Não só amar, mas deixar-se amar: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir-me a porta, cearei com ele e ele comigo” (Apoc 3,20). Deixar que Jesus entre em nossa vida e nos ame!
Quando nós amamos, procuramos as pessoas por mim amadas quando e como julgar necessário; quando nos deixamos amar, são as pessoas que nos procuram quando e como acharem necessário, e é aí que se encontra a dificuldade; às vezes não estamos muito dispostos a ouvir ninguém, nem atender ninguém!
Eu recebia, às vezes, a ligação de um vigia noturno que frequentava a paróquia, que me acordava às 2 ou 3 horas da madrugada. Tinha medo de ser assaltado e ficava meia hora falando comigo. Eu apenas o ouvia, quase não dizia nada, mas ele se contentava com isso.
S. Pedro disse a Jesus: “Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador” (como quem diz: e quero continuar “numa boa”) (Lucas 5,8).
“O meu jugo é suave, o meu peso é leve”. (Mt 11,30). Percebam que Jesus pede que nós o deixemos amar-nos, mas isso vai ter um preço: o seu jugo. Mas é um jugo suave, um peso leve.
Adão e Eva cometeram a mesma besteira: não quiseram deixar-se amar por Deus. Quiseram ser “os donos dos seus próprios narizes “ e deu no que deu.
Jesus, pelo contrário, não fez sua própria vontade, mas deixou-se amar pelo Pai e por nós. Deixar-se amar por Deus é, como Jesus fez, fazer a sua vontade plenamente, seja ela qual for, porque confiamos plenamente em Deus e sabemos que ele só vai fazer e querer o bem para nós.
Referindo-se a outras pessoas, sempre tomemos cuidado para que ela (s) não queira (m) exclusividade em nossa amizade e coloquemos um limite em suas atitudes. Há casos de apegos doentios que devemos evitar.
Deus nos ama com um amor eterno (Jeremias 31,3).Tudo o que temos que fazer é deixar que ele nos ame como e quando ele quiser. Ele vai nos conduzir à luz da Verdade, mesmo nos permitindo horas difíceis, e teremos sua companhia no céu, para sempre.
É muito comum nos depararmos numa situação em que o desânimo nos pega de surpresa. Às vezes nem conseguimos atinar ao certo com a causa. Jogamo-nos no sofá da sala, ligamos algum aparelho que nos permita ouvir músicas de “down”, as lágrimas correm pela nossa face (olhe que romântico), abrimos uma caixa de bombons, ou tomamos uma(s) dose(s) de uísque ou, se não tivermos uísque, vai cachaça mesmo, mas lá fora a vida continua, e se não tomarmos cuidado, vai continuar nos arrastando.
Muitas vezes o desânimo vem do nosso orgulho refinado. Uma pessoa realmente humilde quase nunca cai em desânimo, porque conhece seus limites e suas fraquezas.
Minha mãe, certa vez, chegou da fábrica de tecidos onde trabalhava em pé, das 4:30 h da manhã até 13:00 h, e havia um metro de louça para lavar, um metro e meio de roupa, casa para limpar, incluindo fogão (a lenha e a gás), quintal, banheiro, quartos (as camas ainda estavam desfeitas), e outras coisinhas mais.
Meu pai almoçava em casa e deixara várias laranjas sobre a mesa. Eu passara a manhã na escola e havia almoçado com o meu pai. Eu ajudava em alguma coisa, varria aqui e ali, mas era quase nada.
Minha mãe, sabiamente, deixou tudo pra lá, sentou-se e começou a comer laranjas (em casa aprendi a comer as laranjas com bagaço). Terminando, foi deitar-se para descansar um pouco. A casa ficou para mais tarde, quando ela já estava mais descansada.
Quando você tiver uma crise de desânimo, deixe tudo pra lá e faça uns momentos de relax, faça uma caminhada, ou tome um banho, ou coma (ou chupe) algumas laranjas, e quando puder, quando estiver com ânimo, reze.
O padre Celso Pedro, de São Paulo, sempre diz: “Não sabe o que fazer? Reze. Não sabe o que rezar? Reze o Pai-Nosso”!
