(11/12/2011)
Um amigo meu que trabalhou por certo tempo num alojamento do meio do mato conta muitas experiências. Uma delas é de seu trabalho como professor (ele morava dentro do alojamento com os demais).
Muitas vezes eu me perguntei se não era burrice dele querer estar ali com aquelas pessoas tão diferentes.
Ele via com tristeza quanta preguiça tinham em aprender as lições que ele preparava com tanto carinho! Quantos analfabetos que continuarão analfabetos! Quanta indiferença! Parecia que adoravam aquele tipo de vida descompromissado e alheio a tudo.
Muitos ficavam devendo muito aos traficantes de maconha, e viviam desesperados por dinheiro. Certa vez roubaram quinze reais do meu amigo. Ele ficou quieto, pois sabia quem fizera isso. O que roubou não suspeitava disso.
É difícil lidar com dependentes químicos. Eles dão tudo o que têm. Alguns chegam ao cúmulo de se prostituirem para pagar as dívidas!
Muitas vezes, como estava comentando, eu me perguntava o que meu amigo fazia ali. Por que fazer o bem? Por que ajudar os outros?
Conheço pessoas que só fizeram o bem e se deram mal, ao contrário do que pensamos. Foram, alguns deles, caluniados. Um outro amigo meu foi até preso, por pura calúnia. E como se dedicava aos outros!
Ele me escrevia que, quando pensava em desistir, ou como dizemos “dependurar as chuteiras”, meditava em Jeremias:
“Seduziste-me, Senhor, e eu me deixei seduzir! Tu te tornaste forte demais para mim, tu me dominaste”!
E também:
"Isto era em meu coração como um fogo devorador, encerrado em meus ossos”.
E Jeremias não desistiu nunca! Não conseguia ficar sem obedecer ao Senhor. Assim também pensa o meu amigo.
Você se sente desse mesmo jeito? Incapaz de desistir? Nós recebemos muita ingratidão e incompreensão em nosso trabalho; mas não podemos desistir. Deus respeita a liberdade de todos, mesmo dos maus, e não nos liberta de infortúnios feitos pelas outras pessoas, mas nos conforta e nos liberta das prisões internas. Diz o salmo 55(56), 9, na bela tradução da liturgia das horas:
“Do meu exílio registrastes cada passo, em vosso odre recolhestes cada lágrima, e anotastes tudo isso em vosso livro”.
Isso nos dá uma luz, um esperança e uma segurança incríveis! Deus vê nosso coração, nossa vida, e estamos em suas mãos! Que ele nos recompense, já está mais do que bom ! Diz o mesmo salmo, vers. 5-6:
“Quando o medo me invadir, ó Deus Altíssimo, porei em vós a minha inteira confiança!”
E o salmo 72 (73), v. 25: “Para mim, o que há no céu fora de vós? Se estou convosco, nada mais me atrai na terra!”
Às vezes ficamos angustiados e frustrados com a ingratidão das pessoas com quem trabalhamos, sentimos que qualquer bem que lhes façamos não será agradecido, mas no meio disso tudo alguma semente ficará, e será germinada, florescerá, dará frutos e será colhida por Deus Altíssimo.
Para que fazer o bem? Para agradecer a Deus por todo o bem que ele nos faz, que pelo menos de nossa parte ele não receba ingratidão.
O sacramento não é algo mágico. Ele pode até acontecer sem a fé, mas não atua, não é eficaz, se não o recebermos com reta intenção, com o desejo verdadeiro de uma mudança radical de vida.
Quando pecamos, nós é que nos afastamos de Deus. Ele sempre está conosco. É como o filho que sai do carro dos pais numa estrada. Garanto-lhes que o pai e a mãe seguirão o filho, com o carro, até que ele resolva novamente entrar. Nesse caso, “pedir perdão’’, da parte do filho, é apenas perguntar aos pais se ele pode entrar novamente no carro”.
A misericórdia de Deus é infinita. Como nos diz Rom 8, 31 -39, nada neste mundo pode nos separar do amor de Cristo. Só nós, de livre e espontânea vontade, conseguimos nos separar dele.
Jesus mandou-nos perdoar a todos. Ele é justo santo é sábio e vai também nos perdoar. Ele deu oportunidade até aos mortos de irem ao céu, como os que aguardavam desde o tempo de Noé, em 1° Pd 3, 18 -20. Jesus lhes deu uma 2° chance, mesmo depois de mortos. Ora, nós ainda estamos vivos! Creiamos na misericórdia divina!
O problema está na sinceridade ou não com a qual recebemos os sacramentos. Não tem sentido essa “maratona” de confissões que fazemos e sempre continuamos na mesma! Jesus nos diz em Apoc 3, 20: “Eis que estou à porta e bato. Quem ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei e ele comigo”.
O mesmo se diga dos casamentos. Muitos já se casam pensando na separação! Às vezes não estão com nenhuma certeza se é aquilo mesmo que querem. Quantos casamentos nulos!
Na Bíblia vemos muitos trechos em que Deus apela para uma conversão sincera das pessoas para continuar a dar seu apoio, sua graça e seu perdão. Vejam alguns exemplos:
Jer 7, 3: Deus pede que endireitemos nossos caminhos e maneira de agir, para morar conosco, praticando a misericórdia para com o próximo, a viúva, o órfão, os necessitados e doentes. Jer 3, 9-11: Deus lembra que as pessoas adoravam outros deuses (podemos compará-los com os de atualmente, como dinheiro, artistas, sexo, poder) e iam oferecer no templo um sacrifício (holocausto) e saíam felizes, dizendo: “estamos salvos”, para continuarem os seus pecados. “Será esta casa (...) um covil de salteadores aos vossos olhos?”. 2° Crôn 7 14: Deus diz que só perdoará o povo e libertará a terra dos males se o povo abandonar os maus caminhos, orar, buscá-lo. João 8, 10-11: Jesus perdoou a mulher adúltera com uma condição: “Vai e não peques mais”.
A recepção dos sacramentos deve transformar a nossa vida de modo radical. Se um cachorro comer uma partícula consagrada que por acaso tenha caído no chão, não vai deixar de ser um simples cachorro, sem alma, mortal. Isso nos mostra que a ação dos sacramentos não é, pois mágica, mas depende de nossa boa vontade e de nossa ação em direção a santidade.
Paulo Apóstolo diz em 1° Cor 11, 27-29 que quem receber a Eucaristia em pecados, sem uma intenção pura, será “Culpado do corpo e do sangue do Senhor, porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor”. Ele também diz algo mais forte em 1ª Cor 10,21:“Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não podeis ser participantes da mesa do Senhor (ou seja, da comunhão) e da mesa dos demônios!”.
Se não houver o arrependimento, pelo menos deve haver o propósito de não mais pecar. O arrependimento deve ser pedido a Deus, pois é um dom. Aos poucos, Deus vai nos colocando no coração uma dor pelos pecados já confessados e perdoados. Nós temos apenas uma vida. Passamos penas uma vez por esta terra, e não podemos desperdiçá-la (Hb 9,27).
Precisamos vigiar para não deixar que nenhum pouquinho de pecado e de maldade penetre em nosso ser! Basta dizer que você colocou um pouquinho só de cocô de cachorro num bolo, para ninguém querer comer dele (Joyce Meyer). Os sacramentos nos fortalecem, se quisermos, para que nunca mais pequemos e para que nos santifiquemos no caminho de nossa vida.
A santidade ou é total e completa, ou não existe!. É o que nos diz Apoc. 3, 15-16: “Oxalá fosses frio ou quente! Assim porque és morno, e não és nem frio nem quente, vou vomitar-te da minha boca”. Jesus nunca suportou pessoas fingidas e orgulhosas (vide parábola do fariseu e publicano, Lc 18, 9-14). João 3,5: renascer pelo batismo.
S. João Maria Vianney era enérgico e exigente nas pregações e nas confissões, mas ocorriam a ele pessoas de todos os lugares. Essas pessoas viam firmeza e segurança em suas exigências.
São Carlos de Foucauld escreveu a Henry de Castries, em 14/08/1901, dizendo que “essa paz infinita, essa luz radiosa, essa felicidade permanente que eu gozo há 12 anos” se deve a três coisas:
1- rezar muito;
2- escolher um bom confessor e seguir com cuidado seus conselhos;
3- ler, reler, meditar o Evangelho, esforçando-se em praticá-lo.
Quero lembrar a todos que o Beato Irmão Carlos de Foucauld havia sido, em sua juventude, uma pessoa entregue aos prazeres da vida. Bebia bastante, fazia banquetes frequentes e tinha uma amante francesa, chamada Mimi, ao lado de uma considerável riqueza.
Tudo isso não lhe trouxe paz nem felicidade. Ele só as encontrou justamente renunciando a tudo isso e abraçando uma vida pobre, ao mesmo tempo de eremita e de apóstolo, no meio dos tuaregues, no deserto do Saara.
No deserto sua vida era bem pobre e sacrificada. Rezava oito horas por dia, fazia muitos jejuns (mesmo não querendo fazer jejuns lá não havia facilidade em conseguir comida) e trabalhava afincadamente, sobretudo na confecção do dicionário da língua tuaregue.
Talvez possamos meditar esta página aplicando-a à nossa vida, sobretudo aumentando o nosso tempo de oração, pois, quem reza, tem a orientação plena de Deus.
11/11/16
Muito se fala sobre o amor, mas poucas vezes se fala sobre certos atos de individualismo que fazemos mesmo com as pessoas que amamos. Vou contar um exemplo disso: Quantas vezes certas pessoas individualistas comem a parte carnosa da melancia e deixam a parte perto da casca para os outros! Todos têm o direito de comer um pedaço também do miolo da melancia! Pense bem! Você já não fez isso algum dia?
Quando temos que escolher qualquer coisa em meio a outras pessoas, nossa tendência é escolhermos as melhores peças e deixar as os para os outros. Isso é comum não só em alojamentos, “repúblicas” de jovens, mas também nos seminários e nas reuniões festivas dos padres.
Um padre meu amigo, no almoço após uma reunião numa chácara, pegou tantos pedaços de frangos, que comeu mal comidos, que faltou a outros padres. E era um padre considerado na cidade! Eu fiquei mal ao ver isso.
Confesso-lhes que minha ideia sobre esse padre mudou muito. Precisamos aprender a pensar nos outros!
Outras pequenas faltas de caridade: comer de boca aberta (argh!), fingir que está dormindo, no ônibus, para não dar o lugar a alguém mais necessitado, furar a fila seja do que for, não devolver o troco dado a mais, colar nas provas, ludibriar os outros (como por exemplo vender carros ou aparelhos com defeito, sem alertar o comprador), querer tirar vantagens em tudo, falar mais que ouvir, não acolher as qualidades dos outros, mesmo que sejam melhores ou maiores do que a nossa, não saber pedir perdão etc.
Enfim, pensar sempre nos outros, mais até do que em nós mesmos, como diz São Paulo Apóstolo. Isso não é fácil, mas se praticado vai nos elevar na santidade e agradará muito a Deus, que sempre pensou em nós.
21/03/16
Perdi-me na mata e começou a chover. Por sorte encontrei uma cabana que me acolheu. Lá eu jantei e sequei minha roupa. No dia seguinte, de manhãzinha, o Sr. João Felipe levou-me à cidade, no seu cavalo. Eu nunca havia montado antes um cavalo! Foi difícil!
Esse casal, o Sr. João Felipe e a dona Francisca, entraram em minha vida de modo maravilhoso e oportuno. Tudo neles era perfeito: a alimentação deliciosa, magnífica, apesar de simples e pobre.
A conversação deles era profunda e orientadora. Eu tinha meus 36 anos de idade (faz tempo!) e isso me fez muito bem. Nunca mais pude voltar àquele bosque, nunca mais os vi, mas fiquei marcado pelas poucas horas que com eles convivi.
Ontem foi Domingo de Ramos. Naquele tempo, o mundo estava, como eu, perdido, sem saída, e aí apareceu Jesus Cristo, Deus feito homem, que precisava viver como nós em tudo, menos o pecado. Jesus nunca agiu em proveito próprio, ou seja, viveu plenamente os limites humanos, sem deixar de ser Deus.
No meio do nada, o mundo conheceu Jesus. Alguns o acolheram, outros, ainda não. Quem não o aceita continua “perdido na mata” como aconteceu comigo. Quem o aceita, encontra a saída, a liberdade, a salvação, como foi o meu caso, em que encontrei aquele tão bondoso casal.
Aos que ainda estão “perdidos na mata”, eu aconselho a buscar Deus com pequenas orações multiplicadas durante o dia, do tipo “Jesus eu vos amo”, “ Jesus me ajude”, “Jesus me perdoe”, “Maria, me leve a Jesus”. Também a rezar o Pai-Nosso e a Ave-Maria várias vezes por dia.
Depois, faça uma lista do que você faz e peça a um(a) amigo(a) para ajudá-lo (a) a decidir o que é necessário, nocivo, útil, supérfluo naquela lista.
Se você tiver algum problema interno que não entende, procure a ajuda de um(a) psicólogo(a). Se for alcoólatra, procure o AA. Se é dependente químico, o NA ou grupos que cuidam disso.
Tudo isso eu encontrei naquela tarde maravilhosa em que me perdi na mata e encontrei o casal mais importante de minha vida, o Sr. João Felipe e a D. Francisca. Você também pode encontrar pessoas amigas que o(a) ajudem, mas é necessário muita humildade para acolhermos as ideias alheias. Muitos se consideram auto suficientes e nunca buscam ajuda. Nós precisamos uns dos outros e, sobretudo, da graça santificante de Deus.
(set. 2016).
Muitas pessoas resmungam o tempo todo de coisas adversas que ocorrem ao seu redor. Reclamam de tudo e de todos!
Nestes dias, ao queixar-me de algumas coisas ruins que me aconteceram, passei algum tempo refletindo sobre o assunto.
Comecei lembrando-me dos doentes, os que não se podem locomover, os analfabetos, os excluídos, os que não se conseguem fazer entender ou não entendem o que se passa ao redor, e percebi o quão “light” está a minha vida!’ Eu “choro de barriga cheia”, como diz o ditado.
Pedi a Deus perdão desses meus choramingos e lhe agradeci por tudo, até pelas contrariedades que encontro pela frente, e me empenhei em aprender a viver o aqui e o agora, ir vivendo como as coisas forem ocorrendo, e procurar ser feliz ou pelo menos viver em paz, apesar dos problemas.
Deus nos ama com um amor eterno, diz Jeremias 31,3, e não vai nos permitir o que possa nos privar da vida eterna. Isso é o bem para Deus; que estejamos um dia no céu. Tudo o que ele nos permite, se o permitimos entrar em nossa vida, é para o nosso próprio bem.
Nós costumamos pensar que “nosso bem” é tudo o que nos dá prazer nesta terra. Engano puro! Deus nos permite o “remédio amargo”, quando necessário, pois certas vezes é o único que funciona e “nos cura”. Leia Hebreus 12,4-10 e verá como Deus age! Como o pai castiga o filho para preservá-lo do mal, assim Deus nos permite o sofrimento “ a fim de nos transmitir sua santidade” (v. 10).
Vale a pena, pois, suportarmos nossas dificuldades “sem murmurações nem contendas” (Filipenses 2,14), e agradecermos a Deus pela oportunidade que nem os anjos têm, de oferecer-lhe algo que é nosso, como a paciência, a generosidade com que enfrentamos nossas lides diárias, “completando em nós o que falta à paixão de Cristo” (Colossenses 1,24).
03/06/2012
Um meu amigo padre havia ido a alguns doentes para levar comunhão e atender suas confissões, se fosse necessário. A casa do sr. Antônio era a última da lista. Ele havia sofrido um ou vários derrames e estava semi-paralisado na cama. Sua sogra, de 80 anos, foi quem atendeu o meu amigo, que estava acompanhado de uma ministra dos doentes. A esposa do Sr. Toninho fazia café.
A senhora idosa insistiu que tomassem o café que tinha acabado de ser passado, “enquanto estivesse quentinho”. Ao sentar-se à mesa para tomá-lo, o meu amigo padre percebeu a dificuldade com que a mulher respirava.
Preocupado com isso, ele falou à mulher que aquilo não era normal e que devia ir ao hospital para fazer uma checagem. Por via das dúvidas, ofereceu-se para ouvir sua confissão, dar-lhe a Unção dos Enfermos e metade da comunhão do sr. Toninho. Ela aceitou. O padre também deu-lhe a indulgência plenária “in vínculo mortis”, que se concede a quem está em vias de morrer.
Após ministrar a ela os sacramentos, ele brincou com a mulher: “Se a senhora morrer, quero que me faça um favor! Chegando lá no céu, fale a Jesus que ele pode permitir qualquer coisa na minha vida, desde que possa me levar ao céu quando eu morrer”! Ela concordou com isso, mas também pediu algo: “De minha parte, peço ao senhor que cante uma música de N. Sra. no meu velório”.
Ambos concordaram com o combinado, e o meu amigo padre foi embora para sua casa, e a ministra para a dela.
No dia seguinte, de manhãzinha, o padre atendeu à campainha: alguém o chamava para ministrar as exéquias a uma senhora que havia falecido. Qual não foi sua surpresa quando chegou à casa que tinha ido no dia anterior! Era a velha senhora que morrera. Logo que ele saiu, ela pediu para a filha levá-la ao hospital e foi constatado que estava em pleno processo de um infarto. Foi internada na UTI, mas não resistiu.
O meu amigo padre cumpriu a promessa: cantou a música de N. Sra. Escolheu uma conhecida de todos, para que o acompanhassem: “Com minha mãe estarei”. Entretanto, voltou para casa apreensivo e temeroso: “ E se ela cumprir a parte dela? Estou perdido!”.
