Como ler as citações bíblicas deste texto:
Lc 18,1-8: Evangelho de S. Lucas, capítulo 18, versículos de 1 a 8
Lc 18,1.8; 19,1: Evangelho de S. Lucas, capítulo 18, versículos 1 e 8. Capítulo 19, versículo 1.
Lc 18,1.3-8: Evangelho de S. Lucas, capítulo 18, versículo 1 e versículos 3 a 8.
Ou seja: o ponto separa os versículos. A vírgula separa capítulo de versículos. O ponto e vírgula separa capítulos. O traço significa que devemos ler todos os versículos entre o primeiro e último número.
A bíblia foi escrita no decorrer dos séculos, desde o tempo do rei Salomão, aproximadamente no ano 1000 antes de Cristo, a partir de narrativas e tradições orais contadas de pai para filho.
A Bíblia não foi ditada por Deus, como muitos pensam, mas inspirada por Ele a pessoas muito simples, que entendiam essa inspiração de acordo com a instrução ou com a pouca instrução que possuíam. Como os costumes de um lugar geralmente são diferentes do outro, há fatos iguais contados de maneiras diferentes pelos que escreviam.
Isso nos leva a tomar muito cuidado ao lermos ou procurarmos interpretar os textos bíblicos. Na Igreja Católica é costume já muito antigo confiarmos essas interpretações e esclarecimentos a especialistas aprovados pelas autoridades eclesiásticas. Eles dedicam suas vidas nesse trabalho e merecem toda a nossa confiança.
Como uma obra inspirada por Deus mas escrita por homens limitados que usavam aquilo que sabiam, a bíblia não pode ser lida ao pé da letra. Há muitas informações contraditórias. Ao lermos um trecho precisamos, pois, saber o que aquilo queria dizer para as pessoas da época e só então aplicá-lo ao nosso tempo.
Dou alguns exemplos: O capítulo 1 do Gênesis diz que Adão e Eva foram criados juntos, ao passo que o capítulo 2, diz que Eva foi criada depois de Adão, de uma costela dele.
O cap. 1 fala que o homem e a mulher foram criados após todo o restante da criação; O cap. 2 fala que foram criados em primeiro lugar.
O cap. 3 fala que os primeiros filhos de Adão e Eva foram Caim e Abel, mas o cap. 5 diz que foi Set, e nem sequer mencionam Caim e Abel que, na verdade, não foram filhos de Adão e Eva, mas nasceram muito tempo depois, na era do bronze, quando já havia muita gente na terra. Isso inclusive é mostrado no finalzinho da Bíblia de Jerusalém.
Em Lucas cap. 6 Jesus teria dito:” Bem aventurados os pobres”. Em Mateus, cap. 5, ele teria dito: “Bem aventurados os pobres em espírito”. Afinal, Jesus falou pobres ou pobres em espírito? Em Mateus, o sermão foi dito numa montanha; Em Lucas, numa planície. Qual dos dois tem razão?
É por isso que precisamos tomar muito cuidado com as interpretações. Esse, aliás, é também o motivo pelo qual muitos fundaram outras religiões. Geralmente nascem de uma discordância a respeito dos textos evangélicos.
Por esse motivo os cristãos que não são católicos seguem a bíblia definida pelos judeus no ano 100 de nossa era, que não tem os livros escritos em grego depois de Esdras (400 a.C) acrescentado o Novo Testamento. Esses livros que foram tirados da bíblia por eles são:1º e 2º Macabeus, Eclesiástico (não confundir com o Eclesiastes, que tem nos dois), Sabedoria, Baruc, Tobias, Judite e complementos gregos de Ester e Daniel, restando 66 livros. Permaneceram 73 na bíblia católica: 46 no AT e 27 no NT (Eles têm apenas 39 no AT).
Acostume-se a ler os ótimos comentários encontrados em nossa bíblia, tanto antes das leituras como no rodapé delas. Esses comentários são feitos por pessoas realmente capacitadas, que dedicam suas vidas nesse estudo, como já dissemos.
Quanto às diferenças que mostramos acima, não devem deixar você preocupado (a). O núcleo da narrativa é verdadeiro, baseada num fato real, mas contada de formas diferentes, dependendo muito da região onde era contada e que tipo de pessoas a contaram.
Dou um exemplo: um médico, um engenheiro, um psicólogo e um mecânico vão ver cada um a seu modo um mesmo acidente ocorrido no caminho por onde passavam. Ao chegarem às suas casas e contarem o fato às respectivas esposas, cada um contará a seu modo, notando coisas próprias de sua profissão. Só mesmo unindo as quatro narrativas é que chegaremos perto do que realmente aconteceu no dito acidente. É isso que ocorreu com a Bíblia.
Várias pessoas, mesmo inspiradas por Deus, viram os acontecimentos cada um a seu modo. Cabe aos estudiosos e especialistas, também eles inspirados por Deus, definirem quais as partes principais de cada fato e narrativa.
A Bíblia foi escrita durante séculos por muitas pessoas inspiradas por Deus. Essa escrituração teve início no tempo do rei Salomão, pelos escribas da corte, e terminou no primeiro século de nossa era, com a morte do último apóstolo, São João.
A inspiração dada por Deus supõe a inteligência e o conhecimento próprios de quem escreve, ou seja, Deus não ditou a bíblia, mas a inspirou a tantas e tantas pessoas que escreveram, do modo que entenderam, com todos os limites de seus conhecimentos, o que Deus lhes inspirava.
Antes que a bíblia fosse escrita, havia a tradição oral, ou seja, os fatos e ensinamentos eram decorados e passados de pai para filho, de vizinho para vizinho, de povo para povo.
A bíblia nada mais é do que uma pequena parte disso tudo que foi dito e ensinado. É por isso que a Igreja Católica segue não só a bíblia, mas também a tradição oral.
O próprio S. João diz, no capítulo 21, versículo 25, que se fossem escritas todas as coisas que Jesus fez, o mundo todo não poderia conter os livros que seriam escritos. Só podemos ter, portanto, os ensinamentos completos, se olharmos ambas, tanto a bíblia como a tradição oral, conservadas pela Igreja. Se só seguirmos a bíblia, nosso seguimento vai ser incompleto, pois o mundo mudou muito e é preciso ouvirmos a interpretação que a Igreja dá para os atuais acontecimentos.
Um exemplo de ensinamentos que tiramos não só da bíblia, mas também da tradição oral, é o que a Igreja ensina sobre Nossa Senhora. Quase tudo o que sabemos dela nos vem da tradição oral e não da bíblia. Lembremo-nos que a bíblia é uma pequena parte da tradição oral que foi escrita.
Muitos ficam tão aborrecidos com essas diferenças entre o que a bíblia e a ciência dizem, que acabam não acreditando em mais nada, e até abandonam a religião. Não é bem assim. A bíblia não mentiu, não mente. Só que, como disse no primeiro capítulo, Deus inspirou a bíblia a pessoas limitadas no tempo e no espaço, que só tinham capacidade de expressar suas idéias através daquilo que sabiam, da geografia e da limitadíssima ciência do tempo.
Além disso, o povo judeu não tinha pensamento filosófico como o povo grego. Seus pensadores, ao contrário dos gregos, não formulavam princípios filosóficos e conceitos, mas contavam histórias sobre o que queriam ensinar. Veja que o próprio Jesus seguiu essa tendência, ao ensinar mais por meio das parábolas, do que por frases feitas.
A bíblia foi escrita como uma costureira que faz uma colcha de retalhos. Os escritores iram colocando os fatos como eram conhecidos oralmente. Alguns eram conhecidos de duas ou três formas diferentes, e aí esses escribas colocavam todas as versões do fato.
Comparo, por exemplo, como seria um acidente automobilístico visto por um médico, um mecânico e um funileiro. Em casa, cada um contaria o tal acidente de forma diferente. Para termos uma ideia mais aproximada do que realmente teria ocorrido, precisaríamos ouvir a versão dos três! O médico saberia falar mais sobre o estado de saúde dos acidentados; o mecânico, sobre o motor e a parte mecânica do carro; o funileiro, sobre a lataria dele.
Assim aconteceu com a bíblia. Havia dois relatos principais do início do mundo: um do século 11 antes de Cristo, e outro do século 7. O relato do século 11 corresponde aos capítulos 2, desde o versículo 4-b, até o final do capítulo 4. O relato do século 7 corresponde ao capítulo 1, até o versículo 4/a do capítulo 2, e depois pula para o capítulo 5.
Alguns elementos da tradição do século 11 a.C. (cap. 2,4/b ao final do cap.4): O homem é criado fora do paraíso e depois colocado dentro por Deus, a mulher é criada de sua costela, ele é criado antes de todas as outras coisas, fizeram o pecado original, os primeiros filhos deles são Caim e Abel.
Na tradição do século 7, o homem e a mulher são criados juntos, de uma vez só, já dentro do paraíso, por último. Tudo o mais foi criado antes deles. Não há menção do pecado original. Na continuação da história, que pula do capítulo 2, versículo 4-a ao capítulo 5, vemos que o primeiro filho de Adão e Eva foi SET, (Gênesis 5,3) cidades e outras pessoas. Só assim se explica o que ali diz, ou seja, que Caim foi para outra cidade e conheceu sua esposa... (Cap 4, 16-17). Segundo essa tradição, não houve o fruto proibido, e o homem e a mulher podiam desde que foram criados escolher entre o bem e o mal.
Querem outro exemplo preocupante? Pois bem! Nos capítulos 5, 6 e 7 de Mateus, o sermão que Jesus diz é feito na montanha; Em Lucas 6,17-49 o mesmo sermão é feito na planície. Qual dos dois tem razão? Mais: a primeira bem-aventurança de Mateus é: “Felizes os pobres em espírito...”
A de Lucas é “Felizes os pobres...” (Mateus 5,3 e Lucas 6, 20). Afinal, Jesus falou “pobres em espírito” ou falou “pobres” apenas? Há muita diferença entre esses dois conceitos!
Um outro exemplo ainda: na cruz, São Lucas diz que o ladrão da direita louvava Jesus pela sua inocência, e pediu a ele que o levasse para o seu reino. Em São Mateus, vemos que ambos os ladrões esbravejavam contra Jesus (confira em Lucas cap. 23, vers. 39 a 43 e Mateus 27,39 a 44). Qual dos dois está certo, Lucas ou Mateus?
Nunca saberemos, mas a tradição ficou com o exemplo de Lucas, e até sabe o nome do bom ladrão, São Dimas. A tradição, aqui, superou a bíblia. Quanto à questão do sermão da montanha de Mateus ou da planície de Lucas, podemos entender das duas formas: Jesus é Deus (falou estando na montanha, como Deus falara a Moisés), mas também é homem (falou no mesmo nível que nós, estando na planície).
São felizes os pobres, desde que sejam também pobres em espírito e não só materialmente, e os que, podendo ser ricos, renunciam a essa possibilidade para doar-se aos demais, para partilhar com os outros sua riqueza, e aí se tornam pobres em espírito. Um rico que continue rico com tantas pessoas morrendo de fome, não é pobre em espírito, “nem aqui, nem na China”.
Quanto ao problema comentado acima de Adão e Eva, só temos hipóteses. Ninguém sabe realmente o que ocorreu, e no que consistiu verdadeiramente o pecado original. Os fatos: Tudo o que existe foi criado por Deus, e o homem foi criado por Deus por intervenção direta, seja por meio da criação como consta na bíblia, seja por meio da evolução, adaptando-se, assim a teoria de Darwin.
Entre as católicas e a tradução do João Ferreira de Almeida, a diferença é apenas a falta de sete livros nessa última; 1º E 2º Macabeus, Eclesiástico (não confunda com o Eclesiastes), Sabedoria, Baruc, Tobias, Judite e os complementos gregos de Ester e Daniel. Ou seja: a bíblia católica tem 73 livros e a protestante, 66. Esses livros, na verdade, foram tirados da bíblia no ano 100 de nossa era, por alguns judeus reunidos para esse motivo. O critério usado por eles foi tirar do cânon da bíblia todos os livros escritos em grego e depois do ano 400 antes de Cristo, depois de Esdras. Essa tradução pode ser lida sem medo algum pelos católicos.
Entre essas duas bíblias (as católicas e a tradução do João Ferreira de Almeida) e algumas outras traduções, como a usada pelos Testemunhas de Jeová, há muitas diferenças estruturais, muito graves, que devem ser consideradas se forem lidas. Por exemplo, esses trechos, modificados, dão a entender que Jesus Cristo não é Deus, o que muda completamente nossa fé na Santíssima Trindade.
A base da religião, qualquer que seja, é a fé. A ciência empírica nada tem a ver com ela. O ideal, entretanto, é que a fé seja adequada a demonstração científica e adapte alguns de seus conceitos para que, sem perder o conteúdo doutrinário, se mostre num visual científico.
A bíblia é a base da fé de vários bilhões de pessoas, tanto cristãs como não cristãs. Foi e é entendida de várias maneiras, até mesmo contraditórias umas das outras.
Entretanto, crer naquilo que a bíblia diz exige que, antes, você creia naquele que lhe apresentou a bíblia como algo verídico. Uma Igreja diz, por exemplo, que tal livro é apócrifo; outra diz que não é, mas que é verdadeiro. Quem garante a veracidade ou não de tal ou qual livro? Quem pode saber disso? Que critérios usar?
