É o lamento que, de vez em quando, se ouve de padres e, sobretudo, de religiosas, que se sentiram cativados pelas figuras de Hélder Câmara, Paulo Evaristo Arns, Pedro Casaldaliga, Ivo e Aloísio Lorscheider, Mauro Morelli, Luciano Mendes de Almeida, Tomás Balduino e outros prelados que honraram a Igreja do Brasil nas últimas décadas do século XX.
A fidelidade ao Evangelho os levou a enfrentar as injustiças cometidas contra a população brasileira por expoentes de governos ditatoriais e neoliberais que dirigiram os destinos do país a partir de 1964. Assumindo a defesa dos direitos humanos e dos pobres, lutaram por um novo estado de coisas. E, graças a Deus e a uma multidão de padres, religiosos e leigos que seguiram seu exemplo, seus esforços colaboraram para implantar a democracia que o povo sonhava. Para tanto, alguns deles apoiaram a criação de um partido político, que nasceu com o propósito de fazer seus os ideais que a Igreja buscava, mas tardava em concretizar. Em resumo, uma época gloriosa, que deixou saudades e granjeou as simpatias até mesmo de pessoas distantes da Igreja.
Mas, agora, tudo isso terminou. Uma nuvem escura paira sobre o episcopado, arrefecendo sua profecia no campo político, social e econômico da nação. Os bispos atuais preferem ocupar-se com problemas de liturgia e de pedofilia. O que lhes interessa é a estrutura e o bom nome da Igreja. Sentem-se mais à vontade com os movimentos eclesiais e as novas comunidades do que com as pastorais sociais e as CEBs. Diante dos graves problemas sofridos pelo povo, o medo e o silêncio lhes impedem uma tomada de posição firme e corajosa.
A verdade, porém, é diferente. Para só ficar no campo social – que é o aspecto que mais se questiona –, estou convencido que a totalidade dos bispos do Brasil renova, a cada dia, sua opção evangélica e preferencial por todos os que se sentem distantes e excluídos. Sou agradecido a Deus por ter, como irmãos no episcopado, pessoas que, ainda hoje, sofrem perseguições pela justiça e pela verdade. É o que acontece com Erwin Kräutler, Luiz Flávio Cappio, José Luís Azcona Hermoso, Esmeraldo Barreto de Farias, Moacyr Grechi e outros, de quem a imprensa pouco ou nada se interessa.
Se é verdade que, com a subida ao poder do partido que parte da Igreja ajudou a nascer, começaram a ser implantadas, em todo o território nacional, as reformas sociais e econômicas solicitadas pelos líderes da teologia da libertação, das CEBs e do próprio episcopado, então os bispos atuais agradecem a Deus (e ao governo?!) por disporem de mais tempo para se ocuparem com a missão que lhes é específica, assim delineada pelo Documento de Aparecida: "Os bispos, como pastores e guias espirituais das comunidades a nós encomendadas, somos chamados a fazer da Igreja uma casa e escola de comunhão.
Como animadores da comunhão, temos a missão de acolher, discernir e animar carismas, ministérios e serviços na Igreja. Como pais e centro de unidade, nos esforçamos por apresentar ao mundo o rosto de uma Igreja na qual todos se sintam acolhidos como em sua própria casa. Para todo o Povo de Deus, em especial para os presbíteros, procuramos ser pais, amigos e irmãos, sempre abertos ao diálogo".
Nessa mudança de época em andamento, talvez tenha chegado o momento em que, mais do que a grandeza e a atuação deste ou daquele bispo, se deva incentivar a ação de um episcopado unido e concorde. É o que também pensava Chiara Lubich, ao afirmar que a humanidade de hoje é mais sensível ante uma santidade coletiva e popular, do que diante de pessoas que brilham quais estrelas de primeira grandeza num firmamento distante.
Fala-se que esse período opaco do episcopado brasileiro tenha começado há dez anos, o que coincide com o início de minha atividade episcopal. Se eu tivesse colaborado para essa "apatia" – mas não me atribuo tamanha importância! –, estaria longe do ideal deixado pelo fundador do Instituto religioso em que me formei, o bispo João Batista Scalabrini, para quem «o cristianismo não é apenas uma verdade teológica, mas também social, política e econômica.
Dom Redovino Rizzardo, cs - Bispo de Dourados.
Assunto: Padres, perdoem os bispos! - fonte: Jornal o Progresso de MS