Dito e feito! A senhora idosa cumpriu o prometido! Meu amigo padre, alguns meses depois disso, sofreu uma série de problemas.
Que senhorinha leal! Não é que ela cumpriu mesmo o prometido? Ela contou a Jesus o que o padre havia falado e Ele sentiu-se “à vontade” para permitir ao meu amigo o sofrimento, talvez necessário para sua purificação, a fim de que possa entrar no paraíso.
Moral da história: “Em boca fechada não entra mosca”!
11/06/2019
Quem se propõe a obedecer deve ser sincero nisso. Há pessoas que acham estar obedecendo, mas na verdade estão fazendo a própria vontade.
Entre as coisas difíceis de uma vida eremítica ou consagrada está a obediência verdadeira. Os que seguem a vida religiosa dizem que é mais difícil obedecer do que viver a castidade.
A desobediência às vezes é sorrateira como o demônio. Aliás, ele é mestre em colocar erros nas ações das pessoas que pensam estar seguindo uma vida santa mas na verdade estão sendo enganadas pelo demônio.
Vou dar alguns exemplos para me explicar melhor:
É algo simples, não é grave, mas é um ato de desobediência: um rapaz de seus 35 anos vai diariamente à missa. Acredito que ele deve ter feito alguma promessa ou algum propósito e segue um tipo de ritual próprio: na hora da leitura do evangelho, fica de joelhos. Não abre as mãos para rezar o Pai-nosso. Se há abraço da paz, não cumprimenta ninguém. Etc.
Em vez de estar fazendo penitência, ele está se mostrando individualista e desobedecendo as normas litúrgicas. Quando estamos na missa, devemos seguir as rubricas, as normas litúrgicas para cada cerimônia. É o que permite estarmos unidos de verdade com os demais que estão ali na igreja. Isso pode ser fruto de tentação do demônio, pois o demônio caiu do céu por causa da desobediência. É o pecado que ele mais gosta de enfiar em nossa cabeça. Se você estiver sozinho, reze na posição que desejar: sentado, deitado, em pé, de joelhos... Mas, quando estiver em comunidade, siga as normas litúrgicas. Se você não as seguir, está faltando com a obediência.
Outro exemplo de individualismo: quando você está rezando com os demais, não pode ficar declamando a oração. Deve rezar em uníssono com os demais. Não tem sentido ficar enfatizando uma ou outra palavra em detrimento de outras. Veja os monges e monjas como rezam! Tudo em uníssono! A comunidade tem preferência sobre a individualidade. Quando estiver sozinho(a), declame como quiser! Mas, em comunidade, não declame: reze em reto tom.
Nos conventos e comunidades, sejam elas de que tipo forem, a obediência é uma condição indispensável para que haja condições de permanência. Se cada um fizer o que bem entender, a vida comunitária será impossível de ser vivida.
Se você for eremita, mesmo assim siga uma regra, uma norma de vida. Isso vai fazer você ficar mais seguro e progredir no caminho da santidade. Temos menos trabalho em seguir uma norma, uma regra predeterminada e aceita do que ir vivendo a vida sem regra alguma.
Há algumas associações até religiosas que, por exemplo, não têm facilidade em obedecerem ao Papa. Se continuarem assim, nunca vão acertar o caminho. Na obediência está a verdade.
Numa penitenciária há regras e normas entre os presos que são seguidas à risca. Graças a elas, eles podem viver numa certa tranquilidade. Ai de quem violar essas normas! E há muitas delas combinadas entre eles mesmos, não tem nada a ver com os carcereiros.
Se você vive uma vida em família, procure estabelecer algumas normas indispensáveis e a vida será mais tranquila e fácil de ser vivida. Hora de chegar, hora de sair, lavar certas louças após o uso, dar descarga no vaso sanitário, não espremer o tubo de creme dental etc.
Quando resolvemos seguir os caminhos de Jesus, as provações e dificuldades nos seguem e até nos oprimem, se não pedirmos Sua proteção. Quem fala isso é o Eclesiástico 2,1-18: Somos provados em nossa fé, esperança e caridade como o “ouro é provado no cadinho” (v.5); “Confie no Senhor e Ele o ajudará; seja reto o seu caminho, espere no Senhor” (v.06). “Todos os que confiaram no Senhor não ficaram desiludidos” (v.10); “O Senhor é compassivo e misericordioso, perdoa os pecados e salva do perigo” (v 11); “Ai do pecador que anda por dois caminhos” (v.12); “Ai de vocês que perderam a paciência!” (v.14); “Cada um de nós se coloque nas mãos do Senhor, e não nas mãos dos homens, pois a misericórdia dele é como a sua grandeza”(v.18).
Deus é misericordioso porque é Todo-poderoso. Ele é onisciente e sabe do que precisamos. Por que então nos preocuparmos? Por que termos medo do futuro? Coloquemo-nos em suas mãos! (Mateus 5;6;7; MT 6,25-32). O versículo 5 do trecho acima do Eclo 2, lembra que seremos provados como o ouro no cadinho. É muito bonita essa comparação se a entendermos: O ouro é um metal nobre e não faz liga com nenhum outro metal; apenas se mistura. No cadinho, sobre o fogo, ele se derrete e se desliga de todos os outros metais com os quais está misturado e sai, puro, do outro lado. Pela provação, pelos sofrimentos, pelas contrariedades, somos purificados de todas as impurezas com as quais nos misturamos em nossa vida de pecadores, e iniciaremos uma nova vida de conversão puros, sem mistura alguma com o que desagrada a Deus, “para que Deus nos infunda a sua santidade” (Hebreus 12,10).
Nunca duvidemos do poder, da sabedoria e da graça de Deus, e não tenhamos medo (como o Apocalipse inteiro nos mostra)! Joyce Mayer, pastora evangélica americana, diz que Jesus nos proibiu de termos medo, mas não de suarmos frio e tremermos. Jesus não teve medo, mas até suou sangue!
Muitos sofrimentos que temos são grandes e parecem infindáveis. Às vezes nos dá a impressão que colocaram obstáculos, pedras, muros, desvios, barreiras em nosso caminho. Certo dia eu estava me sentindo assim, sem conseguir ver a luz no fundo do túnel, quando, na Missa, cantamos o “Tu és, Senhor, o meu Pastor, por isso nada em minha vida faltará”... Percebi que se não fechasse os olhos, eu me desataria em lágrimas. Eu não podia chorar, pois era eu quem estava “puxando” o canto, de microfone na mão. Disse então a Deus, em desabafo, algo parecido com isto: “ Meu Deus, são muitos obstáculos! Parece que tudo está se fechando em minha frente! Por que tanto ódio e algeriza nas pessoas? Quantas pessoas procurei ajudar! Parece que isso não valeu nada!”
Aos poucos fui percebendo que talvez eu estivesse cansado, e que tudo iria passar. Lembrei-me de Isaías 25,8 e Apocalipse 21,4|: “O Senhor enxugará toda lágrima de nossos olhos”. Também de Santa Faustina: “Ó tempo presente! Tu me pertences totalmente!” e Santa Teresinha: “Quero amar-vos, Senhor, só por hoje, nada mais!” Resolvi, então, deixar nas mãos de Deus o meu futuro e comecei a “degustar” o tempo presente. Olhei a Eucaristia, que é Jesus, meu companheiro de caminhada, e a nuvem passou.
São Paulo Apóstolo fala, em Filipenses 3,8-16:
“Tudo considero como perda, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor. Por ele, perdi tudo e tudo tenho como esterco, para ganhar Cristo”. (...) “Irmãos, (...) Esquecendo-me do que fica para trás e avançando para o que está adiante, prossigo para o alvo, como prêmio da vocação do alto, que vem de Deus em Cristo Jesus”(...) “ Entretanto, qualquer que seja o ponto a que chegamos, conservemos o rumo!”.
Percebi, a duras penas, que a provação se faz necessária para forjarmos uma vida santa e fortalecermos a esperança, como nos diz Romanos 5,3-5: “(...) Nós nos gloriamos na tribulação(...) que produz a paciência(...) que produz a experiência(...) que produz a esperança(...) que não engana, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações, pelo Espírito Santo, que nos foi dado”.
(set. 2015)
Lendo a bíblia vemos como Deus deixava de dar sua ajuda ao povo quando este pecava. No êxodo vemos muitos casos dessa atitude divina.
Na verdade, Deus nunca nos castiga. Ele simplesmente se retira do “caso” e deixa que as coisas continuem acontecendo aleatoriamente. Isso é muito pesaroso para nós, pois precisamos muito de sua ajuda, de sua presença.
Eu tenho para mim que, quando pecamos, ficamos sozinhos na “estrada”. Deus não se “mistura” com o pecado e respeita o pecador, deixando-o sozinho.
O pecado nos afasta de Deus e de sua ajuda. Aliás, isso deveria ter um poder tremendo sobre nossas decisões, a fim de que, quando pecarmos, possamos logo pedir perdão e nos comprometermos a não mais pecar, a fim de que Deus não nos deixe sozinhos com nossas “encrencas”.
Quando pedimos perdão com sinceridade e procuramos viver na presença de Deus, tudo flui, tudo se torna mais fácil e realizável. Nossos projetos se realizam, nossa vida é conduzida pela mão divina como o carrinho do bebê é empurrado pelas seguras mãos da mãe.
Eu acho errado “pôr nas costas de Deus” a suposição de que ele condena os que pecaram. Ele está mais a fim de salvar, de aproveitar os pecadores para a vida eterna. Se o fulano não quer, não acredita nele, não confia que ele possa tirá-lo (a) daquela situação, como isso fica?
Pense bem: Deus simplesmente “cruza os braços” e deixa que as coisas aconteçam, sem interferir nelas, quando o abandonamos.
10/05/2019
Muitas pessoas sofrem com seus problemas pessoais que contrastam com aquilo que ensina a Igreja ou que a sociedade exige e tentam, tresloucadamente, descobrir as origens desses problemas para vencê-los ou para eliminá-los. Na ânsia de viverem livres deles, acabam reprimindo-os, recalcando-os, e eles voltam com mais força.
O recalque é como você afundar na piscina uma bola cheia de ar: quanto mais você a afunda, mais força ele tem para vir à tona. Isso é uma lei da física de ação e reação, a terceira lei de Newton. Ela pode ser enunciada da seguinte maneira: “Para toda ação (força) sobre um objeto, em resposta à interação com outro objeto, existirá uma reação (força) de mesmo valor e direção, mas com sentido oposto”.
Na espiritualidade isso também funciona desse modo. Ao recalcar, reprimir uma paixão, mais forte ela volta. A solução é fazer como muitas comunidades monacais fazem: conviver com o mal de modo humilde, sabendo que somos pecadores, seres humanos limitados. Você sabe que está rodeado pelo mal, mas sabe também que tem força para vencê-lo, se pedi-la a Deus. Se permanecermos humildes, veremos que “não temos como construir a casa”, como aquela parábola de Jesus, e vamos pedir ajuda a ele.
Um modo vaidoso e prepotente de viver seria tentar recalcar as paixões, para que elas não incomodem mais: o resultado, como já disse acima, seria uma “revanche” da paixão, retornando mais forte.
Jesus convivia com o mal. Ele convivia com os pecadores, de onde a gente presume que vinha o mal. O que ele buscava não era matar os pecadores para eliminar o mal, mas tentar trazê-los para o bem, para o verdadeiro caminho.
Muitas religiões consideram o cristianismo um mal e tentam acabar com os cristãos. Isso acontecia na Roma antiga, e o efeito foi contrário: o cristianismo cresceu, floresceu. Que maravilha poder ver, por exemplo, muçulmanos convivendo com cristãos! Como dizia Isaías no início de seu livro, lobos e cordeiros pastando juntos!
Eu já havia escrito um texto parecido com este em 2016 e transcrevo logo a seguir uma parte do texto.
05/03/2016
Eu estou dentro de uma determinada realidade e não adianta negá-la. Seria um desastre para o meu psiquismo. Negar a realidade é a maior causa de suicídios, depressão, tristeza, desespero, desistência. É preciso enfrentar a realidade em que vivemos, pois se não fizermos isso, acabaremos recalcando o fato.
Recalque é algo pernicioso para nossa vida. Recalcar é, por exemplo, o diabético dizer para si mesmo que o bolo que está à sua frente não presta, está mal feito, está ruim. Este recalque vai impulsioná-lo a comer o bolo todo. Não recalcar seria enfrentar a realidade do diabetes e fazer para comer uma gelatina dietética, por exemplo, mesmo assumindo o fato de que o bolo deve estar uma delícia.
Por que há tantos drogados e alcoólatras? Porque isso lhes dá prazer; para eles, é algo bom. Se não fosse bom, não haveria viciados!
Recalcar é, pois, como afundar uma bola de futebol numa piscina: quanto mais fundo a colocarmos, com mais força ela aflorará.
O primeiro passo para sairmos de uma realidade que não nos agrada é assumirmos e acreditarmos nessa realidade, ou seja, nos conscientizarmos de que ela nos pertence, nós estamos imersos nela.
O segundo passo é verificarmos nossas armas. De que nós dispomos para “sair dessa”? A quem poderemos recorrer? Quais são os caminhos?
O terceiro passo é tentar mudar essa realidade com as armas do segundo passo, ou, se percebermos que a realidade não pode ser vencida ou mudada, adaptarmo-nos a ela de tal forma que ela não mais nos agrida.
É claro que em caso de pecado, nunca poderemos concordar. Daí, como diz Hebreus 12, 4, é preciso lutar até o derramamento de sangue na luta contra o pecado.
Em relação a nós próprios, isso também é verdade: não adianta querer ser o que não somos. Se você nunca saiu do Brasil, não vá inventar uma viagem imaginária aos amigos. Eles vão pegar você na mentira!
Muitos viajam e não aproveitam a viagem porque perdem muito tempo e oportunidades de relax ao tirarem fotos de modo desesperado. Se você fizer isso, coloque nelas a frase: “Eis os lugares em que me preocupei tanto em fotografar que não tive oportunidade de conhecê-los”. Outra coisa idiota desse tipo é comer uma comida falando em outra. Você já fez ou viu fazerem isso? Acontece muito! A pessoa está comendo frango frito, mas falando de peru assado. Se estiver comendo macarrão, fala da famosa lasanha que sua mãe fazia etc. O inteligente procura saborear e curtir aquilo que está comendo no momento! Isso é enfrentar a realidade!
Numa paróquia rica da qual fui pároco, a promoção humana fez um jantar de Natal para os pobres, mas não levaram em consideração o que aqueles pobres gostavam de comer. Fizeram a comida de que os da classe média gostam. Resultado: sobrou muita coisa. Os pobres não comeram com gosto. O grupo veio falar comigo e eu lhes aconselhei, na próxima festa, fazer o tipo de alimentação que os pobres gostam: macarrão, arroz, feijão, salada simples, sobremesa bem doce.
Foi um sucesso.
Precisamos, pois, enfrentar a realidade, e não inventar uma realidade que não existe. Quando saímos de nossa realidade com ideias estapafúrdias, sonhos impossíveis, apegos ao passado, quando vivemos mais no passado e no futuro que no presente, estamos perdidos. Não teremos passado quando estivermos no futuro! É preciso viver bem o presente, deixar pra lá o passado, que não mais nos pertence, e deixar nas mãos de Deus o futuro, que ainda não chegou. Como dizia Santa Faustina: “Ó tempo presente, só tu me pertences realmente”!
Se cremos em Deus, ficaremos felizes de sempre fazer a sua santa vontade, e tudo o que acontece está sob seu domínio e sua onisciência. Ele sabe tudo e sabe o que será melhor para nós.
Convivamos, pois, com o mal, estudando suas estratégias, captando suas mentiras, procurando seu ponto fraco, e, humildemente, consciente de nossos limites, peçamos a Deus que nos dê força para vencermos.
O pior inimigo é aquele do qual não tomamos conhecimento.
A VOLTA AO PASSADO
(SET. 2015)
Quem costuma ler meus artigos sabe que sempre digo que devemos viver no presente, viver apenas o agora, “deixar as coisas que passam e avançar para as que estão diante de mim” (Filipenses3,13).
Entretanto, para podermos conhecer-nos por dentro, é preciso “visitarmos” o nosso passado e procurar as causas de nossos traumas e problemas psicológicos.
Geralmente essas causas se escondem nas nuvens e neblinas do passado, confusas e misteriosas.
De onde vem, por exemplo, o fato de você não topar cebola na alimentação? E o medo disto ou daquilo? E certas tendências sexuais ou sociais ou psicológicas?
É preciso muita humildade para assumir erros passados, ou fatos negativos passados. Isso nos libertará e nos encaminhará para uma vida melhor, mais autêntica. Não adianta fazer de conta que tudo está bem!
Há um tratamento psicoterápico intensivo (dura um mês), criado pela Dra. Renate Jost Moraes, na http://www.tipclinica.com.br/, FUNDASINUM (BH), que é justamente uma pesquisa de qual fato passado a pessoa herdou o trauma ou o problema que atualmente enfrenta. O(a) psicólogo (a) identifica com a pessoa esse fato e o elimina, modificando-o de negativo para positivo, e o (a) cliente se livra do problema, do trauma, da doença psicossomática etc.
Faça qualquer dia destes uma volta ao passado e identifique o que pode ter saído errado em sua vida. Se não conseguir, tente em outra ocasião.
Sobretudo, coloque-se diante de Deus, que sabe tudo e deixará que o seu Anjo da Guarda, que esteve com você a vida toda, lhe mostre o caminho para você vencer o seu problema.
29/10/2018
Em Lucas 13,6-9, Jesus conta uma parábola em que o dono de uma plantação queria cortar uma figueira que não dava frutos havia 3 anos, mas o homem que cuidava da plantação pediu que o dono desse mais uma chance: ele iria colocar adubo em volta dela, com a esperança de que desse frutos.
