EV. LUCAS - COMENTÁRIOS

PARA LER OS TEXTOS USE ESTE LINK: BÍBLIA CATÓLICA


EVANGELHO DE LUCAS – INTRODUÇÃO

Estas reflexões são simples, baseadas na minha caminhada em tentar entender a Palavra de Deus para aplicá-la à minha vida diária. O que não é próprio meu (TA) é da Bíblia de Jerusalém (BJ) e de Fernando Armellini (FA).


Lucas é um escritor de grande talento e de alma delicada, e narra seu evangelho de forma cativante, preocupando-se muito com a informação e a ordem (ver Lc 1,3), embora isto não signifique que seus dados sejam mais históricos que Mt e Mc. Dos que escreveram os Evangelhos, Lucas é o único não judeu, natural de Antioquia. Era médico. Após a conversão, acompanhou S. Paulo em suas viagens apostólicas, e muito do que escreveu foi inspirado pelas pregações do Apóstolo.


Baseou-se, também, no Evangelho aramaico de Mateus, que se perdeu, e em outras coleções anteriores que falavam sobre Jesus e seus ensinamentos.


Omite os episódios que não interessam a seus leitores pagãos (=não judeus), ou que sejam duplicatas.

Para Lucas, a Salvação se realiza em Jerusalém, cidade santa. Foi lá que o Evangelho começou e terminou, e de onde começou a evangelização do mundo (Ver Lucas 24,47 e Atos 1,8). É a subida de Jesus e de todos os cristãos para Deus.


Lucas evita ou atenua o que possa chocar a sua sensibilidade e/ou a dos leitores, também o que possa ser pouco compreensível, poupa as pessoas dos Apóstolos, omitindo ou desculpando-os de coisas que mostrem a fraqueza deles. Ele interpreta os temos mais obscuros e torna mais precisa a geografia.


É influenciado pela sua própria psicologia e modo de ver as coisas e por seu mestre Paulo. Salienta a misericórdia de Jesus para com os pecadores e gosta de contar cenas de perdão. Insiste com prazer sobre a ternura de Jesus para com os humildes e os pobres, enquanto que os orgulhosos e os ricos gozadores são severamente tratados. A condenação, justa, só é aplicada após pacientes prazos de misericórdia. É preciso apenas que a pessoa se arrependa, renuncie a si mesma, num desapego decidido e absoluto, mostrando uma "generosidade exigente", principalmente pelo abandono das riquezas, pela oração (muito necessária) e pelo seguimento do exemplo de Jesus.


O Espírito Santo ocupa um lugar de primeiro plano que somente Lucas salienta, como em S. Paulo e nos Atos. Tudo isso com a atmosfera de reconhecimento pelos benefícios divinos e de alegria espiritual dando à obra de Lucas este fervor que toca e aquece o coração.


Ele privilegia o lado humano de Jesus Cristo e a pobreza como modo de vida do cristão. Dizem os críticos que ele é o que mais caprichou na parte literária, devido ao seu grande conhecimento da língua grega (língua em que os evangelhos foram escritos), e que seu esmero em escrever e detalhar os fatos vem da própria prática de sua profissão. Seu evangelho surgiu entre os anos 75 e 80 de nossa era.

Morreu mártir, em idade avançada. Sua festa é celebrada no dia 18 de outubro, e por isso é o “dia do médico”, que era sua profissão.


CAPITULO 01


Lucas 1,1-4: PRÓLOGO


Lucas escreve cerca de 50 anos depois dos fatos (80d.C) e não pertence ao grupo dos que conheceram pessoalmente Jesus. É fiel à tradição e aos outros acontecimentos reais, atestados por testemunhas oculares. Procura dar base sólida à fé dos cristãos das suas comunidades.


Teófilo significa “amigo de Deus” e talvez seja, aqui, um alto funcionário que desejassem que ficasse bem informado, mas pode ser que Lucas tenha feito de propósito, dedicando os seus escritos a todos os que são ou querem ser amigos de Deus, para confirmá-los na fé.


Lucas 1,5-25 :- JOÃO BATISTA – ANÚNCIO DE SEU NASCIMENTO.


Lucas reconstituiu a atmosfera do ambiente dos “pobres”, conforme Sofonias 2,3, no qual viviam suas personagens e de onde, sem dúvida, hauriu o essencial de sua informação.


São pobres (anawin) oprimidos (aniyyim) e os profetas reclamam justiça para os fracos e os pequenos e para os indigentes. São israelitas submissos à vontade divina. João significa “Javé é favorável”.


v.15- o “Nazir” (Nazireu), consagrado a Deus, se compromete, durante o tempo de seu voto, a não beber bebidas fermentadas, não se aproximar de cadáveres (veja Números 6). Com isso recebia a força de Deus, rejeitava a vida fácil, para pertencer de modo especial a Deus.


Um menino podia ser consagrado por sua mãe, mas não se sabe se isso era feito sem limite de tempo. Ex: Sansão (Juízes 13,5-7; 14,16-17); Samuel (1 Sam 1,11- falta a abstenção de vinho). João Batista (Lucas 1,15 – falta a cabeleira longa).


Quanto à referência ao profeta Elias, não tem nada a ver com reencarnação ou ressurreição de Elias, mas um simbolismo: João tem a mesma missão que o profeta.


V 18- Zacarias pede um sinal, mas permanece incrédulo: pediu sem convicção de que lhe seria dado. Por isso fica mudo.


V 24- A esterilidade era considerada desonra e até mesmo um castigo (Gn 30,23; 1 Sm 1,5-8; 2 Sm 6,23; Os 9,11).


Lucas 1,26-38: A ANUNCIAÇÃO


A anunciação do anjo a Maria indica o cumprimento da promessa feita em 2 Sm 7,14-16; 1 Cr 17,12-14. Em Jesus todas as promessas se realizam. Jesus está na linha davídica através de José (v. 27). Em cumprimento de Is 7.14, uma virgem, permanecendo virgem, dará à luz um filho.


(FA)- A obra da Salvação é exclusiva de Deus, embora não se dê sem a colaboração humana, aqui representada pela orientação de Maria.


(BJ)- A representação da concepção de Jesus se inspira em diversas passagens do AT (Juízes 13,2-7), o que implica que possa ter sido um pouco diferente do que disse Lucas.


(TA)- Veja por exemplo Mt 1,18, em que Maria percebeu que estava grávida sem ter tido encontro íntimo com José. A aceitação, o “Sim” de Maria ocorreu durante toda a sua vida, e não apenas naquele momento. O que Deus fizesse nela ou com ela estaria já implicitamente aceito por ela.


Quanto à palavra “Ave”, em certas traduções, significa “Alegra-te”: “Alegra-te, cheia de graça” (v. 28).

v 35- “O Espírito Santo te cobrirá com sua sombra”- Como na nuvem luminosa de Êxodo 13,22; 19,16; 24,16, ela evoca a presença de Deus. Na concepção de jesus tudo provém do Espírito Santo.


Lucas 1,39-45 – A VISITAÇÃO


(TA) – A meu ver, no versículo 42: “Donde me vem que a mãe do meu Senhor me venha visitar?” - temos a confirmação de que Maria é a mãe de Deus pois, como diz a BJ, “Kyrios”, “Senhor”, é o “Título divino de Jesus ressuscitado” (Atos 2,36; Fil 2,11) que Lucas atribui a Jesus desde a vida terrestre, com mais frequência que Mateus e Marcos (Lc 7,13; 10,1.39.41; 11,39). Kyrios também é a tradução, para o grego, de Javé e Adonai.


Neste trecho precisamos nos lembrar que nem tudo na bíblia ocorreu exatamente como é narrado: é um texto catequético, e não um tipo de diário do que aconteceu. Assim, é preciso entendermos o texto de forma mais ampla.


A paz, aqui, é a síntese de todos os bens prometidos por Deus.(veja Salmo 72,7; Isaías 9,5). Ao saudar Isabel, Maria quis lhe dizer que chegara ao mundo o tão esperado Messias e a paz prometida. Jesus manda-nos saudar com a paz aos que nos receberem (ver Lucas 101,5: “Paz a esta casa”).


“Bendita és tu entre as mulheres”: Maria é um instrumento fraco e simples que Deus utiliza na obra da Salvação. Maria é omo a Arca da Aliança: Deus não mora mais numa arca, mas dentro de uma mulher (2 Sm 6,10-11).


Maria pôs sua confiança total em Deus, que cumpriria sua Palavra, com tantos sinais falsos de sua ausência. Maria não precisa demonstrações nem sinais para acolher a Palavra, e em seu caso, de acolhê-la dentro dela. Neste trecho, podemos também refletir sobre a disposição que ela tem para se colocar a serviço de Isabel, já idosa para ter filhos. Talvez tenha ficado com ela até à circuncisão de João Batista.


Lucas 1,45-56:- O MAGNÍFICAT


É inspirado no cântico de Ana, de 1 Sam 2,1-10 e em outras passagens do AT: pobres e pequenos socorridos e os ricos e poderosos deixados à própria sorte; Israel é objeto da graça de Deus desde a promessa feita a Abraão. É o canto de celebração alegre e o resumo de toda a História da Salvação, em que os pobres e humildes são exaltados e objeto do amor misericordioso de Deus. Quanto mais nos esvaziamos de nós mesmos e de tudo o que não for Deus, mais nos plenificamos com ele.


Lucas 1,57-66: NASCIMENTO E CIRCUNCISÃO DE JOÃO BATISTA


Texto sem dificuldades de interpretação. Sobre a mudez de Zacarias, o termo “Kôphos” significa surdo-mudo. É por isso que ele também não ouvia e precisou ser perguntado por meio de sinais (v. 62). João significa “José favorece”. Zacarias recuperou a palavra porque os fatos se realizaram segundo a Palavra de Deus (Lucas 1,20). A mão de Deus estava com aquela criança (MD). (1 Sam 24,6)


Lucas 1, 67-80: - CÂNTICO DE ZACARIAS

Peça poética colocada por Lucas nos lábios de Zacarias acrescentando os versículos 76-77.

Encerrando este primeiro capítulo de Lucas, vemos como com Jesus veio também a alegria do céu, pois Ele é a segunda pessoa da Santíssima Trindade. É Deus que se fez homem. Para os que o receberem, Ele os tornará filhos de Deus (Jo 1,11-12).


Seria bom agora você ler o 1º capítulo todo de S. João, pois o que Lucas disse em cenas teatrais, João o disse de modo teológico. A verdade pode ser dita de várias maneiras, mesmo com elementos estranhos ao fato ocorrido. É o que Lucas fez, ao ilustrar com tantas cenas “teatrais” aquilo que realmente aconteceu. Na anunciação, por exemplo, Mateus substitui todo o cenário de Lucas simplesmente dizendo: “Maria achou-se grávida por obra do Espírito Santo”. Só isso. Mas disse a mesma coisa que Lucas, que estendeu isso por vários versículos, narrando a anunciação de um anjo, como era comum em pessoas importantes, como João Batista, Sansão, Samuel. Em Mateus, o anjo aparece não a Maria, mas a José, e em sonho. E José acreditou no sonho! Quanta fé! Tanto por parte de José como por parte de Maria.


É preciso nos acostumarmos com a ideia de que Deus nos fala por meio do dia a dia, do mesmo modo que falava a esse pessoal da bíblia. Acontece que essas pessoas tinham uma fé mais pura do que talvez tenhamos, e agiam “Como se visse o invisível”(Hb).


CAPÍTULO 02


Lucas 2,1-20 : - NASCIMENTO DE JESUS


Não se sabe ao certo em que ano Jesus teria nascido, mas sabe-se que foi talvez 6 ou 7 anos antes da data oficializada posteriormente. Ou seja, não estamos no ano 2013, mas no ano 2019 ou 2020, se contarmos a partir do nascimento de Jesus. Quanto ao dia, também não sabemos. O dia 25 de dezembro foi escolhido porque era feriado em Roma, festa anual do "deus" sol, que também era festejado no domingo. Em inglês, até hoje o domingo é o "dia do sol"= Sunday. Os cristãos, ao colocar nesse dia a festa do Natal, queriam substituir a festa pagã.


Isso implica que Jesus teria morrido não com 33, mas com uns 39 ou 40 anos de idade. Para maior detalhe, consiga uma Bíblia de Jerusalém e leia o comentário. Eu não me importo muito com esses números e cálculos.


Devemos ler a narrativa do nascimento de Jesus com cuidado, sem levar tudo ao pé da letra, pois Lucas apresenta de modo maravilhoso um acontecimento que pôde ter sido corriqueiro e simples, como o nascimento de qualquer outra pessoa. Aqui trabalhamos no caminho da fé, e não da ciência. Ele o descreve como os cristãos da primeira geração o viam.

Belém era um vilarejo de pastores, considerados sem juízo, falsos, desonestos, ladrões, violentos. Foi nesse ambiente que Jesus nasceu e cresceu. Os ricos estão longe do presépio e até querem eliminar Jesus de suas vidas, por ser-lhes perturbador e incisivo nos pedidos de conversão.


V 7- “primogênito”, aqui, quer apenas mostrar que Jesus tinha os direitos e a dignidade próprias do primeiro filho. Não indica que Maria teria depois outros filhos. Quanto ao local do nascimento, provavelmente foi numa sala da casa onde morava a família de José, em que ele se hospedara (leia 1ªSamuel 1,18; 9,22; Lc 22,11). A manjedoura de animais estava colocada certamente numa parede do pobre alojamento tão superlotado que não se pôde encontrar lugar melhor para se colocar a criança. Uma piedosa lenda colocou ali dois animais, aliás, mencionados por Habacuc 3,2 (do grego) e Isaías 1,3. S. Francisco completo o presépio, como o conhecemos hoje em dia.


v. 11 – Jesus, o Senhor (Kyrios, que é a tradução para o grego da palavra “Javé” ou “Jeová”) deixou, portanto, como Palavra, o Céu e tornou-se um homem, deitado num coxo (a que enfeitamos chamando de manjedoura), situado numa casa pobre de um vilarejo de Belém, um homem pobre, cujos pais receberam em seu presépio os pastores, tão marginalizados e odiados e, em Mateus, recebendo os magos, que eram pagão também marginalizados pelos judeus, provenientes de povos desconhecidos e segundo as leis judaicas, relegados à perdição. Eis a pobreza de Jesus! Eis a misericórdia de um Deus feito homem (veja nesta seção mesmo a postagem “O Primeiro Natal”.


Lucas 2,21- A CIRCUNCISÃO.


S. Paulo diz que o Batismo é a circuncisão do coração. A circuncisão é o que conhecemos atualmente por operação de fimose. Por meio dessa cerimônia, feito de modo solene no templo judaico, o menino recebia o nome e era inserido no povo de deus. É como no Batismo, em que somos inseridos no novo Povo de Deus, além de termos nossos pecados perdoados, inclusive a falta original. Por isso é que batizamos crianças: para inseri-las no povo de Deus, da mesma forma que ocorria na circuncisão, que deixou de ser praticada por ser uma iniciação “tribal”, ou seja, algo particular de um povo: inseria a pessoa num povo determinado, no caso, o povo judeu.


Quanto ao pecado original, é muito difícil entendê-lo. Sabemos que nascemos com um tipo de “defeito de fabricação”, que é a falta original. O Batismo nos recupera, mas as consequências desse “defeito de fabricação” ficam, como as doenças, o sofrimento, a morte.

Lucas 2,22-40 – APRESENTAÇÃO DE JESUS NO TEMPLO


A purificação era imposta só à mãe. A criança deveria ser “resgatada” com animais permitidos, que substituíam a criança. Pobres que eram, José e Maria resgataram Jesus com dois pombinhos. Jesus nos resgatou dando sua própria vida. Não foi substituído por animais. Por isso ele é chamado por João Batista “o Cordeiro de Deus”.


