03-11-13
F-56
A trilha continua,
tímida,
às vezes fechada,
às vezes aberta,
mas sempre deserta.
Deserta? Não!
Milhares de seres,
pequeninos,
humildes,
povoam-na e nela vivem.
Formiguinhas tão pequenas,
mas com um faro gigante!
Como pode haver vida ativa,
uma certa "inteligência",
organização,
respeito na pequena "sociedade",
em insetos tão ínfimos?
Fiquei envergonhado,
aborrecido,
desiludido,
de coração partido,
ao ver tanta organização,
tanta autodoação
entre as formigas,
e tanta desorganização,
tanto egoísmo,
tanto individualismo,
tanta maldade,
em nós, seres humanos,
que somos considerados racionais!
02/03/14
F-87
Aquele percevejo,
pequenino e nojento,
correu, desesperado,
quando me viu acordado.
Entrou numa frestinha,
escapando, o pestinha,
de meu dedo picado.
Coraçãozinho disparado,
juntou duas das patinhas,
e a Deus agradeceu,
em poucas linhas,
de não ter sido esmagado.
Se algo houvesse
por Deus não amado,
a bíblia esclarece,
Ele não o teria criado!
02/03/14
F-88
O sangue ele chupou, chupou,
e, gordinho e saciado,
num cantinho da garrafa,
jogada ali num canto,
ele quis se ajeitar,
mas tudo lhe rodava,
tudo duplo ele enxergava,
começou a rodopiar.
Seu colega, ali chegando,
foi logo lhe xingando:
“Você não viu, Alfredo,
que esse cara aí do chão
está “miando” de bêbado?
24/08/2014
F-123
Porquinho matreiro,
ficava o dia inteiro
fuçando por comida!
Num dia certeiro,
o bondoso padeiro
lhe deu acolhida!
Parando o calhambeque
lhe deu um bastonete
de pão fresquinho.
Meu lindo porquinho,
pequeno e gordinho,
não mais ficou fuçando.
O padeiro chegando,
ia logo procurando
o pãozinho cotidiano.
Em seu cochinho,
sempre cheio,
não mais houve disputa:
sossegado e faceiro,
partilhava com os pintinhos
sem traumas e sem luta,
seu cochinho de comida.
Chiquito, que saudades!
Você foi a bondade
que Deus me concedeu
nos anos dez meus!
Seus irmãozinhos, coitados,
pela própria mãe foram esmagados
naquele triste chiqueiro.
Você foi vendido,
por voto vencido,
a um cara insistente.
Mas sua lembrança
elucida minha mente:
“Por que me apegar aos cochinhos
quando lá fora, num outro lugar,
tenho sempre um gostoso pãozinho?
Por que me preocupar
com coisas terrestres?
Está à nossa espera,
num outro mundo, numa outra esfera,
uma eterna vida celeste!
20/10/14
DF-131
Ilha do Cardoso, Marujá,
Praia deserta. Estou sozinho.
Cansado do caminho,
sento-me na areia.
À minha frente, um corvo.
A brisa suave eu sorvo.
Olho para ele,
ele para mim,
mais solitário ainda.
Perdeu-se dos colegas.
Minha angústia, infinda,
impede-me de andar.
Só estou ali, a lhe fitar.
Ele também não quer voar!
O céu, sem nuvens,
mostrou uma negra mancha
a deslizar-se no espaço.
Era um dos seus.
O corvo me fitou,
viu-me ainda vivo,
abriu as asas
e voou.
Deixou-me sozinho.
Voando e planando
Chegou ao seu destino.
Levantei-me,
aprumei-me,
e lancei-vos, Senhor,
meu lamentoso olhar:
Só convosco, Senhor,
eu conseguirei caminhar
(22/02/15)
F-159
A abelhinha bonitinha
saiu de sua colmeia.
Foi dar uma voltinha,
se chamava Edméia.
Viu uma linda flor,
cheirou, cheirou,
e estava estéril! Que dor!
Desiludida, a deixou.
Viu uma flor outra,
feia e “esfarrapada,”
de cor tão pouca,
mas muito perfumada...
Chegou, cheirou, absorveu,
feliz e radiante ficou!
Seu papinho de pólen encheu,
e aos arredores o espalhou.
Voltou para a colmeia,
muito pólen lhe sobrara!
