27/11/2011
G-09
A esperança da alegria
Agoniza no peito daquele velho poeta.
As garras da tristeza
Se aninham em sua alma,
desfolhando as flores,
suprimindo os amores,
desbotando as cores,
falseando as rimas.
Seu destino lentamente muda o rumo,
Seu equilíbrio sai do prumo,
Sua dor o atormenta.
São os últimos lampejos de uma vela bruxuleante
Que o vento da amargura
Insiste em apagar.
São os uivos inaudíveis
De um cão mudo,
Os alertas impensáveis de uma sentinela cega.
Ninguém ouve,
Ninguém vê,
Ninguém se importa.
A rima lhe bate à porta,
Tentando ajudá-lo:
“Amar!” - ela lhe diz,
Mas ele se põe a chorar.
“Lutar!” - ela insiste,
Mas a inércia o impede de andar
E o seu corpo desiste.
Já prostrado no caminho,
uma simples formiguinha
lhe mostra seu trabalho.
Arcada com uma folha,
Luta contra o peso,
Luta contra o vento,
Descontrola-se no caminho.
Uma outra formiguinha
Encontra-se à sua frente,
Antena-se com ela
E voltam à fileira.
Ela venceu!
A formiguinha lutou!
A formiguinha “se antenou”
E a folhinha levou.
A esperança da alegria
Fortifica-se no peito do poeta.
Os suaves dedos da paz
Se aninham em sua alma,
Replantando as flores,
Refazendo os amores,
Colorindo as cores,
Refazendo as rimas
Sua dor se esvai,
sua angústia sai,
seu amor retorna.
Ele sente em sua alma,
Não mais triste,
Renascer a esperança.
11/12/2011
G-14
Calafrios o envolvem,
o estômago se enjoa,
o coração palpita,
suor abundante,
a cabeça gira.
Os olhos se embaçam,
a vidraça sai de foco,
as pernas bambeiam,
não consegue caminhar.
É como um tufão que o arrasa,
um terremoto que passa.
Mitsunami que estraçalha,
vulcão em erupção,
A angústia o esmaga.
Ajoelhou-se. Rezou.
Lembrou-se, Senhor, de vossa agonia,
do suor de sangue,
e se acalmou.
Vossa luz o inundou.
Os laços desfeitos,
novamente se ligaram.
Tudo se acalma.
O pulso volta ao normal,
a vidraça à nitidez,
as pernas se afirmam,
o sorriso aparece,
e enfrenta, feliz,
o seu caminho
(Título original: A BRASA.)
11/12/2011
G-16
As pedras do caminho
Já não ferem os pés do peregrino.
Os espinhos das flores
já não lhe ferem as mãos.
As angústias vividas,
os prantos chorados,
limparam seus olhos,
aguçaram sua mente,
já não sofre mais.
Gritos e sussurros,
carícias e murros,
calma e rapidez,
calor e frio,
pernilongos e suores noturnos,
tudo isso o calejou.
Ele é como zumbi a caminhar,
um leão narcotizado,
um urso hibernando,
uma águia empalhada,
já não sofre mais.
As cores do seu arco-íris desbotaram,
seu violão se calou,
seu piano criou cupim,
sua flauta enferrujou.
Sobraram algumas cinzas,
que se espalharam com o vento,
e ainda pôde ver, aliviado,
que lhe sobrou uma brasa
ainda viva em seu peito,
e ele voltou a caminhar.
e ele voltou a caminhar.
(12/02/2012)
G-18
O homem, já maduro, está chegando.
seu horizonte se aproxima.
O caminho está terminando.
As cores, se esmaecendo.
Seus cabelos, rarefeitos.
Sua boca, várias próteses.
A pele amassada,
inchada,
enrugada,
com pintas da velhice.
A música já não o comove.
O ocaso já não o atrai.
O riso já não o faz rir.
As ausências... ele já não se toca..
Seus olhos... como falham!
Os sofrimentos que o aprisionam... não mais o aprisionam tanto.
Os amigos... diminuíram.
Os inimigos... ele os ignora.
As ambições... se enferrujaram.
Seu time predileto...
... Ele tinha um time predileto? Não me lembro!
Hoje (12/02/12) a Whitney Houston morreu!
Mas... quem era mesmo essa cantora?
Seu horizonte se aproxima.
A vida eterna está chegando para ele.
Aguarda esse sublime instante,
Esse bendito horizonte,
Essa viagem de encontro com o Cordeiro Imolado,
Esse ponto de núpcias entre os dois horizontes,
para ser realmente feliz,
para ver muito além deste seu pobre horizonte,
para vislumbrar maravilhas que nem a bíblia,
nem mesmo Jesus conseguiram definir com exatidão:
elas vão muito além de qualquer palavra humana ou divina.
A única imagem que aparece, é a que,
além deste horizonte,
brilha não mais este sol que nos queima agora,
mas a infinita Luz de Deus! (Apoc. 22,4-5).
30/09/2012
G-393
Rugas...
cabelos brancos e poucos,
músculos preguiçosos e fracos.
O passado já distante,
Rabecão já no horizonte...
O que resta fazer?
Amigos antigos?
já são nomes de ruas.
Amigos novos?
São raros, e nada a partilhar.
A experiência florida,
enriquecida,
porém...estagnada,
arquivada.
Que fazer com ela?
Aplicá-la?
Em quê?
Onde?
Como?
É...
A velhice chegou!
O tempo parou!
Tudo mais difícil,
tudo mais alto,
tudo mais pesado,
tudo se complica,
nada mais atiça,
o mundo foge,
a esperança se finda,
o calendário espicha,
a sociedade parece fútil,
tudo parece inútil,
a música desafina,
as cores desbotam,
as flores murcham,
tudo se acalma,
o tempo final,
a experiência é total,
mas...
quem se importa?
07/10/2012
G-396
Todos se foram,
a música acabou,
as flores murcharam,
o leite azedou,
o pássaro da gaiola morreu de fome,
o gato “se mandou”,
o angu de camarão se embolorou no fogão,
o pó invadiu o chão,
a geladeira estufou de gelo,
a maçã nela se empedrou,
a cerveja trincou,
o refrigerante virou sorvete,
as aranhas dominam os cantos das paredes,
os ácaros reinam,
o telefone não é atendido:
Meu amigo se foi!
Meu amigo morreu!
A memória de sua vida
aos poucos definhou,
ninguém mais o conhece,
ninguém mais o enaltece,
seu túmulo foi abandonado,
rachou.