Os pais de Jesus cumpriram todas as prescrições da lei (veja Gál 4,4). Estavam plenamente inseridos na ordem social. Jesus é o Messias do Senhor, o ungido por excelência, destinado a uma obra de salvação (v.26) que cumprirá realizando em si a figura do servo sofredor.


v. 32 – Jesus coloca-nos na necessidade de decisão e isso pode dividir. Sob a luz de Jesus, tudo se torna claro e distinto, tanto o bem como o mal. Os pagãos receberão a luz (=Jesus) e caminharão no caminho verdadeiro em direção à salvação.


v.34- Sinal de contradição= os incomodados pela pregação de Jesus, que não querem se converter, praticarão as hostilidades e procurarão calar a ele e aos que o seguirem, par talvez se manterem tranquilos em sua maldade e indiferença.

v.35 – Maria está unida a Jesus não só na alegria, mas em suas dores, paixão e destino.


v. 39-4- - Jesus se encarnou de verdade, plenamente, e precisou crescer como todos, não só na estatura, mas também no conhecimento, na sabedoria e na graça de Deus, que respeitou as várias etapas de suas capacidades, variadas de acordo com as idades que ele teve; ou seja: sendo Jesus 100% homem, o pai precisou respeitas as fases de crescimento de seu Filho para, aos poucos, ir formando sua estrutura humana-divina. Havia coisas que só na fase adulta Jesus teria a capacidade humana de suportar. Lembremos sempre que ele é 100% Deus e 100% homem!


E nós? Precisamos também respeitar nossos limites, nossas capacidades, nosso caminho, para não desanimarmos. Se até Jesus precisou respeitar seus limites, quanto mais nós!


A melhor atitude para nos adequarmos a isso é a humildade, que nos leva a nos aceitar como somos, a aceitar nossas limitações e agirmos tendo em vista nossa verdadeira estrutura física, psíquica, mental, espiritual. Não podemos mentir para os outros e muito menos para nós mesmos, o que é mais perigoso. “Somos o que somos diante de Deus!” (Não me lembro quem falou isso...). Desse modo, vamos fazendo o que pudermos e aos poucos nos preparando para agirmos de modo melhor, um passo por vez, sem radicalismos nem “loucuras”.


Lucas 2,41-52 – JESUS ENTRE OS DOUTORES


O correto era ir a Jerusalém três vezes por ano. José e Maria iam uma vez por ano, para celebrar a páscoa porque, talvez sendo pobres, não podiam ir mais vezes. Moravam a três dias de Jerusalém. Decerto Lucas menciona essa vez para mostrar algo especial, que acho ser o Bar Mitzvá de Jesus, além de narrar seu desencontro com os pais e seu desejo de estar no templo.


O Bar-Mitzvá, que significa “ filho do preceito”, era feito aos 12-13 anos de idade, quando o adolescente atingia a idade adulta e se comprometia a observar todos os preceitos da lei. Penso ter sido feito o Bar-Mitzvá de Jesus nessa ocasião, porque uma criança não seria recebida pelos doutores da lei, como Jesus o foi, “ouvindo-os e interrogando-os!”. Sem o B.M., ele não poderia estar fazendo isso. A criança era totalmente desprezada, como se nem existisse. Ele impressionou a todos com a sabedoria de suas perguntas e respostas e era, portanto, a primeira vez que estava podendo conversar com essas autoridades judaicas.


Outra coisa sobre os três dias em que ficou perdido é notarmos que Jesus não era muito “caseiro” e decerto ia muito às casas de seus amigos. Seus pais estavam talvez acostumados com esses pequenos “sumiços”, mas não por um dia inteiro, como dessa vez.


v. 51 – Maria não sabia tudo o que ia acontecer a Jesus. Ela ouvia Deus da mesma forma que nós, ou seja, na intimidade de seu coração. Ela não recebia visita de anjos, como poderíamos supor. Por isso diz as escrituras: “Guardava todas essas coisas em seu coração”, procurando aos poucos entender qual era o alcance daquela missão, tanto a dela como a do filho.


Quanto a Jesus, aprendeu a obedecer aos pais até o tempo oportuno (v. 51-52). Sabe, entretanto, que suas relações com o Pai ultrapassam as da família humana (v 48; veja João 2,4). Essa é a primeira manifestação de sua consciência de ser o “Filho” (Mateus 4,3).


CAPÍTULO 03


Lucas 3, 1-18 : PREGAÇÃO DE JOÃO BATISTA


Segundo dados históricos, Jesus teria mais de 30 anos quando iniciou sua vida pública. Deus deixara o povo por 300 anos sem profetas, talvez porque viu que ninguém os ouvia! Com a vocação de João Batista, Deus mostra que nunca se esquece dos homens, mas espera o momento exato para recomeçar o seu diálogo. O deserto representa a renúncia a tudo o que é supérfluo e inútil, embora muitos o considerassem morada dos demônios. Seu modo de se vestir está em Mt 3,4, e contraria tudo o que se usava na época.


João Batista pede que todos se convertam e mudem o modo com que vivem suas profissões e seus atos, para poderem receber o Messias. Remover todos os pecados, obstáculos, tudo oque impede o encontro com Jesus, “aterrando os vales e tornando retos os caminhos” (v.4). Quais são os “vales” e os “caminhos tortuosos” de nossa vida, de onde trabalhamos e vivemos?


vv. 7-18: A conversão é mostrada como um modo concreto de vida; não com palavras, nem com piedosos exercícios religiosos, mas na partilha, na honestidade em tudo o que fazemos, não abusarmos do poder, estarmos a serviço. Na segunda parte mostra um Jesus-Juiz, que purifica com o Espírito Santo e com o fogo, ou condena a um fogo não purificador. Jesus queima o pecado, não o pecador.


Lucas 3,19-22: O BATISMO DE JESUS


Juntar aqui os vers. 15-16: “Eu batizo com água, mas vem aquele...” etc. O fogo purifica e marca para sempre. João é preso por ter denunciado o adultério de Herodes.


Na verdade, no Batismo de Jesus não é a água que o santifica, mas é Ele que santifica a água para o nosso Batismo, ao entrar nela para ser batizado.


v.21 - Jesus estava em oração, e o dom do Espírito Santo vem em resposta a essa oração. É como 11,2: “Venha a nós o vosso Espírito santo e nos purifique”. Também 11,3: O Pai nos dará o Espírito Santo se o pedirmos.


v. 38 – A genealogia de Jesus remonta a Adão e a Deus. A figura de Jesus se torna, então, tipo par todos os cristãos. No Batismo, a oração da Igreja faz descer sobre nós o Espírito que, tornando-nos filhos de Deus, ligou nossa pobre genealogia humana a Deus.


Quanto à abertura do céu, a pomba, a voz, são sinais da manifestação de Deus (=teofania) que mostram ser Jesus o Filho de Deus e o próprio Deus. Eu, particularmente, prefiro os símbolos da língua de fogo e do vento para simbolizar o Espírito Santo, que é Deus com o Pai e o Filho, na Santíssima Trindade. Como é bonito o trecho de 1 Reis 19, em que Elias sente a presença de Deus no sopro de uma brisa suave, e não no terremoto, nem no vendaval, nem da tempestade. Nunca nos esqueçamos disto: o Espírito Santo é uma PESSOA DIVINA, e não uma força, uma luz ou coisa parecida. Ele é chamado o Paráclito, o advogado nosso, o nosso intercessor, que intercede junto ao Pai “Com gemidos inefáveis” (S.Paulo).


Lucas 3,23-38 – A GENEALOGIA DE JESUS


Em Lucas é mais universal e remonta a Adão, cabeça de toda a humanidade. É quase certo que Maria pertencia também a essa linhagem. Lucas Mostra Jesus “inaugurando” uma nova raça humana. Como discípulo de Paulo, talvez Lucas pense no “novo Adão” de Rom 5,12.


Quanto à idade de Jesus mencionada neste trecho, Lucas apenas deseja indicar que ele tinha a idade mínima requerida para iniciar a sua missão. Os estudiosos do assunto chegaram à conclusão que Jesus tinha cerca de 34 anos, talvez até 37. Isso significa que ele morreu com 37 ou mesmo 40 anos. (Comentário da Bíblia de Jerusalém).


CAPÍTULO 04

Lucas 4,1-13: A TENTAÇÃO NO DESERTO


As três tentações de Jesus são como três parábolas que devemos aplicar em nossas tentações. Na verdade, Jesus teve todas as tentações durante toda a sua vida. Lucas menciona as tentações que Jesus teve na sua Paixão (v.13).


Ao aplicar as tentações, digo, a luta contra as tentações de Jesus em nossa vida, precisamos tomar cuidado para não querer ou tentar aplicar as MESMAS tentações que Jesus teve. Seria um engano. As tentações de Jesus foram próprias de sua condição Deus-Homem verdadeiro. Não teriam sentido em nossa vida, a não ser se as vermos como parábolas, como dissemos acima.


As três se resumem nos modos errados de nos relacionarmos com três realidades: com as coisas, com as pessoas, com Deus (FA).


Jesus foi tentado a usar em proveito próprio a sua divindade, inclusive na cruz: “Desce da cruz, se és o Filho de Deus!”. Ele poderia ter usado sua divindade para resolver muitas coisas, mas para ele isso era uma tentação: ele veio para vive uma vida humana. Usar sua divindade para proveito próprio ou para sanar dificuldades seria negar o ser humano e mostrar que as soluções seriam impossíveis para os problemas propostos, já que ele mesmo não os teria resolvido.


O demônio usou da mentira para tentar a Jesus, como também a usa para nos tentar: “Tudo isto me pertence”. Na verdade, o mundo tem sido muito fiel ao demônio, mas ele mentiu a Jesus, Precisamos tomar muito cuidado com suas insinuações. Acabamos acreditando que aquele (=o caminho errado) é o único ou o melhor a seguir. Achamos que não vamos ser punidos se o seguirmos.


Prostrar-se diante do demônio, no dia a dia, é amar o pecado, adorar os ídolos atuais (sexo, poder, dinheiro, fama...) como a um deus e abandonar a confiança e a fé em Deus; é humilhar o outro, fazendo com que ele nos “adore” com o a deuses e coisas desse tipo.


Muitas vezes as pessoas se submetem ao mal ou não o abandonam para poder continuar gozando privilégios, honras e ganhar mais dinheiro.


Na terceira tentação, Jesus é convidado a se atirar do alto do templo, ou seja, a tentar a Deus. O demônio usou um trecho bíblico para seduzir Jesus. Ele quer destruir as bases de nosso relacionamento com Deus. Tentar a Deus é achar que ele tem que nos ajudar, que é obrigado a nos dar tal e qual graça, porque, por exemplo, fazemos algumas coisas boas ou porque somos cristãos.


Jesus nunca prometeu que nos livraria dos sofrimentos, mas que estaria sempre conosco. Convidou-nos a levar após ele a Cruz. E essa cruz é diferente para cada um de nós. Lucas resumiu todas as tentações de Jesus nessas três: Ele foi tentado a usar seu poder em proveito próprio (transformar as pedras em pão), a buscar meios obscuros para nos salvar talvez mais fácil para ele seguir (prostrar-se diante do demônio), e se aproveitar de sua situação de Filho de Deus para sair das dificuldades (atirar-se do templo). Nós temos tentações diferentes e essas mesmas, em menou escala. Aprendamos a ler este trecho como parábolas, a fim de sabermos o que fazer quando formos tentados.


Seria um erro de nossa parte compararmos nossas tentações com as de Jesus. As dele foram próprias de sua pessoa como verdadeiro homem, sem ter deixado de ser verdadeiro Deus. Não somos tentados da mesma forma que Jesus. Nesse assunto, vale o que diz a bíblia: Ninguém será tentado além de suas próprias forças.


Lucas 4,14-30: INÍCIO DA PREGAÇÃO DE JESUS

Lucas faz aqui um resumo do que foi a reação popular à pregação de Jesus, e não apenas o que foi o início da pregação. A reação positiva está resumida no vers. 15: “E era glorificado por todos” , mostrando assim o acolhimento que muitos lhe fizeram durante toda a sua vida, e nas comunidades primitivas, da qual de uma delas Lucas fazia parte, e não apenas no início.


Já o versículo 28 mostra a reação negativa à sua pregação, ocorrida em toda a sua vida e já na comunidade primitiva, onde viveu Lucas, lembrando-nos de que este evangelho foi escrito quase 50 anos depois dos fatos, lido já numa humanidade que se dividia entre os que aceitavam ou não a pregação apostólica.


Naquele tempo Jesus tinha mais de 30 anos e podia ler publicamente o texto sagrado. Todos os judeus adultos podiam fazem essa leitura. No sábado era feita a leitura de um trecho do livro da Lei ( O Pentateuco, ou seja, os 5 primeiros livros da bíblia) e em seguida uma passagem dos livros proféticos, que podia ser escolhida pelo leitor. Jesus escolheu esse belo trecho de Isaías 61,1-2, mostrando que chegara a hora da liberdade, a vitória sobre qualquer tipo de opressão. Isso é mostrado pela cura dos cegos, dos coxos, da miséria, da escravidão (F.A.).


v. 22-b- Muitas vezes subestimamos a pessoa do pregador, porque achamos que o conhecemos: “ Não é este o filho de José?” Não só não conhecemos as pessoas, como também, muitas vezes, as julgamos mal. Levamos um susto quando vemos aqueles lábios abrirem e pronunciarem palavras sábias, lábios muitas vezes de pessoas analfabetas e com ares de ignorância nas atitudes.


Só Deus nos conhece. Ninguém mais. Temos também a “Síndrome do irmão do filho pródigo”, recusando-nos a aceitar em nossas comunidades certos tipos de pessoas, tal como os judeus, que ouviam Jesus, não aceitavam que os pagãos, como os exemplos dados por Jesus nos versículos 26 e 27 participassem do Reino.


Se olharmos abem o trecho lido por Jesus, vemos que ele omitiu, ou seja, não leu o versículo 2b do cap. 61 de Isaías, que dizia: “(eu vim proclamar) a vingança do nosso Deus”. Jesus não veio para vingar-se de nada, não veio para condenar, mas sim, veio trazer-nos a paz, o perdão, o recomeço de uma vida santa.


Lucas 4,31-44: JESUS ENSINA E CURA EM CAFARNAUM


v32- A autoridade de Jesus vinha de sua prática de vida e da coerência do que ensinava, aliadas aos sinais que ele mostrava ao curar e atender pacientemente as pessoas.


v. 35- Jesus não admite que o maligno dê testemunho de sua divindade e por isso pede que o demônio se cale: “Tu és o Santo de Deus”.


v.36- Todas as doenças desconhecidas daquele tempo eram explicadas como causadas pelo demônio. Muitas vezes tratava-se apenas de uma doença comum. As possessões reais são muito raras, mesmo naquele tempo. É um absurdo o engodo que certas denominações religiosas fazem ao “expulsarem” todos os dias os “demônios” de várias (muitas) pessoas. Isso não existe! Se o demônio conseguir a permissão de Deus para se apossar de alguma pessoa, só mesmo uma pessoa consagrada muito santa conseguirá expulsá-lo. Se for um demônio de verdade, este falará toda a “ficha” de vida do ministro exorcista.


Expulsar o demônio implicava curar a pessoa e, por “tabela”, perdoar seus pecados. Eles acreditavam que os pecados é que levavam a pessoa a ficar doente. Ora, se Jesus curava, é porque também perdoava e, portanto, era o Messias, ou melhor ainda, era o próprio Deus. Por isso, “sua fama se propagava por todo lugar da redondeza” (v. 37).


v. 38-39- A cura da sogra de Pedro entra nesse mesmo esquema; “(a febre) a deixou” ou seja, o “espírito impuro que a deixava com febre”.


v.40- “Ao raiar do dia” - início de um novo dia, novas curas, novo programa. Jesus só a muito custo conseguia um tempo só para Ele e o Pai. Ele se sentia sozinho quando no meio da multidão. Só não se sentia só quando estava com o Pai: “...e me deixareis sozinho. Mas eu não estou só, porque o Pai está comigo” (Jo 16,32b). Nós nos sentimos sozinhos quando as pessoas com quem vivemos não comungam com o nosso pensamento, ou não nos entendem. Quantos casais se encontram nesse patamar!


Entretanto eu pergunto: será que nós procuramos entender as pessoas que vivem, trabalham conosco, ou participam do mesmo lazer? Não será nossa solidão fruto de nosso auto afastamento?