Eu pensei muito nesse assunto. Deus sempre nos dá uma segunda chance de recomeçar a vida. Não podemos perder esse momento! Ele pode tudo, pode nos dar força e coragem para lutarmos, para continuar a caminhada.
Entretanto, para que isso aconteça, é preciso ter a humildade suficiente de percebermos que nós "pisamos na bola" muitas vezes e temos que reconhecer que saímos fora do caminho.
Sem essa humildade, não vamos aproveitar a segunda chance. E aí vem o que o vinhateiro disse ao dono da plantação: "Se (depois de colocar adubo) não der (frutos), então tu a cortarás"! (Lucas 13,9).
O "adubo" podem ser as contrariedades e os percalços da vida, os sofrimentos que nos ocorrem.
É aquela obsessão que não nos deixa viver em paz: coisas do passado que, mesmo não mais existindo, ainda apertam o nosso coração. Acabam impedindo nossas ações no tempo presente de nossas vidas.
Vamos ser sinceros: somos seres humanos, limitados, sujeitos às mais diversas paixões e comportamentos, fracos, necessitados de repouso, alimentação, trabalho, lazer, relacionamento de amizade e familiar, e tantas outras coisas; não somos anjos!
Entretanto, percebo que colocamos à nossa frente um protótipo de nós mesmos, do que achamos que devemos ser.
Quando essa conjectura nossa acerca de nós mesmos são motivadas por livros de auto-ajuda, de espiritualidade, de biografias de santos e santas, correm o risco de serem falsas, superficiais, inadequadas à nossa estrutura mental, social, histórica, psicológica, espiritual.
Nesse ponto, partimos para uma luta inglória, frustrada: moldar nossa vida àquele nosso protótipo que colocamos à nossa frente para ser seguido.
Minha gente, esse caminho é perigoso! Queremos viver uma vida de anjos e acabamos cheirando não a perfume celeste, mas a naftalina! E isso nos martiriza cada vez mais, entrando num círculo vicioso que não tem fim!
Vejam bem: Em primeiro lugar, as vidas dos santos preferidos nossos não foram tão tranquilas assim! Eles tiveram biógrafos que desconheceram muitas e muitas de suas lutas internas, de suas tentações, de suas quedas, desânimos, fraquezas, chatices, pequenas arrogâncias, impaciências, tentativas frustradas de apostolado ou de intenções até mesmo santas e interessantes, etc.
Em segundo lugar, nós não somos eles! Temos cada um nossa própria história, única, “modelo exclusivo”, como se diz em moda de vestuário. Podemos, sim, olhar para esses santos, como heróis e modelos, não para os seguirmos, mas para seguir Jesus, não exatamente na vida que Ele viveu, mas na vida que temos possibilidade de viver, na vida à qual Deus nos chamou.
São Paulo nos dá uma lição espetacular nesse assunto: de perseguidor da Igreja tornou-se evangelizador, sem sentimentos de culpa, sem “chiliques”, sem afetação. Ele deixou-se levar por Cristo; “Não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim”. Ou em 2 Cor 12,1-13: “Glorio-me nas minhas fraquezas, pois quando sou fraco aí sou forte”.
Reconhecia seu pecado passado, estava arrependido, mas se sentia perdoado e abençoado por Deus, tão apóstolo quanto aos demais, amigo de Jesus Cristo. “Esquecendo-me do que fica para trás e avançando para o que está diante, prossigo para o alvo, para o prêmio da vocação do alto, que vem de Deus em Cristo Jesus (...) Entretanto, qualquer que seja o ponto a que chegamos, conservemos o rumo” (Fil 3,13-14.16).
Lamentar demais o passado impede o que S. Paulo fala aí acima no versículo 16: nós não conservamos o rumo, pois ficamos feito bobos olhando para trás.
Amigo, amiga, seja você ou não um (a) eremita , conserve a humildade! Ela será os “trilhos” onde Jesus poderá “andar” em sua vida!
Ser humilde, simples, sincero, REALISTA, é, antes de tudo, conhecer-se bem, “ter-se em mãos”, como nos falava o Dom Lucas Moreira Neves, no retiro de nossa ordenação sacerdotal: TER-SE EM MÃOS! Vejo pelo menos dois sentidos nessa frase inspirada, que não é realmente desse bispo, mas já dos tempos apostólicos: o primeiro é aprender a controlar os próprios impulsos; o segundo, conhecer-se plenamente.
“Ter-se em mãos” significa não tanto nunca fazer nada de errado, mas saber exatamente como somos na realidade, ou seja, sem máscaras, sem teatrinho, sem fantasias. É ser humilde.
Humildade que nos leva:
-a perdoarmo-nos, como já pedimos que Deus nos perdoasse;
-a suportarmo-nos, como já pedimos que Deus nos suportasse;
-a ajudarmo-nos, como já pedimos que Deus nos ajudasse. E para isso, é preciso a vigilância.
Coloquemos isto em nossa mente: vamos continuar sendo tentados. Se resistirmos, ainda assim vamos ser massacrados pelas tentações. Porém, se continuarmos resistindo, as tentações vão nos deixar em paz; Aí e só então, vamos, finalmente, perceber o céu se abrindo e Maria, acompanhada pelos anjos e os coros celestes, nos trazendo uma toalha para enxugarmos o suor proveniente da luta, uma jarra de refresco, massagem, um cafuné nos cabelos, confortando-nos e nos preparando para a próxima luta.
Se abandonarmos a luta, o céu não se abrirá, não teremos nema a toalha nem o refresco: Deus ficará em silêncio, respeitando o nosso livre arbítrio (ou livre idiotice?), como me disse ontem um colega de trabalho evangélico: “Deus deixou o mundo no piloto automático”. E eu acrescento: ele só tira do piloto automático se vencermos as tentações! Pois é: se não lutarmos, acabaremos, como tempo, não vendo nem mais o próprio firmamento: a escuridão nos cobrirá.
Amigo (a), lutemos! Mas lutemos em paz, confiantes, conhecedores de nossa más tendências, sem nos preocuparmos com o passado: ele não mais existe, não podemos mudá-lo. Entretanto, o futuro ainda está ao nosso dispor, e dependerá do que fizermos hoje, como dizia Santa Faustina, o papa João XXIII, Sta. Teresinha e uma legião de santos.
Como os alcoólicos anônimos, vivamos um dia por dia, um dia a cada vez. E hoje, acredite, você está perdoado (a), confortavelmente instalado (a) ao lado de Jesus. Se a tentação vier, diga a Maria para passar na frente e ajudá-lo (a), lute, fuja, enfrente, de acordo com o que for melhor no momento. E diga adeus ao sentimento de culpa!
(06/08/2012 ).
04/01/14 –
Na Epifania vemos que os magos seguiam a estrela para chegarem a Cristo, o Messias, o rei esperado.
Nossa estrela, diz o missal dominical, é o próprio Cristo, Caminho, Verdade e Vida, quando nos dá duas orientações:
- ama a Deus com todo o teu coração (Mt 12,30);
- amai-vos uns aos outros como eu vos amei (Jo 13,34).
Essa “estrela”, devemos segui-la com alegria e perseverança, pois ela nos levará até Jesus, a verdade e a vida de que precisamos.
Muitos perdem a estrela pelo caminho. Os magos, por exemplo, a perderam quando resolveram apoiar-se em pessoas desqualificadas para indicarem o caminho.
Mal orientados, resolveram buscar novamente o verdadeiro caminho e reencontraram a estrela que, finalmente, graças à confiança que nela depositaram, os levou a Cristo.
Quantas vezes perdemos nossa “estrela” na caminhada? Será que vale a pena corrermos no caminho se ele for o caminho errado? Não é melhor caminharmos, mesmo mancando, devagar, mas no caminho certo, como nos diz Santo Tomás de Aquino? Caminhando no caminho certo, mesmo demorando, chegaremos ao objetivo. Correndo, mas no caminho errado, nunca chegaremos a lugar algum.
Os magos perderam a estrela em todo o tempo em que confiaram em Herodes, que aqui poderia ser o símbolo de tantos falsos profetas a quem muitas vezes recorremos, por termos pressa das respostas, por não confiarmos na presença de Deus.
Quando eu era bem jovem, rezava todos os dias para ter vocação sacerdotal, até o dia em que percebi que, se rezava todos os dias para ter vocação, isso era sinal de que eu já tinha vocação!
Jesus nos ensina a distinguirmos a árvore boa da árvore má. A boa dará bons frutos. Se os frutos que nossa vivência produz são bons, é sinal de que estamos (ainda) no caminho certo.
Sigamos sem duvidar, sem titubear, a “estrela” que Jesus nos deu: o amor a Deus e ao próximo. Com essa estrela, chegaremos, na certa, ao presépio, à paixão e, finalmente, à Ressurreição.
INTRODUÇÃO
Este é um tema muito difícil, pois são muitas as interpretações desse assunto na Bíblia.
Eu fiz dois comentários iniciais a este tema, e para não perder nada, coloquei os dois aqui no início.
1º COMENTÁRIO
Atualmente a simplicidade e a pobreza ganharam novas formas de serem vividas, diante da parafernália de veículos de comunicação, entretenimento e trabalho.
Apresento aqui reflexões pessoais sobre esse assunto, baseado na Bíblia, e cada um aplique como puder em sua própria vida. Tudo o que é radical e exagerado não é aconselhável. Um dos problemas que vejo em minha vida e em geral é que perdemos muito tempo com muitas coisas que não são tão necessárias como pensamos que sejam, e deixamos várias outras coisas, essas sim importantes, de lado.
A correria da vida atual se une às dispersões de tempo com essas coisas desnecessárias de que falei, e acabamos não tendo tempo para a oração, para a família, para um pouco de lazer mais saudável etc.
Dificilmente alguém consegue viver uma pobreza radical hoje em dia. O próprio Cristo, ao falar aos setenta e dois discípulos que fossem pregar o evangelho despojados de tudo, disse-lhes que aceitassem o que lhe oferecessem como alimento, e entrassem na primeira casa que lhes desse hospedagem. Eis aí a simplicidade: eles não deviam ficar escolhendo a casa que achassem mais bonita, mais limpinha; entretanto, podia acontecer que a primeira casa que os acolhesse fosse uma casa de pessoa abastada...
Espero que as meditações aqui apresentadas ajudem você a revisar a própria vida, mas sem nenhum exagero: simplicidade, para encontrar Deus (Sabedoria 1, 1-5), pobreza para acolher o irmão.
2º COMENTÁRIO
Por mais que muitos tentem, não vão conseguir mudar o fato de que Jesus escolheu nascer, viver e morar na simplicidade e na pobreza.
No Novo Testamento são essas as orientações dadas por Jesus. No Antigo Testamento as orientações eram diferentes: a riqueza era considera um sinal das bênçãos de Deus. É por isso que eles se assustavam e até se escandalizavam quando Jesus propunha a pobreza como caminho de vida.
Entretanto, mesmo no Antigo Testamento houve pessoas que buscaram a simplicidade e a pobreza como modo de vida. Jeremias, por exemplo, Elias, e quase todos os profetas.
João Batista pertencia, talvez, a um dos grupos que buscavam viver uma vida simples e pobre, como os Essênios: “ João usava uma roupa de pelos de camelo e um cinturão de couro em torno dos rins. Seu alimento consistia em gafanhotos e mel silvestre.
Diz um comentário da bíblia de Jerusalém sobre Sofonias 2,3: “Procurai ao Senhor vós todos, os pobres da terra, que realizais o seu julgamento. Procurai a justiça, procurai a humildade: talvez sejais protegidos no dia da ira de Javé. “Pobres” ou “humildes”, em hebraico são os “anawim”. Os pobres ocupam um lugar especial na bíblia. Se a literatura sapiencial considera, às vezes, a pobreza, “rêsh”, como consequência da preguiça, Provérbios 10,4, os profetas, sabem que os pobres são, antes de tudo, oprimidos, “Aniy^ym”, e reclamam justiça para os fracos e pequenos, “dablîm, e para os indigentes, “ebyonîm. (...) Com Sofonias, o vocabulário da pobreza toma coloração moral e escatológica. (...) Os “anawim” são, em resumo, os israelitas submissos à vontade divina. Na época da Setenta, o termo “anaw” (ou “anî) exprimia cada vez mais uma ideia de altruísmo. Aos “pobres” será enviado o Messias. Ele mesmo será humilde e manso e até será oprimido”
Em Isaías 57,15: “ Eu habito em lugar alto e santo, mas estou junto com o humilhado e o desamparado”.
No Novo Testamento vemos vários textos que aconselham a pobreza (e, consequentemente, a simplicidade: Lucas 12; “Vendei vossos bens e dai esmola. Fazei bolsas que não fiquem velhas, um tesouro inesgotável nos céus, onde o ladrão não chega nem a traça rói. Pois onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”.
Atos 4,32: “ A multidão dos que haviam crido era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava exclusivamente seu o que possuía, mas tudo entre eles era comum”.
Entretanto, um trecho que me impressiona muito é o final da parábola do homem que calcula se pode ou não construir uma torre, ou do rei que pondera se pode ou não se confrontar com o inimigo mais forte que ele: Jesus simplesmente nos dá o “xeque-mate”: “Igualmente, portanto, qualquer de vós que não renunciar a tudo o que possui, não pode ser meu discípulo”. (Lucas 14,33).
No envio dos discípulos, Jesus recomenda a simplicidade e a pobreza. É só ler Mateus 10,1-42. Eis alguns trechos:
“De graça recebestes, de graça dai” (v.8). “Não leveis ouro, nem prata, nem cobre nos vossos cintos, nem alforje para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem cajado, pois o operário é digno do seu sustento” (v. 9-10).
“Quando entrardes numa cidade ou num povoado, procurai saber de alguém que seja digno e permanecei ali até vos retirardes do lugar” (v.11)
E diz essas palavras de confiança: ”Quanto a vós, até mesmo os vossos cabelos foram todos contados”. E diz que os pardais não têm valor algum comercial, mas “nenhum deles cai em terra sem o consentimento do vosso Pai”. No trecho do jovem rico: “Como é difícil aos que têm riquezas entrar no Reino de Deus! Com efeito, é mais fácil o camelo entrar pelo buraco de uma agulha do que o rico entrar no Reino de Deus!” (Lucas 18,18-27).
As pessoas ricas fazem de tudo para diminuir o tamanho do camelo e aumentar o buraco da agulha, mas isso é impossível! É mais fácil proporem-se a partilhar o que possuem, e aprenderem a viver com menos, a fim de que seus funcionários comecem a ganhar um pouco mais da miséria que ganham.
Jesus lhes disse: “Em verdade vos digo, não há quem tenha deixado casa, mulher, irmãos, pais ou filhos por causa do Reino de Deus, sem que receba muito mais neste tempo e, no mundo futuro, a vida eterna” (Lc 18,29).
REALIDADE
Baseado nesses e em inúmeros outros textos da Bíblia, podemos garantir a preferência que Jesus tem para a vida simples e pobre. Estes recebem a graça abundante de Deus, o que os torna mais felizes em paz.
Vemos hoje em dia como certos políticos e empresários correm atrás do dinheiro. É ridículo que pessoas que ganham 20, 30 mil ou mais do que isso mensalmente ainda queiram mais e mais! Não tem sentido viver assim! Vivemos aqui na terra pouco tempo. É muito rápida a passagem do tempo. Nossa capacidade de aproveitar tudo o que existe é muito limitada. Contentemo-nos em viver uma vida simples e pobre, em aproveitar umas poucas coisas do dia-a-dia, em vivermos felizes com nossa família, e seremos felizes!
Quando eu falo aqui numa vida simples e pobre, penso em dois valores: um para os sacerdotes e religiosos, que devem (ou pelo menos deveriam) levar essa vida de modo mais radical, e outro, para os casados e casadas, para os que vivem em família, que precisam de um mínimo necessário para educarem os filhos, tirarem férias, comerem bem etc.
Jesus não pediu que vivêssemos na miséria, mas numa vida simples, sem muitas exigências, e pobre, sem riquezas nem posses desnecessárias. Na História vemos muitos exemplos de pessoas que deixaram suas riquezas para viverem pobres. São Carlos de Foucauld, por exemplo (veja no blog http://gritaroevangelho.blogspot.com.br toda a história dele).
O livro “ A Imitação de Cristo”, do século 13, diz no capítulo 18 do livro 4 : “Ó bem-aventurada simplicidade, pela qual deixamos de lado as vãs discussões para andarmos no caminho plano e firme dos mandamentos de Deus!” . . .
Antes dele, o livro da Sabedoria, capítulo 1, versículos de 1 a 5, já flava que os simples conseguem obter a revelação da pessoa de Deus. Ele se revela aos simples e aos que não o põem à prova.
Simplicidade significa, portanto, antes de tudo, confiar em Deus plenamente, deixando em segundo, terceiro ou mesmo último lugar aquilo que nos dá prepotência sobre os outros, ou uma situação financeira privilegiada, abandonando completamente tudo o que nos pode separar de Deus, tudo o que for supérfluo e secundário . As coisas que não puderem ser renunciadas, não se apegar a elas, porque um dia nos “deixarão na mão”, como o povo fala. (Você pode encontrar o livro "A Imitação de Cristo" em nosso blog https://vidadenazare.blogspot.com (A vida silenciosa)
Quando uma pessoa perde a liberdade de uma forma ou de outra (pela prisão, por exemplo,ou pela doença), tudo, tudo mesmo, o que norteava sua vida muda de lugar em sua escala de valores. Coisas que ocupavam o primeiro lugar de sua atenção passam a lugares mais últimos e vice-versa.
