D-02-
(PRIMEIRA VERSÃO)31/05/1977
Ele era um operário,
mãos calejadas,
sorriso forçado,
semblante de fome,
alma angustiada,
mãos que se feriam,
em todos os espinhos da vida,
para dar o lucro
ao patrão ganancioso.
Este era o milionário,
mãos delicadas,
sorriso abundante,
semblante ofegante,
alma "consolada",
mãos que se abriam,
e só para isso se abriam,
para receber os lucros
do pobre operário.
Um dia, a morte.
O milionário, enterrado em tumba rica,
de primeira classe,
de ouro e mármore,
ao lado da cova fria,
de terra batida,
de chão pisado,
de areia cuspida,
do operário.
E a viúva do operário,
"escrava" da viúva do milionário,
limpava a tumba rica,
e continuava,
dia após dia,
a levar flores
para a tumba do milionário.
Para seu marido, entretanto,
coitado!
Só podia continuar pondo os espinhos
e as flores murchas
da tumba do milionário.
Os meses se foram,
a vida passou,
a viúva rica novamente se casou,
e a tumba rica foi esquecida.
As flores da tumba do milionário murcharam.
Mas, na cova pobre,
do operário,
de terra batida,
de terra cuspida,
Oh! maravilha!
As sementes das flores murchas
encontraram terra boa,
estercada pelos espinhos do patrão,
e floresceram.
Na tumba rica, entretanto,
-o ouro se gastou
-o mármore se quebrou
-as flores secaram!
E dali para frente,
sempre se via,
-flores vivas para o operário,
-flores mortas para o milionário
11/12/2011
D-17
No cemitério, uma tumba rica,
do milionário,
ao lado de uma cova fria,
do operário.
Na tumba rica, flores vivas,
Na cova fria, as flores murchas,
ali jogadas,
pela viúva milionária.
Os anos se passaram,
A viúva se casou,
Vida nova começou,
A tumba foi esquecida,
As flores vivas murcharam.
Na cova fria,
de terra batida,
do operário,
as sementes das flores ali jogadas
germinaram.
Que bela visão!
Na tumba rica, imponente,
flores secas do milionário.
Na cova viva, tão simples,
agora um canteiro de flores vivas,
do operário.
02/10/2011
D-04
Árvores, folhagens...
plantas rasteiras e trepadeiras...
Um caminho na mata...
Ele nada mais vê que o verde!
Não consegue ver o céu!
O dia está quase no fim.
A chuva ameaça o seu otimismo.
Um célere coelho atravessa à sua frente,
assustadinho,
Mas se assusta ainda mais,
ao ver a sua angústia.
A noite chegou.
O verde sumiu.
Só folhas negras o rodeiam,
impedindo a passagem do luar.
A trilha acabou.
O dia findou.
A chuva chegou.
De repente, uma clareira surgiu
e a floresta lhe sorriu!
O luar apareceu!
As estrelas cintilaram!
E a porta de um adorável casebre,
com chaminé fumegante,
o abraçou,
o acolheu,
e um saboroso café quentinho
o relaxou.
(ou: A CHUVA CHEGOU, O CARRO NÃO!)
13/10/2011
D-06
Tristeza imensa. A chuva
que cai lá fora cai
também em seu
coração...
Viu sua liberdade
esvair-se como a cerveja
no seu copo...
A alegria, até então manifestada, toma carona e se esvai na
garupa da felicidade!
As lágrimas, até agora de alegria,
perdem o brilho e se turvam,
assim como os seus olhos!
Óculos embaçados, nada vê,
a não ser as quatro paredes de seu pequeno Flat...
...E esse carro que não chega?!
Uma hora já de atraso!
Mas... como gostaria ele que nunca viesse!
Que o deixasse ali!
Que o deixasse livre!
No “Baú da Saudade”, a Dalva de Oliveira cantava “Bandeira
Branca”.
A bandeira branca da paz,
da liberdade,
da vida nova!
Daqui a pouco o carro vai chegar.
Ele irá trancar o seu Flat,
Fechar a água,
Desligar a luz,
Desligar o seu coração,
Desligar a sua liberdade,
Desligar a sua alegria...
...Até que chegue o Natal!
23/11/11)
D-07
Essas nuvens que agora passam,
Jamais voltarão;
As lembranças dos seus pais
Insistem em ficar.
Nuvens coloridas invadem seus neurônios,
Nuvens que não se desfazem,
Que não se comprazem em sumir,
Não querem se afastar.
No céu, nuvens outras nasceram:
Nimbos, cúmulos, nuvens mil apareceram,
Mas as nuvens do seu coração,
que lembram os seus pais
Não se afastam mais.
04/12/2011
D-12-A
Um fogão a lenha,
Numa cabana isolada,
Por um lago moldada,
Entre árvores e matas.
O fogo, ainda vivo,
Crepitava na chapa.
O café, ainda quentinho,
Convidava a uma xícara.
Os peixes já pescados,
Já limpinhos e salgados,
Esperavam, quietinhos,
Para lá serem fritados.
A noite chegara cedo.
A lua se mostrava faceira.
Os pequenos animais, com medo,
Se esconderam em suas tocas.
A conversa, de um pianíssimo,
Em fortíssimo se tornou.
Antes duas, talvez três,
Agora oito vozes de uma só vez.
Na noite avançada,
Tudo se aquietou.
A pescaria foi um sucesso,
No dia que terminou.
(05/10/2014)
D-12-B
Fogão a lenha,
cabana isolada,
lago, árvores, mata!
O fogo, vivo,
no fogão crepita.
O café, quentinho,
nas xícaras fumega.
Os peixes, já limpinhos,
esperam, quietinhos,
para serem fritados.
A noite chegara,
a lua se mostrara,
os pequenos animais,
com medo,
se entocavam.
A conversa, pianíssima,
fortíssima se tornou.
Antes duas, talvez três,
agora oito de uma vez.
Na noite avançada
tudo se aquietou.
A pescaria, um sucesso,
no dia que terminou.
12/07/2012
D-386
A chuva cai lá fora,
mas aquele poeta
nada mais sente em seu coração...
As lágrimas secaram,
os sonhos se findaram,
foi-se a ilusão...
A chuva cai lá fora,
como tantas vezes caiu,
ele a contempla,
como tantas vezes contemplou,
mas agora,
olha lá fora,
e nada mais vê,
nada mais percebe,
além da água caindo,
fecundando as plantas.
Nenhuma poesia!
Nem um só verso!
Para onde eles foram?
Em que esquina de sua vida se esconderam?
Qual foi o sonho que os engoliu?
A chuva continua a cair lá fora,
seu coração continua nada sentindo,
sua mente continua vazia,
sem fantasias,
sem emoções.
A chuva cai.
Simplesmente isso:
cai.
(13/08/2012)
D-387
As curvas da estrada
são cheias de flores,
que escondem perigos,
não mostram os espinhos
nem os abismos,
que falseiam os amores.
O riacho, bonito,
entra na mata,
me traz esperança;
é um dos caminhos a seguir,
e o poeta quer saber até onde vai.
