e a tentativa de golpe do 11 de Março tinha acontecido há poucas semanas. Portugal vivia um clima de grande tensão e instabilidade  devido à situação política e Lisboa era um barril de pólvora com constantes  manifestações de rua, greves, sequestros  e   ameaças de bombas. Num desses dias,  como habitualmente,  encontrava-me no meu posto de trabalho na Oliva,  na área de vendas,  quando recebo um telefonema do nosso Agente em Lisboa, Sr. Américo Peyroteo. 

(Para ler todo o texto, clique na seta à direita.)

Pela voz do Sr. Peyroteo, com quem falava quase diariamente, apercebi-me logo que algo de anormal estava a acontecer. Imediatamente e num tom de voz que não era o habitual o nosso Agente transmitiu-me a situação muito desconfortável em que se encontrava naquele momento.  E continuando a conversa, informou-me  que se dirigiu ao Centro de Camionagem em Lisboa para levantar a encomenda que havíamos despachado na véspera para entregar a um cliente,  mas que  não foi autorizado a fazê-lo. Nesse momento  encontrava-se no gabinete do chefe da Central o qual entretanto já havia solicitado a presença   de uma brigada de minas e armadilhas para apurar o conteúdo da encomenda que pretendia levantar. Mas o que passava afinal? Na véspera,  a Oliva tinha despachado uma encomenda para o Sr. Américo Peyroteo entregar no cliente Francisco José Simões. Essa encomenda constava de duas bombas Relógio Nº2. Ora o pacote levava uma etiqueta no exterior, que para além do endereço do nosso Agente mencionava o conteúdo do volume: “contém duas bombas Relógio”. O empregado que manuseava as encomendas e que trabalhava na Empresa há poucos dias,  muito zeloso e desconfiado,   deu  conhecimento   do conteúdo do pacote ao seu chefe,  também novo na Central,  que de imediato  mandou isolar o volume que continha a encomenda.

Informei imediatamente a minha Direção do que se estava a passar,  a qual,  por sua vez deu instruções ao advogado da Oliva em Lisboa que se dirigiu à central de camionagem e aí pessoalmente esclareceu de que o volume despachado para o Sr. Américo Peyroteo continha de facto duas bombas relógio mas que se destinavam apenas a trasfegas de líquidos e não produziam  os estragos como  outras com o mesmo nome.

Esclarecida a situação, o Sr. Peyroteo  que tinha passado por uma situação muito desagradável, foi autorizado a  levantar a encomenda. E para que não restassem dúvidas,  na presença do pessoal de camionagem e dos soldados que já estavam presentes,  abriu o pacote para mostrar as “perigosas” bombas relógio que constavam da encomenda.

A partir dessa altura,  os nossos serviços de expedição  sempre que despachavam encomendas de  bombas relógio,  passaram a escrever na etiqueta apenas “contém bombas manuais”

Como esclarecimento,  para além das bombas relógio, a Oliva também fabricava bombas manuais para trafegas  com os nomes de “picote “  e “jarro”

 

PS. –  Uma curiosidade: O nosso Agente  Américo Peyroteo era irmão da antiga glória do Sporting, Fernando Peyroteo e avô do jogador e atual  treinador José Couceiro.


Jorge Rui Oliveira

Histórias de vida

Má recordação

Por: M G


 Tinha eu quatro ou cinco anos quando o meu pai, que era columbófilo, me perguntou se seu queria ir com ele ver a chegada dos pombos, num concurso em que tinha participado.

(Para ler todo o texto, clique na seta à direita.)

Então eu fui. Eu vivia no lugar do Barroco, onde hoje fica a Rua Dr. Serafim Leite, para o Calvário, nas traseiras do atual quartel da PSP. Dali avistava-se, ao longe, o Monte Peão, onde hoje se situa o Parque da Senhora dos Milagres. Era essa a rota seguida pelos pombos e, segundo o meu pai, era dali que eles surgiriam. Quando eu visse uns pontinhos escuros, era sinal de que os pombos estavam a chegar.