Mesmo na prisão ou num leito de hospital vemos como as coisas são relativas. Se a pessoa mora num lugar escuro e insalubre, sem higiene, e muda-se para um outro um pouco melhor, parece que entrou no paraíso! O doente, ao sair do hospital para sua casa, acha que ganhou na loteria.
Tudo é relativo e secundário se colocamos como nossa meta principal o Reino de Deus. Dizia São Tomás de Aquino: “É melhor andarmos mancando (claudicando) no caminho certo do que correr no caminho errado, pois só chegaremos ao paraíso se estivermos no caminho certo, estejamos correndo ou mancando”.
Nos sofrimentos e nas dificuldades, nas coisas que tiram a nossa liberdade, como a pobreza extrema, nós nos encontramos com a realidade da vida, nua e crua. As ilusões e as mentiras se desfazem como fumaça. Uma das consequências é que passamos a sentir um tipo de ojeriza por tudo aquilo que não agrada a Deus. Entretanto, antes de “cairmos na real”, ou seja, de percebermos que a vida é curta e é também cheia de surpresas desagradáveis que se alternam com as agradáveis, entramos em crise, nos desesperamos, nos desiludimos, e aí nos restam poucas opções.
A opção que mais nos leva a uma santidade de vida e à felicidade é aceitar o fato de que somos pecadores e considerar sinceramente os próprios pecados, atuais ou passados, incluindo aí tudo o que fizemos de errado ou todo o bem que deixamos de fazer. Em seguida, começarmos uma vida nova, de simplicidade, de confiança ilimitada em Deus, uma vida real, de “pés no chão”, de misericórdia, humildade, confiança, de muito amor, de vigilância e oração.
Quando estamos livres e com saúde, adquirimos necessidades supérfluas, necessitamos de de uma montanha de coisas para viver. Quando ficamos doentes ou sem liberdade, percebemos que não precisamos de nada daquilo. Passamos a viver com bem pouca coisa.
Quantas coisas inúteis e/ou supérfluas vamos agregando ao fardo que levamos às costas! É um fardo pesado, constrangedor, deprimente, cansativo, que nos leva a um enfado, a um descontentamento e a uma aversão ao ritmo que estamos dando a nós mesmos.
O ser humano só se sacia em Deus e em ninguém mais! O milionário nunca se fartará de dinheiro! O glutão nunca se fartará de comida! O irritadiço nunca se acalmará! Os vícios, o uso doentio das coisas supérfluas, nos levam a uma tristeza conosco mesmos, a um desânimo de viver que muitas vezes conduzem ao suicídio. A paz só vem de Jesus. Só ele pode nos libertar de nós mesmos, de nosso fardo pesado. É Jesus quem nos diz:
“Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos.(...)Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas, porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”. (Mateus 11,25.28-30).
A simplicidade nos leva a ser pobres em espírito e puros de coração (Mateus 5,1-8). Quando entramos em crise ao nos lembrarmos de quantas coisas no passado deixamos de fazer pelos outros, principalmente pelos nossos pais e pessoas mais achegadas, pelas vezes que não demos testemunho de nossa fé, devemos pedir perdão e gravar em nosso coração como disse S. Paulo:
“Deus é poderoso para realizar por nós, em tudo, muito além, infinitamente além de tudo o que pedimos ou pensamos”. (Efésios 3,20).
Essa convicção vai nos tirar da depressão, do estresse, vai nos dar alívio, se nos colocarmos nos braços do Pai, que, poderoso, poderá nos purificar e conduzir a nossa vida por um caminho de confiança e de esperança.
Se Deus é assim tão poderoso, ele pode também ser todo misericordioso, como diz Jeremias 31,3:
“Eu te amei com um amor eterno; por isso guardo por ti tanta ternura!”
Por isso tenhamos certeza de que ele nunca nos abandonará, se deixarmos que ele tome conta de nossa vida, como diz Isaías 42,16;
“Eu nunca hei de abandoná-los”
E em Isaías 49,15:
“Mesmo que a mãe se esqueça do filho que gerou, ou deixe de amá-lo, eu jamais me esquecerei de ti!”.
Ou ainda em Isaías 66,13:
“Qual mãe que acaricia os filhos, assim também eu vou dar-vos o meu carinho”.
Se estivermos dispostos a deixar os pecados e nos aproximarmos de Deus, ele nos perdoará nossos pecados, conforme lemos em Miqueias 7,19:
“Ele vai nos perdoar de novo! Vai calcar aos pés as nossas faltas e jogará no fundo do mar todos os nossos pecados”.
Se formos inteligentes vamos perceber que a melhor saída, a melhor solução é confiarmos em Deus permanentemente e totalmente! Sta. Teresinha já dizia isso, em palavras parecidas com estas:
“A lebre, ao ser perseguida pelos cães, refugia-se, assustada, nos braços do caçador”.
Eu acho essa frase magnífica! Na crise de desânimo, de enfado, de repugnância por tudo, e às vezes até por nós mesmos, precisamos e podemos, para nos livrar de um Deus-Juiz, nos refugiarmos e pedirmos ajuda no Deus Salvador e misericordioso”. Vendo que não há outra saída, ou seja, que não dá para nos livrar do perigo, refugiemo-nos nas mãos do próprio Juiz enquanto estamos vivos e nesta terra! Enquanto estivermos por aqui, ele não é juiz: ele é salvador.
Um modo bem prático de fazer isso é colocar diante dele todo o nosso passado, mudando a direção de nossa história para uma meta mais santa, ou seja, em direção ao paraíso, e obteremos novamente a paz para a nossa vida.
Muitas pessoas se acham sozinhas, abandonadas, até mesmo depressivas por causa da sensação da solidão.
Os textos que apresentamos neste blog querem justamente nos levar a viver essa solidão, a viver esse aparente abandono, de modo bem diferente.
Jesus vivia no meio do povo, em sua vida pública, mas aprendera a ficar só. Mesmo no meio dos discípulos, ele se isolava mentalmente para estar a sós com o Pai, como lemos em Lucas 9,18: “Estando Jesus a orar a sós, em meio aos discípulos...”
Jesus não encontrava pessoas do mesmo nível dele com quem pudesse falar sobre sua experiência divina. Nesse sentido, sentia-se sozinho quando estava rodeado pela multidão. Essa solidão desaparecia quando, sem ninguém ao seu lado, nos lugares desertos, podia se encontrar com o Pai, como vemos em João 16,32: “Eis que vem a hora, e ela aí está, em que sereis dispersos, cada um para seu lado, e me deixareis só. Mas eu não fico só, porque o Pai está comigo”.
O Pe. Carlos de Foucauld, agora beatificado, morava em lugares desertos pertencentes ao Saara, amplamente mostrado nas fotos deste blog. Vivia entre os tuaregues, povo muçulmano. Não conseguia conversar com ninguém sobre as maravilhosas experiências espirituais que tinha na solidão, como mostram os seus textos, alguns dos quais também encontrados numa de nossas páginas indicadas no índice.
Entretanto, não podemos dizer que ele se sentia só. A comunhão com Deus na solidão se traduzia na comunhão com os seus irmãos todos do Islamismo, e no atendimento de até 50 hóspedes por dia, como ele mesmo afirmou algumas vezes.
Por que muitos de nós, tanto homens como mulheres, nos apaixonamos por esse humilde servo do Senhor e por tantos outros, tanto no Antigo como no Novo Testamentos, que buscaram o deserto, ou mesmo uma vida de solidão?
Por que sentimos o nosso coração arder ao lermos as frases bíblicas que relatam a ida de Jesus ao deserto para orar?
O que há de tão encantador num deserto?
Penso eu que o único modo de descobrir isso é fazer repetidos desertos em nossa vida! Transformemos a solidão de nossa vida numa experiência fértil de deserto! Em nosso isolamento, tiremos, como Moisés, as sandálias, só que para nós, sandálias simbólicas das coisas supérfluas, da vaidade, egoísmo, soberba, amor próprio exagerado, leviandades, gula, mania de levar vantagem em tudo, e aproximemo-nos da “sarça ardente”! Aproximemo-nos de Deus!
Vamos nos desvestir do “homem velho” e nos revestir de humildade, simplicidade, confiança! Revistamo-nos de Deus! E o deserto florirá em nosso coração e em nossa vida! As coisas passarão a ter sentido, mesmo os sofrimentos!
A alegria inunda a alma solitária que se encontra dessa forma com Deus, e ela não mais fica solitária. Sua solidão não será mais solidão, mas a charmosa e confortável sala de visitas onde receberemos o próprio Deus.
Rezar é "olhar para Deus amando-o”, dizia o Irmão Carlos. Em nossa solidão, nunca mais nos sentiremos sozinhos, mas sempre com Jesus e, nele, sentiremos a presença das pessoas com quem nos encontramos no dia a dia.
A solidão com Jesus tem a magia de nos fazer descobrir que na verdade não estamos sozinhos, mas que há uma multidão de pessoas à nossa volta precisando de nosso sorriso, da paz que vamos lhes transmitir pela nossa vida. Vamos, então, não apenas proclamar, mas GRITAR o Evangelho às pessoas com a nossa própria vida!
É nesse sentido que o deserto é fértil! A solidão nos pesa quando nos esquecemos de que estamos sempre na companhia de Jesus ou quando desprezamos as pessoas. Em muitos casos, quando somos individualistas, egoístas, avarentos, mal-humorados, vaidosos, nojentos, exigentes, mesquinhos.
Entretanto, quando nos desvestimos disso tudo para estar com Deus, descobrimos a alegria da presença dos outros em nossa vida.
O que quero dizer é que não são as pessoas que nos abandonam! Somos nós que nos afastamos, com nossas exigências idiotas, e nos isolamos. Somos nós que abandonamos as pessoas, e não o contrário.
Essa solidão que sentimos pode transformar-se, a partir de hoje mesmo, a partir de agora, numa festa, em que Deus é o personagem principal. Basta que nos ajoelhemos, agora mesmo, e peçamos perdão de nossos pecados, rezemos o ato de consagração diária (que se encontra no índice) e recomecemos uma vida nova com Deus e com os irmãos, cujas luzes aos poucos vão começar a brilhar na escuridão de nossa vida.
O deserto é fértil! É preciso receber Jesus em nosso coração para que possamos receber os irmãos e ver que não estamos sozinhos.
Diz o trecho de 2 Cor 3,3:
"Não há dúvida de que vós sois uma carta de Cristo, redigida por nosso ministério e escrita, não com tinta, mas com o Espírito de Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, em vossos corações."
Qual é o alcance dessa frase: “Ser uma carta de Cristo”? Eu ouvi uma homilia sobre isso pela primeira vez nos anos 70, pelo administrador apostólico da região Leste II, São Paulo, Francisco Massant. Impressionou a todos, pois quase nunca prestamos atenção a esses “detalhes” da pregação de S. Paulo Apóstolo.
Ser carta de Cristo implica em muita responsabilidade de nossa parte: vida íntegra, sem desânimo, reerguer-se sempre quando pecar, confiar sempre e totalmente na Graça de Deus, amar a todos, partilhar com os mais necessitados, estar sempre à disposição para praticar a caridade, seja ela material ou espiritual, praticar a própria religião, ou seja, se for católico, ir sempre à Missa, participar efetivamente dela e não apenas estar de “corpo presente” como em Missas de defunto, participar de algum grupo comunitário etc.
Para conseguir tudo isso, ou seja, para ser uma verdadeira carta de Cristo, devemos amar a oração e dedicarmos a ela uma boa parte de nosso dia. Sem a oração, diz o bispo emérito Dom Angélico Sândalo Bernardino, nós viramos bichos. Dizia um padre de minha infância, o Pe. Antônio Maffei, que quem não reza para dormir nem levantar-se, “deita burro e levanta cavalo”.
É isso aí. Sermos cartas de Cristo para o mundo todo, mas principalmente para as pessoas que nos rodeiam. E se passarmos uma parte de nossa vida como “carta devolvida”, vamos tomar novo fôlego, confessarmo-nos, retomar nossa vida, perdoarmo-nos, e estarmos certos de que Deus sempre perdoa a quem pede perdão e nos concede nova chance de sermos santos. E ele nos reenviará como cartas autênticas dele.
28/01/16
Quando estamos desanimados porque parece que estamos levando o mundo nas costas;
Quando sentimos que temos que renunciar a tantas coisas que os outros não renunciam;
Quando vemos que tantos outros vivem a vida na “maciota”, sem muito esforço, enquanto nós temos que dr um duro danado para sermos honestos;
Quando deixamos muitas coisas até boas em si mesmas para irmos à igreja ou a uma reunião na comunidade, ou coisa parecida;
Quando ocorrer isso, cheguemos a Jesus e lhe coloquemos todos os nossos questionamentos, os nossos problemas. Estou certo de que nós o ouviremos falar ao nosso coração palavras como estas:
“Meu (minha) amigo (a) e irmão (ã), que tanto me ama, eu preciso de você e desse pequeno “punhado” de pessoas que se doam a mim, a fim de transmitir aos demais tudo o que eu tenho e posso dar, principalmente a minha misericórdia. Tantos são os que me desprezam e à minhas palavras! O deus deles é o dinheiro, o poder, os prazeres! Quanto a vocês, pequeno resto do meu povo, vocês, que ainda me levam a sério a despeito de tudo o que precisam renunciar, deem-me os seus corações! (Provérbios 23,26).
Quão poucos somos! Jesus pode contar apenas com algumas poucas pessoas para mostrar às demais, por palavras e testemunho de vida, o caminho da salvação.
Nós somos apenas algumas peças nesse jogo maravilhoso que nos levará à vida eterna!
Jesus é o nosso Caminho, a nossa Verdade, a nossa Vida, é aquele a quem vale a pena viver, mesmo numa vida de renúncia. Jesus não nos salva sem o nosso sim, sem a nossa colaboração, Estejamos sempre prontos ao seu chamado de amor!
Não podemos “entupir” nossos ouvidos com os “ruídos” do mundo, nem nos deixarmos prender pelo pecado! Livremo-nos de tudo oque nos escraviza!
Qualquer time de futebol, para vencer, depende do exercício físico, da concentração, do treinamento. Os jogadores precisam se abster de muitas coisas antes dos jogos, a fim de vencerem a disputa.
Ora, somos do “time” de Jesus! Ele é o nosso “técnico”! Obedeçamos às suas ordens e pedidos, como os jogadores (que querem ganhar) ouvem a seus técnicos! Somos tão poucos! Não podemos nos dar ao luxo de viver como gostaríamos, mas sim, como ele quer que vivamos, pois ele nos indica o modo correto de viver.
Fiquemos em paz com nosso tipo de vida mais ligada a Jesus. Ele nos acolheu em seu “time” e sabe que só venceremos se vivermos uma vida de várias ou muitas renúncias! Somos “paus para toda obra”. Afinal, o fardo de Jesus é leve, seu “jugo” é suave! (Mateus 11,30).
Qual é a sua dificuldade? Você culpa alguém ou a algum acontecimento, ou as estruturas de poder, ou as influências genéticas ou as deficiências de seus pais?
O Rabino Jonathan Sacks, no livro “Para curar um mundo fraturado” (Ed. Senfer, 2007,pág.183), diz: “ Há estruturas de poder, mas podemos permanecer fora delas. Há influências genéticas em nossa conduta, mas podemos dominá-las. Nós somos formados por nossos pais, mas podemos ir além deles”!
Somos criados em meio a leis, normas de conduta, preconceitos, paradigmas que as pessoas acham que não podem ser mudados, que nos desviam de nossas capacidades e possibilidades, de nosso crescimento de acordo c om a vontade de Deus a nosso respeito.
Os psicólogos dizem que podemos vencer os paradigmas, ou seja, os “padrões” de conduta que limitam muito nossas ações e são tidas como imutáveis.
Os atletas mostram isso quando vencem os próprios recordes e outros recordes mundiais em suas atividades esportivas. Na vida psicológica, material, espiritual, social, isso também é possível.
Acontece que vemos muitas pessoas culpando tudo e todos pelas suas dificuldades, traumas, decepções, fracassos e insucessos.
O demônio vem em 1º lugar no que se refere a “costas largas”. Colocam tudo como culpa dele! É fácil e cômodo tirarmos o nosso corpo de nossas responsabilidades pessoais e culparmos os demais: acalmamos, mas de modo artificial e mentiroso, a nossa consciência. Se disso resultar um pouco de paz, é falsa, fajuta, artificial.
Santa Catarina de Sena insiste muito no que ela chama de “autoconhecimento”. É o hábito que devemos adquirir de nos conhecermos melhor e, humildemente, termos coragem de admitir nossos defeitos, nossas falhas, nossos pecados, sem máscaras, sem subterfúgios, sem “enrolação”. Sem a humildade isso nunca será possível: sempre procuraremos nos desculpar pelas besteiras e asneiras que fazemos. Tomar conhecimento de quem realmente somos e assumir isso tudo é a chave para mudar nossa vida, melhorar e vencer as dificuldades.
Ouçamos o que as pessoas dizem de nós, e reflitamos sobre isso! Pode ser que as pessoas estejam pelo menos com uma parte da verdade a nosso respeito! Não fujamos de nossos problemas. Procuremos os meios disponíveis. Peçamos ajuda! Confiemos em Deus, para que ele possa nos ajudar. Vivamos bem o dia de hoje! O ontem já passou, o amanhã ainda não chegou! Deus nos ama como somos, mas se o deixarmos, ele pode nos mudar no que ele quer que sejamos. Uma coisa é certa: sozinho nunca venceremos nada.
Temperamento é o conjunto de tendências com o qual a gente nasce. Antigamente (anos 60) costumava-se detectar quatro tipos principais de temperamentos: colérico, fleumático, introvertido e extrovertido. Vi na internet, entretanto, que atualmente costuma-se dividir o temperamento nos mesmos quatro tipos, mas com os nomes diferentes. Vou deixar o link aqui para que você possa fazer o teste sobre qual ou quais temperamentos você tem:
(do site http://educamais.com/teste-temperamento/
Teste sobre Temperamento
Cada pessoa, seja criança, jovem ou adulto, tem o seu próprio temperamento e isso influencia praticamente todas as áreas da sua vida.
