ou clicando nos números dos capítulos acima.
Era um texto de catequese para as primeiras comunidades e foi escrito, com o de Lucas, por volta do ano 80 de nossa era, em sua versão grega. Houve um evangelho de Mateus escrito em aramaico já nos anos 50, baseado no evangelho oral, mas foi perdido. Na verdade, o primeiro evangelho escrito em grego foi o de Marcos, lá pelo ano 64.
“Mateus juntou, organizou, acrescentou ou modificou as várias tradições orais e escritas das palavras e prática de Jesus para responder à situação concreta de suas comunidades. Estas tradições são chamadas de fontes. Mateus teve, pelo menos, 3 fontes importantes “ (Ele está no meio de nós, CNBB, Paulinas:
1- Evangelho de Marcos, que já existia desde o ano 64. São 600 versículos (80%) de Marcos que estão em Mateus.
2- Fonte chamada de”QUELLE”. Lucas também a usou. São 230 versículos de Lucas que estão em Mateus e não estão em Marcos.
3- Tradições orais antigas, com acréscimos das comunidades e da redação final do redator: são 330 versículos. O Evangelho de Mateus tem cerca de 1160 versículos.
AS COMUNIDADES DE MATEUS
● Judeus cristãos e não judeus, de várias tendências;
● conflito entre observantes e não observantes da lei de Moisés.
● Conflitos com a cúpula do judaísmo que cuidava da formação dos judeus;
● controvérsias a respeito de quando Jesus retornaria. Alguns grupos achavam que seria logo.
● Dificuldades em receber os gentios (=não-judeus)
QUEM ESCREVEU?
O Evangelho de Mateus é fruto de um grande mutirão e não é possível saber quem foi o redator oficial das diversas experiências ali relatadas, pois descreve a vivência das comunidades do norte da Galileia e da Síria. Tudo indica que eram comunidades constituídas basicamente de judeus cristãos (Cap 13,52). O local mais provável é Antioquia, na Síria (veja Atos cap. 13).
Mateus 1,1-17: Antepassados de Jesus
Essa genealogia, até um tanto monótona quando lida na liturgia, tinha muita importância para os judeus, a fim de ligar Jesus às pessoas em que Deus depositou as promessas de que enviaria o Messias, entre elas, Abraão e Davi.
Maria pode também ter pertencido a essa linhagem. O importante, na descendência, era a parte do homem e não a da mulher.
O versículo 16 encerra esse assunto, dizendo que “Jacó gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, chamado Cristo”.
Quanto ao versículo 17, eu sempre me contento em saber que os números são simbólicos na Bíblia.
Mateus 1,18-25: José assume a paternidade legal de Jesus.
O versículo 18 mostra, de modo magnífico, o fato de Maria, como qualquer um de nós, viveu pela fé. Ela não viveu baseada em visões de anjos, como poderíamos supor, mas numa fé pura e árida. Esse versículo pode ser lido de tal forma que nos leve a pensar que Maria, num belo dia, percebeu que estava grávida, apesar de nunca ter tido contato com o sexo masculino.
Ela, que amava Deus e a sua santa vontade, lembrou-se do que oouvira no templo: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho...” (Is.7,14).
Quanto ao seu “sim”, ela o deu com a sua própria vida! Sempre fez e desejou fazer a vontade de Deus.
No versículo 20, vemos como foi José que sonhou com o anjo, que lhe garantiu ter sido obra de Deus o que havia sido gerado no interior de Maria. Ele também viveu pela fé, pois aceitou a vontade de Deus não, expressa por uma aparição celeste, mas sugerida num simples sonho. A “dica” que o sonho lhe deu fez com que ele pensasse ser plenamente possível que o que acontecera a Maria fosse obra divina.
Pensando bem, José acreditou não necessariamente no anjo do seu sonho, mas na fidelidade e na santidade de sua esposa. Acreditar em Deus muitas vezes significa acreditar nas pessoas. Elas são amadas por Deus e é por meio delas que Deus, muitas vezes, manifesta sua vontade e seu amor.
No versículo 19 lemos a bondade de José, que ia prejudicar grandemente sua reputação se desmanchasse o noivado, para não acusar Maria de adultério. Se ele a denunciasse, ela morreria apedrejada.
No versículo 25, ao dizer que “ José não a conheceu até o dia em que ela deu à luz um filho”, não quer dizer que ele a conhecera depois (conhecer na bíblia significa manter contato íntimo, como o sexual). Significa que ele não tivera relações sexuais com Maria e ela, portanto, pelas leis naturais, não poderia estar grávida. Se ela ficou, é porque Deus estava agindo ali.
Há um autor que diz ser José tão digno e tão santo que nunca teria a coragem de manter relações sexuais com Maria depois que ela fora “possuída” pelo Espírito Santo de Deus, ao conceber Jesus.
Mateus 2,1-12: Os Magos
O texto que fala dos magos lembra-me várias coisas:
1- A salvação não está limitada a um povo, a uma determinada religião, mas é dada gratuitamente a todos. Os magos eram de uma religião muito diferente da que em que Jesus nasceu, mas o procuraram até o encontrarem. Se procurarmos Jesus, nós também sempre o encontraremos.
2- Jesus não é alguém que veio livrar-nos dos problemas, mas ajudar a resolvê-los.
3- Herodes teve medo de perder o lugar de rei para um simples menino que acabara de nascer. Em nossa vida, muitas vezes nos apegamos às pequenas coisa e aos nossos cargos de tal maneira de que não aceitamos que outras pessoas, mais capacitadas que nós, possam fazer nossa tarefa de modo melhor. Lembremo-nos dos professores, que instruem seus alunos de tal forma que possam um dia suplantá-lo em conhecimento e até em nível material de vida.
4- Ouro: a riqueza; incenso: a divindade; mirra: a paixão de Cristo. Mostra Jesus como um rei (ouro), Deus (incenso) mas também um homem passível de morte (mirra).
5- No versículo 12 os magos seguem por outro caminho. Quando descobrimos que o nosso caminho atual não está atendendo à vontade de Deus, tomemos outro caminho, que decerto será melhor. Muitas vezes temos que fazer isso em nossa vida: planejamos um tipo de vida e acabamos vivendo outro. Se percebermos que essa é a vontade de Deus, sigamos esse novo caminho, esse novo tipo de vida, com muito amor.
6- A estrela: é inútil procurarmos uma explicação natural para esse astro aí anotado. Para nossa vida, vamos nos lembrar que o Espírito Santo é Deus e nos ilumina e nos guia num caminho que nos leva a Jesus, que por sua vez nos leva ao Pai.
7- Belém, “O menor entre os clãs de Judá”. Ser ou não pequeno não quer dizer nada para Deus. Davi era o menor e o mais fraquinho entre os sete irmãos, mas foi o escolhido por Deus para ser rei de Israel e Judá, e morava justamente nessa vila pequena, Belém. Samuel, indignado por ter sido escolhido um fracote como rei, e não os fortes seus irmãos, conformou-se com o que Deus lhe dissera: “Deus vê não como o homem vê, porque o homem toma em consideração a aparência, mas o Senhor olha o coração”
Não tenha medo se os recursos e os meios que você tem em mãos são poucos ou precários! Deus tem condições de transformar o deserto árido numa floresta tropical, uma pequena ação nossa num acontecimento mundial. Já diz o ditado popular: “O pouco com Deus é muito, o muito sem Deus é nada!”.
8- Nos versículos 4 a 8, vemos a convocação dos sábios e autoridades para descobrirem onde teria nascido o “rei dos judeus”. Na verdade, sempre que temos um problema comunitário ou social, a união das forças pode fazer maravilhas. A pesquisa e o estudo podem transformar nossa vida para melhor, tanto a nível material como espiritual. Uma palavra das Sagradas Escrituras mal entendida, por exemplo, pode trazer muito transtorno e mal-entendidos.
A união das forças e o estudo sério das ciências e da Palavra de Deus podem transformar a face do mundo, desde, é claro, que saibamos e aceitemos nossos limites.
Mateus 2, 13-15: A fuga para o Egito
José vai com Maria e o menino para fora da cidade, a um lugar mais distante, livres da jurisdição de Herodes, simplesmente chamado de Egito. Isso lembra-me a migração intensa que existe em nosso país. Pessoas do norte e nordeste, por exemplo, deixam terno, casa e até família e tentam a sorte aqui no Sul. Muitas vezes vendem muito barato o que têm, e não conseguem depois comprar nada aqui, e começam a passar fome, pois o dinheiro termina.
Acho que as prefeituras dos Estados do sul deveriam dar mais atenção a esses migrantes. Quanto a nós, há muitos querendo aproveitar-se de nossa bondade, mas tembém há muitos que precisam realmente de nossa ajuda. Precisaríamos distinguir uns dos outros.
A Sagrada Família passou por todos esses problemas no exílio: fome, insegurança, angústia, desemprego... mas tudo venceu, pois teve a força de Deus. Nós também podemos obter essa mesma ajuda para vencermos nossos problemas.
Mateus 2, 16-18: Os Santos Inocentes
A mortandade de crianças feita por Herodes me lembra tantas crianças de hoje que passam fome, frio, violência, desamparo, morrem, de certa maneira, para uma vida saudável. Muitas vezes começam bem cedo a usar drogas, e assim são “adotadas” pelos traficantes.
A infância de hoje está sendo prejudicada também pelas famílias destruídas, ou seja, pela falta de uma família estruturada de modo melhor, de modo mais equilibrado. A pobreza está cada vez pior!
Quero lembrar ainda a falta de uma instrução mais profunda e verdadeira para os mais pobres. Nossas escolas públicas estão de mal a pior e não estão conseguindo dar aos mais destituídos de recursos uma educação mais digna.
Mateus 2, 19-23: A volta do Egito e ida para Nazaré.
Jesus, Maria e José voltam para Israel, indo morar em Nazaré da Galileia, deixando a Judéia, em que o filho de Herodes, Arquelau, reinava.
Em nossa vida diária devemos evitar o mal o mais que pudermos, a fim de não cairmos em pecado e não fazermos qualquer coisa que possa nos prejudicar. Até a Familia Sagrada precisou evitar as pessoas más, como Herodes.
Não podemos tentar a Deus, permanecendo à mercê dos perigos sem necessidade. “Vigiai e orai”. Vigiar é principalmente evitar as ocasiões de perigo para nossa vida, tanto material como espiritual. Há muitos que tentam a Deus, colocando-se nas ocasiões de perigo sem necessidade e pedindo, em seguida, que Deus os livre. Mesmo que você tivesse feito isso sem pensar muito no assunto, pode, assim mesmo, sair do perigo: peça perdão a Deus e Ele o (a) livrará do malo. Proponha, entretanto, não se colocar mais nas ocasiões de pecar. Tudo isso que eu lhes estou dizendo eu aprendi a duras penas. Quero agora partilhar com você, a fim de que nós nos encontremos um dia no paraíso celeste.
Mateus 3, 1-10: A pregação de João Batista
João Batista, homem que vivia uma vida austera (difícil, cheia de privações), começa a pregar no deserto, insistindo na conversão das pessoas.
Conversão, aqui, é uma palavra grega (metanoia) que mostra bem mais do que um simples arrependimento do que se fez errado no passado. Ela tem o sentido de mudança completa da própria vida, dos próprios pensamentos. É como nascer de novo: refazer os objetivos e os meios de nossa vida, daqui para frente.
Se é verdade o que o Pe. Sometti diz naquele seu livro; “Você é aquilo que pensa”, então, mudando nossos pensamentos, estaremos mudando todo o nosso modo de ser.
É muito difícil mudar nossas atitudes, nosso modo de agir. Mas é apenas uma questão de hábitos: deixamos hábitos nocivos, que estão prejudicando a nossa vida e a de outras pessoas, e adquirimos hábitos e atitudes bons, que possam nos conduzir a uma vida melhor, mais de acordo com a vontade divina.
Deus nos projetou e nos criou: seguindo o que Ele quer para nós, seremos felizes, pois estaremos vivendo de acordo com o sábio projeto dele. Viver em pecado é viver de modo contrário ao que Deus projetou para a nossa vida. Só Deus sabe quanto sofrimento às vezes temos que passar para aprendermos isso que acabei de dizer!
Mateus 3,11-12: O Batismo que João ministrava
O Batismo de e João era um batismo de conversão, de penitência, que podia ser repetido mais tarde, se a pessoa precisasse novamente recomeçar a vida. Ele aponta para um batismo novo, no “Espírito Santo e no fogo”, ou seja, feito de uma só vez, marcando a pessoa para sempre, como acontece com quem se queima.
Tudo o que não puder ser purificado pela água do batismo, será consumido pelo fogo. O batismo que Jesus inaugurou, faz com que o pecado seja apagado, que ele desapareça por completo, possibilitando, assim, a pessoa a recomeçar uma vida nova em pecado, fortalecida pelo Espírito Santo.
Mateus 3, 13-17: O Batismo de Jesus.
É muito bonita a narrativa do batismo de Jesus, por causa da manifestação da Santíssima Trindade. Vejo aí alguns pontos:
1- A unção de Jesus para a sua missão.
2- A garantia de que Jesus é Filho de Deus.
3- Deus está realmente conosco, a fim de nos dar a vida eterna.
4- Jesus, na verdade, não está sendo santificado pela água, mas, pelo contrário, é Ele quem está santificando a água, preparando, assim, o nosso batismo.
5- Uma pomba: Lembrando que a missão que Jesus iria iniciar nos levaria a uma “nova criação”, pelo fato dela ter aparecido na “segunda criação”, lá no Gênesis, depois do dilúvio.
Não gosto de simbolizar o Espírito Santo em forma de pomba. Prefiro o símbolo do fogo, que é um elemento menos material na aparência e, aliás, é como Ele se mostra em Pentecostes.
Eu comparo o Batismo de Jesus como o nosso sacramento da confissão, da penitência. O nosso atual batismo, na verdade, está mais fundamentado na circuncisão do que no batismo de Jesus. Veja a comparação:
1- Na circuncisão, a criança de oito dias era inserida, colocada, no povo de Deus. Ela começava a pertencer ao povo de Deus. É como no batismo!
2- Ela não expressava se queria ou não ser do povo de Deus. No nosso batismo, também não.
3- A circuncisão era uma marca feita para sempre, assim como o batismo.
4- A diferença está em que o batismo também pode ser dado às mulheres, o que não acontecia com a circuncisão, que só era feita nos homens.
O Batismo, diz S. Paulo, é a “Circuncisão do coração”, em que todo o pecado é cortado e jogado fora (Rom 2,29 etc).
Entretanto, o batismo de Jesus está aí colocado para mostrar que ele foi ungido pelo Espírito Santo para iniciar sua missão messiânica. Diz S. Pedro em Atos 10, 38:” Como Deus o ungiu com o Espírito Santo e com poder, ele, que passou fazendo o bem e curando a todos aqueles que haviam caído no poder do diabo, porque Deus estava com ele.”
Nisso o Batismo de Jesus se assemelha ao nosso: tornamo-nos sacerdotes, profetas e reis, e somos enviados a proclamar o Evangelho a todos os povos.
Mateus 4, 1-11: A TENTAÇÃO DE JESUS
Jesus foi tentado não só no deserto, mas a sua vida toda, inclusive na hora de sua morte, quando, por exemplo, alguém disse: “Desce da cruz, se és o Filho de Deus!”Ele realmente poderia descer, se quisesse!
As três tentações de Jesus no deserto estavam ligadas ao fato dele ser Deus e homem verdadeiros. Ele poderia ter resolvido os problemas do seu tempo com seu poder divino. Entretanto, e os demais anos e séculos vindouros? Como nós resolveríamos os nossos problemas?
Ele poderia fazer aparecer alimento; mas e os pobres de nossos dias, como ficariam?
Ele poderia tornar-se rei. Mas... e os demais governantes de nossos dias?
Ele poderia ser rico. Mas... e a má distribuição de riquezas de nossos dias? Como ele poderia combatê-la se tivesse sido um desses ricos?
Restou-lhe agir do modo mais difícil, ou seja, ensinando-nos o bom caminho, mudando nosso modo de agir, apontando-nos um caminho para o bem estar e a felicidade válidos para todos os tempos. E, sobretudo, dando-nos o exemplo de como fazer a vontade do Pai.
No deserto Jesus colocou-se à disposição do Pai totalmente, como seu Filho Único. Lá, Ele não precisava curar, nem pregar, nem fazer milagres: apenas colocar-se nos braços do Pai.
É interessante fazermos também essa experiência: coloque-se por alguns minutos diários nos braços desse nosso Pai amoroso. Esqueça-se, nesses minutos, que você é pecador, pai, mãe, filho, estudante, desempregado, que tem que chamar a atenção deste ou daquele, ou qualquer outra coisa. Apenas coloque-se nos braços do Pai, como Jesus fez, para que Ele lhe dê o conforto necessário.
Enfim, Jesus“È o Messias que abre o verdadeiro caminho da salvação, não o da confiança em si e da facilidade, mas o da obediência a Deus e da abnegação. Era preciso que encarasse a possibilidade de um messianismo político e glorioso, a fim de preferir a ele um messianismo espiritual, pela submissão completa a Deus” (Bíblia de Jerusalém).
AINDA SOBRE A TENTAÇÃO DE JESUS, SEGUNDO Fernando Armellini (ver detalhes no final do cap. 01).
Jesus foi tentado durante toda a sua vida, e não apenas nesses 40 dias do deserto. Por exemplo em Mt 27,45: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” Essa foi uma das tentações de Jesus.
No deserto, Mateus resume as tentações todas de Jesus em três, comparando-as às tentações do povo nos 40 anos do deserto, e que não foram vencidas por eles.
1ª tentação= o pão (vv 1-4)
Será que para ter uma vida bem sucedida é suficiente possuir muitos bens?
2ª tentação: pedir sinais a Deus (vv. 5-7)
Jesus se recusa a pedir sinais ou provas ao Pai. Nós pedimos sinais, como por exemplo quando falamos a Deus que, se ele nos ama, que nos ajude a encontrar um bom emprego, ou outras coisas. Poderemos, isto sim, pedir a Deus que sempre nos conceda forças para realizarmos sempre a sua vontade, seja ela qual for! Que saiamos das tentações mais amadurecidos, seres humanos mais autênticos.
3ª tentação: a do poder, da adoração àquilo que não é Deus (vv. 8-11).
“É diabólica qualquer forma de autoridade que se traduza em domínio, poder, prevaricação, pressão, imposição das próprias ideias e da própria vontade e que não respeite a liberdade do homem”.
Confira com o que disse Jesus a Pedro, em Mt 6,23, quando este lhe pediu que conquistasse o poder: “Afasta-te de mim, Satanás!”.
Os quarenta dias de Jesus no deserto, então, simbolizam os quarenta anos que o povo levou para ir do Egito à Terra Santa, com todas as tentações que o povo teve, mas não venceu, e que Jesus também teve, mas venceu.
Mateus 4,12-16: RETORNO À GALILEIA
Jesus morava na Galileia, foi para a Judéia, a fim de ser batizado por João Batista. Ficou um tempo lá, inclusive foi tentado no deserto. O trecho acima mostra que, ao saber que João tinha sido preso, voltou para a Galileia, nas não para Nazaré: mudou de cidade, indo morar em Cafarnaum, cidade que se situava à beira-mar.
Mais uma vez vemos como Jesus escolhia os lugares e os meios mais adequados à sua pregação. Devemos sempre procurar os melhores meios humanos para que a graça de Deus seja mais eficaz.
Não é próprio do cristão desprezar as conquistas humanas no campo da ciência, da física, da agricultura, do bem-estar, desde que não sejam meios ilícitos, contra a moral. Nós somos corpo e alma juntos, inseparáveis. A parte material deve estar bem estruturada para que a parte espiritual possa crescer e receber a graça de Deus.
Mateus 4,17: JESUS COMEÇOU A PREGAR
Jesus começou, então, sua vida pública, dizendo a todos: “Convertei-vos, porque está próximo o Reino dos Céus. “ A pregação de Jesus iria gerar em torno disto:
1- A realeza de Deus sobre o povo eleito e sobre o mundo.
2- Ele admite um “Reino de Santos”, dos quais Deus é o rei, reconhecido no conhecimento e no amor.
3- Essa realeza, comprometida pelo nosso pecado, deve ser restabelecida por uma intervenção soberana de Deus e de seu Messias, anunciada por Jesus.