Talvez o critério do absurdo ou da contradição absoluta. Um livro que negasse a existência de Deus, por exemplo, nunca seria tido como verdadeiro pelos que creem em Deus, por mais "verdadeiro" que parecesse.
Viram como tudo depende não tanto da bíblia, mas de quem lhe apresenta a bíblia?
Os cristãos e judeus acreditam na bíblia (no caso dos judeus, em parte da bíblia) até hoje, mas vieram algumas pessoas recentemente dizendo que a tradução que nós usávamos estava errada, e "inventaram" uma nova tradução que nega totalmente a Santíssima Trindade, e ignoram certos significados que mostram a divindade de Jesus, como a simples palavra "Senhor" usada várias vezes: em grego é "Kyrios", e é a tradução em grego de Javé (ou Jeová) do hebraico.
Um dos motivos pelo qual eu sou católico é justamente a garantia maior que a Igreja Católica me pode dar da veracidade das fontes que usamos, tanto bíblicas como orais, que me levam ao Deus Verdadeiro.
Se sairmos deste esquema que acabei de mostrar, ou seja, se quisermos viver uma religião isolada, pessoal, vamos cair num "achismo" que não nos levará, certamente, à verdade.
A Igreja Católica nos mostra, "Ex-Cátedra", que o que ela diz é verdadeiro, porque baseado nos apóstolos, que conheceram Jesus e são reais testemunhas de seu ensino e de sua ressurreição.
Pois bem! Baseado nos estudos feitos por exegetas e teólogos, vou tentar mostrar, a meu modo, de maneira simples, algumas dicas de como ler a palavra que é de Deus, mas foi escrita por homens limitados.
Em primeiro lugar, lembro que até o tempo do rei Salomão havia pouquíssima coisa escrita. A maioria dos fatos era oral. Havia, sim, muitas tradições orais, diversas, segundo a região em que ela se originou.
O escritor precisou juntar essas tradições, como se faz com uma colcha de retalhos. Ele "alinhavou" as tradições umas após as outras, ora encaixando-as aqui, ora levando-as mais além ali etc.
Há, por exemplo, nos cinco livros da bíblia, chamados de Pentateuco, quatro documentos que trazem tradições diferentes: o documento Javista (século 9 antes de Cristo em Judá); Eloísta (um pouco mais tarde, em Israel); Deuteronômio (depois do rei Josias) e o Sacerdotal (depois do exílio da Babilônia).
DUPLICATAS
Vejam na bíblia que há dois relatos das origens que, apesar de suas diferenças, contam de maneira dupla a criação do homem e da mulher:
1ª mais antiga, século 9 = Gênesis 2, 4a - 3,24
2ª mais recente, após o exílio = Gênesis 1,1-2,4a.
Duas genealogias de Caim-Canaã
1ª Gênesis 4,17 ss
2ª Gênesis 5,12-17
Dois relatos combinados do dilúvio: Gn 6 a 8.
1º- Gn 6, 5-8; 7,1-2. 3b-5.7.10.12.16b.17b. 22-23; 8, 2b-3ºa.6-12.20-22 (Javista, séc. 9 aC)
2º - Gn 6,9-22;7,6.11-13-16a.17a.18-21.24; 8,1-2a.3b-5;13a;14-10; 9,1-17.
Percebe-se melhor a presença dos redatores em Gn 7,3a.8-9 e, em parte, 6,7; 7,7.23; 8,20.
MAIS ADIANTE:
Duas apresentações da Aliança com Abraão:
1ª - Gn 15; 2ª - Gn 17.
Duas expulsões de Agar: 1ª - Gn 16, 2ª Gn 21
Três relatos da desventura da mulher de um patriarca em país estrangeiro: 1ª - Gn 12,10-20 - 2ª Gn 20; 3ª Gn 26,1-11.
Duas histórias combinadas de José e de seus irmãos nos últimos capítulos do Gênesis:
Na primeira tradição, cap. 37, os filhos de "Jacó" querem matar José e Ruben, mas mostra que apenas o atiram numa cisterna, de onde eles esperam retirá-lo; contudo, mercadores madianitas passam sem que os irmãos saibam, retiram José e o levam para o Egito.
Na segunda tradição, os filhos de "Israel" querem matar José, mas Judá lhes propõe vendê-lo a uma caravana de ismaelitas a caminho do Egito.
O resultado é o mesmo nos dois casos: José é vendido a Putifar, eunuco do Faraó (Gn 37,36. 39,1). Sobre "Jacó- Israel", veja Gn 32,29.
Dois relatos da vocação de Moisés
1º Êxodo 3,1-4,17
2º Êxodo 6, 2-7,7
Dois milagres da água em Meriba:
1º Êxodo 17, 1-7
2º Números 20,1-13
Dois textos do decálogo:
1º - Êxodo 20,1-17
2º - Deuteronômio 5,6-21
Quatro calendários litúrgicos:
1º Êxodo 23,14-19
2º Êxodo 34,18-23
3º Levítico 23
4º Deuteronômio 16,1-16
Há duplicatas em outros livros, como nos de Samuel e no dos Reis. Exemplo: a morte de Saul é contada de um modo em 2ª Samuel 1, 1-4.11-12 (um homem do exército vem anunciar a morte de Saul e de Jônatas; Davi e o povo fazem luto) e contada de outro modo em 2ª Samuel 1,5-10.13-16 (um jovem amalecita vangloria-se de ter matado Saul e traz as insígnias reais, esperando uma recompensa é executado por ordem de Davi).
A CRIAÇÃO DA HUMANIDADE
Vamos ver em detalhe apenas este assunto. Para os demais, veja, por favor, a Bíblia de Jerusalém.
Primeiro relato, mais antigo
Escrito pelo Javista, no século 9 antes de Cristo, em Judá, vai do Gênesis 2,4b até 3,24. Nele podem ser vistos:
Duas grandes tradições: versículos 4b-8 e 18-24: a criação do homem e da mulher; versículos 2-9.15-16;3 = o paraíso e a queda.
O homem é criado fora do paraíso e colocado lá depois (Gn 2,4b-8)
A mulher é criada da costela do homem, mas já dentro do paraíso (Gn 2,21-24).
Todos os demais seres viventes são criados depois da criação do homem e antes da criação da mulher.
Há aqui a árvore do fruto proibido, a árvore da vida e o pecado original.
Caim e Abel são os primeiros filhos de Adão e Eva.
Segundo relato, mais recente
Esse segundo relato foi escrito pela tradição Sacerdotal após o Exílio, portando no século 6º antes de Cristo (o Exílio terminou em 538a.C), vai do cap. 1, vers. 1, até cap. 2, versículo 4a e continua o relato no capítulo 5.
O homem e a mulher são criados num mesmo instante, dentro do paraíso (Gn 1,26).
Todos os seres foram criados antes do homem ao contrário da primeira tradição (Gn 1,1-25).
Não há, nesta segunda tradição, nem a árvore do fruto proibido, nem a árvore da vida, assim também como não relata o pecado original.
Essa tradição desconhece Caim e Abel e diz que o primeiro filho de Adão e Eva é Set (Gn 5,3).
CAIM E ABEL
Diz a Bíblia de Jerusalém que os primeiros sares humanos surgiram, como diz a ciência, a 2 ou 3 milhões de anos atrás; Caim e Abel pertencem já ao período que começa depois do último período glacial, ou seja, em 9000 a.C. Veja o que diz o comentário da Bíblia de Jerusalém:
"O relato de Caim e Abel supõe uma civilização já um pouco evoluída no domínio religioso, com o culto com as ofertas de produtos (talvez as primícias) do solo e dos primogênitos do rebanho (Gn 4,3-4), no domínio social, em que supõe a existência de homens que poderiam matar Caim e outros que poderiam vingá-lo (Gn 4,14-15).
Enfim, este relato de Caim e Abel pôde se relacionar de início não aos filhos do primeiro homem, Adão e Eva, mas ao antepassado epônimo dos quenitas (cainitas: confira Números 24,21). Reportado às origens da humanidade, ele recebe um aspecto geral:
- de um lado, Caim e Abel estão na origem de dois modos de vida, ou seja, o agricultor sedentário e o pastor nômade.
- de outro lado, esses dois irmãos personificam a luta do homem contra o homem. Ao lado da revolta do homem contra Deus, há também a violência do "irmão" contra seu "irmão". O duplo mandamento do amor (Mt 22,40) mostrará as exigências fundamentais com a vontade de Deus.
NOVO TESTAMENTO
São escritos compilados das tradições orais dos apóstolos e demais discípulos do primeiro século. Ao contrário do que muita gente pensa, a ordem cronológica dos livros não são como estão na bíblia. Veja a ordem aproximada de quando foram escritos (do mais velho para o mais novo):
1- Ano 50 (todas as datas são aproximadas) - escrito o evangelho, até então oral, de Mateus Aramaico e a coleção complementar (esse evangelho foi perdido. Não o conhecemos, mas ele foi a base para os demais sinóticos)
2- Ano 50 - epístolas aos Tessalonicenses
3- Ano 53 - epístola aos Filipenses e a Filemon
4- Ano 54 - primeira epístola aos Coríntios e talvez a de Gálatas
5- Ano 56 - epístola aos Romanos.
6- Anos 61 a 63 - epístola aos Colossenses, aos Efésios e a Timóteo.
7- Ano 62 - epístola de Tiago (Há dúvidas sobre a data).
8- Ano 64 - primeira epístola de Pedro (também há dúvidas sobre a data) e talvez o Evangelho de Marcos.
9- Ano 67- epístola aos Hebreus
10- Anos 70 a 75- Evangelho de Mateus (o atual) e Lucas.
11- Anos 70 a 80 epístola de Judas e a segunda de Pedro
12- Ano 95 - o Apocalipse, o Evangelho de João, a primeira epístola de João (a 2ª e a 3ª são anteriores).
ALGUNS TEXTOS
Vemos várias diferenças entre o que Jesus teria dito ou não, e temas semelhantes. Veja alguns exemplos:
Mateus 5,3: "Felizes os pobres em espírito".
Lucas 6,20: "Felizes os pobres".
Afinal, Jesus disse apenas "pobres" ou "pobres em espírito"? Ademais, o discurso de Jesus, em Mateus, é feito na montanha; Em Lucas (cap. 6, 17), é feito na planície. Afinal, Jesus estava na montanha ou na planície quando fez esse ensinamento?
Em Marcos 15,32b, vemos que os dois ladrões que foram pregados com Jesus o injuriavam; já em Lucas 23,39-43, Lucas fala que um deles, o da direita, se converteu e Jesus o recebeu no paraíso. Afinal, o ladrão da direita se converteu ou não?
Em João 13,26, Jesus diz que o traidor era aquele a quem Jesus iria entregar o pão umedecido de molho.
Em Lucas 22,21, diz: "A mão do que me trai está comigo sobre a mesa". Afinal, havia o pão com molho ou não nesse gesto?
Já Mateus 26,23 e Marcos 14,20, diz: "Um dos doze, que põe a mão no mesmo prato comigo".
Percebam como a frase varia de uma tradição oral para outra, nos detalhes. Isso significa que dificilmente vamos saber o que realmente Jesus disse.
CONCLUSÃO
Tudo isso nos mostra que não podemos levar ao pé da letra tudo o que lemos na bíblia. Temos que tentar perceber a intenção de quem escreveu e captar em tudo isso a vontade de Deus.
É aí que entra nossa fé na Igreja que nos apresentou a bíblia, e onde ela se baseia para nos ensinar a doutrina.
Por isso sou católico: a nossa Igreja não trabalha apenas com a bíblia, mas também com a tradição oral, da qual surgiu a própria bíblia, que é apenas uma pequena parte da riquíssima tradição oral que reinou nos primeiros tempos, e continua garantida pelos dois milênios de nossa Igreja Católica.
Tudo isso deve ser levado em conta, se quisermos realmente cumprir a verdadeira vontade de Deus, o verdadeiro de Jesus Cristo.
Temos vários relatos resumidos da história do povo de Deus no Novo Testamento. Um deles é o trecho dos Atos dos Apóstolos, capítulo 7, versículo 2 até o versículo 47. Outro trecho, um pouco maior, você encontra no livro da Eclesiástico, do capítulo 44 até o 50. Ali são comentados todos os fatos bíblicos, erros e acertos.
Em rápidas pinceladas, podemos dizer que o povo de Deus teve início com Abraão, que foi o primeiro a acreditar no Deus único e invisível, ainda quando estava em UR, na caldeia. Os demais vizinhos dele acreditavam em deuses falsos, feitos por mãos humanas, representados em diversos tipos de estatuetas. Isso foi mais ou menos no ano 1850 antes de Cristo (AC). Deus fez com ele uma aliança, cujo sinal era a circuncisão, que marcava quem era do povo de Deus. Jesus a substituiu pelo Batismo, como você pode ler em Romanos cap. 2 vers. 29 e Colossenses, cap. 2, vers. 11-12.
Com José (1650 AC), filho de Jacó, bisneto de Abraão, também chamado de Israel, o povo de Deus foi para o Egito, onde cresceu. Os 12 filhos de Israel (ou de Jacó) deram origem às 12 tribos de Israel. Na verdade, o filho dele chamado Levi não deu origem a nenhuma tribo, pois ficou encarregado do culto, do serviço no templo, como uma família sacerdotal, e o seu direito passou ao segundo filho de José. Por isso, os dois filhos de José deram origem a duas das doze tribos.