V.44- “Judeia” , aqui, tem sentido amplo: todo o país de Israel. Lucas repete isso em Lc 7,17; 23.5; Atos 10, 37; 28,21)


CAPÍTULO 05

Lucas 5,1-11 – OS 4 PRIMEIROS DISCÍPULOS

Lucas agrupou nesta narrativa:

1- Uma descrição dos lugares e uma pregação de Jesus (vv 1-3);


2- A história de uma pesca milagrosa (vv4-10a), que se assemelha à de João 21,4-11;


3- O chamado de Simão (vv 10b-11), aparentado com Mc 1,17.20. Isso torna mais verdadeira a resposta imediata (dos apóstolos) ao chamado (BJ).


v. 8 - Jesus dá a Simão o apelido de Pedro (=pedra, rocha), somente mais tarde, no cap. 6,14. É uma antecipação literária.


“Afasta-te de mim, Senhor, porque sou pecador!” A maneira de agir de Jesus faz com que o homem tome consciência da própria fraqueza (v.5-a) e indignidade (v.8), que são superadas pela fé na palavra de Jesus (v5b). Isto indica a disposição ao chamado que se concretiza em um deixar tudo (v. 11; ver também Mc 1 e Mt 4 ) (MD).


Lucas aproveita este trecho para exprimir a seu modo o primado de Pedro ( ver também cap. 22,31-32; cap 24,34): Jesus fala estando na barca de Pedro; os outros são pescadores porque chamados por Pedro (v 7) ou porque seguem Pedro, que foi constituído “pescador de homens” (v. 10, Jo 5,5-8.11). (MD)


Lucas 5,12-16 – A lepra sempre foi vista ligada ao pecado e até símbolo do pecado. Curar da lepra tem um sentido forte de perdoar os pecados. Ao Jesus tocar o leproso, ficava impuro, pela lei, e não podia entrar no templo até satisfazer as prescrições legais. Nós sabemos, entretanto, que não é Jesus que ficava impuro, mas sim o leproso que se purificava.


Assim também, ao ser batizado no rio Jordão, não é a água que o consagrou, mas sim ele, Jesus, é que consagrou a água, a água do nosso batismo.


Entretanto, Jesus não dava importância a essas leis de pureza ritual e tocava nos doentes. O doente de lepra tinha que mostrar sua cura ao sacerdote, que o liberava para retornar à sociedade. Muitas curas espontâneas eram de doenças de pele comuns, não eram lepra, e muitas vezes os doentes se curavam e, mostrando-se ao sacerdote, podiam voltar à consciência familiar.


Lucas 5, 17-26 : A CURA E O PERDÃO DO PARALÍTICO


Vejo aqui três ideias interessantes: uma delas é a de um diácono meu amigo: as pessoas que estavam na porta da casa onde estava Jesus foram egoístas e não deram passagem para o paralítico. São como certos tipos que vemos em nossas comunidades: dificultam ou mesmo impedem que nos aproximemos de Jesus e da comunidade.


A segunda ideia é a de quando Jesus perdoou os pecados do paralítico: pelas ideias do tempo ele deveria se curar, pois achavam que as doenças eram castigo pelos pecados. Se há pecado, há doença; se se perdoa o pecado, deve terminar a doença. Essa era a mentalidade. Jesus aproveitou essa ideia errada e, ao curar o paralítico, mostrou a todos, de modo “sacramental”, que perdoara os pecados do homem.


A terceira ideia é a explicação que a BJ dá para a diferença do telhado da casa. Aqui em Lucas, ele mostra uma casa típica do ambiente greco-romano (usadas na Grécia e em Roma), com telhas, ambiente esse em que vivera até então, enquanto que Marcos 2,4 mostra uma casa típica do ambiente palestinense, aliás, próprio de onde Jesus morava e pregava, com terraço, sem telhas.


Lucas 5,27-032 – A VOCAÇÃO DE LEVI


Levi é o nome hebraico de Mateus. Ele escreveu o primeiro evangelho, em aramaico, que não conhecemos, porque se perdeu. O Mateus que conhecemos surgiu depois do evangelho de Marcos e na mesma época que o de Lucas.


É de se esperar que a vocação dele não foi assim tão súbita como narra o evangelho. Se você tiver um tempinho, dê uma lida no que eu escrevi a respeito de Mateus neste blog (site), nesta mesma seção de estudos bíblicos.


Mateus provavelmente já via e admirava Jesus no seu dia a dia. O convite inesperado do mestre foi a “gota d'água” que o levou à decisão definitiva pelo seguimento de Jesus.


Como Zaqueu, ele era publicano, considerados marginais (da mesma forma que os pastores o eram), ladrões, homens sem caráter.


Jesus quebrou todas as normas e leis da época ao participar da “grande festa” dada por Mateus, onde ele misturou-se com os “pecadores”. Jesus disse aos fariseus e escribas que estava ali no meio deles não para ser contaminado e pervertido mas, pelo contrário, para ganhá-los para o Reino de Deus, pois veio “chamar os pecadores ao arrependimento” e não os “justos”. É claro que ao chamá-los de “justos”, Jesus foi bem irônico: os fariseus e escribas é que se auto intitulavam “justos”, quando na verdade tinham pelo menos um pecado grave: a soberba.


Lucas 5,33-30: DISCUSSÃO SOBRE O JEJUM


Acho que podemos refletir, neste trecho, sobre um modo hipócrita de se fazer jejum hoje em dia. Diz o missal cotidiano, na Sexta-feira da 22ª semana do tempo comum, que o “Cristão é o amigo do esposo, é o convidado às núpcias. Não jejua em horas fixas, segundo um calendário tradicional. Seu jejum consiste em participar vivamente na dor da paixão e morte de Jesus”.


Achei isso muito genérico. Eu diria que o jejum é bom, nos fortalece, mas não deve ater-se à alimentação: é preciso fazer um jejum PERMANENTE das coisas perigosas à nossa vida espiritual e das coisas que nos atrapalham a oração. Exemplos: tevê, internet exagerada, filmes, jogos, certas festas, más leituras, ira, preguiça, vingança, brigas, egoísmo, querer sempre ser servido (a), bebidas etc.


CAPÍTULO 06

 Lucas 6,1-5 : AS ESPIGAS ARRANCADAS NO SÁBADO. 

O problema aqui é o dia do sábado, em que não se podia fazer quase nada. O exagero do legalismo, em que a lei começou a ser imposta de modo irracional, a ponto de tornar o sábado, que seria um dia agradável, “tempo do encontro livre e amoroso entre o fiel e o Pai” (MC), e no NT através de Jesus, foi sufocado por uma enxurrada de leis absurdas e vazias.

 Como diz um documento da Igreja, “O dia do Senhor ressuscitado e elevado aos céus reúne os crentes em assembleia para torná-los sempre mais Igreja. É dia de alegria, de descanso do trabalho, de fraternidade” (RdC 116). Jesus se apresenta aos fariseus como rei, descendente de Davi. E se Davi não infringiu a lei porque estavam com fome, nem Jesus nem os apóstolos também não foram contra a lei ao pegarem as espigas para comerem. Não entro aqui em mais detalhes sobre essa lei, porque a mensagem é clara: o domingo foi feito para nós o curtirmos com a família, descansarmos, passearmos, e não para ficarmos sob uma tonelada de peso imposto pelas autoridades. Quanto ao fato de usarmos o domingo e não o sábado como dia de descanso, deve-se a três motivos:


1- Foi o primeiro dia da criação, dia que realmente existiu. O sábado não é realmente o dia em que Deus “descansou”, primeiramente porque Deus nunca está cansado; depois, porque Deus nunca está sem fazer nada: está sempre mantendo o mundo e a criação. Cada criança que é concebida, por exemplo, tem uma alma imortal criada por Deus no momento da concepção.


2- O domingo era dedicado, pelos romanos não cristãos, ao deus sol (até hoje, em inglês, domingo se chama “dia do sol” = Sunday). Era feriado e os cristãos aproveitavam para o dia de descanso e de encontro para a oração, principalmente para a Santa Missa participada por mais pessoas.


3- O mais importante, no domingo, é o fato da ressurreição de Jesus, que ressuscitou no primeiro dia da semana (portanto, domingo). Ao observarmos o domingo, estamos comemorando a ressurreição de Jesus. Não podemos usar o domingo para o pecado, nem para outras coisas mundanas que nos afastem de Deus. Se não for preciso, devemos também nos abster do trabalho no domingo, a não ser quando necessário, ou para fazer alguma caridade (por exemplo ajudar o vizinho a cobrir a casa dele, coisa muito comum na periferia, mas que sempre acaba numa gostosa feijoada...).


Lucas 6,6-11 – CURA NO SÁBADO (o homem de mão atrofiada).

 Achei tão bonito o comentário do Missal Cotidiano (MC) que simplesmente vou copiá-lo: “Jesus ensina curando. É bela a altivez com que 'volve o olhar sobre todos eles' e depois liberta o homem de sua doença, com vigor e autoridade. Jesus conhece o coração do homem e seus pensamentos, interpela, inquieta. Aqui está o segredo da autoridade com que ensina: não apenas ensina, mas liberta; não só conhece a lei como os outros rabis, porém conhece os homens, em sua malícia e em sua bondade; não põe no mesmo plano todas as prescrições da lei, mas põe a solidariedade e a fraternidade, a “salvação de uma vida” acima das observâncias exteriores do culto. E enquanto ele salva, os outros tramam sua ruína. Isso acontece ainda hoje no mundo”. (A.de Dominicis, Turim).


 Acrescento a ideia de que, ao curar a mão atrofiada, Jesus indica que deseja que continuemos a trabalhar sem desânimo (simbolismo das mãos), sejam quais forem as circunstâncias.


Lucas 6,12-16 – A ESCOLHA DOS DOZE 

Qual teria sido o critério usado por Jesus para escolher os doze apóstolos? Seria o mesmo usado para nos ter escolhido para a vocação a qual temos dado a nossa vida? Ninguém sabe! Apóstolo significa “enviado”. O termo já era conhecido no mundo grego e no mundo judaico(=sheliah). Com os apóstolos, toma o conceito de “testemunhas de Cristo, de sua vida, morte e ressurreição “ (BJ. Veja Atos 1,8).


Só Lucas diz que Jesus teve essa decisão, fez essa escolha na montanha, depois de passar a noite toda em oração. É um dos momentos mais importantes de sua missão, pois eles deveriam garantir o futuro (veja Atos 1,25). Formam um grupo, são os fundamentos do novo povo de Deus, os cristãos. A Pedro, Jesus mudou o nome por estar recebendo uma missão própria. Pedro, masculino de “Pedra”, “Rocha” (=Cefas ou Kefas) (M.C). A ele foi confiado o governo da Igreja aqui na terra (ver Lucas 22,32; Mt 16,18-19)(TA) Como toda vocação, a dos apóstolos vai crescendo e se desenvolvendo aos poucos, na convivência e na familiaridade com Cristo, com os seus ensinamentos, com a experiência de sua Páscoa e com a descida do Espírito Santo (MC). Conosco não é diferente. Nossa vocação se enriquece na presença de Jesus.


O Dr Augusto Cury diz, num de seus livros, que Judas Iscariotes era o único que possuía uma estrutura adequada para ser apóstolo! Os demais, não tinham nenhuma condição, pelo menos se olharmos externamente. Mas Deus olha o íntimo, o coração, e não a parte externa.


Lucas 6,17-19 – AS MULTIDÕES SEGUEM JESUS 

Esses versículos introduzem o “sermão da planície”, dizendo que Jesus desceu da montanha e fez esses ensinamentos à multidão das pessoas que o aguardavam. Aqui é preciso lembrar que a origem dessas pessoas e os nomes geográficos mostram um sentido de universalidade da Palavra de Deus. Não quer dizer que houvesse naquele local pessoas de todos os lugares mencionados. Aliás, Lucas repete isso nos Atos 2,5-11, em Pentecostes.


A Palavra de Deus a partir daí, foi pregada em todas as regiões do mundo. Quero lembrar aqui um ponto importante para a compreensão do modo como a bíblia foi escrita. Não podemos lê-la como se fosse um diário ou coisa parecida, ao pé da letra. Mateus coloca o “Sermão” na montanha porque é judeu e quer mostrar Jesus como um novo Moisés, dando uma nova lei, que completa a primeira. Lucas coloca o sermão na planície porque é de origem pagã e quer mostrar Jesus como Deus feito homem, que “desceu” ao mesmo nível que nós,seres humanos. O Sermão da Montanha, de Mateus, é mais completo que o de Lucas, mas aborda os assuntos com algumas diferenças de foco.


Lucas 6,20-26- DISCURSO INAUGURAL – AS BEM AVENTURANÇAS E AS AMEAÇAS.

 A forma deste discurso é mais breve aqui do que em Mateus, porque Lucas não fez as mesmas adições que Mateus e suprime aquilo que teria menos interesse para seus leitores não-judeus, principalmente com referência à Lei (confira Mt 5,17 a 6,18)- (BJ) . Em Mateus as bem aventuranças são oito e aqui, em Lucas, são quatro, acompanhadas dos correspondentes opostos, começados por “Ai de vós”. No v.20: Felizes os pobres; no v. 24, Ai de vós os ricos.


Lucas 6,36-38: a misericórdia

Quaresma é tempo de nos aproximarmos mais de Deus e sentir sua perfeição. A perfeição de Deus se mostra na sua misericórdia. Por isso, mais do que compreendê-la, nós a sentimos. 

Na prática, o que é ser misericordioso?

Não julgar, não condenar, perdoar, dar com generosidade, medir com largueza, entre outras.

Purificar a mente, onde são elaborados os julgamentos e as condenações, mas também onde se elabora o perdão. 

Depois disso, movimentar mãos e pés para a ação: doar com generosidade, medir com largueza. O resultado é que não seremos julgados, não seremos condenados. Nós seremos perdoados. Seremos medidos com a medida que usamos para medir os outros. 

A misericórdia não é apenas uma palavra: ela existe e se deixa ver em atitudes concretas, muitas vezes silenciosas. 

(Lucas 6, 36-38 é o resumo de um comentário do Cônego Celso da Silva, da Arquidiocese de São Paulo)


Lucas 6, 39-42- Pode um cego guiar outro cego?

Aqui se trata de apontar o risco de se usar dois pesos e duas medidas, uma para si e outra para os demais. Com os outros podemos ser mais rigorosos, minuciosos e impacientes do que o próprio Deus...


Em seguida, vem o risco da hipocrisia. Há gente que usa as próprias palavras da bíblia para pôr os outros em discussão, não a si mesmos. 


Lucas 6, 43-49_- Chamar "Senhor, Senhor" mas não fazer o que o Senhor diz 


Praticar sempre o bem. Não bastam belas palavras, mas cumprir o que Jesus diz. Plantar a palavra no mais profundo de si mesmo. Só nos firmando solidamente na palavra de Deus, podemos construir uma casa que não desabe, porque "bem construída". Caso contrário, se a casa não for construída na realidade essencial que é Jesus Cristo, será destinada ao desabamento. 


CAPÍTULO 07

Lucas 7, 1-10 - CURA DE UM PAGÃO

Como Cornélio, o centurião era decerto um pagão simpatizante do judaísmo. O vers. 9 explica o trecho: os pagãos (trabalhadores da última hora) acreditavam mais em Jesus do que os judeus.

Lucas 7,11-17 - RESSURREIÇÃO DO FILHO DA VIÚVA

Gosto de comentar, nestes casos de ressurreição, que Jesus, para fazer esse milagre, rezou por um morto, um falecido. Isso nos autoriza também a rezarmos pelos mortos. Veja bem: se o rapaz estivesse no inferno, ele estaria, pela ressurreição feita por Jesus, sendo arrancado do inferno e teria tido outra oportunidade de viver de tal modo a "segunda" vida, que não mais iria para lá quando morresse definitivamente. Rezemos, pois, como Jesus o fez, pelos mortos, a fim de que Deus, se não o trouxer à vida, possa libertá-lo do inferno! (TA)

Lucas 7, 18-30: JOÃO BATISTA E JESUS

Pelo vers. 22, "referindo-se aos oráculos de Isaías, Jesus mostra a João Batista que as suas obras inauguram certamente a era messiânica, mas sob a forma de ações benéficas e de salvação, não de violência ou de castigo" (BJ)

Quanto ao v. 28, quem está no Reino é maior do que João pelo simples fato de pertencer ao Reino, ao passo que João, como Precursor, parou à entrada. Os tempos do Reino transcendem inteiramente os tempos que os precederam e os prepararam. Entretanto, isso não deprecia em nada a pessoa de João. (BJ)

Lucas 7, 31-35 - JESUS JULGA SUA GERAÇÃO

Sempre damos desculpas para nos livrar das responsabilidades de mudarmos de vida, pois isso implica em renunciarmos nossas opções errôneas que até aqui fizemos: os judeus rejeitaram tanto João como Jesus, que viveram de forma tão diferente um do outro.

