02/10/2011
C-03
Seu carretel de costura
Eu amarrei com ele os meus sonhos
e o joguei ao mar.
As ondas o levaram,
o transportaram,
o movimentaram para todos os lados,
envolvendo-o com areia,
algas,
ovas marinhas...
Nessa atividade toda,
meus olhos se purificaram,
foram burilados, e se tornaram uma pérola,
nas entranhas de uma ostra gulosa.
Essa pérola é a que você usa,
nesse pendente,
sobre o seu coração.
03/10/2011
C-05
No alto da montanha,
um anjo lhe mostrava o mundo
com tudo o que ele possui de bom e de mau:
dores e alegrias;
ódios e amores;
pedras e flores;
rosas e espinhos;
florestas e desertos;
lagos e dunas;
rios e montanhas;
risos e tristezas;
saúde e doenças;
Viu pouca sinceridade e muita hipocrisia;
Grandes fortunas e imensas misérias;
amantes do espírito e amantes da matéria.
Só uma coisa em comum:
a busca da felicidade.
Perguntou então ao anjo:
“Nisso tudo, onde está a felicidade?”
Ele pediu-lhe licença,
enfiou a mão por dentro do seu peito
e arrancou o seu coração que pulsava.
Mostrando-o a ele, respondeu-lhe:
“A felicidade está aqui dentro!
Ela não depende de tudo isso que você está vendo,
Mas do MODO como você vê tudo isso!”
Após colocar de volta o seu coração,
vi crianças brincando,
jovens se enturmando,
pessoas jogando,
pessoas tricotando,
pessoas fazendo crochê,
donas de casa cozinhando,
professores ensinando,
presos trabalhando,
e uma paz o invadiu.
“Você está sentindo essa paz?”
o anjo lhe perguntou.
Ele acenou afirmativamente.
A suavidade da noite e a brisa do amor
se impregnaram nele.
“O paraíso pode ser aqui!”,
-disse-lhe o anjo.
“O amor pleno e a paz
são os combustíveis da felicidade!”
Nisso ele acordou.
Estava preso a um leito de hospital.
Já era de manhã.
O sol começava a entrar no quarto.
Uma enfermeira entrou,
buquê de flores nas mãos,
um cartão,
e lhe disse:
“É um presente de uma amiga sua”.
Leu o cartão e sorriu.
Percebeu que, mesmo num leito de hospital,
quando damos e recebemos amor,
quando nos deixamos amar,
A felicidade pode nos sorrir.
04/12/2011
C-13
O silêncio começou
Naquela praça do interior
Em que até então
A balbúrdia reinara.
Papeis diversos voavam,
Embalados pelo vento.
Embalagens variadas
Sobravam no relento.
Um gari, solitário,
Cigarro no canto da boca,
Soltou uma baforada,
A fumaça se espalhou.
Levantou-se, vassoura em punho,
Deu uma olhada amarela,
Desanimado e sem gosto,
Seu trabalho enfrentou.
Aos poucos, tudo limpo,
Em cara nova se tornou.
Uma praça, agora limpinha,
Não trazia mais as lembranças
Das alegrias,
Das tristezas,
Das brigas,
Dos beijos e abraços.
Da criançada brincando.
Final de domingo.
Tudo terminou.
(13/08/2012)
C-388
Frágeis colunas sustentam a sanidade...
Parcos lampejos de uma opaca luz
nos mostram o caminho.
Tateando no negror de uma noite sem fim,
a angústia nos tolhe um grito abortado...
Tropeços e avanços,
estagnação e retrocessos,
Coleção de quedas e soerguimentos,
e de vozes diversas em conteúdos e intenções...
Quando o cristão pensa nisso,
o suor se aflora em sua testa,
As pernas tremem, os lábios se contraem,
vultos monstruosos invadem seu universo.
Suaves murmúrios brotam das santas letras,
embaralhados,
misturados com os ruídos do mundo,
que os abafam,
que os cobrem,
que os retalham,
e se apresentam difíceis,
inalcançáveis,
indesejáveis,
insuficientes para a felicidade.
O relógio carrilhão o acorda do torpor,
com sinos que tocam o “Louvando a Maria”,
que faz acender-lhe as luzes,
que mostram as cruzes,
esparsas no caminho que ainda ele tem que percorrer.
(02/09/2012)
C-392
O caminho é longo,
mas o peregrino só vê onde está.
Não há o que já percorreu,
não há o que ainda tem de percorrer...
Só vê o presente,
só vê o agora,
o hoje,
o momento presente.
Algumas trilhas aparecem
á esquerda, à direita.
Tem o desejo de segui-las,
mas receia magoar-se,
receia não poder mais voltar
ao caminho a ele destinado.
Há pessoas que voam,
há pessoas que se arrastam,
outras que caminham,
outras que choram,
há pessoas que esbravejam contra ele,
outras que o escarnecem,
há pessoas que o odeiam,
mas também há muitas que o amam.
Afirma melhor a vista e vê,
à sua frente,
o único objetivo de sua vida:
viver o dia de hoje,
viver sob a luz divina.
Enxuga as lágrimas,
afirma o passo,
e prossegue o seu caminho.
O peregrino não se importa
ao ver a seu lado,
os cães que latem
querendo mordê-lo.
18/12/2012
C-21
As asas do mundo me pegaram
e a bem longe me conduziram,
a lugar algum,
a lugar nenhum,
e de lá pude ver as tragédias do mundo.
Vi as misérias do ser humano,
as hipocrisias da vida social,
as falsas necessidades da sociedade de consumo,
as exigências da convivência forçada,
esmagada pelo egoísmo,
pelo hedonismo,
pelo preconceito e aversões.
Vi um lugar imenso,
sujo,
estercado pelos dejetos dos ricos
e pelo desleixo dos pobres.
Aqui e ali nasciam flores belas,
perfumosas,
contrastando com o demais cenário.
Flores que persistiam em embelezar,
apesar da violência,
da ganância,
do orgulho,
da imprudência,
da impiedade.
Que orgulho pode haver num monte de esterco?
Que perfume persistir num odor fétido?
Assim é o mundo,
Assim é a sociedade,
bondade e maldade,
suavidade e dureza,
feiura e beleza,
alegria e tristeza,
encontro e saudade,
pobreza e riqueza,
orgulho e vaidade,
moderação e insaciedade,
uma verdadeira cloaca é esta humanidade.
As asas do mundo de volta me trouxeram,
em mim mesmo me puseram,
e voltei ao mesmismo,
grudei na face meu sorriso,
perfumei meu corpo,
tirei as rugas de meu rosto,
pintei meu cabelo,
troquei minha dentadura,
firmei minha postura,
e voltei à humanidade.
Voltei à cloaca.
Voltei à borrasca
de um violento tufão,
o tufão de nossas vaidades,
o vendaval de nossas ilusões,
o terremoto de nossas más ideias.
As asas do mundo me ensinaram
que há um só modo de viver:
que nada me perturbe,
que nada me espante,
porque tudo passa!
A paciência tudo alcança!
Deus nunca muda!