O desânimo vai sair de sua vida quando você aprender a fazer estas coisas:
1- Ter à sua frente seus limites e imperfeições. Conhecer-se. Saber até onde pode ir.
2- Rezar sempre, colocando-se diante de Deus, apresentando o pouco que conseguiu fazer de bom, valorizando tudo o que fez, e pedir-lhe forças para melhorar sua eficiência.
3- Nunca comparar-se aos outros, nem aos santos. Cada um é cada um, cada um tem seus problemas, suas capacidades e suas limitações.
4- Viver cada dia, sem muitas pretensões, sem muitos planejamentos, apenas o necessário.
5- Ter certeza de que amanhã será um dia melhor, você poderá recomeçar tudo do zero, se for necessário. Aí entra e muito a humildade. Quando não nos conformamos com alguma coisa que fizemos errada, é porque não somos humildes. A humildade nos leva sempre a reconhecer que somos fracos, propensos ao pecado, e nunca nos assustarmos quando o que fizemos não saiu como planejamos. Simplesmente pedimos perdão, se for o caso, perdoamo-nos, e continuamos simplesmente a nossa vida. Sem desânimo.
6- Por último, saber que Deus não é cego, nem mudo, nem surdo. Ele nos ouve, fala conosco por vários canais, nos vê e, sobretudo, está sempre conosco e a fim de nós.
Já planejei a lápide do meu túmulo. Nela vai estar escrito: “Aqui jaz um homem que nunca desanimou”.
No livro 4 de “A Imitação de Cristo”, de Thomas de Kempis, capítulo18 lemos: “Bem-aventurada é a simplicidade, que deixa os caminhos dificultosos das discussões para andar no cominho plano e firme dos mandamentos de Deus!”.
Sem Deus, nada podemos fazer. A Igreja precisa ser, realmente, “A Igreja dos pobres!”. A pobreza, na Igreja, é seguida por grupos de homens e mulheres, mas se olhamos a verdadeira pobreza e a verdadeira simplicidade, sobram poucos desses grupos. A maioria das congregações religiosas se distanciou muito da ideia inicial de seus fundadores e não vive mais a pobreza evangélica.
Já dizia São João Crisóstomo, pelos anos 400: “Qual é o proveito se a mesa de Cristo está coberta de taças de ouro, se ele próprio morre de fome?” (Na pessoa do pobre) “Sacia primeiro o faminto e depois, do que sobrar, adorna a sua mesa!”.
Enquanto houver tanta pobreza e miséria, não podemos nos dar a certos luxos, a certas frivolidades. Pessoas morrem de fome, de ignorância, de insalubridade, enquanto as dioceses estão preocupadas com reformas, construções e tantas outras coisas às vezes secundárias e até descartáveis.
Os meios pobres de evangelização trazem um maior apoio da graça de Deus. Se apelarmos a muitas técnicas e parafernálias, acabamos nos acostumando a elas e achando que são elas que nos ajudarão, e não a graça de Deus. Não podemos justificar o luxo e as coisas supérfluas como desculpa para a evangelização. Diz Lc. 10,4 (No Apostolado) “Não leveis bolsa, nem alforje, nem calçados”.“abismo atrai outro abismo” (Salmo 42, 7). Ou, como diz 2°Cor 12, 10, “Quando sou fraco então sou forte”.
Certa vez minha mãe chegou da fábrica, após 8 horas de trabalho, em pé, na tecelagem. A casa sem empregada (éramos pobres), estava uma bagunça! Ela, cansadíssima, deixou de lado todo o serviço e, calmamente, descascou e chupou algumas laranjas que meu pai deixara sobe a mesa quando ele viera também da fábrica, para almoçar.
Esse fato marcou-me profundamente! Percebi que nunca devemos nos apavorar com o trabalho, e sempre agir em parceira com Deus. Confiar na Providência Divina!
Quando eu tinha uns dez anos, criamos um porquinho, a quem chamamos “Chiquito”, em casa. O Chiquito nunca deixava uma nossa galinha choca e seus vários pintinhos comer de seu pão com leite. Um dia, porém, ele achou um jeito de ir para a rua e começou a receber pãozinho do padeiro das 15 h, que entregava o pão num Ford “bigode”. Todos os dias o Chiquito comia pão e era acariciado pelas crianças. Nunca mais ele se importou com a galinha e seus pintinhos: deixava-os comer á vontade, pois ele tinha coisa melhor lá fora!