Distante dali um botão num vaso,
se abriu,
floresceu,
e tinha seu nome,
e tinha sua marca,
passageiro da mesma barca,
fruto de sua vida.
Ali sua vida continuou,
sua mensagem se desenvolveu,
sua memória resistiu:
lampejos de beleza,
maravilhas da natureza,
lembranças enjauladas,
num grito de amor,
num lance de dor,
da saudade contida.
Lágrimas turvas de alguém que o chora,
que a separação deplora,
que o pranto ameniza.
Lembranças de uma vida bela,
de uma estrada singela,
de uma gratidão enclausurada!
Tudo passou,
a música recomeçou,
o leite está fresco,
o pássaro canta na gaiola,
o gato voltou,
o chão está limpo,
a geladeira foi descongelada,
outras cervejas compradas,
as aranhas não mais existem,
o telefone é atendido,
mas meu amigo...
...continua esquecido.
Outro ocupa seu lugar,
e sua lembrança só ocupa um coração:
o dono daquele botão no vaso,
daquele lugar distante,
seu amado filho.
(27/04/13)
G-36
Tudo se passou tão repente,
como um violento tufão,
como as nuvens passageiras,
como as aves migrantes,
como as batidas do meu coração!
Quimeras e saudade,
quietude e ansiedade,
foi só o que sobrou...
Reluto contra o tempo,
tiro a pilha do relógio,
mas as rugas insistem!
O tempo fugiu,
partiu,
se escafedeu,
não volta mais!
(27/04/13)
G-37
Mais uma noite findou,
mais um dia começou,
a esperança reapareceu.
Tiro as botas do armário,
trato do meu canário,
corto a grama que cresceu!
Limpo as mágoas do coração,
enxugo as lágrimas do chão,
recomeço a caminhada.
O caminho é muito longo,
escarpado e pedregoso,
e eu tenho que chegar!
08/06/2013
G-41
O passado passou...
a esperança chegou...
o dia acabou...
resta-me atravessar a noite,
que outro dia vai!
Sob as cinzas que sobraram
do meu passado,
vejo ainda algumas brasas acesas,
brasas vivas,
brasas de amor profundo,
páginas inefáveis que outrora escrevi!
São frestas
no telhado desta longa noite de minha vida,
que, com a luz do sol,
a iluminam em parte.
Ainda restam as telhas!
Vou quebrá-las,
destruí-las,
e o sol me atingirá totalmente,
e a noite desaparecerá.
Vida nova,
sangue renovado,
esperança resgatada,
lembranças acomodadas numa caixa de sapato,
aurora polar que começa,
flores que renascem,
cores que se definem,
primavera perene de luz,
de amor eterno.
"Deixando as coisas que passam,
abraçarei as que não passam", (Fil 3,13-14)
e, entre as coisas que passam,
abraçarei as que me podem levar
a um futuro feliz!
- 24/08/13
G-47
O incenso queimado subiu,
fumaça perfumada,
leve,
agradável a Deus!
Minhas preces,
vindas do coração,
também subiram,
esperando serem ouvidas.
Gratidão...
Esperança...
Quantas coisas para agradecer!
Quantas graças recebidas!
Quantas lágrimas esquecidas!
Quanto amor envolvido!
Palavras não são necessárias,
discursos aqui
não têm nenhum valor para os que amam!
Só este incenso,
perfumoso,
sublime,
apenas esta pequena fumaça
é o bastante
para mostrar o que sinto.
Sois Santo, Senhor Deus,
Sois todo amor e bondade!
Sois tudo do que necessitamos!
Sois a mais suprema verdade!
Aceitai este incenso,
aceitai-nos no paraíso!
SET. 2013
G-50
Como tempero
uso as cinzas do passado;
amizades que se foram,
ingredientes assimilados;
cinzas de verão,
cinzas de inverno,
provindas do coração,
provindas do acaso,
apimentadas ou não,
de vitórias ou de fracassos,
sementes consumadas
de saudades, felicidades,
desilusões.
As cinzas que hoje vou deixar,
não sei de que "naipe" serão:
Provindas do inverno?
Provindas do verão?
(SET 2013)
G-51
Chuva fina,
persistente,
tanto lá fora,
como no meu coração...
Tramas sem fim de fios,
querendo levar-me
a lugares diversos,
alienados,
a caminhos dispersos,
a lugar algum,
à morte eterna.
Fios embaraçados,
na tarde triste, chuvosa,
misturados,
conflitantes.
De repente,
como que uma vertigem,
vinda do céu,
me envolveu,
me iluminou,
e os fios desapareceram!
Uma certeza profunda
tomou conta de mim,
deu-me a certeza,
trouxe-me a paz!
Superei-me,
dominei-me,
canalizei-me,
fui iluminado!
E descobri um fio dourado,
apenas um fio dourado,
solitário,
ligando-me ao céu,
ligando-me a Deus,
à luta vitoriosa,
à paz gostosa!
Todos os demais sumiram!
Passarei pelos conflitos
com a luz da graça de Deus,
com o amor aos irmãos,
com o prazer da oração,
como se passa por cães amarrados,
que latem,
mas nada podem fazer.
Outros fios poeirentos e nojentos,
irão grudar-se ao fio dourado,
para ocultá-lo...
mas ele sempre reluzirá,
majestoso,
irradiante,
indicando-me o verdadeiro caminho,
iluminando-me o caminho do céu!
A chuva persiste,
o fio dourado resiste,
já não chove no meu coração...
06/10/13
G-53
Escada cinzenta que desce,
pachorrenta,
embolorada,
cheia de trancas,
de alavancas quebradas,
pesos inertes,
sem que possam ser movidos.
No último degrau,
o porão.
Escuro.
Ainda imaturo.
Claustrofóbico,
microscópico para ver,
mas gigante para doer:
tudo confuso,
embaralhado,
embaraçado,
sem o fio da meada,
sem nenhuma entrada.
Evito essa escada,
vejo outra mais bela,
colorida como aquarela,
convidando-me a subir,
a subir para o céu,
para a luz,
para a felicidade.
No primeiro degrau, a surpresa:
o ingresso para subir,
se encontra no mais profundo
daquele tétrico porão!
04/01/2014
G-60
Na última esquina da vida
que dobrei,
encontrei-me com a alegria.
Disse-lhe “bom dia”
e ela me respondeu,
me acolheu,
me fez sorrir,
e pegou carona no meu coração.
O mundo transformou-se,
diante de mim,
e mostrou-me tudo
o que eu já vira antes,
de modo surpreendente,
diferente,
com a leveza da pluma,
como o sorriso infantil,
como a aurora primaveril.