A quem a Deus tem, nada lhe falta
SÓ DEUS BASTA! (Sta. Teresa d'Ávila)
DEZEMBRO DE 2012
C-398
Pediram ao poeta alegria,
que a natureza sorrisse para ele,
que voltassem as cores
as flores
o cantar dos pássaros
a harmonia do universo
que ele cantasse a beleza,
que o sorriso se estampasse em seus lábios,
que passasse a tristeza.
Rabiscou alguns versos
que ficaram dispersos,
nada que os unisse!
Juntou as palavras,
colou-as com esparadrapo,
fingiu um sorriso,
e surgiram estas linhas.
"Amigos!" - disse o poeta,
"eu quero muito sorrir!
E meu coração isso até me implora!
Mas enquanto o meu semblante sorri,
o “danadinho” se entristece e chora!"
10/02/2013
C-28
Fui indo por um caminho,
encontrei uma jararaca.
Fui ver quem ela era,
Era aquela minha vizinha tão chata!
Fui indo por um caminho,
encontrei um belo vaso;
fui ver o que tinha dentro,
era o meu aluguel em atraso.
Fui indo por um caminho,
encontrei um canecão;
fui ver o que tinha dentro,
era metade do teu narigão.
Fui indo por um caminho,
encontrei uma tigela;
fui ver o que tinha dentro,
era uma modelo magrela.
Fui indo por um caminho,
encontrei um recipiente;
nele havia, do meu salário,
o aumento sempre ausente.
Fui indo por um caminho,
encontrei uma atadura;
fui ver o que tinha nela,
era a tua dentadura
Fui indo por um caminho,
encontrei uma cova, na terra dura.
Fui ver o que tinha dentro,
era a minha sepultura.
27/02/13
C-30
De repente,
não menos que de repente,
tudo sumiu de minha vista:
fui jogado na rua,
sem emprego,
na rua da amargura,
sem amigos,
sem aconchego,
sem abrigo,
sem nada.
Olhei ao redor:
para onde ir?
Nada apareceu.
Nada aconteceu.
Onde está todo mundo?
Caminhei muitos passos,
curti muitos fracassos,
proseei muitas prosas,
caminhei entre rosas,
mas me vejo nos espinhos.
Aos poucos, porém,
percebi um mundo novo,
de paz,
de sossego,
de aconchego,
abrir-se diante de mim.
As rosas voltaram,
novos amigos chegaram,
a rua sumiu,
a amargura se derreteu,
os abrigos brotaram,
o mundo reapareceu.
O emprego perdido,
os desencontros sentidos,
que me jogaram na rua,
eram lixos,
pedras,
eram nada!
O caminho, antes encoberto
pela segurança,
pelo emprego,
pelo lugar fixo,
reapareceu sem camuflagem,
e me sorriu.
Jogando fora minhas armas,
jogando fora as armaduras,
revesti-me de Deus,
revesti-me de amor,
colhi uma flor,
fixei os olhos meus,
lacrimejados,
no sol que amanhece,
e sorrio para o novo caminho,
sorri para essa nova aventura.
(06/04/13)
C-32
Algum de vocês,
aí sentado
pode ver?
Por acaso está vendo
em minha face
algum sinal,
um simples esboço,
sequer um leve esboço
de um sorriso?
Algum de vocês,
no sofá esparramado,
pode perceber,
por acaso está percebendo
um simples sinal,
apenas um leve sinal de alegria
estampado em minhas faces?
Algum de vocês,
livre como um pássaro,
pode perder seu precioso tempo
para fitar nos meus olhos?
E quando encontrar esse tempo,
vai ver que meus olhos estão molhados,
porque um laço invisível
me envolve.
Meus olhos estão lacrimejados
pela saudade intensa
de tudo o que eu costumava amar!
Alegrias e dores,
tristezas e amores,
caminhos arborizados,
obstáculos ultrapassados,
sorrisos de gratidão,
gestos de intensa emoção,
estradas poeirentas,
várzeas lamacentas,
tudo isso você encontrará
refletido nos meus olhos!
Ao me fitar, porém,
eu vi nos seus olhos
um mundo livre,
um mundo girando,
sorrisos brilhando,
vidas se encontrando,
flores se abrindo,
dias radiantes,
ideias brilhantes,
que podem ser postas em prática.
Para você o dia sorri,
o mundo está ao seu dispor,
e ... como você fala fácil de amor!
Entretanto,
agora eu também já posso sorrir!
Agora já posso sonhar!
Eu vi você parar tudo o que fazia,
todos os seus compromissos,
para me ver chorar!
Os laços de minha mente se soltaram,
meus sonhos voaram,
e vão se cumprir!
Amigo(a), sua "perda de tempo" comigo,
me ensinaram a sorrir!
(27/04/13)
C-38
Parabéns a você,
nesta data bendita!
Muitas felicidades,
apesar das desditas!
Recomece sua vida,
se puder esquecer,
se puder fornecer,
à sua vida restrita,
um cenário colorido,
uma viagem sem fim!
Parabéns a você,
se puder encontrar,
em sua solidão,
um sinal de luz,
uma verdade clara,
um sinal de amor,
uma bela canção!
Parabéns a você,
meu (minha) amigo (a) do caminho,
se encontrar neste mundo
um resto de carinho,
um punhado de amor,
uma pitada de calor!
As flores já se abriram,
a primavera chegou,
aquele pássaro cantou,
o perfume se esparziu!
Nessa bela atmosfera de paz,
parabéns a você,
meu amigo (minha amiga) de sempre,
se conseguir escalar
essa colina à sua frente,
e chegar até os píncaros
desta montanha encantadora,
abrasadora,
avassaladora,
desafiadora,
que é a vida!
31-08-2013
C-49
Mentes vazias,
corações frios,
palavras ocas,
que me causam arrepios!
Mentes vazias,
vidas ocas,
vidas que passam
em ações loucas,
pérolas que se jogam no lixo,
oásis no deserto,
que se tornam impotáveis.
Espinhos que crescem
e sufocam as rosas,
campinas desertificadas,
antes formosas,
seda finíssima,
embrulhando esterco,
fino caviar
comido com Ki-suco.
Meu coração se aperta
ao ver tanta ignorância!
Desfaço-me em lágrimas
ao ver tanta discrepância:
capacidade incrível,
dada por Deus,
jogada às traças das drogas,
do analfabetismo,
do crime,
do alcoolismo,
da ganância.
"E Deus viu que tudo o que tinha feito
era muito bom" (Gen 1,31).
16/02/14
C-78
Os copos tilintam,
Crianças se agitam,
música sem igual.
Todos conversam,
cantarolam, gritam,
balbúrdia total!
Num canto isolado,
de tudo distante,
sozinho e cansado,
curto a solidão...
30/03/14
C-93
O ET se aproximou
fez gesto de amizade
e se comunicou.
Mostrou fraternidade
e o seu tradutor ligou.
Pediu-me, então, que eu pedisse
no mundo, mais amor,
pois pensou que aqui só existisse
o ódio, a ambição, o rancor.
No mundo em que vivia
a guerra não existia,
a ambição, desconhecida,
sem ódio fratricida,
só o amor imperava.
Boquiaberto eu escutava,
sem saber o que fazer.
Cétera era o seu nome,
sábio, o seu parecer.