4- Essa intervenção de Jesus não é de modo guerreiro e nacionalista, mas de forma toda espiritual.
5- Esse Reino será estabelecido de maneira definitiva e entregue ao Pai pela volta gloriosa de Cristo, por ocasião do Juízo Final.
6- Durante esse período de espera em que estamos, ele se apresenta como graça pura, aceita pelos humildes, pelos capazes de renúncia, mas rejeitada pelos orgulhosos e egoístas.
7- No Reino definitivo não se entra sem a veste nupcial de uma vida nova, recebida no Batismo, e há pessoas que serão excluídas (Mt 8,12; 1Cor 6,9-10; Gál 5,21).
8-É preciso, pois, vigiar, a fim de estarmos prontos quando ele vier inesperadamente.
Enfim, converter-se é, em resumo, deixar de agir segundo a própria cabeça e começar a agir conforme a vontade de Deus.
Mateus 4,18-22: VOCAÇÃO DOS 4 PRIMEIROS DISCÍPULOS.
É claro que o chamado de Jesus a pronta resposta desses quatro discípulos não deve ter sido de modo tão simples como lemos no evangelho. Talvez eles tivessem observado e muito as atitudes de Jesus no seu dia a dia e, percebendo nele sinceridade, determinação, força, simpatia, serenidade, acabaram atendendo a seu convite de segui-lo. Deixar tudo significa amar a Deus sobre todas as coisas.
Nós passamos, muitas vezes, muitos anos enganando-nos a nós mesmos e a outros, quando percebemos qual é a vontade de Deus a nosso respeito, mas não temos a coragem de praticá-la.
É preferível sermos criticados por termos feito alguma coisa errada durante a nossa prática da vontade de Deus, do que nunca precisamos ser criticados justamente por nuncça termos feito coisa alguma, por medo de agir.
Lembrem-se de que o julgamento deste mundo é passageiro, mas o julgamento do juízo final é para sempre!
Mateus 4, 23-25: AS CURAS
Jesus pregava o evangelho, ensinava e curava. Os milagres e as curas mostravam a todos que o Reino de Deus tinha chegado. Como diz Carlos Mesters, os milagres são as “amostras grátis” do Reino de Deus.
A cura da doença só tem sentido se nos convertermos ao mesmo tempo. Como diz o próprio Jesus, é melhor entrar no céu sem uma das mãos que, tendo as duas, ir para o inferno.
Desse modo, são duas as curas: é melhor suportar algumas contrariedades nesta terra que, sem contrariedade alguma, perdermos o paraíso.
Os muitos que seguiam Jesus talvez o faziam apenas pela curas, como vemos atualmente em certas seitas e religiões que se dizem cristãs, que prometem milagres e curas, mas não exigem um compromisso mais radical por parte dos seus seguidores, da vivência evangélica.
O conjunto dos capítulos 5,6 e 7 de Mateus formam o que chamamos de “Sermão da Montanha”, mas Jesus não disse tudo isso numa só vez, como se poderia supor: ele disse isso durante quase toda a sua vida pública. Mateus reuniu tudo nesses três capítulos e colocou Jesus falando de cima de um monte para lembrar Moisés: este transmitiu a lei antiga; Jesus transmite a lei nova, um novo modo de entender a vontade de Deus. A de Jesus é mais profunda, dando mais valor ao que temos no coração, em nosso íntimo, nossa intenção sincera de servir e agradar a Deus, e não como a de Moisés, que se contentava com o exterior, com os atos externos.
Se prestarmos atenção, veremos que o mesmo sermão é colocado, por Lucas, na planície, como atestaLucas 6,17: “E, descendo com eles, parou num lugar plano...”. É que Lucas era de origem pagã, e os pagãos apreciam o fato de Jesus ter descido ao nível humano, tornou-se homem como nós. Já Mateus, de origem judaica, quer mostrar que os judeus devem acreditar na divindade de Jesus, que tem a mesma autoridade do Pai, quando aprofunda os dez mandamentos, dados a Moisés. Essa é a diferença pela qual Mateus nos apresenta Jesus falando de um monte (=acima de todos) e Lucas, Jesus falando na planície (=ao mesmo nível de todos).
Mateus 5,1-12: AS BEM-AVENTURANÇAS
“Bem-aventurados os pobres em espírito porque deles é o Reino dos Céus”; “Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus”. Essas duas bem-aventuranças são, na verdade, as principais, que resumem as outras seis.
Ser pobre em espírito é renunciar às riquezas e a uma vida fácil, mesmo havendo essa possibilidade, para viver uma vida mais simples e partilhada. Não é pobre em espírito aquele que “sente-se” pobre, mas continua, efetivamente, vivendo uma vida de rico, sem partilhar o que possui.
Ser “pobre em espírito” é viver uma vida modesta, simples, embora se tenha condições mentais, sociais e físicas de se viver de modo mais sofisticado e rico.
Fernando Armellini tem uma ideia um pouco diferente. Ele cita Lucas 14,22: “Assim, pois, qualquer um de vós, que não renunciar a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo”, para dizer que Jesus exige a pobreza radical.
Minha opinião é um pouco diferente (se é que ela vale alguma coisa. Não posso me comparar ao Fernando Armellini!): Vejo que Jesus convidou várias pessoas a viverem a pobreza em pelo menos três graus diferentes: Ao jovem rico, exigiu 100%, tudo; A Zaqueu, exigiu uma parte: ele ia dar 50% aos pobres e devolver 4 vezes o que havia roubado, como exigia a lei. E não consta que ficou pobre de uma vez. Ao jovem Gadareno, de quem expulsou a legião de demônios que foi para os porcos e os fizeram precipitar no precipício, Jesus não exigiu nada: apenas deu-lhe uma vocação única, que a ninguém mais havia dado: “Volte para sua casa e conte a todas as pessoas o que eu fiz por você”.
A meu ver, isso indica que nem todos precisam viver numa pobreza extrema para agradar a Deus. Mas isso implica também que não podemos nos dar ao luxo de sermos ricos num mundo em que milhões morrem de fome ou vivem uma vida abaixo do nível suportável! “In médio est virtus” (A virtude está no equilíbrio), nos diz São Tomás de Aquino. Eu diria, pois, que cada um deveria fazer um bom exame de consciência e ver como está vivendo sua vida em relação aos bens.
É ridículo, a meu ver, ver padres e pessoas religiosas vivendo uma vida rica , com todas as mordomias. Se deixamos família e tantas coisas para exercermos o nosso ministério, ou vivermos uma vida religiosa, mais próxima aos pobres e necessitados, não deveríamos viver numa burguesia que deve mesmo até agredir a Deus. Diz um bispo católico brasileiro que “Ou a Igreja se torna uma Igreja pobre, ou não é a Igreja de Cristo! “ Vou ficar devendo a vocês o nome do nosso profeta que disse isso.
A oitava bem-aventurança lembra os que são perseguidos por partilharem seus dons e seus bens com os outros e defenderem os pobres e injustiçados.
As demais bem-aventuranças:
MANSOS - Os que não resolvem os problemas de modo violento, mas no diálogo e na misericórdia.
AFLITOS - Os que se preocupam com o modo com que as pessoas mais simples vivem, os que sofrem, os injustiçados, a discrepância entre ricos e pobres.
FOME E SEDE DE JUSTIÇA – Os que querem sanar as diferenças sociais e injustas entre as pessoas.
OS MISERICORDIOSOS:- Os que procuram ajudar os demais, a promoverem os que vivem em situação de miséria e pobreza, ou mesmo pessoas abastadas que foram abandonadas pela família, vivem isoladas, ou doentes, e assim por diante.
OS PUROS DE CORAÇÃO – Os sinceros, que não têm “duas caras”, que não mentem, que não usam máscaras. A pureza aqui não se refere à castidade.
OS QUE PROMOVEM A PAZ :- No diálogo e no entendimento, no perdão mútuo. Os que combatem a ganância, a violência, o desentendimento, o preconceito social e racial, enfim, os que combatem tudo o que é a causa de tantas guerras.
“Bem- aventurados” significa, também, “felizes”. A felicidade mostrada por Jesus é muito diferente daquela mostrada pleo mundo. A do mundo baseia-se nos vícios, nos prazeres materiais, que podem até trazer uma certa “felicidade” num primeiro momento, mas azeda tudo logo em seguida. O sofrimento que se segue à prática de um vício não o compensa. Quanto à felicidade que Jesus ensina, é sólida, duradoura e permanente. A satisfação que uma pessoa sente em estar praticando a vontade de Deus supera e muito o incômodo das renúncias e das partilhas que a acompanham. Na verdade, acaba-se habituando com o bem de tal maneira, que sua prática se torna fácil e tranquila.
Mateus 5,13- O SAL DA TERRA
A tradução mais correta: “se o sal se tornar insosso, com que o salgaremos?” Se ele perder o poder de salgar, nada mais será capaz de fazê-lo novamente salgado (ou seja, não haverá mais o sal). Assim, se perdermos a fé em Jesus Cristo, como poderemos readquiri-la, se nós é que somos os cristãos e os que acreditam em Deus? Em outras palavras: se nós cristãos perdermos a fé em Jesus Cristo, ninguém mais poderá ajudar-nos.
Mateus 5,14-16:- A LUZ DO MUNDO
A árvore boa ou má se conhece pelos frutos. Se praticarmos a Palavra de Deus, outros vão perceber isso e vão deixar-se iluminar pela luz de Cristo.
Certa vez um padre foi preso injustamente e um dos vigilantes da prisão não acreditava em sua inocência. Ao vê-lo receber muitas cartas, uma cesta de café da manhã belíssima e muitas visitas, o vigilante pegou em seus ombros e disse: “Padre, eu estou começando a acreditar em sua inocência!”.
Se vivermos o evangelho, essa vivência é a luz refletida de Cristo, que vai iluminar as pessoas que encontrarmos em nosso caminho, as pessoas com quem vivemos no dia a dia. Nós não temos a luz: ela nos vem de Deus. Não podemos olhar para o sol, mas podemos olhar para a sua luz refletida na lua. Quem vê nossa luz, não vai ficar ofuscado, se ela for a luz de Deus. Se quiséssemos iluminar com uma luz própria nossa, os olhos das pessoas se ofuscariam.
Mateus 5,17-19:- A LEI
A lei foi feita para nos proteger de nós próprios e dos outros. Uma comunidade, seja ela grande ou pequena, que procura seguir as leis, será uma comunidade feliz, onde todos respeitam o espaço de todos. Querem ver onde os pertences de uma pessoa são respeitados e ninguém rouba? Na prisão! Lá, o preso pode largar suas coisas em qualquer lugar que não some. Seguir as leis significa, pois, manter a serenidade da comunidade e das pessoas.
Jesus, em outras ocasiões, lembrou que a lei deve ser seguida enquanto a caridade possa ser exercida. Quando precisamos escolher entre lei e exercer a caridade, a caridade é que deve ser levada em consideração. Ele mostra como exemplo o fato de que, para matar a fome, uma pessoa pode muito bem ir contra a lei do descanso pleno do sábado, em sua época. A vida está acima das leis convencionais.
Jesus, entretanto, deu uma forma nova e definitiva à lei:”O amor, em que já se resumia a lei antiga, torna-se o mandamento novo de Jesus e o cumprimento de toda a lei “ (Bíblia de Jerusalém).
Mateus 5,20:- OS ESCRIBAS E OS FARISEUS
Jesus introduz, com este versículo, a nova mentalidade com que a lei deve ser vista. Não podemos nos limitar no que a lei diz externamente, mas ir além do que ela pede. E dá vários exemplos, como veremos a seguir.
Mateus 5,21-26: NÃO MATARÁS
A lei mandava apenas não matar. Jesus aprofundou: não só não matar, mas também não xingar, não humilhar os outros, não fazer fofocas, não caluniar, não buscar vingança, não manter no coração pensamentos maus e nocivos para com os outros.
Mateus 5,27-32: O ADULTÉRIO
Jesus lembra que não só não podemos praticar o adultério, mas também devemos manter a castidade, de acordo com a condição de solteiros (viúvos) ou casados. O adultério é, principalmente, um pecado contra a caridade, já que desestabiliza uma ou as duas famílias completamente.
Mateus 5,33-37: NÃO JURAR
Sejamos sempre sinceros e nunca precisaremos jurar. Seja o nosso sim, sim, e o nosso não, não. Quanto às promessas, é preciso cumpri-las. Se não conseguirmos, peçamos a um sacerdote que nos permita mudar nossa promessa para uma mais fácil de ser cumprida.
Mateus 5,38-42:- A VINGANÇA
Não devemos manter pensamentos de vingança no coração. Se Deus fosse vingar-se de tudo o que fizemos de errado, estaríamos perdidos! Se alguém nos fez algum mal, não pensemos em vingança. Deixemos que Deus resolva o problema. Coloquemos isso nas mãos de Deus e sigamos nossa vida em paz. Sobretudo, além de não nos vingar, devemos rezar pela pessoa que nos prejudicou.
Mateus 5,43-48: AMAI OS VOSSOS INIMIGOS
Amar não é o mesmo que gostar. Jesus mandou que amássemos, e não que gostássemos de nossos inimigos. Ele também não disse: “ Não tenham inimigos”. Se fulano é meu inimigo, é porque não gosto dele. Mas devo amá-lo, ou seja, se o meu inimigo tiver fome, devo dar-lhe de comer. Se tiver sede, devo dar-lhe de beber, etc.
Não precisamos gostar das pessoas, mas tratá-las bem, não lhe desejarmos mal, e se elas precisarem de nós, desde que não seja para fazer alguma coisa errada, devemos ajudá-las. Deus não deixa de derramar seus dons também sobre os maus.
Mateus 6,1-4 : A ESMOLA
Quando fizermos algo bom, não devemos nos mostrar para sermos aplaudidos pelas pessoas. Basta saber que Deus está vendo, além do fato de nos sentirmos bem ao fazermos algo bom. O importante não é o que as pessoas pensam de nós, mas o que somos diante de Deus. Mais cedo ou mais tarde as pessoas vão descobrir que temos muitos valores que estavam ocultos. Por enquanto, basta que Deus saiba que estamos indo pelo caminho certo. Se alguém souber, tudo bem, às vezes é inevitável.
O Santo padre Pio dizia que o pior pecado que existe é a vanglória, justamente porque não há uma virtude contrária a ela para que possamos combatê-la: a gente se vangloria de ajudar os outros, de ser santo, de não cometer pecados, sem perceber que já está fazendo um, que é a própria vanglória.
Mateus 6,5-6 – A ORAÇÃO PARTICULAR
A oração é algo muito pessoal entre nós e Deus. Não é necessário que todos saibam o quanto rezamos. Esse trecho não proíbe a oração pública, comunitária. Só está dizendo que essa oração, quando for pública, deve ser sempre comunitária. Seria até esquisito se estivermos com outras pessoas na igreja e começarmos a rezar em voz alta sozinhos. Se na igreja não houvesse mais ninguém, até poderia ser. Entretanto, se houver mais pessoas, ou rezamos com elas ou rezamos em silêncio, sozinhos, se todos estiverem fazendo isso. Outra coisa esquisita é quando todos estão rezando juntos e alguém está rezando sozinho, sem participar da oração comum. Por exemplo, aquelas pessoas que ainda insistem em rezar o terço enquanto “assiste” a Missa (é, assiste, porque não está participando dela).
Mateus 6,7-8:- REPETIR ORAÇÕES
“Não useis vãs repetições”. Muitas pessoas já me perguntaram se essas palavras não condenariam o terço, por exemplo. Não, não condena. O que os pagãos faziam e que Jesus está mostrando como algo errado, é rezar de modo desesperado, sem aquela confiança filial no Pai. Rezar é como estar ao lado do Pai, conversando com ele de modo amigável. Não é algo desesperador, como certas orações supersticiosas, ou como se estivéssemos conversando com alguém meio surdo. É, muitos acham que Deus é mudo, surdo e cego.
Há certas orações supersticiosas, como uma de São Judas, que prometem castigos para quem não fizer certo número de cópias e espalhar. Ora, um santo é incapaz de fazer qualquer coisa para prejudicar-nos! Não são, realmente, as repetições de palavras que vão “convencer” Deus a nos ajudar.
No caso do rosário, as Ave-marias são como um mantra, uma música de fundo, para entrarmos no clima de oração e meditarmos os santos mistérios da vida de Jesus Cristo. Quem dizia isso era o papa Paulo VI.
Santo Agostinho dizia que a perseverança na oração prepara o nosso coração e a nossa vida para a graça que Deus nos vai dar. Deus nos ouve na primeira vez e não precisa ouvir mais, mas nós precisamos estruturar nosso ser para que, quando Deus nos atender, sua graça seja bem aproveitada. É como o pai faz: promete a bicicleta do filho no início do ano, mas só lha dá se ele for bem na escola, for comportado etc. Quando o filho for receber a bicicleta no Natal, decerto vai tratá-la melhor, com mais cuidado, e sua alegria será mais gratificante.
Diz o Eclesiástico 7,14: “Não fale muito na assembléia dos anciãos e não repitas as tuas palavras na oração” e também Eclesiastes 5,1: “ Que tua boca não se precipite e teu coração não se apresse em proferir uma palavra diante de Deus, porque Deus está no céu, e tu sobre a terra; portanto, que tuas palavras sejam pouco numerosas”.
Eu diria: nas nossas orações, tenhamos confiança, tenhamos fé. Não rezemos desconfiados. Rezemos com a convicção de que estamos sendo ouvidos por Deus.
Mateus 6,9-15: O PAI – NOSSO
A oração do Pai-nosso em Mateus tem sete pedidos (Mateus gosta muito no número sete, muito simbólico entre eles: é o número da perfeição):
1- Santificado seja o vosso nome:- por toda a terra reconheçam que Deus é o Criador e nos salvou na pessoa de Jesus.
2- Venha a nós o vosso reino: - Que a terra toda se converta e todos pratiquemos nossa filiação divina.
3- Seja feita a vossa vontade:- na terra, do mesmo modo como ela é feita no céu: que compramos sempre a vontade de Deus, como ela já é feita há muito tempo pelos anjos.
4- O pão nosso de cada dia: pede o alimento de hoje, o alimento diário, e a permanência num emprego, num trabalho, para se conseguir o “pão”, aqui simbolizando o alimento. Pede também a presença de Cristo em nossa vida. Ele é o nosso alimento. Não devemos pedir nem a riqueza nem o luxo. Os pais da Igreja (padres e bispos que viveram no início de nossa era cristã) diziam que nesse pedido nós também pedimos que não nos falte a Eucaristia.
5-Perdoai-nos as nossas ofensas:- aqui pedimos a Deus que nos perdoe com a mesma medida com que estivermos perdoando aos demais, ou seja, devemos perdoar sempre, a fim de que Deus também nos perdoe. Se não estivermos perdoando aos outros, “por tabela”, estamos pedindo a Deus que não nos perdoe! Pense nisso!
6- E não nos deixeis cair em tentação: - Evitar o pecado é mais fácil do que querer sair dele. É como um tobogã: quando iniciamos a descida, dificilmente conseguiremos parar no meio do caminho.
7- Mas livrai-nos do mal: - O pior mal que pode nos acontecer é abandonar a Deus, abandonar a luta por uma vida mais santa e por um mundo melhor.
A oração do Pai-nosso termina no versículo 15, lembrando que quem quiser o perdão de Deus, tem também que dar o seu perdão aos que o ofenderam.
Mateus 6,16-18: - O JEJUM
Sem muito comentário, podemos dizer que o jejum ou qualquer penitência que fizermos será vista e aceita por Deus. Não é preciso que outras pessoas fiquem sabendo disso. Basta que Deus o saiba. Tenhamos cuidado com a vanglória, com a vaidade, com o orgulho.
Mateus 6,19-21:- A POBREZA EVANGÉLICA
“Onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração”. Precisamos aprender a viver com pouco, com poucas coisas. A mídia, atualmente, quer criar em nós muitos hábitos de consumo, para criarmos falsas necessidades em nossas vidas e assim gastarmos cada vez mais. Muitos de nossos costumes são hábitos desnecessários.
Não devemos pensar muito nos bens materiais, nem em aumentar muito a nossa conta bancária. Se fizermos isso, vamos ficar preocupados com o dinheiro, com o bem-estar e acabamos nos esquecendo de Deus ou do trabalho em favor de um mundo melhor, um mundo mais cristão, mais misericordioso. Diz o ditado popular que o pouco com Deus é muito, e o muito com Deus é nada.