Ele o segue e se perde,
ele se vê num cerco,
sem norte nem sul,
sem leste ou oeste.
As curvas da estrada
são cheias de flores,
são cheias de amores,
que levam ao abismo
de um lindo sorriso
cercado de cores.
O belo riacho
o embrenha na mata,
o leva a um labirinto
de água e de verde,
mas não sente o que ele sente,
está sempre plácido,
silencioso e modesto,
murmurando ruídos
de seres que ali vivem,
que riem dele,
por estar perdido.
Seres ali aprisionados,
pela mata limitados,
que nada sonham,
nada almejam,
nada desejam.
Consegue dobrar a curva,
consegue sair da mata,
ladeia o abismo,
olha para trás,
e vê os seres da mata,
ainda rindo dele,
dos seus sonhos,
dos seus amores,
das suas flores,
das suas cores,
e não percebem
a triste realidade:
eles estão aprisionados
numa idiotice sem saída.
26/08/2012
D-390
O furacão passou
derrubou tudo,
arrasou a natureza.
Árvores, casas, prédios,
tudo ficou em pedaços.
No campo,
ainda verde,
só uma flor,
apenas uma flor sobrou
em toda a redondeza.
Uma flor bonita,
perfumosa,
cheia de cor!
Estendida no meio do nada,
se deliciava com os raios de sol
que finalmente surgira.
Gotas d'água
ainda caíam de suas pétalas.
Um pequeno broto ensaiava abrir-se.
Que alegria!
Tudo, aos poucos, floresceria!
Mas quando o botão finalmente se abriu, fazendo companhia à flor solitária,
uma bota imunda,
sórdida,
infeliz,
as destruiu.
O furacão passou,
a beleza sumiu!
(26/08/2012)
D-391
As nuvens cobriram a paisagem,
O Peregrino perde de vista a imagem de sua luta.
Essa miragem que agora ele vê
não o satisfaz:
é imposta,
mas lhe traz uma grande paz...
a paz de saber-se aos pés dos que o oprimem,
sem nenhuma reação,
sem nenhuma ação,
sem a ninguém orientar.
As nuvens cobriram sua paisagem,
a neblina cobriu o seu caminho.
Só vê uma fraca luz a que tem de seguir,
seguir,
sem saber aonde vai levá-lo.
Deus está escondido por detrás de tudo isso,
ele não só não O vê,
como também não consegue descobrir
a qual direção ele o orienta.
Uma só e tênue luz.
O Peregrino não tem escolha.
Apenas uma tênue luz...
02/12/ 2012
D-31
Poetas, não-poetas,
todos concordam:
Mundo veloz,
mais atraente,
mas sem beleza,
sem natureza,
sem a singeleza
com que foi criado.
Flores vertem cicuta,
nada vale a labuta
dos trabalhadores,
pobres operários.
Homens se trucidam,
muitos se suicidam,
morrem em vão.
O mar vira aquarela,
a natureza, antes bela,
nunca se recuperarão.
Peixes sem rumo,
sem oxigênio,
morrem a céu aberto.
Na Amazônia, não demora,
uma última árvore,
sem muito alarde,
será destruída
por um simples raio,
dando origem
a um novo deserto,
o deserto amazônico.
Foi um raio divino? Não sei!
Só sei que,
se Deus eu fosse,
talvez eu nem sequer
nos teria criado
10/02/2013
D-27
As flores do vaso murcharam,
como as vidas daquelas pessoas.
O sol se pôs no horizonte,
como nos horizontes de suas vidas.
O uísque do copo acabou,
como o sangue em suas veias.
O árido deserto
tornou-se o paradigma
de suas vidas áridas e tristes...
O canteiro deles,
antes florido,
tornou-se domínio de espinhos e mato.
Entretanto,
como seres humanos,
sempre lhes resta uma esperança.
Vejo, em minha frente,
e muitas vezes também no espelho,
todos os arrancados,
ou que se arrancaram
do belo caminho
traçado por Deus.
05/04/13
D-39
A poeira desistiu:
a chuva fina a aquietou.
Minha luta persistiu:
a graça divina me consolou.
O sol que até agora brilhara
timidamente se escondeu,
deixou-se ocultar pelas nuvens,
e o vento frio movimentou a poeira,
agora aquietada pela humilde chuvinha.
Meu olhar desligou-se da chuvinha
e estendeu-se às minhas labutas,
às minhas lutas,
às lides de minh'alma.
Verdadeira poeira de fantasias,
vento de ilusões,
agora acalmadas,
dissipadas,
transportadas pela graça de Deus.
Poeiras e vendavais da alma,
tempestades e furacões,
procelas e tormentas,
nada resiste à chuvinha fina,
humilde,
silenciosa,
despretensiosa,
da misericórdia divina.
20/05/2013
D-40
As pétalas desfolhadas
das rosas
que eu pusera
no altar da minha vida,
caíram ao chão.
As velas enfeitadas
pelos projetos incríveis que eu fizera
em minha juventude tão bem vivida,
se apagaram no meu coração.
Quantos projetos!
Quanta esperança!
Quanta teimosia em viver!
Quanta luta inglória!
Quanto desejo de vitória!
Mas um vento gelado,
um iceberg de calúnia,
pôs tudo isso a perder.
As pétalas das rosas
ainda estão no chão...
Meu olhar, nelas perdido,
emudece meu coração.
Tomo, então, uma decisão:
vou colocar no altar outras rosas,
ainda mais formosas,
vou acender outras velas,
embora menos enfeitadas,
nunca igual às que se apagaram,
mas igualmente resplandecentes,
e vou reacender a minha vida!
(15/08/13)
D-46
O vento balança as árvores;
o forte zumbido
abafa todos os ruídos,
nada mais se ouve.
A cabana, forte, resiste à ventania,
e o fogo da lenha crepita no fogão.
O café quentinho me anima,
apesar do negro dia,
e a chuva forte cai.
Não muito longe,
um raio desintegra uma árvore,
barulho ensurdecedor,
solidão total!
Ninguém me pode encontrar.
Não há caminho.
Tudo alagado.
No alto de uma pequena montanha,
a cabana persiste,
incólume.
O lampião a gás
ilumina o cômodo em que estou,
e o rosário em que rezo,
é projetado na parede oposta.
Sinto-me maravilhado
com este cenário.
Tudo me arrebata
do mesmismo
e me faz divagar.
Vejo tudo isso
como retrato
do que se passa no meu interior!
A tempestade externa vai passar!
O sol vai voltar a brilhar!
O vento se tornará brisa suave,
o fogo da árvore destruída
foi apagado pela chuva,
os pássaros estão a cantar,
as estradas serão liberadas...
mas...
fico a pensar seriamente:
Quando irá passar
a tempestade do meu coração?
(03-11-13)
D-55
Estrela
que não é estrela!
Planeta Vênus,
estrela Vésper.
Olho-a no céu,
solitária,
mas sempre solidária:
guia dos nautas
dos astrônomos,
inspiradora dos poetas.
Luz que não é dela,
mas vem do sol!
Luz que clareia,
e se faz sentir!
Sou como um planeta,
sem luz própria.