Isso nos mostra que não devemos nos desesperar com o medo da solidão, da pobreza, do anonimato! Por que essa busca desenfreada pelo poder (mesmo na Igreja!) e pelo dinheiro? Até o porquinho Chiquito aprendeu a ser generoso, sabendo que tinha bens melhores lá fora. Se nós temos o céu, a vida eterna, por que o medo? Por que não confiamos que Deus realmente nos ama e é um “Pai que nos ama com um coração de mãe” (C. Mesters) e NUNCA VAI NOS ABANDONAR? Trabalhemos e vivamos com simplicidade, com pobreza, com amor, com despojamento, e Deus nos ajudará.
Nós pregamos que Deus é um Deus poderoso e misericordioso, mas, na prática, achamos que Ele é mentiroso e nos mentiu quando mandou que deixássemos tudo, todo o poder, para confiar nele. Vejam estas citações. A simplicidade de Cristo: 2° Cor 11, 3; Paulo vive na simplicidade e sinceridade: 2° Cor 1, 12; As bem-aventuranças: Mt 5, 1-12; Confiar na Providência Divina: Mt 6, 24-34; Lc 12, 22-34; Renunciar a tudo para obter a graças de Deus: Lc 14, 25-35. Como Jesus, devemos servir e não sermos servidos (Lc 12,37; João 13,1-16).
Amós5,24: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca”. O tema da Campanha da Fraternidade deste ano é: Casa comum, nossa responsabilidade, e é ecumênica (participação de várias denominações religiosas).
Conversamos em grupo sobre esse assunto, agora há pouco, e comentamos quanto desperdício promovemos no nosso dia a dia. Quanta água desperdiçada quando, por exemplo, muitos escovam os os dentes, ou cortam a barba, enquanto no Nordeste muitos até chegam a morrer de sede!
Conversamos sobre o que poderíamos fazer para sanar esse problema mas, a não ser pessoalmente, em nossos hábitos, nada mais conseguimos, e na conscientização dos amigos e pessoas que convivem conosco.
Escrevi uma poesia sobre esse assunto. É assim:
veremos sua última árvore,
dando nome a um novo deserto:
Nunca sequer nos criaria.
Quando Deus criou o mundo tinha consciência de que haveria problemas a resolver, como secas, frio ou calor intenso, parasitas, vírus etc.
Ele se daria a nós como uma árvore da vida, onde poderíamos buscar auxílio para todas as imperfeições. Seu auxílio às imperfeições seria algo constante e ininterrupto.
Entretanto, o ser humano fez pouco caso da Árvore da Vida e comeu o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, ou seja, o livre-arbítrio, o estar independente de Deus. Deu no que deu: só contamos com a sabedoria humana (que nesse assunto foi burrice humana) para resolver os problemas.
Mas Deus ainda nos ajuda, se lhe pedirmos: “pedi e se vos dará”. Precisamos contar sempre com Deus em nossa vida, pois “Sem Deus a criatura se reduz a nada”, diz a Lumen Gentium. Os problemas do mundo são muitos, e sofremos muito se vivermos longe dele.
O que faz a pessoa relutar tanto contra Deus? Por que é assim tão difícil acreditar em sua mensagem, dada a nós por Jesus Cristo? O que nos faz tendermos tanto ao materialismo? Nossa vida é uma luta constante e renhida entre corpo e alma, material e espiritual, santo e profano...
Estamos imersos no profano, e as coisas santas tornam-se não coisas normais, mas exceções. Se quisermos abraça-las, temos que fazer violência contra nós mesmos. “Ainda não derramastes sangue na luta contra o pecado”! (Hebreus 12,4).
Quantas pregações nós já ouvimos? Mas quantas nós seguimos de verdade? De quantos retiros já participamos? Eu mesmo, de uns 70, no mínimo! E eu pergunto: nós já nos tornamos santos? Se tivéssemos seguido as palavras desses retiros, já o seríamos.