Nosso verdadeiro tesouro é ter Deus como nosso Pai. O resto é supérfluo!
Mateus 6, 22-23:- O OLHO É A LÂMPADA DO CORPO
Se cuidarmos bem em vermos só coisas boas, teremos menos tentações e viveremos felizes. Se vermos coisas boas mas as azedarmos com nossa malícia, viveremos infelizes.
Procuremos, pois, cuidar de olharmos as coisas sem malícia, sem maldade no coração, sobretudo sem julgarmos mal as pessoas. Todo o nosso ser agradecerá, pois permaneceremos na paz e na alegria de sermos amados por Deus e não seremos corroídos pelo pecado.
Mateus 6,24:- DEUS E O DINHEIRO
É a mesma reflexão que o trecho do tesouro: a ganância e o apego às coisas materiais não combinam com o cristianismo. O dinheiro pode nos trazer muito conforto e bem estar, mas acabamos praticando injustiças, caindo nos vícios, ficamos aborrecidos com a facilidade que temos em adquirir coisas e nada mais passa a nos saciar. Daí provêm a infelicidade, o suicídio, o alcoolismo, a dependência química (inclusive a remédios), ao tédio, ou, no mínimo, uma vida relaxada e sem sentido. Lembrem-se de pessoas ricas infelizes, como Michel Jackson, Marylin Monroe, Elis Regina, Jenny Joplin etc., que acabaram pondo fim à vida. Eram ricos... em dinheiro e em infelicidade!
Se escolhermos servir a Deus, vamos ser felizes, pois “Quando Deus for tudo em todos (S. Paulo), não haverá mais desejos, pois Deus é tudo o que uma pessoa possa desejar” (Sto. Agostinho).
Mateus 6,25-34:- A PROVIDÊNCIA DIVINA
Diante de tudo o que dissemos acima, devemos confiar plenamente na Divina Providência. Deus não deixa faltar o mínimo necessário para nossa subsistência, pelo menos enquanto estivermos livres fisicamente, quando confiamos plenamente nele, e não nos desesperamos diante dos problemas. Isso só não acontece quando os homens impedem a ação de Deus quando não permitem que a ajuda seja dada. Deus alimenta os pássaros, por exemplo, quando estão na natureza; entretanto, se você prender um deles, se você não o alimentar, ele morrerá de fome.
Não adianta darmos a vara para a pessoa pescar o peixe, assim também não adianta a ensinarmos pescar, se o rio (a sociedade) estiver poluído, ou seja, se imperar a injustiça, a ditadura, a falta de liberdade econômica para o povo. Por pior que seja a nossa ação, Deus a respeita e não interfere onde ele não é bem-vindo, onde não é chamado.
Um santo mártir (parece que São Januário) foi condenado à fogueira; Deus não permitiu que o fogo o queimasse; foi colocado com os leões; Deus não permitiu que as feras lhe fizessem mal; foi mandado ser decapitado: aí, Deus não interferiu, pois era um ato humano, e Deus não interfere nos atos humanos sem a permissão do homem.
Mateus 7,1-5:- NÃO JULGAR
Julgar é diferente de fazer uma crítica construtiva. Fazemos uma crítica construtiva quando, por exemplo, apontamos um determinado defeito ou coisa errada de alguém que nos pediu conselhos ou que tem algum modo de relacionamento conosco, principalmente se somos responsáveis pelo seu serviço, ou essa pessoa nos é subordinada de alguma forma.
Julgar pelo contrário, é bem diferente: significa colocar má intenção em qualquer coisa que nos fazem, mesmo que não saibamos o motivo pelo qual aquilo foi feito. É julgar que a pessoa agiu de modo mal intencionado.
Dou um exemplo prático: você, sem querer, quebra o vaso preferido de sua esposa. Se ela disser: “Querido, tenha mais cuidado ao andar pela casa! Esse vaso era de minha estimação! Você é muito desajeitado!”, não está fazendo nenhum julgamento, não está fazendo pecado algum. Só criticou construtivamente. Entretanto, se ela disser: “Querido, você quebrou o meu vaso preferido só porque foi minha mãe que me deu! Como você é maldoso e vingativo!”, então está fazendo um julgamento e um pecado, pois julgou o marido! Ela colocou no ato dele uma má intenção que apenas Deus poderia saber se houve ou não. Por isso que a sagrada escritura diz que devemos deixar a Deus o julgamento. Só e apenas Ele tem condições de saber qual foi a intenção de cada ato que praticamos.
Mateus 7,6:- NÃO DAR AOS CÃES O QUE É SANTO
Há coisas que devemos guardar só para nós mesmos, como certas confidências, certas graças recebidas. Não percamos tempo tentando fazer que uma pessoa sem nossa vivência religiosa entenda certas coisas bonitas de nossa religião. Nunca vão entender! Mesmo Jesus, ao conversar com a samaritana ao lado do poço, não disse a ela senão coisas do dia a dia, a que ela estava acostumada: “Quem beber da água que tenho, nunca mais terá sede”.
No versículo em questão, trata-se de não dar aos cães porção de carne consagrada e alimentos consagrados no Templo. Seria hoje como dar ao seu cão o pãozinho bento da Missa de Sto. Antônio, por exemplo. Desse modo, nem todos vão entender nossas devoções e nosso modo católico e religioso de agir, nosso caminho de santificação. Vão achar que somos malucos.
Precisamos aqui refletir um pouco como é que a comunhão está sendo dada e a quem. Qual é o critério para saber se uma pessoa pode ou não comungar? Geralmente nunca se nega a comunhão, a não ser que a pessoa esteja visivelmente bêbada ou drogada, ou coisa parecida com isso. E nós? Será que estamos recebendo a comunhão pelo menos com vontade de melhorar nossa vida cristã?
Mateus 7,7-11:- CONFIAR NO PAI.
Se Deus não lhe concedeu uma graça pedida, Ele tem uma boa razão para isso, Confie nele e procure fazer a sua vontade. Diz Santa Teresa de Ávila (ou de Jesus): “Nada te perturbe, nada te espante, tudo passa. Deus nunca muda. A paciência tudo alcança! Quem a Deus tem, nada lhe falta. Só Deus basta!”.
Muitas vezes não pedimos a Deus o pão, mas a pedra! Pedimos o escorpião e não o peixe! Não sabemos, muitas vezes, que estamos pedindo coisas que nos vão levar ao inferno. Deus, em sua infinita bondade e sabedoria, como nos ama, e sabe que O desejamos em nossa vida, não nos concede aquela graça pedida, mas uma outra, que nos vai ajudar a irmos para o céu.
Mateus 7,12 :-A REGRA DE OURO
No AT a regra era no sentido negativo: “Não faça a outro o que você não quer que façam a você”. Jesus coloca a frase no sentido positivo, que é bem mais exigente: “Faça aos outros tudo aquilo que você quer que façam a você”. Pense um pouco na diferença entre essas duas frases!
Mateus 7,13-14:-A PORTA LARGA E A ESTREITA
Os dois caminhos: o bem e o mal. Cabe a nós escolhermos um dos dois. O do bem é mais estreito e apertado que o do mal. Mas vale a pena! Ele termina na felicidade eterna!. Veja também oDeuteronômio 30, 15ss, em que dois caminhos nos são propostos, e o autor nos aconselha a escolhermos o caminho do bem, que nos leva à vida; o outro, do pecado, nos leva à morte.
Mateus 7,15-20:- OS FALSOS PROFETAS
Geralmente são os que só nos elogiam e sempre falam coisas que nos agradam. O verdadeiro profeta é o que fala sempre a verdade, mesmo que ele nos seja doída e exija a nossa conversão. Conhecemos os verdadeiros e os falsos profetas pelos bons frutos que eles proporcionam ou não e pelo que fazem de bem ou de mal.
A segunda carta de São João adverte as comunidades a se precaverem dos falsos profetas e aconselha: “Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina (do cristianismo, do amor a Deus e ao próximo) não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis”.
Mateus 7,21-27:- A PRÁTICA É QUE VALE.
A prática da palavra de Deus vale mais do que mil palavras. Não adianta dizer que se ama a Deus, se não se pratica esse amor com atos concretos, como aliás S. João repete várias vezes em sua primeira carta: Quem diz que ama a Deus, a quem não vê, mas não ama ao irmão, a quem vê, é mentiroso e faz Deus de mentiroso”. (1ªJo 4,20).
Quando praticamos a palavra de Jesus somos como os que constroem a casa sobre a rocha: nada a derrubará. Os que não praticam e não buscam a Deus, são os que estão construindo a casa sobre a areia: qualquer chuva a derrubará.
Isso está bem claro! Se nos baseamos em coisas supérfluas, em falsas necessidades, em falsos deuses, achando que somos eternos nesta vida, achando que sempre seremos jovens, estaremos construindo nossa casa sobre a areia! Os tempos bons vão embora e não vamos saber enfrentar os tempos maus.
Entretanto, se basearmos nossa vida em Deus, nas coisas santas, sempre teremos paz, seja qual for nosso tipo de vida, mesmo nos sofrimentos e provações. Nossa casa nunca desabará. Construir a casa sobre a rocha é atrelar em Deus a nossa vida. E não conseguiremos fazer isso sem praticarmos a misericórdia em relação aos nossos irmãos. Amar ao próximo é o termômetro que nos indica se estamos ou não amando a Deus.
Mateus 7,28:- A AUTORIDADE DE JESUS
Jesus ensinava com autoridade porque Ele praticava aquilo que ensinava! É pelos frutos que se conhece a árvore! Uma palavra de quem pratica o evangelho, ou que se esforça por praticá-lo, vale mais do que mil palavras de quem não o pratica. A gente ouve com gosto certos homens e mulheres quando vemos que eles levam a sério o que falam e procuram praticar o que dizem. Pergunte-se um pouco o porquê você gosta mais de determinado padre do que de outro! A bondade, a paciência, a atenção com que trata as pessoas, fazem a diferença.
Dizia o beato Irmão Carlos de Foucauld: “Gritar o evangelho com a própria vida”! Ou seja, viver tão santamente, tão intensamente a vida cristã, que nossa vida em si já seja a proclamação do evangelho e essa prática intensa não reflitam apenas palavra pronunciadas baixinho, mas seja um verdadeiro grito, que atinja todas as pessoas.
Mateus 8,1-4: A CURA DO LEPROSO
De modo geral, as doenças, naqueles tempos, significava que a pessoa tinha sido pecadora e estava sendo castigada por Deus. O leproso era, portanto, a própria imagem do pecador. Curar a lepra pode, pois, ter também o sentido de perdoar, purificar do pecado.
Os milagres de Jesus mostram “seu poder sobre a natureza, particularmente sobre a doença, que é uma imperfeição da natureza, trazida ao mundo pelo pecado. As curas de Jesus inauguram a vitória do Espírito Santo sobre o império de satanás e sobre as forças do mal, pecados e doenças” (B. Jerusalém)
Mateus 8,5-17:- DIVERSAS CURAS
O centurião mostrou uma fé que nunca Jesus havia visto entre os seus, do povo de Deus. Ele abre, aí, uma possibilidade aos pagãos de tomarem os lugares dos judeus que não acreditaram nele.
“Jesus não pode realizar os milagres quando não encontra a fé que lhes pode dar o verdadeiro sentido” (B.J.).
O centurião foi muito humilde e recebeu a graça. “A fé é um gesto difícil de humildade que muitos se recusam a fazer, particularmente em Israel” (B.J.)
Os endemoniados eram, em sua grande maioria, pessoas com problemas mentais e neurológicos. Aliás, qualquer doença era tida como “possessão”. Na cura da sogra de Pedro, por exemplo, o texto diz que “a doença a deixou”, ou seja, como se fosse um ser, um demônio.
Mateus 8,18-22:- A VOCAÇÃO E SUAS EXIGÊNCIAS
Nesse trecho Jesus fala que não é fácil ser apóstolo! A luta e o trabalho são difíceis, e exigem muito da pessoa. É só confiando plenamente na graça de Deus que conseguimos. É preciso deixar até os familiares em segundo plano. Deixar que “os mortos sepultem os mortos” significa que se não buscarmos o Reino de Deus nós vegetamos, não vivemos, pois “Sem Deus, a criatura se reduz a nada”, diz um documento da Igreja. Sem Deus, a vida não vale a pena e não vivemos uma vida real: andamos por aí como zumbis, como se estivéssemos mortos.
Mateus 8,23-27:- A TEMPESTADE ACALMADA
Jesus mostra novamente seu poder sobre a natureza e o mal. O mar representava o mal. Jesus, acalmando o mar, mostrou que dominava também o mal. Confira Apocalipse 4,6: Havia um mar vítreo, semelhante ao cristal, ou seja, o mar dominado, amansado, significando que o mal tinha sido dominado.
Mateus 8,28-34: OS ENDEMONIADOS GADARENOS
As pessoas pediram que Jesus saísse de seu território porque preferiam ficar com os endemoniados que perder uma manada de porcos. É que Jesus expulsou os tais demônios e eles entraram nos porcos, fazendo com que se atirassem no precipício e morressem. Os próprios demônios reconhecem Jesus como o Senhor, mas os gadarenos não quiseram nem pensar no assunto.
Será que em nossa vida não fazemos aproximadamente como esse pessoal? Já ouvi muitos me dizerem que não iriam se confessar tal dia porque iriam em tal lugar no final de semana e lá iriam pecar... Ora, Deus sabe tudo, e vê se estamos ou não sendo sinceros. Preferir coisas materiais do que a graça de Deus, é coisa do maligno e que nos traz muita infelicidade. Diz Santo Agostinho: “”Quando Deus for tudo em todos, não haverá mais desejos, porque Deus é tudo o que uma pessoa pode desejar”!
Mateus 9, 1-8: A CURA DO PARALÍTICO
Aqui, além da cura, Jesus mostra que tem o poder de perdoar os pecados, além de separar a ideia de que é doente quem é pecador. Os israelitas pensavam que a doença era fruto do pecado, ou seja, todo doente seria um grande pecador que estaria sendo castigado por Deus. Jesus aproveitou-se dessa crença errada para, ao curar o paralítico, mostrar que Ele tinha também o poder de perdoar os pecados.
A paralisia tinha também o significado da falta de ação. Curar o paralítico queria dizer, também, às pessoas, que caminhassem em sua vida, para uma conversão contínua, rumo ao Reino dos Céus.
Mateus 9,9: A VOCAÇÃO DE MATEUS
Mateus era também chamado de Levi. Ele fazia a coleta de impostos para o governo. Talvez a história de sua vocação não tenha sido tão rápida como se lê. Pode ser que já havia observado Jesus por dias e dias. Quando Jesus chamou-o, ele provavelmente já havia meditado no assunto. Conosco, aliás, é assim que funciona: nos nos sentimos atraídos por um determinado modo de vida, vamos pensando no assunto, tomando providências, até que um dia vem em nossa cabeça a certeza de que é aquilo mesmo que queremos: deixamos, então, muitas coisas de lado para seguirmos nossa vocação.
Nós temos uma vocação maior, que engloba várias outras menores. Vale a pena cultivar a maior e procurar crescer nas menores, sempre nos perguntando se é realmente aquilo que Deus quer de nós e, claro, rezando para que estejamos ouvindo e entendendo bem os apelos divinos.
Por exemplo: ser padre é a vocação maior do Pe. Fábio de Mello. Ser cantor é uma das vocações menores dele. Se algum dia por algum motivo ele deixar de cantar, apenas deixou uma de suas vocações menores, mas continua com a maior, que é ser padre.
Mateus 9,10-13:- JESUS TOMA REFEIÇÃO COM OS PECADORES
Para os judeus, comer na mesma mesa que outra pessoa significava concordar com suas ideias. Jesus, ao sentar-se à mesa com pessoas consideradas “impuras” pelos fariseus, por terem profissões má afamadas, como a de cobradores de impostos, e por não cumprirem a maioria das 613 leis que orientavam a vida do povo, provocou a ira das autoridades judaicas. Se ele fosse uma pessoa sensata, pensavam os fariseus, não faria isso.
Jesus lembrou -lhes que ele veio para salvar os pecadores (“doentes”, fala o texto), e não os que se dizem sem pecados (os “sadios”, fala o texto). Ou seja: Mateus reconheceu-se pecador e mudou de vida. Seus amigos vieram para conhecer e ouvir Jesus. Esses eram os que se reconheciam pecadores. Os fariseus não se consideravam pecadores, mas santos, embora na verdade não o fossem, pois apenas observavam as leis de modo superficial e externo.
Jesus disse, então, aquela frase que é muito mal entendida hoje em dia: “Misericórdia é o que eu quero, e não o sacrifício”.
Podemos entender bem o que significa isso lendo Amós 5,21-25 ou Isaías 1,11-20 “Sacrifício” não é, aqui, sinônimo de “penitência” como entendemos hoje. Algumas pessoas dizem que essa frase quer dizer que Jesus prefere que pratiquemos a misericórdia do que fazermos penitência. Não é isso! Sacrifício era o ato de oferecer bois, carneiros, pombos, a Deus, por meio do sacerdote do templo. Eles eram matados, e uma parte oferecida a Deus, como se fosse o pedaço dele, e a outra parte era comida pelas pessoas. Como o animal tinha sido oferecido a Deus, ao comermos a nossa parte, estávamos, na verdade, comendo um alimento que vinha de Deus, que era de Deus: o animal não era mais de quem o havia oferecido.
É um pouco o que a gente faz com a Eucaristia: um alimento comum, oferecido a Deus, transformado em Deus e que ingerimos. Portanto, esses sacrifícios de animais foram substituídos por Jesus por seu próprio sacrifício e morte na cruz, culminando com a ressurreição. Ele é o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. A santa missa é o memorial, ou seja, a atualização, a presentificação da morte e ressurreição de Jesus Cristo.
Atualmente, a frase poderia ser lida desta forma: “Eu prefiro que você pratique a misericórdia(ajudar, partilhar com os outros, perdoar, ser amigo em todas as horas, não abandonar os necessitados) do que ficar o dia todo na igreja sem praticar essa virtude”.
Mateus 9,14-17: O JEJUM
Esse trecho mostra que o jejum só é aproveitado, se nós mudarmos totalmente nosso coração e aderirmos a Jesus. Se fizermos jejum mas continuarmos com nossos vícios, manias, pecados, de nada vai nos adiantar. O jejum pode também ser observado em outras coisas além da alimentação: televisão, deixar de reclamar de tudo, de murmurar, não falar mal dos outros, deixar algum tipo de lazer para ajudar alguém etc.
Mateus 9,18-19.23-26:- A CURA DA FILHA DE JAIRO
Jesus ressuscitou a filha de Jairo, chefe da sinagoga, com apenas um toque de mão. Ele tinha plenamente o poder divino, além de ser plenamente homem.
Mateus 9,20-22:- A HEMORROISSA
Jesus cura a mulher que sofria disso por 12 anos. A fé daquela mulher era tanta que achava bastar encostar a mão na veste de Jesus pra ser curada. E obteve a cura. Se tivermos fé, teremos também confiança plena na ação de Jesus em nossa vida, mesmo que pareça estar ele ausente. Ele, nessas horas de desânimo, está mais presente do que nunca!
Mateus 9,27-31: OS DOIS CEGOS
A fé dos cegos era forte e Jesus pôde curá-los. Para que Jesus mude nossa vida, temos que abrir para ele as portas de nosso coração! Os cegos “enxergavam” com os olhos da fé, muito mais do que os judeus, que não tinham problema de visão. E nós, será que às vezes não pedimos tantos sinais a Deus para que creiamos? Você precisa de estar sempre recebendo abraços e beijinhos de Deus para continuar crendo nele? Cuidado! Pode acontecer que haverão certos dias em nossa vida em que parece até que Deus nem existe! Como faremos, então? Algumas pessoas vivem procurando pequenos sinais de Deus no dia a dia. Não que isso seja errado, mas acho que se tivermos fé, teremos também plena confiança em Deus, em sua sabedoria, e teremos certeza de que Ele está cuidando de nós, como diz S. Pedro no final de sua primeira carta “Lançai sobre o Senhor todas as vossas preocupações, porque ele cuida de vós!”(1 Pe. 5,7);
Mateus 9, 32-34: O ENDEMONIADO
Como já dissemos, nem sempre essas pessoas tinham o “demônio no corpo”. Muitas vezes eram doentes mentais, ou tinham ataques epilépticos. Todas as doenças eram atribuídas ao demônio.