Lucas 7,36-5- - A PECADORA E JESUS

Essa pecadora não é Maria de Betânia, irmã de Marta, nem tampouco Maria Madalena

V-47- "Na primeira parte deste versículo, o amor aparece como causa do perdão; na segunda, é o efeito dele. Esta antinomia se origina do texto complexo da perícope. Em 37-38. 44-46, os gestos da mulher testemunham um grande amor, que lhe merece o perdão das faltas; daí a conclusão 47a: "os teus numerosos pecados lhe são perdoados". Mas em 40-43, foi inserida uma parábola, cuja lição é inversa: maior perdão acarreta amor maior; donde a conclusão 47b: "porque ela demonstrou muito amor" (BJ)


CAPÍTULO 08

Lucas 8,1-3: A COMPANHIA FEMININA

Lucas tem particular interesse em notar a presença das mulheres em torno de Cristo, desde o início de sua vida pública. Recolheu em número considerável tradições provenientes do ambiente feminino, também com relação à morte e às aparições do Ressuscitado (Lc 23,49; 29,9-11). Também a mulher é participante do anúncio apostólico da mensagem cristã (MC).

Lucas 8,4-8.11-15 - PARÁBOLA DO SEMEADOR

O texto é bem explícito. Só gostaria de lembrar que Jesus contou isto como parábola, mas como se encontra aqui é uma analogia, em que cada parte tem um significado. No sentido global, como parábola, quer dizer que a Palavra de Deus sempre dá frutos, de uma forma ou de outra. É que na Palestina primeiro se lançava as sementes, que caíam nos espinhos, nas pedras, nos caminhos, e só depois se passava o arado, de modo que todas as sementes acabavam caindo na terra boa. Quando a parábola foi contada fora da Palestina, foi preciso transformá-la em alegoria (TA). Veja nosso estudo "As Parábolas" neste blog (site).

Lucas 8,9-10 - POR QUE JESUS FALA EM PARÁBOLAS.

Só as pessoas sinceras e bem intencionadas entendem as parábolas. Na verdade, sempre são atuais, para todas as épocas, porque cada época as interpreta segundo o tempo respectivo.

Lucas 8,16-18 - COMO RECEBER E TRANSMITIR O ENSINAMENTO DE JESUS

Quem pratica a palavra de Deus tem sua luz, que se irradiará mesmo que a pessoa não perceba. É o que diz o Beato Carlos de Foucauld: "Gritar o Evangelho com a vida!". O evangelho, quando praticado, muda completamente a pessoa que o pratica, e por mais ocultas sejam suas virtudes, elas se manifestarão aos demais. Entretanto, quando a pessoa se fecha e se limita, não busca a Deus, ele se retira e deixa de falar (TA e MC).

Lucas 8, 19-21 - OS VERDADEIROS PARENTES DE JESUS

Quem ama a Deus, ouve sua palavra e a põe em prática e assim passa a pertencer à família de Deus. O parentesco e o amor que nos ligam à Igreja equivale e até superam o parentesco de sangue. Diz Prov. 18,24: "Há amigos mais queridos que um irmão". Jesus não quis menosprezar seus parentes e sua mãe, mas igualar a eles quem ouve a Deus e faz a sua vontade.

Lucas 8,22-25 - A TEMPESTADE ACALMADA

Vejo aqui dois ensinamentos:

1º - Se Jesus está conosco, por que duvidarmos e termos medo do futuro?

2º - O fato de Jesus acalmar o mar mostra que é Deus, pois o mar era símbolo do mal e do desconhecido e Jesus mostrou que dominava tanto o mar como o desconhecido, ou seja, ele sabe tudo e supera tudo.

Lucas 8,26-39 - O ENDEMONINHADO GERASENO

Vejo aqui três ensinamentos:

1º- Jesus domina o mal, aqui representado pelos demônios.

2º - Os moradores do local preferem aguentar os endemoninhados a ficarem sem os porcos (se em cada exorcismo eles fossem perder uma manada de porcos, o prejuízo seria muito grande). Ou seja: o dinheiro é colocado, por eles, acima da Palavra de Deus. Como isso é atual!

3º - Jesus deu ao jovem uma vocação que nunca dera a mais ninguém: contar a todos o que Ele fizera pelo jovem. Aos demais, Jesus pedia o contrário: que não contassem nada a ninguém. Jesus também não exigiu nada dele. Não o mandou renunciar ao que possuía, como o fez ao jovem rico e a Zaqueu (que renunciou à metade do que possuía). Jesus mandou o jovem geraseno (ou gadareno) ficar com os seus familiares e pregar a Palavra de Deus ali mesmo.

Lucas 8,40-56- A HEMORROÍSSA E A FILHA DE JAIRO

A hemorroíssa procurara todos os recursos disponíveis da época, antes de pedir um milagre pegando na roupa de Jesus. É o que devemos fazer: ao mesmo tempo que buscamos os recursos disponíveis, pedirmos a Deus que nos ajude. Não pedir milagres a toda hora por preguiça ou por medo de buscar o auxílio da medicina ou de outros recursos à nossa mão. Jesus pode nos ajudar não tanto nos curando, mas orientando-nos a encontrar a pessoa certa para nos ajudar.

Quanto à ressurreição da filha de Jairo, lembramos que o ser humano foi criado para a vida, e não para a morte, e que Deus não faz acepção de pessoas: está presente a todas quantas o buscarem, sejam ricas ou pobres, santas ou pecadoras.

Quando Jesus pedia que a pessoa curada não falasse a ninguém sobre a cura, procurava não difundir um messianismo de curas e de poder, ao passo que o verdadeiro messianismo que ele viera inaugurar é baseado no amor, humildade, doação, em vista da vida futura no paraíso.


CAPÍTULO 09

Lucas 9,1-6 - MISSÃO DOS DOZE

Lucas manteve distintas as duas versões de missão: esta, com os doze apóstolos, e Lucas 10,1-16, com os 72 discípulos. Marcos e Mateus trazem uma só versão (Marcos 6,8-11; Mt 10,1-16)

Lucas coloca os doze como o número das tribos de Israel, e os 72 como número tradicional das nações pagãs (70). É mais radical que Mateus e Marcos, pois tirou até o bastão da viagem.

v.4 - Não escolher a melhor casa, mas ficar na primeira que encontrar. Fazer a missão na pobreza, confiando na graça e na Providência divinas.

Lucas 9,7-9- HERODES E JESUS

Em vez de narrar o assassínio de João Batista, Lucas prepara  (Herodes queria vê-lo, v. 9) o futuro encontro entre Herodes e Jesus (23,8-12)(BJ).

Lucas 9,10-17- VOLTA DOS APÓSTOLOS E A MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES

Lucas narra apenas uma multiplicação dos pães, como João, enquanto Mateus e Marcos narram duas, talvez para evitar uma duplicata. Os "doze cestos" é um número simbólico, como os "sete cestos" de Marcos 8,8, que simbolizam as sete nações pagãs de Canaã antes da conquista. Doze é o número das tribos de Israel e o número dos doze apóstolos.

No versículo 16, os gestos de Jesus lembram a Eucaristia, como era celebrada nas comunidades conhecidas por Lucas.

Muitos exegetas preferem falar que o "milagre" foi a divisão, a partilha do lanche que muitos teriam levado. Mas não é uma opinião unânime.

Lucas 9,18-21- PROFISSÃO DE FÉ DE PEDRO

Acho espetacular o versículo 18 : "Certo dia, ele (Jesus) orava em particular, cercado dos discípulos". Veja bem: ele estava no meio dos discípulos, mas se isolara ali mesmo, para reza. Hoje em dia temos que aprender a fazer isso, pois é difícil encontrarmos um lugar ou um ambiente solitário e/ou silencioso! (TA).

Essa confissão de fé feita por Pedro é de grande importância e assinala uma guinada decisiva na carreira terrestre de Jesus. Enquanto a multidão se afasta cada vez mais, os discípulos reconhecem pela primeira vez de maneira explícita que ele é o Messias. A partir daí, Jesus consagrará seus esforços para formar esse pequeno número dos primeiros que acreditaram e a purificar a sua fé (BJ).

Lucas 9,22- PRIMEIRO ANÚNCIO DA PAIXÃO

Esse anúncio será seguido de vários outros: Lucas 9,44; 12,50; 17,25; 18,31-33. Confira Lucas 24,7-25-27. Lucas omite a intervenção de Pedro e a repreensão de Jesus de Marcos 8,32ss e Mateus 16,13-20.

Lucas 9,23-26- CONDIÇÕES PARA SEGUIR JESUS

Esse texto parece que não é levado muito a sério por muitos: "Tome sua cruz cada dia e siga-me." Cada dia: não a de ontem, não a de amanhã, mas a cruz de hoje. Viver o dia de hoje, com tudo o que lhe está inserido, com todos os seus problemas, com toda a sua escolha. Não buscar a nós mesmos, mas a Jesus, nossa cruz de cada dia, com toda a confiança em Cristo que isso exige (TA e FA).

"Ganhar o mundo inteiro"- A ambição do poder, das riquezas, de uma posição privilegiada na sociedade. Jesus ocupou um lugar que ninguém quer: o último lugar. Lugar de que ninguém tem inveja e do qual todos fogem. (TA).

Tanta ambição, tanto poder, tanta riqueza, tanto prestígio...mas podemos morrer neste instante! De que tudo isso nos servirá?

Lucas 9,27 - A VINDA PRÓXIMA DO REINO.

Versículo difícil de entendimento. Não encontrei uma explicação nos meios de que disponho. Talvez Jesus fale da alegria de sua ressurreição e da efusão do Espírito Santo, que já é o início do seu Reino.

Lucas 9,28-36 - A TRANSFIGURAÇÃO

Lucas pensa numa experiência pessoal de Jesus que, durante uma oração ardente e transformante, recebe a revelação sobre a "partida" (literalmente: êxodo), isto é, a morte que deve sofrer em Jerusalém, a cidade que mata os profetas. Já Mateus (Mt 17, 1-9) valoriza a manifestação de Jesus como novo Moisés. Marcos (Mc 9,2-10) descreve a epifania (manifestação) do Messias oculto.

Moisés está representando a lei. Elias está representando os profetas. O fato de serem dois refere-se à necessidade de dois testemunhos para que um fato fosse considerado verdadeiro. Quanto às tendas, estavam na "semana das tendas", em que o povo ficava por uma semana dormindo fora de casa, em tendas, lembrando o tempo do êxodo pelo deserto. Era uma semana em que havia muitas revoltas contra o império romano e isso deu o "clima" para a manifestação do Messias, só que Jesus era completamente o contrário do Messias que eles esperavam. Jesus ficou só: como doutor da lei perfeita e definitiva, sozinho bastava.(BJ).

Lucas 9,37-43- O ENDEMONINHADO EPILÉTICO

A maioria das "possessões" da bíblia não foram possessões verdadeiras, mas doenças que eles não conseguiam explicar. Achavam que as doenças inexplicáveis fossem possessões diabólicas. Aqui, na certa, tratava-se simplesmente de epilepsia.

Lucass9,44-45 - SEGUNDO ANÚNCIO DA PAIXÃO.

Os discípulos ainda achavam que Jesus fosse um Messias que iria tomar o poder dos romanos e libertar politicamente o povo (TA).


Lucas 9,46-48-  QUEM É O MAIOR

Essa pergunta se responde com o versículo 48b: "Aquele que no vosso meio for o menor, esse será grande". (BJ).


Lucas 9,49-50- USO DO NOME DE JESUS

A tolerância é uma das qualidades do discípulo. Ninguém tem o monopólio do bem, e todos os que o praticam são invisivelmente unidos entre si. Na ação apostólica, é preciso saber aceitar que os outros trabalhem em nome de Cristo. Para isso, cada um deve fazer-se pequenino, sem pretensões, com plena disponibilidade. (MC). Em outras palavras: passou o tempo em que discutíamos religião. Precisamos encontrar um ponto comum para trabalharmos juntos pelo benefício da humanidade, principalmente no sentido de que ela cresça em direção ao Cordeiro Pascal, Jesus Cristo, e todos possamos ser salvos. Enquanto isso não se realiza, que possamos, sem exceção, viver uma vida decente, tranquila, dignamente. O trabalho em conjunto de todas as religiões pode alcançar esse objetivo. (TA).

II - A SUBIDA PARA JERUSALÉM

Do capítulo 9,51 ao capítulo 18,14, Lucas se afasta de Marcos, ao  contrário do que até agora fizera, apresentando uma subida para Jerusalém. Mateus desmembrou essa coleção de relatos para espalhar os fragmentos por todo o evangelho. Lucas preferiu reproduzi-la em bloco, nesta seção mencionada acima.

Lucas 9,51-56 - MÁ ACOLHIDA NA SAMARIA"

"Assunção" de Jesus = os últimos dias dos sofrimentos e os primeiros dias de seu destino glorioso (paixão, morte, ressurreição e ascensão).

Jesus reprovará Tiago e João e os convidará a dar o tempo necessário à realização da conversão e ao progresso do reino. Sem impaciência. Os samaritanos foram sempre mal dispostos para com os judeus, mas eram mais hostis ainda para os que se dirigiam a Jerusalém. Os judeus evitavam passar por esse território. Após a ressurreição de Jesus, os discípulos, imitando o Mestre, buscaram a conversão dos samaritanos (veja Atos 8,5-25).

Lucas 9,57-62 - EXIGÊNCIAS DA VOCAÇÃO APOSTÓLICA

"Jesus não quer fazer sozinho a viagem a Jerusalém, mas segui-lo importará em instâncias e decisões vitais. É esta a revelação desses três primeiros encontros que Jesus tem, apenas iniciada a viagem à cidade Santa. Quem quiser segui-lo deve dispor-se, a seu exemplo, a sofrer contrariedades (v. 57-58) e chegar a rompimentos que poderão ferir psicologicamente (v.59-62)" (MC).

Essas exigências são colocadas ainda hoje para quem se dispuser a seguir Jesus Cristo (vida incômoda, viagens, pobreza, contentar-se com a hospitalidade oferecida e com a precariedade de recursos), principalmente os bispos, sacerdotes, diáconos, religiosos (MC).


CAPÍTULO 10


Lucas 10,1-16- MISSÃO DOS SETENTA E DOIS DISCÍPULOS

Por favor, veja o que foi dito em Lucas 9,1-6.

Lucas 10,17-24 - A ALEGRIA DOS APÓSTOLOS

Os discípulos regressam da missão conscientes de terem libertado os homens do mal moral e físico (v.17), fazendo uso do poder messiânico ( o nome de Jesus). O v. 20, entretanto, lembra que não é a libertação que conta, mas o fim a que conduz: a participação do homem no Reino de Deus (MC).

Fazer Satanás "cair dos céus" é tornar as cidades mais humanas, é lutar contra as segregações de todo tipo, é suprimir as causas da opressão, reformar as estruturas políticas, quando estas se mostram incapazes de resolver os problemas da sociedade moderna (moradia, ensino etc), aliviar as doenças, a velhice, o isolamento. Repelir as pressões que arrastam as pessoas ao vício e à injustiça (MC).

Lucas 10,25-37 - O GRANDE MANDAMENTO

A pergunta do jurista não se refere tanto ao primeiro mandamento, mas à posse da vida eterna (v. 25; Lucas 18,18). Entretanto, o que ele quer mesmo saber é com quem praticar esse mandamento, ou seja, quem é o "próximo". Jesus responde à pergunta contando a parábola do bom samaritano: tornar melhor o mundo significa você procurar ser o próximo para os outros. É fazer com que todos sejam o seu próximo. (MC).