Existem quatro grandes grupos de temperamento: sanguíneo, fleumático, colérico e melancólico. Por norma, cada pessoa tem um ou dois tipos de temperamento que são dominantes, mas todos temos um pouco de todos os temperamentos. Existem ainda combinações de temperamento, por exemplo, colérico-melancólico ou fleumático-sanguíneo.
Este teste ajuda-o a identificar qual o seu temperamento dominante assim como os secundários, permitindo-lhe também conhecer um pouco mais sobre cada um e qual a sua combinação natural.
Faça o teste (clique neste link)para saber qual o seu temperamento e leia outros artigos sobre as principais características de cada um.
(continuando com nossa conversa)
Já o caráter é o conjunto de atitudes que construímos em nós corrigindo ou melhorando nossos temperamentos. Um “homem de caráter” é uma pessoa que consegue dominar suas más tendências e criar em si tendências boas, que repercutam bem e de modo positivo na sociedade ao seu redor.
Desse modo, o colérico vai aprender a se controlar com o fleumático, o introvertido vai aprender a se expressar com o extrovertido. Entretanto, o fleumático vai aprender a reagir melhor aos acontecimentos, com o colérico, e o extrovertido vai aprender a se aquietar mais com o introvertido. E assim por diante.
Formamos o nosso caráter:
1- Por meio da oração diária
2- Por meio do autoconhecimento, para nos conhecermos melhor e captarmos humildemente as nossas deficiências.
3- Combatendo as nossas partes negativas
4- Consultando pessoas com conhecimento no assunto e as que vivem conosco e sabem de nossos defeitos.
5- Treinando nossa força de vontade com pequenas renúncias. Exemplo: ao receber uma carta ou qualquer coisa, não a leia ou não abra o pacote imediatamente: leia-a ou abra o pacote alguns minutos depois. Comer algo de que não gosta (mas que não lhe faça mal). Controlar os doces e as bebidas, as guloseimas, a tevê, a internet, o celular... Levantar-se a uma hora determinada e que não seja muito tarde. Fazer algum exercício de alongamento diariamente, e uma caminhada. Lavar as louças que suja, não as deixando para outra pessoa lavar para você. Lavar as próprias roupas de baixo e as meias (claro que diariamente). Andar a pé num percurso não muito longo, em vez de ir de carro ou tomar o ônibus. Nunca pedir que sua esposa ou que seu filho pegue isto ou aquilo para você. Eles não são seus empregados: levante o traseiro do sofá e vá você mesmo pegar! Etc.
Evite fazer coisas supérfluas e até perigosas moralmente falando. Cuidado com a internet! Não perca muito tempo com baboseiras, mesmo na tevê. Não sei como muitos gostam daquele ridículo “zap-zap”, por exemplo!
Os celulares estão nos deixando mais superficiais e vazios, com menos conteúdo. Sei de um padre que parou de celebrar a missa para atender o seu celular. Pode isso??? Jesus deve ter “adorado” a atitude dele!
Fixe para você mesmo algum tempo de oração e leitura espiritual (principalmente da bíblia) e seja fiel a esse horário.
Muitos santos formaram um caráter santo em cima de um temperamento difícil. Exemplos:
S. Francisco de Assis: tinha horror a pobres e leprosos. Para converter-se, ele abraçou um leproso.
S. Francisco de Sales- era colérico e tornou-se o santo da paciência
S. Vicente de Paula- percebeu que era burguês e tinha muitas coisas quando precisou fazer uma mudança de casa paroquial: foram necessárias dois carroções para transportar. Daí em diante começou a ser mais pobre.
São Pedro: era colérico e até cortou a orelha de um pobre curioso que via a prisão de Jesus...
Beato Carlos de Foucauld- era milionário e tinha até uma amante francesa, pra ninguém botar defeito. Sabem qual era o nome da tal amante? “Mimi”! Deixou tudo, dinheiro, bebedeira, orgias, e foi ser eremita (sem deixar a vida ativa) no deserto do Saara, entre os tuaregues.
Santa Catarina de Cortona- era mundana, era amasiada com um rapaz e mudou de vida, quando encontrou o corpo tão belo dele putrefato. Tornou-se santa. Uma coisa curiosa é que seu corpo está até hoje intacto, como para nos mostrar que Deus a perdoou plenamente. Veja sua história e seu corpo intacto neste link (vale a pena):
http://santossanctorum.blogspot.com.br/2011/05/santa-margarida-de-cortona-22-de.html
- 15-8-13
O vento balança as árvores. O forte zumbido abafa todos os demais ruídos, nada mais se ouve. A cabana, forte, resiste à ventania, e o fogo da café quentinho que acabei de fazer me anima, apesar do dia estar tão feio. A chuva forte cai. Não muito longe daqui, um raio praticamente desintegra uma árvore, pondo-a em chamas. O barulho foi ensurdecedor. A solidão é total. Ninguém pode me encontrar, pois os caminhos estão alagados.
A cabana se situa no alto de uma pequena montanha, próximo à Pedra do Baú, em Minas Gerais, e persiste incólume. Usa-se aqui um lampeão a gás nessas horas mais escuras, iluminando o cômodo em que estou, projetando na parece oposta o rosário em que rezo o terço.
Na verdade, apesar do perigo, sinto-me maravilhado com este cenário, porque ele me arrebata do mesmismo de todos os dias e me faz divagar.
Na divagação, percebo, de repente, que tudo isto vai passar: a tempestade vai terminar, o sol voltará a brilhar, o vento se tornará uma brisa suave, o fogo da árvore destruída a chuva já apagou, os pássaros voltarão a cantar, as estradas serão liberadas, mas tempestade igual se passa no meu coração! E agora eu me pergunto: "quando ela vai passar?"
Vim passar alguns dias neste fim de mundo, em que morou um Irmão eremita que depois abandonou o eremitismo e se casou. A mata é virgem, com a presença de macaquinhos e outros bichos. Ninguém mais mora aqui, desde que o Irmão foi embora.
São Bento, abade, já previu, após passar três anos de sua mocidade, aos 19 anos, na solidão, que não é bom morar sozinho. Ele teve muitos problemas, muitas tentações. Conseguiu, então, companheiros e iniciou no ocidente a vida monástica, mas em pequenos grupos de monges. Deram origem aos beneditinos e a tantas outras congregações monásticas.
O próprio Jesus nunca morou sozinho. Viveu trinta anos de sua vida em Nazaré, vida familiar, e os três anos restantes com os apóstolos e discípulos. Mas ele se ausentava frequentemente, para curtir um pouco de solidão. Acho que devo fazer o mesmo: não morar sozinho, mas de vez em quando me retirar a lugares como este. Faz bem!
Eu me pergunto se talvez o meu amigo eremita ainda não estaria aqui se tivesse dois ou três morando com ele...O lugar é muito bonito! Havia, aqui perto um padre e vivera vários anos próximo ao meu amigo. Ele abandonou tudo para estar neste lugar. Não sei o que houve, se já faleceu...
Eu já morei sozinho até os meus 41 anos, nas casas paroquiais das paróquias em que fui pároco. Realmente, São Bento tinha razão:não é bom morar só.
Estes dias de deserto estão me fazendo bem! Ficar a sós com Deus nos faz entrar dentro de nós mesmos e isso pode doer!
O atual bispo de São Gabriel da Cachoeira, Dom Edson Damian, escreveu com maestria sobre o deserto. Está publicado em nosso site e blog "Gritar o Evangelho", mas eu coloquei esse texto também no site Vida de Nazaré e no blog Eremitas. Diz ele num determinado parágrafo:
"A sós diante de Deus, no despojamento do deserto, não podemos mais nos enganar, nem, continuar nos iludindo e mascarando nossa vida. Prestígio, relações pessoais, sempre mescladas de ilusões e inautenticidades, já não acobertam nossas pretensões e mentiras nem nos desviam da verdade sobre nós mesmos e a realidade que nos cerca".
Quanto a mim, neste lugar deserto, embora cheio de verde e animais, as lembranças congestionam a mente, pululam como os peixinhos na água rasa. São tristes e alegres, agradáveis e doloridas. Todas elas me abstraem, como esta tempestade, que graças a Deus já está terminando; elas me abstraem do aqui e agora, e me levam a outros lugares, e às lembranças do passado.
Algumas dessas lembranças são como nuvens passageiras, correm ligeiras e não voltam mais. Outras são como tempestades de verão, que ficam por pouco o tempo mas me estraçalham. Finalmente, há outras que docemente vão se instalando, me enlevando, e me conduzem ao delicioso sabor de um "quero mais".
Quantas mágoas eu tive que engolir! Quantas peripécias eu tive que vencer! Quantas outras que ainda me envolvem, causadas pelas contrariedades do dia a dia! Não é fácil conviver com outras pessoas!
Essas lembranças boas me dão esperança, me conduzem, se evoluem e se tornam minhas amigas!
São lembranças de outrora, lembranças de ontem, que voltarão no meu amanhã! Mas eu me pergunto: será que o que estou vivendo no dia de hoje será lembrado por mim amanhã? Será esta uma lembrança boa ou má?
A tempestade já passou. O sussurro do silêncio me chama! A paz da quietude me atrai! Entre os atropelos do mundo, do meu dia a dia, me aquieto e me abrigo nas ondas da noite que está chegando.
Afastei nestes dias as vozes externas, retirei-me das palavras, numa experiência de silêncio, retraí-me dos terríveis decibéis do mundo barulhento, que ensurdecem meus ouvidos.
Esse barulho que deixei por alguns dias me agora, me inunda, mas eu me "violento" e me abstraí dele. Para isso, saio de mim mesmo, saio do ruído externo, e me coloco no silêncio do infinito.
É no silêncio que Deus age, e se não aprenderemos a ficar quietos, ele nunca poderá aproximar-se de nós.
Eu trouxera aqui na solidão muitas cartas e endereços para a eles escrever, mas uma jarra de água caiu nelas e neles, e tudo se perdeu. Joguei tudo no lixo e um novo horizonte se espraiou à minha frente! Meditei, então, sobre a pobreza e a simplicidade. Maria nunca mandou carta alguma a ninguém e é a mais santa das mulheres, e a mais lembrada. Jesus nunca escreveu coisa alguma, mas suas palavras se tornaram lei e regra para nossa vida!
Ó jarra de água amiga! Ó vendaval bendito! Ó momento este que me abriga nesta cabana tão isolada! Vocês me trouxeram de volta a esperança perdida do infinito!
Diz São Carlos de Foucauld: (Passar um tempo no deserto ...)"é um período pelo qual tem de passar necessariamente toda alma que queira dar fruto(...) Deus se entrega totalmente a quem se abandona totalmente a Ele".
Diz o artigo citado de Dom Edson Damian: "A espiritualidade bíblica é incompreensível sem a dimensão do deserto". E cita desde Moisés e Elias até João Batista, "todos eles purificados por Deus no deserto e consumidos aí por seu amor em vista da missão. Até o próprio Jesus, conduzido pelo Espírito ao deserto da tentação e periodicamente indo a lugares ermos para orar".
Por outro lado, diz o artigo, "Somos tentados a fugir do deserto porque é difícil aguentar o vazio, a solidão, as horas intermináveis, a aparente (mas só aparente) perda de tempo. Nossas agendas estão sempre abarrotadas de compromissos. Por formação e cultura capitalista, somos naturalmente voltados para a ação, para os resultados, para extroversão".
Acho que entendi bem essa parte, ao me ver dentro de uma tempestade interior, logo que me deixei levar pelo espírito do deserto. Tudo o que fui e sou se aflora à minha vista e tenho medo de mim mesmo.
De fato, diz S. Paulo que nada que existe neste ou noutro mundo pode separá-lo do amor de Deus (Rom 8,35), mas ele mesmo pode. Sou a única pessoa que pode tirar-me do amor de Deus. Ninguém mais! Por isso eu me temo: não sei até que ponto sou capaz de me manter no amor de Deus!
Entre o que foi dito acima, algo que é realmente constrangedor é a gente sentir inútil e perda de tempo esse em que a gente passa na solidão num lugar deserto. A gente não sabe o que fazer. Já o Cardeal Van Thuan, ao ser preso (ficou 13 anos preso, sendo 9 de solitária), sentiu-se inútil por não poder gerencias as obras assistenciais e diocesanas de sua diocese no Vietnã. Depois de um certo tempo, talvez uma semana, chegou à esta conclusão: "Escolhi a Deus, não às suas obras!" (ver no livro "testemunhas da esperança" que temos resumido no site).
Não adianta ganhar o mundo todo mas perder a própria alma, diz Mateus 16,26. Sendo assim, vale a pena enfrentar-me neste tempo de deserto para remodelar-me sob a luz de Jesus Cristo e poder, assim, dirigir-me à vida eterna com todos com quem me uni, ajudei e me deixei ajudar neste mundo.
Quando me pus a fazer dias de deserto, confesso que não gostei muito! Parece, realmente, algo inútil. Entretanto, coisas magníficas acontecem nesses dias ou nessas horas.
Certa vez eu fazia um dia de deserto na cidade gaúcha de Caxias do Sul. Após uma caminhada, cheguei a uma capela numa pequeníssima vila. Havia próximo um cemitério aparentemente abandonado ou pelo menos mal cuidado. Eu já havia pensado em tudo o que estava ocorrendo em minha vida e não sabia mais o que pensar. Entrei, então, no cemitério. O sol do meio dia estava quentíssimo. Havia alguns túmulos em forma de capela, com uma área coberta e cercada por três lados, um dos lados a entrada e o outro, a entrada para onde estava o túmulo.
Deitei-me no chão. Olhei para o alto: na parede havia uma foto de um casal imponente, chique; um estava virado para um lado, e o outro, para o lado inverso, foto só de busto e rosto.
Perguntei-me quem teriam sido! Não havia nome algum. Passou por ali o que parecia ser o coveiro, e lhe perguntei. Ele também não sabia!
A meditação que veio, então, à minha mente, foi a fugacidade da vida, a fragilidade de nosso relacionamento social. Duas figuras imponentes, que talvez brigaram, amaram, lutaram, chorara, se angustiaram por tantos motivos, muitas vezes pisaram nos outros, ou pelo contrário, foram muito bons e prestativos, mas agora jazem ali, inertes e completamente desconhecidos.
"Vaidade das vaidades", diz o Eclesiastes, "é tudo vaidade!" (Ecl 1,2). Essa também foi a resposta que um imponente arcebispo, em seu leito de morte, deu a um padre que lhe perguntara: "Excelência, o que o senhor diz da vida que viveu? O arcebispo respondeu: "Vaidade, meu filho. Tudo vaidade!"
Uma pessoa chega ao fim da vida e percebe que lutou contra o vento, que só viveu na tibieza e na futilidade. Deve ser a maior desgraça que lhe pode acontecer. Eu penso muito nisso.
Veio-me à lembrança o que ocorrera havia pouco, lá no cemitério: eu me sentara, antes de ir ao túmulo, na calçada da capela, e uma senhora me perguntou se eu queria almoçar, comer alguma coisa. Eu achei isso algo maravilhoso, ou seja, uma pessoa oferecer um almoço a um desconhecido! Isso foi algo de valor: a misericórdia. Isso está ainda sendo lembrado por mim, embora já tenha transcorrido décadas!
A misericórdia numa simplicidade de vida: eis a base sólida e concreta que deve ter a minha vida! Despojo-me de mim mesmo e me coloco diante de Deus, para que ele "se entregue totalmente a mim", como diz acima o pe. Carlos de Foucauld, recebendo-me em sua vida eterna e maravilhosa.
Terminei o rosário e fui preparar algo para comer. A noite chegou. A tempestade acabou.
13/10/2018
Como eremita eu costumo fazer uma Hora Santa diariamente, na igreja perto de casa. Hoje, sábado, a igreja estava fechada e eu fiz em casa mesmo: acendi uma vela e me liguei num dos meus blogs, o “Tudo a Jesus por Maria”, que traz várias orações próprias para isso.
Um dos meus problemas é cochilar muito durante tudo o que faço. Durante essa Hora Santa eu cochilei por três vezes. A terceira durou dez minutos. Acordei assustado, com o celular que eu usava caído na cadeira em que me apoiava. Fiquei aborrecido com esses cochilos, e sem perceber me veio como num jato, à cabeça, o pensamento de que Deus nos ama tanto, infinitamente, só quer o nosso bem, torce para que nós O escolhamos, a fim de ficarmos pelo restante da eternidade com ele.
Pasmem vocês, mas eu senti lá dentro do coração um dó tremendo de Deus. Ele pode ter tudo o que quiser, TUDO MESMO, mas só pode ter-nos a seu lado se NÓS quisermos. É o tal de livre-arbítrio, que Deus nos permitiu. Ele não quer fantoches ao seu lado. Ele quer pessoas que O amem de verdade, livremente, sem coação alguma. Ele respeita a nossa escolha, e isso pode levar-nos a perdê-lo para sempre. Se isso ocorrer, ele também nos perde! Por incrível que pareça, nós somos a única coisa que Deus pode perder, que Deus pode não obter. Ele é onipotente, repito, mas só nos recebe se nós quisermos. E o pecado é um nosso enorme NÃO.
Deus demonstrou seu amor durante toda a história da humanidade, e isso vemos em relatos belíssimos da Bíblia. Jeremias 31,3: “Eu te amei com um amor eterno”. Isaías 49, 14-15: Deus nos ama mais do que qualquer mãe, por maior que seja o amor que ela der ao filho. No versículo 16, lemos que Deus nos tem tatuado em sua mão: “Eu te tatuei na palma de minha mão”.