Com a alegria no coração
A tristeza sumiu,
E um grande amor
a tudo e a todos,
logo surgiu,
tomou posse de mim,
mostrou-me o caminho a seguir,
indicou-me um caminho florido,
risonho,
fácil de enfrentar.
A alegria mostrou-me seus filhos:
Perdão, partilha, sinceridade,
E estar sempre a servir!
19/01/14
G-62
As alegrias que às vezes sinto,
são inefáveis, não minto,
são vindas do paraíso!
São respingos de felicidade,
gotas de orvalho celeste,
pétalas das flores etéreas,
que Jesus desfolha,
nos recantos infinitos,
quando rega as rosas
que Teresinha plantou.
Meu amor pulsa forte,
mais intenso que a morte,
minha vida sorri!
Um enlevo divino,
mais suave que um violino,
me leva daqui
nas asas do anjo
que me guarda e protege.
Meus pecados,
Por Deus atirados
No mar mais profundo,
como diz Miqueias (Mq 7,19).
Meu corpo está aqui,
neste lúgubre lugar,
neste falso patamar,
nesta triste condição.
Meu pensamento, entretanto,
nas asas do anjo,
me leva ao céu,
ao próprio jardim.
Onde ainda, regando,
Jesus me sorri:
As pétalas da alegria
originam outra rosa,
majestosa,
perfumosa,
e o meu anjo, sorrindo,
a entrega a mim:
“Esta rosa é a esperança
Provinda das alegrias
que saem deste jardim!”
Mas antes de recebê-las,
passe, com toda a confiança,
pelos espinhos da cruz!
12/02/14
G-65
Vaso quebrado,
cacos...
...uma cola os juntou...
as cicatrizes permaneceram
e para sempre!
Minha vida quebrada,
cacos...
08/02/14
G-66
Ouço ao longe
vozes abafadas,
conhecimentos inúmeros,
coisas passadas,
apresso meus passos,
agito meus braços,
mas não os alcanço:
fugiram de mim!
08/02/14
G-67
Na manhã da minha vida,
guardei-o com cuidado,
para ser saboreado
em minha noite que chegou.
Abri a geladeira,
mãos trêmulas, ansioso,
minha última esperança,
mas o copo de leite precioso
caiu de minhas mãos,
e se quebrou...
08/02/14
G-68
O banquete da vida,
com toda certeza,
comi com sabor.
Chegando a partida,
fiquei com muita tristeza,
fiquei sem sobremesa:
estava com bolor!
08/02/14
G-401
Meus passos se apressaram,
mas não consegui fugir!
A velhice me pegou,
se instalou,
não quer mais sair!
12/02/14
G-64
O caminho da felicidade
é o caminho do céu...
Desvios sem conta
me fazem a cabeça,
deixam-me às tontas,
sem saber decidir:
ficar? Gozar? Curtir?
ou partir?
Decido partir,
caminho incerto,
um tanto deserto,
me ponho a agir,
sem nada curtir
dos prazeres ilícitos,
sem nunca fugir
do irmão necessitado.
Deus me espera
de braços abertos,
alegria sem fim!
G-72
Ao longe, o horizonte,
estrada defronte
me impele a partir.
Buracos na estrada,
pontes quebradas,
me fazem cair.
Mão firme e divina,
me ergue e me afirma,
já posso seguir!
13/02/14
G-73
Um instante,
nada mais que um instante,
me faz hesitar.
Um ato impensado,
palavra lançada,
não podem voltar!
Cruzo os meus braços,
emudeço meus lábios,
assim vou ficar!
O vento divino
me pega e carrega,
me leva a lutar!
Desfaço meus planos,
abraço outros ramos,
me deixo levar...
16/03/14
G-90
O meu corpo, cansado,
já não segue a minha mente.
De tudo enfarado,
por menor que seja,
qualquer peso sente.
Um cochilo gostoso,
em qualquer lugar eu tiro!
Basta encostar-me,
disso nem guardo sigilo!
Eu espero o dia,
talvez num dia de inverno,
em que o meu gostoso cochilo
se torne eterno!
22/03/14
G-91
Instantes que passam
e não voltam a mim!
Instantes perdidos
pesadelo ruim!
Instantes se juntam
produzindo o amanhã...
passei-os na solidão,
minha vida já é anciã
Instantes de sonhos
planejando a utopia!
Instantes medonhos,
calando a alegria!
Instantes fugidios
que vejo passar,
me causam arrepios:
não os posso parar!
Quisera deixá-los
para a felicidade...
Quem pode amá-los?
São ironias da verdade!
Instantes vazios
que me veem envelhecer
e eu, arredio,
sem nada poder.
Os pássaros, tão livres,
passeiam no firmamento...
As flores, tão belas,
nascem livres, ao relento...
Meus instantes sofridos
quase todos perdidos,
eu os protesto e os lamento!
23/03/14
G-92
Esta insatisfação que me oprime
mistura-se com o sublime
de perceber a vida eterna!
Êxtases e agonias,
tristezas e alegrias,
miscelânea que me consterna!
Simples é a vida
com subidas e descidas,
antipatias e amizades fraternas...
É um cadinho de emoções,
partindo corações,
saudades, dores internas!
Toda essa luta é externa:
dentro de mim, desde criança,
reside, vive e reina
a esperança!
30/03/14
G-94
Seus olhos se fecharam,
o último adeus!
Seus lábios se calaram...
as palavras cessaram...
Despedidas...quantas fizera?
Quantas ausências tivera?
Alegres e tristes momentos,
alegrias e sofrimentos,
orações e retomadas,
rótulas calejadas...
Uma vida se foi,
perdendo tudo o que recebera,
levando tudo o que perdera!
20/09/2014
G-126
O Além me sorriu,
minha alma partiu,
ao céu eu cheguei,
Entre anjos eu fiquei,
meus parentes me rodearam,
meus pais avistei.
Minha mãe me sorriu,
seus braços ela abriu,
e eu a abracei.
A felicidade estampada
nas faces marcadas
por suave ternura!
Nem males, nem agruras,
nem qualquer coisa impura,
eu lá avistei.
A paz completa,
de alegria repleta,
gentilezas sinceras.
O amor lá impera,
amizade sincera,
atitudes singelas!
Nenhuma falsidade,
nenhuma maldade,
nenhuma obsessão!
Os bons desejos satisfeitos,
com todo o respeito,
nenhuma opressão.