Como um desses astros,
que recebe a luz do sol,
e assim pode iluminar,
recebo a luz de Deus,
que me fascina,
que me faz viver,
e me faz amar.
Como Vésper, quero iluminar,
ajudar,
amar,
partilhar,
sem nunca deixar
de ser iluminado,
de ser amado,
de ser partilhado.
08/02/14
D-69
Águas tranquilas,
calor intenso,
mergulhei.
Um vulcão submerso
explodiu sem consenso,
quase me afoguei.
12/02/14
D-71
Flores brotaram
no jardim de minha vida.
Eram tristes e choravam
as esperanças perdidas.
Até que vi canteiros,
alheios,
sem nenhuma flor,
sem nenhum amor,
sem nenhum odor,
apenas espinhos!
Oh, minhas flores queridas!
Sois as alegrias de minha vida!
23/02/14
D-80
Flores singelas,
brancas e amarelas,
chinelos nos pés,
camiseta branca,
bermuda fofa,
sorriso nos lábios...
As flores, já no vaso,
enfeitam a sala,
churrasco cheiroso,
sorriso apetitoso,
conversas esparsas,
música variada,
tudo jeitoso,
não falta nada.
As flores do vaso,
muito bonitas,
também estão sorrindo,
são a imagem daquela gente,
divertida e contente,
no almoço de domingo!
As flores são como aquela gente!
No final da tarde, coitadas,
ao se verem murchando,
percebem, irritadas,
que não têm mais raízes,
elas lhes foram cortadas!
...são como aquela gente!
]
24/02/14
D-81
Quero ser tão simples
como a natureza tão bela,
sem riquezas vis,
sem mazelas,
caminhar sem me preocupar
a que horas vou chegar...
A sociedade estressante,
da riqueza amante,
é escrava do ter,
do querer ser
o que se não é!
Tudo se valida, tudo se justifica,
em busca do prazer,
do dinheiro e do poder.
A vida simples, sem rebusques,
se resume em ter fé,
em querer ser apenas o que se é!
02/03/14
D-86
A flor na beira da estrada
esnobava seu esplendor,
a quem passasse em caminhada.
Certo dia, coitada,
esbanjando paz e amor,
foi friamente esmagada,
pelas rodas de um trator!
16/03/14
D-89
Sol quente, inclemente,
e eu aqui, todo suado,
continuo minha viagem
à solidão abandonado...
Parei para um sorvete
e depois uma garapa gelada,
que gelou a minha estrada.
Os quilômetros passavam,
o calor retornou.
Parei numa cachoeira
e a aguinha, ligeira,
meu corpo esfriou...
Cheguei.
O calor continuava,
me irritava,
bati à sua porta.
Você me atendeu e me olhou.
O calor, até então intenso,
por inteiro passou!
Pois um simples olhar seu
me gelou!
27/04/2014
D-100
O vento frio de outono
sopra de leve minhas faces,
trazendo-me o anúncio esperado
do inverno que se aproxima acelerado.
O que penso me dá arrepios:
Há pobres que morrerão de frio,
nas esquinas perdidas do mundo,
nos becos escuros e imundos.
Abrigado na minha manta,
a minha tristeza é tanta,
que não mais consigo pensar.
Largo caneta e papel,
Pego meu terço envelhecido,
e rezo por esse povo esquecido!
(21/06/14)
D-107
O Saara escaldante
queria-me itinerante,
numa caminhada sem fim!
Deparei-me, num instante,
com minha alma inquietante,
num meu último sorriso!
Foram as últimas rosas,
belas e formosas,
que colhi do meu jardim!
Seguiram-se as trevas,
morte materna,
os sonhos tiveram um fim!
Pudera ter entrado
no deserto escaldado,
num oásis me instalado!
Esta poesia não teria nascida,
a liberdade não teria adormecida,
minha vida não teria ficado assim!
(11/07/14)
D-110
A chuva está forte,
é noite.
Não há luz alguma,
a não ser a dos relâmpagos.
O vento quebra as árvores.
Olho pela janela,
embaçada,
suada,
escorrida de água.
Um copo de uísque,
a outra mão na parede,
o pensamento vazio...
nenhuma palavra!
Apenas duas lágrimas,
lentas e preguiçosas,
me escorrem pela face!
(14/07/14)
D-113
A flor desabrochou,
e eu nem percebi!
Minha vida se transformou
e eu nem senti!
Meus sonhos se desvaneceram
e eu os perdi!
Meus olhos se umedeceram,
e eu os enxuguei,
guardei o lenço,
arrumei minha mochila
e parti,
rumo ao nada,
rumo ao caos,
rumo à neblina
dessa estrada que não vejo.
Desejo,
imerso na escuridão,
tatear um apoio,
encontrar um amigo
que me dê a mão
e me leve à amplidão
de um mundo novo,
no meio de um povo
que me seja abrigo.
A flor desabrochou,
e eu nem percebi!
Minha vida terminou???
Não sei!
Ainda estou aqui!
03/08/2014
D-115
Folhas secas,
caídas ao chão,
mexem fundo
com o meu coração.
São restos de vida,
antes colorida,
que não mais existe.
As folhas secas
de minha vida,
nas minhas pobres poesias,
foram sonhos e ilusões,
abortadas
por dores e decepções.
Folhas secas...
sem cor algum...
ilusão nenhuma
ao lado da árvore ainda viva,
forte lenho,
o próprio Cristo é quem me convida
a um novo empenho,
a uma nova canção!
16/08/2014
D-120
Entro ou não entro?
Caio ou não caio?
A água, à minha frente,
e eu indeciso!
Foi mesmo preciso,
bem de repente,
um amigo lacaio,
empurrar-me água a dentro!
Assim é a vida!
Só tenho consciência
de nela estar inserida
a minha existência,
quando a mão do divino,
chamada às vezes de destino,
para ela me empurra,
com os reveses da vivência!
Aquele acidente,
aquele repente,
aquele desvio,
aquela prisão,
aquele “arrepio”,
as dúvidas do coração,
são coisas, entre outras,
que nos jogam na vida,
como aquele meu amigo lacaio,
que decidiu se caio ou não caio,
na piscina tão fria!
Se a dúvida aparecer,
peça a Deus resolver,
não fique indeciso!
Entrar naquela água fria,
pode lhe trazer o paraíso!
(10/11/2014)
D-137
Eu a vi por acaso
no mês de setembro
de manhã ou no ocaso?
Não sei, não me lembro!
Humilde e singela
nunca alguém a vira!
Tão simples e tão bela
A pequena flor se abrira!
Só Deus a conhecia
e, se eu não a tivesse visto,
só Ele a vislumbraria,
só Ele a teria benquisto!
Comparo nossa vida
com essa bela flor.
Tão grande é nossa lida,
visita-nos a alegria,
visita-nos a dor!
Por mais secreta que seja
a nossa existência
não há o que Deus não veja:
não há o que Deus despreze!
O amor é sua essência!
No dia seguinte
morreu a florzinha;
coloquei-a, com requinte,
na agenda minha.
Querida lembrança
de que Deus nos ama!
Real esperança
de que Ele nos chama!