Às vezes eu me pergunto se nós realmente acreditamos que a Igreja fala a verdade quando nos mostra, com Jesus, o caminho da salvação. O céu existe, Deus existe, o inferno é uma realidade, a salvação que Cristo nos trouxe é uma realidade e, o mais precioso conhecimento que temos, a MISERICÓRDIA DIVINA é uma realidade. Muitas vezes, infelizmente, trocamos a felicidade eterna por... um prato de lentilhas, como Esaú o fez!
DIA DA MULHER, VOCAÇÃO-(CRÔNICA)
Na revista Ultimato de março/abril 2016, nº 359, à página 12, vi uma pesquisa sobre a pastores evangélicos que deixaram o pastorado. A pergunta feita, nos Estados Unidos, era: “Por que você deixou o pastorado”?
Em relação aos padres é mais fácil imaginar o motivo, em sua maioria: o casamento. Mas em relação aos pastores, as respostas foram diversas: por mudança de chamado, por conflito na igreja, por finanças pessoais, por questões familiares, esgotamento (bournout).
Esses 734 pastores abandonaram o “pastorado”. Será que são mesmo esses os motivos que levam as pessoas a abandonarem o pastorado, ou o apostolado (na nossa linguagem)? Quantos padres deixaram o ministério!
Eu estava escrevendo isto quando um homem veio me pedir que opinasse sobre um poema que ele escrevera para o dia da mulher, que é comemorado hoje. Ei-lo:
“ Não quero que você me ame/ só pelo simples fato de te amar/; quero que me ame pelo simples fato de merecer te amar;/ não quero que se preocupe comigo só porque eu me preocupo com você; quero que se preocupe comigo/ porque faço da sua preocupação a minha própria!/ Não quero que chore por alegria ou até mesmo por tristeza por mim, / mas, se chorar, / chore por saber que eu estou sempre aí para enxugar, / com todo o meu amor e coração,/ suas lágrimas, / oferecendo sempre um ombro amigo/, para sempre desabafar./ Não peço e nunca irei pedir que você me ame/, mas farei por merecer ser amado por você/, sempre e no final,/ você apenas irá me amar,/ sem precisar falar ou mostrar./ Amor a gente não pede, não se mede,/ apenas deixa transparecer”.
Você gostou? Depois ele me mostrou as dez coisas que mais gosta em sua esposa. Veja se bate com a sua opinião sobre esse assunto:
1- Seu caráter incomparável
2- Seu carisma único no mundo
3- Sua beleza sem comparação
4- Guerreira sem limite quando quer ou acredita em alguma coisa
5- Nunca desiste de nada que acha certo
6- Uma mulher, mas sem perder o jeito e a essência da menina.
7- Nunca vê maldade em ninguém. Ajuda sem querer nada em troca.
8- Tem rostinho de criança, mas um corpo fenomenal de mulher.
9- Delicada e sensível, mas ao mesmo tempo a pessoa mais forte e correta que conheci em toda a minha vida.
10- O que mais adoro e admiro em você: ser sempre você mesma!
Diz uma música antiga de Carnaval que o casamento é uma loteria “pra quê, pra quê que eu vou casar”? Esse meu amigo, antes de ir embora, me disse que, se casamento fosse loteria, ele tinha ganhado a sorte grande. Fico feliz que existem casais que se amam desse modo!
Esse assunto combinou com o que eu estava falando, sobre o abandono do apostolado. O mesmo acontece com o abandono do casamento, as separações. Ambas as coisas aborrecem e perturbam muito a vida das pessoas envolvidas, tanto o abandono do pastorado como o abandono do esposo ou da esposa.
Os padres não se casam justamente porque o casamento exige dedicação integral, 24 horas por dia, dificultando um pouco (ou muito) a vida dedicada ao sacerdócio, ao apostolado.
Creio que o “segredo” para que essas coisas não aconteçam, é a oração. A oração sustenta qualquer tipo de caminhada. Oração convicta, piedosa, realista e, principalmente, humilde.
A humildade é a fonte de nossa segurança. Colocar-se humildemente aos pés do Senhor, falando-lhe todas as nossas dificuldades. Ele nos prometeu, nos Evangelhos, que nunca iria nos abandonar. Nunca!