Mateus 9,35-38: OVELHAS SEM PASTOR
O povo tinha seus pastores, os sacerdotes e doutores do templo, mas não eram conduzidos, mas sim explorados por eles. Jesus é o Bom Pastor, que realmente cuida das ovelhas, para que nenhuma delas se perca.
Essa frase de Jesus: “Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie operários para a sua colheita” não significa apenas o pedido de padres, mas de todos os que possam trabalhar por um Igreja, uma sociedade, um mundo melhor, mais justo e cristão. É um pedido, além de padres, também de cristãos leigos engajados. Cada um de nós tem a incumbência de evangelizar. A ninguém essa missão é negada ou vedada. Jesus pede que todos nós proclamemos o evangelho, não só com as palavras, mas com a própria vida, como diz o pe. Carlos de Foucauld: “Devemos não só proclamar, mas gritar o evangelho com a nossa própria vida!”. Infelizmente todos nós temos história de mau exemplo em alguma parte de nossa vida, mas sempre é tempo de pedirmos perdão e recomeçarmos. Eu já recomecei um trilhão de vezes. E acho que tenho que recomeçar sempre. E você?
Mateus 10, 1-16:- A MISSÃO DOS APÓSTOLOS
Neste trecho ficamos sabendo sobre a vocação dos apóstolos, seus nomes, e o que Jesus pede a eles: anunciar a todos o Reino de Deus, curar os doentes, ressuscitar os mortos, curar os leprosos, expulsar os demônios (=vencer o mal), não cobrar nada por esse serviço, não acumular bens, viver com o que Deus provê no dia a dia.
Não escolher a casa em que vai pedir hospedagem, para não cair no erro de buscar a casa melhor, mais nobre, mais confortável: pedir pouso na primeira em que encontrar. A paz entrará naquela casa. Termina lembrando que deviam ser “Prudentes como as serpentes e sem malícia como as pombas”.
Ser prudente é, principalmente, evitar as ocasiões de pecado. Não entrar no pecado é muito mais fácil do que sair dele. Se a gente for lembrar-se dos pecados mais grave que cometemos, vamos chegar à conclusão de que não o evitamos, não fugimos da ocasião de pecar. Precisamos nos convencer de que não somos fortes! Somos sempre fracos! Se seguíssemos essa orientação, não teríamos feito muitas das coisas erradas que fizemos na vida.
Mateus 10,17-25: A PERSEGUIÇÃO DOS MISSIONÁRIOS
Este trecho dá uma ideia do que pode acontecer com alguém que se dedica à missão de evangelizar. É claro que não aconteceu com os doze naquele momento, mas aconteceria com eles e com muitos anos depois. Não podemos nos esquecer que o evangelho de Mateus foi escrito entre os anos 70 e 80 de nossa era, portanto 40 anos após a morte de Jesus.
Ser amado por Deus não quer dizer viver sem problemas, mas ter certeza de que, haja o que houver, Jesus está presente em nossa vida.
Quando escrevi isto (24/04/2002), estava fazendo uns meses de experiência num mosteiro e mudando de estilo de vida, com dúvidas profundamente angustiantes, sofrendo muito, mas não perdi a esperança, a confiança em Deus e a paz. Sabia que Deus permaneceria comigo, estivesse eu onde estivesse. Agora, exatamente 10 anos após (24/04/2012), vejo como Deus é bom e como NUNCA nos abandona. Eu recomecei a viver uma vida diferente, de eremita de Jesus Misericordioso, e procuro consagrar a ele a minha vida, vivendo apenas o presente, não me preocupando com o passado (não está mais no nosso alcance mudá-lo) nem com o futuro (que está nas mãos de Deus), como dizia Santa Faustina Kowalska. E, neste meu presente, sei que Deus continua a me amparar em seus braços, sei que Maria continua sendo minha mãe querida, que sempre “passa na frente” e abre para mim os caminhos mais estreitos e difíceis. E com você, como está?
No versículo 21: “O irmão entregará o irmão à morte”, mostra bem a realidade de muitos de nós em nossa vida, quando pessoas puxam o tapete sob nossos pés seja no trabalho profissional, no lazer, no estudo, e até mesmo na comunidade eclesial.
Penso que o que move essas pessoas a fazerem o mal aos outros, é o medo da insegurança, o medo de ficar de lado, o medo de ser superado, o medo de ser denunciado, de passar fome ou qualquer outra necessidade.
Jesus termina esse trecho lembrando que, se o perseguiram, também perseguirão os que o seguirem. Não fiquemos tristes se formos perseguidos! Isso quer dizer, ao contrário do que pensamos, que Deus está mais conosco do que imaginamos. Diz oApocalipse 3,19: “Quanto a mim, repreendo e educo a todos aqueles que amo”.Se Deus permite a perseguição, o sofrimento, é porque nos ama e quer que nos salvemos!.
Mateus 10, 26-27: FALAR SEM MEDO
O que Jesus nos inspira, com suas palavras, pelas escrituras, devemos transmitir aos demais, tanto por meio das palavras como por meio do testemunho de vida. Como diz o Irmão Carlos de Foucauld, devemos “Gritar o evangelho com a nossa vida!”.Não tem sentido ficarmos com esses ensinamentos só para nós.
O medo impede muitas pessoas de serem apóstolas hoje em dia. Temos medo de fracassar, diante da violência com que muitas pessoas vão nos tratar; temos medo de sofrer não só essas violências, mas pelas inúmeras renúncias que teremos de fazer; temos medo de que nossa pregação possa prejudicar nossos familiares e amigos mais achegados...
Muitos vão chatear conosco porque não pecamos, não estamos “por dentro” das coisas malvadas, não participamos das “rodinhas de fumo”, não respondemos com violência às violências que nos fazem, não nos aproveitamos das “mulheres fáceis”, ou no caso das mulheres, não se aproveitam de sua beleza física nem da bobice masculina para fazer chantagem afetiva etc. O lema do mundo atual é “levar vantagem em tudo”, e se não fizermos isso não seremos aceitos pela sociedade. Daí vem a perseguição, a inveja, os ciúmes por parte de quem não quer ou não consegue levar uma vida santa.
Mateus 10,28-31: O QUE É PIOR?
Pior do que morrer, ser morto, é perder o paraíso! Devemos temer não a perseguição e a morte, mas o pecado!
Jesus nos dá, nos versículos 29-31, muita confiança sobre a proteção que Ele vai nos dar. Se Deus cuida até dos pardais, quanto mais de nós, que valemos muito mais do que muitos pardais! Estamos todos nas mãos de Deus, e nada nos faltará. Se faltar, não foi por culpa dele, que respeita a liberdade até dos que nos oprimem e martirizam. A recompensa será magnífica! O Céu nos espera!
Mateus 10,32-33- TESTEMUNHAR
Todos os que praticarem a vontade de Deus e derem testemunho de Jesus, Ele os amparará quando chegar a prestação final de contas. Se eu morrer agora, estarei eu preparado para isso? E você?
Mateus 10,34-36: AS DIVISÕES
Além do que eu já disse no trecho anterior, transcrevo aqui o que diz a Bíblia de Jerusalém: “Jesus é um 'sinal de contradição' que, embora não queira discórdias, as provoca necessariamente, em virtude da escolha que exige. Precisamos ser sinceros em nosso seguimento de Jesus Cristo, mesmo que isso irrite nossos familiares e amigos.
Mateus 10,37-39: A RENÚNCIA
Se ficarmos apegados à nossa família, à nossa vidinha, dificilmente vamos ser missionários e apóstolos. Temos que “sair da casca” e trabalhar por um mundo melhor, anunciar o evangelho no dia a dia, ou seja, mostrando a orientação verdadeira sobre os assuntos, mesmo que isso nos traga contrariedades. Quem quiser “achar” sua vida nos prazeres, egoísmos, pecados, enganações, mentiras, preguiça, e em tantas outras coisas, vai, na verdade, perdê-la.“Quem perder sua vida por amor a mim, vai, na verdade, achá-la” (v. 39).Estamos parecendo perder nossa vida quando não damos ouvidos aos apelos do demônio e do mundo, ou quando amamos o próximo sem outra intenção que a de ajudá-lo a ser feliz e a descobrir o amor do Pai. Nós nos aproximamos de Deus à medida em que nos aproximamos dos necessitados, dos desamados, dos que desanimaram no caminho de Deus.
Mateus 10,40-42:- É A MIM QUE O FIZESTES.
Para amar a Jesus, temos que aprender a amar o próximo. Só mostramos nosso amor a Deus quando amarmos sem restrições aos demais. Até um copo de água, dado aos empobrecidos da vida, receberá a recompensa. Como diz S. Francisco de Assis, tudo o que dermos aos outros em esmola ou como ajuda, levaremos para o céu. Tudo o que recebermos, deixaremos aqui na terra. Assim, aquele pão que você recebeu, sumiu, desapareceu. Aquele pão que você deu, que você partilhou, está anotado em seu livro da vida e terá recompensa!
Mateus 11,1-6: JESUS É O MESSIAS
Jesus mostra a João Batista, pela profecia de Isaías, que sua sobras são o começo da vinda do Messias (=era messiânica). Entretanto, para admiração do próprio João Batista, Jesus mostra essa era messiânica não como uma era de violência e de castigo, mas como uma era de misericórdia, de amor mútuo, de bondade, de perdão, de alegria, de exultação, de mentalidade aberta, de cura, de libertação e de salvação.
Você sabe que os judeus esperavam não um Messias (=Salvador) do tipo que Jesus foi, mas (e até agora esperam) um Messias guerreiro, rico, poderoso, que iria transformá-los num povo orgulhoso e dominador. O “jeitão” magnânimo, bondoso e misericordioso de Jesus decepcionou-os.
Aliás, nós também achamos que Deus deveria interferir no mundo e castigar os maus, acabar com a farra dos desonestos e daí para baixo. Quanta dificuldade temos em acolher um irmão que pecou, que passou por uma prisão ou coisa semelhante! Lembram-se do filho pródigo? Pois é! O irmão dele estrilou e se enraiveceu quando o pai recebeu-o de volta. Será que muitos de nós não fazemos o mesmo com nossos irmãos que pretendem recomeçar a vida?
Mateus 11,7-10- QUEM É JOÃO BATISTA?
Diz o texto que João Batista era um homem santo, penitente, sincero, firme, o que veio preparar a vinda do Salvador, do Messias. Ele não era como um caniço, uma vara fina, que se verga ao sabor do vento, ou diríamos hoje, um “Maria vai com as outras”. Ele ataca quem precisa ser atacado, mostra a verdade, doa a quem doer, e acabou sendo morto por apontar um adultério, o de Herodes com Herodíades. Quantas pessoas estão cometendo adultério, matando, roubando descaradamente (você pensou em algum político? Pois acertou!) em nossa sociedade e nós simplesmente cobrimos com toalhas quentes, não dizemos nada, tudo está bem, tranquilo... João Batista morreu apontando um adultério; Jesus morreu apontando o caminho errado que as autoridades judaicas estavam tomando e fazendo que o povo tomasse.
Mateus 11, 11-15: O MENOR DO REINO É MAIOR (não melhor) DO QUE JOÃO.
Apesar de João Batista ter sido um grande santo, ele tinha um olhar limitado do Reino de Deus. Quem veio depois, é maior no sentido de que vê mais longe que João, conhece coisas inefáveis, que ele apenas pressentiu. Jesus não disse “melhor”, mas “maior”. Ele foi o último profeta do AT. Com Jesus, a vinda do Reino de Deus se tornou realidade. Esse novo tempo que Ele inaugurou supera totalmente (=transcende) os tempos do AT, que precederam e prepararam a vinda de Jesus.
Quanto à violência mencionada, pode significar várias coisas. Para nós, basta lembrar que a renúncia aos vícios, aos pecados, é dura, fruto de muita luta e verdadeira violência, que temos de fazer a nós mesmos, para também sermos testemunha aos demais. Às vezes as tentações nos prostram, nos deixam desanimados. Não desanimemos! Continuemos lutando! Mesmo que a gente caia mil vezes, vamos nos reerguer outras duas mil!
Mateus 11,16-19:-PESSOAS VOLÚVEIS
Esse trecho, para mim, mostra que nós damos muitas desculpas para não seguirmos a palavra de Deus. Sempre encontramos algum motivo para não termos feito isto ou aquilo. Geralmente as pessoas culpam outras ou culpam os acontecimentos para desculparem os próprios erros, preguiças ou más ações. É hora de sermos sinceros e encararmos as próprias culpas, os próprios defeitos, e não culparmos os outros se somos infelizes.
Mateus 11, 20-24:- AI DE TI...
Jesus lamenta que as cidades de Corazim e Betsaida não tenham se convertido, apesar de seus inúmeros milagres feitos ali. Em nossa vida, quando pedimos a graça de Deus, as curas e outras coisas, devemos estar atentos, pois elas só serão úteis se nos levarem ao arrependimento e à mudança de vida. Não adianta nada, diz Jesus em outro lugar, ter as duas mãos e ir para o inferno. É melhor ter uma só, mas entrar no céu. Ou seja: se algo nos perturba a paz, nos faz pecar, deixemos isso de lado, mesmo custando o nosso sangue, e abracemos a vontade de Deus. Como diz Hebreus 12,4: “Ainda não resististes até derramar sangue na luta contra o pecado”.
Mateus 11,25-27:- O EVANGELHO REVELADO AOS SIMPLES.
É uma das poucas orações de Jesus narradas pelos evangelhos. Os pobres, humildes, marginalizados, aceitaram sua palavra de libertação, justamente por serem humildes, marginalizados, pobres, e não terem o que perder. Os pequeninos, aqui, são os discípulos. Os “sábios”, são os fariseus e os doutores da lei. “Estas coisas” (que estão sendo reveladas) são os “mistérios do Reino de Deus”.
É um pouco nesse sentido que Lucas fala, no sermão da planície: “Bem- aventurados os pobres, porque deles é o reino de Deus”. Ou seja: quem não tem um “gato para puxar pelo rabo”, não tem nada a perder e ouve com maior facilidade, sem muito drama, o que deve fazer para mudar de vida, para alcançar a vida eterna. Quanto mais tivermos, no sentido de bens materiais ou mesmo conhecimentos científicos, mais dificuldade teremos em aceitar muitas coisas que Jesus ensinou e falou. O tombo de alguém pequeno causa menos problemas do que o tombo de alguém grande. Esses pobres, humildes, sofridos, precisam mais do conforto de outras pessoas que as pessoas ricas e poderosas. Os ricos e os sábios não precisam muito de Deus para viver...
E nossa Igreja, está aliada a quem? Aos pobres, humildes, necessitados, ou aos ricos e poderosos?
Mateus 11,28-30:- O FARDO LEVE
Trecho belíssimo! Mostra que, quem quiser fazer a vontade de Deus, e colocar-se sob a orientação de Jesus, não se arrependerá, pois encontrará facilidade para vencer os problemas, cansaços e fraquezas, com a força e o amor que ele lhes proporcionará.
Esse trecho, na verdade, está comparando o fardo pesado das 613 leis que os judeus tinham que observar, dom as leis do amor, que os cristãos precisam observar. Jesus deixa as 613 leis para colocar apenas três: Amar a Deus, amar ao próximo, e amar a si mesmo na mesma medida em que ama ao próximo. Quem se entrega aos vícios, por exemplo, não está amando a si próprio. Esses três mandamentos resumem as 613 leis judaicas!
Mateus 12,1-8:-GUARDAR OU NÃO O SÁBADO
Os fariseus eram muito radicais na guarda do sábado, mas por motivos econômicos davam a si mesmos o direito de “profaná-lo”, quando, por exemplo, tiravam uma vaca do atoleiro no sábado. Jesus lembra duas vezes em que o sábado foi desrespeitado, como no caso de Davi e no dos sacerdotes, que “trabalham“ no sábado ao preparar e matar os animais dos holocaustos. Na verdade, para os sacerdotes, o sábado não fazia parar, mas aumentar as atividades deles.
Jesus termina dizendo a frase: “Misericórdia é que eu quero, e não o sacrifício”,como já comentamos em Mt 9,13. Jesus quer que vivamos mais a caridade que o rigorismo da lei.
Mateus 12,9-14:- A CURA NO SÁBADO.
A mesma questão que a anterior. A cura pode ser feita em qualquer dia, pois é a Graça e o dom de Deus. Se Ele está dando aquela graça é porque quer dar, independentemente do dia da semana. O descanso semanal não foi instituído apenas para “descansar”, mas também para fazermos as obras de caridade com mais tempo, além do louvor de Deus. Os fariseus quiseram matar Jesus, por ele ter curado o homem num sábado. Vejam que absurdo! Deus é quem cura. Se ele curou no sábado, é porque esse ato não o estava ofendendo! Não podia ser pecado!
Mateus 12,15-21:- JESUS É O SERVO DE JAVÉ
Jesus aplica a si o que Isaías 42,1-4 fala do misterioso “servo de Javé”. “Ele não quebrará o caniço rachado, nem apagará a mecha que ainda fumega”. Em nossa caminhada por esta vida, as muitas vezes que perdemos a esperança, o ferimento que os pecados nos provoca, serão assumidos por Jesus, que tentará aproveitar o que ainda restou de bom em nossa vida.
Mateus 12,22-32:- O DEMÔNIO
Esse “bate-boca” de Jesus com os fariseus mostra que Jesus, o Bem, é maior que o demônio, o Mal. E menciona um pecado que nunca será perdoado: o pecado contra o Espírito Santo. Esse pecado consiste em não aceitarmos a salvação vinda até nós por Jesus, como acharmos que o nosso pecado é tão grande que Ele não vai nos perdoar, ou achar que Ele não tem o poder de nos perdoar. Ele não vai condenar-nos por não acreditarmos em sua pessoa, desde que nós sigamos o conteúdo de sua mensagem. É claro que aceitando um, acabamos por aceitar o outro.
Em outras palavras, a única maneira de não sermos perdoado é não pedirmos perdão, não confiarmos no perdão de Deus, seja por qual motivo for. Devemos ser humildes e sempre pedir perdão de nossos pecados.
Mateus 12,33-37:- PELO FRUTO CONHECEMOS A ÁRVORE
Se formos bons, nós faremos e falaremos coisas boas. Se formos maus, nós faremos e falaremos coisas más. Se Jesus faz apenas o bem, todos deveriam acreditar nele, como uma pessoa santa, que age em nome de Deus. Aliás, Ele é o próprio Deus! Jesus fala, no texto, principalmente contra os que dizem calúnias, como as que faziam contra ele.
Mateus 12, 38-42:- O SINAL DE JONAS
Eu vejo aqui uma referência à espetacular ressurreição de Jesus, que se deu no terceiro dia após sua morte. Muitos não acreditaram nela. Alguns preferem explicar esse trecho lembrando a pregação de Jonas e a conversão dos Ninivitas. EmLucas 11,29 ss, parece ser essa a explicação. Mas em Mateus, a principal referência é mesmo a ressurreição de Jesus.
Mateus 12,43-45:- O ESPÍRITO IMUNDO
Este trecho, a meu ver, lembra que o homem nunca vai ficar livre das tentações, por melhores que sejam as suas intenções e escolha de vida. Lembro ainda que “impuro”, aqui, não tem tanto o sentido de pecados “da carne”, mas de tudo o que tornava uma pessoa impura de modo que ela estaria impedida de entrar no templo e oferecer os holocaustos.
Mateus 12,46-5-:- OS PARENTES DE JESUS
Os parentes próximos eram chamados de irmãos, e não de primos. Maria nunca teve outros filhos. A maior prova disso é em João 19,26-27, quando Jesus pediu a S. João Apóstolo que cuidasse de sua mãe. Se Maria tivesse outros filhos, pela própria lei judaica eles é que teriam o dever de cuidar da mãe.
Sobre outros trechos da bíblia que mencionam primos e parentes próximos como irmãos, veja em Gên 13,8; 14,16; 29,14; Levítico 101,4; 1 Crônicas 23,22; Mt 13,55; João 7,3ss; Atos 1,14; 1Cor 9,5; Gál. 1,19.
Quanto ao assunto, Jesus lembra que o parentesco espiritual é mais forte e profundo que o parentesco carnal. Sobre esse assunto, você pode conferir em Mt 8,21-22; cap. 10,37; cap 19,29.