Logo que eu os visualizei, fiquei toda contente. “Paizinho! Eles vêm aí!”. O meu pai, muito sério, disse-me: “Aquilo, filha, não são pombos, são aviões que vão para a guerra!” Estávamos no período da II Guerra Mundial e, apesar de Portugal não participar diretamente, por vezes passavam por aqui aviões. Não compreendi lá muito bem, mas escondi-me debaixo da gabardine dele, enquanto aumentava o barulho dos aviões. E assustei-me.

Quando o barulho amainou, levantei a ponta da gabardine e ainda os avistei a desaparecer na direção da igreja de Arrifana. Eu tremia toda com aquele inesperado encontro. Tenho hoje 86 anos e ainda sinto um “quê” que não me deixa esquecer esse momento. E fico a pensar “pobres crianças dos países onde existe guerra.

Guerra, maldita sejas! Em qualquer Era…”

MG


Experiências de leitura

Português e Jornalismo

Luís Vaz de Camões

Por Jorge Rui Oliveira


 Dando continuidade ao programa definido para as aulas de Português e Jornalismo no corrente ano letivo de 2022/2023, eis que chegamos finalmente ao grande poeta lusitano, Luís Vaz de Camões, a maior figura de sempre da literatura de língua Portuguesa e um dos grandes poetas clássicos da civilização ocidental, considerado o príncipe dos poetas Portugueses.

(Para ler todo o texto, clique na seta à direita.)


Luís de Camões com origem de uma família da pequena nobreza, terá nascido em Lisboa em 1524 e morrido na mesma cidade em 1580, estudou em Coimbra e frequentou a corte do Rei D. João III. Levou uma vida muito turbulenta e boémia, embarcou para África e para o Oriente onde lutou ao lado das tropas portuguesas e onde escreveu a maior parte do Livro Os Lusíadas.

Tem uma obra vastíssima com centenas de poemas, entre sonetos, éclogas, redondilhas, sextinas, epístolas, oitavas, odes e várias peças de teatro.

 Mas foi ao escrever Os Lusíadas, que Luís de Camões se tornou imortal. Uma obra de poesia épica em que o escritor pela boca de Vasco da Gama conta ao Rei de Melinde a história do povo lusitano, não esquecendo episódios como a morte de Inês de Castro, O velho do Restelo ou o episódio do Gigante Adamastor e onde destaca toda a bravura do povo português na época dos descobrimentos à procura de novos mundos.

Considerando a importância deste escritor e da sua obra-prima Os Lusíadas, o Prof. Celestino já há quatro semanas que tem dedicado a aula de Português e Jornalismo a Luís de Camões. Começamos por assistir à exibição de um vídeo com o resumo sobre a vida literária do escritor.

E para percebermos e interpretarmos melhor Os Lusíadas, o Prof. Celestino tem vindo a explicar a estrutura da obra, que está dividida em quatro partes: Proposição, Invocação, Dedicatória e Narração. Já quanto aos planos, a obra divide-se em : Poeta, Viagem, História de Portugal e Mitologia.

Está a ser muito interessante esta abordagem aos Lusíadas, considerando que a maior parte das pessoas que frequenta esta disciplina já tinha lido a obra ou parte da obra num contexto escolar, mas sem tempo para aprofundarmos alguns temas como estamos agora a fazê-lo. Agora  o Prof. Celestino proporciona-nos a oportunidade de ir mais além do que uma simples leitura, resultando daí que as aulas se tornam muito atrativas e a sensação de que uma simples hora afinal tem menos de 60 minutos, tal é a velocidade com que chegamos ao fim da aula, cumprindo-se  assim o desígnio do que deve ser uma Universidade Sénior, isto é, juntar a ocupação dos tempos livres a  um enriquecimento intelectual contínuo.

 

13 de Março de 2023

Jorge Rui Oliveira