um quase livro
são traços e pedaços
de um romance experimental em construção
qual o trabalho humano mais desnecessário?
: a poesia.
Se o nome Quaseu - com suas significações inconfessáveis - pode soar como algum nome grandioso da mitologia-história grega, sua saga não será em (quase) nada uma epopéia da raça, nem o anúncio de uma nova era, nem a representação de um passado heróico.
Por certo, há os que defendem a existência de duas categorias básicas de literatura: aquela menor, escrita em primeira pessoa, pesadamente confessional, em geral feita por iniciantes, e a outra madura, escrita em terceira pessoa, a pura ficção. Gostaria de pensar que não pertenço a nenhum dos dois extremos, mas que estou naquele lugar incerto, mas aberto à pluralidade, cujo nome está em voga na academia: o entre-lugar.
Acordei, e era outro.
[...] Adormeci, e era eu.
O receio (ou a certeza?) de não ter algo a dizer, de estar apenas exercitando o exercício de outros...
Doer é doar um trocadilho infame à realidade.
(ou não li Nietzsche corretamente?)
E o que se sucedeu com os poetas e artesãos - "eles-mesmos"? Transformaram-se no pó da história? Não. Transformaram-se em pó do chão, e todos os seus anseios ou ideais se diluíram no caos organizado dos registros antropológicos.
Amanhã, com a luz do sol e um pouco de ressaca, restabelecerei relações com as grandes idéias...
Enquanto isso, multidões de bois são conduzidas aos matadouros - a garantia do almoço da velha instituição! Enquanto isso, o esgoto de todas as cidades vai dormir nos rios e mares - a certeza da assepsia da velha instituição!
(mas quem explica a existência de escritores e artistas em geral?)
Fica, então, o parco legado, não um objeto de consumo, como a morte, mas o cumprimento vago de uma missão vaga: passear nos caminhos, nas impressões e nas imprecisões de um poeta, pelas veredas de uma existência que ainda não expirou enquanto matéria, pois há muitas cenas em ensaio, sem qualquer meta pré ou pós.
O grand finale apenas virá com a morte, enquanto o grande feito de Quaseu ainda está em gestação, e nem os velhos deuses nem os que ainda estão por vir sabem o que será. Não há profetas disponíveis. Não há profecias que os mereçam.
A qualquer um apetece ser Deus ou o Diabo. Eu sou o D.
Até gostaria de acordar amanhã e amar o mundo, mas há essa incompatibilidade.
(e ainda guardo tantas flores que nunca te darei, outro!)
Apenas aquele ponto e a marginália pouca, mas aterrorizante, do grande livro do mundo.
[...] algum dia, tudo pode acontecer, exceto hoje. O hoje já está colonizado.
No horizonte do homem, um infinito nublado. Nações de palavras em formação, enquanto vocábulos tontos caem no esquecimento de si mesmos, ou se modificam perdidamente.
Fuligem Poética
Colheita a partir da fuligem da linguagem cotidiana
A página de divulgação dos versos do poeta Isaías Carvalho