No céu não vi maldade,
nenhuma crueldade,
não vi pecado algum!
De repente, um sobressalto,
caí lá do alto,
me vi no meu colchão!
Era tudo um sonho,
mas fé nele eu ponho!
Creio nessa revelação!
Vale a pena lutar,
vale a pena amar,
vale a pena ser santo!
O céu nos espera,
iniciando uma nova era,
de alegria e encanto!
20/10/2014
G-132
A velhice chegou,
o cântaro se quebrou,
as pernas se enfraqueceram!
Meu cabelo embranqueceu,
meu ânimo arrefeceu,
minha esperança aumentou!
Me chamam de “bom velhinho”,
me fazem carinho,
me tratam como criança!
Meus colegas antigos
ou estão em abrigos,
ou já são nomes de ruas!
Acabaram-se as festanças,
aumentaram as lembranças,
abundância de agruras!
Entretanto, um consenso:
das coisas em que penso,
a maioria me consola!
Fiz muitas coisas boas,
nunca fiquei à toa,
só o céu espero agora!
17/11/2014)
G-140
Momento sublime!
Maria foi gerada
no seio de Sant'Ana.
Os anjos festejaram,
os arcanjos cantaram,
Deus deu um sorriso!
De Maria nasceu Jesus,
num facho de luz,
que salvou a humanidade!
Jesus morreu,
o céu se entristeceu,
até que a alegria
voltou com a ressurreição!
Maria, sozinha,
aguardava, com São João,
a sua assunção.
O céu, silencioso,
aguardava, ansioso,
a chegada de Maria!
No dia determinado,
com o corpo cansado,
Maria se despediu
de João e dos amigos,
e morreu.
Seu corpo, iluminado,
de repente sumiu,
desapareceu!
Chegada ao céu,
que alegria!
Todos saudavam Maria!
Os anjos cantavam, voavam,
faziam estripulia!
Uma coisa digo a esmo:
depois que lá chegou Maria,
o céu nunca foi o mesmo!
(18/01/15)
G-149
Pele lisinha,
cabelos sedosos,
sempre vizinha
dos mais famosos!
Atriz famosa,
amores à beça,
sempre charmosa,
de peça em peça!
O tempo, bandido,
passou sorrateiro,
deixando perdido
o viço, por inteiro.
As rugas abundantes,
a juventude disse “adeus”,
os olhares arrogantes
abandonaram os olhos seus.
Deposta a vaidade,
uma coisa lhe restou:
o pouco de bondade
que se lhe acompanhou.
As atrizes espertas
souberam envelhecer!
Sempre foram abertas
das rugas, o aparecer!
Às plásticas não se renderam,
conservam a idade real!
Papéis novos lhes apareceram,
exigências do “script” ideal.
As vaidosas, coitadas,
totalmente esticadas,
não servem para mais nada!
Suas antigas famas...
...desceram a escada!
(01/02/15)
G-150
As primaveras se passaram
nos jardins de minha ermida.
Anos que mudaram
a moldura de minha vida.
Os cabelos castanhos,
brancos se tornaram;
na pele lisa de antanho,
as rugas se formaram.
Após dez outonos
à terra amada voltei,
revi os santos patronos
de igrejas em que fiquei.
Tudo então mudou:
as pessoas envelheceram!
Tudo se transformou,
nem todos me reconheceram!
A vida é só um instante
que passa velozmente;
a dúvida constante:
amamos realmente?
Fiz falta a alguém?
Alguém sentiu saudade?
Os abraços e os sorrisos contêm
Algum pouco de verdade?
(09/02/15)
(Homenagem a Sta. Faustina Kowalska)
G-154
Nada faço, nada penso,
se não por agora!
Não mais o passado,
o futuro demora!
O que vejo neste instante
é tudo o que eu tenho;
seja a alegria constante,
seja da cruz o lenho!
Ó agora verdadeiro!
Eu o quero por inteiro!
(15/02/15)
G-156
Busco um bom enredo
para a história de mim mesmo,
que não tenha nenhum segredo,
que me retrate a esmo!
Embora procurasse,
nenhum enredo encontrei
que alegria me causasse,
e que pelo qual nunca chorei!
As estradas de minha vida
foram todas esburacadas,
cheias de luta renhida,
cercadas de barricadas!
No meio de tudo, entretanto,
vejo, numa luz admirável,
alguém que me convida a ser santo,
com um gesto bem amável!
Aceito a parada
e, no perdão e no amar,
conserto a estrada,
e continuo a caminhar.
Agora encontrei o enredo!
Eu sou o de Deus sempre amado!
Caminho, mas não mais com medo,
com o incentivo de seu agrado!
(22/02/15)
G-161
Céu nebuloso, nuvens pesadas,
lembranças escondidas,
tribulações passadas,
agora refletidas,
embora não amadas!
Em chuvas desabado,
o céu agora sumiu!
Sem luz, tudo nublado,
o coração do velho se partiu,
lembrou-se do passado,
que tão pouco lhe sorriu!
Sozinho e abandonado,
suas esperanças ruíram!
Os seus, por ele amados,
entre os dedos se esvaíram!
Só lhe restou um cãozinho,
fiel companheiro e amigo,
que sempre lhe faz um carinho,
como quem diz: “Estou contigo!”
(18/04/2015)
G-176
E se eu tivesse ido?
E se eu não tivesse feito?
E se eu não tivesse perdido?
E se eu tivesse dado um jeito?
E se...?
E se...?
E se...?
Nossa vida se passa no tempo do agora!
Qualquer desgraça,
deixe no outrora!
Pedir perdão,
recomeçar,
dia a dia,
vez por vez,
sem ficar a relembrar,
sem tantos talvez,
talvez,
talvez...
(24/05/15)
G-187
Os olhos pesados
não consigo abrir!
O corpo cansado
tenta decidir:
abertos ou fechados?
Não dá pra resistir!
Após a cochilada
que acabei de dar,
a poesia “amarrotada”
começa a se mostrar
Ainda estou com sono,
não dá pra disfarçar!
O que rima com “sono”?
Não consigo encontrar!
Amigos, me desculpem!
Eu vou mesmo é dormir!
As rimas que se danem!
Eu vou sucumbir!
(30/05/15)
G-188
A doença nos deprime,
nos distrai,
mas nos redime,
purifica o coração!
Que o Senhor nos cure,
nos dê atenção!
Que nos conforte em seus braços,
que nos deixe de prontidão!
Jesus sofreu tanto,
em cada parte do corpo,
sofrimento santo,
que o deixou morto!