Fiquei com dó de Deus. Pedi-lhe, chorando, perdão pelos meus pecados e rezei um oferecimento de si mesmo que encontrei no livro “A Imitação de Cristo”, muitíssimo bonita. Eu gosto tanto desse oferecimento que às vezes eu o rezo duas vezes no dia. Se você quiser conhecê-lo, clique aqui: OFERECIMENTO DE SI PRÓPRIO.
Deus é infinitamente sábio. Foi ele quem nos criou. Somos criaturas suas. Eu me conscientizei disso de maneira profunda e tremi. Quem somos nós para discordar de Deus? Para achar que sabemos mais de nós próprios do que ele que nos criou? Resolvi colocar-me em suas mãos, sob sua direção. Que ele me permita o que bem entender, desde que junto esteja também sua graça e sua força para que eu possa resistir e superar. Confio nele. Quero estar com ele agora e depois da minha morte (que não está assim tão longe, pois já passei dos setenta). Vou deixar que ele me ame, vou aceitar seu amor por mim. Sobretudo, vou cuidar e vigiar sobre mim mesmo (1 Timóteo 4,16), a fim de que Deus possa obter minha presença diante dele para sempre. Não sei se vou conseguir, mas tenho confiança de que Deus não vai me abandonar. Ademais, se eu não estiver com Deus, vou sofrer pelo restante da eternidade no inferno, e isso acho que ninguém quer...
Leitor (a) amigo (a), Deus nunca nos abandona. Nós é que o abandonamos muitas vezes pelo pecado. E você, já pensou nisso? Já fez o seu oferecimento de si próprio (a)? É só clicar naquele link acima! Deus quer que você esteja junto a ele na eternidade. E isso depende apenas de você! E quando puder, por favor, reze por mim.
04/01/14-
A antipatia com que tratamos algumas pessoas, ou o interesse individualista com o qual delas nos aproximamos, torna-nos cegos às suas qualidades e pontos positivos.
É comum vivermos ao lado de pessoas muito capacitadas, com um potencial maravilhoso, mas nada notarmos, devido a esses obstáculos que colocamos em nosso relacionamento.
Vou ainda além, lembrando que isso ocorre até entre pais e filhos, entre esposo e esposa.
Muitos descobrem os pontos positivos dos pais só depois que eles morrem! Aquela empregada doméstica tratada às vezes com muita frieza, pode estar escondendo verdeiros tesouros!
Há também muitos tesouros ocultos em nossos amigos e colegas de trabalho. A preocupação pela “concorrência” interna da firma em que trabalhamos ou, no caso de nossos amigos, o desejo de ser melhor do que eles, pode causar “cegueiras” irreparáveis em relação a quanta coisa bonita que poderíamos usufruir se os conhecêssemos mais profundamente, sem preconceitos.
Minha mãe era a única que punha esperança num de meus sobrinhos. Demorou, mas essa confiança foi confirmada mais tarde e, atualmente, ele é um rapaz excelente, trabalhador, responsável, e minha mãe deve estar sorrindo lá no céu, nos dizendo: “não falei que ele ia ser um bom homem?”. Ela conseguia ver os tesouros escondidos nele, e nós não os víamos. É desnecessário dizer o quanto ele fala da sua avó tão querida e que tanto confiava nele!
Jesus confiou em pessoas analfabetas e de gestos bruscos; diríamos hoje “sem-educação”, como por exemplo Pedro, que cortou a orelha de um dos soldados que estavam prendendo Jesus no Getsêmani, e depois ainda o negou por três vezes!
Jesus confiou até em Judas que, segundo o Dr. Augusto Cury, era o mais capacitado para ser apóstolo. Será que Jesus, com toda a sua sabedoria, não percebera que ele o trairia?
Mas isso não impediu que ele confiasse nesse apóstolo e lhe desse a oportunidade de que ele precisava.
Quanto ao jovem rico, diz o texto que “Jesus o amou”, ou seja, gostou dele, viu que ele era capacitado. O livre-arbítrio permitiu que o jovem recusasse seguir Jesus como apóstolo, mas ele nunca poderia dizer que não tivera nenhuma oportunidade.
Algumas pessoas mudam de vocação no meio do caminho, mas continuam felizes e realizados. Pode ser que a primeira vocação tivesse sido escolhida de modo equívoco. Ou também pode ser que tenham as duas vocações.
É difícil percebermos nas pessoas seus tesouros ocultos. Só Deus sabe isso perfeitamente, mas nos dá uma dica: amem-se mutuamente, perdoem-se, acolham-se.
O acolhimento, o perdão, a aceitação dos outros, a misericórdia, o interesse em conhecê-los, sejam eles seu filho, filha, pai, mãe, avós, tios, primos, ou mesmo colegas de trabalho, de lazer, de estudo, de convivência, farão com que descubramos os tesouros ocultos neles.
E eu lhes garanto, nossa surpresa será maravilhosa!
03/02/16
Deus sempre perdoa. Todos nós que fomos perdoados e acolhidos por ele, somos testemunhas de sua misericórdia. Pedir perdão e recomeçar sempre! Eis o segredo da perseverança. Achar-se “sem pecado” é o maior pecado que existe, contra o Espírito Santo, e não tem perdão (Mateus 12,31-32), porque a pessoa que se acha assim, nunca vai pedir perdão.
Reconheçamos, pois, nossos pecados, nossas fraquezas, diante de Deus, peçamos-lhe perdão e recomecemos nossa vida com maior ânimo e alegria! Sejamos, pois, sempre, “Testemunhas da Misericórdia”!
O maior erro de uma pessoa é não pedir perdão, não confiar no perdão divino. “O que mais fere o meu Coração não são os pecados, mas o fato das pessoas não quererem refugiar-se em mim depois de tê-los cometido”! (Jesus à Irmã Josefa Menendez). Veja quando puder Lucas 17,3-4; Mateus 6,14-15; 18,21-22.34-35; Isaías 43,18-19; Filipenses 3,13-14; Miqueias 7,19 (“Vou jogar seus pecados no mais fundo do mar”).
Na narrativa da Santa Ceia, vemos como Jesus disse a Pedro que se ele não o deixasse lavar seus pés, não teria parte com ele. Deixar que Jesus lave os nossos pés é deixar que ele nos ajude, que ele nos oriente, nos mostre o caminho da verdade, de nossa verdadeira liberdade para a Vida Eterna!
Poderíamos talvez substituir o que Jesus disse em Apocalipse 3,20, “A quem me abrir a porta, eu cearei com ele e ele comigo”, por: “A quem me abrir a porta, eu lavarei os seus pés”.
Por que nos fecharmos em nós mesmos, em nossas pretensas capacidades, e não pedirmos a ajuda divina? Por que essa asneira? É pura vaidade, puro orgulho!
Senhor, eu permito que me laveis meus pés! Sim, não quero fazer sozinho o que tenho que fazer! Quero e peço a vossa ajuda! Não me deixeis sem a vossa graça, o vosso amor, o vosso perdão, a vossa luz! Não quero caminhar no escuro!
Amigo (a), deixe-se levar por Jesus, deixe que ele lave os seus pés, que o (a) perdoe, e você também será uma TESTEMUNHA DA MISERICÓRDIA!
julho 2014
São Paulo diz em 2Cor7,10:” Com efeito, a tristeza segundo Deus, produz arrependimento que leva à salvação e não volta atrás, ao passo que a tristeza segundo o mundo produz a morte”.
Isso implica em que a tristeza em si não é algo negativo, mas pode ser um êmulo positivo em nosso relacionamento com Deus.
Sentimos tristeza por vários motivos. Quando eles são banais, individualistas, mesquinhos, de autocompaixão, fruto do orgulho, da raiva e da vaidade, ela é perniciosa.
Quando nos entristecemos porque percebemos que fazemos o mal ou somos coniventes com ele; por nos arrependermos de nossos pecados; ou por nos condoermos com o mal que aflige os outros, então a tristeza causada por esses sentimentos nos leva á salvação e não volta atrás, pois nos colocamos à mercê de Deus que” me alegra” ou “alegra a minha juventude”, como diz o salmo 43(42),4.
A humildade, a simplicidade, a misericórdia, a caridade, a pobreza evangélica, nos fazem ver o mundo de modo completamente diferente dos que não possuem essas virtudes! Nós nos sentiremos bem em qualquer ambiente, seja qual for as condições de vida em que estivermos imersos. A tristeza nunca será baseada em nosso individualismo, nas tribulações por que passamos, nos nossos apegos, na nossa “fossa”, mas se houver, na preocupação pelos que nos cercam, pelos problemas que afligem o mundo e o próximo.
Diz Mônica S., parafraseando Santa Teresinha: “A alegria não está nos objetos, mas no mais íntimo do coração; podemos senti-la no mais fino palácio ou na mais rude prisão!”.
Jesus nos dá várias orientações nesse sentido, mas lembro de momento o Sermão da Montanha: “Quando te obrigarem a dar mil passos, caminha com ele mais mil! Quando te roubarem a túnica, dá também a capa!” (Mateus 5,40-41).
Podemos ampliar isso às demais contrariedades de nossa vida, e a alegria será uma constante em nossa vida.
E aí, quando chorarmos pelas misérias alheias ou da humanidade, Jesus nos dirá: “Felizes os que choram (os aflitos), porque serão consolados” (Mt 5,5).
Segundo diz São Cesário de Arles (2ª leitura do Of. Leit. 2ª f. da 17ª sem. comum): “Há (...) a misericórdia terrena e a celeste, a humana e a divina.
18/01/14 –
Nós adoramos a Deus que, embora presente em nós, é completamente outro e não se confunde conosco.
Carlos de Foucauld diz, numa meditação de novembro de 1897, quando vivia na cabana junto ao muro das clarissas de Nazaré, sobre a vida oculta de Jesus: “A tua alma humana prolongava esta contemplação durante as noites, como durante todos os momentos do dia se unia à tua divindade... como a tua vida foi um contínuo difundir-se em Deus, um contínuo olhar a Deus; contemplação contínua de Deus, em todos os instantes!”
1- A adoração, a contemplação, a adoração silenciosa, sem palavras;
2- Ação de graças, em 1º lugar pela glória de Deus, porque Deus é Deus; em 2º lugar, pelas graças concedidas na terra a todas as criaturas;
3- Súplica de perdão por todos os pecados cometidos contra Deus, de perdão por todos os que não o pedem;
4- Um pedido da glória de Deus, para que Ele seja louvado por todas as criaturas e para que as graças se espalhem, que todos se libertem do mal.
A alma humana de Jesus se unia à sua divindade. Eis o que me chamou a atenção! Era a submissão, nele mesmo, do homem pleno, a Deus pleno! A união perfeita do homem a Deus, já que ele é 100% homem e 100% Deus!
Santo Agostinho tem um texto muito bonito que é lido num dos Ofício das Leituras do ano, em que ele pergunta: ”O que aquele ser humano que recebeu em si a encarnação do Filho de Deus fez para merecer isso? Nada, absolutamente nada!”.
A adoração feita por Jesus levava-o à plenitude divina. Nenhum átomo sequer de seu corpo humano, nenhuma parte de sua alma humana estava em desacordo com a vontade divina, que estava nele mesmo, enquanto Deus.
Isso me leva a meditar muito em como eu faço a minha adoração! Preciso fazer com que todo o meu ser se coloque à disposição de Deus, sem que nenhuma parte de mim esteja em desacordo com a vontade divina!
Isso exige uma confiança ilimitada e irrestrita a Deus, para que ele seja tudo em todos, como diz S. Paulo Apóstolo.
E quando Deus for tudo em todos, diz Santo Agostinho, não haverá mais desejos, porque Deus é a única coisa que alguém pode desejar!
02/07/2018
A bomba que os norte-americanos lançaram em Hiroshima (lançaram também em Nagasaki) em 1945 destruiu tudo o que havia num raio de um Quilômetro e meio desde o centro da explosão, com a morte de todos os habitantes dessa área, cerca de 80 mil pessoas, número que depois subiu para cerca de 140 mil, devido à radiação.
No centro de Hiroshima vivia um grupo de oito jesuítas que há alguns anos fazia ali trabalhos pastorais, cerca de 800 metros do local da explosão. Na hora em que a explosão ocorreu, se preparavam para as tarefas do dia. Nada aconteceu com eles! Nem um só arranhão. E nenhum deles sofreu efeitos da radiação. Em 1976 todos ainda viviam.
Em testemunho no Congresso Eucarístico da Filadélfia (Estados Unidos), nessa data de 1976, o padre Hubert Shiffer, que em 1945 tinha 30 anos, disse que naquela casa se rezava diariamente o rosário, como Maria pediu em Fátima. Eles foram examinados por cerca de 200 cientistas e nenhum deles conseguiu explicar como não morreram com a explosão e como não sofreram os efeitos da radiação.
Diz o padre Shiffer num livro que escreveu sobre o assunto, “O Rosário de Hiroshima”:
“Em um segundo assustador uma orgulhosa cidade de meio milhão de pessoas foi exterminada da face da terra. Nada permaneceu, a não ser um "deserto atômico", e a palavra "Hiroshima" se tornou um símbolo de destruição total”.
Diz mais adiante: “A oração é mais poderosa que a bomba atômica”. Entretanto “Nós, adultos, nos esquecemos muitas vezes que Deus é nosso Criador e Pai. Nós preferimos ir pelos nossos próprios caminhos em vez de aceitarmos a orientação de Deus”.
O padre lembra que Fátima não é um aviso, mas sim, uma ESPERANÇA. Realmente. Maria nos apela, em Fátima, e agora também em Medjugorje, que dediquemos mais tempo do nosso dia à oração. Nós encontramos tempo para tantas bobeiras, mas quanto à oração, nos limitamos a dizer rapidamente algumas Ave-marias ao deitarmos.
Tenho visto, horrorizado, pessoas boas, que até vão à missa, que não rezam agradecendo a Deus na hora das refeições e não rezam nem para dormir. Às vezes limitam-se a fazer um Sinal da Cruz ao levantar-se. Já o pároco de minha infância dizia que muitos “Deitam-se burros e levantam-se cavalos!”, porque não rezam nem antes de dormir nem quando se levantam.
Já é hora de começarmos ou capricharmos (se já rezamos) a oração do rosário diariamente. É uma arma poderosa. Você que está na internet, procure os milagres do Santo Rosário, e verá muitos no decorrer dos séculos. A oração nos dá Esperança, Fortaleza, Ânimo, Confiança absoluta em Deus, e nos obtém de Deus, por Maria nossa mãe, a proteção necessária para vivermos sob a tutela de Deus, em comunhão com o paraíso.
Eu escrevi várias vezes em meus artigos que acredito podermos dar o dízimo do dia, a Deus, em forma de oração. Dez por cento de 24 horas são Duas horas e vinte e quatro minutos. Esse é o dízimo que deveríamos dar a Deus de nosso dia. E o Rosário é a oração que não deveria faltar em nosso dia a dia. Você leva cerca de 45 minutos para rezar um rosário todo. Não é muito tempo. É menos tempo que uma novela! Mas muitos preferem as novelas. E quando a coisa fica feia, apelam a Deus. Será que ele vai ouvir?
04/01/14-
Os que desejam um mundo uniforme, sem diferenças, estão correndo por um caminho que não levará a nada, correndo mesmo o risco de ser um caminho que levará à lutas, guerras, mortes e sofrimentos. Quer exemplos? Alexandre, o Grande, Hitler, os imperadores romanos, os líderes comunistas da Rússia do século 20...
Uniformidade não é o mesmo que unidade.
O povo judeu buscou a uniformidade com a utilização de 613 leis e normas de conduta, mas isso não os levou a uma unidade perfeita.
A Igreja Católica se deu mal cada vez que buscou a uniformidade na liturgia e em alguns outros campos. Graças a Deus esse erro foi conhecido e corrigido. O Concílio Vaticano 2º procurou limpar o caminho e permitiu as adaptações necessárias.
O que devemos buscar é uma unidade, mas na pluralidade. O exemplo melhor para isso é o corpo: vive numa um idade incrível, dentro de uma pluralidade de funções: os pés não fazem o mesmo que as mãos, o estômago trabalha diferentemente que o coração, mas todos, estando saudáveis, fazem o corpo funcionar como um bom relógio suíço.
Desejar a unidade não é desejar que sejamos iguais, mas que busquemos trabalhar de modo unido no amor, cada um com sua capacidade, aptidão, conhecimento, vocação.
Os pais que tratam os filhos “todos de modo igual”, estão sendo injustos para com eles, pois cada um, mesmo gêmeo, é cada um, todos somos diferentes e agimos de modo diferente.
Para que sejamos justos, temos que tratar os outros com muito amor, paciência, carinho, misericórdia, de forma diferenciada, cada um com sua particularidade.
“Unidos na pluralidade” é o lema de quem ama realmente o próximo e se desarma no relacionamento, a fim de que os ouros possam mostrar suas qualidades. O relacionamento contrário seria querer sempre impor as próprias condições, para conseguir uma uniformidade de “vaquinhas de presépio”, de pessoas que obedecem caladas para que aquele que manda possa satisfazer seus desejos íntimos de dominar e fazer os demais de súditos (eu queria escrever aqui “de idiotas”).
Jesus nos convida à unidade, de modo que cada um contribua com o que tem de melhor, a fim de que o corpo místico da Igreja possa funcionar do modo como ele a planejou.
Jesus usou meios pobres para evangelizar?
Em primeiro lugar, ele escolheu uma casa, um lar pobre (mas não miserável). Mãe pobre, simples, humilde (mas de linhagem real). Nasceu numa cocheira, foi colocado num cocho de capim a que chamamos de manjedoura para ficar mais chique. Os primeiros a visitá-lo foram os pastores, tão odiados e marginalizados naquele tempo.