Viu muitos morrerem de fome,
de descaso e desprazer.
Sem esperar resposta,
entrou em sua nave e sumiu!
E eu, como quem aposta,
sentindo o que ele sentiu,
gritei ao Et Cétera
que voltasse ao nosso mundo,
e ajeitasse
o nosso querido Brasil!
09/04/14
C-96
A linda vela se derreteu,
morreu,
e não apareceste!
O jantar esfriou,
a noite findou,
tu me esqueceste!
A madrugada fria
achou-me na agonia
de uma dor sem fim!
Não sei o que farei,
não sei no que errei,
eu te imploro: volta pra mim!
As luzes se apagaram,
meus sonhos se findaram,
o sol apareceu!
O uísque acabou,
o sono chegou,
tudo em mim...
...morreu!
13/04/14
C-97
De teus olhos nos meus,
as lágrimas caíram...
Do sorriso teu,
murmúrios saíram,
tentando consolar-me!
Mãos nas mãos,
coração no coração,
um último adeus...
Nas nuvens o avião desapareceu.
As cartas se calaram,
o telefone emudeceu,
meus sonhos se findaram,
nosso amor...
...morreu!
27/04/2014
C-101
Quentinho na minha cama
ouço alguém que me chama,
não faço por esperar!
O frio do inverno me gela,
coloco-me à janela
e ouço alguém perguntar:
Vim fazer-lhe uma visita,
Minha alma está aflita,
Preciso contigo falar!
Abro a porta e lhe digo:
Tens aqui um abrigo,
vamos conversar!
O chocolate quentinho
nos facilita o caminho,
para as mágoas curar!
03/05/2014
C-102
Éramos jovens,
riso fácil,
saúde abundante,
aventura incessantes,
prudência retrátil!
O Lago Azul,
Sob um céu de anil,
belezas mil,
próprias do sul....
Quanta alegria!
Tudo nos sorria!
Água irresistível,
prazer incrível!
Depois de instantes,
Acenos confusos,
sons obtusos,
angústia incessante!
Tudo se acalmou,
você morreu,
o silêncio me abateu,
minha vida acabou!
Como é difícil viver sem você!
08/05/2014
C-103
A vida dele
era um quarto escuro,
tudo nele se tornava obscuro!
Vozes inimigas
perturbavam sua mente,
maldades antigas
sempre presentes.
Não havia perdão,
o bem não tinha espaço,
árido o seu coração,
espírito de luta escasso!
Cheguei, vi,
entrei em sua vida,
lamúrias ouvi,
as virtudes esquecidas,
o pranto chegou,
Deus apareceu,
a Graça entrou,
a Luz venceu!
O quarto escuro se iluminou,
o jovem obscuro
feliz se tornou!
A paz venceu
e dele se apossou!
A caridade venceu a idiotice!
(24/05/14)
C-104
Com agulha e linha do amor,
fiz uma colcha de retalhos...
Dos infortúnios do desamor
que fiz, ou recebi, nos meus trabalhos!
Com ela cobri o Senhor
nos pobres e humildes refletido;
com ela provi de calor
cada coração partido...
Só a oração pôde me dar
essa agulha e essa linha!
Só na oração eu posso amar
a humanidade que caminha,
os infortúnios do caminhar!
24/05/2014
C-105
Meu amor por você
é simples como a brisa,
que às praias alisa,
que limpa de nuvens o céu!
É claro como a luz
que à alegria seduz
que tira de minha alma os véus!
Vivo sem medo,
sem nenhum segredo
que possa nos arruinar.
A estrada é serena,
a brisa é amena,
vamos juntos caminhar?
(06/07/2014)
C-109
Homem notável,
dá-me esperança
minha alma avança
aos píncaros do amor!
Aparência insignificante,
mas cheia de luz,
da verdade amante,
humildade que seduz!
Pobre, casto, pacífico,
sabedoria imbatível,
argumentação infalível,
advogado magnífico!
me ajude a viver!
A sonhar com um mundo novo!
A tentar sempre um renovo
nas estradas do saber,
na santidade da vida!
16/08/2014
C-119
Entraste em minha vida
como na casa, o ladrão!
Deixaste as joias esquecidas,
só roubaste o meu coração!
29/09/2014
C-127
A minha chefa
me despediu,
o porquê
ninguém sabe,
ninguém viu!
Mulher dominadora,
prepotente,
quase onipotente,
não sabe perdoar!
Em seu credo
não há o que dialogar!
Em seu coração,
cheio de tensão,
ninguém tem lugar!
Meus amigos,
eu acho que minha chefa
tem medo de amar!
29/09/14
C-128
Mulher dominadora,
amável e sedutora,
Tem tudo o que quiser!
Seus passos, controlados,
vão aonde ninguém vai,
como é forte essa mulher!
Eu, coitadinho,
caminho receoso,
um pouco teimoso,
como quem não sabe o que quer.
Fui despedido,
de honras despido,
sem consideração,
sem explicação,
como um qualquer!
Não houve diálogo,
nada análogo,
nem uma palavra,
como a coisa requer!
Estou sem emprego,
e não é segredo
que me sinto mal,
sem um tostão sequer!
Desfolhei a margarida,
com mágoa enrustida,
e terminou, vejam só,
no terrível “MAL ME QUER!”
(01/11/2014)
C-135
Você, um carro na garagem,
mais caro que a mansão...
eu, uma bike bem usada
mais barata que seu portão!
Você, um banheiro suntuoso
maior que o meu quarto!
Eu, banheirinho tão diminuto
que de angústia me deixa farto!
Você, piscina majestosa,
num jardim bem guarnecido!
Eu, piscininha de plástico,
que me deixa aborrecido!
Você, caviar com torradas,
uísque escocês envelhecido!
Eu, meu pão com margarina,
meu café com leite amanhecido!
Você, viagens europeias,
visitas a Paris, à cidadela!
Eu, romaria a Aparecida,
e pão com mortadela!
Que diferença de vida,
entre eu e você, tão nobre!
Quanta riqueza escondida
nos simples costumes dos pobres!
Prioridades...
quais delas nos levam à felicidade?
Eu, feliz!
Você... O que me diz?
(05/10/2014)
C-138
O sino bateu,
a capela se encheu,
o povo chegou.
O padre, sorrindo,
deu a todos “
bem-vindos”,
a alegria lhe tomou.
O canto começou,
o povo rezou,
ouviu e chorou.
A missa terminada,
alegria da criançada,
a quermesse começou.
O leilão deu bastante,
com gente importante,
a disputa não parou.
A hora chegou,
tudo terminou,
a festa findou.
“Seu” Vigário, cansado,
foi pra cama, coitado,
seu banho tomou,
a Deus agradeceu,
pois tantas graças lhe deu!
E em seus braços,
feliz,
repousou.
(05/01/15)
C-147
Hoje
fiz o mesmo que ontem!
Amanhã,
farei o mesmo que sempre,
até que de mim
meus chefes se lembrem,
me apoiem,
me promovam!
As mulheres,
que olfato privilegiado!
Sentem odores
que nós homens não sentimos!
E muitas vezes
repito a faxina,
repito minha sina,
até que meus braços aguentem!