Nossas dores tão poucas,
corrige-nos em nossa vontade,
abafam nossa correria,
conduzem-nos à bondade...
Na hora certa Jesus nos diz:
“Agora chega, já é o bastante!
Quero ver-te feliz,
mas perto de mim, a cada instante!”
(30/08/15)
G-208
A tristeza da tarde me invade,
está chegando o adeus!
O dia que acaba me persuade
que estão no fim os dias meus!
A noite que chega me amedronta
como a incerteza do meu porvir!
O céu ao abismo se defronta:
qual horizonte se me irá abrir?
Desligo-me dos desvios do caminho,
atenho-me à Palavra de Jesus!
Peço-lhe que me dê o seu carinho
quando ele me ver pregado na cruz!
Vejo o céu aberto à minha frente,
mas muitas barreiras aos pés!
Vivo tanto quanto posso coerente,
e seguro em minha fé!
A tarde já terminou,
o sol deixou de iluminar.
A noite de tudo se apossou,
e eu ainda estou aqui.
E eis que alua cheia aparece,
refletindo do sol pálida luz!
Maria, porém, me ilumina e aquece,
com o fogo do amor de Jesus!
Com Maria estou cheio de confiança,
a noite não mais me intimida!
Renasce-me a esperança
de, no céu, continuar minha vida!
24/10/15
G-219
No banco daquela praça
três velhos sempre se encontram
com saudades e com graça
seus “causos” lembram e contam
Tristezas e euforias,
doenças e dias saudáveis,
contam, ou com alegria,
ou com tristezas incontáveis
Já viveram suas vidas,
as cinzas são aparentes,
mas as brasas, escondidas,
estão vivas em suas mentes.
Muitas experiências
os jovens ali podem ver,
mas em suas existências
preferem ver para crer
Ali sempre estão
olhando para o nada...
sentem que aos poucos vão
chegando ao fim da estrada!
A noite chega, de mansinho,
eles dali se retiram,
sorrindo, pelo caminho,
das mentiras que contaram e ouviram!
-11/11/15-
G-224
O sofrimento purifica,
diz o 12 de Hebreus.
Ele também dignifica
todos os filhos de Deus!
Sem um coração puro,
sempre livre do pecado,
ninguém está seguro
de ser por Deus visitado
E se o sofrimento liberta
não pode ser coisa má!
Em nossa alma desperta
o amor que Deus nos dá
Uma só coisa desejo,
uma só coisa procuro:
receber de Deus o ensejo
do Paraíso futuro!
12/11/15-
G-225
Tu, frágil criatura,
afagada pela velhice,
afastas qualquer ventura,
és escrava da mesmice!
Os ventos te esperam, criatura!
Teu barco já está preparado!
Abranda tua vida tão dura!
Deixa as amarras do pecado!
Envelheceste indolente,
enveredastes pela tristeza!
Não percebes que estás doente
por falta da divina Beleza?
A solidão abraçaste
por teu puro egoísmo:
a todos abandonaste
e te jogaste no abismo!
Joga fora teus pecados!
Pede a Deus o seu perdão!
Faz de todos teus amados,
ama de todo o coração!
As portas da felicidade
para ti abrir-se-ão!
Solidão, angústia, saudade,
nunca mais te ferirão!
10/01/16
G-245
As férias findaram
tudo retornou à mesmice,
meus sonhos congelaram,
coisas próprias da velhice.
As cores vão me esperar,
as luzes vão se esconder,
a felicidade vai aguardar
até um novo amanhecer!
A natureza colorida
só vejo agora em preto-e-branco!
Esta espera tão sofrida
no meu trabalho planejo e tranco!”
A alegria me espera lá fora,
as cores me aguardam a chegada.
Enquanto eu não vou embora,
mantenho a esperança guardada.
31/01/16
G-251
Caminhava com o rosário,
no mal do mundo meditando,
como um desanimado operário,
estava me auto questionando!
Pra que tanto empenho?
Pra que tanto trabalho
em levar da cruz o lenho?
Meu cabelo já está grisalho!
Não poderia me retirar?
Deixar que o mundo se dane?
Limitar-me a orar,
abandonar o mundo infame?
Uma luz do céu me cobriu
e no coração eu ouvi;
minha mente se abriu
e Jesus me falando eu senti:
“Vós sois tão poucos!
Preciso de vosso labor!
Mesmo que os julguem loucos,
promovam meu tão grande amor!
18/02/16
G-255
As mágoas todas já passaram,
nenhum resquício de vingança...
Inimigos e desafetos se afastaram,
a tristeza ficou só na lembrança!
Como se entristecer ou odiar?
Nosso Deus é onipotente e misericordioso,
que nunca jamais cessa de nos amar
e perdoa mesmo o odioso!
A escuridão de minha noite se fez luz,
o azedume de minha vida se açucarou,
vosso ardente amor me chama e seduz,
vossa misericórdia em mim se aconchegou.
Tudo passa, tudo é esterco,
em busca da vida eterna insisto!
Amando a Deus e a todos nada perco,
em nome de nosso Senhor Jesus Cristo!
26/05/16
G-277
Quando a linha de chegada se avista
a terra se abre à minha frente!
Caem-me os troféus das conquistas,
o asfalto se torna mais quente!
A realidade se torna obscura,
meus passos se tornam mais lentos,
meus olhos se põem à procura
de qualquer luz que me dê alento!
A Jesus rogo, por meio de Maria,
e uma ponte se abre à minha frente!
Aos poucos me volta a alegria,
e tudo se aclara, de repente!
Coloco em Deus minha confiança,
sei que logo vou chegar!
A santidade é a minha esperança,
sei que, com Deus, a vou alcançar!
01/07/16
G-283
A esperança ainda me envolve,
a alegria ainda me encanta,
mas essa vida em mim não resolve
quando se tornará mais santa!
As nuvens continuam a passar,
e, na certa, jamais voltarão!
O rio em que agora eu pisar,
suas águas também passarão!
Como as nuvens, as tristezas passaram,
como as águas, o desânimo também!
Só as lembranças bonitas ficaram,
e os anjos, no céu, dizem amém!
02/07/16
G-285
Os anos que me restam são poucos,
pouco me resta a fazer!
Muitos correm como loucos,
mas logo chegarão ao anoitecer!
Muitos desses correm pra valer,
mas sempre no caminho errado!
Só podemos vencer
no caminho por Deus traçado!
Cheguei à velhice sem medo,
dure ela quanto durar!