14/11/2014
D-141
Quando a chuva cai,
minha alma se retrai,
eu saio de mim mesmo,
das coisas que me cercam,
dos problemas que me apertam,
da labuta que me cansa!
Quando a chuva cai,
fico à janela,
nela ponho meu olhar,
e fico a meditar
nas chuvas da minha vida.
Quando torrenciais,
mesmo passageiras,
inundam ruas inteiras,
fazem tudo se alagar!
Quando são fininhas,
e duram dias inteiros,
não entopem os bueiros,
mas me fazem sonhar!
São instantes mágicos
que me tiram do “trágico”
e me levam às alturas,
longe das agruras,
longe de todo o olhar.
Eu me sinto diferente,
de tudo me torno ausente,
não sei bem como explicar!
Eu me sinto com Deus!
Diante dos olhos seus,
me sinto no paraíso!
O horizonte,
até então contido,
se abre
e me deixa sonhar!
10/12/2014
D-144
Os pardais se esconderam do frio, da chuva,
os gaviões desistiram, voltaram às tocas.
Coloquei meu capote, calcei minhas botas,
me vesti de coragem, calcei minhas luvas!
O barulho da tarde,
molhada e escura,
envolvia o meu corpo,
em meio à borrasca!
A enxurrada levava pedaços e lascas
dos meus sonhos, lembranças, no meio da rua!
Eu não pude evitar que isso tudo ruísse!
Meu barraco querido, solidão de louvor
obrigou-me a chuva de lá eu partisse!
Sem mais nada a pegar, constrangido de dor,
só uma coisa impediu que dali eu fugisse:
acolhidas vizinhas, tão cheias de amor!
20/12/2014
D-145
(Leia ouvindo a música)
(Como eu entendo essa música)
Um barco no lago de Como,
tranquilidade,
música doce, ondas harpejadas;
minha vida, uma suavidade!
O início da música,
são as águas passadas
No segundo movimento,
sem se perceber,
começa o vento,
a paz vai perecer.
Minha vida se encrespa,
o lago de ondas se infesta!
No terceiro movimento
uma momentânea paz,
minha força se refaz,
o lago parece se acalmar,
a paz parece voltar!
Puro engano!
Vem a tempestade,
minha vida perde a majestade,
se torna um palco de horror,
o teclado é ferido com pavor,
como a luta que me ameaça,
como o barco,
em meio à borrasca!
É o quarto movimento.
No quinto movimento
volta a paz,
a minha vida se refaz;
no lago de Como
o sol volta a brilhar,
a serenidade acaba de voltar!
Minha vida
é como esse barco antigo,
que na praia do lago
encontra abrigo:
encontrei amparo no meu Deus,
se enxugaram os olhos meus!
(quando eu tocava essa música ao piano, pensava nisso que escrevi aí).
(01/02/15)
D-151
Aos poucos retorno
à vida da cidade!
Quanto transtorno
com a nova realidade!
Os pássaros canoros,
agora são os pardais!
Antes cantos sonoros,
agora os ruídos infernais!
Novamente eremita da cidade,
minha vida vai mudar!
Da solidão terei saudade,
quanta coisa a recomeçar!
Meus amigos, amigas minhas,
espero Deus a me ajudar.
Passaram-se as coisas antigas,
só as novas têm seu lugar!
(02/02/15)
D-152
A planta viçosa,
coquete e formosa,
se encheu de esplendor
Canteiro repleto,
de flores completo,
nenhuma tão bela
como esta flor.
Vaidosa e cheirosa,
mais bela que a rosa,
esparzia seu odor.
De repente, uma chuva,
suave qual luva,
beijou nossa flor.
Risonha e garbosa,
ficou toda “prosa”,
humilhou as demais,
sem nenhum pudor.
Mas a chuva mudou,
granizos gerou,
mataram nossa flor.
Só sobraram as feias,
escondidas nas teias,
cheias de candor.
A vida é tão bela,
mas tudo o que há nela,
perde o esplendor.
Hoje somos os “tais”,
amanhã não somos mais,
atingidos pela dor!
(02/02/15)
(de um esposo à sua esposa)
D-153
Você é a flor,
eu sou o seu talo!
Quando você me chama,
eu obedeço e me calo!
Querida, me perdoe,
se às vezes eu lhe fui espinho!
Hoje eu só quero
envolver-lhe de carinho!
Sua presença amiga
me fez sobreviver!
Em tantos desatinos,
você só fez em me bem querer!
Rodeados pelos filhos,
quero lhe confessar:
Minha amada, minha querida,
eu quero sempre lhe amar!
(28/02/15)
(anos 70)
D-162
Quatro vezes o escalei,
quatro vezes o amei!
Subida difícil e trabalhosa,
perigosa, mas cheia de encanto!
A cada canto, um desafio,
no desafio, uma paz saborosa!
A subida valeu!
O topo, quase no céu;
a audácia venceu!
A paisagem, ao léu,
desdobra-se num apogeu!
Lá embaixo, tudo pequeno!
Uma brisa fresquinha e suave,
um clima mais do que ameno,
num janeiro de verão tão grave!
O silêncio é profundo!
Nem aves, nem bichos, nem grilos!
Sentado no topo do mundo,
meu cérebro “viaja” tranquilo!
A realidade me chama,
preciso ao meu mundo voltar!
Profunda tristeza me inflama,
com os colegas, a retornar!
Uma chuva irrompe tão forte,
dificulta sem par a descida!
Tememos o perigo da morte,
a vigilância se torna renhida!
Já no sopé, vitoriosos,
a Deus tão bom agradecemos!
Encharcados, mas gloriosos,
algum dia, decerto, voltaremos!
Pudera! Isso nunca se refez!
A idade chegou, desastrosa,
e com ela a flacidez!
Só na lembrança, tão chorosa,
posso estar lá outra vez!
(15/03/15)
D-168
A gota pingava
na pedra tão dura!
Uma pedra que chorava,
sobre uma outra, suas desventuras!
A pedra de baixo resistia,
pra pedra de cima não ligava!
A de cima insistia,
e sobre a outra, sempre pingava!
Ano após ano chorando,
a pedra de cima venceu!
A de baixo, lhe chamando,
lhe disse: “Você me comoveu!”
No buraco que a água fizera
na pedra de baixo. surrada,
caiu um pouco de terra,
e uma semente inchada.
Uma flor apareceu
e a trepadeira se espalhou,
cresceu e cresceu,
e na terra se firmou.
A pedra de baixo, coberta
pela linda trepadeira,
não mais ficou deserta,
se encheu de flores por inteira.
A de cima a chorar continuou,
não de tristeza, mas de alegria!
A pedra de baixo se enfeitou
não mais continuou pedra fria!
A água continuou caindo,
as duas pedras sorriam,
`a nova vida se abrindo,
as gotas não mais lhe feriam!
A moral desta história
é fácil entrever:
Está, o caminho da vitória,
no compartilhar o sofrer!
(27/04/15)
D-178
Rádio, tevê, internet, jornal,
telefone, campainha, ruído infernal!