Felizes os que procuram diminuir os próprios gastos para poderem ajudar os que necessitam!(MC)

Lucas 10,38-42 - MARTA E MARIA

As duas irmãs reaparecem aqui com os mesmos traços característicos do relato da ressurreição de Lázaro (Jo 11,1-44). "Pouca coisa é necessária": sentar-se aos pés de Jesus e ouvi-lo. O discípulo que está "a caminho" com o Senhor não deve preocupar-se ou se agitar "por muitas coisas". O tempo é muito curto para que nos preocupemos com cuidados materiais, pelo excessivo pensamento das realidades terrestres. A atenção do Mestre, a escuta de sua palavra, é para o discípulo " a melhor parte, que não lhe será tirada". Lucas, porém, não visa a contemplação ociosa, mas a entrega à ação concreta e exigente, como em Lucas 8,15 (MC).

Eu diria que este texto nos ensina que a ação que fazemos, se não estiver de acordo com a vontade de Deus, é uma ação perdida. Na oração e na contemplação descobrimos qual é a vontade de Deus em relação à nossa ação. As duas devem estar unidas


CAPÍTULO 11

Lucas 11,1-4 - O  PAI NOSSO

O discípulo é o que reza com Jesus e como Jesus. O texto de Lucas contém cinco petições, ao passo que o de Mateus contém sete. O motivo é porque o número sete é de predileção de Mateus. Ele acrescentou a terceira (Mt 7,21; cap. 21,31; cap. 26,42) e a sétima (cf o "Maligno" em Mt 13,19.38) para satisfazer essa sua predileção pelo número sete.

Vejam: Mateus tem duas vezes sete gerações na genealogia (Mt 1,17); sete bem aventuranças (Mt 5,3); sete parábolas (Mt 13,3); dever de perdoar não sete, mas setenta vezes sete (Mt 18,22); sete maldições dos fariseus (Mt 23,13). (BJ).

v.4a - Observe que Lucas não coloca nossas "dívidas", como Mateus, mas "nossos pecados", embora conserve o aspecto jurídico de Mateus no "nossos devedores" (BJ).

v.4b-  "Não nos deixes cair na tentação" - Deus nos submete à prova, mas não tenta ninguém. Veja Tiago 1,12; 1Cor 10,13.

Nós pedimos a Deus que nos livre do Tentador e para não entrar em tentação (veja Mateus 26,41), que é a apostasia (abandonar a Deus e ao "caminho").


Lucas 11,5-13- O AMIGO IMPORTUNO - A ORAÇÃO.

"Ensina a perseverança, que é o princípio fundamental de toda a doutrina evangélica sobre a oração. Jesus insiste nisso continuamente, conhecendo nossa inconstância. É preciso orar continuamente, sem desanimar (Lc 18,1). Orar é insistir com perseverança". (MC)

O Espírito Santo é o dom que devemos buscar e pedir até à importunação, mais do que qualquer outra coisa. (MC). Muitas vezes Deus não atende nossas orações, pelo menos de imediato, mas assim mesmo confiemos que Ele nos ouviu e não vai nos "deixar na mão". Se ele não atendeu aquele determinado pedido, é porque talvez aquilo não nos vai levar ao céu (TA).


Lucas 11,14-26 - JESUS E BEELZEBU

Jesus é aquele que faz triunfar na terra o Reino de Deus (vv15-20). Jesus é mais forte que o demônio (vv21-22). Os outros versículos mostram que as pessoas são colocadas diante de uma opção definitiva (MC).

Nós, batizados, fomos arrancados por Cristo do domínio de Satã e estamos com Cristo, e todos os que consagram sua vida ao serviço, mesmo que não tenham recebido o batismo de água, e abandonam as tentações diabólicas de poder, imoralidade e inércia espiritual, os que põem em prática a palavra do Es pírito Santo: "Estou pronto". Jesus não apagará qualquer centelha, qualquer brasa que haja sob as cinzas.

vv 24-26 - Entendo que esse trecho pode ser aplicado principalmente quando não aceitamos nossos pecados e nossas más tendências e, em vez de pedir perdão e enfrentá-las, "recalcamos" tudo. O recalque nos torna piores a cada dia" (TA).

Lucas 11,27-28- A VERDADEIRA BEM-AVENTURANÇA.

Jesus confima e estende a bem-aventurança além dos vínculos do sangue, e nela inclui todos os que, como sua mãe, sabem aceitar a palavra e guardá-las (MC).


Lucas 11,29-32 - JONAS

O sinal de Jonas não é tanto o que fala Lucas (a pregação), mas o que fala Mateus 12,40: Jonas ficou no ventre da baleia três dias e três nooites, como Jesus ficará no "ventre" da terra por três dias e três noites, antes da ressurreição. Esses três dias e três noites se aplica apenas aproximadamente ao intervalo entre a morte e a ressurreição de Cristo (BJ).


Lucas 11,33-36- A LÂMPADA

A mensagem que Jesus dirige a todos pode ser compreendida por todos. Basta, para isso, possuir inteligência sadia, ou seja, estar livre de preconceitos egoístas. Veja João 3,19-21 (BJ).


Lucas 11,37-54 - CONTRA OS FARISEUS E LEGISTAS

Jesus estabelece a distinção entre o interno e o externo, o de dentro e o de fora (vv39-40). Aquilo que conta não é o que se faz, mas a intenção com que se faz. Entretanto, temendo más interpretações (alguém poderia pensar que bastariam as boas intenções), Jesus logo apresenta uma intenção traduzida na ação, ou seja, dar esmolas (v.41). (MC).

vv.42-46 - Lucas reúne em dois grupos de três as "maldições" de Cristo contra os fariseus e escribas, ao passo que Mateus tem sete (BJ).

01- discutem sem fim preceitos ínfimos, mas esquecem os mandamentos essenciais.

02- Contra as autoridades religiosas que preferem as honras ao serviço.

03- Essas pessoas são tão acostumadas aos vícios, que a simples aproximação delas faz contrair a mesma impureza que se contrai quando se entra em contato com um túmulo (v.44).

Invectiva aos doutores e escribas

01- Agravam a lei de tal forma que tornam intolerável a vida religiosa, ao passo que o fardo de Cristo é suave e fácil de levar (v.46 cf. Mateus 11,28-30).

02- A perseguição a que os escribas moveram contra os profetas (vv 47-51).

03- Contra o autoritarismo intelectual dos doutores da lei, que não entram (eles próprios) na verdadeira compreensão da lei e não trazem nenhuma luz aos outros (MC).

Em suma: "Gritar (mais do que apenas proclamar) o Evangelho não apenas com as palavras, mas com a própria vida" (Ch. de Fooucauld. É preciso harmonizar a plena fidelidade a Deus e aos homens, tanto na pregação como no testemunho de palavra e vida, para favorecer os encontros com Deus (MC).


CAPÍTULO 12

Lucas 12,1-12 - FALAR ABERTAMENTE E SEM TEMOR

v. 1-3 - Pode-se evitar a hipocrisia sabendo-se que de tudo o que está escondido será um dia descoberto. O problema é que atualmente a Mídia põe a descoberto nem sempre a verdade, mas muitas vezes a mentira, a fofoca, a calúnia sem fundamento. Conheço pessoalmente, no meu trabalho com os encarcerados, pessoas inocentes que foram condenadas por crimes que não fizeram. Uma vida pode ser destruída apenas por uma calúnia. Certos crimes não precisam de provas para serem punidos: basta, muitas vezes, a palavra da vítima, que nem sempre foi, de verdade, uma vítima.

Evita-se a hipocrisia sabendo-se não só que tudo pode ser colocado à luz do sol, mas também que Deus pode condenar ao inferno. Ou melhor: a própria pessoa se condena, ao praticar a hipocrisia e não se arrepender disso.

v.3 - "Proclamar sobre os telhados" poderia, atualmente, significar pregar o evangelho utilizando-se os meios de comunicação social...

v 4-6 - Não devemos temer a morte, mas o inferno. No meio dos problemas, pensar sempre que Deus nos ampara e nos sustém.

v 6-7 - Valemos ou não mais do que os pardais? Você confia nisso?

v 8-9 - Quem negar a Cristo irá viver sob a própria força, que na verdade não é nada. Deus se retira e deixa a pessoa "se virar" sozinha.

v 10- O pecado contra o Espírito Santo consiste em não pedirmos a salvação, ou acharmos que Deus não nos perdoará os nossos pecados, seja por qual motivo for: ou por nos acharmos pecadores demais, ou por acharmos que ele não tem poder para nos perdoar, ou por acharmos que já estamos condenados. Veja bem: esse pecado não tem perdão não porque Deus não o pode ou não o quer perdoar, mas porque a pessoa não lhe pede perdão. Um suicida, por exemplo, que ainda teve tempo para pedir perdão, poderá ser salvo, mesmo se não conseguir evitar a morte buscada e provocada. Deus respeita o nosso livre arbítrio e não nos obriga a estarmos com ele.

v 11-12 - Precisamos ter confiança em Deus em qualquer situação. Em relação ao medo, diz a pastora norte-americana Joyce Meyer que Jesus nos proibiu ter medo, mas não nos proibiu de suar frio e tremer diante de situações perigosas. Mesmo que tenhamos medo, confiemos na paternidade/maternidade divina.

Lucas 12,13-21- NÃO ENTESOURAR

(FA e TA) - A causa de todos os males é a ganância pelos bens materiais, a vontade de acumular coisas e assim obter o poder sobre os demais. A única maneira de se enriquecer diante de Deus é dedicar-se ao irmão em todos os sentidos, oferecer os dons que Deus nos oferece aos que precisam dele. Nesse ponto, São Francisco de Assis já dizia: só possuímos de fato aquilo que partilhamos. Só levamos para a vida eterna o que demos: tudo o que recebemos fica aqui na terra no dia de nossa morte.

Quem acumula bens para si e não os partilha é um insensato, um infeliz, um bobão, porque vai perder a vida eterna.

Lucas 12,22-34 - ABANDONAR-SE À PROVIDÊNCIA DIVINA

Nossa maior idiotice é achar que não precisamos de Deus e podemos ser felizes sem ele. As riquezas nunca nos darão a verdadeira felicidade. Viver desesperado atrás do dinheiro, da fama, da projeção social, só nos causa aborrecimento.

Lute sempre por uma vida melhor, continue trabalhando, mas nunca desconfie da presença de Deus em sua vida. Coloque Deus sempre em primeiro lugar, e isso equivale a colocar o próximo em primeiro lugar, e tudo o mais será dado a você como um presente divino.

Coloque-se totalmente nas mãos de Deus. A isso chamamos "Abandonar-se à Divina Providência". Queira só o que Deus quiser!

Lucas 12,35-48 - PRONTIDÃO

Estar sempre preparados para a morte não fazendo pecados e dedicando-nos ao próximo: amarmos Deus nos outros. Não nos deixarmos levar pelo egoísmo, pelos vícios e mundanismos. Os dirigentes das comunidades devem sempre dar exemplo dessa vigilância e desse desprendimento.

v.37- O próprio Jesus servirá, na vida eterna. os que conseguiram vigiar e continuarem a ser-lhe fiéis..

v 47-48- Muitos veem aqui uma alusão ao purgatório. Também significa que se recebemos muitas graças, vamos ter que prestar contas mais rigorosas a Deus em relação às nossas ações. Muitos que são salvos o são porque ignoravam a palavra de Deus.

Lucas 12,49-50- JESUS DIANTE DE SUA PAIXÃO

O fogo da palavra anunciada por Jesus, que purifica e salva. A sua mensagem de salvação, o seu Espírito, que no dia de Pentecostes desceu como línguas de fogo sobre os discípulos (Atos 2,3-11) e começou a propagar-se no mundo como um incêndio (FA).

Quanto ao batismo de que fala Jesus, é a sua morte. Pelo nosso batismo, realmente, morremos para o pecado e ressurgimos para uma vida nova.

Lucas 12,51-53- JESUS, CAUSA DE DIVISÕES

A Palavra de Deus, quando pregada, move os ouvintes à conversão, que exige renúncias e muito empenho, muito sofrimento. Isso pode levá-los à uma reação contrária ao ensinamento proposto e consequentemente à divisão, à negação do que é pregado. Já disse Hebreus 12,4: "Vós não resististes até o sangue em vosso combate contra o pecado!".

Lucas 12,54-59- DISCERNIR OS SINAIS DOS TEMPOS

O tempo de conversão, de mudança de vida, chegou com Jesus, e devemos acolher e praticar a sua palavra. Entrarmos de acordo com o irmão, antes que a morte venha e não nos apanhe com sentimentos de ódio no coração.

O versículo 59 é também muito usado para mostrar a existência do Purgatório: "Não sairás (da prisão) antes de pagardes o último centavo" (antes de vos purificardes).



CAPÍTULO 13

Lucas 13,1-5- O PROBLEMA DOS ACIDENTES E TRAGÉDIAS

Este é um trecho muito oportuno para tantas pessoas que ligam as coisas boas e as coisas más ao bem ou ao mal que fazemos.

Os acontecimentos como acidentes e tragédias não são castigos divinos pelo mal que aquelas pessoas envolvidas no acidente tenham praticado. Recentemente (escrevo isto em março de 2013) tivemos aquelas mais de 140 pessoas mortas no incêndio de uma boate no sul do país. Isso não quer dizer que essas pessoas mereciam isso, ou que eram pecadoras. Não! Poderia haver lá pessoas boas e pessoas más, ou só pessoas boas. Só Deus sabe. Esses acidentes acontecem independentemente da bondade ou da maldade praticadas pelas pessoas.

Os judeus pensavam que a doença e as tragédias eram punição divina. Jesus lhes dá um exemplo (ver v. 4) de outro acidente, em que dezoito pessoas morreram na queda da torre de Siloé: nenhuma delas morreu por causa dos seus pecados.

Entretanto, Jesus afirma (v. 5) que se não nos arrependermos de nossos pecados, nosso fim será até mais trágico do que o dessas vítimas: perderemos a vida eterna.

Quem pensa assim, tire da mente essa ideia de que Deus castiga os maus e dá o prêmio aos bons já neste mundo: Ele permite, sim, o sofrimento, tanto para uns como para os outros, mas o resultado será muito diferente: o sofrimento que os bons oferecerem com paciência a Deus, os levará à salvação e à alegria eterna; os sofrimentos "aguentados" ou rejeitados com blasfêmias pelos maus os levarão à perdição, à morte eterna, mas são permitidos por Deus para que nós nos arrependamos e mudemos de vida!


Lucas 13,6-9- PARÁBOLA DA FIGUEIRA ESTÉRIL

Mateus 21,18-22 e Marcos 11,12-24 contam essa parábola com um final trágico: a figueira secou! Lucas prefere falar da misericórdia divina: mais um ano de espera pra ver se dá frutos.

Nossa mudança de vida deve começar agora, já, neste momento. Não podemos esperar mais tempo. Jesus já nos deu o tempo suficiente para nossa conversão. Aliás, pode ser que estas linhas que você está lendo, seja o último aviso de Deus para que você se converta, como também para mim, a oportunidade de estar a escrevendo seja para mim o último aviso de Deus, naquilo que ainda não me converti. Deus está me chamando hoje, dia 01/03/2013, para uma vida nova. Vou publicar isto no dia das mães, ocasião em que terei mais uma e talvez a última oportunidade de mudar de vida. E você? Em  qual data está lendo estas palavras? Deus nos chama com insistência! Ouçamo-lo! Tanto eu que escrevo como você que lê.

Lucas 13, 10-17 - CURA DA MULHER ENCURVADA NO SÁBADO

O Missal Cotidiano (MC) resume este trecho todo no versículo 16: "O dia de festa deve ser sinal de salvação e, portanto, é válida toda obra que põem em relevo esta realidade (...). Se Deus é amor (e acreditamos nisso), obedeceremos a um contínuo impulso para inventar, para sempre, ser "novos" com ele e com os irmãos (...). Se temos na cabeça uma caricatura de Deus, usaremos a imaginação reprodutiva para buscar subterfúgios e legalismos a fim de "nos salvar", reservando a Deus só alguma devoção" (MC).

Se ainda há dúvidas quanto a este assunto, veja bem: o critério para observarmos o domingo é o bem-estar de nossos irmãos. Tudo o que fizermos nesse sentido é permitido (TA).

Lucas 13,18-21 - PARÁBOLAS DO GRÃO DE MOSTARDA E DO FERMENTO

O M.C. traz um comentário muito bom: "O Reino de Deus, fundado por Jesus, é um reino que cresce. Saído de um grãozinho lançado por Deus num país obscuro, esteve sob a terra e aí morreu, segundo a lei que preside ao surgimento da vida (Jo 12,24). Plantou assim raízes e depois cresceu, por força de intrínseca vitalidade, estendendo os ramos, primeiro sobre Jerusalém, depois sobre toda a Judéia, Samaria, e até às extremidades da terra" (Atos 1,8).