(Você pode ler esse assunto também na seção catequese).
Este capítulo 13 de Mateus nos apresenta as SETE PARÁBOLAS DO REINO.
Mateus 13,1-3:- INTRODUÇÃO
As parábolas de Jesus não foram ditas desse modo, todas de uma só vez, nem com todas as palavras que vemos na bíblia. Elas foram contadas ao longo dos três anos de sua pregação.
A parábola era muito usada entre os judeus. Os gregos já preferiam uma linguagem mais filosófica, abstrata. Por exemplo: os gregos diriam: “A persistência num propósito é a garantia do seu êxito”. Os judeus falariam a mesma coisa dizendo: “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”. Perceberam a diferença no modo de manifestar a mesma idéia? A parábola é um modo de, por meio de uma história, os ouvintes meditarem, refletirem e chegarem a uma conclusão para suas vidas. No ensino foi praticamente um modo novo que Jesus usou. A parábola evita que as pessoas rebatam no ato o que ouvem: elas aceitam ouvir a “história”, e depois a palavra de Deus vai germinando no coração.
Mateus 13,4-9. 18-23: A PARÁBOLA DO SEMEADOR
Essa parábola, na forma como está hoje é, na verdade, uma alegoria. Jesus a contou como uma parábola. Qual é a diferença?
Parábola é quando a gente entende a história como um todo. Alegoria é quando cada parte tem uma comparação.
Jesus a contou como parábola, ou seja, levando em consideração o modo como a plantação era feita na Palestina: o semeador semeava primeiro para só depois arar. Isso permitia que todas as sementes, caíssem em qual local caíssem, iriam germinar.
Ou seja: não desanimem, diria Jesus, pois a palavra que estou espalhando, vai germinar de algum modo. Como diz Isaías, a chuva que cai não volta ao céu antes de molhar e fecundar a terra. A Palavra de Jesus tem uma força irresistível.
Os primeiros catequistas adaptaram a parábola e os versículos 18 a 23 virou uma alegoria. O motivo da mudança é que em outros lugares primeiro se arava e depois se plantava. Contar a história como Jesus contara não iria dar certo: as pessoas não iriam entender. Precisaram, pois, adaptar a parábola e isso foi escrito como se Jesus tivesse dito.
Do modo como está, é fácil entender: A semente cai nos corações duros, inconstantes, inquietos, e nos corações bons, todos representados aí com os espinhos, pedras, na beira do caminho. Vai frutificar menos ou mais dependendo do tipo de caminho em que caiu. Que caminho representa as suas atitudes?
Na verdade, todos nós temos todos os tipos de caminhos dentro de nós, dependendo do assunto que ouvimos e de nossas disposições do momento (veja também mais adiante, no cap. 21, vv 33-46)
Mateus 13,10-17: POR QUE JESUS FALA EM PARÁBOLAS
Acredito que seja um modo de Jesus nos alertar que a mensagem evangélica está aí, revelada aos que creem. A Salvação vai depender da adesão que nós fizermos ou não da Palavra de Deus. Depende muito da boa vontade de cada um o aceitar os ensinamentos de Jesus e procurar conhecê-lo melhor. “Para bom entendedor, meia palavra basta”. Jesus diz essa “meia-palavra”, tanto por meio de seus ensinamentos como por meio de seu testemunho, e ainda por meio dos acontecimentos em nossa vida. Cabe a nós crer nele e aprofundar nossa fé e nosso amor.
Há também a vantagem de que, em parábolas, os ensinamentos sempre são atuais, seja qual for o tempo em que eles são anunciados.
Mateus 13,24-30:- A PARÁBOLA DO JOIO.
Enquanto estivermos vivos, nós e todos os demais vamos poder mudar de vida, nos arrependermos, pedirmos perdão, vivermos uma vida nova e nos salvarmos. Na verdade, todos nós somos um pouco Trigo e um pouco joio. Ninguém é tão bom que não tenha nada de mau (=joio) e ninguém é tão mau que não tenha nada de bom (= trigo). A melhor coisa a fazer é rezarmos e trabalharmos para arrancar o joio não tanto dos outros, mas do nosso coração. O pior inimigo nosso pode ser, às vezes, nós mesmos.
Nesse trecho do evangelho vemos, também, como Deus tem paciência conosco e aguarda pacientemente que nos convertamos a ele. O joio cresce junto com o trigo, ou seja, o mal e o bem andam juntos e às vezes temos até dificuldade de saber qual é qual. Muitas vezes a diferença não é nítida.
Um rapaz veio, certa vez, me falar de algo que ele fizera e concluiu dizendo: "Padre, eu não sei se pedia perdão a Deus pelo pecado cometido ou o agradecia pela oportunidade ímpar que eu tive".
Acredito que esse é um problema sério. Muitas vezes as pessoas fazem coisas erradas porque não têm consciência da gravidade do que está fazendo, das consequências e do raio de ação do que fez. É por isso que Deus é paciente e não destrói o mal enquanto estamos aqui, pois pode destruir também os que, mesmo tendo boas intenções, ainda não perceberam que estão agindo mal. Foi o próprio Jesus que disse ao Pai antes de morrer: "Pai, perdoai-os porque não sabem o que fazem".
Muitas pessoas ficam admiradas e atônitas quando, em certa altura de suas vidas, percebem o mal que fizeram no passado. Nesse caso, a paciência para consigo mesmas é o caminho certo. Como Deus tem paciência para conosco, tenhamos paciência conosco mesmos e demo-nos uma chance de recomeçarmos um caminho novo, inspirado e abençoado por Deus.
Mateus 13,31-32:- O GRÃO DE MOSTARDA.
O Reino dos Céus parece oculto agora aos nossos olhos, mas ele cresce, apesar dos nossos pecados. Ele é como um trem que passa e tem um objetivo, que é a felicidade eterna. Se pegarmos esse trem, seremos felizes. Se não o pegarmos, seremos muito infelizes.
As boas ações de hoje estão alimentando a caldeira desse trem e vamos perceber o quanto nossas boas ações contribuíram para isso, só depois da morte.
A parábola também explica a realidade do Reino dos Céus, que parece nem existir enquanto estamos vivendo no pecado. Quando pedimos perdão e nos convertemos, esse Reino se apresenta para nós e percebemos sua grandiosidade, embora os pecadores ainda não o percebam. É o mesmo assunto que dizíamos atrás. Quando estamos vivendo em pecado, não enxergamos a grandiosidade e as maravilhas do Reino de Deus. Até queremos mostrá-las aos demais, mas não conseguimos. Eles parecem cegos e não vêm como Deus é maravilhoso, é bom, e nos proporciona a verdadeira felicidade, e pelo menos um pouco, já nesta terra. E, olhando para trás, para nossa vida de pecadores, rimos um pouco e pensamos: "Era isso que eu achava tão importante"?
Mateus 13,33: A PARÁBOLA DO FERMENTO
O fermento faz o pão crescer, mas ninguém sente sua presença, seu gosto. Nossa missão é fazer o Reino dos Céus acontecer, sem que recebamos honras e agradecimentos, sabendo que o Reino vai crescer, embora agora pareça pequeno e sem valor (como o pouco de fermento). Confiemos que Deus nos recompense um dia, com a vida eterna. Tudo o mais é pura vaidade. Basta que Deus saiba como nós ajudamos na construção desse Reino. Sejamos humildes como o fermento na massa.
A parábola mostra também como nossa ação no mundo pode transformá-lo e convertê-lo, se acompanharmos nossas ações com a oração. Nossa ação, movida pela oração, é como um fermento que leveda a massa e a faz crescer. Mas sobretudo, que essa nossa ação seja mais por uma vida santa do que pelas palavras. Um ato vale por mil palavras. Se vivermos de maneira digna, vamos atrair a curiosidade dos pecadores: "O que esse cara tem que é tão feliz, tão tranquilo"? E vai se interessar pelos princípios que seguimos e, aí então, vai ouvir-nos.
Mateus 13,34-35 : JESUS FALA EM PARÁBOLAS
Em seus ensinamentos Jesus nos comunica o próprio Deus e seu Reino de Amor. Entendê-lo significa deixar de lado nossos preconceitos e vaidade. Na humildade, seremos envolvidos pela sua sabedoria e, com o coração purificado, teremos coragem de entender o que Jesus disse e aplicar à nossa vida. É o que as autoridades de seu tempo NÃO faziam.
Mateus 13, 36-43: EXPLICAÇÃO DA PARÁBOLA DO JOIO
Já foi explicada junto om os vers. 24-30. É preciso lembrar, além do que eu já disse, que o ser humano não é plantação. Sendo assim, na vida real, enquanto vivermos, poderemos mudar, de joio para trigo, as a explicação de que esse campo é o nosso coração, e todos somos um pouco trigo e joio (alguns mais um do que outro), é a que mais me agrada. Precisamos acabar com o joio (plantado pelo maligno, ou seja, o pecado) que insiste em dividir o nosso coração com o trigo.
Também precisamos levar em conta que o patrão era mais tranquilo e paciencioso que o empregado! Este queria já queimar o joio. É o que acontece com as nossas comunidades: Deus perdoa, mas nós temos mais dificuldade nisso. Mesmo que a pessoa mude de vida, muitos têm dificuldade de não aceitá-la mais na comunidade ou em seu convívio.
Mateus 13, 44-46: A PARÁBOLA DO TESOURO E DA PÉROLA
Vale a pena renunciar ao pecado. Ao egoísmo, a tantas coisas desnecessárias, para abraçarmos os ensinamentos de Jesus: amor, pureza de coração, partilha, misericórdia, santidade. Quem descobriu o Reino de Deus, descobriu um tesouro! E para ganhá-lo, vai praticar os dez pês: pureza, pobreza, partilha, paciência, penitência, participação, piedade, politização, pujança, ponderação.
Mateus 13, 47-50:- A PARÁBOLA DA REDE
Enquanto vivermos, bem e mal caminharão juntos, como na parábola do joio e do trigo. Um dia, como diz S. Paulo, “Deus será tudo em todos”. Aí não haverá mais o mal, mas apenas o bem. E Santo Agostinho acrescenta: “Quando Deus for tudo em todos, não haverá mais desejos, pois Deus é tudo o que uma pessoa pode desejar”.
Quero lembrar mais uma vez o que eu já disse na parábola do joio: temos que ter paciência e sermos sinceros não apenas com os outros, mas também com nós mesmos. A conversão pode ser uma realidade na vida de qualquer pessoa.
Mateus 13,51-52: CONCLUSÃO
As coisas “velhas” são as riquezas do AT. As novas, os ensinamentos de Jesus. Tornando-nos discípulos de Cristo, vamos acrescentar à coisas “velhas” as perfeições das coisas “novas”.
Em outras palavras: é preciso que nos deixemos questionar pelos ensinamentos de Jesus e mudarmos tudo o que for necessário em nossa vida para sermos verdadeiramente seus fiéis discípulos. E não percamos a esperança. Nunca desanimemos! Recomecemos quantas vezes for preciso. Eu já disse que no meu túmulo coloquem uma lápide escrita assim: “Aqui jaz um homem que nunca desanimou”.
Mateus 13,53-58:- VISITA A NAZARÉ
Jesus, com todo o seu poder divino, só pode nos ajudar se quisermos, se dermos a ele a liberdade sobre as nossas ações. Deus não entra em nossa vida sem nosso consentimento. Também não pode nos curar se nós não acreditarmos. Nossa fé tem muito a ver com os dons e as graças com que Deus nos ajuda. É o que diz Apocalipse 3,20: “ Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo.”Quer dizer: Jesus não arromba a porta de nosso coração, mas apenas bate nela. Se não a abrirmos, Ele ficará batendo até o dia de nossa morte. Vamos abri-la?
INÍCIO DA SECÇÃO: “A Igreja, primícias do Reino dos Céus (cap 14 a 18)
Mateus 14,1-12: JOÃO BATISTA X ADULTÉRIO
Narra a morte de João Batista, por ter denunciado o pecado do rei. Vejam bem: o pecado dele não foi ter se casado com ela por ser sua cunhada, mas sim, o de ter-se casado com ela enquanto o irmão dele ainda estava vivo, e o de ter repudiado a sua primeira mulher. Naquele tempo havia até a obrigação de se casar com a cunhada viúva, se o seu esposo não lhe tivesse dado nenhum filho. O filho que nascesse da segunda união seria considerado como filho do marido morto.
O pecado de Herodes foi, pois, o de adultério, como tantos hoje em dia. S. João Batista, preferindo morrer do que deixar de apontar esse pecado, nos deixa preocupados: como somos ainda coniventes com o adultério alastrante dos dias atuais, sem nos tocarmos que é um pecado grave?
É claro que a misericórdia de Deus supera nossa fraqueza, mas estamos caindo no perigo de acharmos que só é pecado aquilo que achamos ser pecado. Não é bem assim! O pecado é pecado independentemente se achamos ou não que ele seja.
Se quisermos viver sem pecado, por mais dura que seja a realidade de nossa vida, teremos a garantia de que Deus nos ajudará. Com a ajuda de Deus, tudo pode ser possível em nossa vida, desde que seja de seu agrado.
Mateus 14,13-21:- A PRIMEIRA MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES.
Mateus e Marcos apresentam duas multiplicações de pães, que na verdade são desdobramentos de uma só. Confira em Mt 15,32-39 e Mc 6,30-44 e8,1-10. São versões diferentes da mesma multiplicação. Originaram-se deste modo: A primeira era de origem da palestina; localizam o fato na margem ocidental do lado e fala de 12 cestos grandes, número das tribos de Israel e dos apóstolos. A segunda talvez tivesse surgido dos gentios convertidos, situa o fato na margem oriental do lago (região dos gentios) e fala de 7 cestos, número das nações de Canaã (Atos 13,9) e dos diáconos de origem grega (Atos 6,5; 21,8). Essa explicação pode ser encontrada na Bíblia de Jerusalém.
Para nós é importante lembrar que essas multiplicações de pães, segundo a mais antiga tradição, estão preparando as mentes das pessoas para o alimento que nos leva à vida eterna, a Eucaristia.
Podemos também aprender, com a multiplicação dos pães, que Jesus não quer que ninguém passe fome ou viva na miséria. Todos têm direito ao alimento necessário a uma vida digna, independente de suas profissões e capacidades.
Está errada, portanto, a afirmação que pessoas coradas, bem nutridas, fazem: “Quem não estuda, tem que pastar mesmo!”Todos têm direito a uma vida digna. Não é isso que vemos: enquanto muitos morrem de tanto comer, outros morrem de fome! Isso não é justo!
Depois da multiplicação dos pães em João, Jesus chama a tenção para os que o buscam apenas para saciar a fome (João 6,26).
Não fazem a coisa certa quem busca Jesus só para obter curas, empregos e coisas desse tipo, e não colocam o propósito de mudar de vida. A mudança de uma vida de pecado para uma vida de santidade é o melhor modo de obtermos as demais graças de Deus, embora seja algo muito penoso, sofrido e difícil de realizar. Vejo por mim mesmo! Santo Antônio morreu santo com 36 anos! Eu já tenho mais de 60 e ainda não fiquei santo. E você?
Mateus 14,22-33:- JESUS CAMINHA SOBRE AS ÁGUAS
Neste trecho, é bom notar como Jesus gostava de rezar a sós no silêncio da noite. É preciso pelo menos umas duas horas de oração diária para nos mantermos em pé no caminho para a salvação. Além da oração, é preciso vencermos o mal, evitando o pecado. A oração, por si só, nos dá força, mas não impede que pequemos. Além da oração, a ação efetiva contra a nossas más tendências é necessária.
Isso é também mostrado neste texto. Jesus, após a morte de oração, caminha sobre o mar. Essa é a parte da ação: como o mar representava o mal para os judeus, Jesus, caminhando sobre ele, mostrou que domina e vence o mal.
A esse respeito veja o trecho de Apocalipse 15,2: “Os que venceram a besta (o mal)(...) estavam de pé sobre o mar de vidro...” Mar de vidro: o mar sem onda alguma, dominado, sem perigo algum. Estar de pé sobre ele: como Jesus caminhando sobre o mar, assim os que venceram o mal estavam de pé (=ressuscitados) sobre o mar (=mal), vencido e dominado.
Quanto a Pedro ter afundado, é o mesmo que nos acontece: Vivemos sem confiar muito no poder e na graça de Deus e acabamos nos afundando no pecado. Precisamos pedir que Ele nos erga e nos salve! Mesmo quando estamos muito angustiados, se não conseguirmos apaziguar nosso coração, mesmo assim, peçamos a Deus que nos conforte e digamos-lhe que confiamos nele. Lancemos nossos apelos de socorro e Jesus, com seu tão misericordioso Coração (hoje, 15/06/12, por coincidência, é a festa do Sagrado Coração), haverá de nos socorrer.
Mateus 14,34-36:- GENESARÉ
Trecho que mostra a fé daquele povo. Lembra que bastava tocar a orla da veste de Jesus para ser curado. Quando uma pessoa é santa, tudo o que está relacionado com ela também se torna sagrado. A santidade irradia uma força de amor e de restauração incríveis! Ver também a esse respeito Mt 9,20-22.
Mateus 15,1-9:- A TRADIÇÃO DOS FARISEUS
Jesus combate a hipocrisia dos fariseus, aproveitando-se de uma pergunta maldosa deles, sobre lavar ou não as mãos antes de comer, que era um preceito puramente humano. Deus nunca mandou fazer ou deixar de fazer isso. Jesus mostrou-lhes que eles quebram leis mais sérias e divinas, por causa do apego ao dinheiro. É que naquele tempo, “honrar pai e mãe” significava, principalmente, nã deixar faltar nada aos pais, principalmente quando não podiam mais trabalhar. Ora, os fariseus e os escribas mandavam os filhos consagrarem (e entregarem no templo) o dinheiro que seria gasto com os pais, e diziam que com isso, eles não seriam obrigados a cuidar financeiramente do pai e da mãe! Claro que os velhinhos poderiam até morrer de fome! Se os fariseus fazem isso, diz Jesus, por que então eles e os discípulos não poderiam comer sem lavar as mãos, se com isso não estão prejudicando a ninguém?
Mateus 15,10-20:- PURO E IMPURO
Aproveitando-se do que aconteceu no trecho anterior, Jesus instruiu as pessoas sobre o que é puro ou impuro, pecado ou não. O versículo 19 elucida bem o que Jesus disse e acho que não há necessidade de outras explicações.
Apenas lembro que em nossa vida atual, há certas regrinhas de comunidades e associações que às vezes impedem que as pessoas pratiquem a caridade, até estimulam fofocas e coisas desse tipo. Devemos ser mais sérios e praticar a caridade, utando muito contra o pecado e as más ações, e deixar de lado certas “coisinhas” externas, que fazemos às vezes para nos convencermos ou convencer os outros que estamos agindo bem. Deus nos vê continuamente, estejamos certos disso, e perscruta nossos corações.
Que a caridade e a misericórdia sempre sejam os critérios de nossas ações.
Mateus 15,21-28:- A CURA DA MULHER CANANEIA
Os gentios (pagãos), como era o caso dos cananeus, eram apenas “cães” aos olhos dos judeus. Jesus lembra isso à mulher, atenuando pelo diminutivo “cachorrinhos”. A mulher humilhou-se e pediu pelo menos as “migalhas” das graças que Jesus concedia aos judeus, povo de Deus. Jesus gostou da fé que a mulher possuía e concedeu-lhe a graça da cura da filha. Um pormenor é que Jesus concedeu essa graça a uma pessoa dos gentios, mas dentro da terra de Israel. Esse fato atenuou bastante o gesto de Jesus atender uma Cananéia e ao mesmo tempo estava mostrando que os gentios tinham os mesmos direitos que os judeus diante de Deus. A mulher conseguiu o que muitos do povo de Deus não haviam conseguido...
“Migalhas”:- Na verdade, poderiam ser pedaços de miolos dos pães usados para limpar as mãos depois de terem pegado na carne. Esses pedaços de miolo usados eram jogados aos cães, sob a mesa.
Mateus 15, 29-31:-CURAS JUNTO AO LAGO
Jesus veio trazer a paz e uma vida feliz e saudável. Ele não quer que ninguém sofra. O sofrimento é fruto do pecado. Se Jesus consente numa doença, é para o próprio bem da pessoa.
Mateus 15,32-30: 2ª MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES
Veja, por favor, o que eu comentei em Mt 14,13-21..