Cansei-me de tudo, saí para fora,
fui para o sítio onde meu tio mora,
lá, dormi.
De manhãzinha, na cocheira,
ao lado da vaca leiteira,
tomei meu achocolatado,
leitinho bom, espumado,
mas... uma mosca engoli!
Peguei um lanche e caminhei,
na mata fechada eu entrei.
Pássaros barulhentos e variados,
não me deixaram sossegado!
Quanto barulho eu ouvi!
À beira do rio cheguei,
pernilongos e mutucas encontrei!
Minha casa, ó que saudade!
Que falta faz a cidade!
Muitas picadas senti!
Nadei um pouco e voltei,
na casa do tio almocei,
retornando logo à cidade,
e à minha casa. Que felicidade!
Bem logo adormeci.
No dia seguinte, logo bem cedo,
desliguei tudo, sem nenhum medo,
e, sem sair da cidade,
fiz o meu gostoso dia de deserto!
(27/04/15)
D-179
A tarde me invade,
o sol me ilumina...
a felicidade,
qual dama fina,
pede licença
e, com toda a bondade,
em mim se descortina!
Presto muita atenção
a este crepúsculo tão belo!
Ponho nele o meu coração,
pois tudo é tão singelo!
A brisa mansa
que em meu rosto descansa,
excede todo anelo!
É plena a consolação!
Quando estou em Deus
tudo se torna bonito!
Estes pobres olhos meus
vislumbram o infinito!
25/06/15)
D-194
A pousada do Tonico,
quantas vezes me abrigou,
pra curar meus estresses
a que a vida me levou.
Praias desertas e puras,
sem ninguém para te olhar,
cheias de formosura,
sem casas, sem nada,
só a mata a enfeitar!
A praia da Laje, que linda!
Capricho da criação!
A paz ali é infinda,
conforta o meu coração!
A cataia na pinga
alegra qualquer paladar!
A ressaca, porém, se vinga,
a quem não a souber dosar.
Uma só coisa eu desejo,
um só é meu querer:
ao Marujá eu almejo
voltar antes de morrer!
(13/08/15)
D-202
A caneta caiu
a luz se apagou
a realidade sumiu
o sonho começou
Um mundo perfeito,
em tudo e em todos a paz,
o ar puro, refeito,
vida que satisfaz!
Mas seus olhos se abriram,
o sol reapareceu,
as cores ressurgiram,
o sonho morreu,
o mundo voltou
ao que era antes.
Quando a caneta caiu, no caderno ele havia escrito:
“Tudo o que Minh' alma pediu
é ver um mundo bonito!”
(11/09/15)
D-210
As pedras do caminho
não podem me deter,
nunca me encontra sozinho,
com Deus vou sempre vencer
Tempestades violentas
me costumam maltratar;
as almas de Deus sedentas
não param de me chamar!
Envolvo-me, então, na ternura
do manto de Maria,
que me livra das agruras,
e enche-me de alegria!
Que o meu Anjo amigo,
sempre me ajude e proteja!
Que em Jesus eu encontre abrigo,
que minha família seja a Igreja!
O mundo que nos rodeia
ilude-nos com mentiras,
envolve-nos em sua teia!
A música de sua lira
engana como a sereia!
Uma só coisa almejo,
uma só coisa eu quero:
que todo o meu desejo,
um desejo bem sincero,
seja estar todo dia,
com meu Anjo, com Jesus, com Maria!
13/9/2015
D-212
O silêncio da tarde me atrai,
me distrai,
me enche de ternura!
O dia que passou foi penoso,
custoso,
encheu-me de agruras!
Dos pássaros os últimos pipilos,
já posso ouvir os grilos,
o dia vai terminar!
Meu coração bate forte,
seja qual for minha sorte,
quero a Deus sempre amar!
17/10/15
D-217
As flores se agitam ao vento
como dentro em mim, o pensamento.
Meu rosto, ao sabor da forte brisa,
relaxa-se, descontrai-se, se alisa!
A doçura da noite aproveito,
reluto em recolher-me ao leito
Esse momento me enche de paz;
alegra-se o meu coração!
Murmúrios de vozes ele me traz
e com elas, uma doce canção:
“Louvado seja o Senhor,
bendito seja o seu nome!
Sacia nossa sede de amor,
de felicidade mata-nos a fome!
01/11/15-
D-221
As flores da primavera
já não são como outrora!
Oh, como eu quisera
poder vê-las agora!
O verão chega mais cedo,
as chuvas desaparecem!
É de sentir muito medo
como as coisas acontecem!
O calor domina a terra,
agrava-se o efeito estufa!
A natureza toda se encerra
numa agonia maluca!
O poder e a ambição
acabam com a fauna e a flora!
Isso corta o meu coração,
me oprime, minh’alma chora!
Ó Natureza tão bela!
Quero preservar-te, amiga!
O futuro nos espera!
Quero ver-te sempre florida!
13/11/15-
D-226
Por milhões de anos,
ou milhares, talvez,
as águas daquele rio
correm, vez por vez.
O sulco resultante
é profundo e radical,
mostra ao visitante
imponência sem igual
A imagem desse rio
é a minha própria vida:
os sulcos dos desafios,
minha alma agradecida.
As cicatrizes de minha alma
como do rio o leito profundo,
produzem-me muita calma,
seguro, enfrento o mundo!
Nada mais me abala,
tudo é como esterco,
pois quando Jesus me fala,
em seu Coração eu me perco.
O rio também é assim:
nada o impede de ir,
realiza-se em seu único fim:
o mar, seu imenso porvir
15/11/15-
D-228
Colorido mais que a vida
é o meu querido jardim.
Tenho rosas, margaridas,
gardênias e jasmins
Quando há tempo ali trabalho
e contemplo a natureza
junto terra e cascalho
fica tudo uma beleza!
Deus cuida da minha vida
como eu cuido desse jardim!
Em Deus encontro terna guarida
e um amor eterno, sem fim!
29/11/15-
D-235
Maré alta, maré baixa,
ondas que vão e que vêm,
dentro ou fora da faixa,
sobem e descem ou se detêm!
Assim é a minha vida:
às vezes na altura,
às vezes na descida,
na aridez ou na ternura!
Eu era mar revolto e encontrei
o bondoso Deus por companheiro,
Águas plácidas me tornei,
Ele me amou por primeiro!
O vento sopra onde quer,
como Deus em minha vida!
Quando o mal me requer,
faço minha prece ouvida!
16-01-16
D-247
Essa árvore centenária
quantos segredos ouviu
de empregados, secretárias,
patrões, gente que já partiu!
Abracei essa árvore amiga
e rezei pelos que lá deixaram
seus problemas, coisas de intriga,
todos os que ali se amaram!
Quantas gerações a conheceram!
Ela é a testemunha viva
de coisas que aconteceram
e coisas ainda na ativa!
Perante um jovem já sou um idoso,
perante um velho, idade igual!
Mas diante dela, num tom gostoso,
digo que estou na infância total!
10/02/16
D-254
“As aves que aqui gorjeiam”
deixaram de gorjear!
As palmeiras não mais se alteiam,
não trazem os sabiás!