"Semente e fermento trabalham escondidos. A obscuridade e a pequenez não são obstáculos ao crescimento, são mesmo sua condição de crescimento".

(TA) - O Reino de Deus para mim, é como um trem que passa. Ou você entra nele, ou vai ficar sozinho na estação.

Lucas 13,22-30- REJEIÇÃO DE ISRAEL E CHAMADO DOS PAGÃOS

v. 23- Pergunta mal formulada, que Jesus não respondeu.

v.24- "Porta estreita" - só os humildes (=pequenos) poderão entrar por ela. Aqui não se trata de sofrimento, mas de ser pequeno e humilde, virtudes não praticadas pelos fariseus e doutores do templo.

v. 25-27 - Não basta conhecer Jesus para entrar no Reino de Deus: é preciso, humildemente, aceitá-lo em nossa vida e seguir os seus ensinamentos, que se resumem num só: "Amar o próximo como Deus nos ama".

v. 28-3- - O Reino de Deus foi anunciado em primeiro lugar aos judeus, mas como eles não o aceitaram, foi ofertado aos pagãos: "Há primeiros (os judeus) que são os últimos; há últimos (os pagãos) que serão os primeiros.

Lucas 13,31-33 - HERODES, UMA RAPOSA

Sem problema, mas o v. 33 significa: "Minha tarefa estará em breve terminada; agora, ainda não. Tenho ainda que expulsar demônios e curar, e isto, a caminho de Jerusalém, onde se consumará meu destino. Os inimigos de Jesus não podem atentar contra sua vida enquanto "não chegar a sua hora". (BJ). Jesus deixou que o crucificassem. Foi essa atitude que nos salvou. Ele deu sua vida livremente. Se ele não a desse, ninguém poderia assassiná-lo, pois ele nunca deixou de ser 100% Deus, além de ser 100% homem.

Lucas 13,34-35 - PALAVRA SOBRE JERUSALÉM

v. 34 - Acho este versículo o mais cheio de ternura de todo o evangelho. Jesus se compara a uma galinha choca, que reúne os pintinhos (nós) sob suas asas (sua graça). Jesus sentiu muito a ingratidão dos judeus diante de tanto amor que ele nos deu, nos dá e nos dará.


CAPÍTULO 14  

Lucas 14, 1-6 - CURA DE UM HIDRÓPICO NO SÁBADO

Mais uma vez Jesus é condenado por curar no sábado. E mais uma vez ele responde aos fariseus que a caridade, a misericórdia, é superior à guarda do sábado (para nós, o domingo), e não só não quebra o preceito, mas o dignifica e o honra ainda mais.

Gostaria de chamar a atenção aqui para o fato de que Jesus, mesmo desfrutando do banquete desse chefe dos fariseus, não se  intimidou e contrariou as convicções dele. Já vi muita gente dobrar-se às ideias de outros para não perder o prestígio com eles. Que dizer, por exemplo, de um padre que fosse "abençoar" a união fajuta de um casal famoso, já casados com outros cônjuges, para obter a ajuda à sua obra social? Ou é ou não é matrimônio. Não há meia medida. Se empreendemos uma obra social, devemos também confiar na Providência Divina, se essa obra social for mantida por motivos religiosos.


Lucas 14,7-11-A ESCOLHA DOS LUGARES

A luta pelos postos mais elevados, pela honra, pelo privilégio, pelo poder, é uma verdadeira praga hoje em dia. Hoje (02/03/13) é o segundo dia em que estamos sem papa, pois Bento XVI renunciou anteontem, dia 28 de fevereiro, às 20 horas (16 hs. de Brasília). As críticas que apareceram na mídia foram muitas. Entre elas, constata-se que a luta pelo poder e a ganância de tantos senhores, do clero ou mesmo de leigos que dirigiam o Banco do Vaticano e estavam lá há mais de trinta anos em cargos importantes, inclusive do governo do Vaticano. Quanta miséria espiritual encerra essa luta pelo poder e pela riqueza! (Dia 13 foi eleito o cardeal Jorge Bergólio, que escolheu o nome de Papa Francisco)

Jesus é bem claro: só entra em seu Reino os que aprendem a servir, os que aceitarem os últimos lugares, os que são pequenos e humildes. Quando vamos aprender que quanto mais buscamos os poderes terrenos, mais nos distanciamos da "Árvore da Vida que está no Paraíso de Deus"?


Lucas 14,12-14 - A ESCOLHA DOS CONVIDADOS

Devemos fazer tudo sem interesse, ou seja, apenas por amor. A comunidade e o nosso coração devem estar abertos a todos, mas sobretudo aos que não podem nos retribuir. Gratuidade= essa é a maior virtude de Deus. ele faz tudo de graça! Por mais que o agradeçamos com atos, ou com palavras, nunca vamos mudar, em nada, ao que Ele é. Ao passo que nós, mesmo quando damos uma esmola aparentemente sem nenhum interesse, na verdade muitas vezes estamos fazendo aquilo para irmos para o céu, e então já não é mais uma ação plenamente gratuita!


Lucas 14, 25-33 - RENÚNCIA DE TUDO

"Odiar", aqui, é um hebraísmo. Jesus não exige o ódio, mas sim o desapego completo e imediato. Veja Lucas 9,57-62 (BJ).

No versículo 26 percebe-se a opção mais ascética de Lucas ao colocar a mulher como uma das renúncias.

v.33- Versículo difícil de praticar. Viver como se nada possuíssemos, confiar plenamente na Providência de Deus. Tirar de nossos atos tudo o que vem de nós, para que Deus possa agir: "Quem não renunciar a tudo o que possui, não pode ser meu discípulo".

Os padres e religiosos são chamados a viverem essa opção, já que renunciaram até a uma esposa e filhos próprios para viverem totalmente para Deus. Os leigos devem pelo menos ter um coração aberto para viverem uma vida de partilha e amor mútuo.  


Lucas 14, 34-35 - SAL DA TERRA

Se todo o sal da terra perdesse o poder de salgar, o que usaríamos para salgá-lo? Não encontraríamos nada! Precisaríamos nos acostumar a comer tudo sem sal!

Assim também a nossa vida: se nós, que pregamos o evangelho, perdêssemos a fé, quem iria nos trazê-la novamente? Se nós somos os pregadores, quem iria pregar a nós?


CAPÍTULO 15

Lucas 15,1-32- AS TRÊS PARÁBOLAS DA MISERICÓRDIA

O Reino de Deus é uma festa que já começou, nunca vai acabar, e todos nós, que existimos,  somos convidados para ela. Deus tem muita paciência e não quer que nenhum de nós nos percamos. Vai atrás dos desviados, dos pobres, desanimados, enfraquecidos, dos mais pecadores, dos "perdidos", dos que se afastaram dele.

O irmão mais velho, que ficara com o pai, já não age assim (v. 25-32): não aceita o recomeço de uma vida nova no irmão. Jesus muito provavelmente pensava nos escribas e fariseus que não tinham esse ato de misericórdia de acolherem o caído para que aprendesse a recomeçar uma vida nova. Em nossos dias são os que não acolhem os pecadores que se arrependeram, porque se julgam "donos da verdade", "chefes da comunidade" e até mesmo por egoísmo, pois querem ser os únicos a entrarem no céu, ou pensam, como os fariseus e escribas, que são santos e não cometem pecados.

Achar que não temos pecado é muito perigoso, pois se os tivermos cometido e não pedimos perdão, não vamos nos salvar. A humildade e a aceitação dos demais na comunidade e em nossa vida, é o melhor caminho para o céu.

A parábola do filho pródigo, também chamada de "parábola do amor misericordioso", nos revela um Deus que é um verdadeiro Pai, uma verdadeira Mãe, e quer que participemos de seu Reino, que nos deu de presente. Para isso, é necessário que deixemos de lado tudo o que nos possa separar: dele. Como Deus é amor, a única forma de entrarmos em seu Reino é amando-o nas pessoas. Para isso, ele sempre nos perdoa. Como diz Miquéias 7,19: "Novamente ele (Deus) nos manifestará a sua misericórdia, colocará aos pés as nossas faltas e lançará no fundo do mar todos os nossos pecados". Vale a pena também ler Jeremias 31,18-21. No v. 19 ele diz: "Porque depois de me afastar, me arrependi, depois que compreendi, bati no peito. Estava cheio de vergonha e enrubescia; sim, trazia sobre mim o opróbio de minha juventude!"

Diz o Missal Cotidiano que a parábola do filho pródigo é um "maravilhoso comentário" desse trecho de Jeremias.


CAPÍTULO 16

Lucas 16,1-8- O ADMINISTRADOR INFIEL


Entenda a parábola desta maneira: o administrador obtinha lucro cobrando algumas unidades a mais da mercadoria. O problema é que esse administrador cobrava muito mais do que o previsto pelo dono. o que ele fez para ter aonde ir depois de se descoberto? Abdicou, renunciou ao seu lucro. Assim também devemos fazer: imitá-lo e deixar de lado tudo o que nos for separar de Jesus. Estaremos, desse modo, "perdendo a vida", ou seja, deixando os vícios, os pecados, o que é proibido, para ganhar a vida eterna. O homem, ao renunciar o seu lucro, aliás, indevido, ganhou a simpatia dos devedores, que o receberam (nossa entrada no céu) depois que ele foi despedido do trabalho (TA e BJ).


Lucas 16,9-15 - O BOM EMPREGO DO DINHEIRO


"A palavra de Deus quer que tenhamos ideias claras sobre o papel do dinheiro na vida (...) O cristão sabe que o mundo, com todos os seus bens, é de Deus. Pessoas e estados são simples administradores (...) O testemunho de um grupo de cristãos, mesmo reduzido, é um ponto luminoso (...) O cristão não quer ter mais do que o necessário, para que os outros não fiquem sem o necessário." (MC). A preocupação dos bens materiais não devem nos desviar da verdadeira riqueza.


Lucas 16,16-18- TRÊS ASSUNTOS DIFERENTES


Diz a Bíblia de Jerusalém que esses três versículos estorvam a composição deste capítulo, pois são três assuntos diferentes do restante.


v. 16- Violência =com perseverança, coragem, sem desânimo.


v.17- Não adulterar a lei nem querer "lixar" o evangelho de tal forma que ele caiba em qualquer situação. Somos nós que devemos nos "lixar" para entrarmos nos moldes do evangelho.


v.18- O famoso problema do adultério. Só se pode casar com uma pessoa. Outra, só se essa pessoa vier a falecer. A doutrina da Igreja Católica é muito exigente nesse assunto, e segue à risca os ensinamentos de Jesus Cristo. Só se pode casar-se outra vez, recebendo o Sacramento do Matrimônio, os viúvos e os que tiveram o seu casamento anterior tido como nulo pelo Tribunal Eclesiástico. É que só é verdadeiro e válido o casamento em que ambos desejam casar-se e estão livres de qualquer impedimento. Assim, se o rapaz for obrigado a casar-se porque o pai da noiva o ameaça, esse casamento não é válido e mesmo a Igreja Católica o declara nulo, podendo, assim, o rapaz, casar-se na Igreja com a moça a quem ele realmente ama. Parece-me que há várias maneiras de interpretar o ensinamento de Jesus nesse assunto...


Lucas 16,19-31- O RICO  E O POBRE LÁZARO


Quem garante que o pobre Lázaro era uma pessoa boa? Ninguém. Da mesma forma, também não  podemos dizer que o rico fosse mau, a não ser por esse problema abordado. A parábola quer nos ensinar várias coisas, mas a mais importante é que no mundo não pode haver ricos e pobres. Todos deveriam ter o suficiente para viver bem. Está errado dizer que há ricos bons e ricos maus. A maldade, aí, é uma pessoa ser pobre e outra, rica, pois tudo o que existe pertence a Deus, que é nosso Pai e, portanto, todos são irmãos, que deveriam saber partilhar uns com os outros os bens recebidos.


Há outros pontos que costumam ser aproveitados:


1- Com essa história, sabemos que após a morte não ficaremos adormecidos, mas acordados, conscientes.


2- O rico pediu a intercessão de Abraão, como nós pedimos as intercessão dos santos.


3- No versículo 31, Jesus está pregando aos fariseus e demais judeus que não acreditam em Jesus e em sua ressurreição. Abraão não tem força alguma na história = isso simboliza a religião judaica. Só a intervenção de Jesus (morte e ressurreição) pode salvar quem quer que seja: tanto o rico como o pobre. Tanto um como outro não podem salvar-se sozinhos, com as próprias forças.


CAPÍTULO 17


Lucas 17,1-6 - O ESCÂNDALO e outros assuntos


v. 1-2- Além do escândalo externo de que falam Mateus (18,6) e Marcos (9,42), Lucas se preocupa com o escândalo que pode existir no seio da própria comunidade dos fiéis. Não devemos entender aqui apenas os escândalos sexuais, mas tudo o que pode ser "ocasião de queda", que é o significado primitivo dessa palavra. A palavra "escândalo" hoje tem outro significado. Originariamente era o nome das pedrinhas que ficavam nos regatos e que faziam escorregar. O "remédio" para isso é sempre procurarmos agir corretamente. Quem for causa de escândalo, por qualquer motivo que seja, deve pedir perdão a Deus, começar vida nova e abandonar - se à Providência Divina, que iluminará o seu novo caminho. A pessoa também deve perdoar a si mesma!


v 3-4 -Aprendamos a perdoar sempre!


v 5-6- Reparem que Lucas não fala do futuro, mas do presente: "Com a fé que tendes", que é a tradução correta. Ou seja: com a fé que já possuímos, podemos nos santificar e sermos fiéis servidores do Reino.


Lucas 17,7-10 - SERVIR COM HUMILDADE


Compare com Lucas 22,27; 12,37;Jo 13,1-16, em que o próprio Jesus promete nos servir se formos servos fieis e trabalharmos "sem férias" para o Reino de Deus. Até a capacidade de servir é um dom de Deus; não é um atributo nosso.  Digamos, como Maria: "Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lucas 1,38).

 

Lucas 17, 11-19 - OS DEZ LEPROSOS -A INGRATIDÃO.


Vemos que na doença até os inimigos ficam amigos: judeus e samaritanos, nesses dez leprosos. Os leprosos eram afastados da convivência, para evitar o contágio. Usavam sinetes para anunciarem a presença.


Pediram a Jesus que tivesse compaixão deles. Não pediram a cura em primeiro lugar. Ninguém se compadecia deles. Eles pedem a salvação em comunidade: "Tende compaixão de nós", não "de mim". Há hoje uma tendência para o "rogai por mim", "Tende piedade de mim"...


FA lembra que eles foram curados ao longo do caminho, e não imediatamente. Ou seja: temos que ter paciência conosco mesmos e com os outros no itinerário de nossa cura espiritual.


Um só voltou. Ao agir assim,  ele retardou a volta à sua família, pois tinha antes que passar pela "vistoria" dos sacerdotes. Quanto tempo ele não via sua esposa e filhos! Mas para ele, Jesus era mais importante do que todo o resto. Ele acreditou e aceitou totalmente Jesus em sua vida, e era samaritano, ou seja, do povo inimigo do povo a que Jesus pertencia.


Independentemente do que os exegetas dizem, eu considero a atitude dos outros nove uma grande ingratidão, e percebo o quanto Jesus a sentiu, como também em Lucas 13,34, em que ele chora sobre Jerusalém, queixando-se de sua ingratidão: "Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, quantas vezes eu vos quis reunir como a galinha reúne seus pintainhos sob suas asas! Mas tu não quiseste!".


É preciso notar aqui, também, o fato de que o samaritano estava livre da lei massacrante dos judeus, pois não frequentava o templo judaico. Ele não estava "amarrado" por aquelas 613 leis.


Será que nós temos essa disposição desse samaritano em dar graças a Deus por tantos de seus benefícios a nosso respeito?


"Amar a Deus sobre todas as coisas"- O samaritano curado praticou tudo isso. Amou a Deus até mesmo sobre sua família. Mas ao voltar finalmente a ela, tinha o coração abençoado por ter estado com Jesus e agradecido pela graça recebida. E os outros nove? Não sei. Continuaram curados, mas...