Não tenho nenhum segredo,
só nunca deixei de amar!
24/07/16
G-291
Este lugar não mais me pertence,
de repente, eu me vejo deslocado!
As flores dos jardins estão morrendo,
o meu céu tornou-se desbotado!
Os pássaros canoros emudeceram,
gritos e ruídos não quero ouvir!
Parece-me que eu fiquei invisível,
o peso do dia se faz sentir!
Meu corpo ainda aqui presente,
meus passos ainda aqui se plantam!
Mas minha mente, como um pássaro,
já está com os que lá fora cantam!
Sinto uma indiferença profunda,
para mim, isto aqui nunca existiu!
Os sons e as vozes me enfadam,
a saída ainda não se abriu!
Isso tudo muito me angustia,
o tempo me pesa nas faces!
Cabelo branco, pele enrugada,
como eu quero que tudo isso passe!
Conto os minutos de espera,
o dia parece não mais terminar!
Este lugar pra mim já não existe,
almejo, ansioso, o meu novo lar!
06/08/16
G-299
Se o Deus em que cremos procurarmos,
se o amarmos evitando o pecado,
não importa o lugar em que estarmos,
seremos sempre protegidos e amados.
Não importam a dor e o sofrimento,
nem a pobreza, a doença, o exílio!
Com Jesus e Maria no pensamento,
conosco estará o seu auxílio!
Faça chuva ou faça sol,
haja seca ou inundação,
Deus será sempre nosso farol,
e, sempre alegre, o nosso coração.
07/08/16
G-301
A noite se aproxima sorrateira
na cidade e no meu coração!
Minha única alegria verdadeira
é poder amar a Deus e ao irmão.
Canalizo as tristezas na poesia
e me fortaleço na oração...
“Orai sem cessar”, diz Jesus todo dia,
com as palavras e na contemplação!
O jugo de Jesus é leve e suave,
não deixa ninguém embrutecido!
É como estar com ele numa nave
dentro do oceano enfurecido.
Sei que depois desta noite tão dura
a aurora vai surgir radiante!
Se eu sempre amar com ternura
a alegria me impelirá sempre avante!
]
30/08/16
G-309
Tudo passa, tudo é graça,
tudo concorre para o bem!
O pecado é desgraça,
mas ele passa também!
Se em pecado você estiver,
peça de Deus o perdão!
Perdoe-se o quanto puder,
abra ao Senhor seu coração!
Nunca diga: “não tem jeito”,
todos temos solução!
Por mais enorme seja mal feito,
Jesus limpa nosso coração.
Tudo passa nesta vida,
só não passa o amor de Deus!
Não é a esperança perdida
pra quem se põe nos braços seus!
Eu lhe digo: não tenha medo,
confie em nosso Senhor!
Pra ninguém isso é segredo,
ele nos ama com ardor!
11/09/16
G-311
A graça do Senhor me alimenta,
a luz do Senhor me ilumina;
nada mais aqui me sustenta,
a não ser sua presença divina!
Ele está na pessoa do pobre,
do humilde possui o coração.
Transforma os simples num nobre,
mas permite muita provação.
Sejam risos, sejam prantos,
tudo isso podemos vencer!
Basta que o nosso encanto
seja Deus no viver ou no morrer!
18/09/2016
G-313
Alegrias rarefeitas no inverno,
tristezas imensas no verão;
males do mundo hodierno,
escleroses do coração...
O velho barco, em águas turvas,
segue mansinho, rumo certo,
não faz nenhuma curva,
a chegada está tão perto!
Os homens, pobres criaturas,
tentam as águas purificar,
mas, se a própria água for impura,
com que a poderemos lavar?
Só a água dada por Jesus
tem esse maravilhoso poder.
Ela sai de seu coração na cruz,
com ela poderemos vencer!
Passa a dor, passa a alegria,
nessa vida tudo passa!
Com Jesus e com Maria,
tudo em nós é pura graça!
19/09/16
G-314
A brisa da tarde me acalenta,
leva longe o meu pensamento!
Transpasso a dor que uma muralha sustenta,
Deus é o meu único alimento!
Os pardais buscam migalhas de pão
que as pessoas jogam ao relento.
Mas as migalhas de consolação,
não as busco nem no tempo, nem no vento!
Eu a busco com muito empenho
na luz que me envolve e seduz,
emanada, no Sagrado Lenho,
do divino Coração de Jesus.
24/09/16
G-317
Parei no tempo e no espaço,
embora ainda veja o horizonte!
Minha alma é feita de aço,
nada há que a desaponte!
Meus passos apressados
não me levam a nenhum lugar.
Sou como o rio canalizado
que nunca chega ao mar!
Roguei ao Senhor uma luz,
e logo fui atendido.
Vi Jesus morrer na cruz,
para nos salvar do “encardido”.
A inércia é só aparente,
garantiu-me a visão.
A santidade se faz presente
no amor do coração!
13/10/16
G-326
As cinzas do meu passado
foram levadas pelo vento,
fecundaram todo o prado
em que recebo o divino alento.
Diz São Paulo esquecermos
todo nosso passado inglória!
É preciso sempre vencermos
o presente, plenos de vitória.
O perdão divino é total,
abrange todas as dimensões.
Afasta de nós todo o mal,
é um farol para os corações.
O passado não pode ser mudado,
o futuro ainda não é existente.
Só podemos ser transformados
se fincarmos os pés no presente!
19/10/16
G-328
Meus olhos se perdem no horizonte,
meus pés devoram a estrada,
a esperança sempre está defronte,
se me mostra cada vez mais amada.
Nos revezes de uma vida atribulada
conto as curvas do caminho,
conto cada bofetada,
almejo um gesto de carinho!
Perdoo aos que me maltrataram,
que Deus lhes dê o seu perdão!
Abençoo os que me ampararam,
e a Deus oferto o coração!
A oração e as palavras do evangelho
são a força da minha caminhada.
Amar a Deus e ao irmão anelo
até o fim de minha jornada!
27/11/16
G-339
As águas do mar da vida me cobriram
e até quiseram me afogar,
até que os meus olhos descobriram
a mão divina a me salvar.
Sem Deus a criatura humana
a nada se reduz!
Com Deus a sociedade se irmana
e à plenitude se conduz!
Uma só coisa eu peço ao Senhor,
e a salvação nela inserida:
viver em sua mansão com amor,
cada dia de minha vida!
(apenas uma brincadeira com palavras)
20/02/17
G-347
Não sou leigo, nem sou religioso,
não estou livre, nem estou represado.
