(11/03/2012)
I-19
As páginas em branco do seu blog esperam suas palavras,
esperam que ele diga o que sente.
Olhos ávidos aguardam a digitação.
A internet abre um espaço para mais uma página!
Mas...
As palavras que realmente ele quer dizer
não saem de sua mão,
não avançam no teclado,
não chegam à redação!
Elas grudam em seus neurônios,
Alojam-se em seu “ID”,
acomodam-se em seu coração,
e não florescem na tela.
Nestes últimos dez anos de vida,
muitas coisas nele mudaram,
além das rugas que aumentaram,
dos novos cabelos brancos,
da calvície que progrediu;
Ele saboreia melhor as palavras divinas,
vendo melhor as curvas e as pedras do caminho,
sentindo com maior intensidade a brisa suave da presença de Deus em sua vida!
A mente vagueia pelo paraíso,
A alma anseia pelas alturas,
O corpo, cansado, pede repouso...,
Mas não consegue transformar isso em palavras!
A realidade que não vemos
supera, muito, a que vemos.
Corremos feito loucos atrás do vento das vaidades,
das tristes ilusões,
do dinheiro, de nós mesmos,
enquanto Deus insiste em nos amar,
em nos perdoar,
em nos convidar a uma conversão plena.
Agora ele vai clicar o “salvar”
e mais uma página,
talvez inútil para muitos,
está aparecendo em nossas telas.
25/11/2012
I-23
A capa brilhava,
me chamava,
me fascinava.
Peguei-o,
sentei-me confortavelmente numa poltrona.
As palavras começaram a brotar
em todas as formas e cores,
com todos os tipos de amores e,
dançando no ar,
formavam cenas fantásticas.
As lágrimas,
o sorriso,
os soluços,
as gargalhadas,
misturavam-se num redemoinho de ilusões,
num coquetel de emoções.
As figuras
que as palavras traçavam no ar
ora estavam no chão,
ora no teto,
ora ao lado,
ora esmagadas,
ora sublimes,
ora lavadas, sem cores,
ora pintada como flores
ora apimentadas,
ora suaves e doces,
ora amargas e ácidas.
A dado momento,
o cansaço,
o tédio,
o mormaço,
me invadiram.
Deixando o livro, fui dormir.
E as palavras,
sorrateiramente,
entraram em meus sonhos,
em minha fantasia,
e me perturbaram o descanso.
As dúvidas,
as incertezas,
as asperezas,
as súbitas surpresas,
tudo isso pululava
nas montanhas do meu cenário onírico.
Acordei assustado,
já com os raios do sol
no quarto penetrados.
Num só pulo levantei-me,
banhei-me,
tomei café,
domingão livre,
paineira livre,
com sombra,
sombra deliciosa,
ali fiquei,
recomecei a leitura.
Novamente o espetáculo das palavras
me traçando as ideias,
as figuras,
as fantasias,
as agruras e delícias de alguém,
que antes de mim,
havia visto tudo isso em sua mente,
em seus sonhos,
e os prendeu naquelas páginas.
O livro terminou.
Tudo sumiu.
A festa acabou.
Eu o fechei e o guardei,
Até que alguém o ligasse novamente,
Ligasse novamente essa fábrica de emoções.
10/02/2013
I-26
O livro se abriu,
a mente se expandiu,
o ovo da idiotice gorou.
As sementes brotaram,
as palavras se espalharam,
o canteiro gerou.
Ideias, pensamentos, vida nova,
Tudo e tudo se renova,
nada mais fica ignorado.
As nuvens da ignorância sumiram,
os raios de sol se abriram,
o saber se tornou mais amado.
Acordei do meu lindo sonho,
e um pesadelo medonho,
vi neste mundo prolixo:
as mentes embrutecidas,
pessoas endurecidas,
os livros jogados no lixo!
16/02/14
I-76
E o livro disse à Internet:
“Tomaste meu lugar!”
A Internet respondeu:
“Deixa de chorar!
Os leitores teus,
mais do que os meus,
amam o profundo!
Em rápidas pinceladas
eu lhes trago o mundo;
hoje elas existem,
amanhã já não são lembradas.
Tuas folhas amarelam,
envelhecem,
mas de ti eles não se esquecem!
02/03/14
I-84
Palavras são palavras,
nada mais que ruídos,
nada mais que fluídos
de um coração que pensa...
Palavras são jogadas,
acolhidas ou perdidas,
amadas ou odiadas.
A Palavra de Deus,
a única verdadeira,
se fez carne entre nós,
e foi assassinada
na cruz de madeira.
Se matamos a verdadeira,
que não faremos com as demais?
02/03/14
I-85
Um simples aceno,
puro ou obsceno,
fala muito mais
que palavras normais.