Deus é meu amigo,
se lembra de mim,
mas me quer assim,
Ele é meu abrigo!
No entanto,
passam-se os dias,
as noites quentes e as noites frias,
e continuo na mesma!
A dona de casa
faz o que faço,
e muito mais ainda!
O serviço não finda,
arrasa a alma,
bitola a mente,
se a gente não sente
que é por Deus que se o faz,
que a Deus isso apraz,
é algo próprio da gente,
nos torna indulgentes
com tudo o mais!
Hoje
fiz o mesmo que ontem!
Amanhã,
farei o mesmo que sempre,
até que Deus não aguente
receber a mesma oferenda
e aí me contemple...
...com a eterna liberdade!
(18/01/15)
C-148
Calor intenso,
amor imenso,
tudo se avizinha:
a messe é grande,
e para que ela ande,
nada de atitude mesquinha!
Os operários são poucos,
e um tanto “loucos”,
buscam a salvação...
Cuidam da messe,
aquele até se esquece
de sua situação:
muralhas o cercam,
laços o apertam
no seu coração.
Embora limitado,
fala do “Senhor bem amado”,
Jesus é a sua pregação!
Perdidos o encontram,
pecados lhe contam,
se rendem ao Senhor!
O “operário” de Jesus
leva a sua cruz,
enche o mundo de amor!
Calor intenso,
deserto imenso
se faz ao seu redor.
O “operário” cansado,
contempla o crucificado,
seu amor maior.
O dia findou,
tudo acabou,
o cotidiano reaparece!
Em seu leito estendido,
já quase adormecido,
o “operário” agradece!
(28/02/15)
C-163
(Homenagem a D. Meire – Mary Dora D’Arienzo Favoretto)
Dona Meire chegou!
A tristeza acabou!
A feiura deu lugar
à beleza salutar!
Professora de desenho,
uma faixa me pediu:
“Escreva nela, com empenho,
‘Sursum Corda’, e traduziu:
‘Para o alto os corações!’”
Com Libertad Lamarque se parecia,
sempre sorrindo ensinava.
Apenas lhe entristecia
a mente fria e malvada.
“Sursum Corda”.
A Deus tenhamos,
para o alto, os corações!
A preguiça vençamos!
Seja para Deus nossas ações!”
Dona Meire, que saudade!
Não me esqueço da senhora!
Sob um carro, que fatalidade,
chegou sua última hora!
No hospital, em agonia,
pediu à filha amada,
que sua fisionomia
deveria estar maquiada.
No caixão, tão bonita,
maquiagem caprichada,
a vida tão bendita
deixou nossa professora,
de muito precursora.
“Sursum Corda”! – Deus lhe disse,
e tomou seu coração.
Sua arte, sem “mesmice”,
foi também sua oração!
(15/03/15)
(Homenagem a M. H. S. de Sena)
C-165
Teu claro sorriso e aperto de mão
Tiraram as farpas do meu coração.
As horas passadas contigo ao meu lado,
mostraram-me às claras
quão bom ser amado!
Amiga, eu lhe digo: difícil é viver
sozinho e cansado,
sem muito querer,
sem ninguém que me ouça,
me escute falar,
que anime e conduza
este meu caminhar!
Consagrada amiga,
esta nossa amizade,
é sinal sagrado
de real caridade,
testemunho santo
de um amor fraterno,
neste mundo insano,
santa Luz do eterno!
(15/03/15)
C-166
Amigo, eu vou te falar
como é bom saber viver,
sem muito querer,
sem muito sonhar,
respeitar o envelhecer!
Esta floresta que me cerca
fala-me do amor de alguém que a fez,
faz-me permanecer sempre alerta
de agradecer, vez por vez!
Com Cristo unidos venceremos
o caminhar de nossa vida!
Com ele sempre viveremos
a esperança nunca perdida!
Mais uma coisa eu te digo:
encontre sempre em teu coração
o necessitado, um abrigo,
o solitário, um amigo,
e todo o mundo, uma oração!
(15/03/15)
C-167
Estas pessoas que me cercam
nas ruas frias da cidade,
nem sempre erram,
nem sempre acertam,
são todas elas frutos da sociedade.
Eu me coloco no meio delas,
e me esforço por acertar!
São frutas feias, são frutas belas,
as que eu tenho no meu pomar!
Num só instante, se eu paro e penso,
sou apertado, atropelado,
e o horror se torna intenso,
sei que não posso ficar parado!
Sou multidão! Não posso pensar!
Quando sozinho, numa capela,
finalmente posso eu ficar,
a tênue luz da arandela
convida-me insistente a rezar.
Ali no sacrário meu coração para,
o mundo se esquece de girar!
O meu amor por ti, Senhor, dispara,
como é saudável poder te amar!
(09/04/15)
C-170
Aquele padre é bondoso,
paciente e dedicado,
mas muitas vezes, nervoso,
fica muito atrapalhado.
Certo dia, tarde fria,
o lugar todo lotado,
aspergiu (benzeu) o povo, com alegria,
mas com o microfone,
que ficou ensopado!
Aconteceu noutro dia
que ao aspergir (benzer) a multidão,
do asperges, a bola de metal,
despregou-se com o safanão,
acertou a cabeça de um cristão,
num “tiro” quase letal!
Noutro dia,
na sacristia da capela
uma piada contou,
na igreja todos a ouviram,
pois o padre não desligou
o microfone da lapela!
Na confissão dormiu,
e o pecador, nada ouvindo,
dali saiu,
achando-se perdoado,
deixando o padre dormindo sossegado,
após haver confessado
que roubara, no passado,
o pilão da chácara vizinha.
Uma penitente chegou,
e, se ajoelhando, contou
que vivia tão sozinha,
pois seu marido, alguém lhe roubou.
O padre, acordando assustado,
então lhe perguntou:
“Era velho o pilão roubado”?
(11/04/15)
C-172
Eu caminhava. Uma vila, parei.
Sol a pino. Uma capela,
casas simples, vielas.
Um cemitério antigo,
sem muros, abandonado,
um telhado amigo
no túmulo em forma de abrigo,
que do sol me protegeu.
Entrei, me acolhi,
deitei no chão, fiquei grato!
Foi então que na parede vi
de um velho casal, o retrato.
Pose. Orgulho. Vaidade!
Narizes “empinados”.
Sob o quadro se lia: “Saudade”.
Um coveiro, cara de cansado,
passou. Parou. “Por bondade,
quem são os dois desse quadro?”
Não tinha ideia, não sabia.
Mesmo aparentando riqueza,
nada sobre eles havia,
nem feiura, nem beleza,
só a inscrição, na lousa fria.
Eu fazia um dia de deserto.
Naquele retrato, “ganhei meu dia!”
Caxias do Sul, bairro incerto.
Era a mensagem que eu queria!
Quantos risos, quantas lágrimas!
Quantas brigas, discussões!
Filhos, netos, tantas lástimas,
quantas lutas e ilusões!
Depois de uma vida assim,
de apegos, de vaidade, de fome, de sede,
previ o que restará de mim:
apenas um retrato na parede!
(12/04/15)
C-173
Sempre atenta, sempre amiga,
longe de qualquer intriga,
me honra com um cafezinho!