Depois de José, o povo de Deus, já numeroso, foi escravizado pelo faraó, que não conhecera José (Êxodo 1,8). Lá pelo ano de 1250 AC surgiu um líder hebreu, Moisés, criado pela filha do faraó, por uma providência divina, que libertou o povo hebreu do Egito, rumo à Terra Prometida, Canaã. Foi muito difícil essa libertação. Moisés precisou aplicar 10 pragas, sendo a última a pior delas: a morte de todos os primeiros filhos (primogênitos) dos egípcios.
Na caminhada para a terra prometida, que conhecemos como Palestina, o povo pecou várias vezes contra Deus, adorando o bezerro de ouro e se queixando das agruras do deserto. Por isso, uma caminhada que demora cerca de onze dias, demorou quarenta anos! Talvez possamos aprender, com isso, que tudo fica mais fácil quando obedecemos a Deus. Se pecarmos e o desprezarmos, nossa luta sempre será solitária, baseada nas próprias forças. Com a presença de Deus, tudo se realiza a seu tempo. A história de Moisés e a libertação do povo do Egito podem ser vistos no livro do Êxodo.
Durante a caminhada Deus deu a Moisés as tábuas com os dez mandamentos, que deveriam ser observados pelo povo, um guia seguro de sua nova vida. Essa história toda está contada no livro do Êxodo, no Deuteronômio, Jesus transformou esses dez mandamentos em três: 1º – Amar a Deus sobre todas as coisas; 2º – amar ao próximo; 3º – como amamos a nós mesmos.
Já na Palestina, para mostrar ao povo o verdadeiro caminho, Deus lhe enviou os juízes, dos quais o mais conhecido é Sansão. Os reis substituíram os juízes. Nesse meio tempo, surgiram os profetas. O último juiz e primeiro profeta mais conhecido foi Samuel, que ungiu o rei Saul e depois David. Apesar desses orientadores todos, o povo vivia desobedecendo a Deus e praticando a idolatria.
Na única época em que o mundo conheceu a paz por 14 anos, sem guerra alguma, nasceu Jesus, da descendência do rei David. Nasceu de uma virgem, Maria. Ele convocou os 12 apóstolos, de certo modo para substituírem as doze tribos de Israel, e deu origem ao novo povo de Deus, a Igreja cristã. Para entrar no judaísmo era necessário a circuncisão. Para entrar no novo povo de Deus, é necessário o Batismo, que substituiu a circuncisão. O cristianismo separou-se, então, do judaísmo e acolheu os pagãos, coisa que os judeus não faziam.
Depois que Jesus Cristo morreu os Apóstolos e os discípulos receberam o Espírito Santo e, corajosamente, foram pregar o evangelho a todos. Muitos morreram mártires porque insistiram em proclamar a Palavra de Deus em lugares onde o politeísmo era a religião oficial do governo. O último apóstolo que morreu foi São João, velhinho, com cerca de 100 anos de idade. Com a morte dele, encerra-se o período da revelação. Nada do que foi revelado após a morte dele pode ser contrário à verdade da fé contida na bíblia e na tradição consagrada, mesmo as mensagens de N. Senhora. A divisão da bíblia e os nomes dos livros, e a explicação de todos eles, você encontra em qualquer bíblia católica. Acostume-se a ler essas explicações.
Temos vários relatos resumidos da história do povo de Deus na bíblia. Um deles é o trecho dos Atos dos Apóstolos, capítulo 7, versículo 2 até o versículo 47. Outro trecho, um pouco maior, você encontra no livro da Eclesiástico, do capítulo 44 até o 50. Ali são comentados todos os fatos bíblicos, erros e acertos.
Em rápidas pinceladas, podemos dizer que o povo de Deus teve início com Abraão, que foi o primeiro a acreditar no Deus único e invisível, ainda quando estava em UR, na caldéia. Os demais vizinhos dele acreditavam em deuses falsos, feitos por mãos humanas, representados em diversos tipos de estatuetas. Isso foi mais ou menos no ano 1850 antes de Cristo (AC). Deus fez com ele uma aliança, cujo sinal era a circuncisão, que marcava quem era do povo de Deus. Jesus a substituiu pelo Batismo, como você pode ler em Romanos cap. 2 vers. 29 e Colossenses, cap. 2, vers.11-12.
O herdeiro de Abraão foi Isac. Isac, por sua vez, teve dois filhos: Esaú e Jacó, gêmeos (Gn 17 e 25). Jacó, o herdeiro de Isac, teve doze filhos, um deles José.
Com José (1650 AC), filho de Jacó, bisneto de Abraão, também chamado de Israel, o povo de Deus foi para o Egito, onde cresceu. Os 12 filhos de Israel (ou de Jacó) deram origem às 12 tribos de Israel. Na verdade, o filho dele chamado Levi não deu origem a nenhuma tribo, pois ficou encarregado do culto, do serviço no templo, como uma família sacerdotal, e o seu direito passou ao segundo filho de José. Por isso, os dois filhos de José deram origem a duas das doze tribos.
Depois de José, o povo de Deus, já numeroso, foi escravizado pelo faraó, que não conhecera José (Êxodo 1,8). Lá pelo ano de 1250 AC surgiu um líder hebreu, Moisés, criado pela filha do faraó, por uma providência divina, que libertou o povo hebreu do Egito, rumo à Terra Prometida, Canaã. Foi muito difícil essa libertação. Moisés precisou aplicar 10 pragas, sendo a última a pior delas: a morte de todos os primeiros filhos (primogênitos) dos egípcios (Êxodo 13,17-22).
Na caminhada para a terra prometida, que conhecemos como Palestina, o povo pecou várias vezes contra Deus, adorando o bezerro de ouro e se queixando das agruras do deserto. Por isso, uma caminhada que demora cerca de onze dias, demorou quarenta anos! Talvez possamos aprender, com isso, que tudo fica mais fácil quando obedecemos a Deus.
Se pecarmos e o desprezarmos, nossa luta sempre será solitária, baseada nas próprias forças. Com a presença de Deus, tudo se realiza a seu tempo. A história de Moisés e a libertação do povo do Egito podem ser vistos no livro do Êxodo.
Durante a caminhada Deus deu a Moisés as tábuas com os dez mandamentos, que deveriam ser observados pelo povo, um guia seguro de sua nova vida. Essa história toda está contada no livro do Êxodo, no Deuteronômio, Jesus transformou esses dez mandamentos em três:
1º – Amar a Deus sobre todas as coisas;
2º – amar ao próximo;
3º – como amamos a nós mesmos.
Já na Palestina, onde o povo tomou posse de muitas terras, para mostrar ao povo o verdadeiro caminho, Deus lhe enviou os juízes, dos quais o mais conhecido é Sansão (Juízes 2,16-19; 13,1-5; 24-25). Os reis substituíram os juízes. Nesse meio tempo, surgiram os profetas. O último juiz e primeiro profeta mais conhecido foi Samuel, que ungiu o rei Saul e depois David. Apesar desses orientadores todos, o povo vivia desobedecendo a Deus e praticando a idolatria.
Foi o próprio povo que pediu a Samuel que nomeasse um rei para substituir o juiz. Ele ungiu, então, Saul, como o primeiro rei de Israel. O segundo foi Davi e o terceiro, Salomão (1Samuel 8,1-22). Jesus é descendente do rei Davi. Foi nessa época (mais ou menos no ano 1000 a.C) que a bíblica começou a ser escrita.
Depois de Salomão, na briga por sua sucessão, o reino de Israel se dividiu em dois: o reino de Israel, ao Norte, e o reino de Judá, ao Sul. Só bem mais tarde se uniram novamente, depois que os judeus e os israelitas ficaram exilados (mandados fora de sua terra) por 50 anos, na Babilônia.
Quanto aos profetas antes e depois do exílio, lembramos Isaías, Jeremias, Ezequiel, Baruc, Daniel,
Amós, Oseias, Jonas etc. Depois da volta do exílio até hoje, esse povo nunca mais teve plena liberdade. Só uma pequena parte do povo acreditou que Jesus é o Messias que esperavam. A maioria do povo judeu, que está espalhada pelo mundo, ainda espera a vinda do Messias. Eles acham que ele será poderoso e rico.
Na única época em que o mundo conheceu a paz por 14 anos, sem guerra alguma, nasceu Jesus, da descendência do rei David. Nasceu de uma virgem, Maria. Ele convocou os 12 apóstolos, de certo modo para substituírem as doze tribos de Israel, e deu origem ao novo povo de Deus, a Igreja cristã. Para entrar no judaísmo era necessário a circuncisão. Para entrar no novo povo de Deus, é necessário o Batismo, que substituiu a circuncisão.
O cristianismo separou-se, então, do judaísmo e acolheu os pagãos, coisa que os judeus não faziam.
Depois que Jesus Cristo morreu os Apóstolos e os discípulos receberam o Espírito Santo e, corajosamente, foram pregar o evangelho a todos. Muitos morreram mártires porque insistiram em proclamar a Palavra de Deus em lugares onde o politeísmo era a religião oficial do governo.
O último apóstolo que morreu foi São João, velhinho, com cerca de 100 anos de idade. Com a morte dele, encerra-se o período da revelação. Nada do que foi revelado após a morte dele pode ser contrário à verdade da fé contida na bíblia e na tradição consagrada, mesmo em relação às mensagens que N. Senhora fez em suas aparições.
A divisão da bíblia e os nomes dos livros, e a explicação de todos eles, você encontra em qualquer bíblia católica. Acostume-se a ler essas explicações.
Os três primeiros evangelhos são conhecidos como “sinóticos”, porque são parecidos um com o outro: Mateus, Marcos e Lucas. O quarto evangelho é o de João, e é um pouco diferente dos demais.
O Evangelho de Marcos apareceu por volta do ano 64 (para alguns estudiosos, ano 67-68) de nossa era e, portanto, é o mais antigo. O de Mateus e o de Lucas, por volta do ano 70-75 (para alguns, 80-83). Houve um evangelho de Mateus escrito em aramaico, mais antigo, mas se perdeu. Os sinóticos aproveitaram vários textos desse antigo evangelho. O de João apareceu por volta do ano 95 (para alguns, 90).
Se lermos com atenção os evangelhos, vamos ver que alguns fatos são relatados com diferenças. Por exemplo: no Sermão da Montanha de Mateus, Jesus teria falado: “Bem aventurados os pobres em espirito”. Em Lucas, que faz o sermão de Jesus ser dito numa planície e não numa montanha, Jesus teria dito: “Bem aventurados os pobres”. Nunca saberemos o que realmente Jesus falou. Essas diferenças são normais, porque eles não escreviam os fatos, mas os contavam de pai para filho, e isso se dera havia mais de 35 anos! Os detalhes de cada evangelho, você pode estudar na introdução de cada um deles, na sua bíblia preferida.
Quanto mais novo é o evangelho, mais se aprofunda na vida de Jesus. Assim, o evangelho de Marcos, que é o mais velho, inicia o relato na vida pública de Jesus, aos 30 anos; Mateus e Lucas, que são um pouco mais novos, começa a narração na anunciação do anjo a Nossa Senhora e a São José. O evangelho de João, que é mais recente, inicia a narração com Jesus antes de nascer, quando ainda ele era o “Verbo de Deus” (veja João capítulo 1).
Vem logo depois dos evangelhos e foi escrito por S. Lucas, autor do terceiro evangelho. Narra o começo da Igreja cristã após a morte e a ressurreição de Jesus. Veja um pequeno resumo:
cap. 1- A ascensão de Jesus, a Igreja de Jerusalém, a substituição de Judas Iscariotes por Matias;
cap. 2- o dia de Pentecostes e o discurso de Pedro sobre a pessoa de Jesus Cristo. Relata fatos sobre a primeira comunidade cristã e a partilha de bens.
Cap. 3- a cura do aleijado por S. Pedro e suas consequências;
cap 4- O julgamento de Pedro e João.
Cap. 5- O castigo de Ananias e Safira por terem mentido.
Cap 6- os sete diáconos e a prisão do diácono Estêvão
cap 7- discurso de Estêvão e sua morte. A menção de Paulo, que segurava as roupas dos apedrejadores.
Cap 8- o diácono Filipe e suas ações.
Cap 9- conversão de S. Paulo. Pedro ressuscita uma mulher.
Cap. 10- A conversão da família pagã de Cornélio
Cap 11- Explicação de Pedro sobre Cornélio e o início da abertura da Igreja para os pagãos. A fundação da Igreja em Antioquia.
Cap 12- Prisão e libertação milagrosa de S. Pedro.
Cap 13 a 15 – Missão de Barnabé e Paulo. O Concílio de Jerusalém.
Cap 16 a 19,20 – Missões de Paulo, Timóteo, Silas. Tessalônica. Beréia. Atenas. Pregação famosa de Paulo ao Deus desconhecido. Corinto. Apolo segue o cristianismo. Éfeso.
Cap. 19,21 a 28- Prisões de Paulo e as peripécias de sua missão entre uma missão e outra.
São treze epístolas (=cartas): uma aos romanos, duas aos coríntios, uma aos gálatas, uma aos efésios, uma aos filipenses, uma aos colossenses, duas aos tessalonicenses, duas a Timóteo, uma a Tito e uma a Filêmon.