Nada me deixa cioso,
não sou louvado nem sou desprezado.
Não sou rico nem sou pobre,
nem todo saciado, nem faminto.
Não sou plebeu nem sou nobre,
não tenho gosto de mel nem de absinto.
Não sou nervoso, nem fleumático,
não sou caipira, nem cidadão,
não sou feio, nem simpático,
não sou medroso, nem valentão!
Não sou baixo nem sou alto,
não sou gordo nem sou magro,
não me arrisco, mas sou incauto,
bebo pouco, às vezes um trago.
Será que até eu morrer
eu vou conseguir viver?
19/05/2017
G-352
Como a rosa se desfaz ao vento
assim meus sonhos se desfazem no ar...
Tudo que planejei sumiu no relento,
só me sobrou o coração, para amar...
Ponho-me aqui, diante da Eucaristia,
Olho para Jesus, nada lhe posso ofertar!
Todos os projetos que em mim havia
cada um deles eu vi desabar.
Agora me resta o doce conforto
de saber-me amado por Deus,
curtir minha vida de eremita absorto,
ser sal e luz, como diz Mateus.
25/08/17
G-355
Pelas estradas da vida,
em busca de um tesouro,
Percorro um longo caminho,
mas não ando à busca de ouro!
Nunca acumulei
carro, casa ou mordomia!
Amigos e inimigos amei,
além de Jesus e Maria.
De repente, entretanto,
a estrada sumiu!
O caminho perdeu o encanto!
Uma cratera à frente surgiu!
Sem nunca desanimar
vou procurar um atalho!
O tempo que me restar,
passarei em oração e trabalho!
O tesouro que não encontrei
talvez esteja noutro lugar!
27/09/2017
G-356
As placas desapareceram!
Cadê as luzes?
Não vejo o caminho,
não vejo os amigos,
não vejo ninguém!
Apenas uma touceira de espinhos
pela qual me obrigam a passar!
Nenhum abrigo,
a proteção da estrada sumiu,
as setas se escafederam,
não sei onde pisar.
Tento ficar parado,
mas a vida me obriga a caminhar.
Tento dar um grito,
mas um nó na garganta me impede.
Tento chorar,
mas as lágrimas secaram!
Para ver melhor pego meus óculos,
mas as lentes quebraram!
Sentei-me numa pedra,
esperando alguma resposta,
esperando alguma proposta,
esperando que alguém me encontrasse,
mas a pedra se esfarelou!
Sentei-me no chão,
abraçado aos joelhos,
percebo uma brisa suave,
percebo a presença de Deus.
Pensei como filósofo:
“Por que ainda persisto?
Por que ainda existo?
Por que ainda resisto”?
A noite acabou,
as trevas desistiram,
o sol começou a nascer!
Forcei o olhar,
ainda lacrimejado,
embaçado,
e pude enxergar,
no meio da neblina,
numa total surdina,
uma placa,
apenas uma placa,
brilhante,
reluzente,
chamativa,
atraente,
receptiva,
me indicando o caminho:
“Meu amigo,
Eu te amo”!
E, embaixo, a assinatura:
“Jesus”.
29/11/17
G-357
A tempestade acabou,
mas...
antes que eu pudesse sorrir,
antes que eu pudesse sonhar,
antes que eu pudesse cantar,
um vendaval varreu minhas ilusões,
deixou desnuda a realidade.
Todos os meus sonhos se foram,
diluídos como algodão doce na água,
aquele mesmo que, em criança,
tanto me fez sorrir!
A rudeza do mundo imbecil
se mostra com toda a ironia.
O desejo insano de "justiça"
amarga e injustiça a verdade escondida.
Qual é a verdade disso tudo?
Não sei... está perdida!
10/06/2018
G-364
No meu caminho, uma subida,
e na subida, uma curva fechada.
A esperança não está perdida,
há sempre luz no fim da estrada.
O céu, já nublado,
de repente se fechou.
Ninguém ao meu lado,
será que tudo acabou?
Sozinho, na caminhada,
medito em minha vida...
Há um desvio na estrada,
Será esse?
O que eu podia ter a Deus dei,
a juventude foi embora,
a velhice chegou,
meu Deus, o que faço agora?
Pessoas ajudadas...
...andam aí pelo mundo!
As lágrimas derramadas
as tiraram do fosso profundo!
Já entrei no desvio.
que se chama oração...
uma década passada...
resgatei meu coração!
04/09/2019
G-371
A tarde termina,
meu coração se dilata
e me coloco diante do Altíssimo.
Meus lábios se abrem para as Vésperas.
Tudo em volta me envolve,
me prepara para o fim,
que se aproxima inexoravelmente.
Um trem passa, barulhento,
apita como quem reina,
majestoso,
sobre os trilhos.
Seu apito, forte,
grave,
ordena que tudo se feche
para que ele passe triunfante.
É dessa mesma forma
que vejo os avisos,
claros e distintos,
não só da tarde terminando,
mas também do meu tempo acabando.
Para mim,
tudo está chegando ao fim.
Entretanto,
sinto, lá dentro,
uma voz me dizendo:
“Na verdade, você está chegando
ao início do começo
de uma feliz eternidade”.
23/12/2019
G-372
Neste meu ocaso
as musas se calaram,
as lágrimas secaram,
as ilusões partiram.
Esta solidão,
a mim tão deliciosa,
prenúncio da partida,
prepara-me o coração,
me intima às despedidas.
Os desejos se arrefeceram,
as expectativas quase zero,
não me sinto necessário,
as ambições desapareceram.
Minha tão amada velhice,
pouco vai durar, talvez...
Mas a vivo com agradável “mesmice”
dia a dia, mês por mês.
As poesias não mais me atraem,
as musas me abandonaram!
Não sinto mais euforia,
as palavras se enferrujaram...
Sinto a falta de muitos amigos,
que este mundo deixaram...
Quase lhes peço desculpas
por ainda estar aqui!
Com muito esforço e apatia
termino esta poesia
Que de poesia não tem nada,
talvez seja uma prosa rimada...
20/07/2020
G-374
O coronavírus
desatou a ribanceira
e uma avalanche de ideias
envolveu minha cabeceira...
Noites de insônia,
mortes sem sentido,
vidas sem garantia,
sobrevidas sem lógica.
Parece que o mundo,
esse mundo em que vivo,
desabou,
ruiu,
enlouqueceu!
O relógio de minha velhice
disparou.
Meus dias se tornam horas,
minhas horas se tornam minutos,
tudo acelerou.