Embora chefe do “pedaço”,
não faz estardalhaço,
me trata com carinho!
Eu, faxineiro, “pé-de-chinelo”,
não tenho outro anelo
que o de trabalhar “sem espinhos”!
O cafezinho me esquenta,
me anima e me contenta,
não me deixa ficar mesquinho!
Sempre humilde e sorridente,
a chefinha, sempre presente,
não sai desse caminho!
Sem orgulho e sem vaidade,
sempre cheia de bondade,
ô abençoado cafezinho!
(06/05/15)
C-181
As pedras do caminho
distraem minha atenção;
mesmo andando sozinho
partilho meu coração
São vozes que clamam,
que pedem por socorro.
São pessoas que me chamam,
por elas eu recorro!
São pedras em meu caminho,
com que faço a construção
do meu futuro cantinho
no reino da salvação!
O caminho do céu é pedregoso,
exige toda a atenção!
O do egoísmo é até gostoso,
mas nos leva à perdição!
06/05/2015
B-134
Uma coisa eu te digo,
pois seu teu amigo!
Deixe de aplaudir
o teu próprio umbigo!
(07/05/15)
C-183
O dia de domingo é chegado,
preguiçoso e sem compromissos,
tudo, tudo, é desligado,
o barulho tem sumiço!
O café é tomado na paz,
o almoço no tempo retarda,
do pesqueiro o marido lhe traz
o peixe, que a esposa aguarda.
Churrasco, cervejinha,
sorvete por sobremesa!
Há uma festa na cozinha,
o prazer é uma certeza!
À noite, a missa ou o culto,
faz parte do combinado!
Todo domingo eu exulto!
Que dia abençoado!
(24/05/2015)
C-185
Sou faxineiro e, de repente,
fui promovido a chefão
do grupo nunca ausente
da tal “faxinação”,
como diz o Zé: “Boa faxina
só se consegue na ação
e o nome se mistura
e, daí, “faxinação”.
Na mesma, porém continuo,
todo dia, todo mês,
todo trabalho concluo,
salário razoável toda vez.
Posso dizer-lhes sem medo,
chefe ou não, é mesma a missão;
“faxinação” sem segredo
é a que se faz de coração!”
(24/05/2015)
C-186
A unidade não consiste
num mesmo pensar;
ela nem mesmo persiste
no mesmo caminhar.
A unidade se conclui
num mesmo coração;
o outro nunca influi
em minha opção
Um corpo, vários membros,
sério vínculo de unidade.
Disso sempre eu me lembro
quando falta a caridade.
Coitado do Corpo Místico!
Está todo esfacelado,
pois em vez de um amor Eucarístico
se desfaz em ódio empedrado.
Misericórdia e humildade
nos alinham lado a lado,
pois só se chega à santidade
se não se fica isolado!
(10/06/15)
C-190
Ainda ontem Eleutério, meu amigo,
tomado pela euforia,
falava muito comigo,
sobre o seu dia a dia.
Contava-me seus planos,
compras, anseios, viagens,
nem pensava em danos,
falava com muita coragem!
Era de manhã. Nos despedimos.
Eu pensei o dia inteiro:
será que nós nos ouvimos?
Não vemos nem sentimos
como este mundo é passageiro?
“Senhor, nós vos pedimos:
viver apenas o hoje por inteiro!
Hoje estou no cemitério,
não consigo parar de chorar!
Choro por meu amigo Eleutério
que ontem estava tão sério,
mas que hoje acabamos de enterrar!
21/06/15
C-193
As águas do riacho correm,
as nuvens são passageiras,
as aves alegres percorrem
grandes distâncias, ligeiras!
Tudo passa, tudo avança,
tudo está em movimento!
Como cresce aquela criança!
Em tamanho e conhecimento!
As pessoas sempre correndo,
nem param para pensar!
Muito amor está morrendo
nos que, mesmo querendo,
não têm tempo para amar!
Eu, sentado neste banco,
a tudo assisto, espantado!
Eu só quero, entretanto,
amar e ser amado!
Tudo me parou de repente,
nada mais me movimenta!
Sinto Deus sempre presente,
seu amor me alimenta!
Não quero mais correr,
não quero mais voar!
Já não me importa morrer,
agora só quero amar!
Amar a Deus por primeiro,
amar ao próximo por inteiro!
24/07/15
C-199
Na cela do claustro, sem vela,
tu usas a luz do sol,
que entra pela janela,
iluminando qual farol!
Jesus, na Eucaristia,
é o verdadeiro sol iluminado,
adorado dia a dia,
nunca fica abandonado.
O sol é uma das velas,
a outra é o teu amor!
Não derrete como aquelas,
que seja eterno o teu louvor!
Teu claustro se irradia,
sempre te sentes bem!
A paz, o amor, a alegria,
da Eucaristia provêm!
Muitos nem tomam consciência
do tesouro que ali se encontra
Passam toda a existência
buscando o faz-de-conta!
A presença viva de Jesus
traz alegria, muita paz,
alivia a dor da cruz,
tua força ele refaz!
(24/07/15)
C-200
Tuas lides, tuas lutas,
com que enfrentas o inimigo,
teus empenhos e labutas
para dar ao pobre abrigo,
se transformam em oração!
São palavras mudas de amor
que sobem, qual incenso,
ao paraíso do Senhor,
como um clamor intenso
que provém do coração!
A resposta imediata,
é a paz de todo o teu ser.
A resposta que demora,
sempre tão grata,
vai contemplar teu querer,
é a que pediste de coração.
As palavras mudas, gestos de amor,
se unem às ditas em louvor!
(28/08/15)
C-207
Como as férias numa estância,
minha vida já passou.
Relembro a minha infância,
quase nada me restou!
Um colega afamado
no jornal apareceu!
Por todos invejado,
mas no domingo... morreu!
Na foto, envelhecido,
o sorriso ainda matreiro,
com que conquistava, envaidecido,
a sociedade e o bairro inteiro.
No passar das gerações,
como a vida é ilusória!
O que vai nos corações?
O bem? O mal? A luta inglória?
Das ilusões afastado
quero deixar todo o mal!
Com o coração confortado
busco a paz celestial!
Meu colega já passou,
e minha velhice é real!
Dele apenas me restou...
uma foto no jornal!
(26/09/15)
C-214
Como eu amo esse velhinho,
estudado e compreensivo!
Trata a todos com carinho,
e sempre fica apreensivo
com os fora do caminho!
Divergimos opiniões,
como todo ser humano,
mas os nossos corações
amam, sem desengano,
sem outras concessões,
o mesmo Deus magnânimo!
Sinto a vida renascer
quando vejo esse velhinho
no domingo, ao amanhecer,
cruzando o meu caminho!
É como conhecer
uma rosa sem espinhos!
18/10/15-
C-218
Estrada vazia, sol escaldante,
árvores inertes, nenhum vento...
Meus passos incertos, titubeantes,
cansado, faminto, sedento!
Ao longe, um casebre se avistava!
distante de tudo, mas perto da estrada.
Apressei os meus passos,
e me aproximava
de um homem barbudo, apoiado na enxada...