Na verdade, a maioria das cartas de S.Paulo apareceram antes que os evangelhos. O relato da Eucaristia, por exemplo, no capítulo 11 da 1ª Coríntios, foi escrito antes que o mesmo relato em Mateus, Marcos e Lucas. 1ª Tessalonicenses, por exemplo, apareceu entre os anos 51 e 52, portanto cerca de 15 anos antes que o primeiro evangelho.
Já a carta aos Hebreus não consta ser de autoria do apóstolo Paulo. Presume-se que seja de discípulos dele e foi escrita depois do ano 70. Alguns estudiosos a colocam no ano 80.
S. Paulo é um apóstolo admirável. Supera todos os demais em apostolado e evangelização, expandindo o cristianismo por todo o mundo conhecido na época. Por meio dele e de sua insistência, o evangelho foi dado também aos gentios, povos não judeus. Ele é chamado o “Apóstolo dos gentios”. Quem quiser ser como ele, tem que começar amando intensa e apaixonadamente a Deus e ao próximo. A máxima lei que devemos seguir é o amor, pois sem amor, nada do que fizermos vai valer alguma coisa.
Temos uma carta de Tiago, duas de S. Pedro, três de S. João e uma de Judas Tadeu. Valem a pena ser lidas. É muito bonita e profunda a reflexão que Tiago faz, por exemplo, no capítulo 2 de sua carta, com referência à “língua”, ou seja, às palavras, e o cuidado que temos de ter para que não ofendam ao próximo nem a Deus. Depois de falarmos uma coisa, não vamos mais poder arcar com as consequências do que falamos. A língua é como o leme de um navio: pequeno, mas controla todo o resto, que é pesadíssimo.
No capítulo 5, Tiago fala sobre o sacramento da unção dos enfermos e o perdão dos pecados, se pedirmos perdão “uns aos outros”. O padre está representando esses “outros”, no sacramento da confissão. Aliás, na hora da confissão o padre é o próprio Cristo, por mais pecados que tenha.
S. Pedro fala coisas maravilhosas no capítulo 5 de sua primeira carta: coloquemos nossas preocupações em Deus, porque Ele cuida de nós. É como diz Santa Teresa d”Ávila: “Só Deus basta!”
São João faz um verdadeiro tratado do amor em suas cartas, principalmente na primeira: quem diz que ama a Deus, que não vê, mas não ama ao irmão, a quem vê, é um mentiroso. Fala também que é por puro amor que Deus perdoa os nossos pecados, se nos perdoarmos mutuamente. Fala também da diferença entre pecados mais leves e pecados graves, “que levam à morte”.
Muitas pessoas fazem uma tempestade num copo d'água ao lerem o Apocalipse e tentarem uma explicação. Ele foi escrito pelo Apóstolo São João, quando estava na Ilha de Patmos, preso, e precisava falar com a comunidade cristã. Ele escreveu também o quarto evangelho e três cartas.
Como estava havendo muita perseguição aos cristãos, ele precisou escrever sua mensagem em códigos, que seriam decifrados, entendidos pelos cristãos, mas não pelos pagãos e romanos perseguidores.
É um livro destinado a dar confiança aos cristãos da época, perseguidos e mortos em praça pública. As autoridades romanas queriam que os cristãos adorassem divindades pagãs e abandonassem o cristianismo.
Um dos deuses deles era o próprio imperador! Adoravam também Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno Urano, Netuno, Plutão, que deram seus nomes aos planetas e aos dias de semana. Em inglês até hoje conservam a origem pagã. Saturday, por exemplo, o nosso sábado, vem de Saturno: o dia de saturno. Sunday, domingo, era o dia do deus sol. Em português não conservaram essa origem pagã.
Frei Gorgulho e Ana Flora Andersen têm um livro sobre o Apocalipse que resume tudo: “NÃO TENHAM MEDO!” E é isso que S. João queria dizer aos cristãos: Não tenham medo das perseguições, da morte, das pessoas porque, para os que creem e seguem Jesus Cristo, não há medo, não há condenação, não há nada que possa prejudicar a vida eterna. Temam apenas os que matam a alma, e nisso está incluído o pecado. A pior morte é a segunda, ou seja, a morte eterna.
Acredito que se lermos o Apocalipse com a primeira carta de S. João e o Evangelho na mente, vamos saber exatamente o que ele está dizendo com todos aqueles símbolos. Em Apocalipse 21,27, ele nos diz que nada de imundo entrará na Jerusalém Celeste, que é o paraíso.
Escrevi outro texto sobre esse assunto, que transcrevo aqui:
Resumo parcial das notas da Bíblia de Jerusalém. Muitas anotações foram feitas por nós mesmo.
“Não tenham medo!” (É o título do livro de Ana Flora Andersen e Frei Gorgulho sobre o Apocalipse).
“Apocalipse” significa “revelação”: revelação que Deus fez aos homens de coisas ocultas e só conhecidas por Ele, referentes ao futuro. É como um prolongamento do gênero profético. A diferença é que no Apocalipse o autor recebia as revelações em forma de visões e as escrevia, enquanto que os profetas ouviam as revelações divinas e as transmitiam oralmente.
Essas visões não têm valor por si mesmas, mas pelo simbolismo que encerram: tudo ou quase tudo tem valor simbólico no Apocalipse: os números, as coisas, as partes do corpo e até as personagens que entram em cena. O autor não se preocupa com a incoerência dos efeitos obtidos. Para entendê-lo devemos, pois, captar a sua técnica e reproduzir em idéias os símbolos propostos, sob pena de falsificar o sentido das mensagens.
O gênero apocalíptico desenvolveu-se no livro de Daniel e em vários apócrifos escritos na era cristã. (Apócrifos são os livros não aprovados pela Igreja como inspirados).
O apocalipse escrito por João é único no Novo Testamento. Ele o escreveu na ilha de Patmos, onde estava exilado por causa de sua fé em Cristo, por volta do ano 95, embora algumas de suas partes já existissem desde pouco antes do ano 70, no tempo de Nero.
Para entendermos o Apocalipse é preciso reinseri-lo no ambiente histórico de sua origem: perturbações e violentas perseguições contra a Igreja que nascia.
O Apocalipse é escrito para reerguer e robustecer o ânimo dos cristãos, escandalizados pela perseguição violenta que sofriam, tendo diante deles o que Jesus afirmara em João 16,33: “Não temais, eu venci o mundo!”
Em seu plano, João retoma os grandes temas proféticos tradicionais, como o “Grande Dia” de Javé (cf Amós 5,18), o dia da Salvação para o povo escravizado, a libertação, o poder, o domínio sobre o inimigo. No momento em que ele escreve, a Igreja, que é o novo povo eleito, acaba de ser dizimada por sangrenta perseguição (veja capítulos 6,10-11; 13; 16,6; 17,6) feita pelo império Romano (=a Besta), mas por instigação de Satanás (veja cap. 12; 13,2-3), que é o Adversário máximo de Cristo e do seu povo.
INTERPRETAÇÃO HISTÓRICA
A visão inaugural= a majestade de Deus reina no céu, Senhor absoluto dos destinos humanos (cap. 4), e entrega ao Cordeiro o livro que contém o decreto do extermínio dos perseguidores (cap. 5); a invasão dos povos bárbaros (os partos ) e seus males: guerra, fome e peste (cap. 6).
Os fiéis de Deus serão preservados (7,1-8; 14,1-5), e esperam gozar no céu, de seu triunfo (cap. 7, 9-17; 15,1-15). Deus não destruirá os pecadores imediatamente, mas os adverte com pragas, para levá-los à conversão e à salvação, como fizera com o faraó e os egípcios (caps 8,9,16).
Isso se revela um esforço inútil, por causa de seu endurecimento, e por isso Deus destruirá os ímpios perseguidores (cap. 17), que levavam à adoração de Satanás, corrompendo a terra (=culto aos imperadores de Roma como deuses).
No capítulo 18 vemos a lamentação sobre Babilônia (a cidade de Roma) destruída e cantos de triunfo no céu (19,1-10), a destruição da Besta (que é a Roma perseguidora), realizada por Cristo glorioso (19,11-12), dando origem a um período de prosperidade para a Igreja (20,1-6), embora recomece um novo assalto de Satanás contra ela (20, 7ss), e a derrota dele, ou seja, do Inimigo, seguida da ressurreição dos mortos e seu julgamento (20,11-15).
Finalmente, há o estabelecimento definitivo do Reino celeste, em perfeita alegria, depois de aniquilar a morte (21,1-8). Uma visão retrospectiva descreve o estado de perfeição da nova Jerusalém durante seu reinado sobre a terra (21,9ss).
Além dessa interpretação histórica, o livro traz os valores eternos sobre os quais se pode apoiar a fé dos fiéis de todos os tempos: Deus está com seu novo povo, que uniu consigo na pessoa de seu Filho, o Emanuel (=Deus conosco).
A Igreja vive desta promessa de Cristo Ressuscitado: “Eis que estou convosco todos os dias até o fim do mundo” (Mt 28,20). Sendo assim, os fiéis nada têm a temer. Ainda que tenham de sofrer um pouco pelo nome de Cristo, obterão a vitória definitiva contra Satanás e todas as suas maquinações.
Quanto ao texto atual, com duplicatas, cortes na sequência das visões e passagens aparentemente fora de contexto, a Bíblia de Jerusalém diz que pode haver dois apocalipses distintos, escritos pelo mesmo autor, em datas diferentes, e depois unidos num só texto por outra mão. (veja o esquema dos dois apocalipses na Bíblia de Jerusalém)
Do Frei Inácio José do Vale
“Há mais indícios seguros de autenticidade na Bíblia do que em qualquer história profana”.
Isaac Newton (1643-1727)
Filósofo, Teólogo e Cientista inglês
Immanuel Kant (1724-1804), o renomado filósofo alemão fez a seguinte declaração: “A existência da Bíblia, como livro para o povo, é o maior benefício que a humanidade já recebeu. Qualquer tentativa para depreciá-la... é um crime contra a humanidade”.
“A influência da Bíblia de maneira alguma se restringe a judeus e cristãos... Ela é agora encarada como um tesouro ético e religioso cujo inexaurível ensino promete ser ainda mais valioso à medida que cresce a esperança de uma civilização mundial” (TheEncyclopedia Americana).
Analisemos outra questão com respeito à Bíblia Sagrada. Será que ela é historicamente exata? Alguns acham que a Bíblia não passa de uma compilação de lendas sem base histórica. Veja, por exemplo, o caso do famoso Rei Davi, de Israel. Até recentemente, a única base para atestar sua existência era a Bíblia. Embora historiadores conceituados o aceitem como personagem real, alguns cépticos tentam descartá-lo alegando que se trata de uma lenda, fruto da propaganda judaica. O que mostram os fatos?
Em 1993, encontrou-se nas ruínas da antiga cidade israelita de Dã uma inscrição que menciona a “Casa de Davi”. A inscrição era parte de um destroçado monumento do nono século a.C., erigido em comemoração a uma vitória dos inimigos dos israelitas. De repente, ali estava, fora das páginas da Bíblia, uma antiga referência a Davi. Era significativa? Comentando a descoberta, Israel Finkelstein, da Universidade de Tel Aviv, disse: “O niilismo bíblico caiu da noite para o dia com a descoberta da inscrição sobre Davi.” Digna de nota foi uma declaração do Professor William F. Albright, arqueólogo que passou décadas trabalhando em escavações na Palestina: “Inúmeras descobertas comprovaram a exatidão de incontáveis detalhes e fizeram com que se reconhecesse cada vez mais o valor da Bíblia como fonte histórica.” Perguntamos novamente: 'Diferentemente do que acontece com os épicos e as lendas, como poderia esse livro antigo ser historicamente tão exato?' Mas isso não é tudo.
A Bíblia também é um livro de profecias. (II Pedro 1, 20, 21) A palavra “profecia” talvez lhe faça logo lembrar das predições não-cumpridas daqueles que se dizem profetas. Mas deixe o preconceito de lado e abra sua Bíblia em Daniel capítulo 8. Daniel descreve a visão de uma luta entre um carneiro de dois chifres e um bode peludo que tinha “um chifre proeminente”. O bode venceu, mas seu grande chifre foi quebrado. Em seu lugar, surgiram quatro chifres. O que significa essa visão? O relato de Daniel continua: “O carneiro que visto, tendo dois chifres, representa os reis da Média e da Pérsia. E o bode peludo representa o rei da Grécia; e quanto ao chifre grande que havia entre os seus olhos, este representa o primeiro rei. E que este foi quebrado, de modo que por fim se ergueram quatro em seu lugar, haverá quatro reinos que se erguerão de sua nação, mas não com o seu poder.” (Daniel 8,3-22).