Imerso nas incertezas
faço o meu testamento,
e peço a Deus que me ouça
e receba, pacientemente,
este meu triste lamento...
06/06/2021
G -379
As sombras do passado
tão densas e escuras
se desvaneceram.
A luz voltou a brilhar,
as estrelas apareceram,
o sol tornou-se mais forte,
a vida afastou a morte,
tudo mudou.
Jesus está sorrindo,
a vida vai se abrindo
a um colorido porvir.
As cores da alegria,
o sorriso de Maria
aparecem em cada semblante.
Coisa semelhante
vejo na economia,
no fim da guerra fria,
todos se irmanaram.
Oriente Médio sem guerras,
florestas se reflorestaram,
Saara abriu-se em flores.
Rios secos se inundaram,
caudalosos e piscosos,
nada como dantes.
Findou-se a pandemia,
todos chegam aos 100,
tudo se rejuvenesceu.
Os países se coligaram,
todos ajudam a todos,
ninguém mais é pobre,
ninguém mais no abismo.
Do mais humilde ao mais nobre,
não há mais egoísmo.
Um som estridente e enfadonho...
sento-me na cama.
Acordei do meu sonho!
06/07/2022
G-381
O tempo passou,
os cabelos embranqueceram,
a juventude terminou,
os músculos enrijeceram...
Antigos colegas sumiram,
muitos já partiram.
O passado
não há com quem comentar,
não há com quem chorar,
não há com quem sorrir,
é triste vê-los partir!
Fatos passados, que saudade!
Não tinha respostas, agora eu tenho!
Mas, sem tê-las para quem contar,
eu me abstenho!
Mesmo que pudesse,
não gostaria de voltar no tempo.
Se alguma mudança houvesse
que impedisse meus contratempos,
talvez também impedisse, decerto,
as pérolas que consegui
nos oásis do meu deserto...
Vivi o que vivi,
sofri o que sofri,
chorei o que chorei,
preguei o que preguei,
deixei o que deixei,
ganhei o que ganhei,
Mas muitíssimo eu cresci.
Coisas bonitas ocorreram,
muitos se converteram,
foi um tempo maravilhoso.
O tempo passou...
só restou a saudade...
a juventude terminou...
Meus amigos, lá do céu,
me acenam com a eterna felicidade...
(Teófilo Aparecido de Jesus.)
22/07/2022
G-382
O espelho me mostra
uma face que não conheço,
uma face sem apreço,
nunca antes imaginada.
O espelho me mostra
que o tempo já passou,
que a carinha bonita se apagou,
ilusão desmistificada.
O espelho me mostra
uma pessoa estranha,
minha decepção é tamanha,
conclusão nunca pensada.
O espelho me mostra
as ilusões perdidas,
restaram-me as feridas,
mas todas cicatrizadas.
O espelho me mostra
do meu ser a versão externa,
diferente da face interna,
que ainda é jovem, ainda não transformada.
O espelho me mostra
que a felicidade já está perto,
alguns anos mais, decerto,
para o fim da caminhada.
O espelho me mostra
do idoso o sorriso,
o perfume do paraíso,
e a dicotomia superada.
O espelho, enfim, me mostra
que para amar a Jesus,
que por nós morreu na cruz,
que para a todos amar,
que a todos saber perdoar,
com todos saber conviver, ter paciência,
por toda a existência,
é preciso praticar
com a pessoa do espelho,
que vejo sorrindo.
1980 OU 1981
G-402
Sinto passarem-me os ternos anos,
frágeis carícias que a vida me deu.
Sinto me pesarem os desenganos,
triste lembrança que o tempo perdeu.
São como as nuvens, que passam e passam,
e como sonhos, se quebram no além,
são como pedras jogadas no espaço,
que sempre caem na própria cabeça!"
Um breve sorriso, um instante que passa,
uma dor, uma flor, um adeus. Ah!
Se eu pudesse dizer um simples "Bah"!
Recomeçando outra vez minha vida,
seria um amor, seria outra flor,
seria uma canção para meu Deus!
09.03.2025
G-408
(https://youtu.be/ikBD3DcSGFM)
“Tristesse” para Chopin,
Tristeza para mim,
diante da vida que se esvai aos oitenta...
Amigos?
Muitos já se foram,
deixaram-me falando sozinho,
levaram as rosas, deixaram-me os espinhos,
deixaram lembranças únicas e de certa forma impartilháveis.
Quem se interessa?
Quem quer saber que naquele riacho,
agora tão poluído,
a gente nadava?
Quem quer saber que brincávamos na rua,
terra batida,
de “pais”, de “piques”, de “unha-na-mula”?
A Marilena cantando e dançando,
no meio da rua,
o “Ai Lili ai lô”?
“Eu passo a vida cantando,
ai Lili, ai lili ai lô!
Por isso sempre contente estou,
o que passou, passou!
O mundo gira depressa,
e a cada volta eu vou
cantando a canção tão feliz, que diz:
“Ai Lili, ai Lili, ai Lô!”
Por isso é que sempre contente estou!
Ai Lili, ai Lili, ai lô!”
Quantas despedidas!
Quantas partidas!
Quão poucas visitas!
O cemitério de minha cidadezinha
mais parece um museu.
Ali recordo coisas do passado,
coisas bonitas e às vezes tristes,
ao ver os “stands” dos que já foram,
stands esses que são chamados de túmulos.
É uma exposição de pessoas que se foram,
de projetos que se realizaram,
de projetos que falharam,
de lágrimas,
sorrisos,
festas,
comemorações,
coisas do passado.
Ali é o “stand” do seu Dito Lixeiro,
que tinha um burro chamado “Macaco”,
que dava a pata a quem pedisse.
As crianças rodeavam a carroça de lixo,
tocavam o sininho de lata,
eram abraçados por esse grande homem Seu Dito.
Ali é o “stand” do padre do Hospital,
que visitava os doentes com tanto amor!
Ali é o “stand” da dona Rosa,
sempre vestida de preto,
hospedava os padres,
solteira e feliz,
sempre dizendo:
”eu sou nota nove, noves fora nada”!
Ali é o “stand” de dona Ermínia,
fornecia marmitas,
morreu na enchente.
Ali é o “stand” do Ataíde Júlio,
compositor exímio,
cantado até pelo RC.
“Eu te espero de braços abertos,
de olhos vermelhos de tanto chorar!
Eu te espero, morrendo de tédio,
sentindo a saudade a me sufocar… “
(Ellen de Lima - https://youtu.be/tCdeivtz3wI)