Cheguei à sua frente, pedi de beber,
sua esposa atendeu-me, com toda atenção.
Entrei em sua casa e deu-me a comer
café com torradas, uma boa porção.
Saciado e contente, boa acolhida,
repus meu boné, voltei ao caminho.
Pudera tivesse, na estrada da vida,
casais como este, com tanto carinho!
19/11/15-
C-231
Amigo que vai,
tristeza que vem;
meu ser se retrai,
fiquei sem ninguém
Contemplo o sacrário
confidencio a Jesus,
marco um horário,
pra pensar em sua cruz.
Falo da amizade
falo da alegria
que trazem saudade
mas sem melancolia.
Jesus, único amor,
que nunca nos deixa!
Ele é Deus e Senhor
e nos ouve as queixas!
Sozinho eu não fico
e nem hei de ficar!
Jesus está comigo,
presente no altar!
23/11/15-
C-233
Tarde triste, nublada,
mas eu estou feliz!
Alegria controlada,
atitudes gentis!
Como poderia estar tristonho?
Sinto-me já a respirar
não um ar poluído, medonho,
mas o do paraíso, a cantar.
Sinto-me entre os anjos do céu
e sorrindo, no caminho,
canto e rezo, ao leu,
sentindo de Deus o carinho!
Como eu lhes posso explicar
algo que não é deste mundo?
Como eu lhes posso falar
de algo tão santo e profundo?
Já sei! Faça como eu!
Desligue-se do futuro e do passado,
viva do presente o apogeu,
e contemple nosso Deus tão amado!
Coloque-se em suas mãos,
curta o momento presente!
Sempre no seu coração
qualquer mágoa esteja ausente!
Livre-se da vil ambição,
abrace a simplicidade!
Oferte seu serviço aos irmãos,
viva sempre a caridade!
Sobretudo fique afastado(a)
do orgulho e da vaidade,
fique longe do pecado
viva sempre a humildade.
E quando o “encardido”
levar você a pecar,
faça logo seu pedido
pra Deus logo lhe perdoar!
24/11/15-
(7ª dia)
C-234
Fernando, meu amigo,
vá embora, vá com Deus!
Você sempre me deu abrigo
em seu coração e com os seus!
Beijando minha mão
quando a bênção me pedia,
deixava o meu coração,
antes tão humilhado e chacoteado,
cheio de esperança e de perdão;
eu me sentia reintegrado.
Fernando, meu amigo,
rogue por todos nós!
No céu, consigo,
estaremos logo após!
06/12/15-
C-238
Almoço gostoso,
vinho saboroso,
ô vida boa!
A cama chamando,
seus olhos quase fechando,
que bom ficar à toa!
A noite chegou,
a morte o apanhou,
e agora? O julgamento ressoa!
Na balança foi pesado,
medido, calculado,
pesado no pecado,
leve nas coisas boas!
Meu amigo sorriu pra Jesus,
que lhe mostrou a cruz,
dizendo: “Você me magoa!”
Pediu-lhe o perdão,
Jesus lhe deu a mão,
e ele voltou a rir à toa!
Deu ao meu amigo uma chance,
e, num relance,
ele acordou
Tremendo e assustado,
de suor todo molhado,
ele se ajoelhou.
No dia seguinte,
o padre foi seu ouvinte,
ele se confessou.
Começou a ir à igreja,
e numa alma benfazeja
se tornou!
O almoço continua gostoso,
o vinho continua saboroso,
mas meu amigo mudou!
Faz tudo moderado,
aos pobres tem-se dado,
o céu ele conquistou!
22/12/15-
C-244
Na noite calorenta,
a insônia me pegou,
garganta sedenta,
uma dúvida ficou
Ficar deitado? Levantar-me?
Contar carneirinhos? Rezar?
Cantar canções? Calar-me?
Ficar sentado? Andar?
Refresquei-me com um banho,
bebi leite gelado,
mas ouvi um som estranho
no apartamento ao lado.
Abri a porta. O vizinho,
muito enfezado,
punha pra fora um gatinho,
todinho arrepiado.
Não o deixara dormir,
permanecera acordado,
o que o levou a decidir
a jogar fora o coitado.
Convidei o tal vizinho
a uma partida de xadrez.
Ele aceitou num sorrisinho
cheio de altivez.
O dia amanheceu,
quando a partida acabou.
Ele, orgulhoso, me venceu,
o que muito me chateou.
Sozinho novamente,
tentei cochilar,
mas minha humilhada mente
não me deixou sossegar.
Passei o dia irritado,
até que, num pequeno lanche,
pelo vizinho convidado,
venci-o na revanche!
Nessa noite dormi mansinho,
pois venci, no xadrez, meu vizinho!
31/01/16
C-250
Visitei um convento
de piedosas clarissas,
ó quão santas missas!
Mas chovia e fazia vento!
Visitei uma prisão
de criminosos diversos,
alguns bons, alguns perversos,
e chovia em profusão.
Oh que Deus tão bondoso,
que permite a chuva abençoada
tanto às freiras comportadas
quanto ao triste criminoso!
Deus não é vingativo,
ama a todos por igual!
Perdoa todo e qualquer mal,
qualquer que seja o motivo!
Que todos tenhamos confiança!
Basta pedirmos perdão!
Demos a Deus nosso coração!
O céu é nossa esperança!
09/04/16
C-268
Não sei quantos amigos eu já tive,
não sei quantos ainda me restam,
apenas um ou outro ainda vive,
presentes quando as “ondas se encrespam”
Amigo verdadeiro é Jesus,
desceu das mordomias do céu,
nasceu para morrer numa cruz,
livrou-nos o do inferno fogaréu!
Amigo verdadeiro nos ama,
ajuda-nos a viver numa boa!
Ao ver-nos na sarjeta nos chama,
de ouvir-nos chorar, não enjoa.
10/04/16
C-269
Eu me lembro dançar esta valsa
na alegria dos tempos de outrora;
deslizávamos qual uma balsa,
no salão, quase até a linda aurora.
Amizade tão pura e sincera
como nunca no agora, eu vivia!
Nossa vida era só primavera,
nosso inverno, eu nem pressentia!
Os cabelos grisalhos de agora
vêm dos anos que a vida nos deu!
A magia fugiu, foi embora,
nosso sonho de então, já morreu!
Fim de vida, só resta a esperança
de encontrarmos no céu a alegria!
Viveremos pra sempre a festança,
uma valsa de eterna magia!
18/04/16
C-271
1ª
Pessoas bocejando,
carros quase parando,
mormaço,
inchaço,
enjoo estomacal,
abuso do sonrizal,
que segunda feira braba!
2ª
Nas entrelinhas de tua carta
percebi tristeza imensa!
Não te impeço que tu partas!
Minha dor, oh! Como é intensa!
3ª
Busquei na tua vida a amizade,
sinceramente e com alegria.
Nunca imaginei que tua maldade
superasse em muito tua magia!
4ª
Minha mãe dizia sim,
o meu pai dizia não,
até que eu soube, enfim,
que eram coisas do coração!
5ª
Que a paz que sinto agora,
nesta tarde de tanta graça
se estenda mundo afora,
que a maldade se desfaça!