 

Lucas 17,20-37 - A VINDA DO REINO DE DEUS


Este trecho nos diz para sempre estarmos preparados para a segunda vinda de Jesus, que na verdade ocorrerá individualmente, no dia de nossa morte.

Estarmos preparados significa também acabarmos com as injustiças sociais, guerras, acidentes, mortes, violências de todos os tipos, pobreza, doenças, misérias, egoísmo, abuso de poder etc, fazendo de todas as pessoas uma só família.


v 22- A vida eterna será tão atraente e diferente que os discípulos não desejarão rever um só dia de sua vida terrestre. Se temos a vida eterna, desejar mais o quê?

v.37 -"Perguntaram-lhe os discípulos: Onde será isto, Senhor? Respondeu-lhes: Onde estiver o cadáver, ali se reunirão também os abutres." Ou seja, não adianta se esconder, pois nenhum lugar ficará livre desses acontecimentos.  


CAPÍTULO 18


Lucas 18,1-8 - O JUIZ INÍQUO E A VIÚVA IMPORTUNA


Jesus compara Deus a um "juiz iníquo" talvez pelo silêncio de Deus diante de nossas dificuldades (MC). Lucas usa no versículo 1 vocabulário de S. Paulo. Veja em Rom 1,10; 12,12; 1 Tess 5,17 ("Orai sem cessar"). A justiça de Deus não é complicada como a nossa. Precisamos estar sempre ligados a ele pela oração e tudo sairá bem, embora aparentemente ele pareça estar ausente. Será que o que estamos pedindo é bom para a nossa vida eterna? Agradeço a Deus por não ter-me ouvido em muitos de meus pedidos no passado! Vejo agora que seriam desastrosos! Orar sem cessar significa estar sempre ligado a Deus para perseverarmos na fé, sem desânimo. Diz Santo Agostinho que se nós nos mantermos sem pecado e sempre agindo em favor do próximo, estamos sempre em clima de oração.


Lucas 18,9-14 - O FARISEU E O PUBLICANO


O fariseu levava um vida bem mais santa que o publicano. A sua falha foi basear-se em suas boas obras para orar, ao passo que o publicano humilhou-se e reconheceu-se fraco e pecador diante de Deus. Diz a Lumen Gentium que, sem Deus, o mundo se reduz a nada. Ninguém é grande diante de Deus. Diante de Deus, sempre estamos de mãos vazias. Para nos ajudar, para nos encher de bens espirituais, precisamos estar vazios de nós mesmos. "Olhou para a humilhação de sua serva" (Lucas 1,48). (TA e FA). Um pecado que afastou o fariseu de Deus foi o desprezo ao publicano (TA).


Lucas 18,15-17 - JESUS E AS CRIANCINHAS


Aqui Lucas reassume a narrativa de Marcos, que abandonara em 9,50 (veja Marcos 10).

As crianças eram desconsideradas na sociedade daquele tempo e daquele povo. Ninguém lhes dava atenção. Eram "zero à esquerda". Jesus as recebe e pede aos que o seguem que sejam como as crianças, ou seja, simples e confiem plenamente em Deus, como as crianças, que dependem em tudo de seus pais.


Lucas 18,18-30 - O RICO NOTÁVEL E A RENÚNCIA (o "jovem rico").


Trata-se talvez de uma vocação para ser apóstolo, com renúncia total de tudo. A Zaqueu, Jesus pediu a renúncia da metade do que possuía. Ao jovem Geraseno, não exigiu coisa alguma, e até lhe disse algo que não dissera a ninguém: "Diga para todos o que eu lhe fiz".

O fato, porém, é que Jesus exige, para quem quiser segui-lo, uma renúncia de tudo e uma partilha constante a fim de que no mundo não haja mais essa diferença entre ricos e pobres. As riquezas dão uma (falsa) segurança aos ricos e, desse modo, muitos deles não sentem necessidade de Deus e vivem afastados dele.

Quanto ao camelo, era mesmo um camelo; a agulha, era mesmo uma agulha. Não podemos "ajeitar" a nosso gosto as palavras de Jesus. Quem vive na riqueza e despreza os demais, não partilha, comete injustiças, não age em favor dos outros, não vai se salvar, a não ser que Deus o permita.

v.30 - Quem renuncia a tudo e passa a depender de Deus, vive em paz. Não teme os ladrões, nem a morte, nem nada, porque não tem nada a perder: já ofereceu tudo o que possuía!


Lucas 18, 31-34 - TERCEIRO ANÚNCIO DA PAIXÃO


Jesus procura preparar os discípulos para a sua morte, e várias vezes disse que os profetas predisseram isso (Lucas 24,25.27.44; Atos 2,23; 3,18.24; 8,32-35; 13,27; 26,22s (BJ).


Lucas 18,35-43 - O CEGO NA ENTRADA DE JERICÓ


A cura de cegos sempre tem uma conotação de cegueira espiritual: os fariseus e demais autoridades eram "cegos" porque se recusaram a ver em Jesus o Salvador. Muitas vezes somos "cegos" e não vemos a presença de Deus em nossa vida. O interessante aqui é ver como os que estavam mais próximos de Jesus impediam que o cego se aproximasse dele. Quantas pessoas dificultam que outras cheguem a Jesus, com proibições, tabus, preconceitos, em nome muitas vezes de uma "pureza litúrgica", ou de um "decoro litúrgico" !


CAPÍTULO 19


Lucas 19, 1-10 - ZAQUEU


Eu escrevi uma crônica sobre Zaqueu, que está nesta mesma seção de estudo bíblico. Ele foi um homem que buscava Deus e o encontrou na pessoa de Jesus. Ele devia ser um pouco complexado, por ser baixinho. Quis ver Jesus, talvez por curiosidade, mas só de longe: queria ver sem ser visto. Quando Jesus se aproximou e lhe disse que ia jantar na casa dele, ele ficou muito feliz e se converteu, colocando-se na obrigação de seguir a lei e devolver o quádruplo a quem ele havia roubado, além de dar aos pobres metade do que tinha.

O que o moveu a uma tal mudança de vida? A presença de Jesus? Sua sinceridade? Sua dignidade? Não o sabemos. O fato é que "Hoje a salvação entrou nesta casa" (Lucas 19,9).

Talvez a alegria de Zaqueu seja porque aquele homem não o desprezou como os demais o desprezavam, pela sua profissão de chefe dos cobradores de imposto, como uma pessoa é desprezada, hoje em dia, por motivos fúteis, e também por se ele pequeno.

As controvérsias contra Jesus continuaram, pois Zaqueu era considerado um mísero pecador que encontrou em Jesus o motivo de sua vida, coisa essa que sua riqueza não lhe pôde dar. A maior riqueza que alguém pode ter é estar no rol dos amigos de Jesus e ser seu servidor.

Zaqueu sentiu-se amado e mudou de vida. Que tal se aprendêssemos essa "técnica" de Jesus no relacionamento do dia a dia? Conquistar amigos para o Reino de Deus, amando as pessoas e mostrando-lhes que não as desprezamos, mas queremos acolhê-las.


Lucas 19, 11-27 - PARÁBOLA DAS MINAS


Lucas fundiu duas parábolas numa só: a das minas (vv12.13.15-26) e a do pretendente à realeza (vv 12.14.17.19.27). Corresponde à parábola dos talentos de Mateus 25,14-30. Os que escreveram o evangelho anotaram essas diferenças com que as parábolas eram contadas nos diversos lugares.

O sentido da parábola é este: "A paixão de Jesus é só o início do Reino; antes que este reino se manifeste definitivamente, dá-se a obra da Igreja. É aqui que se encaixa a duplicação dos talentos ou das "minas", referências monetárias daquele tempo.

De fato, a ausência do que ia se investido como rei é a ascensão de Jesus ao céu, deixando-nos, ou melhor, ficando fora de nossa visão até a sua segunda vinda. Diz Santo Agostinho, no Ofício das Leituras da festa da Ascensão, que Jesus não deixou o céu quando estava na terra e nem deixou a terra quando voltou para o céu. (Você pode ver isto no site www.liturgiadashoras.org.com). Acontece que nós vamos morrer antes dessa segunda vinda, e temos que fazer frutificar os dons recebidos de Deus, Quem não quiser fazer frutificar esses dons com Jesus, como é o caso dos fariseus, escribas e muitos judeus, vai perder até o que pensa que tem (o povo judeu deixou de ser o povo exclusivo de Deus).

Assim também nós: quando não oramos, quando vivemos uma vida desligada de Deus e da comunidade, vamos aos poucos vendo morrer em nós aqueles dons que antes tínhamos: quem não busca a Deus, vai ter que se "virar sozinho". Deus nos ajuda só se quisermos.


Lucas 19,28-40 - ENTRADA MESSIÂNICA DE JESUS EM JERUSALÉM


Aqui começa a quinta parte do evangelho de Lucas, denominado "Ministério de Jesus em Jerusalém".

"Hosana" significa "Salva, por favor"!

"Jesus, entrando montado num jumentinho, mostra um aparato modesto de Rei Messiânico, que deveria revelar o caráter humilde e pacífico do seu reinado" (BJ). Ver Zacarias 9,9. A jumenta era a antiga cavalgadura dos príncipes, como pode ser visto em Juízes 5,10.


Lucas 19, 41-44 - LAMENTAÇÃO SOBRE JERUSALÉM


Essa "paz" lamentada por Jesus é a paz messiânica de Is 11,6; Oséias 2,20 ( o lobo morará com o cordeiro, etc). Percebe-se em Jesus um profundo sentimento da ingratidão do povo judeu por havê-lo recusado como Messias. Cuidemos para não deixar passar as oportunidades que Cristo nos dá para nossa conversão!


Lucas 19,45-46 - OS VENDEDORES EXPULSOS DO TEMPLO


Os peregrinos adquiriam as moedas próprias usadas no templo e as vítimas necessárias para as oferendas, mas esse uso legítimo dava lugar a abusos (BJ).


Lucas 19,47-48 - ENSINAMENTO NO TEMPLO


Aos poucos, Jesus se aproxima de sua paixão. Ele escapou várias vezes da morte, pois não chegara ainda a sua hora. Jesus deixou-se prender, deixou-se morrer na cruz, pois era 100% homem e 100% Deus, e podia, se quisesse, vencer os soldados. Mas ele obedeceu ao Pai, vivendo plenamente sua condição humana, até a morte na cruz.


CAPÍTULO 20


Lucas 20,1-8 - A AUTORIDADE DE JESUS QUESTIONADA


A autoridade de Jesus é demonstrada pela veracidade de suas palavras e pelos milagres, que tanto os sacerdotes como os escribas e anciãos ignoraram, Ainda hoje mais de quatro bilhões de pessoas não aceitam sua autoridade e sua divindade (os não-cristãos).


Lucas 20, 9-19 - PARÁBOLA DOS VINHATEIROS HOMICIDAS


Esta parábola é a própria história do povo de Deus, que matou e rejeitou os profetas, e vai também contra os escribas e os chefes dos sacerdotes, que fizeram com que Jesus (o filho do dono da vinha) morresse. Deus é o dono da vinha, os vinhateiros são as autoridades do povo judeu, os servos são os profetas, o filho do dono é Jesus.


Lucas 20,20-26- O TRIBUTO A CÉSAR


Se Jesus falasse que era lícito pagar o imposto, eles o poderiam mandar matar, acusando-o de estar a favor do império; se Jesus falasse para não pagar, poderiam acusá-lo de insubordinação e também poderia ser punido. Com a resposta do v. 25, Jesus quer lembrar que:

1- César não é um deus, pois Jesus o distingue da divindade: "Dai a César...e dai a Deus..."

2- O próprio César é uma criatura de Deus e lhe deve obediência.


Lucas 20,27-40- A RESSURREIÇÃO DOS MORTOS


Muitas pessoas, mesmo atualmente, têm essa ideia materialista a respeito do paraíso. É uma outra realidade, uma outra vida. São João Bosco teve uma visão com S. Domingos Sávio, que tinha sido em vida seu aluno, morreu com 15 anos, que lhe mostrou uma faísca de luz rápida e pequena, mas que cegou D. Bosco por uma semana. Disse-lhe, então, o santo: "Essa faísca de luz é uma ínfima parte da luz de Deus que vemos no céu. Entretanto, essa faísca seria suficiente para iluminar o universo inteiro"!

S. Paulo, a caminho de Damasco, ficou cego ao ver a luz que envolvia Jesus: era uma luz mais clara do que o sol do meio-dia!

Amigo(a), o paraíso é muito melhor do que a melhor coisa que haja em sua vida. Ele será uma surpresa (agradável) para todos nós, sem exceção.

Quanto ao exemplo dado pelos saduceus, havia a lei de Moisés que estabelecia que se um homem morresse sem deixar descendência, seu irmão deveria casar-se com a cunhada viúva, e os filhos nascidos desse novo casamento seriam considerados não do marido atual, mas de seu irmão falecido. Veja Deuteronômio 25,5.


Lucas 20,41-44- CRISTO, FILHO E SENHOR DE DAVI.


A resposta significa isto: "embora descendente de Davi pela sua origem humana (Mt 1,1-17), o Messias tinha caráter divino, que o tornava superior a Davi e que este havia profetizado".


Lucas 20 45-47 - JESUS JULGA OS ESCRIBAS


O correto é fazer o contrário do que eles faziam, ou seja, viver uma vida simples e pobre, no anonimato, nunca buscando bajulações, sendo sóbrio em tudo, nunca enganando a ninguém, estando sempre a serviço de todos, como ele, Cristo, nos ensinou, não só com suas palavras, mas também com seus exemplos e modo de vida.


CAPÍTULO 21


Lucas 21,1-4- A OFERTA DA VIÚVA


Nossa oferta deve provir de uma renúncia, ser sincera, dada com amor, no anonimato, na humildade. Procurar colocar-se no mesmo nível da pessoa ajudada, e não agir colocando-se "de cima para baixo". Jesus se encarnou e viveu ao nosso nível em tudo, menos no pecado.

"Quem não põe à disposição dos outros o que possui, é condenado como "rico". "A oferenda mais agradável é a que custa mais. Deus não precisa de nosso supérfluo, porque toda a terra é sua (Êxodo 19,5). A oferta perfeita consiste em tudo oferecer a Deus sem nada reservar para si (Missal Cotidiano).


Lucas 21,5-19 - A RUÍNA DE JERUSALÉM


Lucas não confunde a ruína de Jerusalém com o fim do mundo, como o fez Mt 24,1.

O templo de Jerusalém não abraçou a função messiânica, como se era de esperar, pois as autoridades não aceitaram Jesus como Messias e, por isso, Deus permitiu que fosse destruído. É todo o desmoronar de um mundo, de uma tradição de um costume (MC). Hoje em dia, seria talvez o desmoronamento e a completa destruição do Vaticano, ou do templo de Meca. Se isso ocorresse, o que pensaríamos? Foi isso que aconteceu aos judeus, vendo o templo ser destruído. Para sentir o que eles sentiram, imaginem um terremoto destruindo, por exemplo, o santuário de Aparecida... (TA).

A defesa será de Deus. Os cristãos perseguidos não deverão buscar alianças com os poderes humanos, mas confiar na graça de Deus. A perseguição contra os cristãos oferecer-lhes-á ocasião para o verdadeiro testemunho evangélico. Porão em risco a própria vida. "Bem-aventurados sereis quando fordes perseguidos". (Mt 5,10-12).


Lucas 21,20-38 - AS CATÁSTROFES


"Se os cristãos não cometerem o mesmo erro dos judeus, a vinda do Filho do Homem, no fim dos tempos, será para eles um dia de liberdade: v.28= "Está próxima a vossa libertação". (MC)

"Lucas distingue mais nitidamente do que Marcos e Mateus o que se refere à destruição de Jerusalém do que se refere ao fim dos tempos". (MC).

Esse trecho é escrito com muitos símbolos e deve ser lido como um todo, sem se buscar muitas explicações do que significa isto ou aquilo (TA). "Jesus voltará, mostrar-se-á a cada um de nós e poderemos vê-lo face a face. Se o tivermos procurado como nosso amigo, encontrá-lo-emos com alegria e confiança. Se, porém, o tivermos ignorado, descurado, temido, desprezado, em sua pessoa ou nos irmãos, o encontro será de medo e dor. Salvação ou condenação, ruína ou libertação, felicidade ou desespero- a escolha faz-se agora, no tempo, com toda a nossa vida" (MC).