Durante uma Hora Santa, diante do sacrário, minha mente viajou um pouco até o deserto do Saara, em Tammanrasset e Assekren, onde nosso querido irmão Carlos de Foucauld fazia suas horas santas, mais santas e prolongadas que as minhas.
Jesus, o Deus Todo-poderoso e infinito, se encerrou como prisioneiro de um pedaço de pão, a hóstia consagrada. Não é mais pão, mas sim o seu Corpo, Sangue, alma e divindade. Quanta nobreza e santidade! Eu me sinto um nada diante de tanta majestade, mas assim uma dignidade que só o é por causa da sua bondade e da sua misericórdia.
Por outro lado, vejo muitos padres, nas missas, trocarem o “Deus Todo-poderoso” por “Deus misericordioso”. Entendo a boa intenção deles, mas... como eu escrevi a um padre de Aparecida que sempre faz isso, e não diz uma só vez o “Deus Todo-poderoso”, penso eu que só tem sentido Deus ser misericordioso se ele for Todo-poderoso! É porque ele é poderoso que pode ser misericordioso. Quanto mais poderosa uma pessoa é, mais tem sentido a sua misericórdia. Ninguém supera Jesus em sua humildade, justamente porque ninguém também o supera em seu poder.
Diante do sacrário, como o Irmão Carlos de Foucauld, sinto minha miséria e meu nada. Mas estou numa situação privilegiada, ao poder estar aqui diante de Jesus Eucarístico, como esses santos todos que o adoraram na Eucaristia. E só agora entendi o que Jesus disse em Marcos 10,30: ”Quem deixar (tudo)(...) por meu amor, receberá o cêntuplo nesta vida e, no século futuro, a vida eterna” . O cêntuplo que esses santos todos receberam é a paz e a ternura que sentiam emanar da Eucaristia e se irradiar em suas vidas, envolvendo-=os totalmente. Escolheram não ter família de sangue, mas onde estiveram, encontraram suas famílias espirituais.
É o que disse o Cardeal Van Thuan ao ser preso logo depois de ser ordenado bispo, no Vietnam, em que passou 13 anos na cadeia, sendo 9 de solitária, ao se ver sem todo aquele apostolado que teve de deixar: “Escolhi Deus, e não as suas obras”. Servir a Deus em qualquer lugar, sem estar preso a nada e a ninguém, esse é o “cêntuplo” prometido por Jesus, pois disso provém uma paz indescritível, seja qual for a situação do indivíduo, seja qual for a comunidade em que ele esteja inserido (ou mesmo obrigado a ficar).
Vejo tantos e tantas se lamentarem por mil e um motivos muitas vezes até fúteis, viverem sempre aborrecidos e tristes, por terem suas vidas limitadas por isto ou aquilo. Quem escolhe servir a Deus não tem nada a desejar, pois, como disse Santo Agostinho, “Quando Deus for tudo em todos não haverá mais desejos, pois Deus é tudo o que alguém pode desejar”.
Ao lado do altar diante do qual estou, há um vaso com uma folhagem que deve ter uns 40 cm de altura. Olhei para ele e, a muito custo, vi umas florezinhas bem pequenas, de um vermelho muito vivo, muito bonitas. Elas nasceram ali e talvez vão morrer sem que ninguém mais as vejam ou as tenham visto.
Pois é isso mesmo que eu vejo acontecendo com todas essas pessoas negativistas: toda uma vida floresce, e poucos tomam consciência disso. O próprio Jesus nos mostrou isso, ao contar-nos parábolas sobre o Reino de Deus, como as da semente, que cresce sem que ninguém perceba, e dá frutos e flores. Ou mesmo como o fermento que leveda, mas se perde na massa, ou ainda como o açúcar, que, para adoçar, tem que desaparecer no líquido em que é colocado.
Vejo isso acontecendo entre nós: o isolamento e o sofrimento a que a vida submete as pessoas, por doenças ou impossibilidades, podem estar escondendo flores bonitas, coloridas, vivas, regadas pelo próprio Deus, com suas generosas graças. São pessoas às vezes destruídas física e espiritualmente, sofridas, mas frequentemente o são por causa dos vícios, pecados, egoísmo, vaidade, prepotência, ambição exagerada, orgulho... É preciso uma purificação, como diz Hebreus 12, 10, a fim de que “Deus possa nos infundir sua santidade” .