Jesus nasceu numa família de migrantes: Lucas 2,4: José veio “de Belém da Judeia para a Galileia, em busca de melhores condições de vida” (Frei Carlos Mesters, “Com Jesus na Contramão”, pág 17)
Trabalhou como agricultor e carpinteiro, aprendendo, assim a profissão de seu pai: Mateus 13,55; Marcos 6,3.
Jesus viveu pobre, por opção de vida: Lucas 9,58.
“Ao que Jesus respondeu: As raposas têm tocas e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”.
Em Filipenses 2,6-7, vemos como Jesus se humilhou com a encarnação e mais ainda ao se fazer pobre entre os pobres.
Em Mateus 6,24, manda-nos escolher entre Deus e o dinheiro: “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”.
Em Lucas 19,45, Jesus dispensa certos meios usados hoje para a evangelização (cf. Aparecida SP) ao expulsar os vendedores do templo.
Vemos também que Jesus não possuía dinheiro nem para pagar o imposto anual e pessoal para cobrir as necessidades do templo, a didracma. Nem a caixa comum foi usada para Jesus pagar a sua parte. Ele usou a Providência Divina como fazem os pobres: Mateus 17, 24.27: “Vai ao mar, lança o anzol, e ao primeiro peixe que pegares abrirás a boca e encontrarás um estatere. Toma-o e dá-o por mim e por ti”.
Ademais, Jesus caminhava por toda a região sem usar nenhum tipo de montaria. Às vezes encurtava caminho com a barca, mas era emprestada, e usada comumente pelos pescadores (devia ter cheiro forte de peixe!). Quando usou um jumento, ao entrar em Jerusalém, o fez apenas uma vez na vida, e de modo simbólico (João 12,14-16).
Quando Jesus parou, com os discípulos, para conversar com a samaritana, já tinham andado mais ou menos 50 quilômetros! Acho que isso era usar meios pobres!
Também não consta que ele tenha saído daquelas regiões da Palestina. Vivia entre a Judeia e a Galileia. Nada além disso. Isso nos ensina a usarmos meios pobres para a evangelização, talvez num sistema de “ondas” como a água: eu instruo um grupo, que instrui outros grupos, e assim sucessivamente, sem precisar grandes meios ou grandes somas de dinheiro.
Jesus não usava os poderosos da época; quando se achegava a eles era para convertê-los, como aconteceu com Zaqueu, em Lucas 19,1-10.
Não podemos dizer que o uso dos milagres não são meios pobres, pois hoje eles existem, como no tempo de Jesus. Ademais, o milagre ou as graças são dádivas do céu. Não são meios humanos “poderosos”, mas graça pura e, como o nome já diz, gratuita de Deus, de que qualquer pessoa, por mais pobre que seja, pode usufruir.
A santidade de Jesus pode ser considerada um meio pobre, pois qualquer um de nós pode ser santo! (Mateus 5,48; 1ª Pedro 1,16; Tiago 1,4).
Jesus usava muito o templo, que nós também podemos usar (Lucas 4,26-27; Mateus 9,35).
“Jesus percorria todas as cidades e aldeias. Ensinava nas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando todo mal e toda enfermidade”.
EXEMPLOS
Temos muitos exemplos, na Igreja atual, de pessoas que procuram evangelizar como Jesus nos ensinou, ou seja, com meios pobres, e não com sofisticações que só mostram o orgulho, a vaidade e a autossuficiência de pregadores que se acham poderosos e “irresistíveis”. E temos também exemplos desta última forma de evangelização. São pessoas que usam apenas as próprias forças, caindo numa tremenda ineficácia, que causa a queda imediata de todo o aparato montado, tão logo aquele pregador deixa o cenário, ou por morte ou outro motivo.
A sociedade sacerdotal Jesus-Cáritas, fraternidade inspirada na vida do Beato Carlos de Foucauld, busca sempre os meios pobres de evangelização. Como o nosso irmão Carlos. Ele utilizava os meios pobres: viver pobre com os pobres. Mesmo que não se consiga muitas coisas, muito resultado, a evangelização acontece, cria raízes, tem maior eficácia, e isso por vários fatores. O| principal é a ajuda abundante e generosa de Deus, que guia os passos e a ação dos que nele confiam, dos que nele se apoiam.
Dizia Santo Tomás de Aquino:
“È melhor andar mancando no caminho certo do que correr no caminho errado, pois andando no caminho certo, mesmo mancando, chegaremos ao objetivo, o que não acontece se estivermos correndo no caminho errado”.
Eu diria, parafraseando: “É melhor caminhar devagar com a ajuda e a orientação de um Deus que nem sempre percebemos, do que correr tentando fazer tudo sozinho, pois com Deus não precisamos temer coisa alguma, mesmo que não cheguemos a resultados palpáveis”.
Há muitos missionários nesse Brasil afora que não contam com nada, com nenhuma ajuda financeira ou poderosa, mas que fazem milagres na evangelização do povo.
Em contrapartida, poderíamos, em sã consciência, garantir que os meios poderosos estariam evangelizando realmente?
Um pequeno grupo de oração e reflexão que se reúne semanalmente numa casa, por exemplo, evangeliza muito mais do que a frequência anual a grandes santuários mas sem compromissos comunitários. Se esses pequenos grupos se multiplicarem, a evangelização decerto estará garantida!
Muitos meios dispendiosos de evangelização não evangelizam realmente. Limitam-se a incentivar a pé do povo em curas e benefícios pessoais, mas não a uma evangelização verdadeira, que o levaria a crer de um modo mais eclesial, mais comunitário, do que simplesmente a praticar a busca desesperada por curas e manifestações pessoais do sagrado.
Na minha opinião, por exemplo, toda a evangelização de algumas emissoras de televisão é como que anulada pelo tipo de propaganda comercial que fazem. Será que os fins justificam os meios?
Há também o risco da propaganda enganosa ou ato enganoso quando um padre abençoa a água, mas não é ao vivo, e não avisam os telespectadores. Quem na verdade está benzendo aquela água é um vídeo, uma gravação, e não o padre que gravou aquilo em outra hora. É a mesma coisa que eu benzer a minha água com um cd do Pe. Vítor Coelho de Almeida, ou receber a bênção de um vídeo do papa João Paulo II!
Uma sociedade apostólica atual deu de presente ao papa Bento XVI um terço feito de contas de rubi (as ave-marias) e de diamantes (os pais-nossos). Ao recebê-lo, o papa, admirado, respondeu: “precioso, precioso”! Não é esquisito o papa rezar pelos pobres desfiando rubis e diamantes nos dedos?
São João Crisóstomo (of. leit. da 21ª semana comum) diz: “Que proveito haveria se a mesa de Cristo (o altar )está coberta de taças de ouro e ele próprio morre de fome (na pessoa do pobre)? Sacia primeiro o faminto e, depois, do que sobrar, adorna a sua mesa. Fazes um cálice de ouro e não dás um copo de água”? E vai ainda nesse assunto até o fim da leitura. Termina dizendo: “Por conseguinte, enquanto adornas a casa (de Deus) não desprezes o irmão aflito, pois ele é mais precioso que o templo”.
Nós sempre conseguimos grandes quantias para a construção e reformas de templos, mas que miséria para combater a fome e a desnutrição!
São Paulo diz a Timóteo em 1ª Timóteo 6,7-11:
“Nada trouxemos para este mundo, e é certo que nada podemos levar dele. Tendo, porém, com que nos sustentarmos e nos vestirmos estejamos satisfeitos com isso. (...) O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e causaram a si mesmos muitas dores. Mas tu, homem de Deus, foge destas coisas, e segue ajustiça, a piedade, a fé, o amor, a paciência e a mansidão”!
Se Deus nos convida a uma vida simples, não nos abandonará. Vai nos ajudar, vai nos prover do necessário para a vida. Leia estes textos na bíblia:
Provérbios 23,26; Isaías 44,21; Lucas 12,32-34; Apoc 2,10 (“Não temas diante do que hás de sofrer”!); 1ª Pedro 5,7
Procuremos seriamente abandonar em nossa vida os gastos supérfluos!
Que as autoridades da religião, tanto Católica como as demais, não gastassem também tanto tempo com o cuidado das obras de arte. A Igreja Católica já foi guardiã das artes no passado, mas agora isso não é mais preciso! Há pessoas até mais competentes que têm como profissão (e muito lucrativa) cuidar das artes. Hoje em dia, mais do que a “arte pela arte”, ela tornou-se um investimento alto na economia mundial. Deixou de ser uma tarefa da Igreja. “Deixe que os mortos enterrem seus mortos”! Deixem que os organismos artísticos cuidem da arte! Não gastemos tempo nisso, e dinheiro, já que a arte sustentada pela Igreja é despesa e não entrada.
nov 2013
Eis um artigo que posso escrever sem consultar, nos meus quase setenta anos de idade. Talvez seja um artigo mais próprio para os jovens do que para nós, idosos, pois muito do que fazemos na infância, adolescência e juventude é a causa de nossas agruras e alegrias na velhice.
Há muitos idosos que adoecem mesmo tendo uma juventude sóbria; são os mistérios inevitáveis de nossa id. A esses, eu diria apenas que procurem lutar sempre, sem desânimo, para readquirirem uma saúde pelo menos razoável. Entretanto, acredito que nos intervalos dos achaques possam também ser felizes e, apesar dos sofrimentos, vivam em paz. Se essa paz vier de Deus, sempre podemos ser felizes.
É mais comum haver uma velhice problemática entre os que abusaram do cigarro, bebida, alimentação (sal e gordura) e outros itens maléficos; há, porém, muitos idosos sadios mesmo entre os que abusaram de tudo. Mais uma vez são os mistérios da vida.
Outro ponto para lembrarmos é que para os que constituíram apenas uma família, a velhice se mostra mais agradável do que para os que constituíram duas ou mesmo três famílias diferentes (separaram-se e casaram-se novamente). Mas nem isso é constante: muitos que só possuem uma só família moram em asilos, são abandonados, ao passo que muitos com várias famílias vivem amparados.
Um padre do Chile, Pe. Álvaro Gonzales, da pastoral universitária, dizia num retiro que "Shalom" significa: "No meu coração tenho um lugar para você". Essa é a paz partilhada.
A paz na velhice nos envolve quando:
-assumimos nossos erros e pedimos perdoa, como um ato de oferecimento e de amor a Deus.
-recomeçamos diariamente nossa vida.
-enxergamos a estrada que ainda temos que trilhar iluminada pela luz divina.
-buscamos a felicidade ou mesmo a conversão e a mudança para melhor dos nossos inimigos.
-perdoamos de coração aos que nos prejudicaram.
-ao acordarmos, sentimos que Deus nos colocou em seus braços, nos alimentou com o Corpo e o Sangue de seu Filho, nos colocou uma blusa para que não sentíssemos frio, um sapato nos pés para não nos ferirmos, uma água fresca em nosso cantil, um boné para quando começasse o sol, uma luz para nos iluminar nas trevas, um lanche em nossa mochila, uma caixa de pronto-socorro para nossas quedas, uma música gostosa para nossos ouvidos, o doce de que mais gostamos nos esperando no final de nossa caminhada...
Aí, então, não há motivos para não nos sentirmos felizes! A velhice se torna uma etapa gostosa em nosso final de vida!
Uma coisa boa da velhice é que podemos tirar as nossas máscaras e não termos mais medo de nos mostrar como somos! Também podemos nos comunicar sem medo algum de cometermos gafes, pois quase todos nos perdoarão; todos nos pouparão esforços, quase todos nos chamarão de "vovô".
Quase nada não mais nos escandaliza, e nos tornamos indulgentes para com tantos erro e bobagens que os mais novos cometeram.
Nosso passado vira contos fantásticos, que narramos para os nossos netos e demais pessoas novas. As piadas antigas se tornam novam para os que nunca as ouviram"
Certos gostos nossos são prontamente realizados "antes que ele morra com vontade disto ou daquilo", como os mais novos comentam.
Como a morte nos está próxima, tudo o que existe perde a importância, e a pátria celeste se torna o nosso anseio, nossa meta final e tão próxima!
Revemos o nosso passado, pedimos perdão do que erramos e do que poderíamos ter feito e não fizemos.
Levanto-me de manhã, cruzo as mãos para trás, respiro o ar fresco da manhã, olho o nascer do sol, e sorrio: tenho o dia todo para trabalhar devagarinho ou simplesmente para não fazer coisa alguma. E na brisa suave, elevo o meu pensamento para Deus...
As agruras da velhice são minimizadas ou até superadas quando aceitamos totalmente nossos limites, quando somos conscientes de que não temos mais aquele vigor da juventude, nem a rapidez de raciocínio de nossos vinte anos!
Não percebemos a velhice dentro de nós: a alma nunca envelhece; só o corpo. Sabemos que envelhecemos porque nos olhamos no espelho e somos chamados de "senhor", de "vovô" e coisas semelhantes.
É por isso que é necessária uma conscientização constante de que os outros nos veem como parecemos: um velho de 70, 80 anos; nós nos vemos como nossa alma é: um garotão de vinte e cinco anos. Eis o perigo!
Nossa Senhora sempre que tem aparecido aqui e ali (Fátima, Lourdes, Salete, Medjugorje, Guadalupe), não aparenta mais do que 17 anos de idade: essa deve ser a idade com quase ressuscitaremos! Essa é a idade que pensamos que ainda temos. Mas não a temos mais: caia na real!Você é uma pessoa idosa, mas que mantém a felicidade, a paz, e a juventude de espírito!
(set. 2016)
Pilatos perguntou a Jesus: “O que é a verdade”? (João 18,38). Mas não esperou a resposta. Em outra ocasião, Jesus disse: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (João 14,6).
Jesus é, portanto, a Verdade, a única verdade que existe. Pilatos não conseguiu ver nele a Verdade, assim também como muitos outros daquele e de nosso tempo.
Mesmo que aceitemos Jesus Cristo como Caminho, Verdade e Vida, resta-nos outra pergunta: Como segui-lo? Em que religião? Com quais atos?
Nascemos numa determinada sociedade, sob uma determinada “lista” de verdades e mentiras. O problema é que, ao crescermos, percebemos que a nossa verdade é mentira para outras pessoas e vice-versa! Aí nos perguntamos, como Pilatos a Jesus: “Afinal, onde está a verdade”?
Uma das coisas que logo percebemos são as mentiras que nossos pais nos fizeram acreditar e que fazemos nossos filhos acreditarem
- Ensinam-nos a chupar chupeta e depois dizem que não presta!
-Que o Papai Noel existe e depois dizem que é mentira.
-Que a andorinha ou a fada do dente existe, e depois desmentem.
-Que fumar não faz bem para a saúde, mas muitos pais e mães fumam.
-Ensinamos aos nossos filhos muitas outras coisas que são mentiras ou que não cumprimos!
Os seminários missionários pintam de ouro a vida missionária, com poesias e lances maravilhosos, mas depois de padres ou consagrados os religiosos descobrem que os enganaram no seminário, que não é um trabalho para poetas, mas para corajosos desbravadores! Enfrentar as agruras da África e de outras terras de missão! Faça um teste: fique na Ilha Bela ou na Ilha do Cardoso um mês sem repelente, e depois me diga se as imagens vistas na tevê têm toda aquela maravilha que parecem ter. O que há de borrachudo, pernilongo e mutuca não é mole!
Vemos pessoas excelentes externamente, mas que de repente se mostram fingidas, hipócritas, maldosas por dentro. Como as aparências enganam!
Somos educados sob uma tempestade de mentiras. Onde está a verdade na História que aprendemos na escola? Se formos checar, o que sobra da verdade em tudo aquilo que nos contam? Não seria apenas o ponto de vista dos que escreveram aquela história? O Joaquim Silvério dos Reis era traidor para nós, mas um herói para os portugueses!
A Princesa Isabel foi destronada porque, um dos motivos, ela queria dar indenização para os negros, terrenos para eles viverem em liberdade. Você sabia disso? Pois eu soube recentemente! Pesquise que você vai ver essa história.
Verdades científicas irrefutáveis de antes, hoje são desmentidas escancaradamente. Paradigmas antigos são desmontados atualmente. O ovo passou de vilão a herói várias vezes, assim também como o café. Eu só sarei ou melhorei da labirintite depois que parei de tomar café, que é muito indicado, na televisão, para combater vários males. Para mim é como um veneno. E o jejum? Afinal faz bem ou não para a saúde? Quantas opiniões diversas!
Os testemunhas de Jeová dizem, pasmem vocês (eu vi isso numa revistinha deles) que ao anticristos são os que acreditam na divindade de Jesus. Como pode? Não é o contrário?
Nós, católicos, acreditamos na virgindade perpétua de Maria, e quase todas as outras religiões (exceto as ortodoxas e afins) não. Nós estamos certos, ou eles?
Se você já percebeu, eu estou levando você a repensar certas ideias e alguns tópicos deste texto. Será que eu estou certo ou errado? Quem garante?
Vou dizer-lhes o que penso e no que acredito:
Eu acredito no que a Igreja Católica ensina e, mesmo que os outros não acreditem eu me comprometo a acreditar. Creio que a Igreja Católica, apesar de tantos desastres no passado, ensina verdadeiramente o que Jesus nos ensinou, provinda das comunidades primitivas do cristianismo. Sei que vou ser julgado pelo que segui ou não dos ensinamentos de Jesus ensinados pela Igreja Católica.
Ademais, é preciso nunca desanimar (essa palavra não existe no meu dicionário) em seguir a Jesus Cristo numa vida santificada. É aí que mora a verdadeira paz, a verdadeira felicidade. E ponto final.
“Eu pareço um pelicano no deserto” (sl 101(102),7.
