ALEGRIA NA MISSÃO “AD GENTES”
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A espiritualidade do Irmão Carlos é força para os missionários que atuam em terras africanas. Viver como pobre nas periferias entre os últimos, numa atitude de escuta e exercendo o apostolado da amizade e bondade foi seu grande legado missionário. Antecipou as intuições do Concílio Vaticano II de abertura e diálogo com o mundo, as religiões e as culturas.
Seu percurso espiritual é marcado por inquietações e buscas pelo amor a Jesus, escuta aos Evangelhos, deserto, adoração eucarística, silêncio, experiência da gratuidade do amor de Deus, fraternidade universal e proximidade com os mais afastados.
Seu percurso se tornou um paradigma missionário para padres diocesanos, leigos e leigas, religiosos e religiosas que se põem no caminho de seguimento a Jesus de Nazaré. Cito algumas intuições do irmão Carlos para nossas práticas missionárias:
* Missão que brota do encontro. Seu processo tem a marca de várias conversões. Foi entendendo que a missão parte de Deus. Desde o seu primeiro encontro com Jesus, nunca mais parou de mover-se. Buscava entender a vontade de Deus e se abandona em Suas mãos. Evangelizou mais pela vida e testemunho, transbordando a experiência de ser amado e perdoado.
* Missão como presença, ou seja, mais importante do que fazer coisas na missão o importante é ser testemunho e gritar o evangelho por um estilo de vida simples.
* Missão com diálogo. O missionário ad gentes que entra na casa do outro, sua primeira atitude é pedir licença. Apreender a escutar as diferenças e dialogar, sem impor costumes e tradições.
* Missão inculturada. Quando chegou no Saara, começou apreender o idioma dos Tuaregues, chegando a escrever os evangelhos em sua língua. O missionário, ao chegar, necessita primeiro apreender a nova língua e a nova mentalidade que encontra.
* Missão sem espetáculos. Irmão Carlos optou por estilo de missão com meios pobres e seguindo o caminho de Jesus em Nazaré numa vida oculta de trabalhador, valorizando a presença de Deus no cotidiano, sem fazer barulho de eventos e espetáculos.
* Missão como entrega total. Se fez pobre, dependente e frágil. Deixou-se cuidar e ser amado pelo tuaregues no momento de doença.
O caminho de conversão de Carlos de Foucauld ensina um modelo de missão inserida em realidades exigentes, com poucos recursos e estilo de vida com meios pobres. Neste ambiente o missionário é chamado a dar testemunho de vida despojada e alimentada por meios que o sustente. Entre estes meios destacamos: oração e contemplação; vivência fraterna entre missionários e com o povo; desapego das coisas materiais e de si mesmo; pobreza material com a busca do último lugar; ter coragem, confiança, ajudar e se deixar ser ajudado. Não ser exigente, mas se contentar com o pouco. Ter espírito de serviço e doação. Sentir o sofrimento do povo, ser presença gratuita. Não ter medo das doenças e inseguranças. Ter disposição para viver o inesperado, o diferente. Ter consciência que estamos na casa dos outros, assim somos hóspedes que se deixam acolher.
A primeira atitude do missionário ad gentes, que entra na casa do outro, é pedir licença.
Apreender a escutar as diferenças e dialogar, sem impor costumes e tradições.
Nessa vivência fraterna, no contato com as pessoas, se procura escutar, ver, cheirar, tocar, sentir. Aprende-se grandes lições de vida. Pe. Camilo narra um fato que marcou sua vida. “Visitando as comunidades do interior, num dia de muito calor onde ultrapassava os 40 graus, tudo estava seco, pois fazia seis meses que não chovia. Só desejava encontrar uma sombra para descansar. Eis que no caminho surge uma bela mangueira, estava verde, pois suas raízes são profundas e encontram água. “Ali vamos descansar”, me disse o companheiro. Quando chegamos na mangueira, estávamos suados e sedentos. Por acaso vimos num grande pote de barro e do lado uma cabaça de coco. Olhamos dentro e lá no fundo havia um pouco de água fresca. Tomamos e nos refrescamos. Logo em seguida chegou uma mulher que vivia cerca de 100 metros dali. Cumprimentamo-nos e partilhamos as novidades. Perguntei a ela: “Como esta água chega aqui?” Ela me disse: “Eu e minha filha saímos de madrugada e andamos cerca de duas a três horas, até uma baixada. Lá ainda tem um pouco de água. Abastecemos nossas latas e trazemos em nossas cabeças. Uma lata para as necessidades de nossa casa e a outra para abastecer este pote. Assim as pessoas que passam por aqui, tomam, descansam e se refrescam e depois continuam o seu caminho”. Ainda lhe perguntei se as pessoas retribuíam alguma coisa por este serviço. Ela me disse: “Simplesmente sinto alegria em oferecer um pouco de água e também porque gosto de ouvir novidades dos que vem e andam”. Foi uma grande lição de vida.
Assim o missionário que se dispõe ir numa missão em meio a um povo carente, como na África, ganha e aprende com os mais pobres. Vários padres ligados as fraternidades sacerdotais Jesus Caritas já viveram estas bonitas experiências de ser missionário no meio ao povo africano.
Eis abaixo alguns deles que missionaram no Projeto Além Fronteiras: Nordeste IV e V (Maranhão e Piaui) e Lichinga (Moçambique): Pe. Gildo Nogueira Gomes, da Diocese de Barra do Piraí - Volta Redonda e o Pe. José Eugênio Fávero, da Arquidiocese de Campinas. Outros cinco missionaram na África pelo Projeto Sul III e Nampula (Moçambique): Pe. Carlos Alberto Lira e Pe. Luis Cardalda Nuñes, ambos da Diocese de Goiás, Pe. Camilo Pauletti, da Diocese de Caxias do Sul, Pe. Maurício da Silva Jardim, da Arquidiocese de Porto Alegre e o Pe. Badacer Ramos de Oliveira Neto, da Diocese de Itabuna.
O forte e líder aristocrata francês fez a experiência do fracasso, e no final morreu tragicamente vítima de um projétil em tempos de guerra no dia 1º de dezembro de 1916. Deixemo-nos conduzir pelo espírito de Jesus Cristo, a exemplo de Irmão Carlos, modelo de missionário.
Este texto foi escrito a várias mãos por alguns daqueles que percorreram territórios de missão, pelos Pe. Maurício Jardim, Pe, Camilo Pauletti, e depois foi completado pelo Pe. Gildo Nogueira Gomes.