Eu resumiria lembrando o que Jesus disse: "Vigiai e orai para não cairdes em tentação!"(Mt 26,41).


CAPÍTULO 22


Nestes últimos capítulos, vamos comentar apenas alguns versículos, anotados da Bíblia de Jerusalém (BJ). Quando for de outra autoria, eu assinalo: 

MC= Missal Cotidiano; 

MD= Missal Dominical;

 FA=Fernando Armellini;

 TA - Teófilo Aparecido (eu).


v.1-2-Lucas não narra a unção de Betânia; em 7,36-50 já apresentou um fato do mesmo gênero.


v.4- Os chefes da guarda eram oficiais da polícia do templo, recrutados entre os levitas (Atos 4,1).


v. 15-Lucas adota a convenção helenística (grega) da refeição de despedida do Mestre com seus discípulos. As palavras pronunciadas por Jesus na ceia têm em Lucas lugar mais importante do que em Mateus e Marcos. Lucas parece ter concebido esses discursos à luz das primitivas assembleias eucarísticas.


v.16- A páscoa vai cumprir-se de maneira inicial pela instituição da Eucaristia, centro da vida espiritual do Reino fundado por Jesus, porém de maneira total e sem véus, no fim dos tempos.


v.17- Lucas distingue a páscoa e a taça dos vv. 15-18 do pão e da taça dos vv 19-20, para pôr em paralelo o rito antigo da páscoa judaica e o rito novo da Eucaristia cristã. Sem compreender esta construção teológica e admirados de encontrar duas taças, documentos antigos omitem o v. 20, ou mesmo o fim do v. 19. (a partir de: "que será dado por vós").


v.21-23 - Judas não foi "marcado por Deus" para trair Jesus, como muitos pensam. Ele talvez quisesse provocar a reação de Jesus ao traí-lo, pois como os demais, pensava que o messianismo de Jesus era político, ou seja, que ele fosse combater contra o poder romano e tomá-lo. Mas não era preciso que Jesus morresse na cruz. Ele nos salvaria simplesmente aceitando sua morte, fosse qual fosse. Jesus não nos salvou porque morreu na cruz, mas sim, porque ACEITOU morrer na cruz. Eu não estou inventando isto, não. Vi um texto de Maertens, que diz:

"A vontade do Pai jamais foi a morte do seu Filho. Tal atitude seria própria de um Deus sanguinário, que só se aplacaria com o sangue de um ente querido (...)Na realidade, o desígnio de Deus foi tornar seu próprio Filho participante da condição humana, com todo aquele amor necessário para que tal condição fosse transfigurada. Ora, a condição humana supõe a morte, e o Pai não a excluiu da sorte de seu Filho, a fim de que sua fidelidade à condição de homem só tivesse como limite a sua fidelidade ao amor do Pai (Maertens, comentário de Hb 10,1-10, 3ª Semana Comum, Missal Cotidiano).


v. 24-27 - Lucas coloca aqui o que Mateus e Marcos colocaram como resposta à pergunta dos filhos de Zebedeu em Mateus 20,25-28 e Marcos 10,42-45. O motivo pode ser esclarecer, neste novo contexto, as questões acerca da precedência e do serviço às mesas, que certamente se apresentavam nas primitivas assembleias litúrgicas. Confira Atos 6,1; 1Cor11,17-19; Tiago 2,24. Jesus se coloca como exemplo: apesar de sua dignidade, está no meio deles como aquele que serve.


v. 28-30- A recompensa para quem serve o Senhor é muito grande. Vale a pena ouvir e praticar o que Jesus ensinou.


v.31-34- Trecho muito importante para a Igreja Católica: "Confirma teus irmãos". "Esta palavra confere a Pedro, em relação aos outros apóstolos, um papel de direção na fé. Seu primado no próprio seio do colégio apostólico afirma-se aqui mais claramente do que em Mateus 16,17-19 (...) Ver também Jo 21,15-17, onde "cordeiros" e "ovelhas" que ele deve apascentar parecem incluir estes seus companheiros apostólicos, os quais ele supera no amor".


vv 35-38 - Este trecho é de difícil interpretação, mas talvez inteligível se o unirmos a Lucas 12,51; Mateus 10,34, quando Jesus disse que não veio trazer a paz, mas a espada à terra. Ou seja: Jesus pede que se compre "uma bolsa para comprar e um alforje para guardar víveres, que doravante não mais serão dados livremente aos discípulos; uma espada para se proteger num mundo que se torna hostil".

Há momentos em nossa vida em que nos sentimos abandonados e não sabemos o que fazer. É como os discípulos se sentiriam ao ver Jesus morrer nas mãos das autoridades. Só mesmo a ação do Espírito Santo em Pentecostes pôde lhes mostrar o caminho a seguir. Quando nos encontrarmos nessas situações, a solução é continuarmos fazendo nossa parte (a bolsa, o alforje e a espada ) e pedirmos que Deus nos oriente e nos conduza (TA).


v. 35- A oração de Jesus no Monte das Oliveiras. Mostra um Jesus plenamente humano. Sua paixão se lhe apresentava na mente como algo muito terrível e difícil. Como Deus, ele poderia livrar-se daquilo tudo. A tentação do maligno é bem evidente nesses momentos últimos da vida de Jesus. Aceitar ou não a Paixão? Por isso, a oração intensa, e o conselho que oremos e vigiemos também nós em nossas tentações, para não sucumbirmos ao pecado.


v 47-53 - Lucas mostra aqui mais uma vez a bondade e a misericórdia de Jesus, ao curar a orelha do servo do sumo sacerdote decepada por algum dos apóstolos (Lucas não fala qual deles foi). "A mensagem deste gesto é transparente: o discípulo não só não pode agredir ninguém, como deve estar sempre disposto a curar as feridas provocadas pelos outros. Cura até quem lhe causou o mal e que talvez ainda queira prejudicá-lo”. (FA)


vv 54-62 - Colocando a prisão de Jesus só depois de seu discurso (vv 47-53), Lucas quer mostrar como Jesus dominava o acontecimento. Em João 10, 18, vemos: "Ninguém a tira (=a vida) de mim, mas eu a dou livremente. Tenho o poder de entregá-la e o poder de retomá-la". A BJ comenta: "Cristo tem em si mesmo a vida (Jo3,35) e ninguém lha pode tirar; ele a dá livremente; daí essa serena majestade, essa completa liberdade diante da morte".

No versículo 61, só Lucas nota que "O Senhor, voltando-se, fixou o olhar em Pedro", mostrando "a compreensão de Jesus pela fraqueza do seu discípulo e é o sinal do perdão que lhe concede. Lucas quer nos ensinar que não devemos nos desencorajar diante das fraquezas e dos pecados. Jesus é muito compreensivo e a todos dirige um molhar misericordioso e pleno de amor" (FA);

Quanto à fuga dos apóstolos do cenário da paixão, Lucas tenta atenuar a responsabilidade deles: não fala da fuga deles, mas diz que "se conservaram à distância" (FA).


vv 63-65 - Este trecho de Lucas é mais verossímil do que Mateus e Marcos, pois ele mostra que os ultrajes tornam-se um jogo de adivinhação, bem conhecido no mundo antigo e mesmo em todos os tempos. Lucas a coloca durante a espera da noite antes da sessão do Sinédrio, por parte da criadagem, e não depois dela, como em Mateus e Marcos, que diz serem feitas pelos sinedritas.


vv 66-71- Lucas coloca um só comparecimento de Jesus no Sinédrio, de manhã, ao contrário de Mateus e Marcos, que colocam dois.


CAPÍTULOS 23 E 24


Eu sempre me calo diante do sofrimento horroroso de Jesus e de sua ressurreição ao céu. Não consigo ficar respondendo o que significa isto ou aquilo. A Paixão de Jesus deve ser lida e refletida como um todo, sem preocupação pela veracidade ou não dos fatos narrados.

Há uma corrente na Igreja Católica que diz ter sido a Ressurreição de Jesus apenas "sentida" no íntimo dos discípulos, ou seja, que ninguém teria visto realmente Cristo Ressuscitado e que Deus teria feito o corpo dele "desaparecer", "desintegrar-se" no túmulo.

Eu prefiro o caminho mais tradicional: Jesus sofreu, morreu por nós e ressuscitou, está no céu em Corpo, Sangue, Alma e Divindade, e deixou-se ficar aqui na terra na Eucaristia, nas espécies de pão e vinho


Lucas: A MORTE E A RESSURREIÇÃO DE JESUS


1- Destaca sempre a bondade e a misericórdia de Jesus. Não justifica o pecado, mas sabe entendê-lo, tenta atribui-lo à ignorância, à miséria humana, que nos irmana.


2- é o único que relata as palavras de Jesus na Eucaristia, como um mandamento de quem está para morrer: “Fazei isto em memória de mim". (22,19). Só quem reparte a própria vida com os outros pode, na verdade, "partir o pão eucarístico" com o coração puro. Fora desta linha de doação, a repetição do gesto litúrgico se reduz a um rito vazio e, às vezes, até hipócrita.


3- "O espírito está pronto, mas a carne é fraca" (Mc 14,38). É na oração e na vigilância que nos fortalecemos.


4- A ganância: servir significa ocupar de fato o último lugar, respeitar, dialogar, ser compreensivo, encontrar para cada pessoa um ministério a ser exercido, com alegria e entusiasmo, em favor do irmão. Não significa decidir em nome dos outros, nem impor a própria maneira de pensar, nem obrigar a fazer o que só nós achamos certo. Isso seria "dominar", e não "servir".


5- O cristianismo é a religião do amor e do dom da própria vida em benefício do irmão, não o mercado onde se compram milagres. O encontro de Herodes com Jesus mostra essa busca de milagres (Mc 23,8-12).


6- As mulheres são, para Lucas, importantes na vida de Jesus e da Igreja (8,1-3). Estas (só segundo Lucas) acompanham Jesus no caminho do Calvário (23,27-31) Geralmente são os homens que provocam desgraças, guerras, violências, e não as mulheres que aguentam as consequências.


7- Só Lucas fala de S. Dimas, o "bom ladrão" "um pecador recuperado pelo amor de Jesus, que o acompanha ao céu". (23,39-43).


8- Os discípulos ficaram felizes com a ressurreição de Jesus porque viram que ele não ficou morto. Ressuscitou. A morte já não nos inspira mais medo, porque se Jesus ressuscitou, todos nós também ressuscitaremos.


9- Jesus não se ausentou, mas continuou conosco, não da mesma forma, mas igualmente real, tanto com sua palavra como na Eucaristia, na Igreja e em cada um de nós.


10- A certeza do céu não permite que nos angustiemos quando envelhecemos, pois estaremos mais próximos das maravilhas do paraíso!


11- A força de Jesus nos dá na liturgia, nos sacramentos, nos deixam mais seguros e confiantes nas lutas contra o mal.


12- Somos felizardos, pois temos Deus como amigo e companheiro de caminhada. Sejam quais forem os obstáculos, chegaremos um dia à felicidade do paraíso.


OS DISCÍPULOS DE EMAÚS (Lucas 24, 13-25)

(Terça-feira, 03-05-2016, Gaudium Press).

Emaús ou o esboço de uma Missa.jpg

Jesus aparece numerosas vezes durante os quarenta dias que mediam entre o domingo de Páscoa e a Ascensão. Essas aparições estão registradas em livros do Novo Testamento, ainda que não todas. O encontro do Ressuscitado com Maria Santíssima, por exemplo, não consta no Canon das Escrituras; mas é seguro que Ele não pode deixar de celebrar seu triunfo sobre a morte com a Mãe.

Sobre este particular, a exegese bíblica -católica, claro- é unânime. Papas, teólogos e santos, professam essa crença: é o caso, por exemplo, de Inácio de Loyola, Teresa de Jesus, Maria de Agreda, João Paulo II, etc.

No total são dezoito os relatos dos textos canônicos que não falam de onze aparições do Ressuscitado.

Muito significativa, detalhada e emocionante é a narração de São Lucas (24, 13-25) onde nos é dito que "naquele mesmo dia" (o da Ressurreição), o Senhor se manifestou a dois discípulos que caminhavam desanimados até uma aldeia, Emaús. O evangelista Lucas seria um deles, o outro se chamava Cleofás.

Nos interessa ressaltar que a narração da sequência do encontro de Jesus com ambos, evoca a celebração de uma Missa. Vejamos:

A cena se dá no dia de domingo, o primeiro dia da semana, o dia da Páscoa. É o dia do Senhor, o dia em que a celebração eucarística é de preceito.

Outro dado significativo é o fato que iam dois (um terceiro se somará depois!). Portanto não se trata de um indivíduo solto mas de dois que vão juntos e unidos, como na Missa, formam um corpo, uma família, uma comunidade.

Os caminhantes estão tristes, arrependidos, confusos. Essas são um pouco as disposições dos fiéis na primeira parte da Missa em que nos reconhecemos pecadores e pedimos perdão: "Senhor tem piedade!".

Quando se encontram com o Divino Mestre (a quem não reconhecem no princípio), é o momento da liturgia da palavra: "Pouco entendem vocês, e lentos são seus corações para crer em tudo o que anunciaram os profetas". É a escuta da Palavra e a homilia. As dúvidas se esclarecem, a Fé se reacende e os sentimentos feridos se colocam em ordem: "Não sentíamos arder nosso coração?", comentaram os dois depois.

Em determinado momento, quando Jesus faz gesto de distanciar-se lhe dizem: "Fique conosco, já está caindo a tarde". Depois da escuta, chega o momento da resposta. Na Missa, confessamos nossa Fé proclamando-a com a recitação do Credo e fazendo com que Deus permaneça conosco, inclusive quando anoitece. Creio! É a resposta da fé em toda circunstância.

Depois vem o oferecimento: os discípulos convidam ao caminhante a entrar e lhe apresentam o pão e o vinho, como se faz no ofertório da nossa Missa.

"Enquanto estava na mesa com eles, tomou o pão, pronunciou a bênção, o partiu e lhes deu". É o momento da consagração e da comunhão. Aí ambos caem em si e lhe adoram, como os fiéis que ao receber a Cristo dizem "Amém" diante de sua real presença. "Nesse momento lhes abriram os olhos e o reconheceram".

A ação de graças depois da comunhão é ocasião em que nossa alma se enche de gozo na evocação do dom infinito recebido. Depois de compartilhar o Pão, eles disseram: "Não sentíamos arder nosso coração quando nos falava no caminho e nos explicava as Escrituras?". A comunhão potencia tudo o que temos aprendido e vivido durante o dia a dia de batizados.

Por fim, depois de ter tido a bênção de um tal encontro, se retiram e vão evangelizar: "De imediato se levantaram e voltaram a Jerusalém, onde encontraram reunidos aos onze e aos de seu grupo (...) contaram o sucedido no caminho e como o haviam reconhecido ao partir do pão". É o 'Ite missa est' da Missa, que equivale a um envio a viver o que se celebrou. Os dois do relato se colocam em missão: foram testemunhas da Ressurreição e vão anunciá-la aos demais contando a experiência vivida. Fazem como os Reis Magos que, segundo nos narra o Evangelho, "voltaram à sua terra por outro caminho" (Mt. 2, 12). Na realidade seu "novo caminho" é o fato de deixar o paganismo e de abraçar o culto ao Deus verdadeiro, ao que acabaram de adorar e de oferecer-lhe presentes no que fosse seu peculiar "eucaristia" que em grego significa "ação de graças".

Estes discípulos que voltavam desanimados à sua pequena vida de outrora abandonando seus compromissos, deixam a rota de Emaús e retornam a Jerusalém. Emaús é um caminho de deserção; Jerusalém é caminho de conversão.

Cada Missa, cada comunhão sacramental ou espiritual, cada ato de adoração, é um contrato transformador com o Deus vivo que vem ao nosso encontro, e um convite a deixar rumos mesquinhos para voltar aos compromissos da Fé.

Por Padre Rafael Ibarguren, EP

(Publicado originalmente em www.opera-eucharistica.org)

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

Conteúdo publicado em gaudiumpress.org, no link

http://www.gaudiumpress.org/content/78734-emaus-ou-o-esboco-de-uma-missa#ixzz481fsEQCo