6ª
Teus desejos de vingança
vão te causar tristeza!
A bondade sempre alcança
alegria, muita beleza!
7ª
Sempre ouço os passarinhos
me acordar de manhãzinha.
Não têm o que fazer esses bichinhos?
Como “barulham” esses pestinhas!
8ª
Um, dois, três, quatro,
hoje não chego aos cinco!
Vou rasgar o teu retrato,
pra acabar tudo o que sinto!
9ª
Que florzinha bonitinha!
Da natureza, é o encanto!
Mas prefiro uma frutinha,
que como sem conquanto!
10ª
O amor é como a luz
que entra de mansinho!
Nos alegra e nos seduz,
com calor e com carinho!
15/06/16
C-281
1ª
Sem o teu amor
eu me sinto sozinho!
Sem o teu calor,
perco o meu caminho!
2ª
Bem me quer, mal me quer,
o final não me importa!
Dê no que der,
sempre estarei à tua porta!
3ª
Olhando ao horizonte
eu vejo o sol se pôr...
Olhando-te defronte,
eu perco a minha cor!
4ª
Sinto-me arrepiar
quando eu te vejo assim!
Porém, vivo a cantar,
quando estás longe de mim!
5ª
O sino bate: Blim, blóm!
A missa vai começar!
O carro me chama: fóm-fóm!
Mas na cama eu quero ficar!
O riacho que corre,
no rio vai desaguar!
O santo, quando morre,
ao paraíso vai chegar!
7ª
Tudo passa nesta vida,
passa a dor, passa a alegria,
mas na pessoa ressentida,
nunca passa a agonia!
8ª
O sorriso do palhaço
encantou a multidão;
ninguém viu cair em seu regaço
as lágrimas da solidão!
9ª
Ouço o murmúrio suave
do regato entrando na mata!
Faz-me lembrar do entrave
de tua mentira insensata!
10ª
Ave, Maria santíssima,
Mãe, tão cheia de graça!
A ti rogo, Mãe boníssima,
que toda a maldade se desfaça!
03/08/16
C-296
Mundo atual... suas incertezas
levam à pane nossos corações!
Já não se sabe quem é bom ou mau,
busca-se sempre as fortes emoções!
Eu tenho pena dos que estão nascendo,
eles não sabem o que vão encontrar!
Os baluartes do amor estão morrendo,
logo não saberão o que é amar!
Uma renúncia eu peço a todos,
de todo o mal, do prazer pelo prazer!
Longe de nós os sutis engodos,
Ser sempre fiel a Deus, até morrer!
06/08/16
C-300
O riso fácil e abundante
sempre mostra alegria!
Às vezes esconde o semblante
de quem vive na agonia.
Luciano, meu aluno, sempre rindo,
por todos e por todas era amado.
Esportista, sempre indo, sempre vindo,
ninguém jamais o vira angustiado.
Certo dia, noite de formatura,
todos já tinham ido embora.
Ao fechar o salão, noite escura,
ele me esperava lá fora.
Voz embargada, soluçava,
desabafou-me seus sentimentos.
Era infeliz, a todos enganava,
em seu bolso, um revólver cinzento.
Era despedida. Queria matar-se,
o mundo já não mais o atraía.
Nada mais o faria calar-se,
falou tudo quanto podia.
Irmã prostituta, pai alcoólatra,
família difícil, desintegrada!
Animei-o, chamei-o de “risólatra”,
a arma no rio foi jogada.
Seu riso deixou de ser fingido,
embora menos abundante.
Casou-se, continuou desinibido.
Como nossa conversa foi importante!
De tudo isso aprendi a lição:
aprender a ouvir, mais do que falar.
Ninguém vê o nosso coração,
a ninguém jamais podemos julgar!
21/08/16
C-303
Jovem, que esperas da vida?
Onde puseste teu coração?
Em que força buscas guarida?
A quem consideras irmão?
Da internet se avassala a febre,
o dinheiro canta mais alto...
A futilidade corre como lebre,
seja na cidade, seja no asfalto!
O amor virou consórcio,
a família, dizem que “já era”!
“Conserta-se” com o divórcio
problemas de qualquer esfera
A natureza é devastada,
a mídia, como um deus impera.
Quanto tempo durará ainda
a frágil vida nesta terra?
Lideranças detestáveis
sugam jovens de roldão...
As virtudes, tão instáveis,
foram banidas do coração!
Jovem que estás me ouvindo,
desfaça-te da leviandade!
Com teu coração se abrindo,
reveste-te da santidade!
27/08/16
C-304
Entre plumas e paetês
vai a bailarina dançando;
como golpes de karatê
seus braços vão balançando...
O desfile carnavalesco
a avenida perpassa.
Tudo ali é burlesco,
coisas bonitas e coisas sem graça.
Seu coração, alegre,
exulta ao ritmo frenético,
De seu corpo, como em febre,
corre suor, é firme e atlético.
O futuro, o passado,
Para ela ali não existem!
O presente não lhe é pesado,
pois as alegrias persistem!
O silêncio da madrugada
já mostra que tudo acabou.
É hora de pegar a estrada,
a realidade recomeçou!
A vida se lhe mostra muito dura,
a fantasia já está guardada!
Uma a uma as desventuras
a ela voltam, detestadas!
04/09/16
C-310
Como um pobre pelicano no deserto,
muito longe de sua terra natal,
aquele missionário, futuro incerto,
combate, esperançoso, todo o mal.
Com muita simplicidade e muito amor
prega com sabedoria a caridade,
fala com alegria sobre o Senhor,
transmite seu apelo à santidade.
Sozinho, após sua diária missão,
pensa em sua pátria tão querida.
Uma dor lhe transpassa o coração,
àquele povo ele oferece sua vida!
Quanto tempo ainda? Quantas dores?
Não sabe. Sua vida está em Deus!
Aqueles são seus únicos amores,
um dia precisará dizer adeus!
“Minha vida não é minha,
pois a Deus dei!
E aonde Deus me mandar,
feliz lá morrerei”!
(esta última estrofe é tirada de uma poesia e música de Fidêncio Bogo, “o barco da madrugada”).
09/10/16
C-323
A dona de casa, coitada,
trabalha o dia inteiro!
Sempre como empregada,
às vezes qual carpinteiro!
O almoço está saboroso,
o jantar está também!
Tudo está tão gostoso!
Todos dizem: “Amém”!
Quando descansa, no sofá estirada,
vê o seu marido chegar,
e embora sonolenta e cansada,
vai seu chinelo pegar.
Traz também um cafezinho,
cubinhos de mozarela,
põe tudo num cantinho,
e senta-se junto à janela.
O maridão tão folgado
joga os sapatos no chão,
acende um cigarro mentolado
e dá uma cuspida de raspão.
A mulher lhe chama a atenção,
diz, com muita fadiga:
“Tenha mais educação!
Não quero acabar numa briga”!
Maridão despreocupado
derrama café no almofadão,
deixa a camisa de lado,
sem lhe dar a menor atenção.
Não sei o final desta história,
mas uma coisa eu lhes digo:
Só entrará na glória
quem tiver Deus consigo.
Quem trata a esposa com desdém,
do céu não terá um só vintém!