Você apenas fitou-me,
com aquele seu olhar,
e por terra prostrou-me,
com um só aceno,
nada mais!
23/08/2014
I-122
Um livro me foi aberto
ao meu nascer.
Será ele encerrado
quando eu morrer!
Páginas felizes...
páginas tristonhas...
páginas risonhas!
Páginas coladas,
que nem eu conheço!
Páginas odiadas,
que não mereço!
Há luzes em muitas delas,
como há algumas amassadas...
Algumas amarelas,
outras um tanto ousadas!
Posso dizer, entretanto,
que todas elas,
sem exceção,
terminam com um canto
de ação de graças
e com um pedido de perdão!
(15/11/2014)
I-139
Diante de vós, Senhor,
coloco a minha vida,
minha alma ferida,
sedenta de amor!
São tantos os percalços,
desamores e desilusões,
são tantos corações
que se me revelaram falsos!
Minhas palavras fluem,
mas nem sempre parecem sensatas,
às vezes parecem ingratas,
e no nada se diluem!
Com isso eu me prejudico,
ao tentar socorrer,
ao tentar fazer reviver
o amigo, pobre ou rico.
Na minha vida eremítica
preciso reaprender
a calar-me e a viver
a sobriedade apocalíptica!
Eu me sinto num martírio
sem sangue, sem violência,
mas dói-me a consciência,
se eu me calo, com paciência
casto e quieto como um lírio!
A pureza isolada,
sem o amor da caridade,
deixou na orfandade
as cinco virgens desoladas,
sem o “azeite” da bondade.
Diante de Vós, Senhor,
coloco o meu querer,
ensinai-me a viver,
até morrer de amor!
(22/02/15)
I-158
Páginas passadas,
páginas em branco,
páginas viradas,
de conteúdo franco,
assim é o livro pesado
em que escrevi meu passado.
Há páginas coladas,
de que nem mesmo eu,
que ali deixei pegadas,
sei do conteúdo seu.
Páginas orantes,
páginas chorosas,
páginas pedantes,
páginas amorosas.
Se apenas uma só
pensasse eu escolher,
eu escolheria, sem dó,
a que me viu nascer!
14/10/15
I-216
Minha musa foi obrigada a se calar,
em minha caneta secou-se a tinta!
Não pude deixar de chorar
ao ver minha obra extinta!
Porém
Um triste e simplório engano
é tentar fazer-me calar!
É como tentar represar
A água do oceano!
02/10/16
I-319
Com palavras não posso dizer
tudo o que me vai no coração,
tudo aquilo que me faz viver,
tanto no agir como na contemplação.
Busquei-as no mais fundo do mar,
no alto pico do Himalaia,
nos frutos do meu pomar,
na fina areia da praia.
Pesquisei florilégios poéticos,
enciclopédias e dicionários,
nos escritores mais ecléticos,
tanto realistas como visionários.
Jesus também tentou,
em palavras quis definir
a alegria do Reino que implantou,
mas só na cruz conseguiu se exprimir.
Toda a beleza que há no mundo
é de Deus uma tentativa
de mostrar-nos, do alto ao mais profundo,
sua bondade criativa!
Isolo-me do universo
e entro no seio divino.
Deixo de lado a prosa e o verso,
e em sua beleza me atino.
Muito mais que sentir,
é preciso viver a alegria,
esteja o mundo a nos sorrir,
ou debatendo-se na agonia.
04/07/2019
I-370
Enquanto chove lá fora
e a internet se desligou,
eu me fecho na biblioteca,
tão abandonada,
e me incluo nas páginas envelhecidas
dos livros ali jazidos.
Meus olhos nas letras,
minha mente no espaço,
viaja por terras distantes,
terras ausentes,
ações mirabolantes,
fantasias ilusórias.
Os livros me falam
não daquilo que me mostram,
mas do íntimo de quem os mostra.
Ao repassar as palavras
sinto o que os autores sentem,
estou dentro de suas mentes,
seus pensamentos,
interajo com seus amores.
Dentro de mim
a curiosidade se desperta
preservo minha mente aberta,
e as sutis comparações,
não consigo evitar.
Eu me assusto,
eu choro,
eu me enraiveço,
eu amo,
eu sinto as injustiças,
eu me sinto alquebrado,
sorrio,
dou gargalhadas,
enquanto o autor viaja
pelo seu mundo encantado.
A noite está avançada.
Cochilo sobre as letras.
Num movimento forçado
deixo as páginas fechadas,
mesmo que a ação não esteja terminada,
e volto para o meu mundo,
para os meus próprios pensamentos,
para a minha própria mesmice,
para as minhas quatro paredes.
Adormeço.
Liberto o meu espírito,
que percorre os caminhos lidos,
não mais com os olhos do escritor,
mas com meus pobres olhos de leitor.