Você já imaginou o que um pelicano, que vive de peixes, vai fazer num deserto? Ele está completamente deslocado se o colocarem ali. Assim também às vezes a gente se sente deslocado no ambiente em que vive...
“Mas agora estarei sempre convosco, porque vós me segurastes pela mão” 72(73),23.
Deus não é volúvel. Se ele segurar nossa mão, nunca vai largá-la. O problema é que muitas e muitas vezes nós não o deixamos segurar nossa mão. Preferimos o que não é de Deus.
“Para mim, o que há no céu fora de vós? Se estou convosco, nada mais me atrai na terra”. Sl 72(73),25.
E é verdade. Encontrar Deus e estar com ele preenche completamente nossa vida, nossos anseios, nossos desejos. Os santos sentiram isso. Estar com Deus torna obsoletas e desnecessárias todas as outras coisas. Os santos queriam ir logo para o céu, para estarem com Deus, apesar de não se recusarem a viver mais na terra se essa fosse a Sua vontade, a fim de trabalhar um pouco mais pelo Evangelho.
“Mesmo que o corpo e o coração se vão gastando, Deus é o apoio e o fundamento da minh'alma, é minha parte e minha herança para sempre”! Sl 72(73), 26.
Ou seja: nós vamos envelhecendo, mas se estarmos com Deus, Ele é a nossa herança. Não precisamos de mais nada, e nossa idade avançada não atrapalhará nossa felicidade.
“Mas para mim só há um bem: é estar com Deus e colocar o meu refúgio no Senhor”. Sl 72(73), 28.
O único bem verdadeiro que existe é estar com Deus. O resto é ilusão.
“Perdi o sono e passo a noite a suspirar como a ave solitária no deserto”. Sl 101(102), 8.
Podemos entender de vários modos diferentes. Um deles é o fato de que sentimos necessidade absoluta de Deus, como uma ave perdida no deserto. Como o caso do pelicano, o que uma ave pode estar fazendo num deserto? Vai se alimentar com o quê? A ave, no deserto, solitária, anseia por voltar ao seu habitat. Saint-Éxupery, aviador e escritor, fez uma aterrissagem forçada no deserto e essa experiência lhe ajudou quando escreveu o grande livro“ O pequeno príncipe”. Estar sem Deus aqui no mundo é ser como uma ave perdida no deserto.
“Quando o medo me invadir, ó Deus Altíssimo, porei em vós minha inteira confiança”. Dl 55(56), 4.
Nosso medo só será vencido quando tivermos a certeza de que Deus nos ama, está conosco, e não nos larga por nada. Nem nosso pecado é capaz de fazê-lo nos deixar. Nesse caso, nós é que o deixamos.
“Do meu exílio registrastes cada passo, em vosso odre recolhestes cada lágrima, e anotastes tudo isso em vosso livro”. Sl 55(56), 9.
Aquelas lágrimas que derramamos no segredo de nosso quarto, não foram ignoradas por Deus. Nossa caminhada no caminho para o céu, por menor que tenha sido, foi devidamente anotada e almejada por Deus. Deus nos ama infinitamente e “torce” para que usemos nosso livre arbítrio para estarmos com Ele.
(Set. 2016)
Paulo Donizeti Siepierski, em seu livro “A leitourgia libertadora de Basílio Magno”, ed. Paulus, 1995, diz, à página 43, que “Embora tivesse florescido na última parte do século 3º, no início do século 4º, o monasticismo pode ter suas origens traçadas pelo menos até o profeta Elias, quase mil anos antes”.
Nos séculos 3º e 4º havia muita escravidão social e econômica nas cidades e nos campos, muita cobrança de impostos, muita exploração por conta do governo, e as pessoas “fugiam” do mundo civilizado e iam para o deserto, principalmente sob a perseguição promovida por Diocleciano.
“Os pobres e às vezes comunidades inteira retiravam-se para o deserto ou para os pântanos, para escapar da opressão” (pág 44).
A palavra usada para descrever essa retirada para o deserto era “anacoresis” e daí vem a palavra “anacoreta”, pessoa eremita.
“A obediência aos mandamentos do Senhor leva a um monasticismo claramente marcado pelo espírito de pobreza e simplicidade, pelo senso de serviço aos outros através de tarefas humildes, pelo trabalho árduo para ganhar a comida (...) e para estender nossas mãos aos pobres,(...) pelo ascetismo rude, inspirado somente pelo amor de Cristo, e as reivindicações de seus mandamentos, por oração contínua nutrida pela meditação nas palavras da Escritura, por algumas observâncias, também marcadas pela influência do evangelho” (Julien Leroy, citado à página 45 ).
São Basílio Magno (329-379), São Bento (480-547) e Thomas Merton (nasc.31/01/ 1915, Prades, França; Falecimento: 10/12/1968, Banguecoque, Tailândia), diziam que a vida cenobítica (=vida comunitária) é superior à vida anacorética (=vida solitária, eremítica), pois precisamos estar em contato com outras pessoas para exercitarmos o amor cristão (a Deus e ao próximo), em que nossos erros são apontados e vençamos a nossa autossuficiência. “Precisamos uns dos outros” (S. Basílio).
Portanto, quem quiser dar uma de eremita, nunca abandone a comunidade, paroquial ou de outra espécie, a que pertence.
Vida religiosa é a vocação de pessoas que vivem em pequenas comunidades, numa congregação religiosa, fazem os três votos: de castidade, de pobreza e de obediência (algumas fazem um quarto voto, que varia de congregação para congregação) e obedecem a um superior local, que, por sua vez, obedece a um superior regional e nacional.
Muitos jovens me perguntam pelo facebook como fazer para entrar na vida religiosa.
Eu lhes respondo, com algumas variações, isto que segue:
A primeira coisa é ter amizade, entrosamento e participação na paróquia em que você vive.
A segunda é ter uma vida de oração, não de orações rápidas, mas um pouco mais prolongada. A oração é a base da vida religiosa.
Terceiro, tem que saber obedecer. Quem tem dificuldades para obedecer não dá certo na vida religiosa.
Quarto, é preciso saber controlar os instintos, já que a vida religiosa não tira as tendências de ninguém. Por toda a vida, até mesmo na velhice, os instintos continuam vivos.
Quinto, é preciso ter certeza de que você não está buscando a vida religiosa para fugir de si mesmo (timidez, preguiça de trabalhar, comodismo) ou de alguma coisa exterior (incapacidades, defeitos, frustrações, falta de emprego etc).
É bom conversar com um religioso aí de perto de você sobre o assunto, e ser sincero para com ele.
A vida religiosa não é brincadeira, não é algo romântico como se apresenta em alguns filmes, como o “Irmão Sol, Irmã Lua”, de Franco Zefirelli.
Durante o seminário menor de uma congregação missionária eu ouvia falar muito das missões de modo poético. Havia um livro de poesias missionárias muito bonito, mas o autor mesmo do livro deixou o sacerdócio, casou-se e morreu no ano passado, bem idoso.
Uma de suas poesias era “O Barco da Madrugada”, que até foi musicada. Eu me lembro apenas de algumas palavras: “O barco da madrugada, vai me engolfar noutro mar. Direi adeus pátria minha, o último adeus talvez. E se Deus quiser que eu não volte outra vez, meu coração te deixo, ó Mãe Celestial. Não tenho medo das águas, nem fúrias do furacão. É sorte a quem os céus busca achar sua tumba no mar”.
O jovem era levado por essas poesias e fantasias sobre a vida religiosa e se decepcionaria, mais tarde, ao ver que ela é feita de pessoas humanas limitadas, e muita renúncia. É fácil imaginar uma vida bonita, dedicada a Deus, baseada na renúncia, mas é difícil praticar essa vida. A natureza humana é muito forte e nos arrasta para a “sensualidade”, como diz Santa Catarina de Sena, até a mais extrema velhice.
Vemos pessoas que vivem a vida religiosa falarem dela com prazer, como algo sublime, mas, se entrarmos em sua vida íntima, veremos quantas provações aquela pessoa vive para se manter intacta. Sobretudo, é necessária muita oração.
A alegria de quem segue sinceramente esse tipo de vida é autêntica. Realmente, quando nos santificamos na vida religiosa, sentimos uma paz profunda e inexplicável, mesmo com os problemas e sofrimentos do dia a dia. Quando “nós nos temos em nossas mãos”, como dizia Dom Luca Moreira Neves no retiro de minha ordenação sacerdotal, ou seja, quando vivemos de modo a dominarmo-nos plenamente, a alegria é constante em nossa vida, por mais árido que seja o ambiente em que vivemos.
Mais uma vez repito, esse auto domínio, baseado no que Santa Catarina de Sena chama de auto conhecimento (só tem um auto domínio quem se conhece plenamente e humildemente assume suas fraquezas para melhor dominá-las), só é conseguido pela oração humilde, pela sinceridade em nos apresentarmos a Deus como somos realmente, com todas as quedas e fraquezas, e não como gostaríamos que fôssemos.
Em resumo: quem abraça a vida religiosa pensando que é forte e que vai conseguir santificar-se sozinho e com pouca oração é, no mínimo, ingênuo. Só com a ajuda de Deus é que podemos nos santificar. Sozinhos, nada conseguiremos. Por isso é que é preciso que antes de se doar a uma vida dessas, a pessoa reflita se tem verdadeiras condições psicológicas, físicas e espirituais para isso.
Eu explicaria assim aquela parábola de Jesus sobre o construtor que começa a casa e não pode terminá-la porque faltou dinheiro. Ele termina a história dizendo: “"Assim, pois, qualquer um de vós que não renuncia a tudo o que possui não pode ser meu discípulo." (Lucas 14, 33). Muitas vezes vamos ter que renunciar às próprias ideias para podermos progredir no caminho da santidade. Deus sabe melhor do que nós do que realmente precisamos.
Descobri a duras penas que não devemos separar o vigiar e o orar. Separadas são ineficazes. De nada adianta orar, rezar, se não se vigiar as próprias atitudes e se acabar caindo em pecado. Acrescento, também, o “pedir ajuda”, como o fazem tão bem as pessoas alcoólatras do A.A. Em muitos lugares é preciso vigiar em dobro, principalmente em ambientes maliciosos, dispersivos e negativos.
Deus respeita o nosso livre-arbítrio (nossa capacidade de escolha e decisão) e não vai forçar nossas decisões. Se não vigiarmos, Ele não poderá nos ajudar, a menos que, na oração, lhe dermos liberdade de fazer conosco o que Ele bem entender. Eu gosto de meditar estes trechos sobre a vigilância e aconselhei ao Zé que os meditasse: Mt 26,41; Mc 13,37; Lc 21,36; Mt 24,42; Mt 25,13; Lc 12,37; 1a Cor 16,13-14; Ef 6,18; 1a Tes 5,6; 1a Pd 4,7; 5,8; Apoc 16,17: “Eis que venho como um ladrão: feliz aquele que vigia e conserva as suas vestes (= a veste batismal) para não andar nu e deixar que venham sua vergonha”. Lucas 21,36: “Ficai acordado, portanto, orando em todo momento, para terdes a força de escapar de tudo o que deve acontecer e de ficar em pé diante do Filho do Homem”.
A vigilância só é possível com a humildade e a confiança em Deus. Nós somos irremediavelmente fracos. Não temos força, sem a ajuda dele. Vigiar é evitar, logo no início, qualquer situação de pecado. O pecado é como um tobogã: depois que começarmos a descer, não há como parar. Já a oração é como Jesus diz Apoc 3,20: “Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo”.
A oração não substitui a vigilância, mas abre as portas para que Jesus possa agir em nossa vida. É preciso ouvir a Jesus: “Fala, Senhor, que o teu servo escuta” (1a Sam 3,10); “Dá-me Senhor, um coração que escuta” (1a Reis 3,9).
Veja a história do fariseu e do publicano (Lc 18,10-14), em que o publicano, pecador, mas humilde, foi ouvido por Deus. Outras pessoas se humilharam e foram atendidas: a samaritana (João 4,6-42); a mulher adúltera (João 8,3-11); Mateus (Mt 9,9-13); o paralítico (Mt 9,1-9); a pecadora (Lc 7,37-50); Zaqueu (Lc 19,1-30); o “bom ladrão” (Lc 23,39-43). Em 1a João 1,7-10, vemos que é preciso reconhecer nossos pecados para sermos perdoados. A prisão ajuda a ir ao encontro de Deus justamente porque humilha e reduz a nada as pessoas!
Deus sempre nos ouve (João 15,16): “O Pai de vocês dará qualquer coisa que pedirem em meu nome”. O problema é, que às vezes, pedimos a Ele coisas que vão nos afastar do bom caminho. Aí vamos receber outra graça, e não a que pedimos. Às vezes estamos pedindo veneno. Deus dá, em lugar do veneno, uma vitamina! Não é assim que fazemos com nossos filhos?
Diz Efésios 3,20: “Deus é poderoso para realizar por nós, em tudo, infinitamente além do que pedimos ou pensamos”. Ora, Ele sabe do que necessitamos, mas quer que nós lhe peçamos muitas vezes para nos conscientizarmos daquilo que estamos pedindo e darmos valor quando o recebermos. Precisamos pedir sempre, sem nunca desistir. Leia Lucas 18,1; Lucas 11,5-13: Jesus promete que dará o Espírito Santo aos que lhe pedirem. “Orar é pensar em Jesus, amando-o”, dizia o Beato Carlos de Foucauld.
Os crentes criticam os católicos, dizendo que “repetimos orações” e que Jesus teria proibido tal coisa. Isso não é verdade. O que Jesus proibiu é que nós rezássemos como os pagãos, que achavam que os seus deuses eram obrigados a lhes atenderem, se ficassem repetindo orações. Jesus nos atende se, como e quando Ele quiser. Insistamos em nossos pedidos! É o que Ele nos diz, no caso da viúva e do juiz (Lc18,1).
Não Existem orações poderosas! Deus vai nos ouvir ou não, não tanto pelas palavras, mas pelas intenções reais de nosso coração. Em Isaías 1,11, Deus diz que só ouvirá as pessoas depois que pedirem perdão da falta de caridade. Em Amós 5,21-25 = só ouvirá os misericordiosos. Em Mt 11,25-26 = só ouvirá os que perdoarem aos que os ofenderem.
Cada um sabe o seu tempo diário de oração! Cada um sabe o quanto deve orar. Comece com alguns minutos e vá aumentando um pouco por semana, até chegar ao tempo ideal para seu sustento. Talvez o dízimo do dia, que seriam 2h 24m!
Quanto à posição do Corpo na oração, escolha uma em que você esteja confortável. Quando a oração for comum, siga as orientações do dirigente.
Um dos aspectos da simplicidade é viver o dia de hoje, o presente. Não se preocupar com o passado, que não mais dominamos, nem com o futuro, que desconhecemos porque ainda não existe, e depende de minhas decisões de agora.
Santa Faustina Kowalska e uma legião de santos, incluindo o Papa João XXIII, cultivavam essa espiritualidade do "Só por hoje", aliás, muito utilizada na cura da dependência química. Eu acho magistral a interpretação que dá, a esse assunto, S. Paulo Apóstolo, em Efésios 4,17-24 e Filipenses 3,13-14.16:
"(...) Não andeis(...) na futilidade dos vossos pensamentos, com entendimento entenebrecido, alienados da vida de Deus pela ignorância e pela dureza dos seus corações(...)";
"(Em Jesus) fostes ensinados a remover o vosso modo de vida anterior - o homem velho, que se corrompe ao sabor das concupiscências enganosas - e a renovar-vos pela transformação espiritual da vossa mente, e revesti-vos do Homem Novo, criado segundo Deus na justiça e na santidade da verdade."
(Filipenses) "Esquecendo-me do que fica para trás e avançando para o que está diante, prossigo para o alvo, para o prêmio da vocação do alto, que vem de Deus em Cristo Jesus. Entretanto, qualquer que seja o ponto a que chegamos, conservemos o rumo!"
É bom lembrar, aqui, que "esquecer" não é tirar da mente, mas sim, não se apegar ao passado, perdoar-se, sentir-se perdoado por Deus, não depender do passado para viver e ser feliz. Precisamos ter consciência de que podemos, sim, romper com tudo o que ainda estiver nos prendendo ao passado, que nos impede de prosseguirmos a caminhada. Diz Provérbios 23,26:
"Meu filho, dá-me teu coração e que teus olhos gostem dos meus caminhos!"
De fato, não dá certo recalcarmos o nosso passado, querer esquecê-lo: isso faz piorar as coisas. É preciso que aprendamos a assumi-lo e a superá-lo, mas sem nunca negá-lo. É da negação do passado que surgem os problemas psicológicos. Temos que enfrentar o que somos agora, pois somos o que preparamos pelo nosso passado. Como diz Jesus, colhemos o que plantamos.
A simplicidade e pobreza de vida se refletem nesses atos de humildade, quando com muita sinceridade confirmamos o que realmente somos, mas, pedindo perdão dos nossos pecados, recomeçamos uma vida nova, nos braços do Pai/Mãe Deus.
Aceitar os "estragos" do passado, repará-los, e viver apenas no presente, num presente em que nos realizamos como pessoa humana, cristã, como filhos de Deus.
Aqui se aplica bem a simplicidade e a pobreza, no sentido de vivermos plenamente em Deus, numa dependência divina, ao contrário do que fez Adão e Eva e Lúcifer. Eles quiseram viver por si mesmos; nós queremos viver em Deus, com a ajuda de Deus, confiando em sua onipotência e misericórdia, em sua divina sabedoria que nada nos faltará, que estamos caminhando pelos seus caminhos.
Maria, Mãe dos caminheiros, nos ajudará a "fazer tudo o que Jesus disser", nos ajudará a sermos, como ela, humildes servos e servas do Senhor, humildes eremitas de Jesus Misericordioso.