Essa profecia se cumpriu? A escrita do livro de Daniel foi concluída por volta de 536 a.C. , o rei macedônio, Alexandre, o Grande, que nasceu 180 anos mais tarde, em 356 a.C., conquistou o Império Persa. Ele era o “chifre grande” que havia entre os olhos do “bode peludo”. De acordo com o historiador judeu, Flávio Josefo, quando Alexandre Magno entrou em Jerusalém, antes de derrotar a Pérsia, o livro de Daniel lhe foi mostrado. Ele concluiu que as palavras que lhe foram mostradas na profecia de Daniel se referiam à sua própria campanha militar envolvendo a Pérsia. Poderá ler, nos livros de história geral, sobre o que aconteceu ao império de Alexandre após sua morte, em 323 a.C. Com o tempo, quatro generais assumiram o controle do império e, antes de 301 a.C., os 'quatros chifres' que surgiram no lugar do “chifre grande” dividiram o império em quatro partes. Seleuco obteve a Mesopotâmia e a Síria. Ptolomeu controlou o Egito e a Palestina. Lisímaco governou a Ásia Menor e a Trácia, e Cassandro ficou com a Macedônia e a Grécia. Novamente, temos todos os motivos para perguntar: 'Como poderia um livro predizer de maneira tão vívida e exata o que iria acontecer 200 anos mais tarde?'
A própria Bíblia responde a essa pergunta: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e proveitosa.” (II Timóteo 3, 16) A palavra grega traduzida “inspirada por Deus” significa literalmente “soprada por Deus”. Deus “soprou” na mente de uns 40 escritores as informações que encontramos atualmente nos livros das Sagradas Escrituras. Os poucos exemplos – científicos, históricos e proféticos – que analisamos nos levam a uma única conclusão. A Bíblia, esse livro incomparável, não é produto da sabedoria humana, mas é de origem divina. Deus o Todo-Poderoso é seu autor. Escreveu o apóstolo São Pedro: “Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” (II Pedro 1, 21).
São João Crisóstomo (347-407), Bispo de Constantinopla e Doutor da Igreja afirmava: “Eis a causa de todos os males – o nosso desconhecimento da Bíblia Sagrada.” Disse Jesus Cristo: “Errais não conhecendo as Escrituras Sagradas, nem o poder de Deus.” (Mateus 22, 29).
Amar ler e estudar a Bíblia Sagrada é uma demonstração de amor ao seu autor: Deus, é levar a Boa Nova como evangelizador, ter comunhão com a Igreja de Cristo e praticar a caridade pelo mundo de paz e de justiça.
Frei Inácio José do Vale
Sabedoria 2, 12-20: A profecia cumprida em Jesus Cristo
4 julho 2012Autor: apologistascatolicos | Postado em: Apologética, Bíblia, Doutrina Católica site Bíblia Católica 24 (Esse site não existe mais. Veja neste outro link, mais atual:)
Muitos protestantes dizem que os livros deuterocanônicos são apócrifos. Em outras palavras, para eles esses livros não são Escritura e inspirados por Deus. Uma das razões para isso, é que dizem que não haviam profetas em qualquer um desses livros, eis alguns exemplos:
Ron Rhodes, em seu livro, “Reasoning from the Scriptures with Catholics”, p. 33 escreve:
“Além disso, nenhum livro apócrifo foi escrito por um verdadeiro profeta ou apóstolo de Deus … Além disso, nenhum livro apócrifo contém profecia preditiva, que teria servido para confirmar a inspiração divina.”
Norman Geisler e Ralph E. em “Roman Catholics and Evangelicals: Agreements and Differences” p. 167, escreve:
“Há fortes evidências de que os livros apócrifos não são proféticos. Mas desde que profecia é o teste para canonicidade, isso elimina os apócrifos do cânon”
É bem difícil acreditar que qualquer um deles tenha estabelecido o cânon das escrituras, usando o teste de que para que um livro fosse inspirado, tivesse que conter uma profecia, primeiro eles teriam que provar que profecia o livro de Ester, Rute e etc.. contém.
No entanto, apesar da alegação protestante no Livro da Sabedoria capítulo 2 versículos de 12-20 é uma das mais claras passagens que contem uma profecia e apontam para uma pessoa que iria chamar-se Filho de Deus, que seria condenado à morte por pessoas invejosas. O texto diz:
“12. Cerquemos o justo, porque nos incomodai e se opõe às nossas ações, nos censura as faltas contra a Lei, nos acusa de faltas contra a nossa educação. 13. Declara ter o conhecimento de Deus e se diz filho do Senhor;14. ele se tornou acusador de nossos pensamentos, basta vê-lo para nos importunarmos; 15. sua vida se distingue da dos demais e seus caminhos são todos diferentes.16.
Ele nos tem em conta de bastardos; de nossas vias se afasta, como se contaminassem. Proclama feliz o destino dos justos e se gloria de ter a Deus por pai. 17. Vejamos se suas palavras são verdadeiras, experimentemos o que será do seu fim.18. Pois se o justo é filho de Deus, Ele o assistirá e o libertará das mãos de seus adversários. 19. Experimentemo-lo pelo ultraje e pela tortura para apreciar a sua serenidade e examinar a sua resignação. 20. Condenemo-lo a uma morte vergonhosa, pois diz que há quem o visite.” (Sabedoria 2, 12 – 20)
Estas profecias acima só são encontradas no capítulo 2 da Sabedoria. Vamos verso a verso, começando pelo versículo 12:
“Cerquemos o justo, porque nos incomodai e se opõe às nossas ações, nos censura as faltas contra a Lei, nos acusa de faltas contra a nossa educação.” (Sabedoria 2, 12)
Um homem justo que censurar os líderes e sua educação. Vejamos como isso se cumpre em Jesus:
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, que pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas omitis as coisas mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Importava praticar estas coisas, mas sem omitir aquelas [...] Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Sois semelhantes a sepulcros caiados, que por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda podridão. Assim também vós: por fora pareceis justos aos homens, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniquidade.” (Mateus23, 23.27-28)
“Moisés não vos deu a Lei? No entanto, nenhum de vós pratica a Lei. Por que procurais matar-me?” A multidão respondeu: “‘Tens um demônio. Quem procura matar-te?’” (João 7, 19-20)
Jesus, como em Sabedoria 2, 12, é um homem justo, na verdade, perfeitamente justo. Ele condena os escribas como infratores da lei, os chama de hipócritas e ‘repreendeu-os por suas faltas conta a lei’ como em Mateus 23, 27-28. Ele os chama de infratores, e ele diz que tentarão matá-lo… Sabedoria 2, 12, fala também de homens à espreita para pegar o justo e em Mateus 26, 3 – 4 vemos os sumos sacerdotes e os anciãos fazendo o seguinte:
“Então os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo congregaram-se no pátio do Sumo Sacerdote, que se chamava Caifás, e decidiram juntos que prenderiam a Jesus por um ardil e o matariam.” (Mateus 26, 3-4)
Ele foi recebido como um rei pelo povo (João 12, 12-15) e por isso os governantes não poderiam fazer isso durante o dia. Jesus repreendeu-os pela quebra da lei, e os acusou de hipocrisia, então os líderes religiosos se ofenderam. O que Jesus faz para os deixarem assim? Ele expôs a sua hipocrisia. Ele os chama de infratores da lei, e que não mantem o coração da lei, como as passagens acima mostram.
Vejamos o versículo seguinte, Sabedoria 2, 13:
“Declara ter o conhecimento de Deus e se diz filho do Senhor;” (Sabedoria 2, 13)
O homem justo afirma ter conhecimento de Deus, e de fato ele tem o conhecimento exclusivo de Deus. Ele professa ser um filho de Deus. Vejamos o que diz o evangelho:
“e vós não o conheceis, mas eu o conheço; e se eu dissesse ‘Não o conheço’, seria mentiroso, como vós. Mas eu o conheço e guardo sua palavra” (João 8, 55)
Jesus conhece o Pai, de uma maneira única, o conhece melhor do que seus adversários, e também os chama de seguidores do diabo (Jo 8, 44).
Como mostra a Sabedoria 2, 13, ele diz ser filho de Deus, como ele se refere a Seu Pai. Jesus se refere a seu Pai, muitas vezes, como “Meu Pai” (Ver João 8, 38, 49, 54, 10, 19, 25, 29, etc), significando uma relação especial com Deus, o Pai. Ele chama a si mesmo de Filho de Deus , João 3, 18:
“Quem nele crê não é julgado; quem não crê, já está julgado, porque não creu no Nome do Filho único de Deus.” (João 3, 18)
Vejamos também como ele se refere a si mesmo como o Filho de Deus em João 5, 25
“Em verdade, em verdade, vos digo: vem a hora — e é agora — em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que o ouvirem, viverão.” (João 5, 25)
Ele se auto denomina Filho de Deus, justamente como a Sabedoria 2, 13 predisse.
Vamos ao próximo versículo em Sabedoria 2, 14:
“ele se tornou acusador de nossos pensamentos…”(Sabedoria 2, 14)
O novo testamento relata:
“Mas Jesus, conhecendo os seus pensamentos, disse: ‘Por que tendes esses maus pensamentos em vossos corações?’” (Mateus 9, 4)
“Os escribas e os fariseus observavam-no para ver se ele o curaria no sábado, e assim encontrar com que o acusar. Ele, porém, percebeu seus pensamentos e disse ao homem da mão atrofiada: ‘Levanta-te e fica de pé no meio de todos’. Ele se levantou e ficou de pé. Jesus lhes disse: ‘Eu vos pergunto se, no sábado, é permitido fazer o bem ou o mal, salvar uma vida ou arruiná-la’. Correndo os olhos por todos eles, disse ao homem: ‘Estende a mão’. Ele o fez, e a mão voltou ao estado normal. Eles, porém, se enfureceram e combinavam o que fariam a Jesus.” (Lucas 6, 7-11)
Jesus leu os pensamentos de seus acusadores, repreendeu-os por esses pensamentos, e eles reagiram conspirando para destruir Jesus.
Vamos dar uma olhada no próximo versículo Sabedoria 2, 15:
“… basta vê-lo para nos importunarmos; sua vida se distingue da dos demais e seus caminhos são todos diferentes.”
O homem justo não fará como outros líderes “religiosos” fizeram. Vejamos o evangelho:
“Nesse tempo, chegaram-se a Jesus fariseus e escribas vindos de Jerusalém e disseram: “Por que os teus discípulos violam a tradição dos antigos? Pois que não lavam as mãos quando comem”. Ele respondeu-lhes: ‘E vós, por que violais o mandamento de Deus por causa da vossa tradição? Com efeito, Deus disse: Honra pai e mãe e Aquele que maldisser pai ou mãe certamente deve morrer. Vós, porém, dizeis: Aquele que disser ao pai ou à mãe ‘Aquilo que de mim poderias receber foi consagrado a Deus’, esse não está obrigado a honrar pai ou mãe. E assim invalidastes a Palavra de Deus por causa da vossa tradição.”
Como a Sabedoria 2 previa, ele não seguiu a falsa tradição dos fariseus, e eles viram suas ações como estranhas. Ele curou no sábado, e que foi ‘estranho’ a eles:
“E entrou de novo na sinagoga, e estava ali um homem com uma das mãos atrofiada. E o observavam para ver se o curaria no sábado, para o acusarem. Ele disse ao homem da mão atrofiada: “Levanta-te e vem aqui para o meio”. E perguntou-lhes: “É permitido, no sábado, fazer o bem ou fazer o mal? Salvar a vida ou matar?” Eles, porém, se calavam. Repassando estão sobre eles um olhar de indignação. E entristecido pela dureza do coração deles, disse ao homem: “Estende a mão”. Ele a estendeu, e sua mão estava curada. Ao se retirarem, os fariseus com os herodianos imediatamente conspiraram contra ele sobre como o destruiriam.” (Marcos 3, 1-6)
Novamente, eles procuram destruí-lo, como mencionado em Sabedoria 2, 12, e consideraram como “estranho” ele curar no sábado.
“Os escribas e os fariseus começaram a raciocinar:
‘Quem é este que diz blasfêmias? Não é só Deus que pode perdoar pecados?’ Jesus, porém, percebeu seus raciocínios e respondeu-lhes: ‘Por que raciocinais em vossos corações? Que é mais fácil dizer: Teus pecados estão perdoados, ou: Levanta-te e anda? Pois bem! Para que saibais que o Filho do Homem tem o poder de perdoar pecados na terra, eu te ordeno — disse ao paralítico — levanta-te, toma tua maca e vai para tua casa’. E no mesmo instante, levantando-se diante deles, tomou a maca onde estivera deitado e foi para casa, glorificando a Deus. O espanto apoderou-se de todos e glorificavam a Deus. Ficaram cheios de medo e diziam: ‘Hoje vimos coisas estranhas!’” (Lucas 5, 21-26)
Foi estranho para os fariseus Jesus ter alegado a autoridade para perdoar pecados. E o que o povo assistiu foi ‘estranho’, ‘diferentr’. Esta é uma realização da Sabedoria 2, 15.
Vamos ao próximo versículo Sabedoria 2, 16:
“Ele nos tem em conta de bastardos; (1) de nossos caminhos se afasta, como se contaminassem. (2) Proclama feliz o destino dos justos e se gloria de (3)ter a Deus por pai.”
Vamos analisar cada uma destas três características neste verso: Então, o justo irá considerar seus adversários maus, e evitará os seus caminhos. Ele se chamará o o caminho do justo de feliz, e chamará a Deus por Pai. Foram destacas essas 3 coisas específicas. Ele evita os seus caminhos como impuros, ele chama feliz o caminho do justo, e chama a Deus por Pai.