Mateus 16,1-4:- O SINAL DO PROFETA JONAS
Os fariseus e os saduceus pediram a Jesus um sinal que viesse dos céus. Ora, os milagres todos que ele fez, vieram de onde? Mas eles não acreditaram. O milagre principal que ele fez foi sua própria ressurreição. Mas eles não acreditaram nem depois da ressurreição.
O profeta Jonas é invocado aqui talvez porque tivesse ficado três dias dentro do peixe, da mesma forma que Jesus ficaria três dias sepultado. Entretanto, pode também significar que as pessoas de Nínive, que eram pagãs, acreditaram em Jonas, e eles, fariseus e saduceus, não acreditaram e não iriam acreditar em Jesus, por mais milagres ele fizesse.
Mateus 16,5-12:- O FERMENTO DOS FARIEUS E SADUCEUS
O fermento pode tanto fermentar a massa, como estragá-la. Desse modo, a doutrina falsificada dos mestres judeus ameaçava perverter todo o povo que eles dirigem (B.J.).
Devemos ter cuidado com o que as pessoas nos dizem, pois podem ser coisas erradas e fofocas. O critério para sabermos se um ensinamento ou uma orientação é verdadeiro (a), é saber o que a doutrina e as autoridades da Igreja dizem a respeito. O critério para sabermos se estamos agindo de modo certo ou errado, é a caridade para com o próximo.
Mateus 16,13-20- A PROFISSÃO DE FÉ E O PRIMADO DE PEDRO
Este trecho é muito importante na história da Igreja, pois mostra a instituição de Pedro como chefe dos apóstolos e da Igreja. Aqui, Jesus inicia a comunidade celeste, que deve começar já na terra por uma sociedade organizada, a Igreja, instituindo o seu chefe. O nome dado a Simão, “Pedro”, tanto em aramaico (Kefa, rocha) como em grego (Petros) nunca tinha sido antes usado como nome de pessoa. O nome Pedro-Rocha, mostra o seu papel primordial na fundação da Igreja.
Pedro é designado chefe da Igreja e dos Apóstolos. A Igreja tem a missão de resgatar as pessoas do caminho do mal, para que, fechando para elas as portas do inferno, abra-lhes, por meio do poder conferido a Pedro, apóstolos e seus sucessores (o papa, bispos, clero), as portas do céu.
Embora Jesus tivesse instituído a Igreja, quem a organizou foram os apóstolos e seus discípulos, sempre unidos ao papa, “descendente” de S. Pedro. Os bispos são considerados “descendentes” dos demais apóstolos.
A Igreja é divina, mas sua organização prática é humana. O Espírito Santo a dirige, corrigindo, às vezes, sua trajetória pra que não saia do caminho desejado por Deus.
Aliás, mesmo as nossas ações são assim: a música foi composta por Deus, mas o instrumento é tocado por nós. Quando a desafinação é tanta que está sendo ameaçada a melodia original, Deus a corrige, se o deixarmos. Se não o deixarmos fazer isso, e continuarmos a tocar sem ouvi-lo, acabamos tocando uma outra música, que não tem nada a ver com o que Deus pediu que tocássemos.
É a mesma coisa que um rabecão querer tocar uma música composta apena para flauta. Não vai dar certo.
Em outras palavras: fazemos a vontade de Deus dentro de nossa vocação e capacidades. Se pedirmos a Ele, seremos orientados e conduzidos no caminho do amor e da fidelidade às suas palavras.
Quanto à pergunta inicial feita por Jesus, “Quem dizem vocês que eu sou?”, na verdade ele quer perguntar a cada um de nós: “A fé que você tem em mim causou alguma mudança para melhor em sua vida? Que influência eu exerço sobre você? O que você mudou para atender aos meus pedidos e ao meus ensinamentos?”
Mateus 16,21-23:- O PRIMEIRO ANÚNCIO DA PAIXÃO
Jesus começa, aqui, a “abrir o jogo” e a mostrar aos discípulos que o seu messianismo não seria tão glorioso como eles pensavam, pelo menos em termos políticos e materiais, e de poder de glória terrena. E acabou chamando Pedro de “Satanás”, logo após tê-lo feito chefe da Igreja! A vontade de Deus nem sempre parece do nosso gosto!
Mas, para amenizar um pouco o assunto, lembro que a primeira parte foi dita em lugar e tempo diferente da segunda; ou seja: Jesus nomeou Pedro chefe da Igreja em dia e hora diferente de quando chamou-o de Satanás. Mateus colocou tudo junto por motivos didáticos.
Mateus 16,24-28:- SEGUIR A JESUS
Para seguir a Jesus, é preciso parar de pensar em si mesmo e começar a pensar nos outros, em quem precisa de ajuda na reconstrução do mundo. A frase poderia ser assim: “Se alguém me quer seguir, pare de pensar em si mesmo!” A vaidade, o amor próprio e o medo de agir estragam a nossa caminhada em busca do Reino de Deus.
A nossa vida neste mundo é passageira e não vale a pena apegar-se a ela de tal maneira que não tenhamos tempo para Deus e para os outros. Quem quiser aproveitar-se ao máximo dos bens deste mundo, das paixões, pode até ganhar prazeres passageiros, mas vai perder a vida eterna. Será que vale a pena?
Uma sugestão: mesmo que não vençamos facilmente ou por enquanto nossas más tendência, não abandonemos a oração, mesmo que não tenhamos vontade de rezar. Diz o Pe. René Voillaume que ter prazer de rezar já é um fruto da própria oração que talvez iniciamos de modo meio forçado. Oração não é sentimento, imaginação, reflexão. Oração é um colocar-se “nu e cru” diante de Deus, que aos poucos nos vai dando forças para vencermos até os nossos mais graves pecados.
Mateus 17,1-8:- A TRANSFIGURAÇÃO
Eu já li várias interpretações diferentes da Transfiguração do Senhor. Algumas não me convenceram. Para nós, simples seguidores de Jesus sem muitas pretensões exegéticas, acho que bastam estas reflexões a seguir:
Moisés (a lei) e Elias (o profetismo) estão aí para autenticar o ministério de Jesus, ou seja, que Ele é como que um novo Moisés, e também aquele anunciado pelos profetas, e que todos deveriam ouvir suas palavras e as porem em prática. Ficando depois sozinho, vemos claramente que Jesus só ele já bastava, pois Ele é “doutor da lei perfeita e definitiva” (B. de Jerusalém). A sua glória era passageira, porque Ele era também o “Servo” (Is 42,1; Mt 3,16ss), que devia morrer, antes de entrar definitivamente na glória, por meio da Ressurreição.
Mateus precisava mostrar aos judeus, para quem ele escreve, que Jesus é o Messias anunciado pelos profetas e já desejado pelos patriarcas.
Que nós não precisemos dessas aparições ou de sinais para ouvirmos Jesus e pormos em prática o que ouvimos! Atualmente está acontecendo uma verdadeira epidemia de busca de “sinais”. Se o amigo da pessoa levanta a mão um pouco mais alto do que de costume, ela já liga isso com um sinal divino. Se recebe uma rosa, é porque vai receber uma graça de Santa Teresinha. Se ele vê uma luz envolvendo o padre é porque o que ele falou é verdadeiro (às vezes ela nem se lembra do que ele falou), e assim por diante. Cabe a nós “crermos sem vermos”. A fé é um passo que você dá no escuro, sabendo que há alguém para segurá-lo no outro lado. Já dizia o primeiro capítulo de Sabedoria que não devemos tentar a Deus. Ele se revela apenas para os simples, os que não o tentam. Confira! Está nos primeiros versículos.
Hebreus fala de Abraão que ele caminhava “como se visse o invisível”. Que fé admirável!
Mateus 17,9-13:- ELIAS
“Elias já veio” - Jesus referia-se a S. João Batista, que o anunciou, como Elias teria feito se estivesse vivo, mas esse testemunho de João não foi reconhecido, não foi aceito (Veja Lucas 1,17).
Mateus 17,14-21:- O ENDEMONIADO EPILÉTICO
Já disse e repito que muitos casos de possessões diabólicas eram, na verdade, doenças que eles não entendiam, não conheciam. A epilepsia, por exemplo: Se tivéssemos fé, disse Jesus, transportaríamos até montanhas de lugar. Falando sobre isso, um pedreiro meu amigo explicou: “Se tivéssemos uma verdadeira fé, seríamos unidos, viveríamos a caridade, e aí seria muito fácil juntar o pessoal e, com pás, picaretas e caçambas, mudarmos uma montanha de lugar.”
Gostei muito dessa sua explicação. Na verdade, a fé deve levar a um trabalho unido pela transformação do mundo e isso faria com que os cientistas, crendo em Deus e na solidariedade, juntassem seus conhecimentos e forças para descobrirem juntos as curas das doenças. Não é isso o que acontece! Cada um quer trabalhar sozinho, para depois ficar rico com o remédio encontrado.
Mateus 17,22-23:- O SEGUNDO ANÚNCIO DA PAIXÃO.
Jesus preparava, aos poucos, os corações dos discípulos para sua paixão e morte de cruz, a fim de que eles não se assustassem muito quando isso lhe fosse acontecer.
Mateus 17,24-27: O TRIBUTO PARA O TEMPLO
Essa “dridracma” era o imposto anual e pessoal para cobrir as necessidades do templo. Pagando por Ele e por Pedro, Jesus mostra que não é contrário ao culto que fazemos na igreja, desde que seja fruto de uma prática religiosa autêntica e sincera. Podemos, também, ver aí a necessidade de pagarmos o dízimo, para manter o culto.
Infelizmente apareceram, hoje em dia, muitas e muitas seitas e denominações religiosas que nos deixam em dúvida quanto á autenticidade de suas atividades.
Mateus 18,1-4- QUEM É O MAIOR?
A comparação com a criança faz-me lembrar não tanto da inocência, mas da fragilidade e, principalmente, da dependência. A criança depende dos adultos ou pelo menos de um adulto para viver. Os limites de suas capacidades colocam-na sempre na posição de quem está pedindo, sem contar que, com o pequeno tamanho, sempre tem que olhar para cima quando fala com alguém.
Em relação a Deus, somos sempre meras crianças, que dependem dele para viver. Não podemos dar uma de autossuficientes, “poderosos” ou super preparados, a ponto de não recorrermos a Ele em nossas necessidades diárias, mas devemos sempre pedindo-lhe perdão se pecarmos. Recorrermos humildemente a Jesus, esse é o caminho para entrarmos no Reino dos Céus. Quem se humilha será exaltado, mas quem se exalta será humilhado”. (Lucas 14,11).
Em segundo lugar, a criança é mais simples no seu relacionamento. A “cara feia” não dura muito, assim como a inimizade após as brigas.
A criança é também mais simples em suas posses, em seu modo de vestir. Ela se contenta com o que lhe está às mãos. Se lhe faltam brinquedos, inventa um e pronto! Está feita a festa!
Outra virtude muito importante é a sinceridade na acolhida ou não da outra pessoa. Ou ela gosta, ou não gosta.
O único problema, nas crianças maltratadas em lares desfeitos, ou que conheceram as drogas e o roubo (às vezes até para se alimentar), é a mentira. Elas misturam muito a fantasia com a realidade e são muito influenciadas pelos mais velhos e acabam mentindo. É o que ocorreu com um amigo meu que atualmente está preso: foi barbaramente caluniado por adolescentes. Mesmo assim, Jesus dá a criança como referência ao modo de se portar na sociedade. Santa Teresinha do Menino Jesus refletiu muito sobre o que se chamou “Infância Espiritual”: a simplicidade de vida, a sinceridade, a dependência de Deus, mas sem a ingenuidade.
Mateus 18,5-11:- O ESCÂNDALO
No versículo 5, o texto fala sobre a pessoa que se tornou criança pela simplicidade, como falamos acima. A palavra “escândalo” vem de “pedra de tropeço”, aquelas pedrinhas dos riachos rasos, que fazem a gente escorregar. Não tem o mesmo sentido que a palavra “escândalo” em português. Trata-se de que, caso alguém seja “causa de queda” de um desses “pequeninos”, ou seja, se a pessoa age de tal forma que vai estimular ou levar os outros a agirem erroneamente, aí ele é uma “pedra de tropeço”, uma “causa de queda” (=escândalo, nessa acepção), e comete pecado grave.
O mal e o pecado sempre devem ser evitados, por mais ocultos que sejam. “Evitar o escândalo” não dá permissão para que as pessoas pequem em segredo. Muitas pessoas acham que, não dando escândalo, podem pecar à vontade. Não é bem assim. Querem um exemplo? Muitos pais só ficam apavorados e cometem até loucuras quando a filha adolescente fica grávida. Aí até obrigam o fulano a casar-se com ela, o que vai prejudicar mais ainda a vida da coitada. Enquanto ela não ficara grávida, eles não se preocupavam! Só se preocuparam quando aconteceu o tal “escândalo”.
Mateus 18,12-14: A OVELHA DESGARRADA
Quem deixa a prepotência de lado e busca o auxílio do Senhor, sempre será cuidado por Ele, como um pastor cuida da ovelhinha extraviada. Na verdade, isso talvez nunca aconteceria com um pastor: ele nunca deixaria as 99 sem nenhuma proteção para ir buscar a perdida. Ele arriscaria perder a desgarrada, a não ser que tivesse alguém que ficasse tomando conta do rebanho. Acontece que as ovelhas obedeciam só à voz do seu próprio pastor. Não dava para deixar ninguém em seu lugar. Mas Jesus não é um pastor comum! Ele é o BOM PASTOR.
Esse trecho do evangelho, como outros tantos do mesmo tipo, é uma crítica aos fariseus, que se achavam santos, perfeitos. Jesus mostra que há mais alegria em resgatar do pecado alguém que se reconhece pecador, do que ficar ouvindo pessoas, igualmente pecadoras, se orgulhando de não ter nenhum pecado, como era o caso dos fariseus.
Há certas críticas que se fazem aos padres de hoje em dia, que deixam as 99 perdidas no mundo e ficam adulando e tratando da única que está na igreja. Ou seja, é um convite para todos sermos missionários e não nos contentarmos apenas com as poucas pessoas que seguem uma religião. No mundo há mais de 6 bilhões de pessoas, das quais pouco mais de 2 bilhões seguem Jesus Cristo, contando todas as Igrejas Cristãs. Os 4 bilhões restantes ainda não conhecem ou não seguem Jesus Cristo! Isso deve ser refletido!
Mateus 18,15-18:- CORREÇÃO FRATERNA
Neste trecho, Jesus fala de alguma falta grave feita publicamente, e não a uma pessoa em particular, como mais adiante, nos versículos 21 e 22.
As pessoas que fizeram tais faltas públicas e graves, devem ser corrigidas da maneira tratada neste trecho. Se se arrependerem e mudarem de vida, devem ter outra chance.
Mateus 18,19-20:- A ORAÇÃO EM COMUM
De duas pessoas em diante, a oração deixa de ser individual e passa a ser comunitária. Acontece que em alguns grupos, mesmo estando reunidos num só local, seus membros fazem oração individual. São aqueles grupos em que cada um reza uma oração em voz alta: não podemos considerar isso uma oração comunitária, mas vários indivíduos fazendo juntos suas próprias orações individuais.
O texto aqui é bem claro: “se dois de vós estiverem de acordo na terra sobre qualquer coisa que queiram pedir, isto lhes será concedido por meu Pai” (v. 19). Ora, se cada um está pedindo algo diferente, e ninguém escutando ninguém, eles não podem saber se estão ou não de acordo. Se eles unirem seus pedidos e todos rezarem o pedido de cada um, um após o outro, então eles estariam de acordo e aquela passaria a ser uma oração comunitária. Vejam bem: esta é a minha opinião pessoal. Não sei o que a Igreja pensa disso em particular. Quem quiser me contradizer, tudo bem, desde que expliquem sua posição.
Mateus 18,21-22:- O PERDÃO.
“Setenta e sete vezes” ou “setenta vezes sete” quer dizer, na linguagem bíblica judaica, “SEMPRE”. Precisamos perdoar para sermos também perdoados por Deus. “O perdão não dispensa a correção e a justiça”, disse o Papa João Paulo II. Perdoar não significa “deixar pra lá”, mas reintegrar o pecador na comunhão com Deus, com a Igreja, quando possível, ajudando-o em suas necessidades, mas dar condições, locais e métodos próprios para corrigi-lo.
Exemplo: uma pessoa mata outra e é considerada culpada de crime: ela pode até receber o perdão das pessoas prejudicadas, que elas não guardem mágoa no coração, não tenham sentimento de vingança, mas ela deve enfrentar a justiça, para refletir sobre o crime e não cometer outros.
Mateus 18,23-35:- EXEMPLOS DE PERDÃO E DE INCOMPREENSÃO.
Nesta parábola vemos claramente que Deus nos perdoa uma multidão de pecados, e alguns deles muito graves! Aqui, a comparação com o que devemos a Deus é feita com a quantia enorme de 10 mil talentos, que importa em 174 mil quilos de ouro, ou, em dinheiro atual, US$ 1,776,700,000.00 dólares (mais de um bilhão e setecentos milhões de dólares, em 2003, data em que escrevi isto).
A quantia que o amigo dele lhe devia equivale a 100 denários, ou seja, menos de 30 gramas de ouro, ou seja, 306 dólares (no ano de 2003).
Essa é uma grande diferença! Se perdoarmos os pecados e ofensas de nosso próximo, na parábola simbolizada com 306 dólares, Deus nos perdoará os graves pecados que cometemos contra Ele e o próximo, aqui simbolizados com pouco mais de um bilhão e setecentos milhões de dólares. “Eis como meu Pai Celeste agirá convosco, se cada um de vós não perdoar, de coração, ao seu irmão.”
Eu acho que não dá para explicar melhor que isso a burrice que fazemos quando deixamos de perdoar aos que nos ofenderam! Você não acha?
Mateus 19,1-9: - DIVÓRCIO
É um assunto muito difícil, mas seria interessante anotar como a Igreja, inspirada neste e em outros trechos, procede:
1- O casamento é indissolúvel= é o que foi bem realizado, com todos os requisitos, ou seja, em que os noivos não estavam impedidos de se casarem, em que os dois se casaram com pleno conhecimento um do outro e com pleno consentimento. Esse casamento é o que “Deus uniu, portanto, ninguém pode separar” Nesse caso, para continuar cristão praticante (com a comunhão eucarística), quem não consegue mais viver juntos, que se separe, mas não se uma a mais ninguém.
2- Casamento nulo = é aquele em que houve algum problema, sobretudo na falta de conhecimento, falta de consentimento e quando ocultaram do padre (ou do ministro encarregado disso) algum impedimento (como por exemplo religiões diferentes do noivo e da noiva). Nesse caso, há um tribunal, na Igreja, chamado “Tribunal Eclesiástico”, que declara a nulidade desse matrimônio, após sério julgamento, com advogado de defesa e de acusação; ou seja: declara que não foi um casamento unido por Deus. A parte católica e que não tem impedimento, pode casar-se, na Igreja, com outra pessoa, se esta for desimpedida.
É necessário o documento oficial do Tribunal Eclesiástico. Um exemplo desse tipo de casamento é quando o padre exige que os pais da criança que vai ser batizada se casem para que o referido batismo seja ministrado: se eles se casarem só para batizar o filho, ou seja, obrigados, é um casamento nulo, e podem pedir o documento de nulidade, se assim o desejarem.
3- O que é proibido = quem quer ser um cristão autêntico, seja leigo ou padre, deve manter a castidade, se for solteiro, ou manter a castidade relativa, se for casado. Isto quer dizer que, fora do casamento, ninguém pode manter relações sexuais . E, mesmo dento do casamento, nem tudo é permitido (por isso falei de “castidade relativa”). Como já disse acima, é um tema controvertido e muito difícil. S. João Batista morreu por denunciar o adultério de Herodes com sua cunhada, Herodíades. E Jesus o elogiou. Quer dizer que Jesus também não apoiava aquilo. Como dizia o Pe. Denizar, de Franca, “ Durma com um barulho desses!”
Mateus 19,10-12:- CONTINÊNCIA VOLUNTÁRIA
Eunuco era o escrevo que era castrado para tomar conta das esposas de seu dono, sem molestá-las sexualmente, e também para outros serviços. Aqui, Jesus fala dos que nasceram com problemas e nunca vão poder manter um casamento, também dos que os homens fizeram assim, como eram os eunucos, e os que, como os religiosos e pessoas que vivem a castidade, os que se “fizeram simbolicamente eunucos” por causa do Reino dos Céus. Nem todos têm vocação para o celibato (=não casar-se) e para a continência perpétua. Não adianta forçar. Sem ter vocação para esse tipo de vida, a pessoa não será feliz.