Este instante de deserto, diante do Santíssimo, é muito fértil! Estes momentos de união com Jesus Eucarístico alimentam minha vida de modo surpreendente. Vejo que isso ocorreu, com muitos mais frutos, com os santos, como o Irmão Carlos, Irmãzinha Madalena, Santa Catarina de Sena, Sta. Teresa de Ávila, Sta. Teresinha, S. João da Cruz, S. João Maria Vianney, Pe. René Voillaume, Dom Helder, Irmã Doroty... e, neste instante, eu me uno, pequenino e imperfeito, a todos eles. Meu quarto, neste instante, mesmo rodeado de ruídos, é o Assekren do Ir. Carlos. Como Eremita de Jesus Misericordioso, saboreio o silêncio do meu coração e o de Jesus, à minha frente.
Maria, cuja imagem está ao lado da Eucaristia à minha frente, faz-me lembrar que ela foi o primeiro sacrário, o sacrário vivo de Deus na terra. E sinto um tremor de emoção. Lembro-me da Irmã Ildefonsa (IMC), nas missas em latim, dizer, em português, na hora da consagração, algo parecido com isto, comporto pelo Dom Henrique Golland Trindade:
“A consagração. Grande silêncio, recolhimento profundo. Momento soleníssimo, santamente terrível, em que tremem os anjos e todos os que têm fé. O Deus vivo, santo e justo, diante de nós. Adoremo-lo, e digamos, como o Apóstolo (Tomé), antes incrédulo, olhando para a hóstia e para o cálice: 'Meu Senhor e meu Deus' – é o corpo e o sangue de N. Sr. Jesus Cristo”.
A irradiação da Eucaristia, como dizia o Pe. Teillard de Chardin (veja texto neste blog), é uma realidade inquestionável (pelo menos para nós, católicos). Da hóstia em que se encerra, Jesus se irradia em todo o redor, e aglutina tudo a si. Como Jesus disse a Santo Agostinho, “ao me receberes, não sou eu que me transformo em tua carne, mas és tu que te transformas em mim”.
Estar diante do sacrário, diante do Santíssimo, é como estar no céu, diante de Deus. O próprio Jesus está ali, à nossa frente, ouvindo-nos e falando conosco.
A vantagem é que nós não precisamos deixar de lado nosso dia-a-dia, o “mundo”, mas podemos trazer tudo o que estamos vivendo e coloca-lo diante do Senhor.
Ele é homem como nós, de Deus como o Pai e o Espírito Santo, e intercede por nós diante de Si mesmo, pois é 100% Deus. É o homem sentindo nossas queixas humanas, mas acolhendo-as como Deus que é.
Hoje é domingo. Tive um dia cheio, muitas conversas, muitas distrações. São 18 horas e estou terminando a minha Hora Santa diária. Coloquei tudo o que vivi hoje diante de Jesus, pena que de modo imperfeito, às vezes com cochilos e distrações involuntárias, mas com resultado incrível de paz e de harmonia internas. Eu rezei também por você, leitor (a).
A contemplação não é uma ilusão, mas uma veraz realidade, maravilhosa, que nos une amorosamente com nosso Salvador e Redentor.
Eu não sei o que seria de mim se não fosse a Eucaristia. É Jesus Eucarístico que tem-me dado forças e coragem para vencer tudo o que eu tenho passado na vida. Quem me conhece sabe do que estou falando.
Aqui eu estou simplesmente repassando para vocês o que tenho sentido e vivido todos esses anos de minha velhice: estar com Jesus Eucarístico é estar no paraíso, é fortalecer-se, irmanar-se, é perceber o quanto Deus nos ama.
E, diante do sacrário, dentro de uma harmonia maravilhosa, sinto também a presença viva de Maria, que nunca deixa Jesus, e do meu anjo da guarda, o Ambrósio.
Não sei mais o que dizer para explicar essa maravilha. Só lhes digo uma coisa: estar diante do sacrário é o paraíso.