“O Senhor, porém, lhe disse: ‘Agora vós, ó fariseus! Purificais o exterior do copo e do prato, e por dentro estais cheios de rapina e de perversidade! Insensatos! Quem fez o exterior não fez também o interior? Antes, dai o que tendes em esmola e tudo ficará puro para vós!’” (Lucas 11, 39-41)
1) Vemos nesta passagem que Jesus se refere o caminho dos fariseus como imundos, e como eles são hipócritas. Estão cheios de rapina e perversidade, eles são impuros. Jesus nos diz para sermos limpo, dando esmolas e sendo justos. Então Jesus diz às pessoas para evitarem os seus caminhos, porque eles são hipócritas. Isso se encaixa com a profecia da Sabedoria 2.
Vejamos a parte 2 da realização da Sabedoria 2, 16, Mateus 5, 10:
“Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus.” (Mateus 5, 10)
2) Jesus ensina que aqueles que os que buscam a justiça serão felizes, e como eles estarão no reino de Deus, como previsto em Sabedoria 2, 16.
“Tudo me foi entregue por meu Pai e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, e quem é o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar”. (Lucas 10, 22)
3) Jesus chama a Deus como seu Pai, assim como Sabedoria 2, 16 previu. Assim, vemos três ideias neste versículo, cumpridas na vida de Cristo nos evangelhos.
Vejamos as passagens finais desta seção, Sabedoria 2, 17-20.
“Vejamos se suas palavras são verdadeiras, experimentemos o que será do seu fim. Pois se o justo é filho de Deus, Ele o assistirá e o libertará das mãos de seus adversários. Experimentemo-lo pelo ultraje e pela tortura para apreciar a sua serenidade e examinar a sua resignação. Condenemo-lo a uma morte vergonhosa, pois diz que há quem o visite.” (Sabedoria 2, 17-20)
Agora, vamos comparar com o evangelho. Agora, em Mateus 27, 41-43, vemos o seguinte:
“Do mesmo modo, também os chefes dos sacerdotes, juntamente com os escribas e anciãos, caçoavam dele: ‘A outros salvou, a si mesmo não pode salvar! Rei de Israel que é, que desça agora da cruz e creremos nele! Confiou em Deus: pois que o livre agora, se é que se interessa por ele! Já que ele disse: Eu sou filho de Deus’”. (Mateus 27, 41-43)
Sabedoria 2, 17 diz que eles verão se suas palavras são verdadeiras, no final de sua vida. Os adversários de Jesus tiveram a ideia que se ele estivesse dizendo a verdade, ele desceria da cruz e Mt. 27, 42 diz: “desça agora da cruz e nós creremos nele!”
Sabedoria 2, 18 diz que se ele realmente é o Filho de Deus, Deus vai livrá-lo, e Mateus. 27, 43 diz que se ele é o Filho de Deus, ele vai livrá-lo:
“Confiou em Deus, Deus o livre agora, se o ama, porque ele disse: Eu sou o Filho de Deus!”(Mateus 27, 43)
Agora, nesta passagem, alguém verá em uma Bíblia protestante, uma referência de Mateus 27:43 ao Salmo 22, 8. Isso é porque há uma menção de “bem, se Deus está com ele, ele vai livrá-lo”(Salmo. 22, 8). Não há dúvida que também é uma referência a este Salmo, no entanto, não é uma referência completa. Apenas em Sabedoria 2, 18, vemos onde, especificamente, disse que “Pois se o justo é filho de Deus, Ele o assistirá e o libertará das mãos de seus adversários.”. Essa é uma referência muito mais completa.
Sabedoria 2, 19 relata que ele será insultado, eles zombam dele, já em Mateus 27, 43 e em verso semelhante em Lucas 23, 35-37, lemos:
“O povo permanecia lá, a olhar. Os chefes, porém, zombavam e diziam: ‘A outros salvou, que salve a si mesmo, se é o Cristo de Deus, o Eleito!’. Os soldados também caçoavam dele; aproximando-se, traziam-lhe vinagre, e diziam: ‘Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo’.” (Lucas 23, 35-37).
Eles insultam e zombam dele, tal como previsto em Sabedoria 2, 19.
Finalmente, Sabedoria 2, 20 indica que ele será condenado à morte. Ele é condenado à morte na cruz, como se fosse um criminoso comum. Dois criminosos morrem com ele, um à esquerda e um à sua direita.
Podemos ver nessa passagem de Sabedoria 2, 12-20, uma das razões por que os judeus decidiram, em Jâmnia em 90 d.C, não permitir os livros deuterocanônicos.
Esta passagem em Sabedoria 2 tem muitas facetas que são cumpridas em Jesus Cristo. Ele era um homem justo. Ele conhecia Deus de uma maneira especial. Ele foi um dos que condenou os líderes religiosos da época, que procuraram em segredo prender Jesus. Ele chamou a Deus por Pai. Chamou os fariseus de hipócritas. Seus caminhos eram “estranhos”. Ele leu seus pensamentos. Ele afirmava ser filho de Deus. Ele foi ridicularizado e torturado, e foi condenado à morte como um criminoso comum, e hostilizado por seus adversários. Esta passagem é cumprida de muitas maneiras em Jesus Cristo. E somente em Jesus Cristo.
Sabedoria 13 é também usada por Paulo em seus escritos em Romanos 1, 18-23. Existem outras alusões à Sabedoria em outras partes do Novo Testamento. No entanto, esta profecia de Sabedoria 2 da vida e morte de Jesus é um testemunho mais poderoso da verdade de quem é Jesus. Isso é muita coisa para qualquer ideia de que não há profecias contidas nos livros deuterocanônicos.
Para Citar:
Matt. Apologistas Católicos. Sabedoria 2, 12-20: A profecia cumprida em Jesus Cristo. Disponível em: <http://apologistascatolicos.com.br/index.php/apologetica/deuterocanonicos/527-sabedoria-2-12-20-a-profecia-cumprida-em-jesus-cristo>. Desde 28/06/2012.
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A Igreja Católica proibiu a leitura da Bíblia?
EXTRAÍDO DO ESTUDO: Estudo de texto do Prof. Fernando Altemeyer sobre as traduções bíblicas.
Prof. Dr. Fernando Altemeyer Junior
assistente doutor da PUC-SP.
Traduções em português da Bíblia Sagrada e curiosidades – Pesquisa provisória do Prof. Dr. Fernando Altemeyer Junior, assistente doutor da PUC-SP. Atualizada em 08/02/2024 festa de Santa Josefina Bahkita.
Há muito a dizer sobre a biblioteca que chamamos Bíblia. Texto em três idiomas: aramaico, hebraico e grego. Escritos por dezenas de escritores inspirados em mais de 1200 anos de caminhada do Povo de Deus. 73 (ou 67) livros que expressam em palavras humanas a Palavra do Eterno Criador e de seu Filho amado. As traduções deste texto religioso fundamental chegam a milhares e ainda há mais 4 mil traduções em processo. Na língua portuguesa existem dezenas de traduções de cada denominação ou grupo de estudiosos e confissões cristãs. Uma diferença marcante entre as bíblias dos irmãos evangélicos ou protestantes e as edições católicas são os Livros chamados de deuterocanônicos (segundo canon – escrito na diáspora em grego) nas edições católicas, e intitulados apócrifos nas edições das igrejas da Reforma que levou em conta só os textos em hebraico massorético. Não estão na Bíblia dos irmãos evangélicos no Brasil por conta da decisão de Lutero emo traduzir a Bíblia ao alemão vulgar do texto hebraico sem tomar em conta a Septuaginta-versão grega do Antigo Testamento. Há leituras diversas e ricas interpretações exegéticas de muitos textos em particular os que fundamentam os dogmas e a autoridade episcopal. Os sete livros que constam das versões católicas são:
• 1° Livro dos Macabeus
• 2° Livro dos Macabeus
• Tobias
• Judite
• Sabedoria
• Baruc
• Eclesiástico ou Sirácida
Há trechos acrescentados aos livros de Daniel e de Ester presentes nas bíblias católicas. Um detalhe da tradição magisterial nas Igrejas Católicas em todos os países do mundo é que Bíblias Católicas precisam ter nihil obstat e o IMPRIMATUR de um bispo ou da Conferência dos Bispos onde a edição/tradução for publicada.
Algumas traduções em português:
• 1ª. Bíblia Pastoral (Editora Paulus) – em linguagem simples e compreensível pelo povo. Editada em 15/04/1990, com imprimatur do bispo D. Vital J. G. Wilderink, então bispo de Itaguaí, RJ e responsável pela linha três - Catequese da CNBB. Recebe o imprimatur oficial do presidente da CNBB, em 26/11/1991, com a assinatura de dom Luciano Mendes de Almeida. A tradução, introdução e notas foram feitas fundamentalmente por dois exegetas e biblistas: Ivo Storniolo e Euclides Martins Balancin. Há nova edição revista em publicada em 25/01/2014 por novo grupo de biblistas coordenados pelo padre paulino Paulo Bazaglia, com imprimatur de Dom Raymundo Cardeal Damasceno Assis, presidente da CNBB e com o nihil obstat de Dom Sérgio da Rocha, arcebispo de Brasília, DF, e presidente da Comissão de Doutrina da CNBB. Ambas as versões privilegiam uma leitura e interpretação social e de transformação, conhecida como leitura genético-estrutural.
• 2ª. Bíblia do Pão (Coedição Ed. Vozes e Ed. Santuário) – linguagem fácil. Sua primeira edição é de 21/09/1982, com a coordenação de Frei Ludovico Garmus, O.F.M. e imprimatur do cardeal Paulo Arns, arcebispo de São Paulo. Têm 24 mapas ao longo do texto. Tradução do grego, hebraico e aramaico por estudiosos brasileiros. A introdução geral é do frade carmelita Carlos Mesters. Tem um grande índice bíblico-pastoral de 62 páginas e ainda apêndices sobre pesos, medidas, etc.
• 3ª. Bíblia da CNBB (Edições CNBB) – linguagem simples para leitura pública e litúrgica. Editada inicialmente no ano 2018, está em sua sexta edição. A tradução do Novo Testamento data de 04/01/1997 com nihil obstat de padre Benjamin Carreira de Oliveria e padre Ney Brasil Pereira. Imprimatur do cardeal Lucas Moreira Neves, presidente da CNBB. Notas são só explicativas de termos, ou de variação de textos e traduções possíveis. Não tem notas pastorais. Para uso litúrgico harmônico em todas as igrejas católicas do Brasil.
• 4ª. Bíblia Sagrada de Aparecida (Editora Santuário) - Edição recente, de 2006, em linguagem simples. Único tradutor, padre redentorista José Raimundo Vidigal, que a fez a partir de textos gregos, hebraicos e aramaicos. Ao final possui um grande vocabulário bíblico com 51 páginas, o que facilita o estudo de temas. Também possui um indicador de fatos e datas mais importantes da época bíblica.
• 5ª. Bíblia Sagrada (Editora Ave Maria) - Utilizada por membros da Renovação Carismática Católica. É uma tradução antiga, do francês, publicada em 13/06/1959, a partir da tradução dos Monges beneditinos de Maredsous, na Bélgica. Possui notas, voltadas a questões de texto, e pequenos esclarecimentos. Os Salmos desta tradução são muito apreciados para oração pessoal. A Editora Ave-Maria lança a Bíblia em 25/11/1958 por ocasião do centenário das aparições de Lourdes. Há um prefácio escrito pelo arcebispo coadjutor de São Paulo, dom Antonio Maria Alves de Siqueira aprovando o trabalho do Centro Bíblico de São Paulo coordenador pelo padre Frei João José Pedreira de Castro, OFM em um trabalho de tradução que durou dois anos.
• 6ª. Bíblia Sagrada: Nova Tradução na Linguagem de Hoje (Ed. Paulinas) - Tradução iniciada na década de 1970, com a publicação inicial do Novo Testamento na Linguagem de Hoje. Foi iniciativa da SBB – Sociedade Bíblica do Brasil depois em coedição com a editora católica das Paulinas, em tradução completa da Bíblia lançada em janeiro de 2005. Teve a tradução dos livros do Antigo (Primeiro) Testamento e os Livros deuterocanônicos, com participação de instituições bíblicas católicas, ortodoxas, etc. Teve o nihil obstat do bispo belga dom Eugene Lambert Rixen, bispo de Goiás e presidente da Comissão de Animação Bíblico-pastoral da CNBB e o imprimatur do cardeal Geraldo Majella Agnelo, arcebispo de Salvador, BA e presidente da CNBB.
• 7ª. Bíblia de Jerusalém (Ed. Paulus)- Edição do ano 1973, revista e atualizada em nova versão em 20/08/1985, tendo como coordenadores Frei Gilberto S. Gorgulho, Ivo Storniolo e Ana Flora Anderson, com o imprimatur do cardeal Paulo Evaristo Arns, arcebispo de São Paulo. Tem muitíssimas notas de estudo e aprofundamento. As notas e introduções originais são traduções da edição francesa da edição La Sainte Bible, realizada pela Escola Bíblica da Jerusalém, um dos mais importantes centros de estudos bíblicos do mundo. Foi traduzida a partir de originais grego, hebraico e aramaico. Uma nova edição foi publicada em 20/08/2002.