Mateus 19,13-15:- JESUS E AS CRIANÇAS
As crianças e as mulheres eram pessoas marginalizadas pela sociedade do tempo. Não tinham voz nem vez. Jesus mostra que essa atitude está errada: todos têm o mesmo valor para Deus. Não podemos fazer distinção entre as pessoas, como nos preconceitos raciais e sociais.
Mateus 19,16-22:- O MOÇO RICO
Jesus provavelmente estava convidando o moço para ser um dos apóstolos. Ele não quis e Jesus aceitou sua recusa. Será que ele teve assim mesmo uma vida feliz? Eu duvido. Só seremos felizes se seguirmos a vocação que Deus nos deu. Jesus respeita a nossa vontade, pois não nos obriga a segui-lo. Seguir a Jesus é algo que deve ser consciente e de boa vontade.
Este trecho não quer dizer que todos os que querem “ser perfeitos” devam abandonar tudo para seguir a Deus. Há pessoas que Jesus convida para o seguirem na pobreza e desprovidos de segurança, para as tarefas próprias desse tipo de vida. Mas Ele nem sempre exige que se abandone tudo. Zaqueu, por exemplo, devolveu quatro vezes o que tinha roubado, como mandava a lei da época, e deu 50 por cento do que tinha aos pobres. E Jesus lhe disse: “Hoje a salvação entrou nesta casa” (Lucas 19,1-10).
Ao jovem geraseno, a que Jesus livrara da possessão diabólica, Jesus nem isso exigiu: pediu que ele voltasse para casa e dissesse a todos o que Ele lhe havia feito (Lucas 8,38-39). Essa foi a única vez que Jesus não só permitiu, mas MANDOU que uma pessoa contasse aos demais o que Ele fizera. É, portanto, uma vocação tão especial quanto à de Zaqueu ou a do jovem rico.
Mateus 19,23-26:- AS RIQUEZAS
Se o rico não aprender a partilhar, ele não se salvará. Não é justo que alguns morram de tanto comer enquanto milhares morram de fome. Não adianta queremos aumentar o buraco da agulha ou diminuir o tamanho do camelo! Esse trecho do Evangelho é muito deturpado pelos que querem salvar-se sem “mexe no bolso”.
Mateus 19,27-30:- DESPRENDIMENTO
Quem souber colocar Deus como primeiro princípio de sua vida, aquele a quem vai amar sobre todas as coisas, e amar ao mesmo tempo o próximo, lembrando-se de que não é possível amar a Deus sem amar o próximo, esse vai salvar-se.
Aqui não pede que larguemos tudo, mas que saibamos viver desprendidos de tudo, prontos para ajudarmos o próximo e trabalharmos para seu Reino de Amor, deixando de lado o individualismo, o egoísmo. O Pe. René Voillaume, em seu livro “Fermento na Massa” (estou postando o resumo do livro no site Jesus Cáritas) diz, no capítulo sobre a pobreza, que é muito fácil nos enredarmos com os bens que possuímos e deixar que eles nos dominem, em vez de nós os dominarmos.
Mateus 20, 1-16:- OS TRABALHADORES DA VINHA
Esse trecho todo lembra que Deus admite em seu Reino os que chegaram tarde, como os pecadores e pagãos. Nós, por exemplo, na maioria somos descendentes dos pagãos e não dos judeus, que eram o “povo de Deus”. Os chamados da primeira hora, no caso bíblico os judeus que se beneficiaram da Aliança, desde Abraão, não devem escandalizar-se com essa bondade de Deus, que vai mais longe que a justiça e abre o Reino aos pagãos, mas sem faltar com ela, pois não deixa de dar o Reino também aos que chegaram primeiro (Bíblia de Jerusalém).
Alegremo-nos com os que se convertem e demos a eles a chance de que necessitam para crescerem em comunhão conosco!
Mateus 20, 17-19:- TERCEIRO ANÚNCIO DA PAIXÃO
Jesus anuncia pela terceira vez que vai ser morto, crucificado, mas ressurgirá no terceiro dia. É claro que nenhum dos que o ouviram entenderam isso. Só compreenderam após a ressurreição.
Mateus 20,20-23:- ESTAR À DIREITA OU À ESQUERDA
Na verdade, o que esses dois, e mesmo os demais apóstolos queriam não era um lugar no Reino dos Céus, mas no reino aqui da terra, pois eles pensavam que Jesus fosse tomar o poder e tornar-se rei aqui na terra. Eles não tinham entendido ainda que o Reino de Deus não é o mesmo que os deste mundo, mas o ultrapassa e muito! O Reino de Deus começa agora, com o amor e a partilha, mas vai desabrochar na outra vida, na eternidade. Só o Pai sabe o lugar que vamos ganhar no paraíso!
Mateus 20,24-28:- SERVIR
Jesus explica a natureza do seu Reino: estar a serviço, partilhar, trabalhar por um mundo melhor, e preparar-se agora para participar de uma eternidade feliz.
Mateus 20,29-34:- OS DOIS CEGOS
A cura de cegos tem na bíblia dois sentidos: um, é a própria cura. Outro, lembrar que todos devem enxergar a divindade em Jesus. Jesus não é apenas 100 porcento homem, mas também é 100 por cento Deus. Crer nisso é tirar a cegueira espiritual que às vezes nos atinge. Após “descobrir” Jesus, os cegos o seguem. Nós também: ao percebermos Jesus em nossa vida, devemos pedir-lhe perdão e o seguirmos no caminho do amor. Isso, é claro, significa atendermos em tudo o que Ele nos ensina, pois se acreditamos ser ele o próprio Deus, devemos também saber que tudo o que ele nos ensina leva ao Céu. Aliás, Ele próprio diz ser o CAMINHO, a VERDADE e a VIDA. Com Jesus, seguindo suas palavras, seremos felizes. Aliás, não há outro modo de ser feliz. Nenhum outro.
Mateus 21,1-11:- A ENTRADA MESSIÂNICA DE JESUS EM JERUSALÉM
A entrada modesta de Jesus, anunciada já pelo profeta Zacarias 9,9-10, renunciando aos ornamentos dos reis históricos, como fala Jeremias 17,25 ou22,4: “Reis que se sentam sobre o trono de Davi montados em carros e cavalos, eles, seus servos e seu povo” (coisa muito pomposa e “chique” para aquele tempo), essa entrada de Jesus é mostrada nesse trecho, que lemos no Domingo de Ramos. É um trecho que mostra o caráter humilde e pacífico do reinado de Cristo, e não o que os judeus esperavam, ou seja, um rei poderoso e orgulhoso, que fosse acabar com os romanos com armas poderosas. Aliás, até hoje os judeus estão esperando esse tipo de Messias.
A palavra “Hosana” tem um significado antigo de “Salva, por favor!”, como no salmo 118 (117), 25: “Ah, Senhor, dá-nos a salvação! Dá-nos a vitória, Senhor! “ (B.J.)
Mateus 21,12-17:- OS VENDEDORES DO TEMPLO
Era costume, nesse tempo, à entrada do templo, ficarem cambistas e vendedores de vítimas que iam ser oferecidas em sacrifício. É como esse pessoal que vende vela na porta dos cemitérios no dia de finados. Só que o dinheiro a ser usado no templo era próprio, pois o comum era considerado impuro. A pessoa tinha que trocar o seu dinheiro pelo do templo, comprar a vítima (pombos, carneiros...) e levá-la ao interior dele para que o sacerdote a oferecesse a Deus. As pessoas faziam isso para pedir perdão de seus pecados, agradecer os dons concedidos ou praticar obrigações referentes à purificação e outros rituais preestabelecidos.
Isso, portanto, era uma coisa legítima, normal para o tempo. O problema é que essa prática gerava muito abuso. Por exemplo: o dinheiro do templo vendido a um câmbio muito alto, as pombas e os demais animais a preços absurdos. Os pobres acabavam não tendo como oferecer o tal sacrifício e voltavam frustrados para casa. É isso que Jesus queria combater ao expulsar os vendedores. Era o desrespeito não tanto ao templo, mas à pessoa do pobre.
Depois de derrubar tudo, a justiça voltou e os pobres (cegos, coxos) se aproximaram dele “e ele os curou” (Mt 21,14). Quer dizer: tirados os exploradores, os pobres tiveram vez.
Quanto aos últimos versículos: os pequenos, os simples, os que não exploram os outros, são os que mais percebem a presença e a graça de Deus na vida e no mundo.
Mateus 21,18-22:- A FIGUEIRA ESTÉRIL
Jesus fez isso com a figueira apenas como um gesto simbólico, para mostrar que devemos sempre dar frutos em nossa vida. Com a graça de Deus, isso é sempre possível, mesmo quando nos sentimos incapazes disso.
O fato da figueira só ter folhas, tem levado muitas pessoas a dizerem que muitos vivem se mostrando pelas coisas que fazem, e se vamos ver são só “folhas”, ou seja, não há fruto algum, era tudo palavrório. Também é uma explicação válida.
No trecho, o que Jesus quis mesmo dizer é que Israel é um povo estéril (= que não dá frutos) e castigado (pelas lutas internas, preconceitos, falta de misericórdia, ambição, luta pelo poder, injustiça social etc). (B. J.)
Mateus 21,23-27:- A AUTORIDADE DE JESUS
“Essas coisas” queriam dizer o triunfo messiânico (a entrada solene em Jerusalém), a expulsão dos traficantes do templo, as curas milagrosas.
Não era necessário dizer de onde vem a autoridade de Jesus. Suas próprias palavras mostram que Ele vem de Deus. Pelos frutos se conhece a árvore.
Mateus 21, 28-32- OS DOIS FILHOS
O que disse “não quero” mas depois foi, representa os gentios e pecadores assumidos (no caso os publicanos e prostitutas), que a princípio não procuravam Jesus, mas depois que o encontram deixam sua vida de pecado e o seguem.
O que disse “eu irei” mas depois não foi, representa os fariseus, doutores, escribas, que dizem “sim” no primeiro momento, quando leem as escrituras e se propõem a segui-las, mas depois dizem “não” quando, ao encontrarem Jesus, não creem nele.
Na verdade, esse último representa também a nós, quando prometemos na confissão não pecar mais e depois cometemos novamente os mesmos pecados. A conversão deve ser sempre definitiva, fortificada pela oração e pela vigilância.
Mateus 21, 33-46:- A PARÁBOLA DOS VINHATEIROS HOMICIDAS.
É melhor chamar de “alegoria” que de “parábola” este trecho. Veja, por favor, neste blog (neste site) a explicação da diferença entre parábola e alegoria. Em resumo: a parábola tem um sentido só, global, e na alegoria cada parte tem um significado próprio. É só clicar aqui:
Quanto ao significado dos diversos elementos desta alegoria:
O proprietário: o povo eleito, Israel (Is 5,1ss)
Os servos: os profetas
O filho: Jesus, morto fora dos muros de Jerusalém.
Os vinhateiros homicidas: os judeus infiéis
Os outros vinhateiros, a quem será entregue a vinha: os pagãos (nós também, que somos descendentes dos pagãos). (B.J.)
Mateus 22,1-14: A PARÁBOLA DAS BODAS
É como na anterior, ou seja, tem muitos traços de alegoria:
O rei: Deus;
As bodas: a felicidade messiânica;
O filho do rei: o Messias, no caso Jesus Cristo;
Os convidados desatenciosos: os judeus;
Os convocados nas encruzilhadas: os pecadores e os pagãos;
O incêndio na cidade: a ruina de Jerusalém.
Na verdade, são duas parábolas: 21,1-10 é uma e 11-14 é outra. Mateus combinou duas parábolas. A segunda, que diz que o rei “viu ali um homem não vestido com a roupa nupcial”, lembra que as obras da justiça, o amor cristão, a caridade, devem sempre acompanhar a fé. Como diz S. Tiago em Tg 2,17:” A fé, se não tiver obras, está morta em seu isolamento”.
A conclusão do versículo 14 refere-se à primeira e não à segunda parábola: muitos dos convidados judeus decerto atenderam o convite e Jesus e foram escolhidos (B.J.)
Mateus 22,15-22: O TRIBUTO A CÉSAR
Esse trecho mostra uma das inúmeras vezes que os fariseus tentaram fazer Jesus falar mal de César, a fim de poder condená-lo. Se Jesus dissesse: “ É lícito pagar”, poderia ser condenado por ir contra os judeus e a favor dos dominadores romanos. Se Ele dissesse: “Não é lícito pagar” , eles poderiam condená-lo por ir contra César.
Respondendo como respondeu, Jesus quis dizer que, se a moeda pertencia a César, que devolvessem o que lhe pertence! Pois eles aceitavam, na prática, a autoridade e os benefícios do poder romano, simbolizados pela moeda, podem e devem prestar-lhe homenagem de sua obediência e a contribuição de seus bens (B.J.)
Quanto à adoração e o serviço a Deus, é bem diferente: o César não pode ser adorado como Deus, pois se formos ver bem a fundo, tanto o material com que foi feita a moeda, quanto o próprio corpo e alma do César foram criados por Deus. “Dar a Deus o que é de Deus”, então, é dar tudo a Deus, inclusive o próprio César, pois ele não passa de uma criatura de Deus.
Para entender isso, é bom lembrar que naquele tempo, César queria ser adorado como um deus. Só a Deus devemos adorar e servir. Tudo o que for impedir isso, deve ser evitado e descartado.
Mateus 22,23-33:- A RESSURREIÇÃO DOS MORTOS
Para entender esse trecho, é preciso lembrar que, naquele tempo, havia uma lei que obrigava o cunhado casar-se com a cunhada, se seu irmão tivesse morrido sem ter filhos. O homem ficava, então, com duas mulheres: a dele e a do irmão. Os filhos que ele tivesse com a dele, seriam filhos dele. Os filhos que ele tivesse com a do irmão, seriam filhos do seu irmão falecido, e não dele.
No trecho, Jesus lembra que a vida eterna não é baseada neste tipo de vida que conhecemos aqui, em que as coisas envelhecem e apodrecem. No céu, nós vamos saber que aqueles eram nossos pais, aqueles outros nossos irmãos, aquele ou aquela nosso cônjuge, mas mesmo assim, vamos nos tratar como irmãos, pois a minha avó, que morreu bem idosa, irá ter a aparência da mesma idade minha, que será talvez de uns 18 a 20 anos de idade.
Nossa Senhora, que morreu depois dos sessenta anos, segundo as tradições antigas, sempre não tem mais do que 19 anos em suas aparições.
Mateus 22,34-40:- O MAIOR DOS MANDAMENTOS
Os fariseus queriam que Jesus dissesse ser o maior mandamento “Guardar o dia de sábado”, pois assim poderiam condená-lo, já que Ele fazia muitas coisas proibidas no sábado. Jesus respondeu que “Amar a Deus e ao próximo” é o maior mandamento, submetendo, pois, todas as outras leis e regras a esses dois: o amor a Deus e ao próximo. Para amar a Deus, é preciso amarmos o próximo, e termos muita misericórdia para com os outros.
Mateus 22,41-46- O CRISTO, FILHO E SENHOR DE DAVI.
Jesus quis mostrar que o Messias (que era ele) tinha também um caráter divino, que o tornava superior a Davi, como já tinha sido predito (B.J.)
Mateus 23, 1-12:- HIPOCRISIA E VAIDADE
Mais uma vez Jesus aponta os erros dos escribas e fariseus, esperando que mudem de vida. Ele os ensina, neste trecho, a sermos humildes, ou seja, reconhecermos junto às nossas virtudes, os nossos erros e manias; a sermos misericordiosos, ou seja, ajudar aos demais no que necessitam e não exigir deles mais do que têm capacidade de fazer. Ajudar nos dois sentidos: material, aliviando a pobreza e doença, e espiritual, ajudando-os a se recuperarem dos maus hábitos, manias, vícios, omissões e pecados. Não adianta dar pauladas: é preciso ajudar, ser amigo, ser companheiro.
Mateus 23,13-32: OS SETE “AIS”
Continua aqui a crítica aos fariseus e escribas. As exigência inventadas pelos rabinos eram tantas que tornavam não só difícil, mas impossível observar a lei. Seria como se você mandasse um careca pentear o próprio cabelo todos os dias. Era mais ou menos isso o que eles exigiam. O que importa para Deus é o coração, o íntimo, as intenções da pessoa e não apenas o que ela pratica externamente. O fingimento, a mentira, a falsidade, o embuste, são aqui duramente criticados por Jesus.
Para nós, esse trecho ensina justamente isso: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.”Devemos ser puros de coração, ou seja, não usar máscaras,não ter personalidade dupla ou tripla, ser sincero, nunca mentir nem usar de falsidade para com pessoa alguma.
Ser sincero, entretanto, não é ser como muitas pessoas que dizem: “O que eu tenho de falar, eu falo na cara. Não deixo nada para depois”. Não é bem isso! Nem sempre é bom falar tudo o que a pessoa precisa ouvir naquele momento. Não mintamos, mas tenhamos espírito de caridade, compreensão, misericórdia. Talvez em outro dia poderemos dizer tudo ao(à) nosso(a) amigo(a), mas sem ofendê-lo (a). Falando no momento de tensão, poderemos talvez sermos muito bruscos e exagerados e deixar tudo a perder.
Mateus 23,33-36:- AINDA OS FARISEUS E ESCRIBAS.
As más ações das pessoas acabam se voltando contra elas próprias. Pelos frutos se conhece a árvore. Os frutos maus das pessoas acabarão envenenando a elas próprias.
Mateus 23,37-39:- OS PINTINHOS E A GALINHA.
Eu acho esse trecho de maior ternura em todo o evangelho. É magnífica a comparação que Jesus faz do seu amor, que é o amor divino. Compara-o com a galinha choca, que abriga os pintinhos em suas asas. Quando criança, eu gostava muito de me abaixar no mesmo nível que a galinha choca quando ela recolhia os pintinhos sob as asas, para ver os pés deles. Seus corpos estavam escondidos sob as penas. Que aconchego eles deveriam sentir ali!
Jesus mostra quão maternal é o amor de Deus. O Espírito Santo é chamado, pelos seguidores do Pe. Carlos de Foucauld, de “Mãe de Ternura”.
Imaginem o amor de Deus desse modo: um Deus tão poderoso, mas que quer abrigar-nos em seus braços de Pai, amigo, irmão e mãe, como a filhos, amigos e irmãos queridos, sempre pronto a nos perdoar e a nos dar forças para que possamos recomeçar a vida. Senhor, dai-nos sempre esse vosso amor! E que nós o reconheçamos! Queremos nos abrigar em vossa proteção paterna e materna!
Todo este capítulo é de difícil entendimento, porque une a destruição de Jerusalém, que se deu no ano 70 de nossa era, com o fim do mundo. Na verdade, no ano 70 podemos dizer que a ruina de Jerusalém marca o fim da Aliança antiga e o começo do reinado de Cristo. Nesta data, ano 70, a mensagem do Evangelho realmente atingira todo o mundo conhecido na época, pelo menos as partes vitais do então Império Romano.
Ninguém sabe como o mundo vai acabar. Na verdade, pouco interessa para nós, pois não será agora (se os países do primeiro mundo não resolverem destruí-lo antes).
Nossa obrigação é construir o mundo, como se ele nunca fosse acabar, a fim de que os nossos netos e bisnetos tenham onde morar, mas não construí-lo de qualquer jeito: devemos trabalhar na construção de um mundo justo, fraterno, irmão, em que ninguém passe fome ou fique doente, mas também que ninguém engane ninguém e que todos amem a Deus e ao próximo. É, na verdade, um programa para a vida toda.
Devemos, pois, ler o capítulo 24 como um todo, e não ficar tentado descobrir “adivinhações”, nos versículos, sobre o que vai acontecer no futuro. A mensagem principal é: acreditemos nas palavras de Jesus e convertamo-nos! Estejamos sempre vigiando e alerta, pois no dia em que menos esperarmos, Jesus virá nos buscar. Devemos todos estar preparados para esse grande dia, que é o da nossa morte. Vamos nos encontrar com Jesus! Isso, é claro, se já nos encontramos com ele agora.
