Conceito de Literatura

Doses de Saber

Resenhas e Resumos

Isaias Carvalho, 2010

Breve exercício de conceituação da Literatura

Definições cabais e exatas têm sido cada vez mais raras na academia, especialmente na área das humanidades, em que a transdisciplinaridade é, mais do que uma escolha, uma inevitável postura. Com o termo literatura não poderia ser diferente. É Antoine Compagnon quem nos coloca diante dos impasses e obstáculos na conceituação de literatura, em seu O demônio da teoria: literatura e senso comum (1999, p. 31-33). Inicialmente Compagnon informa que, em sentido lato, literatura é tudo aquilo que é impresso ou manuscrito, isto é, são todos os livros incluídos na biblioteca. Também engloba o que se denomina literatura oral. Essa concepção de literatura é a tradicional clássica e moderna das ‘belas-letras’ que, para Compagnon, abarcavam todos os campos de atuação da retórica e da poética, incluindo, além da ficção, obras filosóficas, históricas e científicas. Já em seu sentido estrito há variações ao longo do tempo. Porém, desde o século XIX, literatura tem sido compreendida como

o romance, o teatro e a poesia, retomando-se à tríade pós-aristotélica dos gêneros épico, dramático e lírico, mas, doravante, os dois primeiros seriam identificados com a prosa, e o terceiro apenas com o verso, antes que o verso livre e o poema em prosa dissolvessem ainda mais o velho sistema de gêneros (COMPAGNON, 1999, p. 32).

Esse sentido de literatura é, assim, a concepção moderna, que é diretamente relacionada ao romantismo, ou seja, da consolidação do caráter relativo, em termos históricos e geográficos, do bom gosto, em contraste à doutrina clássica do cânone estético como eterno e universal. Daí para a caracterização contemporânea do que é literatura – total abertura, diálogo e carnavalização – foi um desdobramento consequente. Ou seja, de um pedestal dogmático em direção à cultura da sociedade, no reconhecimento de que tanto literatura quanto outras área do conhecimento humano são produtos socioculturais contextualizados. Desse modo, a literatura não se restringe mais a seu estrato “culto”, mas inclui as manifestações da chamada literatura popular.

COMPAGNON, Antoine. O demônio da teoria; literatura e senso comum. Trad. Cleonice Paes Barreto Mourão.Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999.

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Itabuna/Ilhéus, Bahia, Brasil