Nosso mundo, antes bonito,
se enfeia a mais não poder!
Vejo isso tudo muito aflito,
é muito triste, custa-me a crer!
Em todas as áreas conspurcado,
dinheiro e poder estão na pauta!
Para ver tudo isto acabado,
muito pouca coisa ainda falta!
Mas... ainda resta uma esperança,
ainda nos resta o amor!
Ainda nos resta o amor!
Ainda nos resta a bonança
de ter sempre Deus, nosso Senhor!
12/03/16
D-260
Ainda hoje, no meu jardim,
quero ver as lindas hortênsias,
as dálias e os jasmins,
flores que, com muita paciência,
também cultivo dentro de mim.
Elas estão lá fora,
mas também aqui dentro!
Beleza que, sem demora,
espalho ao relento!
Flores ou virtudes,
só os nomes diferem,
atos e atitudes,
à vida elas se aderem,
entretanto os espinhos,
escondidos entre os talos,
me ferem no caminho,
magoam-me quando eu me calo!
Só buscamos as flores!
Mas os espinhos, sorrateiros,
enchem-nos de dores,
dos últimos aos primeiros,
e só Deus, entre nossos amores,
pode nos curar por inteiro!
07/04/16
D-266
Cheia de encanto e viçosa
nada dizia ser abandonada,
sempre bonita e formosa,
era até pelas outras invejada.
Certo dia, intrigado,
abaixei-me e lhe perguntei:
“Sempre sozinha e sem agrado,
todas as vezes te encontrei!
Por que, pelo certo ou pelo errado,
sempre viçosa e bonita te achei”?
A florzinha respondeu:
“Mesmo sem nunca ser notada,
sou criatura de Deus,
por Ele sou amada!
Sou contemplada pelos olhos Seus”!
Na humanidade desnorteada
todos por Deus são amados!
Ninguém há, na caminhada,
que seja por Deus abandonado!
24/04/16
D-272
Qual bela flor, enterrada em terra fria,
é a sua vida rica, enterrada naquela mansão!
Finge manter dentro de si a alegria,
mas ele não sabe se ainda tem coração!
Tão grande dor parece não terminar,
seu horizonte não vê o sol surgir...
As flores nascem, morrem, vão germinar,
e as novas flores não vão vê-lo partir!
Como as ruínas dos templos destruídos
sua existência tornou-se um frio escombro!
Como a ferrugem de um ferro retorcido,
carrega um peso, que aumenta, em cada ombro!
Grande Senhor, pleno de amor infinito,
quando possível, dai-lhe a libertação!
Sem vosso auxílio, querido Jesus Cristo,
tudo é tristeza, tudo é desolação!
02/05/16
D-273
Nosso inverno chegou implacável,
congelando a fiel natureza!
Entretanto, sem nada notável,
continuamos em nossa rudeza
Corações congelados e duros
sempre há mesmo em pleno verão!
Só o amor de Jesus, que é tão puro,
poderá nos levar ao perdão!
Inflamados por tão grande amor,
primavera perene hei de ver!
Se de fora não chega o calor,
Jesus sempre nos pode aquecer!
22/05/16
D-276
Águas tranquilas, cachoeira fara,
em tudo se farta o meu coração!
Céu de verão, limpo e azulado,
estou isolado, tudo é canção!
Nessa beleza Deus se apresenta,
minh' alma não aguenta de tanta emoção!
Faço-me irmão, dou um belo grito,
olho o infinito, elevo as minhas mãos!
Horas tão ternas, tarde amena,
minha face serena volta a sorrir!
Mas preciso partir, voltar ao meu mundo,
tão moribundo, quase a falir!
A poluição me atormenta,
minh'alma não aguenta,
vou demorar a sorrir!
16/06/16
D-282
Cachoeira, pedra, céu azul...
Da relva contemplo o infinito!
Minha mente, de norte a sul,
embrenha-se no que há de mais bonito!
A liberdade banha o meu ser,
a alegria me invade o coração!
Tudo em volta faz-me crer
no grande poder da oração!
Oração, amizade com Deus,
deixar-se amar pelo divino!
Irmanar-se com os filhos Seus,
o céu é o nosso único destino!
O sol ensaia o ocaso,
as estrelas aguardam nos bastidores
De lágrimas tenho os olhos rasos,
vejo minhas últimas flores!
De volta à cidade eu lamento,
enfrento, outra vez, a poluição!
Tudo é cinza, tudo é cimento,
se aperta muito o meu coração!
As horas felizes são rápidas,
as horas tristes, vagarosas,
mas a oração, nas mentes plácidas,
tornam a vida saborosa!
03/07/16
D-286
Não me importo se o mundo é imundo,
ambicioso e sofisticado!
Meu amor por Deus é profundo,
e tenho Maria ao meu lado!
O rio nasce limpinho,
águas claras, perfumado,
mas se polui no caminho,
sem peixes, fétido, desolado.
As peripécias das corredeiras,
as pedras, a oxigenação,
o despoluem de tal maneira
que chega ao mar sem poluição.
O mar o abraça dizendo:
“Que beleza de rio limpinho”!
Mas não o vira fedendo,
quando estava bem sujinho!
Nossa vida é assim!
Os sofrimentos purificam!
Acreditem em mim,
Os espinhos nos santificam!
11/07/16
D-288
As rosas que plantei no meu jardim
enfeitam e perfumam meu caminho!
Tudo o que há dentro de mim
já se feriu com seus espinhos!
Seu perfume compensa a dor,
sua beleza me ajuda a caminhar.
A anestesia é sempre o amor,
a graça divina me ensina a amar.
Ora! Não tenho nem rosas nem jardim,
tenho apenas um caminho a seguir!
E sem nenhum espinho, enfim,
conduzo-me ao céu, que não demora a vir!
10/07/16
D-289
O jovem se vê num árido deserto,
caminhando sozinho, na imensidão.
Olha para os lados, ninguém por perto,
se lhe aparta do peito o coração.
Olha para o alto, nuvem alguma,
sol escaldante, boca ressecada,
não sabe mais pra onde ruma,
sua alma se encontra destroçada.
Seus lábios não conseguem rezar,
num labirinto se encontra sua mente!
A esperança resolveu o abandonar,
ele não sabe mais o que pensa ou sente!
Cai no chão, sem forças, prostrado,
por mais que não queira, vê-se a morrer!
Nada mais decide, está frustrado,
derrotado, sente todo o seu triste ser!
Este era o momento tão aguardado,
talvez só agora Deus pudesse agir!
De um modo bastante inesperado,
um lindo oásis se fez surgir!
Esta é a analogia de tantas vidas,
que se perdem no deserto da existência!
Só em Deus temos chance e guarida,
só nele tempos força e clemência!
28/07/16
D-292
Sem rumo, na estrada ensolarada,
coração apertado, mente angustiada,
ele caminhava.
Seus passos preguiçosos, incertos,
cada flor ali por perto,
simplesmente murchava.
Aos poucos o sol se escondeu,
a pouca esperança morreu,
ele chorava.
A chuva inesperada começou,
seu corpo cansado tropeçou,
caiu na enxurrada.
