Fuligem Poética
Estes (1997)
Máscara
Isaias Carvalho; Estes, 1997
Meu sono digere
a dor camuflada do dia.
Meu sonho fantasia em sim
o não das coisas.
(in)versos (1999)
Fuligem Poética
Página que contém os versos do ex-poeta Isaias Carvalho, bem como outras produções suas. Pelos títulos de alguns dos poemas - "Adictos", "Para uma estética da defecação", "Negativos", "Desnecessidade", "Fogo", "Anjo novo", "Suicídio" e "Epitáfio a um músico" -, logo se entende a mensagem de abertura da página: "Fuligem poética é uma colheita a partir da fuligem da linguagem cotidiana".
Ou como diz outro de seus poemas: "Entre Deus e o Diabo, eu sou o D". Ou ainda: "Poetas são como putas e filhos da puta: todos podem ser". É também metapoesia e estranhamento do eu no mundo.
Seus dois livros de poemas publicados - Estes (1997) e (in)versos (1999) - estão disponíveis na íntegra nesta página (ver coluna à esquerda). Sua esparsa produção atual também é oferecida.
O próprio Isaías Carvalho é o editor do site, além de professor universitário (literaturas anglófonas e língua inglesa / Universidade Estadual de Santa Cruz; Ilhéus, Bahia, Brasil). Clique aqui para (des)conhecê-lo melhor.
Entre Deus e o Diabo, eu sou o D
Isaías Carvalho (2007)
Este poema é dedicado a não se dedicar.
É do vento.
Certa feita, vislumbrei o nada,
minha obra.
A poesia nunca está pronta,
mas sempre em prontidão:
morrer já não basta.
Tudo morre,
tudo bosta.
Livre-arbítrio
Isaías Carvalho (1999)
Quero fazê-lo. O farei.
Posso fazê-lo. O farei, se quiser.
Devo fazê-lo. O quero. Posso não fazê-lo, entretanto.
Sou livre.
Patavina!
Quero matar o rei. Posso? Devo?
Posso matar a mim mesmo. Quero? Devo?
Devo pagar os impostos, o dízimo. Quero? Posso?
Livre é a pedra que o pariu!
Gênese Arrependida
Isaías Carvalho (1997)
É o oitavo dia.
Por que sujar hoje a criação?
Meu trabalho resultou inútil e é tarde demais.
Cerrarei os olhos.
Doarei meu sonho e meu sangue ao acaso.
Apenas não esqueçam:
façam o que eu digo,
não façam o que eu falso.
Para uma estética da defecação
Isaias Carvalho (1999)
Abaixo os cânones!
Elejo os cães e seus dejetos
o modelo do projeto moderno.
Abaixo os cânones!
Elejo o ânus e a merda
as formas belas maiores, as musas.
No horizonte,
o buraco negro da criação.
Honrado pelos versos a mim dedicado pelo poeta, professor e romancista Gabriel Nascimento:
A Isaias Carvalho
Defina-me
E eu te direi quem tu és.
És a santa mania de representar o mundo
imagem acústica e conceito
deste fenômeno tão confuso que é a linguagem
Defina-me,caso o signo consiga alcançar
a coisa representada
e caso não consiga
te mostrarei que a arbitrariedade
só me consegue inventar enquanto sou
anjo mau
anjo teu
teu chacal.
Defina-me
e direi que és
a velha mania de inventar o mundo
através da linguagem.
Estes (1997)
(in)versos (1999)
O verde dos teus olhos
Otávio Filho (2016)