Mateus 25, 1-13:- =A PARÁBOLA DAS DEZ VIRGENS
Essa parábola foi modificada por quem escreveu o Evangelho de Mateus para os seus ouvintes dos anos 70 depois de Cristo, época em que foi publicado. A princípio, Jesus teria falado de uma festa de casamento: o noivo ia à casa da noiva buscá-la, levava-a para casa e ficavam mais ou menos uma semana em festa. As outras “virgens”, que naquele tempo significava “moça solteira”, eram as colegas da noiva, que a acompanhavam para a festa. A intenção de Jesus seria a de mostrar que o povo estava dividido em relação a Ele (=o noivo). Alguns o aceitavam, outros não, Mateus (ou o escritor final do evangelho de Mateus, modificou a parábola, acrescentando tudo o mais, a fim de acalmar o povo dos anos 70, que achava que Cristo estava demorando a vir, conforme o prometido. É que naquele tempo todos esperavam a volta triunfal de Cristo. Mesmo S. Paulo, só bem depois de sua conversão, percebeu que Jesus não viria tão já. O trecho, como está atualmente, quer nos lembrar de que ninguém tem o poder ou a capacidade de “emprestar” sua vida aos outros, Nossa vida só poderá ser vivida por nós. Poder se arrepender, no fim da vida, de pecados e de talvez uma vida devassa que se tenha levado, não quer dizer que a pessoa está preparada para pedir perdão. Pode acabar morrendo em pecado, pois, como diz a parábola, por melhor que seja seu amigo, ele não poderá “emprestar” a você as boas obras que ele fez, nem a vida santa que viveu. É o “óleo” das virgens prudentes.
Não sabemos nem o dia e nem a hora de nossa morte. Devemos estar sempre preparados, ou seja, santos! E um autor lembra de que as moças eram virgens! Mas nem assim entraram nas núpcias. A castidade, a virgindade, não tem valor se pecarmos de outras formas, como a vaidade, o orgulho, a prepotência etc.
Mateus 25,14-30:- OS TALENTOS
Um talento equivalia na época o trabalho de um operário em 20 anos. Hoje em dia, ganhando um salário mínimo por mês, colocando o 13º junto, um operário precisaria trabalhar 313 anos para ganhar um talento em ouro, É muito dinheiro!”
Há duas explicações para a parábola: a primeira diz que recebemos diversos dons de Deus que devemos frutificar para, no final da vida, prestar-lhe contas. É a mais conhecida e difundida.
A segunda, diz que os talentos não são os dons dados a cada um, mas sim, o Evangelho, o Batismo, a Eucaristia e os sacramentos em geral, o poder de curar, de consolar, o amor para com os pobres, para com os que sofrem, enfim, toda a riqueza espiritual da Igreja. Cada um deve trabalhar essa riqueza da Igreja segundo a sua capacidade. Nem todos vão ser padres, nem todos vão ser catequistas ou leitores, ou vicentinos, ou ministros etc. O que enterrou o talento é o que não praticou nenhum apostolado, não quis nada com Jesus Cristo nem com sua Igreja, ou no mínimo aquele que se limita a não cometer pecados mortais e nunca se arrisca num trabalho comunitário.
O versículo 29, nesse caso: as comunidades que trabalham mais pelo Reino, sempre têm vida, sempre progridem; as que não trabalham e param no tempo e no espaço acabam morrendo e se desfazendo (=perdem tudo o que pensam ter).
Na primeira explicação, o v. 29 se explicaria da mesma forma, mas de modo particular: quem não frutifica os dons recebidos, acaba deixando Jesus Cristo, caindo no pecado, e termina a vida sem os dons que recebeu, ou seja, imerso na tristeza, na decadência moral e/ou religiosa.
Mateus 25,31-46:- O ÚLTIMO JULGAMENTO
Também este trecho tem duas explicações. A primeira, é a tradicional: quem não praticar a caridade, quem não amar o próximo como a si mesmo, não entrará no Reino dos Céus.
A segunda é daqueles, mesmo católicos, que não acreditam no inferno. Para esses, a explicação é esta: devemos praticar o amor cristão, porque senão sofreremos na própria carne (falta de saúde, fala de paz, azedume) os pecados cometidos. Também, não construindo este mundo, nossos netos e bisnetos não terão onde morar. Esses que dão essa explicação dizem que Deus “faz chover sobre justos e injustos, da mesma forma”, ou seja, não devemos fazer distinção entre bons e maus (Mt 5,43-48)
Se nós não fazemos isso, Ele também não fará. Ou seja, se Jesus exige que amemos os inimigos, é porque, dizem os da segunda explicação, Ele próprio não vai castigar os inimigos; vai levar todos para o céu.
Eu digo o seguinte (eu, opinião pessoal): Acho que a primeira é a mais correta, embora tenham razão também os que dizem que Deus não vai castigar ninguém. Explico: Deus está sempre com os braços abertos para nos receber, se pedirmos perdão ou pelo menos mostrarmos desejo de permanecer com Ele. Acho, sinceramente, que se o próprio demônio pedir perdão, Deus o recebe novamente no céu.
Santa Catarina de Sena dizia que se uma alma do inferno pudesse dizer: “Senhor, me ajude!”, imediatamente seria tirada de lá.
O problema é que muitos não querem viver na presença de Deus, como é o caso do diabo, e Deus, como respeita a nossa liberdade, vai conceder nos o não viver com Ele, como queremos. A isso, eu chamo “inferno”.
Ora, uma forma de mostrarmos a Deus que o amamos e o queremos, apesar dos nossos pecados, é viver para sempre com Ele, é dar a beber a quem tem fome, vestir os nus etc.
Em resumo: se quisermos nos salvar, vamos ter que pedir isso a Deus, apesar dos nossos pecados: “Eis que estou á porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir-me a porta, eu cearei com ele e ele comigo”. (Apoc 3,20).
ÚLTIMOS DIAS DE JESUS
Qualquer explicação que eu arriscasse aqui, seria insuficiente para explicar o que aconteceu com Jesus. Vou dar apenas algumas informações gerais. Vale a pena ler esses dois capítulos e deixar que as próprias palavras do Evangelho o (a) levem à verdade da fé: Jesus Cristo é 100% Deus com o Pai e o Espírito Santo e 100% homem, “Deus conosco”.
Mateus 26,6-13: preparação de Jesus para a sepultura, pois ele iria sofrer nos dias seguintes e morrer.
Mateus 26,17-19:- a preparação da celebração da Páscoa judaica, que era composta de 1 carneiro assado, 4 cálices de vinho, pães ázimos e ervas amargas.
Mateus 26, 20-25: Jesus, durante a ceia pascal, anuncia que vai haver um traidor.
Mateus 26,26-29- Jesus instituiu, ou seria melhor dizer, “inventou” a Eucaristia, ou seja, uma forma de, mesmo indo para o céu, continuar aqui conosco em forma de alimento do pão e do vinho, que após consagrado na Missa. são seu Corpo e Sangue, que recebemos para nos fortalecer e sermos um só com ele. Com a Eucaristia, Jesus instituiu também o sacerdócio católico, para consagrar a Eucaristia.
Mateus 26,30-35- Predição da traição de Pedro e preparação do coração dos apóstolos para não se escandalizarem com a sua morte.
Mateus 26,36-46:- No Getsêmani, Jesus reza sozinho, pois os apóstolos comeram e beberam tanto na Ceia Pascal que caíram no sono. Jesus, com certa ironia, falou, no versículo 45, depois da oração que fizera por uma hora ou mais: “Dormi agora e repousai” como quem diz; “a hora que vocês deveriam ter vigiado comigo passou. Agora é comigo (a sua paixão). Vocês podem dormir, se quiserem”.
Em nossa vida perdemos muitas oportunidades de termos encontrado Jesus, de termos sido felizes. Esses momentos não voltam mais. Entretanto, pedindo perdão e comprometendo-se pelo Reino de Deus, Jesus nos perdoará e nos dará outros momentos felizes. Mas quem aproveitou bem os outros momentos que se passaram, serão muito mais felizes e realizados. Vai haver uma hora em que o nosso coração estará tão endurecido pelas horas de encontro com o Senhor que não tivemos, que deixamos passar, que não vamos mais querer nos abrir com Ele. Eu já atendi pessoas no leito de morte que se recusaram a confessar-se e a receber o perdão!
Mateus 26 – 47-56:- A prisão de Jesus. Ao mandar Pedro guardar a espada (v. 52), diz alguns autores que Jesus, na verdade, manda que todos nós procuremos resolver nossas diferenças, os problemas, na paz, sem armas ou guerras. É incrível como a guerra não pára naquelas regiões em que Jesus viveu! O interesse econômico, o ódio, a ganância, são as maiores causas das guerras. Não temos o direito de matar ninguém! Por Jesus, nós, cristãos, somos da paz e não da guerra. Que o diálogo supere o preconceito!
No versículo 53, Jesus diz claramente que Ele poderia livrar-se da prisão e da morte, se quisesse, Jesus nos salvou não porque simplesmente morreu na cruz, mas porque aceitou livremente morrer na cruz, como um ser humano. Se ele usasse seu poder divino em benefício próprio, não nos teria salvo. Como Adão e Eva desobedeceram e com isso puseram a perder a humanidade, Jesus, obedecendo ao Pai e aceitando viver 100 por cento como homem e, portanto, aceitando a morte de cruz nos salvou.
Era impossível mesmo para Deus dar uma “vocação” a Judas para ele trair Jesus, ou mesmo para Pilatos condená-lo á morte. Então, Jesus não veio aqui para ser assassinado! Deus nunca poderia ter mandado alguém matar outro alguém! Por isso afirmo: Jesus não veio à terra para ser morto, mas para obedecer ao Pai e, além de continuar a ser 100 Deus, ser também 100 homem, e aceitar a morte como qualquer um de nós.
Outro ponto interessante é o versículo 54: Mateus insiste em lembrar que tudo o que iria acontecer a Jesus foi previsto pelos profetas, no Antigo Testamento. Ele lembra sempre isso porque os judeus nunca aceitariam um Messias aparentemente derrotado, como o foi Jesus (aparentemente). Ele quer dizer que está tudo certinho, como nas escrituras, ou seja, tudo sob controle, e que isso mostra que Jesus é, realmente, o Messias profetizado e esperado.
Em nossa vida, aprendamos essa lição: será que encontramos Jesus quando procuramos glória, riqueza e poder? Ou será que o encontramos mais na simplicidade, na paz, na caridade, na partilha?
Mateus 26,57-68:- Jesus no Sinédrio. Jesus se mostra publicamente como o Messias, no versículo 64. Ele se mostraria, depois, só na glória, após a ressurreição, e em sua presença na Igreja.
Nos versículos 67 e 68, o correto é lembrar, como em Lucas 22,64, que Jesus estava com os olhos vendados e não podia ver. Foi uma falha na redação de Mateus.
Mateus 26,69-75:- A negação de Pedro:- Pedro “chorou amargamente” - vers. 75. Ele se arrependeu e recomeçou a vida. Em João 21,15-17, Jesus quase que forçou-o a dizer três vezes que o amava, para talvez compensar as três vezes que o negara.
Jesus nos perdoa. Em 1 João1,9 a 2,2, e em alguns outros trechos, João diz que Jesus está disposto a perdoar a quem se arrepender e se comprometer a não mais pecar. “ Se confessarmos nossos pecados ele é fiel e justo: para perdoar os nossos pecados e purificar-nos de toda injustiça”.
A maior tentação que podemos ter é acharmos que não fomos perdoados. Quando a gente sentir-se assim e já pediu perdão, já se arrependeu, coloquemo-nos nas mãos de Deus e digamos cem, duzentas, muitas vezes, mesmo que seja apenas externamente, ou seja, mesmo que não consigamos sentir em nosso coração: “Jesus, Filho de Deus vivo, creio que perdoastes os pecados que cometi e prometo não pecar mais amém.”
Qualquer pecado, por maior que seja, tem perdão, se a gente prometer e se comprometer a não mais pecar. O pecado contra o Espírito Santo é justamente achar que não tem perdão, ou coisa desse tipo.
A PAIXÃO E MORTE DE JESUS
Mateus 27,1-2:- Jesus é conduzido à presença de Pilatos, que era o governador. Só ele poderia confirmar ou não a condenação dada pelos judeus. A Judeia , como se sabe, era uma das províncias do Império Romano.
Mateus 27,3-10: Mateus é o único que descreve o suicídio de Judas, apenas mencionado, depois, nos Atos dos Apóstolos 1,18-19. Se Judas teve tempo de se arrepender antes de acabar de morrer, ele também pode ter se salvado. Aliás, ninguém pode dizer se uma pessoa foi para o inferno ou não, pois só Deus conhece o íntimo dos corações e sabe os motivos e as predisposições que o suicida tinha ou não. Se você conhece alguém que cometeu suicídio, pode tranquilamente rezar por ele e até colocar o nome dele na Missa, sem problemas. É evitado dizer o nome do suicida publicamente apenas por questão do mau exemplo que um suicídio representa.
Mateus 27,11-26: Barrabás, criminoso político, é solto e Jesus é condenado à morte. Foi flagelado, como todos os condenados à morte por crucifixão. Os dois ladrões, mortos com Jesus, na certa também foram flagelados.
É preciso entender que os judeus achavam uma blasfêmia alguém se fazer passar por Deus, como é o caso de Jesus. Ao matá-lo, eles achavam que estavam agindo de acordo com a vontade divina, ou seja, achavam que estavam eliminando da terra um grande pecador, que se colocava no lugar de Deus. Talvez por isso Jesus pedira ao Pai:“Perdoai porque não sabem o que fazem”. Há um ditado popular que diz que vai mais gente ao céu pela ignorância religiosa do que pela santidade.
Mateus 27,27-31- A coroação de espinhos: os soldados romanos fizeram isso para mostrar que Jesus era um rei “fajuto”. Esse fato e o do versículo 68 do cap. 26, em que os judeus o chamam de “profeta” também por ironia, mostram bem os dois aspectos do processo de Jesus, ou seja, o aspecto político (=rei) e o religioso (=profeta).
No vers. 28, a capa vermelha era a que os soldados usavam, e aqui seria para zombar de Jesus, lembrando a púrpura real. O caniço seria o cetro que o rei usava.
Mateus 27,32-38:- O Cirineu ajudou Jesus forçadamente e não de livre e espontânea vontade. No versículo 34, Jesus recusa um entorpecente, que as mulheres preparavam para dar aos supliciados a beberem, pois elas tinham muito dó deles. Essa bebida aliviava as dores. “Jesus não aceitou tóxicos”, diz um livro sobre a recuperação dos drogados, referindo-se a esse fato.
Mateus 27,39-44- Jesus é escarnecido e injuriado na cruz. Na verdade, essa foi uma das grandes tentações de Jesus: “que desça agora da cruz”. Jesus, se quisesse, poderia descer da cruz e escapar da morte. Ele nunca deixou de ser Deus!
Mateus 27,45-56 – A hora sexta era meio dia. Hora nona, três da tarde. No versículo 46, vemos um grito de angústia real, mas não de desespero. Na verdade, Jesus indicava a oração do salmo 22(21), fazendo-a sua, naquela hora. Tanto que os versículos 25 a 30, final do salmo, é de júbilo e triunfal: “Ele não desprezou (...) a pobreza do pobre,nem lhe ocultou a sua face,mas ouviu-o, quando ele gritou (...) Os pobres comerão e ficarão saciados (...) Todos os confins da terra se lembrarão e voltarão ao Senhor; todas as famílias das nações diante dele se prostrarão”.
Nos vers. 51-54, o terremoto e a escuridão fazem parte do cenário, para lembrar o “dia de Javé”, de Amós 8,9-10: “Acontecerá naquele dia, oráculo do Senhor Javé, que eu farei o sol declinar em pleno meio – dia e escurecerei terra em um dia de luz.”Não deve ser levado ao pé da letra.
Quanto à ressurreição dos justos do AT é sinal dessa era final iniciada por Jesus, em que todos iremos ressuscitar. Como em 1 Pedro 3,19ss, descendo à região dos mortos, Cristo os libertou, para que fossem com Ele ao céu. Quero lembrar que as “portas” do céu estavam fechadas para todos. Jesus, como 100 homem, além de 100 Deus, entrando no céu, abriu e deixou a porta aberta para que todos os que queiram possam entrar. Ao abrir a porta a seu Filho amado que é um homem, o Pai teve que admitir também os demais homens e mulheres.
Mateus 27,57-61:- O sepultamento de Jesus, conforme o costume da época. Um supliciado não podia ser colocado num túmulo já usado para não “profanar os ossos dos justos” enterrados ali anteriormente.
Mateus 27,62-66:- Mateus é o único que relatou guardas no túmulo.
Mateus 28, 1-8 – O relato da Ressurreição de Jesus é muito problemático e tem muitas explicações diferentes. Mateus, Marcos e Lucas mostram a Ascensão no mesmo dia da Ressurreição, assim como João, mas que ainda mostra uma 2ª e 3ª aparição de Jesus, uma a Tomé, 8 dias depois, e uma aos apóstolos na praia (cap. 21 e 21). O mesmo São Lucas, nos Atos, diz que a Ascensão deu -se 40 dias depois da Ressurreição (Atos 1,3). Há certos grupos que acreditam na Ressurreição, mas dizem que Jesus não teria aparecido de modo real e visível aos apóstolos, mas estes apenas “vivenciaram” o Ressuscitado. O terremoto, o relâmpago etc., é o modo comum como eles acostumavam mostrar o que não podiam explicar, de grandes acontecimentos.
Vamos ficar com a doutrina oficial da Igreja
Católica, que na liturgia divide, didaticamente, a Ressurreição, a Ascensão (40 dias depois) e o Pentecostes (50 dias depois). É mais seguro e nos traz maior satisfação.
Há outros problemas no relato da ressurreição, mas fiquemos com esta ideia: Jesus venceu a morte e ressuscitou triunfante, prometendo ressuscitar a todos nós no dia final, se ouvirmos e praticarmos os seus ensinamentos.
Mateus 28,9-10:- Essa ordem do Senhor é dirigida não só às mulheres, mas a todos nós: anunciar a sua ressurreição, colocar nos corações desanimados uma nova esperança de vida eterna e verdadeira.
Mateus 28,11-15:- Os que se apegam aos bens e aos prazeres deste mundo, não se importam nem um pouco em mentir e prejudicar os outros, para ganharem dinheiro. É o que aconteceu aqui com os guardas, e acontece diariamente na vida do dia a dia. O amor ao dinheiro é a causa de tantas guerras, assassinatos, a vida tão triste e difícil dos pobres, a insegurança dos moradores de rua etc. Sem o dinheiro não há drogas, nem carrões de luxo, nem piscinas térmicas, nem mansões, nem intermináveis viagens ao exterior, nem status. As pessoas se esquecem de que estão apenas de passagem por este mundo.
Mateus 28,16-20: Mateus coloca o início da pregação dos apóstolos na Galileia, porque foi aí que Jesus havia começado sua vida pública. Essa região era composta de judeus que haviam se misturado com os pagãos e, por isso, muito desprezada pelos judeus “puros”, sem mistura racial.
Quanto ao versículo 17: “Alguns, porém, duvidaram”. Como é possível, depois de tudo o que aconteceu? Pois é possível, sim. Ter fé é próprio de quem não tem certeza. Quando temos certeza de alguma coisa, não precisamos ter fé, não é mesmo?
No vers. 19, Jesus mandou batizar, a fim de que todos possam participar da vida eterna, junto à Trindade: o Pai, o Filho (=Jesus Cristo) e o Espírito Santo. Não só batizar, mas ensinar a observar tudo o que Ele nos ensinou e ordenou. Aliás, a única “ordem” que Jesus nos deu, realmente, foi: “Eu vos dou um novo mandamento(vejam que não é um conselho: é um mandamento, uma ordem!) que vos ameis uns aos outros. Como eu vos amei, amai-vos uns aos outros”. (Jo 13,34).
E termina dizendo que estará conosco até o fim dos tempos. Jesus, ao ir para o Pai, ficou também conosco, está ao nosso lado, de modo invisível, pois agora Ele tem todo o poder e ouve nossas súplicas. Ele está conosco também em forma de alimento, na Eucaristia. Qualquer pessoa pode encontrar Jesus, em qualquer lugar e em qualquer situação. É só querer! Ele mesmo nos dará forças para o obedecermos!