• 8ª. Bíblia Tradução Ecumênica da Bíblia – TEB (Ed. Loyola) - É uma tradução que levou décadas para ser traduzida na França. Tradução iniciada no pós Segunda Guerra Mundial, como trabalho conjunto de grandes especialistas bíblicos cristãos e judeus, o que foi feito pela primeira vez na história e, finalizada em 1980. Têm mapas, índice de principais notas, quadro cronológico extenso, notas introdutórias aos textos dos livros de muito boa qualidade, tabela de pesos e medidas. A tradução se fez a partir da edição francesa, mas a tradução foi comparada com os textos do hebraico, aramaico e grego. A edição brasileira teve a supervisão científica, teológica e exegética do padre jesuíta Johan Konings e publicada em 1994. Teve aprovação do presidente da CNBB, dom Luciano Mendes de Almeida.
• 9ª. Bíblia do Peregrino (Ed. Paulus)- Diferente das demais. Único autor é o padre Luís Alonso Schökel, publicada em 1996 na Espanha. É uma tradução idiomática, que procura estar mais próxima de nosso idioma, e manter o que o texto original possui de beleza poética. Possuí vocabulário de principais notas, mapas, introduções aos livros e o texto da Constituição Dogmática dei Verbum, do Concílio Vaticano II. As notas explicativas são por trechos (chamados de perícopes). Esta Bíblia é muito propicia para a contemplação e meditação. A edição brasileira teve coordenação de José Bortolini e Ivo Storniolo com a tradução de vocabulário, introduções e notas feitas por José Raimundo Vidigal. Obteve aprovação eclesiástica em 1999. Edição publicada em 2017 pela Editora Paulus.
• 10ª. Bíblia Sagrada – traduzida de forma exemplar e minuciosa para o português pelo reverendo João Ferreira Annes d´Almeida (1628+1691), pastor calvinista, membro da Igreja Reformada da Holanda. A primeira impressão completa datava de 1753, em dois volumes, depois de passar por várias e importantes revisões. Em um só volume em 1819. A tradução estava pronta em 1694 para o português depois de 40 anos de trabalho. Foi lançada pela Sociedade Bíblica do Brasil, no Rio de Janeiro, no ano de 1953 tendo sido impressa na Grã-Bretanha por William Clowes and Sons Ltd. Londres. Há uma revisão em 1993. Há bela edição da Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil em 1994 tendo ao final um roteiro para ler a Bíblia inteira em dois anos. Também vale ressaltar a Bíblia de Estudo Plenitude, em edição revista e corrigida de 1995, publicada pela Sociedade Bíblica do Brasil, em Barueri, SP. A tradução de João Ferreira de Almeida também é distribuída gratuitamente nas portas de escolas, universidades e quartos de hotéis pela organização dos Gideões internacionais.
• 11ª. Bíblia Sagrada – coedição de E.P. e Editora Maltese com muitas ilustrações da arte universal – tradução do padre Antônio Pereira de Figueiredo. Com nihil obstat do bispo auxiliar de São Paulo, dom Paulo Rolim Loureiro em 1962. Lançada durante a visita do papa João Paulo Segundo ao Brasil. Impressa pela Gráfica do Jornal O Estado de São Paulo. Não consta o nome dos exegetas e teólogos que fizeram a revisão.
Curiosidades bíblicas diversas:
• Uma edição referencial para as igrejas da reforma é a de Dr. Martin Luthers, chamada Die Bibel oder die ganze Heilige Schrift, Alten um Neuen Testaments, tendo uma bela edição publicada em Köln (Colona) em 1885. Nesta edição em alemão vemos que há 806 páginas numeradas do Antigo Testamento e depois são 266 páginas com nova numeração para o Novo Testamento. A formatação do texto de Eclesiastes capitulo 3 é uma obra de arte gráfica. Todos os imigrantes luteranos traziam consigo tal edição histórica impressa na Alemanha desde os tempos de Gutemberg.
• A edição referencial para os católicos é a a Nova Vulgata Bibliorum Sacrorum, publicada pela Libreria Editrice Vaticana, editio typica altera, em 1986, promulgada e aprovada pela Constituição Apostolica Scripturarum Thesaurus, em 25/04/1979 pelo papa João Paulo II e tendo como presidente da Comissão Pontifícia Dom Eduardus Schikh, bispo de Fulda, Alemanha. São 2306 páginas em latim e três apêndices.
• O padre Humberto Rohden foi um dos primeiros católicos a traduzir no Brasil o Novo Testamento diretamente do grego, ainda que tenha recebido muitas críticas. Publicada pela instituição católica romana Cruzada Boa Esperança, em 1930.
• Padre Manuel de Matos Soares realiza sua tradução popular da Bíblia para os católicos, publicada em 1927, baseada na Vulgata Latina, com notas defendendo os dogmas da Igreja Católica Romana, e recebe apoio papal em 1932. Há reedição em 1956, trabalhada pelo próprio tradutor, falecido em 1958. Padre. Matos Soares trabalhou com o auxílio do padre jesuíta Luís Gonzaga da Fonseca, professor no Pontifício Instituto Bíblico revisando o seu próprio texto (traduzido décadas antes diretamente da Vulgata Latina) e confrontando-o com os originais hebraicos e gregos.
• Há pequena seleção de textos bíblicos compilada na Bíblia da Criança, organizada por Jacob Ecker, e publicada em Navarra, Espanha pela Editora Verbo Divino, traduzida e adaptada ao brasileiro pelo padre Artur Schwab, SVD e dom Mario Teixeira Gurgel, SDS, bispo de Itabira, MG, com aprovação de Dom Albano Bortoletto Cavalin, em julho de 1979, impressa em Madrid e distribuída no Brasil. Tinha 64 páginas.
• A Editora Vida (evangélica pentecostal) publica em 2007 uma tradução inédita em português do Novo Testamento judaico, de David Stern, traduzida do inglês, onde procura manter a poesia e estilo judaico subjacente ao texto grego do Novo testamento. Pretende transparecer a judaicidade originaria do Novo Testamento. Nomes e lugares são mantidos na grafia judaica para dialogar com os judeus messiânicos que aceitam Jesus como Ungido. O tradutor pretende dar suas opiniões na tradução de forma cautelosa, mas inevitável, pois não é possível neutralidade, pois iludiria a si mesmo e os leitores.
• Infelizmente ainda não há em português, do original francês, a preciosidade elaborada pelo “gênio da tradução” conhecida como La Bible Osty, publicada por Editions du Seuil, em 1973, fruto de mais de 25 anos de trabalho de Émile Osty em colaboração com Joseph Trinquet e apoio insubstituível da senhora C. Cambon, leitora da tradução em voz alta para que o texto fosse lido e ouvido (sic). Recebeu o nihil obstat em 12/12/1969 de F. Tollu, em Paris e o imprimatur de E. Berrar, em 15 de dezembro de 1969, também em Paris, França. Total de 2620 páginas. Abundantes notas, mapas e linha do tempo além de preciosos índices.
Há tanta diversidade e riqueza nas traduções e nas leituras (sociológica, psicológica, catequética, performativa, espiritual, genético-estrutural, literárias, gêneros, novelas, poesia e prosa), mas o coração/núcleo da leitura bíblia deve ser este: “a leitura da Bíblia deve ser feita em espirito de oração (Dei Verbum 25)”. Afinal, a Bíblia como texto com pretexto e contexto sempre viveu o conflito da história mergulhada nas interpretações dos autores e leitores. Bíblia Sagrada está à serviço da caridade e da esperança, pois é o livro Sagrado que pretende ser uma mensagem de Vida. Como cantamos nas igrejas católicas e evangélicas com alegria: “Palavra não feita para dividir ninguém, Palavra é uma ponte onde o amor vai e vem”. Ou ao final da leitura dizemos a doxologia orante: Palavra da Salvação. Glória a ti, Senhor!
Fonte original da pesquisa: https://igrejasaobenedito.com.br/.../que-biblia-devo.../
Capas de algumas das edições impressas da Bíblia Sagrada em português.
Para compreendermos as formas e os gêneros literários no Primeiro Testamento da Bíblia, é importante conhecermos a Hipótese Documentária que possivelmente deu origem aos cinco primeiros livros da Bíblia para percebermos que um estudo sério da Bíblia exige conhecimento, pesquisa e dedicação para adentrarmos não apenas no texto em si, mas no contexto e pretexto das comunidades que estão por detrás dele. Como teriam se formado os cinco primeiros livros da Bíblia, o Pentateuco?
Já em 1753, Jean Astruc , assíduo e atento leitor da Bíblia, escreveu um livro sem colocá-lo sob a sua autoria, questionava que os cinco primeiros livros da Bíblia, fossem de Moisés, mas que ele teria se servido de fontes já existentes, para escrevê-los. O que colocava em risco a inspiração bíblica, pois se afirmava que Deus havia ditado aos ouvidos de Moisés estes cinco livros. Ele se deu conta de que Deus era chamado ora de Yaweh, ora de Elohim; percebera rupturas bruscas em alguns textos, repetições em outros, estilos diferentes etc. Tudo isso só poderia comprovar a diversidade de autores de textos de diferentes épocas e autores reunidos sob o título de um único livro. Já nesse tempo ele atribuía os textos a um autor que poderia ser chamado de Javista e outro de Eloísta. Era o estudo da Bíblia a partir de fontes.
O biblista alemão Julius Wellhausen (1844-1918) deu continuidade a estes estudos de Jean Astruc, na segunda metade do século XIX, foi um grande estudioso que identificou também outras fontes documentais que contribuíram para a formação do Pentateuco. Wellhausen afirma que a idade de ouro da religião de Israel foi o início da monarquia unida, com os reis Saul e Davi, quando teria nascido a primeira fonte da Hipótese Documentária do Pentateuco, a Javista. Eis as quatro fontes prováveis do Deuteronômio: a) Fonte Javista (J), escrita no Reino de Judá, ao Sul, por volta do séc. IX Antes da Era Cristã (a.E.C.), na perspectiva de Deus como Javé, solidário e libertador; b) Fonte Eloísta (E), escrita um século depois, no Reino de Israel, ao Norte, e foi influenciada pelos primeiros profetas (séc. VIII), na perspectiva de Deus como Criador e Justo; c) Fonte Deuteronomista (Dtr) que, em seu núcleo mais antigo, situa-se por volta do início do séc. VII na época da Reforma do rei Josias (640-609 a.E.C.). Ela tem um enfoque profético, que denuncia a monarquia como regime opressor; d) Fonte Sacerdotal (P), uma obra do exílio ou do pós-exílio , com interesse pelo culto e da celebração da vida/fé em Deus, durante a caminhada de libertação. Muitas regras litúrgicas são apresentadas, como instrumentos, para o cultivo da fé em Deus libertador e não por ritualismo.
Enfim, o Pentateuco atual (Gn, Ex, Lv, Nm e Dt), provavelmente, foi escrito na época do segundo Templo – após a volta do exílio babilônico a partir de 539 a.E.C. muitos atribuem a redação à Reforma de Esdra (cf. Ne 8).
Há vários tipos de leituras da bíblia. Muitas pessoas têm a Bíblia em casa, poucas a leem e a conhecem por meio de uma leitura assídua ou mesmo do estudo da mesma. Há uma curiosidade e um interesse em conhecê-la por parte de muitas pessoas, outras têm sede e fome da Palavra de Deus na Bíblia, buscam-na de diversas formas: no aprofundamento pessoal, na participação de grupos de reflexão bíblica, em cursos bíblicos sistemáticos. Mesmo assim, percebe-se que muitas pessoas, por falta de conhecimento ou de uma orientação adequada, fazem leituras aleatórias, ingênuas, fundamentalistas ou literalistas; e são raras as pessoas que fazem a leitura libertadora dos textos bíblicos.
A leitura Aleatória é feita sem nenhuma iniciação ou orientação sobre a leitura da Bíblia. Abre-se o livro aleatoriamente e leem-se alguns versículos, pinçando-os, quando estes trazem uma mensagem compreensível, mas quando aparece um texto escabroso, ocorre o susto e o escândalo, porque a Bíblia fala em guerra, estupro, corrupção, homicídio e outros. Daí vêm, muitas vezes, o desinteresse e a desistência porque se entende a Bíblia como um livro chato, cansativo, que fala de coisas difíceis, incompreensíveis, estranhas, misteriosas, que parecem retratar a realidade atual, por isso, abandona a sua leitura. Outros sacralizam e absolutizam de tal forma o livro da Bíblia: ‘como se ele tivesse sido ditado palavra por palavra pelo Espírito Santo e não se chega a reconhecer que ela foi formulada em uma linguagem e uma fraseologia condicionada por sua época. Não dão atenção às formas literárias e às maneiras humanas de pensar, presentes nos textos bíblicos’ . Essas pessoas transformam a Bíblia em um amuleto, fetiche, um objeto de decoração, menos Palavra de Deus para suas vidas, não por má vontade, mas porque não sentem atração e nem interesse por ela. Já na leitura ingênua o uso da Bíblia é frequente, mas não avançam do primeiro nível de leitura, ficando sempre na superfície do texto.