De repente ele acordou, era um sonho
Disse a Deus: “Eu proponho
agradecer minha vidinha abençoada”!
27/08/16
D-305
Mais uma tarde de inverno
despede-se da cidade.
Nas casas, o calor interno,
pessoas, várias idades.
Na roça as galinhas se acomodam
em seus quentinhos poleiros...
Os grilos e as rãs acordam
para os barulhos costumeiros!
O frio aumenta o rigor,
as mantas são desdobradas!
Só não se esfria o amor
de cada família tão amada!
O sol desponta, radiante,
café, leite e pão tão quentinhos!
Todos, então, vão adiante,
em seus calejados caminhos...
Mais um dia de inverno
se inicia, com as bênçãos do Eterno!
28/08/16
D-307
Meu olhar se perde na árvore
cujas folhas o vento acaricia.
Ao lado, uma estátua de mármore
mostrando a Virgem Maria.
Duas mães tão diferentes
alegram os olhos meus:
a árvore, que gera as sementes,
Maria, que gera o próprio Deus!
O vento aumenta, as folhas ele chacoalha,
mas não consegue atingir a imagem.
Se a árvore ele atrapalha,
em Maria, ele é simples aragem!
Assim vejo nossa vida!
Sem Deus a brisa é um tufão.
Mas se em Deus minha vida é inserida,
em suave brisa se torna o furacão!
21/09/16
D-316
As águas que podem afogar
são as mesmas que podem dar a vida.
As mãos que podem afagar
podem também causar ferida!
A hipocrisia grita alto
na sociedade tão perdida;
meu coração, em sobressalto,
busca essa paz tão querida!
Só em Deus a água é pura,
só nele encontro guarida!
Nele a humana criatura
sempre pode ser inserida.
Minhas mãos agradecidas
pedem a Deus noite e dia,
que por ele sejam recebidas
minhas dores e alegrias
Uma só coisa eu peço
a Deus, nosso senhor:
garantir o meu ingresso
no mundo sincero do amor.
24/09/16
D-318
A primavera chegou
e, com ela, a esperança!
No ano que quase findou
a alegria é uma constância!
O fim do ano já está aí,
é hora do balancete!
Eu ainda estou aqui,
fazendo o mesmo macete!
Minhas contas, no vermelho,
ainda aguardam pagamento.
É como querer matar um coelho
com um golpe de jumento!
A primavera é florida,
encontrarei um bom emprego!
Pagarei as minhas dívidas
e, enfim, terei sossego.
Eu amo a minha vida,
seja ela como for,
com superávit ou com dívida,
basta-me, a mim, o Senhor!
08/10/16
D-320
Na tarde amena de céu azul
a primavera começou a reinar,
e, de leste a oeste, norte a sul,
enche de flores todo lugar.
Há perfumes diversos na atmosfera,
há fragrâncias sutis nos verdes jardins!
E eu, aprisionado nesta longa espera,
percebo a esperança se esvair de mim.
Os risonhos campos floridos
que vejo ao longo do o caminho
desembaraçam os minutos doloridos
e me consolam com um copo de vinho.
Confortado com tanta beleza
sento-me e me ponho a contemplar,
até que um impulso dado com firmeza
me impele outra vez a caminhar.
Caminho árduo, árido e sofrido,
tão diferente dos campos marginais!
Com o impulso desse Deus tão querido,
sigo o caminho e deixo tudo o mais.
29/10/16
D-333
A nuvem que se perde no horizonte
não se perde! Em chuva se transforma!
O caminho que eu vejo a mim defronte
não é mau, mas às vezes me transtorna!
A nuvem vira chuva mais além,
no caminho, desvios e retas se alternam.
Preciso ir sempre adiante, porém
as pedras e os obstáculos me consternam.
Enfrentar um caminho tão incerto
é melhor do que ficar aqui parado!
Se eu tiver Jesus Cristo sempre perto,
nunca ficarei decepcionado!
As nuvens que por aqui passaram,
nunca mais para cá retornarão!
O passado e as peripécias que grassaram
são como as nuvens, nunca mais voltarão!”
Quando novos infortúnios nos acharem
estaremos para a luta preparado!
Todos os que em Jesus não desanimarem
em seu amor serão sempre abençoados.
29/10/16
D-334
A labuta do dia fora tanta!
Que cansaço seu corpo refletia!
Um banho repousante, que “água santa”!
Hora do Ângelus, da Ave-Maria.
Sentada na cadeira de balanço,
contemplou o crepúsculo dourado,
era sua hora sagrada de descanso,
momento em que por ela, Deus era adorado.
As lágrimas lhe corriam pela face,
as preces lhe brotavam sussurrantes!
Ficou ali até do o ocaso o desenlace,
“a beleza de Deus, deve ser estonteante!”
Deve ser maravilhoso, com certeza,
Deus, criador de tão lindo pôr do sol!
Ela se extasia com tanta beleza,
da aurora ao ocaso, as nuanças do arrebol.
Minutos que valem a eternidade,
instantes que renovam todo o seu ser.
Volta à sua lide, com muita bondade,
seu sorriso diz que vale a pena viver!
05/11/16
D-335
Ouço os últimos acordes do sol
neste dia que termina,
acompanhado pelo girassol,
que humildemente se entristece e se inclina.
Qual maestro regendo uma sinfonia,
essa flor se iguala a uma alma pura
que, imersa em silente alegria,
pede a Deus por toda criatura.
Silêncio profundo que emerge e domina,
abafando o piar dos muitos pardais!
É toda a natureza que se atina,
no mar, na terra, nos quintais!
Já é noite. O girassol se angustia
por ter perdido o astro luminoso!
Sem o seu calor entra em agonia
como a mulher que perde seu esposo.
Quando a esperança já chegara ao fim,
folhas murchas, sem nenhum acerto,
eis que o sol reaparece, enfim,
para mais um caloroso concerto.
O girassol se reanima e se aquece,
volta para a luz todo o seu olhar,
de cores e euforia a todos enriquece,
ensinando aos que sempre estão em prece,
que Deus é incapaz de nos abandonar!
22/11/16
D-340
O enfado desta vida me destina,
o mormaço me deixa sedento!
O áspero caminho se me aglutina,
não sei quanto tempo ainda aguento!
As árvores imploram pela chuva,
a terra ressequida se endurece;
imagino um gelado suco de uva,
pensar numa piscina me entontece!
De repente vejo ao lado uma clareira,
uma trilha na mata fechada.
Entro nela e encontro uma cachoeira,
água cristalina e quase gelada!
Ao lado dela um pé de laranjas maduras,
talvez por muito tempo abandonado.
Só me faltou, pra acabar com as agruras,
espremê-las, num suco bem gelado!
Momentos depois retorno ao caminho,
refrescado, uma carona consigo!
Ar condicionado, carro fresquinho,
Eu já o considero meu amigo!
Chegando finalmente ao meu destino
agradeço e entro em minha ermida.
Louvo e bendigo a Deus por tanto mimo,
e minh' alma eternamente é agradecida.
17/01/17
D-346
O azul dessa flor me incomodou,
o azul dessa flor me fez parar!