09/10/16
C-324
A brisa que me afaga o cabelo
de outros afagos provém,
de alguns afagou muito zelo,
de outros, a maldade e o desdém.
Quando ela afaga a bondade,
torna-se alento perfumado!
Quando ela afaga a maldade,
torna-se um vento tresloucado.
É assim que funciona a amizade,
que às vezes no acaso acontece.
A bondade repercute a bondade,
a maldade só ao mau apetece!
12/10/16
C-325
De terracota a pequenina imagem
no rio se fez enegrecer,
pronta para nos dar a mensagem
da escravidão desaparecer.
No ano que vem o tricentenário
comemoramos com alegria!
Até um novo campanário
faz aumentar nossa euforia!
Nossa tristeza se apresenta
quando sabemos que a escravidão
à nossa era se acrescenta,
ainda nos magoa o coração!
Modernos escravos do trabalho,
jovens pelos vícios escravizados,
valores diversos como um baralho,
mas todos pela Mãe muito amados.
Por Maria chegamos a Jesus,
pelo amor chegamos à salvação!
Levando com paciência a nossa cruz,
partilhando nossa vida com o irmão.
Aparecida foi o nosso presente,
uma dádiva amorosa de Deus.
Nela o mal se faz ausente!
Como tenho pena dos ateus!
19/11/16
C-337
Sob o sol escaldante do deserto
Foucauld, sentado sob a palmeira,
num oásis, nada por perto,
rezava, do Ofício, a hora terceira...
Sua cabana pequena, mas tão terna,
quantos hóspedes já tivera!
Sua acolhida, caridosa e paterna.
como nunca antes ali houvera!
Até sessenta hóspedes por dia,
tantas caravanas por ali passadas,
sua oração só não se reduzia
porque usava o silêncio da madrugada
Nesse dia, sem nenhuma visita,
pôde prolongar sua adoração.
Olhava ao infinito, alma aflita,
por todos pedia paz e salvação.
Sua tumba continua no deserto,
testemunha silenciosa e tão querida,
gritava o evangelho a céu aberto,
não com palavras, mas com a própria vida!
01/03/2017
C-348
A mansão assombrada,
silente na escuridão da noite,
arrepia-se, abandonada,
com o vento frio, verdadeiro açoite.
Ali próximo, carro quebrado,
um homem aventura-se e entra.
Nada por perto. Lugar afastado.
Ele, pouca idade, talvez uns quarenta.
Uma chuva começa, torrencial.
Só os relâmpagos a iluminam.
Ele forra um velho sofá com jornal.
Dorme. Os perigos não o desatinam.
Meia-noite. Luz forte no armário.
Acordando assustado, o homem treme.
Ao longe, ouve um canário.
Naquela hora? Naquele lugar? Geme.
Tomando coragem, se aproxima.
Abre o armário iluminado.
Barras de ouro, um cartão em cima.
A luz se apaga no metal dourado.
Celular em punho, lê a nota:
“Este ouro é maldito,
pertenceu a um agiota.
Seu descanso só será bendito
Se o não usares como um idiota”.
Após dezenas de cochiladas
o dia, afinal, despontou.
Após muitas pedaladas
numa bike que ali encontrou
a auto mecânica foi encontrada.
Comprou a mansão assombrada
e um asilo ali instalou.
Custou-lhe quase nada!
Muito ainda lhe sobrou.
A mansão antes assombrada
nunca mais incomodou.
27/07/17
C-353
Meu coração bate forte,
aguardo a esperada resposta!
Sim ou não? Pouco importa!
Já não ligo qual seja a proposta!
Amar a Deus sem reservas
é tudo o que agora desejo.
Amar o irmão e o inimigo,
nada mais neste mundo eu almejo.
O tapete que me tiraram
já forra o meu novo caminho.
Deus nele me espera sorrindo,
nunca nele estarei sozinho.
Que a chuva seja torrencial lá fora,
que a ventania sopre renhida!
Fico aqui dentro com Jesus
e Maria, minha mãe querida!
27/09/2018
C-365
Neste dia abençoado
canto as maravilhas de Deus!
Acolhidos, sempre amados,
somos todos filhos seus.
Tudo em volta reluz,
tudo em volta canta ao divino,
até mesmo nossa cruz,
deixa de ser desatino.
Por Ele sempre amados,
crentes, descrentes, ateus,
desde que estejam inflamados
nossos corações para Deus!
De harmonia celeste envolvido,
ouço a criação a cantar:
“Aprendemos desse Deus tão querido
uma só coisa: AMAR!
20/03/1980
C- 401
Se em meus braços pusesses os teus,
para a valsa do amor nós dançarmos,
no salão tão imenso, eu me sinto um Romeu,
de vazios e inócuos sarcasmos,
desta vida tão cheia de nadas...
Ó querida, o salão mudaria
para um céu, todo cheio de flores,
para um sempre tão bom de iguarias,
para um mundo tão livre de dores,
numa vida sem "ais" e sem "nadas".
Onde os sonhos de amor não seriam
afundados no mar em navios*
E as poetisas às musas dariam
um eterno descanso bravio,
se em meu nada pusesses o tudo que és.
(Sem data. Talvez 1986)
C-368
Lembrando a amada terra,
tão longe e tão distante,
Sozinho, na tarde triste,
medita o missionário.
Um quê de choro e angústia
reflete-se em seu semblante
por ver que a messe é grande
e tão poucos os operários
Crianças abandonadas,
sem chance, sem nomes,
casais desamparados,
sem casas e com fome,
doentes esfarrapados,
sem cura, sem conforto,
mães que não chegam a ser mães,
fetos que se tornam abortos...
Magias e superstições,
homens em guerra,
terras sem gente,
gente sem terras!
Ricos devorando pobres,
banquetes dos milionários,
povo sem jeito de povo,
escravos a que chamam operários.
E na pobre capelinha branca,
entre as escuras casinhas,
de uma vitrola rouca,
o som da Ave-Maria,
chamando a todos eles,
adultos e criancinhas,
o pobre missionário
celebra a última missa do dia.
Ali todos se encontram,
fraternos, com amor,
ali todos se abraçam,
esquecem sua dor.
E o missionário amigo,
chorando de emoção,
apela a Deus por todos,
exorta à perseverança,
até que os poderosos
mudem o coração,
juntem-se à nossa luta,
juntem-se à nossa dança.
Jesus morreu por todos,
mudando, pela nossa oração,
dor em alegria, tempestade em bonança...
C-403
Nas entrelinhas de teu olhar
Vi a ironia de teu sorriso.
Minha face se esfriou,
Meu coração se arrefeceu.
Nas entrelinhas de teu sorriso
Vi ironia de teu olhar.
Meu coração se esfriou,
Minha face se arrefeceu.
Nas entrelinhas de tua face
Vi a ironia de teu coração.
Meu sorriso se esfriou
Meu olhar se arrefeceu.
Nas entrelinhas de teu coração
Vi a ironia de tua face.
Meu olhar se esfriou,
Meu sorriso se arrefeceu.
Tirei o meu violão de teu olhar,
Apaguei o sorriso de minha face,
Aqueci o meu coração,
Engoli o meu sorriso.