Na Leitura Ingênua, as pessoas têm medo de estudar a Bíblia, porque perderiam a própria fé. Preferem continuar em uma leitura superficial, não passando de uma compreensão literal, nada aprofundando, quando são interpeladas por alguém, pelos filhos, netos ou por alguma criança, sobre a Bíblia, não sabem responder e dar razões para aquilo que elas mesmas acreditam, mas não encontram justificativas plausíveis. Certamente essas pessoas confundem a fé com a Bíblia, quando a fé é dom de Deus que precisa ser cultivada. Deus não retira o dom que ele deu à pessoa, contudo, ele precisa ser cultivado e desenvolvido por ela. Como uma postura existencial de abertura ao divino existente em nós, a fé é um dos talentos mais preciosos que recebemos do Deus da vida. Entre os meios para cultivar esse dom, está a leitura da Bíblia, ela se tornará sagrada, Palavra de Deus, quando a pessoa se dispor a ouvi-la e praticá-la, então sim, ela começará a falar ao coração. Da mesma forma é falha a leitura fundamentalista.
P.S. Sobre as Leituras Fundamentalista e Libertadora veremos no próximo texto.
16/04/2024
Obs.: As videorreportagens nos links, abaixo, versam sobre o assunto tratado, acima.
1 – Um Tom de resistência - Combatendo o fundamentalismo cristão na política
https://www.youtube.com/watch?v=5zOV-dOpW-Q
2 - Bíblia: privatizada ou lida de forma crítica libertadora? Por frei Gilvander, no Palavra Ética
https://www.youtube.com/watch?v=pFRiBrjmcMQ
3 - Deram-nos a Bíblia. “Fechem os olhos!” Roubaram nossa terra. Xukuru-Kariri, Brumadinho/MG. Vídeo 5
https://www.youtube.com/watch?v=8ACp7JOtRb8
4 - Agir ético na Carta aos Efésios: Mês da Bíblia de 2023. Por frei Gilvander (Cinco vídeos reunidos)
https://www.youtube.com/watch?v=IBMdrHRNkB0
5 - Andar no amor na Casa Comum: Carta aos Efésios segundo a biblista Elsa Tamez e CEBI-MG - Set/2022
https://www.youtube.com/watch?v=nUsZeprbRBY
6 - Toda a Criação respira Deus: Carta aos Efésios segundo o biblista NÉSTOR MIGUEZ e CEBI-MG, set 2022
https://www.youtube.com/watch?v=bcIzASpx9Lo
7 - Chaves de leitura da Carta aos Efésios, segundo o biblista PEDRO LIMA VASCONCELOS e CEBI/MG –Set./22
https://www.youtube.com/watch?v=1uc95pm6GeE
8 - Estudo: Carta aos Efésios. Professor Francisco Orofino
https://www.youtube.com/watch?v=csZGT2S49SA
9 - Carta aos Efésios: Agir ético faz a diferença! - Por frei Gilvander - Mês da Bíblia/2023 -02/07/2023
https://www.youtube.com/watch?v=IuTKCuFgfhw
10 - Bíblia, Ética e Cidadania, com Frei Gilvander para CEBI Sudeste
https://www.youtube.com/watch?v=SHIi1O66RCg
11 - Contexto para o estudo do Livro de Josué - Mês da Bíblia 2022 - Por frei Gilvander - 30/8/2022
https://www.youtube.com/watch?v=6XJpE9u8a18
12 - CEBI: 43 anos de história! Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos lendo Bíblia com Opção pelos Pobres
https://www.youtube.com/watch?v=n8CGPjlaApE
Por frei Gilvander Moreira
Quem lê e interpreta textos bíblicos de forma fundamentalista lê e entende a Bíblia ao pé da letra, do jeito que está escrito e não pode ser levado em conta a época, a forma e o gênero literário, nem o contexto, a finalidade para o qual foi escrito o texto, seu significado e simbolismo. O desconhecimento das formas e dos gêneros literários pode levar o/a leitor/a a ter uma compreensão errônea dos textos bíblicos e a não apreender a verdadeira mensagem contida, tanto no Primeiro quanto no Segundo Testamento bíblico.
Ensinamentos nos foram transmitidos por meio dos escritos conhecidos como: históricos, proféticos, poéticos, sapienciais, legislativos e apocalípticos. Mas, é preciso que o/a leitor/a busque o significado que os/as autores/as, em determinada circunstância, na sua cultura, com as formas e os gêneros literários em uso na época, queriam expressar e, de fato, se expressaram. Desconsiderar as formas e os gêneros literários leva à projeção das nossas concepções preconcebidas sobre os textos bíblicos, o que resulta em leitura fundamentalista. Quem, por exemplo, desconsidera os gêneros literários, ao ler o Evangelho de Marcos, onde diz “o véu do templo se rompeu” (Mc 15,38) entende apenas como um pano se rasgando. Ou ao ler Apocalipse 21,3 onde diz: “Deus armou sua tenda entre nós”, conclui apenas que Deus como pessoa está entre nós. Entretanto, considerando os gêneros literários, podemos dizer que pelo ensinamento e práxis de Jesus Cristo condenado à pena de morte pelos poderes político, econômico e religioso opressores, o “véu do templo se rompeu” e não há mais separação entre o céu e a terra, o divino está no humano, Deus habita no ser humano e em todos os seres vivos. “Deus armou sua tenda entre nós”, diz o livro do Apocalipse da Bíblia (Ap 21,3). Deus não apenas está entre nós, mas está em nós, no próximo e primordialmente no outro que é oprimido e explorado. O evangelista Marcos e o autor do Apocalipse queriam superar todos os dualismos e separações que a cultura ocidental inoculou nas pessoas com o objetivo de retirar a dimensão de sacralidade de cada pessoa e abrir espaço para violentar o ser humano, após retirar dele a dimensão divina.
O Documento da Pontifícia Comissão Bíblica Interpretação da Bíblia na Igreja faz uma análise de muitos métodos de interpretação bíblica. Entretanto, o único método rechaçado com veemência é a leitura fundamentalista da Bíblia. Segundo esse Documento da Igreja, a leitura fundamentalista é perigosa, porque sufoca e inibe o pensamento. “A abordagem fundamentalista é perigosa, pois ela é atraente para as pessoas que procuram propostas bíblicas para os seus problemas da vida. Ela pode enganá-las oferecendo-lhes interpretações piedosas, mas, ilusórias, ao invés de lhes dizer que a Bíblia não contém necessariamente, uma resposta imediata a cada um desses problemas. A leitura fundamentalista convida, sem dizê-lo, a uma forma de suicídio do pensamento. Ela coloca na vida uma falsa certeza, pois confunde, inconscientemente, as limitações humanas da mensagem bíblica, com a substância divina dessa mensagem. ”
Quando uma pessoa diz: “a Bíblia não deve ser interpretada, mas apenas colocada em prática”, inconscientemente, essa pessoa está fazendo leitura fundamentalista. É verdade que a Palavra de Deus não está só contida na Bíblia, mas ela é uma das formas da revelação de Deus para o povo oprimido e escravizado que acredita no Deus da vida. A palavra de Deus está na Bíblia, mas também está presente na vida, na criação, no outro, prioritariamente a partir do outro que é oprimido e injustiçado, e, se manifesta plenamente no seu Filho Jesus, cujos ensinamentos e práxis estão na Bíblia. Como não são sensatas as interpretações aleatórias, ingênuas e nem fundamentalistas, necessário se faz compreender os textos bíblicos em uma leitura libertadora.
A leitura libertadora dos textos bíblicos consiste em interpretação comunitária, aberta ao outro, dinâmica, ecumênica e interreligiosa, geradora de vida, transformadora e multifacetária. A leitura libertadora leva em conta as formas e os gêneros literários, o contexto histórico, social econômico, cultural e religioso da época em que nasceram os escritos bíblicos. Daí a importância do estudo da Bíblia, também nas suas Formas e Gêneros Literários. Para uma boa compreensão da Bíblia é fundamental reconhecer e identificar os gêneros literários dos textos bíblicos.
Pessoas habituadas ao estudo da Bíblia entendem que as formas e os gêneros literários são maneiras de comunicação oral e escrita, usados pelos autores e autoras da Bíblia, para expressar o seu pensamento e a sua mensagem. A escolha da forma ou do gênero que os autores e autoras da Bíblia usaram dependeu de vários fatores, entre os quais, o conteúdo, o ambiente do/a autor/a, aquilo que ele/ela deseja comunicar, o povo destinatário que recebeu o anúncio. Deus quis se comunicar com o ser humano para revelar a sua mensagem, no seu imenso amor pelas suas criaturas. O/a autor/a muitas vezes se serviu de livros, textos que nasceram fora da história dos povos da Bíblia, mas foram introduzidos nela, como o livro de Jó, a narrativa do dilúvio... Outros sofreram influências de diferentes povos e culturas, com os quais conviviam e dos povos circunvizinhos, tais como, os sumério-acádicos, cananeus, egípcios, helenistas, romanos, amorreus, hititas, entre outros.
Esses povos tinham suas divindades, a quem dedicavam hinos e salmos na forma épico-mítica, por meio dos quais, descreviam também suas características, confiavam suas batalhas e atribuíam suas conquistas. Muitos desses textos influenciaram os escritos bíblicos, como, por exemplo, o Salmo 104 teve sua inspiração no hino dedicado à divindade Aton, deus egípcio. As narrativas da criação em Gênesis 1,1-2,4a e 2,4b-7 sofreram influência do hino a Enuma Elish, mito babilônico da criação; a narrativa do dilúvio bíblico, do poema de Gilgamesh, mitos existentes na cultura acádica e babilônica que serviram de inspiração para os povos da Bíblia. No livro de Gênesis, os relatos da Criação estão em uma linguagem simbólica e podem ser considerados contramitos, isto é, mitos usados para “explicar” as origens e responder a mitos mistificantes dos povos vizinhos. Mito não é algo que não existe. Trata-se de uma tentativa de explicar o difícil de ser explicado. Por isso usa uma linguagem simbólica.
“No início (bereshit, em hebraico) criou Deus ...” (Gen 1,1a). Assim abre-se a Bíblia. Normalmente se entende a primeira palavra da Bíblia de forma temporal, cronológica, como se tivesse tido um início a partir do nada e em tal data. Essa interpretação tem alimentado um conflito artificial entre Criação e Evolução. Darwin tem sido satanizado, caluniado e incompreendido pelos adeptos da “teoria da criação”. A questão não é criação ou evolução, mas criação na evolução. A palavra bereshit (= no início) é difícil de ser traduzida, pois é “início, começo, cabeça”, mas não no sentido temporal, cronológico. Trata-se de “início, começo” no sentido qualitativo, no mais profundo das relações da teia da vida. Temos que trazer à mente a distinção que os gregos fazem na ideia de tempo: chronos (tempo físico quantitativo, sucessão dos fatos) e kairos (tempo qualitativo, o divino tocando o humano, a graça contagiando tudo). O/a autor/a bíblico não quis estabelecer uma oposição entre Criação e Evolução, pois falou de “início” no sentido de algo profundamente qualificado tocando a evolução. A criação se dá na evolução. O dedo de Deus toca tudo. Tudo está permeado e perpassado pela dimensão divina. Evolução é a criação continuada, continuamente acontecendo.
Referência
Pontifícia Comissão Bíblica. A Interpretação da Bíblia na Igreja. Paulinas: São Paulo, 1994.
23/04/2024
Obs.: As videorreportagens nos links, abaixo, versam sobre o assunto tratado, acima.
1 – Um Tom de resistência - Combatendo o fundamentalismo cristão na política
https://www.youtube.com/watch?v=5zOV-dOpW-Q
2 - Bíblia: privatizada ou lida de forma crítica libertadora? Por frei Gilvander, no Palavra Ética
https://www.youtube.com/watch?v=pFRiBrjmcMQ
3 - Deram-nos a Bíblia. “Fechem os olhos!” Roubaram nossa terra. Xukuru-Kariri, Brumadinho/MG. Vídeo 5
https://www.youtube.com/watch?v=8ACp7JOtRb8
4 - Agir ético na Carta aos Efésios: Mês da Bíblia de 2023. Por frei Gilvander (Cinco vídeos reunidos)
https://www.youtube.com/watch?v=IBMdrHRNkB0
5 - Andar no amor na Casa Comum: Carta aos Efésios segundo a biblista Elsa Tamez e CEBI-MG - Set/2022
https://www.youtube.com/watch?v=nUsZeprbRBY
6 - Toda a Criação respira Deus: Carta aos Efésios segundo o biblista NÉSTOR MIGUEZ e CEBI-MG, set 2022
https://www.youtube.com/watch?v=bcIzASpx9Lo
7 - Chaves de leitura da Carta aos Efésios, segundo o biblista PEDRO LIMA VASCONCELOS e CEBI/MG –Set./22
https://www.youtube.com/watch?v=1uc95pm6GeE
8 - Estudo: Carta aos Efésios. Professor Francisco Orofino
https://www.youtube.com/watch?v=csZGT2S49SA
9 - Carta aos Efésios: Agir ético faz a diferença! - Por frei Gilvander - Mês da Bíblia/2023 -02/07/2023
https://www.youtube.com/watch?v=IuTKCuFgfhw
10 - Bíblia, Ética e Cidadania, com Frei Gilvander para CEBI Sudeste
https://www.youtube.com/watch?v=SHIi1O66RCg
11 - Contexto para o estudo do Livro de Josué - Mês da Bíblia 2022 - Por frei Gilvander - 30/8/2022
https://www.youtube.com/watch?v=6XJpE9u8a18
12 - CEBI: 43 anos de história! Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos lendo Bíblia com Opção pelos Pobres
https://www.youtube.com/watch?v=n8CGPjlaApE