Beleza efêmera, pouco durou,
mas me fez chorar, me fez pensar!
Nascida na agrura do concreto,
isolada num cantinho da calçada,
nunca vi algo tão discreto
tornar minha mente abalada.
Minha vida é como essa florzinha,
que hoje existe, amanhã não mais!
Mas sua foto, mostrando-a escondidinha,
vai perdurar, não se apagará jamais!
Espero também que minha obra
perdure para além de minha morte,
que não seja qual simples sobra,
mas que a muitos anime e conforte!
21/04/2017
D-351
Chuva torrencial. Tarde molhada.
A plantinha, mirrada, sedenta,
em local impróprio plantada.
Talvez o acaso, a sina agourenta.
Apesar da chuva, seca continuava.
Tudo ao redor encharcado.
“Como fui nascer aqui”? Perguntava.
E curvou-se sobre o talo mirrado.
Certa manhã, quase morta,
ouviu um barulho infernal.
Olhou pra cima, já toda torta,
Já não aguentava mais o seu mal.
Era uma frágil esperança!
Um buraco abriu-se no telhado,
Talvez fosse uma bonança!
Aquilo tudo estava abandonado!
O sol, finalmente, chegou nela!
Sorrindo, esparziu-se garrida!
À tarde, a chuva por sequela
Forçou-a a ficar toda florida!
Explodindo de felicidade
perfumou-se e a todo o lugar.
E é assim que o dono da herdade
A encontrou, ao retornar ao seu lar.
Abriu a porta e se extasiou
ao ver tão belas flores!
Com cuidado a replantou
como se fosse um de seus amores
Já no jardim, sempre a crescer,
ficou forte, bonita, contente.
Ninguém escolhe onde nascer!
Cada um do outro é diferente!
É assim com menores abandonados,
nascem ao léu, sem carinho,
tornam-se adultos frustrados,
se ninguém lhes conserta o caminho!
Se você nascesse como essa flor,
sem condições para bem crescer,
sem carinho, sem paz, sem amor,
iria algum dia florescer?
Antes de criticarmos a sociedade
tiremos da mente o preconceito!
Um pouco mais de bondade,
tornaria o mundo perfeito!
16/10/2018
D-366
As folhas secas
daquela árvore antiga
se perdem ao relento,
são varridas para o lixo,
ou são levadas pelo vento...
Outrora verdes,
destilavam frescor,
arejavam o mundo,
geravam lindas flores
que inspiravam o amor...
Agora, secas,
despregadas da ramagem,
nada mais destilam,
nada mais inspiram,
são o lixo da paisagem...
Eu vejo, nessas folhas,
as velhas e empoeiradas páginas,
amareladas e antiquadas,
completamente fora de moda,
dos meus juvenis pensamentos...
Quanta esperança destilavam!
Quanta harmonia envolviam!
Quanto amor inspiravam!
O meu tempo já passou,
novos valores surgiram,
o mundo não parou,
tudo se renova.
Entretanto...
a velha árvore,
que contempla, saudosa,
suas folhas secas
que já não lhe pertencem,
vê que surgem,
em suas ramagens,
novas folhas de primavera.
Sentado num banco ali perto,
contemplo os tenros brotos
e encho-me de alegria.
Nada está perdido!
Se a velha árvore refloresce,
por que eu também não poderia?
23/10/2003
D-196
Neste crepúsculo tão belo
contemplo o nosso Criador,
e, cheio de amor,
ponho-me a meditar...
Tudo isso por Ele foi criado!
O céu, a Terra, o mar,
todas as estrelas, todo o universo!
E, nesse enlevo sublime,
comigo mesmo converso:
Deus fez tudo do nada!
E o homem transformou em pão o trigo, transformou a uva em vinho amigo.
Sou tão pequeno diante disso tudo!
Cala-se a minha voz, fico mudo!
Mas, como sacerdote do Deus Altíssimo,
Pego um pouco de vinho
e um pouco de pão alvíssimo,
e, na Santa Missa,
eu os transformo no Deus Santíssimo!
Talvez de dezembro 2014
D-404
Ele nasceu no “L.E.M.”,
e seguia o curso do sol.
Só ele.
Ao seu redor, seus irmãos olhavam,
imóveis,
sorridentes,
resplandecentes,
A imagem de Maria.
Esta, qual girassol de Deus,
Olha sempre para sua divina luz,
Como os girassóis olham para o sol.
Maria,
essa Rosa Mística,
perfumada por Deus,
Para mediar todas as graças,
esparzindo o perfume
da virgindade,
da Conceição Imaculada,
da Santidade,
da beleza humilde,
tem aquela sua imagem
reverenciada por esses girassóis.
O girassolzinho virou-se levemente,
suavemente,
e a viu:
uma jovem sorridente,
olhando para o nosso planeta,
mãos estendidas,
espalhando a graça divina,
E ele sorriu.
E de alegria, chorou.
Que jovem linda!
Mais brilhante que o sol!
De repente, a chuva, o vento, a tempestade.
Enxurradas.
Árvores partidas.
Casas derrubadas.
E os girassóis...
todos ao chão.
A mão amiga que os cuida chegou.
No meio da chuva,
agora já mais fina,
os reergueu,
os apoiou em estacas,
os levantou.
O girassolzinho,
de cara no chão,
foi erguido.
Cabisbaixo.
Triste.
Sem forças.
No dia seguinte, o sol.
O calor,
a vida!
Reerguido, olhou para a jovem do nicho.
Ela sorria!
Seria para ele?
A alegria voltou.
A vida continuou!
Meses depois,
já adulto,
carregado de sementes,
Não mais um girassolzinho,
morreu.
Em seu lugar,
mais de 60 sementes
continuaram sua vida.
Algumas delas,
ali, no Jardim do L.E.M.,
continuam a olhar para o nicho,
em que a imagem da bela senhora,
sorri para eles.
Em nossa vida,
olhemos também para Maria!
Ela é como um girassol de Deus,
que sempre o olha com olhar de filha,
de esposa,
de mãe.
Olha para nós, também,
e zela para que alguém nos coloque um apoio,
quando estamos de cara no chão,
como o girassolzinho.
Que as chuvas do sofrimento,
da maldade,
das provações,
da infelicidade,
não nos abatam.
E se nos abaterem,
Façamos como o girassolzinho:
Olhemos para Maria,
e peçamos socorro.
Ela, Mãe de todas as graças,
Nos levantará.
talvez outubro 2012
D-405
O botão aos poucos se ergueu,
voltou-se para a luz do sol,
e no dia seguinte se abriu.
Seu encanto,
seu perfume,
sua beleza,
transformou em alegria
a tristeza daquela velhinha,
sua angústia em esperança,
seu desânimo em desejo de viver.
A flor surgida do botão perfumou,
alegrou,
encantou,
todos os dias em que viveu.
A velhinha olhou a tão bela flor,
um lírio dourado,
e pensou nos seus dias passados:
ela quisera tê-los vivido,
todos eles,
como esta flor:
alegrando,
animando,
perfumando,
levando todos a se alegrar
em Deus, seu Deus!