A nossa amiga Edméia
seu dia ganhara!
Dos polens espalhados,
em flores dos arredores,
muitos frutos foram gerados,
saborosos, dos melhores!
No fim do dia, cansada,
Edméia nas flores pensou:
na flor bela, sem pólen, coitada,
e naquela tão feia,
em que o pólen transbordou.
Nem sempre a aparência,
assim nos ensina a vida,
tem a melhor essência,
mesmo de joias revestida.
(22/02/15)
F-160
Pitoco, que saudade!
Que falta você nos faz!
A sua lealdade
muitas lembranças nos traz.
De ratos matador rijo,
você ia correndo os pegar!
Na terra, seu esconderijo,
ninguém os podia encontrar.
Correndo chegava da rua,
não comia da marmita,
nem carne cozida ou crua,
deixando sua dona aflita.
Ração! Eis o que ela lhe dava,
você comia obrigado!
Pois o que lhe agradava,
era um ratinho assustado!
Cachorrinho tão amado,
ninguém sabe seu paradeiro!
Saiu daqui apressado,
perdeu-se por inteiro!
Sua caminha, agora gelada,
já foi antes tão quente!
Você foi a mais amada
das criaturas “não-gente”!
26/01/16
F-249
O peixinho, logo que nasceu,
viu seu irmão ser comido
por um peixe que ali apareceu
e fugiu, apavorado, esbaforido
De esconderijo em esconderijo
nosso peixinho tornou-se um peixão,
de vontade era forte e rijo,
não iria se alimentar dos irmãos!
Certo dia, entretanto,
a fome foi mais forte e voraz,
e, sem nenhum conquanto,
de devorar peixinhos foi capaz!
Na vida isso se repete,
a maldade, difusa, é um tormento!
ser mau dá manchete,
o irmão é feito alimento!
12/03/16
F-261
Infelizmente vejo o mundo,
antes bonito e formoso,
agora estéril e imundo,
tão triste e tão choroso!
Peço a Deus que nos perdoe,
que nos faça ver essa besteira
que ele um dia nos abençoe
por termos salvo a terra inteira!
13/03/16
F-264
O percevejo e o pernilongo se juntaram
diante de uma faminta aranha.
Entre eles, diante dela apostaram
quem mais sangue chuparia, uma façanha!
Um coitado ali por perto
foi chupado a mais não poder,
mas só quando ficou desperto
viu que nada mais podia fazer!
Satisfeitos e engordados,
subiram na balança, como dantes.
O percevejo ganhou estourado,
tinham a aranha por comandante.
Ela cumprimentou os dois,
que entraram na negra teia.
Mas a aranha não deixou pra depois,
comeu os dois, que coisa feia!
Afinal, essa aranha assanhada
foi a única que ganhou a parada!
03/08/16
F-297
O patinho picou o ovo e nasceu
debaixo da galinha, de repente.
A galinha, de susto, quase morreu,
ao ver aquele bico tão diferente.
Todos nascidos, o ninho deixaram,
a galinha os fazia comer.
O patinho, quando terminaram,
dirigiu-se ao lago, a correr.
Nadava tão bem o pestinha!
Os demais se entretinham a brincar,
mas dava até dó ver a galinha
chamando o patinho, ao vê-lo nadar!
08/10/16
F-321
O marreco perguntou pra marreca
onde estava o marrequinho.
A marreca respondeu pro marreco
que ele devia estar lá no ninho.
O marreco foi lá, de fininho,
e encontrou o filhote dormindo.
Bicou-o de leve, com carinho,
e saiu dali, todo sorrindo.
Mal o marreco foi embora,
fingindo que estava o marrequinho,
do ninho logo deu o fora
e foi brincar com o passarinho.
No fim do dia, todos cansados,
cada um foi pro seu ninho.
O marrequinho, fatigado,
de tanto brincar com o passarinho.
09/10/16
F-322
O galo perguntou à galinha:
“onde está o meu esporão”?
A galinha ficou quietinha,
o galo disse um palavrão.
Procurou em quantas coisas tinha
mas nada encontrou.
Foi de novo até à galinha
e delicadamente perguntou:
“Querida esposa minha,
onde você colocou o meu esporão”?
Enfadada, respondeu a galinha:
“O seu esporão? Eu coloquei no feijão”!